Miniconos e Muito Menos

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MINICONTOS E MUITO MENOS Marcelo Spalding

ISBN 9788599063095 i lu s t r aç õ e s

Alexandre Oliveira


Marcelo Spalding

MINICONTOS E MUITO MENOS

Porto Alegre, 2009


Copyright © 2009, dos autores

Edição Ilustrações Design gráfico Editoração Revisão

Laís Chaffe Alexandre Oliveira Auracebio Pereira PrintMaker Press Revisão

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Chaffe, Laís Minicontos e muito menos / Laís Chaffe e Marcelo Spalding. Ilust. Alexandre Oliveira. Porto Alegre, Casa Verde, 2009. 120p. ilust. (Série Lilliput, v.5) CDU: 869.0(816.5)-34 1. Literatura sul-rio-grandense - Contos I. Spalding, Marcelo Bibliotecária responsável: Ariete Pinto dos Santos CRB /10-422

Todos os direitos desta edição reservados para: Casa Verde Rua 24 de Maio, 181/601 – Cidade Baixa CEP 90050-180 – Porto Alegre – RS Fones: ( 51) 3407 8223 e (51) 9121 7707 casaverde@casaverde.art.br www.casaverde.art.br

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL ISBN 978-85-99063-09-5


sumรกrio Marcelos CINCO MARIAS

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CIRANDA DA VIDA

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Cร DULA VIVA

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FACES DE SETE POEMAS

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SINAL DOS TEMPOS

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Marcelos

Antes que você se pergunte quem está imitando quem nas apresentações, confesso: sou eu. Primeiro, porque a gente imita quem admira; segundo, porque essa forma aqui ajuda muito na hora de falar em alguém com tanto conteúdo. Hoje já não me surpreendo com os muitos Marcelos que ele inventa e reinventa, mas quando nos conhecemos, em 2004, fiquei de boca aberta: com 22 anos, o Marcelo menino-prodígio já tinha dois livros publicados – o primeiro aos dezesseis – e acumulava prêmios jornalísticos desde os onze. O Marcelo ficcionista, por sinal também premiado, desde cedo convivia com o Marcelo editor de jornais e em seguida de sites, com o Marcelo atuante na Associação Gaúcha dos Escritores, com o Marcelo aluno dedicado que se transformaria no professor de atraentes oficinas literárias. Graças ao interesse comum pelos minicontos, pude conhecer ainda o Marcelo pesquisador, autor da primeira dissertação de mestrado sobre o tema. E vem aí o Marcelo doutor, com tese sobre Literatura Digital. Ou seja, o Marcelo que faz é o mesmo Marcelo que pensa e repensa seu ofício. Por isso faz tanto e tão bem. Por isso e por aque-


le algo mais, ora denominado talento, ora dom, o Marcelo consegue atingir o nível estético que você vai conferir nas próximas páginas, sempre em consonância com uma ética responsável por levar sua Literatura muito além das fronteiras do próprio umbigo, refletindo as mazelas deste nosso mundo.

Laís Chaffe


Ao meu pai, JosÊ Amado Perez, pelo milagre e pela força


CINCO MARIAS



MARCELO SPALDING

Maria acorda, pega 么nibus cheio, toma chuva, recebe ordens, lava passa esfrega limpa encera cozinha costura seca estende guarda arruma lava passa esfrega limpa encera cozinha costura seca estende guarda arruma lava passa esfrega limpa encera cozinha costura seca estende guarda arruma lava passa esfrega limpa encera cozinha costura seca estende guarda arruma. N贸s pagamos um sal谩rio m铆nimo.

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MARCELO SPALDING

Eram sete irm達s. Marta casou virgem, Marcela fugiu de casa, Mariana n達o teve filhos, Miriam quase foi freira, Michele mudou de sexo, Melissa perdeu dinheiro. De Maria n達o se sabe: finalmente, o ch叩 funcionou.

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MARCELO SPALDING

Ant么nio Maria descobriu o Brasil. As brasileiras. E voltou antes de se reconhecer no choro do nen茅m.

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Maria Helena ĂŠ virgem desde que o pai sumiu de casa.

MARCELO SPALDING

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MARCELO SPALDING

Maria Teresa frequenta a casa, mas não está nas fotografias. Conhece a cama, mas não ignora a aliança. Espalha o vírus, mas não deixa vestígios.

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CIRANDA DA VIDA



MARCELO SPALDING

Quando acordou, jรก nรฃo estava mais lรก.

