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cinema
música
resenhas
ar tes
del toro como Ch e
björk, tool e muito mais
tool arte e música
moda
sufradocius poder feminino
FACTO
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alex e a ar tes transcendental
CONTEÚDO
EDITORIAL
CULTURA // MODA // CINEMA // LIVROS // ARTE //
Edição nº1 da FACTO Magazine É com alegria e satisfação que o projeto da FACTO Magazine, concebido por estudantes do curso de Design Gráfico se torna realidade. Projeto esse, que visa segmentar pelo critério Psicográfico (que diz respeito ao comportamento, estilo de vida, personalidade), os conteúdos de Cultura, Moda, Música, Cinema, Fotografia e Arte atuais. O nome FACTO, se originou da palavra grega que significa a a çã o de fa z er, a contecimento ou a quilo que é rea l, e esses são exatamente os pontos fundamentais de direcionamento do novo Projeto. Igor Almeida
EXPEDIENTE CAPA: SAULO TIRONI E IGOR NASCIMENTO PROJETO GRÁFICO: NUDSON ALAN EDITORIAL DE MODA: STEPHANIE PADILHA FOTOS: NUDSON ALAN E IGOR ALMEIDA PROJETO EDITORIAL: IGOR ALMEIDA, NUDSON ALAN e SAULO TIRONI
sumário Arte
05
Cinema
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Critica
29
Moda
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Cultura
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Música
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Resenhas
77
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ALEX GREY
arte_  6
arte_ 7 Visitando uma livraria mística num recôndito mercado de flores de uma antiga e perversa cidade, o idoso livreiro sem mais aquela intuiu que eu tinha interesse em simbologias (Semiótica da Arte) e indicou-me o setor de arte esotérica, lá reconheci em um lindo livro colorido, com imagens que já me fascinaram antes, vislumbradas sem créditos de autoria em diversas revistas de círculos de estudiosos das antigas tradições simbólicas. O livro era Espelhos Sagrados,
de Alex Grey.
Grey impressiona pela técnica das transparências com as quais dá verdadeiras
ção que é uma aula detalhada de anatomia
aulas de anatomia humana, ilustra pessoas de ambos os sexos meditando, ou
onde nos vemos gente a um espelho analítico
no ato sexual, e sempre demonstra uma impressionante maturidade mística ao
de tamanho natural onde reflete-se nosso sis-
apresentar suas intuições com clareza, mesclando com admirável precisão sim-
tema circulatório, sistema linfático, esquele-
bologias sagradas indianas, chinesas, astrológicas, alquímicas, cristãs, judaico-
to, órgãos, músculos,cartilagens, etc..
cabalistas e outras, sobrepondo em detalhados corpos humanos desde a Otz
O fruidor é desafiado a ir e voltar no corpo
Chain (árvore da vida – cabala e os escribas talmúdicos sofer concentrando-se
humano percebendo a relatividade de ser
na caligrafia sacra da Tora para atingir a intenção concentrada- kavanot, similar
branco ou negro, homem ou mulher, des-
ao sho dô dos kanjis desmanchados chineses taoistas e zen nipônicos e a cali-
identificando-se com o corpo físico (como no
grafia sufi muçulmana de frases do Corão) com chacras (yôga da Índia) aos meri-
tibetano Bardo Thodol) convidando a mais
dianos (acupuntura chinesa) e fotografias Kirlian, harmoniosamente combinadas
pura meditação zen, tao, sufi, Buda.
com Tantra (maithuna, coito sagrado indiano), xaman -pajelança e arabescos sufi árabes, escritas frases sagradas de orações em sânscrito, chinês, hebraico,
E na escolha do corpo feminino, somos sur-
latim, e diversas línguas sagradas antigas, combinando-se até com atuais dados
preendidos com a gravidez, a beleza da ges-
científicos de DNA, física de partículas, campos, quanta, supercordas, etc..
tação alterando formas da bacia e ampliando o ventre, com a transparência do feto e
A Catedral de Grey, sua “Capela Sistina” é um projeto também on line em
embrião crescendo, comovente e tocante.
seus websites na Internet, existindo virtualmente como Web Art, um trabalho de
Uma experiência transcendental é olhar es-
intensa religiosidade que introduz o fruidor em inevitável contato com o divino,
tas peças maravilhosas, um privilégio!
até o nível de consciência que consiga suportar, em graus ascendentes de uma espiritualidade linda.
A arte a serviço da elevação ao divino, Grey nos leva além de preconceitos, mesquinha-
São os Espelhos Sagrados, alta arte sacra ecumênica, inserida em uma ética
rias e identificações ilusórias (Maya), che-
e estética da religiosidade tolerante e aberta à diversidade, apresentada com
gando ao campo infravermelho térmico do
layers-transparências-palimpsestos tipicamente da sensibilidade do século XXI;
calor emanado do corpo, um campo energé-
Grey mostra individualmente homem e mulher, brancos (caucasianos), negros
tico que todos sentimos ao abraçar a amada
(africanos) e asiáticos (mongolóides) simbolizando as raças humanas, o fruidor
em um dia frio; e daí Grey vai nos alçando
escolhe o sexo e raça, a seguir Grey nos mostra na série o corpo sem pele, e o
a vôos maiores, mostrando o padrão vibra-
conceito de raça começa a desvanescer-se e vamos em um exercício de disseca-
tório das glândulas-chacras-sefirots gerando
arte_ 8 campos mais sutis como registrados nas fotografias kirlian, atingindo o eu espiritual, o self junguiano, composto de sutis campos quânticos de pura energia (matéria é energia), passando pelas representações do divino em diversas culturas até a imagem não antropomórfica de um sol ou bola de luz que vivenciamos nas mais altas projeções – viagens astrais fora do corpo físico, no espaço sem onde e no tempo do agora perpétuo, o gerúndio quântico, o presente permanente dos alquimistas, o giro sufi, o êxtase da iluminação, satori, samadhi. O que São Francisco de Assis mostra em sua oração mais conhecida- “fazei de mim um instrumento de vossa paz”, o amém das orações onde “seja feita a Vossa vontade” onde todos somos emanações do UM, filhos do mesmo pai-origem, irmãos... irmão Sol, Irmã Lua, irmã pedra, irmão jumento. Outras obras, quadros a óleo como Beijando que mostra em transparência um casal unido pelo beijo com o símbolo grego apeíron, infinito, o oito deitado, unindo-os pelo timo no peito e pela pineal na cabeça, outra imagem comovente que faz lágrimas de comoção saírem dos olhos, nos tocando com cores e luzes como O Beijo de Rodin faz no tridimensional com volumes e sombras do casal congelado na ansiosa fração de segundo antes do toque dos lábios no primeiro beijo.
