Manual do Licuri

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Programa Conca: Sustentabilidade, Saberes e Sabores da Caatinga

Manual do

Licuri AurĂŠlio JosĂŠ Antunes de Carvalho Marcio Harrison dos Santos Ferreira Josenaide de Souza Alves

Salvador 2016


Copyright © 2016 Os autores Todos os direitos reservados. Autores Aurélio José Antunes de Carvalho Marcio Harrison dos Santos Ferreira Josenaide de Souza Alves Capa Fernando Sian Martins Foto de capa Marcio Harrison dos Santos Ferreira Projeto gráfico e editoração Áttema Editorial :: Assessoria e Design

Ficha catalográfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

C331m Carvalho, Aurélio José Antunes de. Manual do licuri[livro eletrônico] / Aurélio José Antunes de Carvalho, Marcio Harrison dos Santos Ferreira, Josenaide de Souza Alves. – Salvador (BA): Áttema, 2016. – (Programa Conca: Sustentabilidade, Saberes e Sabores da Caatinga). 100p. : il. ; PDF Inclui bibliografia. ISBN 978-85-65551-09-0 Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader 1. Licuri. I. Ferreira, Marcio Harrison dos Santos. II. Alves, Josenaide de Souza. III. Título. CDD-665.3 Índices para catálogo sistemático: 1. Ciências Agrárias - Extensão Rural, Agroecologia, Biodiversidade, Etnobotânica, Educação do Campo.

Áttema :: Assessoria Editorial, Comunicação & Design Av. Pereira Barreto, 1.395 • sl.132 • T. Norte • B. Paraíso • Santo André • SP • Brasil • CEP 09190-610 Tel.: +55 (11) 2379.1511 • Tel./Fax: +55 (11) 2379.1512 • Cel/WhatsApp: +55 (11) 965.965.966 E-mail: attema@attema.com.br • Site: http://www.attema.com.br


Para todos parceiros e colaboradores, saudamos com um forte: “nós é nós, licuri é coco”! Numa mensagem de esperança e fé naqueles que acreditam que outro mundo é possível, a tela do colega e professor de artes Juracy Lima, IF Baiano, Campus Senhor do Bonfim, expressa tudo isso, especialmente, expondo o cacho de licuri dourado, afinal corresponde ao ouro do semiárido.



À memória do amigo e ilustre professor Paulo Kageyama. Um dos maiores protagonistas da luta pela conservação da agrobiodiversidade e da agricultura familiar camponesa. Unia ciência a serviço da luta dos povos do campo; uma figura humana adorável e singular.



Sumário Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O Licuri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 A Botânica do Licuri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Botânica Econômica e Múltiplos Usos do Licuri . . . . 19 Quer saber sobre o licuri? Converse com o povo . . . 25 Desafio do cultivo do licurizeiro: Lavoura Xerófila. . . 29 Perspectiva de estudo de variedades . . . . . . . . . . . . . 39 Licuri e agressões ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Políticas Públicas de conservação e acesso aos licurizais, discussão de leis municipais . . . . . . . 45 Licurizais e mamíferos associados . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Licurizais e insetos associados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Licuri é coco pequeno e de grande valor. . . . . . . . . . . 55 Produção de maquinários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Manejo do licurizeiro: algumas sugestões . . . . . . . . . 63 Boas Práticas de Coleta, Beneficiamento e Fabricação de Produtos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Atividades produtivas com os derivados do licuri . . . 69 As Festas do Licuri: valorizando a caatinga e seu povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 O Licuri e a Educação do Campo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Resgatando os Saberes e Sabores . . . . . . . . . . . . . . . . 81 As Cantorias de Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Referências Bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 Índice das imagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Quadros e Tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98



Prefácio

A

s terras secas, com diversos gradientes de aridez, representam cerca de 55% da área continental do planeta, correspondendo a 2/3 da superfície total de 150 países e se encontram entre as regiões mais excluídas pela maioria dos programas sociais e de desenvolvimento sustentável. Curiosamente, estima-se que 22% da produção mundial de alimentos tem origens nestes ambientes. No Brasil, as terras secas, restringem-se ao “Semiárido Brasileiro”, que se estende por uma área superior a 900.000 km², compreendendo 1.135 municípios das porções territoriais dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Gerais, representando 11,5% do território brasileiro, abrigando uma população superior a 24 milhões de pessoas, dos quais cerca de 9 milhões residem no meio rural. Por muitos anos esta região tem convivido com o mito de paisagem homogênea, monótona e de pouca riqueza biológica. Não é verdade! O semiárido brasileiro possui diversas áreas naturais que se diferenciam entre si. A pluriatividade, topografias, solos, vegetação e clima, são distintos, com potencial para diversos fins: frutos nativos, flores e plantas ornamentais, muitas essências, artesanato, gastronomia, e, principalmente, a grande riqueza em princípios fitoterápicos na grande maioria das plantas da região. O conhecimento sobre o potencial de manejo e utilização desses recursos ainda é bastante incipiente, necessitando de iniciativas em pesquisa básica e aplicada, em convergência com o conhecimento popular e científico. Essa visão de um semiárido rico, heterogêneo, diversificado fica claramente demonstrado no “Manual do Licuri”. O Licuri é uma planta de uso múltiplo e diversas funções ecológicas, sociais, culturais, econômicas e políticas na vida do sertanejo. Para se ter uma ideia, no Brasil ocorrem cerca de 200 espécies de palmeiras distribuídas em 43 gêneros, sendo que no Nordeste são encontradas 70 espécies em 16 gêneros. Somente o gênero Syagrus conta com cerca de 30 espécies no Brasil, sete ocorrendo no bioma Caatinga. Guimarães Duque já dizia: “a ecologia do Semiárido é formadora de árvores”. Assim, há potencial para rearborização dos agroecossistemas com licuri em locais de ocupação mais intensa, onde a vegetação arbórea já foi significativamente reduzida e com a viabilidade de manejo agroflorestal das áreas onde ainda ocorre essa espécie. Desse modo, os sistemas de produção agroecológicos do licuri se tornam uma alternativa capaz de amortizar os efeitos negativos da alta variabilidade da precipitação pluviométrica, aumentar ou estabilizar a disponibilidade de alimentos e de


