Manual para Criação de
DEUSES E RELIGIÕES em Mundos de Fantasia
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Edição brasileira Autoria e diagramação: Willian Lima Silveira Revisão de Texto: Willian Lima Silveira 2020
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INTRODUÇÃO .............................................................................................. 9 SUSPENSÃO DA DESCRENÇA .................................................................12 Verossimilhança Externa ................................................................ 12 Verossimilhança Interna ................................................................. 13 Regras do seu Universo ................................................................... 14 DEUS EX MACHINA .................................................................................. 15 Uma Alternativa .............................................................................. 16 RELIGIÕES .................................................................................................. 17 O que Caracteriza uma Religião ..................................................... 17 Motivações e Promessas ................................................................. 17 Mais de uma Religião ...................................................................... 19 Progresso e Descrença .................................................................... 19 Economia e Hierarquia .................................................................... 20 O que pode ser considerado religião? ............................................. 21 DEUSES ....................................................................................................... 23 Onipresença, onipotência e onisciência .......................................... 23 Deuses precisam de: Símbolos ........................................................................... 26 Objetivos .......................................................................... 27 Personalidade ................................................................... 28 Segredos .......................................................................... 29 A Verdade sobre os Deuses ............................................................. 31 Panteões e Relacionamento ............................................................. 32 Nomes para Divindades .................................................................. 34 Deuses como Personagens .............................................................. 34 Ajudantes ........................................................................................ 36 Inspirações ...................................................................................... 37 CONCLUSÕES ............................................................................................ 39 7
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INTRODUÇÃO VOCÊ ESTÁ CRIANDO ALGO ORIGINAL? Seja de alta ou baixa fantasia, obras de literatura fantástica exigem profundidade nos seus detalhes, o que inclui o desenvolvimento e planejamento da espiritualidade em um universo completo. Pode ser um livro, um roteiro ou uma aventura de jogo... criar entidades, suas religiões e seus conceitos pode ser um desafio em todos os casos. Esta publicação tem o objetivo de auxiliar a construção de informações que devem ser consideradas na criação de divindades e seus cultos, dando a devida importância aos detalhes que englobam a preparação da base usada para dar veracidade aos pontos que devem ser considerados na roteirização a fim de evitar contradições e inconveniências, isto para que um ser supremo seja representado da forma apropriada e, assim, seja útil, fazendo sentido às limitações do que é possível ou não naquelas tramas em que a magia e os superpoderes podem se tornar algo comum. Tudo isso está relacionado à importância de alcançar o envolvimento máximo daqueles que irão consumir a obra, mantendo-os interessados sem precisarem se perguntar se alguma coisa faz ou não sentido graças as regras que estão sendo respeitadas. Para tanto, antes de falar dos temas principais, 9
vamos avançar em alguns conceitos necessários para basear e fortalecer um universo, preparando-o para os SERES ONIPRESENTES, ONIPOTENTES E ONISCIENTES.
POR QUE USAR DEUSES SE ISSO AUMENTA O MEU TRABALHO? O propósito e a lógica de uma trama estão diretamente envolvidos a imersão causada por um BACKGROUND bem construído. Quando existe uma mitologia, panteão ou qualquer divindade por trás de temas épicos, a trama pode seguir uma lógica fundamental que dará sentido a tudo mais que fizer parte do universo, tornando-o crível mesmo que o enredo seja baseado em forças extraterrestres, por exemplo. Obras fantásticas, na maioria das vezes, envolvem poderes sobrenaturais, além de mundos imaginários e ficção científica. Sendo assim, usar personagens que vivam ou estejam envolvidos em uma sociedade que demonstra espiritualidade é essencial para a consciência do que seria apropriado apenas aos deuses e, portanto, ilógico ou surreal para outros personagens – o que agrega mais veracidade ao contexto.
E O QUE CIENTÍFICA?
D I ZE R
SOBRE
A
FICÇÃO
Caso envolva o planeta Terra, por exemplo, onde pessoas tenham contato extraterrestre, a solução mais buscada pelos autores é optar pela total descrença na existência de deuses
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ou simplesmente nem sequer mencionando-os, desconsiderando por completo qualquer influência que poderiam ter sobre o mundo – salvo em narrativas de HORROR CÓSMICO, como os de H. P. Lovecraft, onde as duas coisas se confundem. Seguindo esse raciocínio, então, como se estabelecerá a interação entre os personagens que ainda não sabem sobre a descoberta de vida alienígena em uma trama e aqueles que a descobriram? É preciso ter em mente que, na nossa realidade, as crenças vão desde um criador que vive entre as estrelas até aquelas que concluem só ser possível existir divindades se elas habitarem outra dimensão, o que não nos exime de darmos a devida importância a um acontecimento tão grandioso quanto o contato com outras civilizações (não só de modo científico, mas também espiritual). Caso deseje evitar complexidades indesejadas sobre a profundidade destas considerações (caso não seja o ponto principal da obra), então, para evitar o impulso de fazer personagens tratarem extraterrestres como divindades, é indicado que os próprios alienígenas tenham suas próprias crenças, mesmo que estas sejam apenas superficialmente elaboradas e direcionadas a qualquer figura tão crível quanto seres invisíveis e superpoderosos. Fazer isso pode evitar a estranheza entre dois mundos diferentes, o que já se tornou um artifício usado inúmeras vezes na literatura e no cinema, rotulando a sabedoria humana como ingênua e subdesenvolvida pelo fato de depositar sua fé no desconhecido – o incomum e inexplicável –, ao invés de abordar a espiritualidade como algo natural mesmo para seres inteligentes.