“fazei de mim um instrumento de vossa paz”...
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Allyson e Alex Grey trabalhando na armação de Sacred Mirrors Outra obra mais comovente ainda é Copulando, que retrata um casal em intercurso sexual, entrelaçados em fios dourados flamejantes de apeirons sobrepostos, com corpos em transparências anatômicas, gerando um campo sexual que atrai os olhares cósmicos das forças de vida e morte, da continuidade da vida, da futura alma que deseja encarnar a sansara-ciclo kármico, e no centro dos dois uma transparente e quase imperceptível mandálica Shri yantra do Tantra, símbolo da interpenetração dos opostos. Outra imagem comovente de consciência ecológica é Gaia, onde a vida natural e o mundo industrial poluente-suicida são mostrados com o símbolo da grande árvore, Ygdrasil, um painel de complexidade indescritível, para ser admirado por horas fazendo o ego diluir-se e perder-se dentro dele, aliás, toda obra de Grey é assim meditativa.
Painting Como Wilber explica no prefácio de Sacred Mirrors, após a tecnologia da fotografia (que Flusser explica) libertar os artistas do mero retratismo (mimesis aristotélica); Paul Cézanne derruba a perspectiva renascentista, o que vem permitir outros impressionistas como Matisse, pontilhistas como Seurat e expressionistas libertaram nossa sensibilidade para perceber as cores (chegando a Kandinsky com seu espiritual na arte Abstrata, para quem a verdadeira arte envolve o refinamento da alma, do espírito), os Cubistas nos trouxeram uma nova compreensão da forma, e Grey nos brinda com sua visão pessoal do espiritual em um outro nível, além do olho físico e corporal, além da mente culturalmente cultivada, para o transcendente, indo além do corpo e da natureza como pré-verbal, préconceitual, pré-mental, chegando a nos fazer vislumbrar o transverbal, trans-egóico, transindividual, o espírito que é universal, além de formas e idéias, o Divino. Assim, a Arte primeiro envolve o desenvolvimento e crescimento do próprio artista no fazer sua arte-obra em processo (quando o tempo e espaço desaparecem no transe do fazer artístico, e o artista inexiste, o ego morre e se esquece de si, de comer e dormir possuído pelo “sobrenatural” envolvimento da obra-paixão), e em segundo lugar a arte compartilha o desenvolvimento espiritual do artista transpirada em sua obra para evocar intuições místicas similares no observador- fruidor, colaborando com a expansão de nossa consciência por meio da sensibilidade estética ao sagrado.
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Desde 1973 Grey fazia performances muito interativas, e instalações , todas obras sempre muito rituais; filho de um artista gráfico, criado convivendo com artes, realizou ousadias como Metro Privado e a peregrinação ao pólo magnético no extremo norte do planeta, tudo registrado em fotografias como toda performance documentada; muitas explorando a perspectiva da morte como consciência da não-permanência, do efêmero e transitório de tudo, do desapego. De 1975 a 1980 Grey realizou dissecações no necrotério de uma escola de medicina, aprofundando seus conhecimentos de anatomia e de ilustração científica de obras de medicina e anatomia (vivenciando o Nigredo o Putrefatio alquímico, a obra em negro), uma das obras deste período foi derramar chumbo no ouvido interno do cadáver fresco de uma mulher recém falecida, tirando um molde em chumbo dos espirais do labirinto dela. Esta obra ocasionou um pesadelo iniciático em Grey.
Mystic Eye
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The Gift/
Sonhos xamânicos como os descritos por Castañeda em livros como Erva do Diabo e Cami-
nho de Ixtlan acometeram Grey. Em um dos pesadelos ele viu-se em um tribunal, julgado por um juiz cego e um júri furioso e indignado, acusado de profanar o seu cadáver indefeso por aquela mesma mulher cujo corpo Grey tinha dissecado dias antes no necrotério (em seus estudos práticos de anatomia humana) e derramado chumbo derretido no ouvido dela e Grey conta que explicou a ela que retalhou seu corpo e derramou o chumbo em nome da arte. Por fim o juiz e o júri o alertam para fazer obras positivas e deixar os mortos repousarem em paz. Este sonho teria despertado-o para a obra Sacred Mirrors (Espelhos Sagrados) realizada com devoção durante dez anos, de 1979 a 1989, até a animação pós-computador em 1999, o website já no Século XXI e o projeto de construção física da Capela que hoje é virtual ou exibida em exposições.