melhorar a qualidade do solo. As árvores perenes, a exemplo do licuri, nos sistemas mencionados, ao contrário das herbáceas e culturas anuais, podem explorar nichos de nutrientes e água em camadas mais profundas e são capazes de parar o crescimento em períodos de seca e retomá-lo rapidamente nos momentos de umidade favorável. As raízes verticais-profundas e laterais das árvores podem interceptar a lixiviação, capturar nutrientes lixiviados e/ou retirar nutrientes de camadas mais profundas que resultem do processo de ciclagem, depositando tais nutrientes na superfície na forma de restos vegetais, funcionando como uma “rede de segurança” e “bomba de sucção de nutrientes e água”. As raízes profundas das plantas de licuri podem acessar, reter e circular água de camadas profundas do solo, favorecendo a drenagem da água no período chuvoso. De certa forma, elas aumentariam o volume útil do solo para absorção de água. Além disso, a presença do licuri no agroecossistema atrai dispersores, vitais na restauração florestal, bem como na recuperação e manutenção da fertilidade do solo. Um agroecossistema com diversidade de cobertura vegetal por diferentes estratos arbóreos permite uma maior deposição de folhas, frutos, casca, galhos e madeira, desenvolvendo camadas verticais de constante retroalimentação. Todas estas estratégias que tem como base a preservação de espécies de parte do estrato arbóreo, seja na forma de faixas, pequenos bosques ou árvores isoladas, tem bom potencial para o controle da erosão, além dos mecanismos que regulam esses processos dinâmicos da ciclagem biogeoquímica de nutrientes e água, assim como o próprio balanço de biomassa e energia. Na realidade é o que já se vê na agricultura familiar no semiárido brasileiro, que vem promovendo processos de intensificação da produção baseados na valorização dos recursos locais, no emprego de tecnologias e práticas de manejo que diversificam os sistemas produtivos com atividades que se complementam e permitem a formação de estoques (água, forragem, alimentos e sementes) e uma maior circulação de nutrientes dentro do agroecossistema. Assim, o resgate e mapeamento de sistemas agrícolas familiares de produção do licuri, em combinação com o uso de estratégias agroecológicas, podem indicar alternativas viáveis e sólidas para incrementar a produtividade, a sustentabilidade e a resiliência da produção agrícola familiar nas terras secas e segurança alimentar global.

Miguel Angel Altieri Professor de Agroecologia, Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA

Aldrin Martin Perez Marin Pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Campina Grande – PB, Desertificação e Agroecossistemas resilientes no Semiárido Brasileiro, Correspondente Científico do Brasil junto a UNCCD


Apresentação

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rograma Conca: Sustentabilidade, Saberes e Sabores da Caatinga – constitui-se uma iniciativa de extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – IF Baiano, financiado pelo edital 001/2011 MEC/PROEXT, envolve os campi Senhor do Bonfim e Santa Inês. Ocorreu nos territórios da Bacia do Jacuípe, Sisal, Jacuípe, Vale do Jiquiriçá, Piemonte da Diamantina e Piemonte Norte do Itapicuru. O programa teve quatro dimensões: políticas públicas, meio ambiente, fitotecnia e maquinários. Percebemos no decorrer do programa que há pouca e dispersas informações acerca do licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc., ARECACEAE), uma planta com tantas potencialidades para o homem e para Caatinga, embora não seja uma planta exclusiva desse bioma, mas, certamente, é nesse que o vegetal assume relevância, pois mesmo em estiagens avassaladoras, o licuri resiste. Percebemos a não renovação de licurizais velhos; há retração de seus domínios e morte pela seca. Deparamos com a realidade de descuidado dos solos e vegetação do semiárido. Por outro lado, verificamos a luta de setores da sociedade que se empenham em valorizar o licuri e seus sujeitos. Especialmente as quebradeiras de licuri, segmento social secularmente explorado, tornando uma espécie de trabalhadora desvalorizada no que faz e, comumente, exerce a pluriatividade de coleta, quebra do coco licuri, além da retirada da palha para artesanato. O licuri e a força das mulheres camponesas se amalgamam na caatinga, resistindo ao tempo, ao descuido. Ambos licuri e mulheres exploradas e, ao mesmo tempo, dadivosos pelos seus frutos. Um vem da natureza a outra das mãos calejadas de sertanejas dotadas de saberes sobre seu ambiente e sua condição social, ressignificada no seu ponto máximo por meio de suas organizações expressas na Festa do Licuri, que anualmente ocorre em comunidades rurais do Centro-Norte baiano, onde os licurizais dominam a paisagem, impõem sua força no ambiente, na cultura e até mesmo na economia. Este livro é parte da tese de doutorado em Ciências Agrárias de Aurélio José Antunes de Carvalho junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (PPGCA-UFRB). Contou com o apoio do Doutorado Interinstitucional UFRB-IF Baiano 2015.2 (Dinter), financiado pela CAPES, do Centro de Vocação Tecnológica do Semiárido (CVT) do IF Baiano e do Projeto “Licuri, tecnologia e sustentabilidade nas caatingas” (Edital CNPq-SETEC/ MEC Nº 17/2014, Processo 468249/2014-1).