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SUSPENSÃO DA DESCRENÇA A suspensão da descrença é o conceito de uma limitação no julgamento do que é possível ou não dentro do que está sendo apresentado. Ou seja, até onde nós estamos dispostos a acreditar ou duvidar daquilo. Quando estamos assistindo um filme de super-heróis, por exemplo, nossa mente está propensa a mergulhar naquela experiência sem duvidar do que é possível em um conceito geral (verossimilhança externa), já que estamos nos dispondo a levar em conta mutações e sobrenaturalidade, diferente do que pensaríamos se estivéssemos assistindo um filme “baseado em fatos reais”. Mesmo nesse contexto, porém, existem os limites determinados pelo próprio autor para cada personagem e para a história (verossimilhança interna) que, se forem quebrados em algum momento, podem arruinar uma sequência de acontecimentos.
VEROSSIMILHANÇA EXTERNA QUÃO PARECIDO DA NOSSA REALIDADE É O U N I VE R S O Q U E E S T Á S E N D O C R I A D O ?
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O primeiro passo é se preparar para o que as pessoas estão esperando que seja possível na sua obra e o que pareceria completamente incabível. Esse ponto pode ficar mais simples quando nos perguntamos: ESTE MUNDO FARÁ PARTE DA REALIDADE EM QUE VIVEMOS OU NÃO?
Hoje em dia são comuns os questionamentos sobre a vastidão do universo e tudo que pode existir mundo afora, o que estimula a imaginação das pessoas sobre as tecnologias de seres alienígenas e suas capacidades físicas, não sendo nenhum exagero pensar, por exemplo, em um KRYPTONIANO que seja afetado de forma diferente pela radiação solar em um planeta aleatório. E é exatamente com relação a esses efeitos, e até onde se estendem as possibilidades ao manipular forças sobrenaturais, dominar elementos da natureza ou criar a própria energia mística, que entramos no tema mais importante deste conceito:
VEROSSIMILHANÇA INTERNA “A H , N Ã O ! Q U E M E N T I R A I S S O A Í ...” Todas as obras que se passam em um mundo de fantasia precisam de regras. Até mesmo uma ficção científica precisa ter seus limites e deixar pelo menos subentendido o alcance dos avanços tecnológicos na história que está sendo contada. Em algumas obras de viagens espaciais, por exemplo, os personagens demoram para chegar em um determinado ponto do universo, o que acontece no filme PASSAGEIROS (2016), onde 13
os protagonistas estão a caminho de um novo planeta habitável e precisam hibernar durante décadas em cabines futurísticas a fim de evitar seu envelhecimento. Por outro lado, na franquia STAR TREK (2009-2016) existem as dobras espaciais que permitem viajar distâncias espantosas em questão de segundos. Tão perigoso quanto escapadas milagrosas, a falta de verossimilhança dentro das próprias regras tende a provocar pensamentos como “ENTÃO POR QUE NÃO USOU ISSO ANTES? DE ONDE FOI QUE ISSO SAIU? ELE(A) NUNCA TEVE ESSA HABILIDADE, COMO FOI QUE CONSEGUIU AGORA?”
REGRAS DO SEU UNIVERSO “[...] N Ã O É O F Í C I O D O P O E T A N A R R A R O QUE ACONTECEU; É, SIM, O DE REPRESENTAR O Q U E P O D E R I A A C O N T E C E R [...]” — ARISTÓTELES Quando o autor determina quais são as possibilidades da sua obra, assim como os limites dos seus personagens, é imprescindível que tudo seja cumprido como foi preparado, o que quer dizer que é necessário ter em mente as características de todo o universo e fazer com que se interliguem para fazer sentido com as possíveis divindades a serem implementadas – assim como o que estas terão de diferente ou especial para realmente serem importantes.
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DEUS EX MACHINA “N Ã O T E M P R O B L E M A . O D E U S D E L E A P A R E C E ...”
QUALQUER COISA
Apesar do nome, este não é um termo que se aplica apenas aos deuses, mas também a qualquer acontecimento miraculoso e improvável nos momentos em que um personagem está em situação de extrema dificuldade. Aplicando ao nosso contexto, usar divindades dessa forma é extremamente prejudicial para qualquer obra, pois será facilmente notado por seus leitores ou espectadores. O surgimento de uma divindade por conveniência desconstrói a própria importância do divino. Seitas, preceitos, promessas, inúmeros seguidores, poderes supremos... tudo isso vai por água abaixo se os deuses não parecerem, NO MÍNIMO, ocupados – o que inclui aparecerem a qualquer momento apenas por se “importar” com a vida dos protagonistas, mesmo que estejam em uma missão designada por eles próprios. Acontecimentos desse tipo são os piores inimigos da apreensão, tornando a construção de perigos e dificuldades que que estão por vir em algo desinteressante, já que foi implementada a premissa de uma entidade aparecendo a todo instante para resolver algum problema. O interesse e a expectativa do público podem se perder completamente caso um conteúdo se revele desinteressante por 15
causa do menosprezo que foi nutrido pelo próprio autor em eventos facilitados.