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Além de performances, instalações, esculturas, pinturas e arquitetura (a pirâmide dos espelhos sagrados, em animação computadorizada, video-arte de 1999), a obra de Grey existe em livros, posters, camisetas, tatuagens, ilustrações em livros e revistas, e na internet em seus websites disponibilizadas, demonstrando que, como o ideal do homem renascentista de Florença (Leonardo da Vince e Michelangelo), Alex Grey é um artista multimídia no conceito do Século XXI, desconhecer sua obra no mínimo é estar fora do que há de mais contemporâneo na arte. Alex Grey (Columbus, Ohio, 29 de Novembro de 1953), é um artista Americano especialista em arte espiritual e psicodélica ou arte visionária que é por vezes associados com o movimento da Nova Era. Grey é praticante da Vajrayana. Seus trabalhos de arte se estendem a uma variedade de formas, incluindo performance, Process Art, arte de instalações, esculturas, Visionary Art e pintura
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Que diferença enorme fazem meio século e a perspectiva oferecida pelo distanciamento histórico: se em 1969 o diretor Richard Fleischer comandou o repulsivo Che!, que trazia Omar Shariff (que depois renegou o filme) como Guevara numa produção politicamente míope (pior: cega), foi somente em 2008, 50 anos após a Revolução Cubana, que o cineasta norte-americano Steven Soderbergh conseguiu levar Hollywood a produzir um longa que retratasse não apenas a importância histórica da derrubada de Fulgêncio Batista, mas também que fizesse jus ao espírito revolucionário de uma das figuras mais emblemáticas do século 20: Ernesto Guevara Serna, o “Che”. (O maravilhoso Diários de Motocicleta não conta, já que aborda a juventude pré-revolucionária do personagem e é uma produção internacional comandada por um brasileiro.) Pode não parecer, mas é realmente significativo que vivamos numa época em que um cineasta do mainstream norte-americano tenha a coragem e a possibilidade de usar seu peso na indústria de Hollywood para realizar uma cinebiografia que, longe de condenar o espírito da Revolução Cubana, ainda retrata Fidel e Che como figuras dignas que tiveram a coragem de lutar por Cuba num período em que os Estados Unidos já interferiam pesadamente nas políticas internas de todas as nações da América Latina. Intercalando as ações dos revolucionários na Sierra Maestra com a célebre visita de Che a Nova York para discursar na ONU, O
Argentino, primeira parte do épico Che, exibe uma autenticidade impressionante não só pela decisão acertada de empregar o espanhol como língua dominante (em vez do “inglês com sotaque” que Hollywood costuma adotar), mas também pelo excelente uso das locações e a abordagem direta, objetiva, de Soderbergh, que só adota um estilo diferenciadamente marcante nas seqüências em Nova York, que são rodadas num preto-e-branco granulado que assume, assim, um caráter documental, de imagens de arquivo. Sem também cometer o erro de usar a guerrilha nas montanhas como desculpa para conferir um caráter de “longa de ação” ao projeto, O Argentino é basicamente um filme de idéias políticas: desde o histórico primeiro encontro entre Fidel e Che até o plano final, esta produção se preocupa em estabelecer o protagonista como um homem de princípios, como alguém que não se interessa pela luta armada por ter uma personalidade violenta ou por gostar de adrenalina, mas sim por amar profundamente os camponeses que sofrem sob o jugo imperialista que, no período pós-Guerra, caracterizou a principal estratégia econômica norte-americana na América Latina. Sem fugir das questões mais controversas (como o fato de Che ter “justiçado” desertores na Sierra Maestra), O Argentino impressiona também graças às magníficas interpretações de seu magistral elenco: como o personagem-título, Benicio Del Toro mais uma vez
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se estabelece como um ator visceral, ao passo que Demián Bichir não só se parece muito com o jovem Fidel como ainda resgata perfeitamente os trejeitos e maneirismos do líder revolucionário. Enquanto isso, Rodrigo Santoro vem demonstrando humildade e inteligência ao aceitar papéis menores em produções internacionais (ver também Leonera), já que seus ótimos desempenhos nestes ótimos projetos certamente farão mais por sua carreira do que atuações maiores em filmes medíocres poderiam fazer. Rodado com a novíssima câmera Red One, Che comprova que a diferença entre a película e o digital, especialmente com um bom trabalho de pós-produção, já é inexistente (a Red One alcança os 4K similares ao filme convencional) – e, assim, até mesmo em seu aspecto tecnológico o longa se revela um dos mais importantes do ano.
CHE
GUEVARA
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“Che foi meu personagem mais difícil”
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Del Toro __ Com 42 anos, nascido em Porto Rico e criado nos EUA, fala à FACTO como foi dar corpo ao símbolo Che, na entrevista a seguir, feita durante a Mostra de Cinema de São Paulo, em outubro passado.
Notou diferença ao interpretar um personagem que de fato existiu em relação aos ficcionais? É diferente, pela responsabilidade com a história. É mais rígido. Você não pode sair da raia, porque as raias da história se mantêm. Em “The Wolf Man” (o homem-lobo), que fiz depois, podia inventar tudo. Se quisesse ficar de ponta-cabeça e falar, podia. Com Che, isso não é possível, porque se trata de um personagem histórico e nós decidimos respeitar a história.
Alguns críticos avaliam que esse é “o” personagem de sua carreira. De um lado, é um elogio; de outro, soa como uma aposta de que tudo o mais será menor em seu percurso. Como se sente a respeito? Sem dúvida é o papel mais importante, o mais difícil, o mais compromissado que fiz até agora --por ser latino-americano e pelo momento que vivemos. Mas não é o papel da vida de alguém, porque a vida dá voltas e a gente tem vontade de fazer outras coisas, além de ser ator. Ainda quero fazer meus próprios contos e, em algum momento, trabalhar como diretor.
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Em que sentido esse foi seu trabalho mais difícil? Del Toro - Foi o mais difícil não apenas física, mas intelectualmente. O discurso dele diante das Nações Unidas é quase shakespeariano. É um espanhol muito intelectual, por isso é difícil. Esse personagem exige uma fusão de talentos, como se você tivesse que ser Gregory Peck e Steve McQueen, juntos. Outra coisa difícil foi a pesquisa. Como os atores gostam de fazer pesquisa, neste caso era um trabalho infinito. Sei muito sobre Che na fase que o filme abarca. Mas você me pergunta o que sei sobre a vinda dele ao Brasil [em 1961] e me dá vontade de ligar para os pesquisadores em Cuba e perguntar.
Durante essa pesquisa para o filme, você tentou conversar com o pintor Ciro Bustos, apontado como delator de Che? Não. Não tentamos contatá-lo e não houve uma razão especial para isso. Tivemos bastante contato com Debray [Régis, filósofo marxista francês, entusiasta da guerrilha], com Benigno, com Urbano e com Pombo [guerrilheiros que escaparam ao cerco a Guevara]. Faltou um [Bustos]. Conheço bem a história dele, sei que passou por muita coisa. Não o julgo nem tampouco o filme o julga. É muito difícil acusá-lo de traidor. Ninguém sabe como se comportaria sob tortura. Respeitamos isso, de uma maneira muito humana. Agora, que ele fez os desenhos [de Che na selva boliviana, que estavam em poder dos militares que assassinaram o guerrilheiro] é um fato. Não se pode negar e isso está no filme
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Quanto de seu desempenho como Che se deve à direção de Steven Soderbergh? Pelo menos 50%, porque muitas vezes não estou atuando; estou reagindo. Steven vai tão rápido que, às vezes, você não pode atuar. Ele vai te dar uma ou duas chances [para acertar]. Então, é melhor reagir do que atuar, porque senão você pode exagerar na atuação.
Das vezes em que foi a Cuba pesquisar sobre Che, quantas encontrouse com Fidel Castro? Uma. Como foi o encontro? Curto. Havia uma feira de livro. Eu iria embora no dia seguinte. Recebi um telefonema. Fui. Encontrei Fidel e Hugo Chávez. Foi curto. Ele sabia do trabalho que estávamos fazendo. Ficamos de conversar sobre Che quando eu voltasse. Mas, quando voltei, ele já estava doente. Pelo menos estive com ele, o vi...