O Licuri Syagrus coronata

O

licuri (Syagrus coronata, ARECACEAE) é uma palmeira nativa do semiárido Nordestino (Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco) e do Norte de Minas Gerais, sendo que a maior parte dos licurizais concentra-se no semiárido baiano (NOBLICK, 1991). É uma espécie-chave para espécies da fauna e da flora e de grande importância sociocultural e econômica para agricultores familiares e outros agentes sociais (e.g., DUQUE, 2004; CARVALHO, FERREIRA, 2015; CARVALHO, FERREIRA, ALVES, 2014b; FERREIRA et al., 2016). É uma palmeira de uso múltiplo, existente em parte do semiárido, em geral em solos profundos e arenosos ou argilosos. Nos locais de sua ocorrência garante vida para pessoas e animais. Na paisagem, essa palmeira fica verde durante todo o ano, mesmo em períodos de estiagem prolongada. Adaptada às condições de elevadas temperatura e luminosidade, é uma planta amiga da luz – heliófila. Não há registros do licuri nos municípios do Oeste baiano (margem esquerda do Rio São Francisco, cf. Figura 22). No entanto, ao longo do trabalho, verificamos sua ocorrência bastante espaçada no município de Serra do Ramalho, Bom Jesus da Lapa e relatos de agricultores no município de Cocos em ecótonos entre a caatinga e o cerrado. Portanto, o licuri é visto associado à caatinga, ecossistemas costeiros (restinga) e áreas de ecótono mata atlântica-caatinga e cerrado-caatinga, com precipitações entre 500 a 1400 mm com chuvas de inverno. Por vezes, em áreas desmatadas, ocorre o surgimento de licurizais em áreas de capoeira ou mata secundária perturbada (sob ação do homem). Quanto à altitude, em território baiano essa palmeira tem sua ocorrência natural desde aproximadamente 2 metros acima do nível do mar (Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA, na foz do Rio Paraguaçu) até 1000 metros na Chapada de Diamantina, municípios de Ibitiara, Brotas de Macaúbas, Seabra (Figuras 1, 2).


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Na paisagem, em regiões do Sudoeste do estado, apresenta-se ora em áreas do sopé e cume de serras (Matina, Guanambi, Riacho de Santana), possivelmente devido ao desmatamento das áreas de menor declividade usadas para pastagens; ora em áreas de pouca declividade, como nos municípios do Centro-Norte da Bahia (Capim Grosso, São José do Jacuípe, Serrolândia, Quixabeira, Várzea do Poço, Várzea da Roça, Caldeirão Grande).

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Figura 1 – a e b) Licuri em área de restinga, Barra do Itariri, município de Conde – BA Figura 2 – Licuri na Chapada Diamantina, Caém – BA.

O licuri foi citado pela primeira vez de forma escrita no Tratado Descritivo do Brasil em 1589, por Gabriel Soares de Sousa (SOUSA, 1851). Veja como o autor cita o licuri no mencionado documento histórico e a relação com sua gente: “As principais palmeiras bravas da Bahia são as que chamam ururucuri, que não são muito altas, e dão uns cachos de cocos muito miúdos, do tamanho e cor dos abricoques, aos quais se come o de fora, como os abricoques, por ser brando e de sofrível sabor; e quebrando-lhe o caroço, donde se lhe tira um miolo como o das avelãs, que é alvo e tenro e muito saboroso, os quais coquinhos são mui estimados de todos. Estas palmeiras têm o tronco fofo, cheio de um miolo alvo e solto como o cuscuz, e mole; e quem anda pelo sertão tira esse miolo e coze-o em um alguidar ou tacho, sobre o fogo, onde se lhe gasta a umidade, e é mantimento muito sadio, substancial e proveitoso aos que andam pelo sertão, a que chamam farinha-de-pau.”

