Regionalismo Crítico - Álvaro Siza

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FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO

SOBRE A OBRA:

Localizada em Porto Alegre, a Fundação Iberê Camargo é a primeira obra de Siza no Brasil. Além de funcionar como centro cultural, promovendo cursos, seminários e estudos sobre a produção artística atual, o edifício abriga toda a obra do artista que originou seu nome, Iberê Camargo. A preocupação com fatores ambientais é um ponto marcante da produção de Siza e é um aspecto marcante na totalidade do edifício. Apesar dos desafios enfrentados nesse projeto, os espaços foram bem aproveitados e o entorno natural imediato foi preservado. O edifício é em sua essência irregular: hora simétrico, hora assimétrico, e desenvolve um contraste experssivo entre linhas curvas e linhas retas. Suas rampas se abrem como espécies de braços que se movimentam ao redor do corpo, trazendo movimento e dinamismo à edificação. Internamente o contraste entre linhas retas e curvas é ainda mais marcante. Em seus três pavimentos, a fundação abriga salas de exposições, ateliês, biblioteca, auditório e outros ambientes integradores. De modo semelhante ao Guggenheim nova-iorquino, de 1959, a Fundação conduz o visitante, ao chegar, a subir de elevador até o último andar. De lá, ele desce pelas rampas, percorrendo de cima para baixo as nove salas de exposição distribuídas nos três andares superiores. O prédio tem estrutura monolítica, sem pilares, vigas e lajes. São as paredes maciças que suportam o carregamento da estrutura e garantem a estabilidade horizontal do conjunto – o que lhe dá ares de uma gigantesca escultura. As poucas aberturas da construção foram calculadas para enquadrar perfeitamente a paisagem e valorizá-la, sem tirar a atenção das obras expostas. Quanto à materialidade, Siza utiliza basicamente o concreto, puramente branco, e vidros. Em linhas gerais, a obra desperta uma leitura diferenciada para a arquitetura trazendo, sobretudo, através de sua forma certa subjetividade e poesia. Além disso, atrai novos olhares para a cidade que a abriga. Ainda em projeto, o prédio ganhou em 2002, o Leão de Ouro, prêmio máximo da Bienal de Arquitetura de Veneza, e foi pauta de inúmeras publicações especializadas antes mesmo de ficar pronto.

SOBRE O ARQUITETO:

PLANTA BAIXA - PRIMEIRO PAVIMENTO

CORTE AA

CORTE BB

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO DISCIPLINA: TEORIA DA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA DOSCENTE: ARISTÓTELES CANTALICE DISCENTES: ALANA ALMEIDA, WLIANY SOBRAL

Álvaro Siza Vieira Joaquim de Melo, mais conhecido somente como Álvaro Siza, nasceu em 1933, em Matosinhos, nas proximidades do Porto, onde se formou em 1955 pela Universidade de Belas Artes do Porto (atual FAUP). Casou-se e teve dois filhos, um também arquiteto, Álvaro Leite Siza Vieira. A linguagem peculiar desenvolvida por Siza, embasada em referências modernistas internacionais - especialmente Alvar Aalto -, influências minimalistas e na tradição portuguesa, permitiu que ele alcançasse grande renome em Portugal e no cenário mundial da arquitetura contemporânea. Considerado representante do regionalismo crítico - termo apropriado por Kenneth Frampton -, Siza busca resgatar a relação entre a natureza e a construção ao mesmo passo em que torna seu estilo simultaneamente moderno e tradicional. Além de seu país de origem, projetou na Espanha, Coréia do Sul, Brasil, Estados Unidos, entre outros; tornando-se grande influência para diferentes gerações de arquitetos. Premiado mundialmente, estão entre os prêmios mais notáveis a medalha Alvar Aalto (1988), o prêmio de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe (1988), um Pritzker recebido em 1992 pelo projeto de renovação da zona do Chiado, em Lisboa -, e a medalha de ouro do Royal Institute of British Architects (2009). “A relação entre a natureza e a construção é decisiva na arquitetura. Essa relação, recurso permanente de qualquer projeto, é para mim uma espécie e obsessão; sempre foi determinante no curso da história e, apesar disso, tende hoje a uma extinção progressiva.” Álvaro Siza

SOBRE O REGIONALISMO CRÍTICO: Regionalismo crítico é uma abordagem arquitetônica que tenta remediar a indiferença entre o objeto arquitetônico e o lugar onde está inserido. Através da utilização das forças do contexto, visa enriquecer a significação da arquitetura. O termo foi introduzido por Alexander Tzonis e Liane Lefaivre, porém foi difundido pelo célebre crítico e historiador da arquitetura Kenneth Frampton. Segundo Frampton, o regionalismo crítico surge como resposta aos problemas criados pela globalização e contemporaneidade, tendo na arquitetura a propagação do uso de elementos que remetiam às culturas passadas de forma pura e nostálgica. Segundo Frampton, nemtoda cultura é capaz de suportar e absorver o choque da civilização moderna, trazendo à tona então um questionamento: como modernizar e ao mesmo tempo retornar às fontes? O apreço de uma sociedade por suas raízes culturais caracteriza o sentimento regionalista e evoca uma reação à descaracterização desse meio. Ainda segundo Frampton, a aspiração por algum tipo de independência – cultural, econômica ou política –, é a força motriz de uma cultura regionalista. O regionalismo surge no interior de uma sociedade e reconhece, no mundo globalizado, a importância das novas tecnologias e de uma expressão arquitetônica contemporânea, bem como reconhece a importância de suas tradições enraizadas em si mesmas e em seu próprio lugar e, com isso, é capaz de absorver as influências provenientes do exterior e adaptá-las à sua própria cultura. Além disso, segundo o conceito do regionalismo crítico, o lugar é de extrema importância na arquitetura. O arquiteto deve buscar perceber em cada lugar sua especificidade e sua obra deve emitir e liberar a essência do terreno o qual está inserido. Pode-se afirmar que a "consciência do lugar e a tectônica" constituem, para Frampton, uma "alternativa à uma arquitetura autêntica". As obras do português Álvaro Siza são citadas como grandes exemplos do compromisso da arquitetura com lugar a qual se insere. "[…] Siza parece ter conseguido alicerçar seus edifícios na conformação de uma determinada topografia e na refinada especificidade do con-texto local. […] Igualmente importante é a extraordinária sensibilidade de Siza aos materiais locais, ao trabalho artesanal e sobretudo, à sutil luminosidade da região - a sensibilidade a um tipo de filtragem e penetração da luz".


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