UMA ALTERNATIVA QUE TAL USAR A SUPERA ÇÃO DE SEUS PERSONAGENS COM MAIS CRIATIVIDADE? As pessoas costumam rejeitar roteiros preguiçosos onde problemas complexos recebem soluções simples ou mal preparadas. Isso não quer dizer que o elemento da surpresa não possa ser abordado, mas, para isto, primeiro devem haver pistas e um desenvolvimento contínuo dos protagonistas, onde estes aprendem a se tornar melhores e descobrem novidades sobre si mesmos. Claro que também é preciso ser cauteloso para os personagens não serem mostrados como insubjugáveis por se reinventar a todo momento, superando-se na medida do possível e um passo de cada vez. Um exemplo de pistas e desenvolvimento preparado pode ser visto no filme THOR: RAGNAROK (2017), onde o protagonista aparenta estar despertando um poder maior do que o já apresentado nos outros filmes da sequência, finalmente, conseguir controla-lo totalmente no momento em que precisa vencer a antagonista, tratando o crescimento pessoal dele com o cuidado necessário para não haver um clássico caso de DEUS EX MACHINA.
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RELIGIÕES O Q U E C A R A C T E R I ZA U M A R E L I G I Ã O ? Religiões se traduzem em formas de contar histórias principalmente sobre a criação, origem e propósito da vida. Elas interpretam sinais se apegando a alguma divindade ou costume, geralmente usando o que estiver ao seu alcance para propagar o que consideram ser verdades absolutas e reunir mais seguidores, convencendo-os a agir de forma condizente aos seus preceitos. Mais do que um aspecto individual, as religiões são fenômenos sociais e, portanto, precisam ter uma forte relevância para justificar sua presença em uma história. Em primeiro lugar, lembre-se que uma pessoa pode ter a sua própria espiritualidade e, ainda assim, não seguir uma religião. Portanto parta do princípio de que a fé de alguém não precisa estar ligada a uma seita, mas, sim, a um deus, e então pergunte-se: COMO CONVENCER PESSOAS A SEGUIR UMA RELIGIÃO E O QUE TERIA DE ESPECIAL NISSO?
MOTIVAÇÕES E PROMESSAS A principal característica de uma religião é pregar sobre recompensas que serão obtidas caso seus fiéis atendam as exigências que, segundo a crença, seriam necessárias para se
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conectar a divindade adorada – fato sobre o qual pregará ter exclusividade e/ou autoridade.
Haverá promessas de desejos atendidos; Bênçãos protetoras contra males futuros; Motivações sobre a constante necessidade de paz espiritual; E, principalmente, promessas de recompensas pós-morte, que incluirão todas as definições cabíveis à perfeição buscada pelas pessoas que se interessem ou que a própria religião deseja conquistar.
Valendo-se do que ninguém pode comprovar ser verídico, são inúmeras as motivações oferecidas a quem se dedicar a uma seita, bastando apenas que uma seita se mostre receptiva e acolhedora para conquistar devotos de todos os tipos e, principalmente, dentre aqueles menos esclarecidos ou supersticiosos. A menos que os deuses estejam ao alcance de todos e se comuniquem livremente, é importante se ater ao papel de sacerdotes ou anciões em um culto, que são, de alguma forma, mais habilitados a interpretar sinais ou entrar em contato com divindades, seja por seus métodos exemplares de representar as vontades dos deuses ou por estarem conectados a eles através de quaisquer meios. Talvez todas as religiões tenham objetivos bondosos que buscam ajudar os necessitados e prometem recompensas divinas por meio de bons atos, orações e vigília. Outras, porém, podem exigir sacrifícios e favores dos devotos que pretendem se aproximar dos líderes religiosos – o que pode servir como inspiração para missões egoístas que usarão personagens de uma
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trama para buscar artefatos divinos que lhes concedam poderes de um deus, por exemplo.
MAIS DE UMA RELIGIÃO ≠ MAIS DE UM DEUS MAIS DE UM DEUS = MAIS DE UMA RELIGIÃO Não é porque existe mais de uma religião que será preciso mais do que uma divindade, mas caso exista mais de um deus, com certeza serão necessárias religiões diferentes, e cada uma delas precisa de características específicas. O próprio mundo real aponta para o fato de muitas religiões virem da mesma fonte e beberem dos mesmos conceitos, o que deu origem ao pensamento de que todas estão voltadas ao mesmo Deus, apenas com hábitos diferentes, inclusive existindo diversas vertentes dentro de cada uma, sendo que divergem em seus ensinamentos, mas ainda em busca de um ideal comum – assim como acontece no cristianismo, que engloba o catolicismo em vários graus, além do protestantismo, o qual também vai se dividindo em novas interpretações da Bíblia e dá origem a mais ramagens de uma mesma ideia.
PROGRESSO E DESCRENÇA Civilizações menos desenvolvidas tendem a adorar espíritos elementais ou astros, o que se opõe completamente do progresso tecnológico que afasta cada vez mais as pessoas de crenças místicas conforme o progresso da tecnologia e da razão. Se um governo for teocrático – onde a religião governa em igual ou maior poder que os políticos ou nobres (se estes
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mesmos já não assumirem também este papel) – é de se esperar que aqueles que se recusam a seguir a religião predominante em determinada sociedade sejam punidos ou condenados de alguma forma. E nesse respeito, é necessário considerar:
Se existirá obediência e servidão cega a religião; Se a religião precisa ou não se tornar o ponto de conflito da história, seja ela boa ou má, podendo ser apenas um plano de fundo; Se a busca pela mudança e evolução da cultura que assume o contexto principal precisa se libertar da influência de religiões prejudiciais. NÃO DEIXE DE SE PERGUNTAR... COMO OS SACERDOTES DAS RELIGIÕES SE VESTEM? HÁ ALGO
ESPECIAL NISSO? COMO AS PESSOAS QUE PARTICIPAM OU TÊM FÉ NAS RELIGIÕES SE RELACIONAM COM AQUELAS QUE SÃO DESCRENTES? A RELIGIÃO SERÁ REALMENTE IMPORTANTE PARA ESSA SOCIEDADE OU A MAIORIA DAS PESSOAS SÃO INDIFERENTES A ELA?