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A Botânica do Licuri

O

licurizeiro (Syagrus coronata (Martius) Beccari) pertence à família Arecaceae, anteriormente conhecida como Palmae ou palmácea. Essa palmeira faz parte de um dos grupos de plantas mais antigos da Terra, presente no planeta desde o Cretáceo inferior da Era Mesozóica, há cerca de 130 milhões de anos atrás (BONDAR, 1964; NOBLICK, 1991). O gênero Syagrus é endêmico na América do Sul e compõe 42 espécies e oito híbridos naturais (NOBLICK, 1996). Segundo Lorenzi et al. (2004), são 34 espécies, 30 delas ocorrendo no Brasil. Henderson et al. (1995) descreve 16 espécies para a região Nordeste, sete delas ocorrendo em áreas de Caatinga. Segundo o último levantamento, publicado por Noblick (2014), já foram descritas 54 espécies de Syagrus, sendo que 47 ocorrem no Brasil. A espécie Syagrus coronata, nosso licuri, é uma das palmeiras mais conhecidas e típicas do semiárido nordestino (Figura 3), possui raízes profundas e vida longa e pode atingir de 8 a 12 metros de altura. Sua área de distribuição vai desde o Norte de Minas Gerais, ocupando toda a porção central e oriental da Bahia, até o Sul de Pernambuco, abrangendo ainda os estados de Sergipe e Alagoas (NOBLICK, 1986, 2014; cf. Figura 22). As maiores concentrações de licurizais encontram-se no estado da Bahia (BONDAR, 1942; NOBLICK, 2014; M. H. S. FERREIRA, obs. pessoal), principalmente em áreas de Caatinga e florestas semidecíduas, mas também em zonas de transição para restinga e Cerrado. A espécie possui uma infinidade de nomes vulgares ou populares: licuri, licurizeiro, ouricuri, aricuri, alicuri, nicuri, dicori, uricuri, coqueiro dicori, coqueiro cabeçudo, adicuri, aracui, aracuri, coquinho, aricui, nicori, nicori-iba, uricurti, uriricuri, ururucuri, entre outros (DRUMOND, 2007). Apresenta um estipe único e normalmente reto, sendo extremamente raro seu perfilhado, entre 3 e 10 metros de altura e variando entre 15 a 25 cm de diâmetro. O estipe não apresenta entrenós visíveis e a planta adulta em geral apresenta cinco fileiras de folhas de coloração verde clara, atingindo até três metros de comprimento, pinadas, com fibras grossas e achatadas na bainha (LORENZI, 2010). O epíteto coronata, refere-se à essa disposição característica das folhas formando uma coroa (NOBLICK, 1991, 2014). A porção superior do estipe apresenta-se recoberta pela base persistente das bainhas das folhas mais velhas (LORENZI et al., 2004). Sua diferenciação de outras espécies de Syagrus com porte e morfologia semelhantes é a disposição das folhas unicamente em cinco fileiras, normalmente de forma espiralaprograma conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Figura 3 – Aspectos da fenologia e morfologia fl oral do licuri: a) buza; b) botões fl orais imaturos (fechados); c) fl ores femininas e d) masculinas em antese (abertura fl oral); e) frutos imaturos (verdes); f) frutos maduros; g) fl ores pistiladas (femininas); h) fl ores estaminadas (masculinas); Morfologia das fl ores: i) fl or pistilada; j) detalhe do pistilo com estigma trífi do (est) no ápice, ovário (ov) e anel de estaminódios vestigiais (aev) na base; k) fl or estaminada; l) estame com detalhe das anteras (ant) e dos fi letes (fi l); m) detalhe da antera isolada. Escalas = 1 mm. Desenhos: Marcio Harrison.

da ao longo do estipe, e a presença de projeções fibrosas que parecem espinhos nas margens do pecíolo foliar (MEDEIROS-COSTA, 1982; NOBLICK, 2014). A espécie é monóica, com flores masculinas e femininas em uma mesma planta, sendo pequenas, amarelas e reunidas em cachos que estão presentes predominantemente entre maio e agosto (NOBLICK, 1991). Verificou-se a ocorrência de protrandia, um tipo de hermafroditismo dicogâmico onde as flores masculinas 18