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O que você achou da atuação do ator mexicano Gael García Bernal como Che em “Diários de Motocicleta” (2004), dirigido por Walter Salles? Muito boa. Gosto muito. Mas o Che de Gael é um Che diferente, porque está se formando. Por isso gosto tanto, por ser um Che de outra época. Não sou o mesmo Benicio Del Toro de quando tinha 18 anos. Há coisas que ficaram, mas não sou a mesma pessoa.
Qual é sua opinião sobre Rodrigo Santoro, que interpreta Raúl Castro no filme? É um guerreiro. Batalha. Tem muita tenacidade e consegue o que quer. É algo que também tenho. Eu me vejo muito nele. Eu sou Del Toro. Ele é San-Toro. Temos essa coisa de ser cabeça-dura. Os guerreiros são os que vencem.
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Che Luciano Soares
O Argentino
Jornalista, escritor e documentarista
Finalmente o cinema mundial faz justiça a uma legenda do século XX lançando a obra, Che - O Argentino, sobre Ernesto Guevara de la Serna, ou como classificou o filósofo francês Jean-Paul Sartre: “o mais completo ser humano da nossa era”. O filme, do diretor Steven Soderbergh, veio dar seguimento à pré-história de Che Guevara, contada por Walter Salles em Diários de Motocicleta. Pode-se dizer que o filme de Soderbergh começa onde termina o de Salles, e completar-se-á com Che - A Guerrilha, segunda parte da saga, do mesmo diretor. Che - O Argentino impacta pela originalidade, inicialmente marcada pela escolha e caracterização dos atores e pela opção de usar o espanhol como idioma oficial. Isto afastou a obra de Hollywood e a aproximou de Cuba. Benicio Del Toro encarnou Che Guevara como se fosse o próprio. Ele personificou o herói cubano espetacularmente, não só na semelhança física, mas também na sua magistral interpretação que lhe rendeu a Palma de Atuação Masculina no último Festival de Cannes. Talvez Soderbergh não tenha tido tempo suficiente para mostrar todos os detalhes da participação do médico argentino na espetacular Revolução Cubana, mas fica a dica: Para entender melhor a decisão de Guevara de aceitar o convite de Fidel Castro para se juntar ao grupo que atravessaria o Canal do México rumo à luta armada, procure conhecer um pouco da situação de Cuba antes da revolução. Também é importante
pesquisar sobre a passagem de Guevara pela Guatemala, país de extrema importância na formação ideológica e na militância de Che. É importante também que o expectador assista Diários de Motocicleta antes de ir à projeção de Che – O Argentino. Mesmo que consideremos o filme de Steven Soderbergh uma grande obra, é preciso fazer certas observações. Por exemplo: O diretor se apegou muito a detalhes pouco importantes da guerrilha na Sierra Maestra, em detrimento de alguns fatos da história da revolução que não poderiam ficar de fora. Um deles é o treinamento do grupo no México, numa fazenda alugada por Fidel. È ali que Che se destaca. Como escreveu o pesquisador, Jorge Castañeda, no livro A Vida Em Vermelho: “O Che participou dos exercícios físicos, de tática, de tiro e resistência junto dos demais (...) Em tudo teve nota máxima.” O treinador do grupo, Alberto Bayo, disse a Fidel: “Guevara é o melhor, é o número 1”. É ali que Che deixa de ser olhado apenas como médico para ser considerado um verdadeiro combatente. Outra cena que faltou no filme foi o desembarque dos 82 soldados em Cuba, quando tiveram de saltar do iate, o Granma, com lama até a cintura, sendo recepcionados por um bombardeio aéreo. Naquele momento muitos foram abatidos, outros debandaram. Sobraram apenas dezoito para darem início à luta armada contra os mais de três mil homens de Fulgêncio Batista. Em Alegría de Pío,
“Soderbergh deve ter tido uma preocupação redobrada, por tratar-se de um filme semi-documental”
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Guevara foi atingido por uma rajada de metralhadora que lhe feriu o pescoço de modo leve. Ali ocorreu o batismo de guerra do Che. Alguns diretores gostam de fugir do lugar comum dos filmes de guerra, tirando deles os clichês heróicos. Nesse filme, em especial, Soderbergh deve ter tido uma preocupação redobrada, por tratar-se de um filme semi-documental. Há certa frieza na abordagem do personagem. Isso talvez se configure em erro também. É lógico que é preciso desmistificar a aura exagerada de herói e semi-deus atribuída ao Che, mas não se pode tirar dele o caráter romântico e sensível que o acompanhou durante toda a sua epopéia. É preciso mostrar Che Guevara como ele realmente foi: Um revolucionário que não perdeu a ternura, nem o foco da causa que o levou a um país desconhecido, lutar por uma gente igualmente desconhecida. De qualquer maneira vale a pena assistir e ficar na expectativa de Che – A Guerrilha, a segunda parte dessa aventura real.
“É lógico que é preciso desmistificar a aura exagerada de herói e semi-deus atribuída ao Che...”
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De uma era revolucionária, resgatamos a heroína Sufragista, de silhueta marcada ou de saia rodada, ela pega carona nos símbolos dos tempos modernos.
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Sufra deriva-se da palavra Sufragista, mulher partidária, obstinado pelo sufrágio universal, adepta a igualdade eleitoral...
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docious mas que não somente uma adepta ao voto, mas também adepta e obstinada a sua postura feminina, sempre meiga afável e encantadora, a mulher retratada aqui não é a que se permite estar nua e seguir muda, para ter o que deseja.
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“VOLTA” O NOVO CD DA BJÖRK
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IDENTIDADE E RESISTÊNCIA NO URBANO: O QUARTEIRÃO DO SOUL EM BELO HORIZONTE
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Tudo começou no final de abril de 2004, quando Abelha e seu amigo Elton Sapão que mora em Vespasiano foram buscar um CD com músicas dos anos 70 que tinha encomendado com Geraldinho, que trabalha há muitos anos como lavador de carros no quarteirão da rua Goitacazes entre São Paulo e Curitiba. Abelha resolveu testar o CD na sua Caravan 86 Dourado, abrindo a porta traseira e ligando o som. Ronaldo Black empolgado começou a exibir a sua dança e algumas pessoas que estavam no local e que também que eram amantes da Black Soul resolveram acompanhá-lo. Isto chamou a atenção das pessoas que passavam pelo local. Ali começavamos a resgatar o passado que parecia estar esquecido a bastante tempo. Foi então que abelha teve a grande idéia de fazer do local um ponto de encontro da velha guarda, e junto com Geraldinho batizou o local com o nome de Quarteirão do Soul.