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O menino, olhando uma foto na parede, pergunta ao pai: – Pai, por que a mamãe foi pro céu? Enquanto apertava forte a mão do menino, ele respondeu: – Pra não deixar teu irmãozinho sozinho lá, filho.

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MARCELO SPALDING

Chegou tua hora. Serás moleque travesso, jogarás bola e bolita e botão, terás mulher, filhos, carro e emprego, gostarás de ir à praia e conhecerás o Rio de Janeiro, comprarás casa, terreno, assistirás ao teu time ser campeão do mundo, mas, antes dos cinquenta, um disparo repentino levará teus movimentos, tua voz, tua fome. Topas?

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MARCELO SPALDING

No dia em que Paulo se foi, o coração de João voltou a bater forte, a filha de Maria livrou-se da hemodiálise, a avó de Pedro viu a neta pela primeira vez, a espera de Mateus terminou. Com sorrisos e abraços, as quatro famílias secaram as lágrimas da perda de Paulo.

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MARCELO SPALDING

Na real, foi assim: primeiro mataram a mãe, depois levaram a televisão. Dizem que foi o pó, o tráfico, a dívida. Corri pra igreja onde me ensinaram a orar, acreditar, somos todos irmãos. Mataram o padre ou ele fugiu? Sumiu junto com polícia e repórteres. Fui o primeiro a matar para ser o último a morrer.

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MARCELO SPALDING

Eu poderia ter sido atriz. Fingiria sorrisos e gozo e lágrima; amor, perdão, orgulho. Atravessaria palcos fantasiada de princesa, bailarina, camponesa, seria jovem e velha, teria amores e filhos, quem sabe até morreria, morreria com um tiro, um tiro certeiro, e viraria notícia de jornal. O público leria apavorado mais um caso triste envolvendo uma grande atriz, e a grande atriz seria enterrada sob muitos aplausos. Enterrada com direito à lápide. Eu poderia ter sido escritora, rabiscaria mundos e fantasias, bonecas de pano que falam e pensam e agem como a mais esperta das meninas, inventaria fábulas sobre planetas minúsculos e viveria eternamente num desses planetas. Eu poderia ter sido bailarina. Professora, atleta, modelo. Até mesmo criança, eu poderia ter sido.

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CÉDULA VIVA



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Faltam seis dias para o fim do mês, quinze para a chegada do bebê, doze prestações para sair do cheque especial e dez minutos para fechar o banco. Ele corre em meio à multidão, tropeça, levanta. Entra na agência esbaforido. O gerente demora vinte minutos para o receber e dois para lhe negar o empréstimo: primeiro, precisava quitar o cheque especial. Chega em casa cabisbaixo e evita o olhar da esposa. No quarto do bebê, o pintor o espera. Suado, cansado, um curativo no polegar. O serviço está pronto, diz, cabeça baixa. Custava cem, mas só recebeu cinquenta.

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O trabalhador entra no primeiro ônibus. Por sorte, não está cheio. Senta-se ao lado de uma senhora e tira do bolso a cédula. O curativo parece ceder, suja a nota com um pouco de sangue. Repara pela primeira vez naquela figura feminina sorrindo para ele e é como se todo o seu dia passasse num segundo: acordar, beijar a esposa, lavar o rosto, escovar os dentes, tomar um café frio, chegar na firma, ver se tem pedidos, lamentar a falta de trabalho, jogar sinuca, atender o celular, comprar as tintas na corrida, pintar o quarto do bebê, machucar o dedão arrastando o berço, pintar o berço, o armário, receber cinquenta reais. Seria muito ou pouco? Ouve gritos, o ônibus trava: é um assalto.

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MARCELO SPALDING

Não tem remorso, apenas sede. Vontade de uma bebida, um vinho especial para uma noite fria. Separa uma nota de cinquenta, entra num mercado vazio, escolhe o tinto mais caro e se dirige ao caixa. Quer ser simpático, pergunta por que nunca tinha visto mulher tão bonita pela redondeza. A moça não responde, pega a nota com nojo, verifica com atenção. Encontra uma pequena mancha de sangue. Olha para o sorriso nervoso do outro, as mãos sempre no bolso. Chama o segurança e diz que a nota é falsa. Poderia sacar o revólver e descarregar raiva e cartucho ali mesmo. Não o faz. Para ela, pensaria em algo melhor.