ECONOMIA E HIERARQUIA Como qualquer instituição, as religiões precisam de organização, mas não necessariamente de recursos. Em seu meio sempre existirá alguém que tem mais conhecimento, autoridade, poder ou influência, e qualquer uma dessas características pode aparecer em cultos que acumulem riquezas ou que se mantenham através de caridade, nesta última
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destacando-se, talvez, a necessidade de fiéis serem abrigados e alimentados por pessoas caridosas durante suas peregrinações. Quem sabe possa haver vários patamares de influência dentro de uma religião, cada um deles sendo nomeado com títulos diferentes e responsabilidades que vêm junto com mais conhecimento sobre seus mistérios (catolicismo), ou talvez recebendo mais autoridade, podendo representar outros integrantes da fé em nichos cada vez mais específicos, assim como na MAÇONARIA, que conta com 33 graus de fiéis. Também vale pensar em como a mensagem de uma religião ficou conhecida, ou se ainda está sendo passada adiante.
As religiões do seu universo vêm de um passado tão distante que já estão enraizadas por completo na cultura local? É necessário fazer algum tipo de evangelização por meio de livros eclesiásticos ou outros recursos que exijam finanças ou doações? Os governantes apoiam e aceitam as religiões de determinado país ou cidade? Mas seriam várias ou apenas uma? Os religiosos podem demonstrar sua espiritualidade livremente ou talvez enfrentem preconceito e/ou perseguição? Qual seria a fé mais comum entre os políticos ou nobres? Haverá uma religião que consideram mais erudita?
O QUE PODE SER CONSIDERADO RELIGIÃO?
Pitágoras, o filósofo grego da antiguidade, considerava a matemática que fazia como um tipo de religião. Para ele, o 21
conhecimento era mais do que simples estudos, era uma forma de se aproximar do divino e evoluirmos nossa consciência e, consequentemente, o espírito até alcançarmos a mesma sabedoria que criou o mundo. Em seus ensinamentos, Pitágoras interpretava a relação entre os números e toda a razão que estes sustentavam como algo místico, a verdadeira possibilidade de compreensão sobre origem do universo e o propósito humano na Terra, acreditando que tudo se resumiria a uma questão matemática e símbolos perfeitos que representariam tais conhecimentos. Uma ideia de religião desta forma amplia, e muito, o conceito simples de uma divindade representada apenas por um símbolo ou uma crença sobrenatural, mas pode envolver uma busca contínua por mais respostas, estudos, teorias... infindáveis possibilidades que podem motivar pessoas que creem nos mesmos ideais a usarem os mais variados métodos de comprovar ou se aproximar daquilo que acreditam.
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DEUSES ONIPRESENÇA, ONIPOTÊNCIA E ONISCIÊNCIA Os maiores poderes para levar em consideração ao se pensar em divindades são a onipresença, a onipotência e a onisciência. Qualquer outra característica que se dê a eles, é encontrada comumente em obras que incluem magia natural ou inatural, além de mutações por meios científicos. A maior dificuldade com relação a eles, porém, é adequá-los da melhor forma a história. No universo de Dragon Ball Z, por exemplo, não cabem figuras de seres todo-poderosos e imbatíveis, já que a relação entre deuses e humanos se confundiu com o tempo e ninguém possui uma dessas três características principais – com exceção apenas de Zuno, capaz de responder a qualquer pergunta e demonstrando a habilidade da onisciência, apesar de não ser adorado e ser apresentado como um tipo de guru ou gênio da lâmpada; e de Shenlong que, apesar de ser condicionalmente, pode realizar qualquer desejo, demonstrando, até certo ponto, o poder da onipotência. Claro que é possível usar apenas um destes recursos ou talvez nenhum, mas quando houverem combinações é preciso que sejam bem pensadas e implementadas com muito cuidado, assim como a possibilidade da imortalidade. SEUS
DEUSES
SERÃO
IMORTAIS?
HÁ
ALGUMA
SECRETA DE MATA-LOS? E QUEM SABERIA SOBRE ISSO? 23
FORMA
ONIPRESENÇA Usada para expressar o poder de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, esta ideia pode ter mais de um sentido, referindo-se também à providência. A providência está relacionada aos cuidados exercidos por uma divindade em relação a uma criatura inferior a ela. Por exemplo: em passagens bíblicas é dito que Deus promete estar o tempo inteiro com uma pessoa, o que não quer dizer que Ele a acompanhará pessoalmente, mas que cuidará dela de uma forma providencial – por meio da ação da sua força de vontade, assim como o que se espera de uma benção. A onipresença em si refere-se à capacidade de, caso seja necessário, ouvir e ver tudo o que interessar, além de estar conectado a tudo que existe – desde que se leve em consideração o conceito de que tudo partiu, de uma forma ou de outra, de um deus, e tudo que vive está imbuído de uma força sobrenatural concedida por este, como a alma ou o espírito. NA
SUA
HISTÓRIA,
ONDE
OS
SERES
DIVINOS
ESTÃO
LOCALIZADOS EXATAMENTE? É UM LUGAR ACESSÍVEL ÀS CRIATURAS COMUNS DO MUNDO? NO SEU MUNDO, OS DEUSES POSSUIRÃO CORPOS FÍSICOS OU APENAS FORMAS ESPIRITUAIS? ELES PODEM APARECER E SE COMUNICAR COM ALGUÉM
–O –
QUE PODE TER SIDO NECESSÁRIO PARA O INÍCIO DE SEU CULTO ATRAVÉS
DE
VISÕES
E
PESSOALMENTE?