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Em primeiro de maio de 2004, tivemos o primeiro encontro da velha guarda no local com o apoio do Bar Taiobeiras, que funciona lá. Mais tarde tivemos o grande apoio do renomado DJ A COISA com seus equipamentos e discos de vinil da época. O Quarteirão se tornou um ponto de referência para os amantes do Soul, possibilitando o reencontro da velha guarda dos anos 70, muitos dos quais antigos freqüentadores do Máscara Negra, União Síria, Órion, DA e outros clubes da época. O Quarteirão cresceu rapidamente e um dos motivos deste crescimento foi o incentivo da Rádio Favela inclusive com transmissão ao
CULTURA NAS RUAS DE BELO HORIZONTE
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vivo a partir do Quarteirão.Para uma melhor organização, foi formada uma comissão com 6 integrantes: Abelha, Geraldinho, Gugú, Ronaldo, Godê e Zezinho. Em seguida a comissão foi transformada em uma Associação, tendo como presidente Abelha e vicepresidente Ronaldo Black. Passaram também a fazer parte da Associação: Robinho, Waldir, Preta, Branca de Neve, Tuca e o DJ A Coisa. Foi o começo da realização de festas no Clube Elite e Bar Chique, mas devido a desentendimentos entre os integrantes estas festas não tiveram continuidade. Por este motivo alguns dos integrantes foram se afastando mas tendo sua história registrada no Quarteirão e nunca serão esquecidos.
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INTEGRAÇÃO
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Dois anos depois, Abelha sairia do Quarteirão por não concordar com a administração financeira exercida pelo tesoureiro da recém criada associação.Então para dar continuidade ao seu trabalho surgiu a idéia de criar um movimento itinerante para divulgar o Soul por todas as regiões de BH. Abelha partiu a procura de apoio para colocar em prática suas idéias, e mesmo despertando a ira de alguns, em nenhum momento pensou em desistir. O casal amigo Efraím e Neusa foram os primeiros a apoiar, em seguida teve a ajuda do casal Robinho e Vânia. Hoje em dia até mesmo alguns dos freqüentadores do quarteirão prestigiam os eventos do Movimento Black Soul com a sua presença.
NÃO EXCLUSÃO
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TOOL
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O Tool é uma das bandas que levaram às últimas consequências a fusão da arte com o rock. Embora suas longas composições não se encaixem no modelo pop imposto pelo mainstream, o grupo adquiriu admiradores por todo o mundo. Isto se deve em parte pelos videoclipes desenvolvidos pelo guitarrista Adam Jones, verdadeiros curta-metragens de altíssimo nível, também editados e produzidos pelo resto da banda. A história do Tool começa em 1990, quando Maynard James Keenan, aluno da Kendall College of Art & Design, conheceu Adam Jones, técnico em efeitos especiais do estúdio de Stan Winston. Eles descobriram ter outra coisa em comum fora a fascinação por arte comtemporânea: a música. Maynard e Adam começaram a compor juntos e chamavam dezenas de músicos para ensaiar. Eles usavam o estúdio de ensaio pessoal de Danny Carey, vizinho de Maynard e amigo de Adam. Danny foi apresentado a Adam por Tom Morello (guitarrista do Rage Against The Machine), com quem Adam havia tocado baixo numa banda chamada Electric Sheep. Por indicação de Morello, Danny Carey se ofereceu para tocar bateria com Maynard e Adam, pois ao mesmo tempo sentia pena dos dois por não acharem ninguém para tocar (as pessoas que eles chamavam nunca retornavam ou então sequer apareciam). No mesma época, Paul D’Amour tinha se mudado para Los Angeles para trabalhar no meio cinematográfico (área em que Adam Jones estava trabalhando, realizando efeitos especiais para O Exterminador do
Futuro 2, Jurassic Park e Predador 2). Paul era na verdade um guitarrista, e já estava desistindo de ser músico quando conheceu Adam Jones, que o convidou para tocar. Uma curiosidade é que D’Amour estava sempre de mau-humor, e a sonoridade das músicas se encaixou perfeitamente com sua personalidade. Com a banda formada, eles começaram a ensaiar regularmente na casa de Danny Carey. Depois de quase se chamarem Toolshed, eles escolheram a alcunha de ser simplesmente Tool, pelo fato de quererem que sua música fosse uma “ferramenta” para a compreensão da “Lacrimologia”, a “ciência do choro” como terapia, que consiste em evoluir explorando sua dor física e emocional.
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Após certo tempo, eles começam a abrir shows para Rollins Band, Rage Against The Machine e Fishbone. Nessa época, eles gravam demos de quatro canais das canções “Cold & Ugly”, “Hush”, “Part Of Me”, “Jerk-Off”, “Crawl Away” e “Sober”. De todas, apenas as quatro primeiras entrariam no EP “Opiate”, lançado em Abril de 1992, pela Silvertone Records, da Virgin. Os membros do Tool declaram que eles erraram de certa maneira na escolha das faixas do EP, justamente porque eles pegaram apenas as composições mais pesadas e curtas, e todos que o ouviram acharam que se tratava de uma banda de trash metal. Sendo assim, a banda conseguiu uma certa exposição e boa vendagem com “Opiate”. Eles gravaram um clipe em VHS para “Hush” (dirigido por Ken Andrews, do Failure), onde todos da banda aparecem amordaçados e nus, com uma placa escrita: “Parental Advisory: Explicit Parts” cobrindo suas partes íntimas. Faz sentido, desde que a música fala sobre censura. Mesmo assim, o vídeo não foi lançado de maneira oficial, pelo fato de que a MTV nunca passaria um clipe com este conteúdo na época! Mas isso
não impede que a faixa “Sweat” apareça na trilha sonora do filme “Scape From L.A”. Em Abril de 93, chega às lojas “Undertow”. Ou pelo menos, uma versão “domesticada” do primero álbum do Tool: algumas lojas trocaram a capa original (um desenho de uma escultura de Adam Jones, uma espécie de caixa toráxica vermelha com costelas em forma de tentáculos) por um código de barras gigante. A parte interior e traseira do encarte ainda traziam fotos como uma mulher extremamente obesa nua, sozinha, e uma outra foto da mesma mulher com um homem nu deitado sobre ela, além de uma radiografia com um enorme vibrador dentro de uma cavidade anal. Em edições não censuradas, existem também fotos de uma vaca lambendo suas genitálias e um porco empalado