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A cédula amanhece quase no mesmo lugar onde o homem a jogou, com a mancha de sangue no cantinho. Ali perto, mãe e filho saem de mãos dadas para a escola. Ela, passo apressado, deixaria a nota para trás não fosse o menino gritar. Voltam e recolhem o dinheiro. O menino sugere procurarem o dono, mas ela responde que se a nota estava ali é porque não tem dono. O menino desconfia, insiste, ela compra a anuência da criança lhe prometendo um presente. Os olhinhos brilham. Nem vão à escola: ele escolhe uma miniatura de Ferrari com fricção e ela sorri quando a moça do caixa lhe dá trinta reais de troco. A corrupção do filho lhe custara vinte.

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A moça não sonhava em ser caixa de loja quando tinha a idade do menino. Lembra disso enquanto vê ele se afastar, mãos grudadas na Ferrari. Queria ser atriz de televisão ou professora, mas cresceu demais e engordou além da conta para uma atriz. Professora, os pais não deixaram ser. Acabou espremida entre o fim do colégio e o não-passar no vestibular. Agora, sua maior alegria é ser caixa de uma loja de brinquedos. Odiava ter trabalhado em banco, chegava em casa com as mãos doendo e os dedos sujos de tanto contar as malditas cédulas. O menino já vai longe, e ela ainda segura os cinquenta reais, os manchados e sujos reais, sonhando com o dia em que terá um filho e uma nota dessas para comprar um presente.

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Uma bicicleta. Um homem compra uma bicicleta. A moça que queria ser atriz e não pôde porque engordou muito e queria ser professora e não pôde porque os pais não deixaram sorri para o homem que compra uma bicicleta. Ele pergunta se aceitam cartão de crédito, ela sorri de novo e diz que, infelizmente, a loja não trabalha com aquela bandeira. Ele ironiza e tira da bolsa uma carteira de couro escuro. Põe quatrocentos reais em notas de cem diante da moça. Ela, lembrando da última vez em que andou de bicicleta, demora para pegar as notas. Impaciente, o homem pergunta: nunca viu, né? A moça, sem graça, registra a compra e dá o troco: cinquenta e três. Ele sai sem agradecer.

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O celular toca num ritmo frenético. Um jovem atende aos gritos, enche a casa de gírias. Beleza, combinado, tô indo praí. Sobe as escadas de dois em dois degraus e encontra o pai fazendo a barba. Tô precisando de grana, ele diz. O homem se concentra na gilete, termina aquele movimento e pergunta o que o filho fez com a mesada. Qual é, meu velho, vai dar uma de durão pra cima de mim? Pro pirralho tu compra bicicletinha... Bate a espuma da gilete na pia, olha para o filho e pede que abra sua carteira e pegue o que tiver ali. O jovem vai e volta reclamando: pô, meu velho, só isso? Cinquenta e três pilas? O pai não responde, ocupado com um novo movimento da gilete. O garoto insiste: então pelo menos empresta o carro, velho. E nem dá tempo de o pai recomendar cuidado com o freio.

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Não há esquina em que ele não desacelere para ver as meninas, buzina. Fica imaginando o que vai fazer se uma delas entrar no carro, não tem dinheiro nem para um bom restaurante nem para um motel. Reclama do pai, onde já se viu andar só com cinquenta pilas na carteira? Para na sinaleira e aproveita para conferir de novo. Pega a cédula levemente manchada de sangue, amassada, pegajosa. Pensa, pensa e, como se achasse a solução, sorri para a figura feminina. Quando o sinal abre, sai cantando pneu. Engata a segunda, a terceira, a quarta, a quinta. Abre os vidros, aumenta o volume do rádio, acelera. Buzina para um grupo de prostitutas. Desvia de um ônibus, troca de faixa, ultrapassa o amarelo. A cédula, viva, é a primeira a voar do carro quando ele capota em frente a um banco.

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Quando nasci, nenhum anjo torto me disse nada. Mas lembro da voz do pai perguntando como iam sustentar mais uma boca. Fui ser gauche na vida.

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Raquel foi deixada nos Estados Unidos, Teresa no convento, Raimunda morreu de desastre, Maria ficou com a tia, Joaquina suicidou-se ao ver Lili casar-se com J. Pinto Fernandes, que não tinha entrado na história.

Raquel gerou Teresa que gerou Raimunda que gerou Maria que gerou Joaquina que gerou Lili que não gerou ninguém.

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MARCELO SPALDING

E agora, José? E agora, Fernando? E agora, Luís? E agora, você? Que lutou pra ser livre Que lutou pra votar. E agora, Brasil? Mudaram os sonhos? Terminaram os nomes? Ou o sonho acabou?