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amadurecem cerca de 10-15 dias antes das femininas, também relatada por Rocha (2009) nos licurizais estudados no Raso da Catarina, Bahia. A espécie floresce e frutifica durante todo o ano, mas é no período entre março e julho que apresentam maior frutificação, caracterizando este período como o de safra (BONDAR, 1938; DRUMOND, 2007). Seu fruto é uma drupa ovóide (elipsóide), com polpa carnosa e fibrosa, apresentando de 2,5 a 3 cm de comprimento. No período em que seu fruto está verde, possui o endosperma líquido que se torna sólido no processo de amadurecimento. Quando maduro, sua coloração varia do amarelo-claro ao alaranjado a depender da fase de maturação (LORENZI, 2010). Os frutos maduros têm a polpa amarelada, pegajosa e adocicada, e as sementes, quando secas, são de cor escura e com um tegumento duro que reveste a amêndoa rica em óleo. Essa amêndoa apresenta 49,2% de teor de lipídeos e 11, 5% de proteínas (CREPALDI et al., 2001). Essa espécie possui estratégias autodefensivas, com grande resistência às adversidades do semiárido, ocorrendo em solos pedregosos ou até mesmo em áreas com afloramentos rochosos, onde também cresce e se desenvolve muito bem (NOBLICK, 1991). Além disso, suporta as secas prolongadas, florescendo e frutificando por um longo período durante o ano e, em consequência disto o licuri torna-se um importante provedor de recursos para a subsistência da população dessas regiões, sendo também utilizado para alimentação de animais de criação (LORENZI, 1992). Devido a essa importância para os animais, essa lavoura xerófila pode ser estudada e aplicada para suprir essa demanda de alimentos para os rebanhos (DRUMOND, 2007). Também é o principal alimento da arara-azul-de-Lear, Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856 (RAMALHO, 2008), ave endêmica da região e muito ameaçada de extinção pelo tráfico e pela ausência de alimentação nativa específica (BRASIL, 2006; CAMANDAROBA, 2008; ROCHA, 2005. Destaque-se ainda o fato de que ao licuri, estão frequentemente associadas espécies de plantas “caroneiras” ou “epífitas” de briófitas, pteridófitas e angiospermas, principalmente as bromeliáceas, cactáceas, orquidáceas e euforbiáceas (DUQUE, 2004), que se fixam às bainhas foliares e partes do caule (estipe) do licuri, onde acumulam matéria orgânica e água (umidade). Na região do Vale do Jiquiriçá, Bahia, um levantamento preliminar identificou pelo menos 21 morfoespécies de epífitas, sendo três de briófitas e 18 de angiospermas, pertencentes às famílias Orchidaceae, Bromeliaceae, Anacardiaceae, Cactaceae, Commelinaceae, Passifloraceae e Euphorbiaceae (FERREIRA, CARVALHO, in prep.) Nesse sentido, espécies de plantas como o licuri, que atraem dispersores de sementes (zoocoria), podem assumir um papel-chave no processo de regeneração florestal uma vez que, ao fornecer habitat para outras espécies vegetais sob sua copa (nas bainhas foliares, Figura 4) atraem uma maior diversidade de animais dispersores de sementes, ressaltando-se o valor dessa palmeira para a regeneração de áreas degradadas. PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Figura 4 – Epífitas entre as bainhas foliares do licuri, Pedra Vermelha, Monte Santo – BA (2016) 20

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Botânica Econômica e Múltiplos Usos do Licuri

O

licurizeiro é conhecido como a “árvore salvadora da vida” nas áreas de ocorrência natural (BONDAR, 1938) e uma das mais importantes espécies de palmeiras do semiárido brasileiro devido a sua importância socioambiental para as populações humanas dessa região. Em geral, o licuri começa a frutificar seis anos após o plantio e um licurizal nativo produz, anualmente, em média 2.000 kg de frutos por hectare (DUQUE, 2004). Nos anos de pouca chuva a produção diminui, mas sempre ocorre de maneira estável. Se bem manejado, com a poda de folhas velhas e a capina das plantas daninhas ao seu redor (coroamento), um licurizal pode produzir 4.000 kg/ha/ano (SANTOS, SANTOS, 2002; DRUMOND, 2007). Além de ser uma palmeira ornamental, com forte potencial paisagístico, todas as partes do licuri são utilizáveis. A partir das folhas é obtido rico artesanato e uma diversidade de utensílios, como sacolas, chapéus, vassouras e espanadores. Com a raspagem das folhas é obtida uma cera que é similar a da carnaubeira e utilizada na fabricação de papel carbono, graxa para sapatos, móveis e pintura de automóveis (LORENZI, 2010). As amêndoas são consumidas in natura e também muito utilizadas para fabricação de diversos doces.

Da amêndoa é extraído um óleo muito utilizado na culinária da população do semiárido (BONDAR, 1939), principalmente no Centro-Norte baiano, onde é industrializado e utilizado para produção de saponáceos (sabão em pó, detergentes, sabão em barra e sabonetes finos) de alta qualidade, uma vez que o licuri é considerado o melhor óleo brasileiro para a produção de sabão (SANTOS, SANTOS, 2002). Além disso, o óleo das amêndoas possui características excelentes para produção de biodiesel (SANTOS, 2011). Portanto, a espécie apresenta enorme potencial energético, alimentício, ornamental, fitoterápico, paisagístico e forrageiro. O Brasil já foi chamado de “Pindorama”, designação indígena tupi-guarani da era colonial, que significa “terra, lugar ou região das palmeiras” (BONDAR, 1964), devido às palmeiras serem tão representativas da sua flora e, pelo alcance de sua significação, o nome autóctone por excelência do nosso país. Por outro lado, a Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, situa-se em pleno semiárido, onde as demandas por seus recursos naturais situam-no como uma das regiões mais ameaçadas e suscetíveis a processos de degradação e perda de fertilidade do solo (GARDA, 1996). programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Nesse cenário, a palmeira licuri representa a garantia de matéria prima para o desenvolvimento de hábitos e cultura local e regional de populações humanas. Essa influência mútua homem-licuri associada ao etnoconhecimento, incluindo saberes, cultura, relações, conhecimento e manejo dos recursos naturais impactam diretamente a manutenção de populações a manutenção dos licurizais. Além da importância socioeconômica para a sociedade local, a espécie tem um papel ecológico importante nas formações vegetais (PERES, 1994). Assim é importante criar condições que viabilizem a subsistência dessas populações (de licurizais e de humanos) com a necessária sustentabilidade socioambiental. A seguir é apresentada uma compilação dos múltiplos usos dessa palmeira, ressaltando-se sua importância econômica e em termos de subsistência para as populações locais que as utilizam para diferentes fins e de diferentes formas (Quadro I). Na sequência, também encontram-se listadas algumas formas de uso ritualístico/ místico por algumas etnias que têm tradicionalmente, apropriado-se do licuri como um símbolo de sua religiosidade em diferentes contextos e ritos (Quadro II). Quadro I – Múltiplos usos do licuri Modalidade de uso

Fonte(s)

Artesanato Confecção de vassouras, esteira, trança chapéu, cortina, bolsa, tapete, cesta, porta copo, porta objetos, caixas, porta guardanapo, espanador

Bondar, 1942; MedeirosCosta, 1982; Lopes, Moura, 2012; Carvalho et al., 2013a

Confecção de bichinhos: galo, galinha, pato, pinto, etc.