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por uma série de garfos (esta uma montagem confirmada). Como a arte gráfica do álbum sugere, este sim é um album cru e verdadeiro do Tool, com nuances mais melódicas e densas, com as menores faixas beirando os cinco minutos. Com o álbum catapultado pelos vídeos de “Sober” (dirigido por Adam Jones e Fred Stuhr, ganhou as categorias de “Melhor Artista Novo” e “Melhor Clipe De Hard Rock/Metal” na MTV) e “Prison Sex” (este o primeiro clipe totalmente dirigido por Adam), o Tool conseguiu ser uma das atrações principais do Lollapalooza ‘93. “Undertow” traz também como destaque “Intolerance” (que claramente faz alusões ao período em que Maynard serviu o Exército Americano
nas linhas “You lie, cheat and steal” em oposição a “I will not lie, cheat or steal”, princípios adquiridos dos soldados). A enorme “Bottom” tem participação especial de Henry Rollins; “Swamp Song” e a faixa-título fazem alusão a uso de drogas, o tema principal do álbum. A última faixa, “Disgustipated” é uma narrativa sarcástica sobre o que seria o apocalipse que as cenouras enfrentam em todos os dias de colheita, com o som de machados e marretas marcando o tempo... Bizarro!Depois de “Undertow”, o Tool mergulha em turnês intermináveis para promover o disco e as especulações de que eles se tratam de uma banda satanista aumentam junto com a popularidade que
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conquistam a cada apresentação. A banda não se sente ameaçada por isso, pois o que eles sempre previam era que as pessoas ficassem perturbadas pela sua proposta. A letra de “Prison Sex”, por exemplo, pode-se tratar de abusos sexuais que Maynard teria sofrido na infância, o tornando um ser mórbido e sadomasoquista. Mas até hoje nada disso foi provado; o que se sabe é que Maynard foi criado por uma família Batista opressora, daí sua possível revolta contra religiões ortodoxas. O Tool ficou parado um bom tempo até começarem as gravações de “Ænima”, em 1996. O título é uma junção das palavras “Anima” (um termo psicológico de Carl Jung) e “Enema” (inimigo). Poderia também ser uma homenagem a um livro recomendado pela banda, chamado “Ægypt”. Durante o processo de composição, Paul D’Amour anuncia que está saindo da banda. Paul mostrou interesse em outros estilos de música, e procurava algo mais experimental (?). O grupo então começa a testar outros baixistas,
entre eles Frank Cavanagh do Filter, Scott Reeder do Kyuss, e Shepherd Stevenson, do Pigmy Love Circus. O escolhido foi Justin Chancellor, do Peach, banda que havia excursionado com o Tool na Europa em 1994. Justin não aceitou o convite de imediato, porque o Peach tinha terminado há seis meses e ele estava formando um projeto com o guitarrista de sua antiga banda, com quem tocava desde os 14 anos de idade. Percebendo que não poderia deixar a oportunidade para trás, ele entrou para o Tool. Quando “Ænima” foi lançado, o Tool logo sofreu uma represália: o clip de “Stinkfist” (primeiro single do disco) foi rejeitado pela MTV, que alegou que o título da música era ofensivo. Depois de represália por parte dos fãs, a emissora passou a exibir o vídeo com o nome de “Track #1”, por ser a primeira faixa de “Ænima”.O fiasco da MTV não atrapalhou as vendagens de “Ænima”. Pelo contrário, até favoreceu. Todos queriam saber o que havia de tão absurdo numa canção. Mas de certa
forma até havia: em certa parte da música, (2:45, para ser exato) Maynard murmura, quase que subliminarmente: “Chupa minha pica pinto pichu” (em português mesmo)! Aliás, esta é uma das coisas mais atraentes de “Ænima”: as mensagens subliminares. Em quase todas as faixas Maynard está sussurrando algo, inteligível ou não. Fora as mensagens subliminares, “Ænima” é o disco essencial para quem quer conhecer o Tool. Faixas memoráveis como “Eulogy”, “Forty-Six & 2”, “Hooker With A Penis”, “Pushit” e “Ænema” figuram harmonicamente com vinhetas inteligentes: “Useful Idiot”, “Message To Harry Manback”, “Intermission” e “Die Eier Von Satan” (não tem nada a ver com nazismo, aquele “discurso” em alemão é apenas uma receita de um tipo de cookie!). O trabalho gráfico da capa de “Ænima” também é excepcional, com holografias estranhas e soturnas, tanto que o grupo foi nomeado para “Melhor Embalagem de Álbum” no Grammy de 1996. No mesmo ano, o Tool ainda foi indicado
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para melhor vídeo clip e CurtaMetragem por “Stinkfist”. É nesta época que Maynard começa a se apresentar nos shows totalmente careca, com o corpo inteiramente pintado ou então vestido de mulher, adicionando mais estranheza à perfomance do Tool. Em meio à imensa turnê, a banda lança o single e o clipe de “Ænema”, concorrendo a prêmios na MTV, que desta vez não censurou a criatividade do grupo. “Ænema” chega a ganhar um Grammy de “Melhor Performance de Metal”, em 1997. Após o estouro dos shows de promoção de “Ænima”, o Tool resolve dar um tempo. Maynard grava “Know Your Enemy” com o Rage Against The Machine e faz um dueto num show com Tori Amos, cantando “Muhammad My Friend”. Ele ainda forma o Shandi’s Addiction, com Billy Gould (Faith
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No More), Tom Morello e Brad Wilk (guitarrista e baterista do Rage Against The Machine). para participar do disco-tributo para o Kiss (“Kiss My Ass”), gravando a música “Calling Dr. Love”. A Volcano Entertainment, gravadora do Tool, não gostou nada disso, e logo processou a banda por ter violado cláusulas do contrato, alegando que o grupo estaria participando de projetos em outros selos, e assim procurando novas propostas de contrato. A banda caiu de frente contra a gravadora, dizendo que o selo estaria negando a eles uma cláusula que constava no acordo original. A briga durou mais de um ano, até que no final ambas as partes resolveram fazer um novo acordo, evitando medidas judiciais. O Tool renovou o seu contrato, incluindo a gravação de mais três álbuns. chega a ganhar um Grammy de “Melhor Performance de Metal”, em 1997. Após o estouro dos shows de promoção de “Ænima”, o Tool resolve dar um tempo. Maynard grava “Know Your Enemy” com o Rage Against The Machine e faz um dueto num show com Tori Amos, cantando “Muhammad My Friend”. Ele ainda forma o Shandi’s Addiction, com Billy Gould (Faith No More), Tom Morello e Brad Wilk (guitarrista e baterista do Rage Against The Machine). para participar do disco-tributo para o Kiss (“Kiss My Ass”), gravando a música “Calling Dr. Love”. A Volcano Entertainment, gravadora do Tool, não gostou nada disso, e logo processou a banda por ter violado cláusulas do contrato, alegando que o grupo estaria participando de projetos em outros selos, e assim procurando novas propostas de contrato. A banda caiu de frente contra a gravadora, dizendo que o selo estaria negando a eles uma cláusula que constava no acordo original. A briga durou mais de um ano, até que no final ambas as partes resolveram fazer um novo