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SONHOS
OU
PREFEREM
APARECER
ONISCIÊNCIA Este é o poder da sabedoria absoluta. É o conhecimento infinito sobre todas as coisas passadas e atuais, mas que também pode se estender até o futuro, caracterizando, assim, o destino. Esta condição permite ler pensamentos, sentimentos e ter consciência de qualquer coisa, aonde quer que esteja, na vastidão do universo. Pode ser difícil assimilar tudo que está envolvido nela, mas é possível imagina-la relacionada ao INTERESSE da divindade em saber algo específico, que por algum motivo tenha chamado a sua atenção. Ou seja, seria preciso QUERER ver, saber ou entender uma coisa para ter acesso a tal informação. Não precisa ser como se tudo estivesse se passando na mente da divindade o tempo inteiro, ou como se o mundo fizesse parte da sua mente – é mais inteligente pensar que seja preciso FAZER USO deste poder para, aí então, saber alguma coisa. VOCÊ ACHA POSSÍVEL QUE MAIS DE UMA ENTIDADE NO MESMO MUNDO SEJA ONISCIENTE? ISTO FARIA COM QUE UM DEUS SOUBESSE TUDO SOBRE O OUTRO E VICE-VERSA? OU, QUEM SABE, O PODER DELES SE ANULE MUTUAMENTE...
ONIPOTÊNCIA Esta é a condição da soberania extrema. A qualidade de ser todo-poderoso sobre todas as coisas, sendo elas objetos ou seres vivos, podendo interferir em seu livre arbítrio.
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De forma prática, pode parecer simples que uma divindade manipule as ações de um animal irracional, forçandoo a se mover ou a agir de determinado modo, cumprindo ações boas ou ruins para si ou para outrem. Mas vamos pensar nos seres humanos: julgamos difícil aceitar o fato de alguém ser manipulado e forçado, por exemplo, a caminhar em direção a um penhasco e, contra a própria vontade, se atirar de lá. Este mesmo exemplo se aplica também ao animal, que, ao invés da racionalidade, possui o que chamamos de instinto, o qual o fará sofrer dependendo do que for obrigado a fazer. Isto quer dizer que a explicação para tal poder é, principalmente, o controle mental sobre criaturas conscientes, mas também pode se resumir ao simples controle físico quando aplicado sobre seres inconscientes ou objetos inanimados. HÁ
MAIS DE UMA DIVINDADE NO SEU UNIVERSO?
ALGUMAS DELAS POSSUEM ONIPOTÊNCIA?
POR
TODAS
OU
QUE UM DEUS NÃO
PODE AFETAR OUTROS QUE TAMBÉM TENHAM ESSE PODER?
DEUSES PRECISAM DE... S ÍMBOLOS NÃO NECESSARIAMENTE ALGO MATERIAL O U D E G R A N D E V A L O R ... Talvez tatuagens pelo corpo, um modo de agir, ou frases de bênçãos comumente usadas. Inclusive isto também 26
pode incluir coisas menos agradáveis, como sacrifícios pessoais, dedos arrancados, línguas cortadas, não deixar o cabelo crescer, uma marca de cinzel, etc. Hera, na mitologia grega, por exemplo, possuía animais que a representavam, como pavões e novilhas; uma coruja representava Atena; um tridente remetia a Poseidon, assim como seus golfinhos e cavalos, enquanto Apolo era visto através de coroas de louro e liras. Isto não quer dizer, porém, que bastará escolher um atributo, objeto ou animal para representar uma divindade. É necessário que haja uma história ou lenda que remeta a tais características, o que servirá para traduzir o que se sabe sobre estes deuses, assim como se tais itens estarão ao alcance dos personagens de um mundo, talvez até fornecendo poderes ou capacidades que permitirão que alguém se conecte ao divino.
Que tal considerar a existência de itens sacros como forma de se conectar a divindade diretamente, ou experimentar seu poder de determinada forma? E que tal elaborar as lendas sobre grandes feitos divinos que exigiram a construção ou merecimento de itens grandiosos?
O BJET IVOS É INTERESSANTE QUE UMA DIVINDADE ESTEJA COMPROMETIDA A PROTEGER D E T E R M I N A D A E S P É C I E , L O C A L , M O D O D E V I D A ...
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Eles podem ser protetores de alguma causa, como compaixão, esperança, vingança, caos, etc. Também podem se tornar mais fortes com a prática de atitudes específicas demonstradas por seus fiéis, retribuindo com dádivas e cuidados a prestação de serviço daqueles que cumprem seus interesses ou vontades.