Lopes, Moura, 2012

Utilização do endocarpo (cf. Figura 14a) na confecção de artesanato regional

Lorenzi et al., 2004; Carvalho et al., 2014

Ornamentação Uso dos frutos como objeto de ornamentação

Lopes, Moura, 2012

Paisagismo A palmeira para fins ornamentais devido ao aspecto da distribuição das folhas em volta do estipe (formando uma coroa)

Lorenzi et al., 2004

Alimentação (In natura) Colares feitos com as amêndoas do coco são consumidos in natura e vendidos em feiras livres.

Lopes, Moura, 2012; Carvalho et al., 2013a

Consumo in natura pelas populações humanas

Bondar, 1938, 1942; Lorenzi et al., 2004; Carvalho et al., 2013a continua }

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Quadro I – Múltiplos usos do licuri cont. }

Alimentação (In natura) O arraçoamento do gado em períodos de seca a partir de folhas trituradas, frutos e inflorescências, por conseguinte é considerada pelos criadores de gado uma espécie forrageira de reserva para os períodos de estiagem severa, comuns no semiárido nordestino

Bondar, 1938; Hart, 1995; Lopes, Moura, 2012; Carvalho et al., 2013 a; Carvalho, Ferreira, 2015; Ferreira et al., 2016

Alimentação (cozido) O coco verde cozido é utilizado para consumo e vendido em feiras livres

Lopes, Moura, 2012

Usa a lagarta do coco (Pachymerus nucleorum) como alimento, fritada no próprio óleo misturada com farinha de mandioca

Costa-Neto, 2004; Lopes, Moura, 2012

Alimentação (preparo) Imbuzada com leite do coco, feijão no coco, peixe no coco, arroz no coco, cocada, doce de coco ralado, doce de coco triturado

Noblick, 1986; Lopes, Moura, 2012

Leite do licuri com uso do amido de sementes de jaca como espessante (em teste na COOPES – Capim Grosso – BA)

Carvalho et al., 2013a Carvalho, Ferreira, Alves, 2014b

Fitoterápico (remédio) Uso das raízes do estipe como calmante (chá)

Lopes, Moura, 2012

Uso das raízes do estipe para calores no corpo (menopausa)

Lopes, Moura, 2012

Uso da água do coco verde (endosperma) como colírio

Rufino et al., 2008; Lopes, Moura, 2012

Uso da água do coco para micoses e como cicatrizante

Rufino et al., 2008

Uso do chá da raiz para tratamento de dores de coluna

Rufino et al., 2008

Uso da lagarta do coco como cicatrizante

Rufino et al., 2008; Lopes, Moura, 2012

Beneficiamento Massa para auxiliar na prensa da mandioca (imprensar)

Lopes, Moura, 2012

continua } PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Quadro I – Múltiplos usos do licuri cont. }

Beneficiamento Extração do óleo para fabricação de saponáceos

Noblick, 1986; Santos, Santos, 2002 ; Ferreira et al., 2016

Faz óleo para cozinhar

Lopes, Moura, 2012

Construção (insumo para instalações rurais) Construção de banheiros (privada com as palhas)

Lopes, Moura, 2012

Uso como cerca para “silo”

Lopes, Moura, 2012

A utilização das folhas como cobertura dos casebres

Noblick, 1986; Lopes, Moura, 2012

Industrial Uso do óleo para cosméticos e industriais

Drumond, 2007

Raspagem das folhas para a produção de cera empregada na fabricação de papel carbono, graxa para sapatos, móveis e pintura de automóveis

Ramalho, 2008

Energético (fabricação de biocombustível) Características excelentes para produção de biodiesel

Santos, 2011

Quadro II – Licuri enquanto elemento místico* Etnia

Ritual

Representatividade

Fonte

Kariri-Xocó

Ritual do Ouricuri

Incorporação de divindade

Mota, 2007

Tingui Botó

Ritual do ouricuri; Ritual do Toré

Atributo de identidade aborígene

Ferreira, 2007; Quirino, 2006

Fulni-ô

Ritual do ouricuri; Ritual do Toré

Atributo de identidade aborígene

Quirino, 2006

Pankararu

Ritual dos Praiás e do Toré

Materialização de ser espiritual (Encantado)

Arruti, 2005

Koiupanká

Ritual dos Praiás e do Toré

Materialização de ser espiritual (Encantado)

Vieira, 2010

Karuazu

Ritual dos Praiás

Obediência aos encantados e êxtase espiritual

Vieira, 2010

* Adaptado de Lopes (2012)

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Manual do licuri

Além de ser fundamental para a produção do artesanato de alguns desses grupos indígenas, o licuri é utilizado nas vestimentas tradicionais do ritual, além de dar nome ao mesmo (Ritual do Ouricuri), e também é utilizado no preparo de uma bebida a partir da fermentação de seus frutos (PINTO, 1956 apud MOURA, 2007). Assim, essa palmeira torna-se fundamental para a manutenção de traços culturais e para a manutenção do sentimento identitário dessas etnias (Figuras 5, 6).