acordo, evitando medidas judiciais. O Tool renovou o seu contrato, incluindo a gravação de mais três álbuns. Passado o stress com sua gravadora, seus integrantes se envolveram em apresentações/gravações ocasionais com bandas de amigos: Adam Jones toca em alguns shows com o Melvins e monta uma banda experimental com King Buzzo, chamada Noiseland Arcade, fazendo alguns shows em 1998. Um bom tempo depois, Maynard começa a ter mais contato com outros músicos, organizando o projeto Tapeworm, com Trent Reznor e Danny Lohner, ambos do Nine Inch Nails. Eles chegam a compor sem compromisso, mas não gravam nada de oficial. Mais tarde, Maynard restabelece contato com Billy Howerdel, técnico de som das sessões de “Ænima”. Howerdel mostra suas composições e Maynard se oferece para participar do projeto que ele estava montando com a baixista Paz Lenchantin. Está se formando o A Perfect Circle, a ocupação de Maynard durante um certo tempo. Com o Tool paralisado por conta de problemas contratuais, Maynard pode
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se dedicar completamente ao A Perfect Circle. Formado por Maynard, Billy Howerdel, Troy Van Leeuwen, Paz Lenchantin e Josh Freese, o grupo começa a tocar em shows beneficientes, e logo vai abrindo a turnê de 2000 do Nine Inch Nails. Tentando enganar seus fãs, Maynard passa a usar uma peruca. Mas ele logo é descoberto, por causa da grande atenção que o A Perfect Circle acaba despertando com o álbum “Mer De Noms”. Por ter canções mais melódicas e curtas, o A Perfect Circle se torna mais acessível que o Tool, encontrando um sucesso imediato e maior do que a banda principal de Maynard havia conseguido até então. Quando o A Perfect Circle deu um tempo, o Tool imediatamente voltou às atividades. Para acabar com os boatos de que a banda havia acabado, eles lançam, em 2000, o box “Salival”, que se trata de um DVD com os cinco clipes da banda e um CD com faixas ao vivo e raridades. Dentre os destaques, a incrível versão de “No Quarter”, do Led Zeppellin, “You Lied” (cover do finado Peach, de Justin Chancellor), a faixa escondida “Maynard’s Dick” -que só pelo título, dispensa comentários- e “Pushit”,
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em uma versão ao vivo mais longa que a original onde o professor de percussão de Danny Carey, Aloke Dutta, dá uma canja. A arte gráfica é invejável, sendo que a embalagem é uma pequena caixa negra com um livreto (tipo P.U.L.S.E. do Pink Floyd) com fotos de shows e cenas dos vídeos. Enquanto “Salival” vai matando a saudade dos fãs, o Tool vai gravando um novo álbum de estúdio. Neste meio tempo, a banda demite o empresário Ted Gardner, que também ameaça processar a banda, alegando que eles lhe devem dinheiro. Mas o caso logo é abafado e nenhuma notícia sobre o ocorrido vaza para a imprensa. beneficientes, e logo vai abrindo a turnê de 2000 do Nine Inch Nails. Tentando enganar seus fãs, Maynard passa a usar uma peruca. Mas ele logo é descoberto, por causa da grande atenção que o A Perfect Circle acaba despertando com o álbum “Mer De Noms”. Por ter canções mais melódicas e curtas, o A Perfect Circle se torna mais acessível que o Tool, encontrando um sucesso imediato e maior do que a banda principal de Maynard havia conseguido até então. Quando o A Perfect Circle deu um tempo, o Tool imediatamente voltou às atividades. Para acabar com os boatos de que a banda havia acabado, eles lançam, em 2000, o box “Salival”, que se trata de um DVD com os cinco clipes da banda e um CD com faixas ao vivo e raridades. Dentre os destaques, a incrível versão de “No Quarter”, do Led Zeppellin, “You Lied” (cover do finado Peach, de Justin Chancellor), a faixa escondida “Maynard’s Dick” -que só pelo título, dispensa comentários- e “Pushit”, em uma versão ao vivo mais longa que a original onde o professor de percussão de Danny Carey, Aloke Dutta, dá uma canja. A arte
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gráfica é invejável, sendo que a embalagem é uma pequena caixa negra com um livreto (tipo P.U.L.S.E. do Pink Floyd) com fotos de shows e cenas dos vídeos. Enquanto “Salival” vai matando a saudade dos fãs, o Tool vai gravando um novo álbum de estúdio. Neste meio tempo, a banda demite o empresário Ted Gardner, que também ameaça processar a banda, alegando que eles lhe devem dinheiro. Mas o caso logo é abafado e nenhuma notícia sobre o ocorrido vaza para a imprensa. Após seis anos desde o lançamento de “Ænima”, “Lateralus” é lançado. O disco supera todas as expectativas, encabeçado pelo clipe futurista de “Schism”, que aparece com “Mantra” como introdução. A banda aparece revigorada, com Adam Jones mais refinado, mostrando mais técnica em seus riffs (sem ser virtuoso). A voz de Maynard, adocicada pelo A Perfect Circle, mostra sua beleza em “Reflection” e “The Patient”; mas ao mesmo tempo rasga ensadecidamente como em “The Grudge” e “Ticks And Leeches” (a qual a banda não costuma tocar regularmente ao vivo, visto que Maynard força demais sua garganta). Uma obra prima como “Ænima”, mas com algo mais “luminoso”, onde a banda
parece ter assimilado e dosado bem algumas influências da ideologia Hindu. A banda ganha mais um Grammy, desta vez por “Schism”. O Tool lança ainda os clipes de “Parabol e “Parabola”, coladas como na sequência do álbum, resultando num único vídeo enorme e que dificilmente é transmitido pela MTV. Mas o Tool realmente não precisa mais da MTV para ser bem sucedido e chamar a atenção de novos fãs. Terminada a turnê de “Lateralus”, em 2003 Maynard volta a se reunir com o A Perfect Circle e planeja o lançamento do segundo álbum do grupo, ainda sem título previsto. Danny Carey se dedica a estudar percussão com seu professor Aloke Dutta e a gravar com o Pygmy Love Circus, enquanto Adam segue sua carreira com efeitos especiais e escreve material novo para o Tool com Justin Chancellor.