Já pensou em como as criaturas da sua obra foram criadas? Os deuses tiveram alguma coisa a ver com isso? Na história da civilização abordada, seus antepassados vieram de lugares distantes? Quando chegaram aqui, trouxeram seus deuses consigo ou ainda não haviam descoberto a fé?
P ERSONALIDADE DEVE-SE PENSAR NAS FORMAS DE IRRITÁL O S , A G R A D Á - L O S , C A I R E M D E S A P R O V A Ç Ã O ...
Quantas divindades existem no seu universo? É possível adorar mais de um deus ao mesmo tempo? Se apegar mais a um deus será um problema para os outros? Quais são os interesses ou mandamentos de cada um deles?
Quanto mais detalhes forem preparados sobre cada divindade, mais profunda ficará sua mitologia e a história em si.
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É possível, também, considerar a adoração de espécies alienígenas, já que quanto menos se compreende uma coisa e mais sobrenatural ela parece, mais tentador será usar seu temor e respeito em uma proporção adequada para motivar um culto, só dependerá de quão evoluída é a sabedoria de uma população. QUALQUER DIVINDADE FICARIA FELIZ EM SER ADORADA? E QUANTO A RETROALIMENTAÇÃO DOS PODERES DE UMA DIVINDADE? BASTARIA APENAS TER FÉ EM UM DEUS PARA QUE ELE SE TORNE MAIS FORTE E, CONSEQUENTEMENTE, ATINJA MAIS FIÉIS PARA SE TORNAR MAIS PODEROSO EM UM PROCESSO INFINITO? APENAS
SACRIFÍCIOS
PODERIAM
“ALIMENTAR”
UMA
DIVINDADE, OU ISTO SE DARIA ATRAVÉS DE UMA ENERGIA QUE EMANA A PARTIR DO SIGNIFICADO E DA INTENÇÃO DAS PESSOAS SOBRE AQUILO QUE ESTÁ SENDO OFERTADO AOS DEUSES?
S EGREDOS É NECESSÁRIO QUE OS DEUSES TENHAM VÍNCULOS COM QUEM OU O QUE INFLUENCIAM NO MUNDO Templos perdidos, imagens reveladoras, itens escondidos... é preciso ir além do conhecimento comum que você estipulará para todas as pessoas que apenas ouviram falar de uma divindade ou aquelas que acabaram de se relacionar com a sua fé. A figura de sábios é sempre a melhor forma de embutir respostas a um contexto de conhecimentos perdidos sobre
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alguma divindade, assim como escritos antigos deixados por eles. Alguém, em algum lugar distante, pode conhecer uma lenda ou mistério e estar em busca de quem possa cumprir o destino de uma profecia desconhecida. Podem existir lugares sagrados e distantes onde seria possível um contato mais próximo com os deuses, incluindo relíquias importantes ou profanações que precisam ser desfeitas. Que tal considerar que o poder de um deus só se dá a partir daquilo a que ele está associado? Uma divindade relacionada à água, por exemplo, poderia ter conhecimento e influência apenas sobre o que se passa na água ou próxima dela; o deus do fogo poderia assimilar qualquer coisa que seja queimada ou se tornar mais forte quando recebesse sacrifícios pelo fogo; o deus da luz saberia de tudo que acontece sob o sol ou qualquer luminosidade, enquanto o deus das trevas teria domínio sobre o que está escondido na penumbra e espia o que acontece durante o dia, disfarçado na sombra que qualquer coisa pode criar; talvez o deus do ar seja o mais forte de todos por estar em todos os lugares, ou será que seria o da terra, já que ele está até mesmo no solo em que as águas do mar se sustentam? E quanto aos ateus? Porque será que não creem em nada? Descobriram algo que lhes fez se apegar apenas ao seu lado racional? Será que nada pode superar o ceticismo de alguém que não acredita no sobrenatural? E se o poder que as divindades possuem se tornar uma afronta às mentes mais sábias que vivem vidas mortais na sua obra? Talvez eles queiram roubar seus poderes... talvez queiram se igualar a eles... talvez sintam raiva dos deuses e estejam 30
obstinados a destruí-los. Neste caso, podemos pensar no conceito de apoteose: Seria possível? Como? Outra divindade poderia concedê-la ou ela se daria apenas através de um merecimento sobre o qual ainda não se tem conhecimento?
A VERDADE SOBRE OS DEUSES ATÉ MESMO PARA A RELIGIÃO QUE A ADORA, SERÁ DIFÍCIL SABER A VERDADE ABSOLUTA SOBRE UM DEUS Por exemplo: no sistema de RPG Dungeons & Dragons, os deuses podem ser alcançados de várias formas e, muitas vezes, são fáceis de se encontrar ou aparecer. Eles habitam planos diferentes, porém ao alcance dos aventureiros, então, nesse caso, não é difícil saber a verdade sobre eles, já que até mesmo representantes diretos são enviados para falar com alguém que não precisa ser um devoto religioso. Por outro lado, deve-se pensar se as divindades do seu mundo não se encaixariam melhor em outras dimensões, por exemplo, onde possam ser menos acessíveis. Outra opção é que não passem de mitos e mentiras religiosas, ou que esperem almas realmente dispostas a procura-los e que façam algo específico para, finalmente, se revelarem e agirem mais ativamente no mundo, mesmo que seja apenas expressando suas verdadeiras vontades (boas ou más). Seja como for, faz sentido que sacerdotes não saibam tudo, mas tenham obtido apenas uma vaga lembrança da 31
verdadeira mensagem que foi passada pelos divinos há muitas gerações. A religião pode ter se perdido ou se corrompido durante o tempo e passado a procurar meios que aumentassem o seu poder e influência com mensagens diferentes, talvez por simplesmente serem mais aceitáveis e populares.