Figura 5 – Licuri na Reserva indígena Kiriri, Mirandela – BA. Figura 6 – Vestimentas indígenas de fibra de licuri e etnomapeamentos na Reserva indígena Kiriri, Mirandela – BA.

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Quer saber sobre o licuri? Beba na fonte: converse com o povo.

O

Diagnóstico Rural Participativo – DRP (VERDEJO, 2006) foi a ferramenta metodológica mais recorrente utilizada no Programa Conca. Sendo realizado em áreas rurais com homens e mulheres, trabalhadoras e trabalhadores rurais nas sedes das cidades e nas comunidades rurais. Foram momentos ricos onde os sujeitos sociais: quebradeiras, trabalhadores rurais, representantes de associações, cooperativas, professoras expunham seu conhecimento sobre o licuri (Figuras 7, 8, 9). Impressionante foi a exposição de Dona Nega da Comunidade de Jaboticaba, Quixabeira – BA, que versou sobre a fenologia do licuri e a terminologia usada para cada fase, vejamos: “Nasci e cresci no meio dos licuri. Primeiro o licuri faqueia, cresce a buza, abre a flor que é visitada pelo sanharó, arapuá. Vai um mês e os cachos ficam cheios de licuri, com mais ou menos três meses, eles estão maduros. Aí a gente corta o cacho e seca, depois quebra na pedra. O primeiro calçado e vestido que comprei fiz o dinheiro com o licuri”. Dona Nega, quebradeira de licuri, Comunidade de Jaboticaba, Quixabeira – BA. No relato de Dona Nega há a descrição da fenologia do licuri, com a espata em seu estágio inicial (em forma de facão – “facoa”), desenvolve-se formando a espata fechada (“buza”, pois tem forma de búzio) que se abre, recebendo o nome de conca (em forma de concha, côncava) liberando o cacho de flores, onde os agentes polinizadores mais frequentes são as abelhas arapuás (Trigona spinipes) (Fabr.) (Hymenoptera: Apidae, cf. Figura 31, p. 51). O vento possivelmente é um veículo de polinização da espécie, sendo necessário realizar ensaios acerca desse tema, a fim de que se teste a ocorrência de ambifilia (polinização realizada por insetos e vento). Por seu turno, percebe-se o domínio acerca do assunto – licuri – traduzido em vocábulos concretos dos sertanejos. Exprime a vivência de um segmento social “sem voz” que, paulatinamente, vem ressignificando seu trabalho e suas formas associativas. Numa das oficinas do DRP foi solicitado que confeccionassem uma linha do tempo sobre o licuri (Figura 8), a qual emergiu por meio das falas das quebradeiras o problema matriz do Nordeste brasileiro: a concentração da terra. Expressão disso foi evidenciado na alusão à lei dos Quatro Fios ou lei do Pé Alto, instrumento que possibilitou cercamento de grandes áreas de terras e sua apropriação “legal” por grandes fazendeiros da região e com fortes impactos sobre os licurizais, populações rurais e os sistemas tradicionais de produção na caatinga. programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Tanto no DRP da comunidade de Cajueiro, Ipirá – BA, quanto em Capim Grosso, evidencia-se a associação entre licurizais e os solos. Os agricultores dividem a região no aspecto de solos em duas: a caatinga, que não vegeta o licuri, e a chapada, áreas também de caatinga, onde o licuri ocorre e é dominante. Em realidade, agronomicamente, correspondem aos latossolos (chapada) e aos planossolos ou neossolos (caatinga), solos rasos onde os licurizais não se desenvolvem, o que enquadra esses relatos em uma clara classificação etnopedológica associando aspectos de solos à vegetação. Nessa mesma comunidade foi observada a morte de muitos licurizeiros. O material foi colhido e analisado no laboratório de fitopatologia da UFRB em Cruz das Almas – BA, não foi identificados nenhum agente causal, o que leva a crer que pode ter sido pela estiagem prolongada, conforme depoimento de agricultores, que nunca haviam observado o fenômeno com tamanha dimensão, conforme o agricultor Seu Belarmino, na Comunidade Cabras em Iaçu – BA. Perceberam, também, que não há renovação dos licurizais, podendo desaparecer ou tornar-se rarefeito na região, daí a necessidade de pensar o licuri, enquanto uma lavoura xerófila do Nordeste conforme preconizava Guimarães-Duque, agrônomo, que era vinculado a Faculdade de Mossoró – RN, autor do Livro “Lavouras Xerófilas do Nordeste”. No Cajueiro (Ipirá – BA) enfatizaram a necessidade de pensar o replantio e a produção de mudas.

Figura 7 – Dona Enedina, quebradeira de licuri, comunidade de Caiçara, São José do Jacuípe – BA (2013). 28

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Manual do licuri

Figura 8 – DRP com as quebradeiras de licuri, realizado na Casa do Menor, em 03 de maio de 2013. Capim Grosso – BA.