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RESENHAS
ULVER – BLOOD INSIDE Introspecção, psicodelia e excursão atmosférica conduzida por um negro caminho reflexivo e com passagens inesperadas abruptamente no decorrer de sua jornada musical. “Blood Inside” é carregado por harmonias singelas, no qual perceber as incursões dos teclados servirá para entrar na ambiência da banda e vagar pelo misto de inspirações que eles transformam em sua própria “loucura”, porque nem todos conseguirão compreender as composições do Ulver, pois tem de se escutar com a calmaria transmitida pela banda e concentrarse (Observação:Não é um som para ser escutado a qualquer momento), e que guiando-se ao lado Metalizado, posso dizer que eles absorvem das mais profundas melancolias do Doom para mesclar a suas demais inspirações que passeiam até mesmo pelo Jazz e Folk Rock; e por fim chego ao ponto clímax de terminar a definição para vos dizer que o Ulver é um banda de puro experimentalismo e, entrelinhas, de misticismo astral e cósmico.
BJÖRK – VOLTA Volta não é o que se pode chamar de um disco palatável. Exige numerosas audições para que se perceba a beleza entranhada em camadas de sons e silêncios que - num primeiro momento - soam mesmo estranhos. Mas é estranheza marcada por alta intensidade emocional. Seja no longo dueto de Björk com o cantor americano Antony Hegarty em The Full Flame of Desire, cuja letra é tradução de poema do russo Fedor Tyutchev (1803 - 1873). Seja em Hope, cujo tema é o terrorismo (Björk escreveu os versos inspirada pelo drama real da palestina grávida que perdeu a vida em ato suicida). Toda a intensidade emocional do coeso disco aparece envolta em atmosfera suja. A produção buscou um som quase de garagem que consegue se harmonizar com o caráter étnico de um trabalho que agrega músicos africanos e chineses. Enfim, é um disco de Björk e, como tal, traz certa carga de exotismo já inerente ao som sempre inventivo da cantora e compositora islandesa. E as tribos a que Volta se destina saberão entender seus códigos e sua linguagem.
ALICE IN CHAINS – FACELIFT Facelift - primeiro disco da banda - hoje, depois de mais de dez anos de seu lançamento, fica clara que as influências do heavy metal do Black Sabbath e do hard-rock são muito mais acentuadas do que enxergamos em “Bleach”, do Nirvana, por exemplo. De uma maneira geral, Facelift é um disco essencial para quem gosta de música. Quase tudo que seria visto nos próximos trabalhos do Alice in Chains - “Dirt” (1992) e “Alice in Chains” (1995) - estão lá, talvez de maneira pouco desenvolvida, mas inegavelmente estão lá. E só para lembrar, depois de “Alice in Chains” de 1995, a banda lançou “Alice in Chains - Unplugged Mtv” em 1996, “Nothing safe” (coletânea) em 1999, “Live” em 2000 e “Alice in Chains - Greatest Hits” em 2001. A banda terminou oficialmente em 2002, com a morte do vocalista Layne Staley devido a uma overdose.
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TOOL – 10.000 DAYS Maynard canta versos como “I need to watch things die / From a good safe distance / Vicariously, I Live while the whole world dies / You all feel the same so / Why can’t we just admit it?” (Eu preciso ver coisas morrendo / De uma distância segura / Indiretamente, eu vivo enquanto o mundo inteiro morre / Vocês todos sentem o mesmo então / Porque não admitimos isso?) com sua interpretação única. A bateria de Danny Carey continua inacreditavelmente precisa, as guitarras de Adam Jones pesadas como nunca e o baixo de Justin Chancellor como um tapa na cara. Vale citar também a embalagem: se o Tool sempre deu uma atenção especial a parte visual de seus clipes e todo tipo de material gráfico, “10.000 Days” é com certeza um marco na história da banda. A versão importada vem com lentes estereoscópicas inseridas na capa, e a caixa permite que você veja todo livreto com as lentes, unindo todas as imagens de cada página do encarte e provocando um efeito 3D sensacional. Vale conferir!
PINK FLOYD – P.U.L.S.E. “P.U.L.S.E.” é um disco duplo gravado ao vivo em 1994 durante a turnê de divulgação do disco “The Division Bell”. Este cd mostra todo o brilhantismo da banda no palco. Depois da saída do inesquecível Roger Waters, David Gilmour mostra todo o seu valor e conduz com muita maestria os rumos da banda e o show em particular. O primeiro CD contém alguns grandes clássicos do Floyd e, óbvio, muitas músicas do “The Division Bell”. É um deleite ouvir músicas como “Shine On You Crazy Diamond”, “Astronomy Domine”, “Hey You” e “Another Brick in the Wall” (que não poderia faltar) na voz de Gilmour. Todas sobram em interpretação, técnica, virtuose, feeling e emoção. O segundo CD é um presente, literalmente. É o primeiro registro ao vivo do (qualquer adjetivo máximo que você queira colocar aqui) “The Dark Side of The Moon”. É a primeira vez que o álbum é gravado ao vivo, inteiro, música após música. Tudo, absolutamente tudo, neste cd está perfeito. Até o nome, ideal e descritivo, pulsante, vivo, encantadoramente vivo.
KING
CRIMSON
–
POWER
TO
BELIEVE
O King Crimson está de volta finalmente. Um dos guitarristas mais geniais e “outsider” do mundo do Rock, Robert Fripp, mostra que continua em plena forma. O King Crimson, nos seus 34 anos de existência passou por diversas formações e fases bem distintas, sempre fazendo um som próprio e bem distinto, que talvez por não se enquadrar em nenhum modelo pré-definido é em geral considerado Rock Progressivo. Independente do rótulo, já passaram por lá nomes como Greg Lake, John Wetton, Bill Brufford, Tony Levin e vários outros músicos de qualidade inegável. O King Crimson é uma banda bastante hermética. É muito complicado agradar a todos, o som é totalmente anticonvencional e totalmente fora dos padrões. Mesmo após 34 anos eles não pararam no tempo e continuam produzindo boa música, então se você gosta da música deles, pode ir atrás desse cd sem susto, pois é tranqüilamente um dos melhores lançamentos do ano.