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Crianças entre mulheres, mulheres em frente à televisão. Um carro vai depressa, um casal se beija depressa, um sorriso termina depressa, uma margarina surge depressa. Depressa, as crianças se calam. Plim-plim. Êta vida besta, meu Deus.

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Tenho apenas duas famĂ­lias e o sentimento do mundo. Uma morre de medo ao meu lado, a outra passa fome sem mim.

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O engravatado municipal Acusa o engravatado estadual De estar ao lado do grande engravatado federal.

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Houve um tempo em que havia pedras no meio do caminho. Tropeรงava-se. Levantava-se. E seguia-se. Hoje tem uma bala no meio do caminho. No meio do caminho tem uma bala. Tem uma bala no meio do ca...

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SINAL DOS TEMPOS



MARCELO SPALDING

ONLINE Não sei + o q fazer, Joana, meu filho ñ sai da frente do computador, vive nesses jogos de lutinha, de tiro, de... É ele, só um pokinho. Vê se eu posso, veio todo arrumado pedindo pra ir na casa do Beto. Imagina, pegar ônibus até a Zona Norte a essa hora! Claro que ñ, né, Joana... Mt perigoso!

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BBB Beto até os 38 nunca trabalhou: morava com a mãe, uma professora viúva e calada, tomava CocaCola todas as noites, trocava de Play a cada dois anos, colecionava figurinhas do Brasileirão e latinhas de cerveja importada. Um dia, plim-plim, e ele estava na televisão. Mudou o nome para Bam Bam Bam, raspou os cabelos, fez tatuagem, inventou umas gírias e, em pouco tempo, ganhou seu primeiro milhão, dinheiro que a mãe não ganhara em trinta anos de sala de aula.

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DECLARAÇÃO DE AMOR Eu te pago.

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PEDIDO DE DIVÓRCIO Tu me paga.

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ÚLTIMO CAPÍTULO Helena, Nazaré, Maria e Jade saem do trabalho com pressa, carregam pesadas ancas por calçadas quentes, atravessam ruas e gentes, sobem morros. Ligam a televisão, oito e meia. Último capítulo. O sofá é sujo, os gritos são altos, as paredes, poucas e a vila, grande. O trabalho é trabalho, o mundo é assim. Crucifixos tortos, mandamentos decorados. Mas é o último capítulo e calam as crianças num tapa. Torcem. Gritam. Choram. Enfim, sorriem, emocionadas, corações leves. O final foi feliz. O resto é ficção.

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NA VERDADE, CINCO MINILIVROS...

Há Cinco Marias, para todos os destinos: vítimas, algozes, e até uma que não nasceu. Um nome não aprisiona significado senão pela vida que o carrega. E quem disse que um conto de três linhas não carrega uma vida inteira? Ciranda da vida nos leva a dançar pelos temas da vida e da morte, para um lado e para outro: de vidas possíveis (chegou a tua hora... eu poderia ter sido atriz...), passando por quem é capaz de tirar a vida (na real, foi assim: primeiro mataram a mãe...), até a morte que permite a vida (no dia em que Paulo se foi...). Ciranda pra lá, ciranda pra cá... Cuidado para não ficar tonto. Cédula viva, que pra mim não é um conjunto de contos, mas uma mininovela, dá um bom filme, um longa-metragem inteligente. Tem personagens bem definidos, e o que os une, o que os faz semelhantes são as duas coisas escritas no título genial: uma cédula de dinheiro (o motor do mundo contemporâneo) e a vida (o sentido para o sujeito). O indivíduo e o so-


cial retratados de uma só vez, com equilíbrio e maturidade, coisa rara. Faces de sete poemas, na sua intertextualidade, mostra que a diferença entre a poesia e a prosa, especialmente o conto, pode às vezes ser apenas a face, o lado que se olha. E Sinal dos tempos fala do que é nosso, infelizmente, queiramos ou não. Cinco minilivros com uma unidade que sentimos, mas não podemos definir, que se deixa ver, que se exibe e se descobre no papel, porém é muito mais complexa que tudo o que ali está: a marca do autor, a alma do Marcelo.

Leonardo Brasiliense


cor

po 9, presso em pap e l o f f -set 9 e im 0g pa r a a C as a

E ste livro fo i

o em L acun mpost a Reg co ular , em

Verde.

AGRADECIMENTOS Agradeço aos amigos verdes, especialmente à Laís Chaffe pelo incentivo constante e pela companhia neste livro. Agradeço aos minicontistas Leonardo Brasiliense e Ana Mello, que contribuem muito com essa minicarreira, e à amiga Ângela Schnoor.


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