Como nasce uma estrela

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Como nasce uma estrela Quem sabe como nasce uma estrela? Uns arriscarão ser pontinhos de luz presos em um teto, outros que são bolas de gazes suspensas em combustão no infinito, por outro lado imaginariam pequenos vagalumes... Tenho que discordar destas teorias, já explico o porquê. Bem, no início de 2007, por motivos do trabalho estava morando longe da família, e lá fna cidade de Uberlândia em plena luz do dia, surgiu uma estrelinha, como que caída do céu bem na porta do carro. Isso mesmo, ele apareceu para minha esposa e minha filha. Sem mais nem menos ao abrirem a porta do carro esse novo astro entrou no carro, sentou-se na janela e passou a atender pelo nome de LITLE. Cuidar de estrela não é fácil! Ao retornar da tal viagem, notei aquele pequeno folgado na minha casa, subindo em todos os cantos, bagunçando tudo, mordiscando os cantos dos móveis, pegando as coisas que a Iaia jogava, fazendo xixi onde a Tatiana jamais permitira. E para minha surpresa o que ele fazia era me provocar, chamar para brincar, correr para lá e para cá. É foi naquele primeiro momento que pude ver nos olhos dele que teríamos uma relação intensa, claro uma estrela não pode brilhar cinza, tem que ser muito luminosa, chamar toda atenção para si. Começamos então uma vida em família nova, não era o primeiro nosso cachorro, aliás, todos serão sempre muito bem lembrados, mas aqui estamos para contar como surgiu aquela estrela em nossas vidas. Esse camarada passou a fazer parte de nossos planos na hora de escolher das próximas casas até os dias atuais. Sendo assim ao nos mudarmos, logo na casa onde plantamos grama em pequenos tapetes, havia um vizinho que criava galinhas duas casas ao lado e logo no segundo dia, notei um tipo diferente de grama no quintal, quando olhei com mais firmeza, pude notar que eram penas, claro, as mesmas de uma galinha que o desbravador caçou e enterrou para fazer uma boa reserva para o futuro. Naquela casa, por sinal numa vizinhança muito arborizada, ele fazia a festa, deitava e rolava na grama, dava umas escapadas fugindo e dando muito, muito trabalho para ser pego por nós todos, chegando ao ponto de termos que ir de carro atrás dele só para se dar ao luxo de paramos ao seu lado para pular porta à dentro. Vivia pegando minhas roupas, todas, qualquer uma principalmente as de trabalho, quando chegavam surradas no fim do dia, essas que se fossem deixadas em algum canto, LITLE vinha pegava, cheirava, mordia, e colocava dentro da casinha, chamando a atenção. Alguns anos depois mudando para outra região do Brasil na fronteira da Venezuela e Colômbia, ele nos acompanhou o pequeno valente como era conhecido já fazia parte da família. Agora desbravando a Floresta Amazônica. Chegou em Manaus de forma muito chique e elegante, voando atordoado pelos calmantes no porão de um 737. Mas o mais inusitado ainda o aguardava, no aeroporto de embarque regional haviam mais dois futuros amigos com o mesmo objetivo, embarcar seus cães. O problema que só levaria um, segundo a empresa aérea, mas com muita conversa o piloto foi convencido a deixa-los entrarem junto do LILTLE, coisas da selva. Chegamos então a terra onde o Litle, futuro candidato a pontinho luminoso no céu se deu melhor, por conta dele eu passei a fazer mais amigos, sim ele era uma camarada influente, inclusive


andando com ele pelas ruas a procura de móveis encontrei um casal muito bacana que nos ajudou bastante na nova empreitada. Alugamos então uma casa, apartamentos eram muito pequenos para aquele baixinho folgado, mas a casa com fundos para selva recebia sempre a visita de mucuras, marsupiais de hábitos noturnos, e se não me falha a memória foram mais de cinco mortas. Mas fiquem calmos, ele não era um predador, a mesma mucura morreu e voltou nas noites seguintes, eles lutavam como atores, LITLE vencia a mucura fingia que morria, e tudo ficava bem. E nesta mesma casa o fujão um dia quase nos deixou, foi para sei lá onde e ao voltar do trabalho encontrei todas duas chorando, começou então uma operação para achar esse rebento, de meio dia no sol amazônico até dez da noite quando já preparando para cochilar, ouvi um choro longe meio que abafado, era o LITLE chamando por nós numa casa da redondeza os donos o pegaram e o levariam para fronteira onde realmente teria uma final diferente nessa história. Passeava com ele todas noites e como na floresta o que mais tem são árvores ele se dava bem, marcava todas possíveis e impossíveis. Arrumou uma namoradinha por lá sim ela já é uma estrelinha no céu, a Conchita, que pegamos para criar, mas fujona como ele foi para rua e fatidicamente foi atropelada, pobre coitada. Um amigo nos ajudou na sua despedida, mas ela realmente poderia ter perpetuado a vida daquele casalzinho. Mudei novamente para o Sul e lá morei longe deles, mas quis o destino que a minha nova vizinha fosse uma senhora dona de um cãozinho parecido com ele, isso foi muito acalentador. Terminado esse breve período, retornei para casa só para buscar a família e mudarmos novamente para o Nordeste, iriamos para Aracaju. Adquiri as passagens aéreas e carro pronto para seguir numa balsa, tive que mudar todos planos, pois não havia mais vagas para o nobre amigo no avião, tivemos todos que viajar de carro. Aproveitamos e fomos ao ensejo com amigos fazendo uma pequena caravana, dois carros, duas famílias, muitas crianças e um cachorrinho simpático abrindo caminho. Foram quase 10.000 quilômetros. A capital sergipana é o último capítulo desta fórmula para se criar uma estrela, foi aqui que já carcomido pelo tempo, ele demonstrava sinais de que as teorias sobre tempo/espaço existem e se confirmam. Quase oito anos juntos se passaram como oito dias. A vida desta estrela guia era mesmo diferente para nós. LITLE um senhorzinho de 80 anos, viveu perto de nós e nos deixou bem embaixo de nossa janela, foi socorrido, passou uma noite na UTI e hoje depois dos mais nobres recursos que a medicina veterinária dispõem, às 09:48 deste 19 de janeiro de 2014, passou a brilhar no céu. Te agradecemos LITLE, você vai sempre brilhar no nosso céu e quem sabe um dia guardar um lugarzinho para podemos ver tudo junto aí do alto. Obrigado, Iasmin, Tatiana e Wilson.


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