PANTEÕES E RELACIONAMENTO ALGUNS DEUSES PODEM FAZER PARTE DE UM TIPO DE ADORAÇÃO EM COMUM, ASSIM COMO PODEM EXISTIR VÁRIOS PANTEÕES COM CARACTERÍSTICAS PRÓP RIAS
Deuses elementais – água, fogo, terra, ar, luz e trevas; Deuses de questões pessoais – saúde, família, riquezas, etc.; Deuses de cultos secretos ou malignos – guerra, caos, desavença, etc.; Deuses esquecidos, mas que precisem voltar a ser adorados para manter o equilíbrio astral – tristeza, passado, punição, etc.
Os antigos gregos acreditavam que a união entre duas divindades “naturais” resultaria em uma divindade menor que traduziria uma relação entre os dois. Por exemplo, o deus do fogo e o deus da terra poderiam criar a divindade da lava; o deus da água e o deus do ar poderiam criar a divindade das ondas; e assim por diante. Tudo que é quente pode estar envolvido com o deus do fogo, tudo que é úmido pode ter a presença do deus da 32
água. Então ao invés de nos apegarmos apenas ao básico destes conceitos, podemos ir muito mais além em todas as suas possibilidades. Mas o que dizer sobre a vida e a morte? O que os deuses fazem sobre aqueles que morrem como seus devotos? Suas almas se tornam imortais? Sua energia vital passa para seu deus? Eles reencarnam ou passam a existir em outra dimensão (talvez a dos deuses)? Renascerão em outra forma e serão recompensados pela lealdade e devoção passada? Quantas provas de devoção uma pessoa precisa fazer até que uma divindade fique satisfeita com sua fé e a considere merecedora das recompensas que pode oferecer? Por quanto tempo alguém deveria adorar um deus até que tenha contribuído o suficiente para ser recompensada? E qual seria o castigo para infiéis? Um local comum de sofrimento após a morte? Haveria um paraíso, um purgatório e um inferno? Uma pessoa deveria sofrer relativamente aquilo que não gosta (paz para alguém de guerra, e guerra para alguém de paz)? E se a pessoa tivesse que viver pela eternidade no "reino" de outro deus com o inverso daquilo que lhe seria agradável? E se houver um deus da morte? Mas neste caso também haverá um deus que represente a vida? Para onde os mortos vão? A quem eles se conectam? Um deus dos mortos pode ser neutro em relação ao bem e mal. Talvez a morte seja apenas o verdadeiro fim e as pessoas só sirvam como "alimento" para a própria morte? Quando falamos de espiritualidade, a morte é um fator crucial que faz parte de um processo, ou tempo limite, para nos provarmos. A morte sempre está envolvida com a fé, pois se não houver nenhuma esperança, restará ao propósito da vida apenas a saciação de nossas vontades em virtude da felicidade passageira.
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NOMES PARA DIVINDADES Pode-se notar como muitas mitologias preferem utilizar nomes curtos e cheios de vogais para suas divindades, como na grega (Zeus, Hera, Apolo, Ares...), na nórdica (Odin, Frigga, Hela, Freya, Tyr...) e na egípcia (Set, Hórus, Rá, Anúbis...). Mas também há aquelas que utilizam inspirações mais profundas, como a chinesa (deuses da Felicidade, os Soberanos, Amarelo, Arqueiro...), ou que usem a astrologia, como a romana (Júpiter, Marte, Vênus, Urano...). É indicado que se usem inspirações como forças cósmicas, sentimentos, condições, ou algo assim, e, a partir delas, sejam criados os nomes mais apropriados, para que tudo tenha uma razão, já que religiões diferentes que adorem o mesmo deus podem chama-lo por nomes diferentes, o que pode tanto facilitar quanto dificultar a escolha da nomeação mais apropriada para diferentes culturas de acordo com a influência da divindade em cada local.
DEUSES COMO PERSONAGENS HERÓIS OU VILÕES? HUMILDES SOBERBOS? AMADOS OU TEMIDOS?
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OU
Divindades podem integrar seu elenco principal e serem os protagonistas ou antagonistas de uma obra, assim como no filme IMORTAIS (2011), onde grande parte da mitologia grega é abordada e possui seus próprios arcos, mesmo que sempre envolvidos ao semideus que move a trama. Nesse formato, uma obra original com panteão próprio precisa de muitos detalhes e características como as de superheróis, mas não se pode esquecer das suas dificuldades e pontos fracos, seguindo padrões como, por exemplo, o da JORNADA DO HERÓI de Joseph Campbell. Na série de livros PERCY JACKSON, os deuses são abordados em tramas humanizadas e focadas nos seus filhos mortais, usando a relação distante entre as duas partes para aumentar a identificação dos leitores. Alguns destes deuses viviam ou se disfarçavam entre os humanos frequentemente, mas sempre demonstrando um ar superior aos demais personagens, o que pode servir como exemplo para compreender o quanto essa complexidade pode ser interessante. O
TAMANHO
DOS
DEUSES
SERÁ
PROPORCIONAL
ÀS
CRIATURAS COMUNS DA SUA OBRA? ELES SÃO TRANSMORFOS? QUE ARMAS USAM E O QUE ELAS TÊM DE ESPECIAL? SEU PODER DEPENDERÁ DA ADORAÇÃO DOS FIÉIS OU TERÁ ORIGEM EM OUTRA FONTE? COMO SEUS DEUSES SE PARECEM?
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AJUDANTES ANJOS, DEMÔNIOS , MENSAGEIROS E ARAUTOS. QUEM PODERÁ SERVIR OS DEUSES COMO ENVIADOS PARA UMA LIGAÇÃO ENTRE SERES ESPIRITUAIS E CARNAIS? Para estes também vale pensar o porquê de serem importantes, qual a origem deles, como chegaram a sua posição, que poderes têm e o que evita que sejam atacados, mortos ou desafiados. Podemos considerar que só sejam enviados em assuntos importantes, então qual é o motivo para que este terceiro fosse usado ao invés de a própria divindade aparecer?
Há a possibilidade desse deus se materializar? Quais são suas limitações?
É bom lembrar que um deus pode usar seu poder para convencer alguém que esteja mais propenso a fazer suas vontades no mundo que ele influencia a operar suas vontades ao invés de existirem seres propriamente incumbidos de servir a esses objetivos. A PRESENÇA DE AJUDANTES SERÁ BEM-VINDA ÀQUELES QUE OS RECEBERÃO? ELES SERÃO GENTIS OU ARROGANTES? DISCRETOS OU ESPALHAFATOSOS? ELES REALMENTE SERÃO TOTALMENTE LEAIS E SUBMISSOS A SEUS SOBERANOS?
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INSPIRAÇÕES POR ONDE COMEÇAR A CONSTRUIR AS RELIGIÕES E OS PANTEÕES DE UM UNIVERSO? As mitologias europeias, asiáticas e africanas estão esgotadas por tantas releituras e adaptações, isso porque muitos autores não identificam outras fontes de inspiração apesar de todas as culturas estarem recheadas de crenças e superstições. Ao perceber qual tipo de divindade se adequa às necessidades de uma obra, isto é, que dará sentido a ela, uma possibilidade é pesquisar por mitos e lendas próximas da sociedade que se vive, como o folclore brasileiro, por exemplo. Uma mistura de culturas e regiões é ideal para a construção de deuses rivais ou com propósitos diferentes, e também pode-se humanizar as divindades (antropomorfismo) e as preencher com personalidades complexas, as tornando imprevisíveis e menos propensas, ou disponíveis, a ajudar, fazendo com que uma interferência divina seja algo realmente surpreendente e um sinal de sacrifício próprio. No filme DEUSES DO EGITO (2016) o deus Rá vive a mesma rotina todos os dias e possui imensa responsabilidade em relação à criação, enquanto Anúbis é responsável pelos mortos que devem encontrar o descanso ou o tormento, onde ele não é cruel, mas apenas justo, servindo como guia. Esses personagens exemplificam como cada deus pode ser representado tendo uma capacidade única de realizar tarefas importantes que, sem o seu comando, não funcionariam, e, caso se ausente, acarretaria em 37
danos catastróficos e irreparáveis que serviriam para dar mais peso ao seu propósito.
CULTURAS E DEUSES Nas CRÔNICAS DE GELO E FOGO de George R. R. Martin, existem diversos deuses e também várias religiões. As divindades mais importantes demonstram influência direta na trama com verdadeiro poder, enquanto outras podem ser tomadas como mentiras alegóricas: R’hllor, o senhor da luz; o Deus de Muitas Faces, senhor da morte; os Deuses Antigos; o Deus Afogado; Os Sete e muitos outros. Cada um possui uma forma de adoração diferente, além de símbolos, servos e características únicas que afetam o comportamento de seus fiéis. O Império Romano também adorava muitos deuses, mas isso porque cada povo que eles conquistavam agregava culturas novas ao mesmo panteão. Então, ao invés de impor a adoração de deuses próprios, Roma facilitava a aceitação da sua dominância para cada civilização deixando que mantivessem a própria fé em um ou mais deuses, o que mostrava como é compreensível e aceitável que, dependendo do BACKGROUND de uma obra, hajam formas de interpretação diferentes para um mesmo deus, sem falar em adorações completamente opostas nos extremos de um mesmo país ou, no caso de Roma, de um império.
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CONCLUSÕES Em quanto mais detalhes você tiver pensado e tenha preparado, mesmo que não sejam citados durante as obras, mais será permitido que a criatividade se solte, servindo de base para mais recursos que enriquecerão a sua história. Sua preparação auxilia na consulta posterior para o caso de surgirem dúvidas referentes a como seria a atitude de uma divindade ou de seus cultistas em determinada situação, além de ser possível imaginar como toda a crença se abalaria com determinados eventos ocorridos. É preciso pensar, também, na origem de todos os deuses, os quais poderiam ou não ser frutos de uma criação espontânea, assim como o personagem Ego do filme GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 2 (2017).
Outra possibilidade é a adoração de reis ou rainhas, assim como era na Era Medieval, onde se enxerga a figura do soberano que vestia a coroa como alguém que recebera esse direito por providência divina. Seja, então, para dar credibilidade ou servir de base para acontecimentos na trama, a espiritualidade pode ser tratada de forma natural, apresentando altos e baixos que servirão como mais uma das muitas camadas necessárias no complexo conjunto que formará a personalidade e a história de cada personagem.
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