Figura 9 – DRP em Itatiaia, São José do Jacuípe – BA, com Movimento de Pequenos Agricultores, associação e STTR. PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Desafio do cultivo do licurizeiro: Lavoura Xerófila

L

avoura xerófila, do grego (xero = seco,-phylo/-filo = amigo), é uma denominação feita pelo engenheiro agrônomo Guimarães Duque na década de 1950. Embora tal autor ainda seja pouco referenciado na academia brasileira, muito contribuiu para fincar alternativas para as populações do semiárido brasileiro. Esta região, nos anos de 2012 e 2013 vivenciou a maior seca nos últimos 50 anos, segundo relatórios do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Organização Meteorológica Mundial (OMM), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD). Estima-se que no estado da Bahia, Brasil, na sua porção semiárida já houve perda de mais de 60% do rebanho bovino nesse período (IBGE/MPOG). Assim alternativas como plantas exóticas como o sisal (Agave sisalana Perrine ex Engelm., Agavaceae) e a algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) DC., Fabaceae) e nativas como: o licuri, faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus (Müll. Arg.) Pax & L. Hoffm., Euphorbiaceae), a maniçoba (Manihot glaziovii Müll. Arg., Euphorbiaceae) e caroá (Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez, Bromeliaceae) apresentam-se no cenário enquanto alternativas à seca e às adversidades advindas das mudanças climáticas. Não deixando de registrar que tais mudanças são frutos da ação antrópica que tem desvegetado áreas, realizado manejo inadequado dos solos tropicais, provocando a compactação dos solos, dentre outros impactos. Ainda não se tem pesquisas sistematizadas sobre o cultivo do Licurizeiro. No entanto, para dar suporte ao Programa Conca, a pesquisa se tornou inevitável. Inclusive, é a partir do complexo temático: sistema de produção do licuri, que conectam a extensão-pesquisa-ensino.

Numa das pesquisas acadêmicas do programa Conca, optou-se pela marcação de árvores na caatinga, numa área do IF Baiano Campus Santa Inês e comparando-as com licurizais sobre a pastagem, numa pequena propriedade, onde os licuris foram desbastados. Para o estudo comparativo da produtividade do licurizeiro na caatinga (LC) e pastagem (LP), em dezembro de 2012 foram marcados (com placas de alumínio) e georreferenciados 52 licurizeiros adultos, sendo 38 na caatinga do Campus Santa Inês do IF Baiano e 14 em uma área de pastagem de agricultores familiares na localidade do Salgado, município de Santa Inês – BA (Figura 10). Nesta pastagem fora implantado desbaste do licuri, o espaçamento médio entre plantas ficou em torno de 8x8 m. Realizaram-se visitas semanais, verificou-se que programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

b

a

c

d

Figura 10 – Localização dos licurizais estudados no Vale do Jiquiriçá – BA (dez 2012– maio 2013). a) Mapa com localização das áreas amostradas em Santa Inês – BA (quadro); b) licurizeiros em área de pastagem (LP); e c e d) em área de caatinga (LC). 32

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Manual do licuri

a maturação dos frutos se concentrou entre os meses de fevereiro e maio de 2013. Nesse período, para cada licurizeiro marcado foram registrados o número de frutos (drupa/pirênio) por cacho e a ocorrência de flores e buzas (cacho antes da abertura), procedeu-se a coleta de frutos e a secagem em estufa a 60ºC por 2 horas. A partir do material seco, os pirênios foram mensurados longitudinalmente e horizontalmente com paquímetro, depois desoperculados/quebrados e as amêndoas (coquinho) igualmente mensuradas. Após a medição, a amostra foi pesada, sendo obtidos os pesos das bagas e da casca (exocarpo, cf. Figura 14a), resíduo da quebra do coco. Registra-se que foram encontradas nessa pesquisa exemplares com amêndoas geminadas no mesmo pirênio, fenômeno encontrado em outras arecáceas (palmeiras), embora seja raro este acontecimento. Este material foi descartado da mensuração. Avaliaram-se 38 amostras em Caatinga e 14 em pastagem. A partir dos dados foram obtidos coeficientes K, correspondente à relação entre diâmetros longitudinal e transversal (detalhes em RODRIGUES et al., 2013). Além disso, foram realizados testes pilotos para superação de dormência, utilizando-se o processo de despolpa de licuris maduros, separando a polpa e amontoando as sobras de material com os pirênios. O estudo indicou que, na formação das pastagens, o licurizeiro é uma espécie altamente adaptável às condições de sistemas agrossilvipastoris, o que é corroborado pelos trabalhos de Duque (2004), Drummond (2007), Carvalho et al. (2015a,b) e Rodrigues et al. (2015). Os dados relativos à produtividade média comparada entre os licurizais na caatinga (LC) e na pastagem (LP) indicam que o rendimento produtivo por indivíduo é maior nas áreas antropizadas (Tabela 1), onde foi verificado um maior número de frutos por palmeira (em média 1.398 cocos por cacho em LP e 185 cocos por cacho em LC). Tabela 1 – Biometria de pirênios e amêndoas de licuri (Syagrus coronata) em duas áreas: Caatinga (LC) e Pastagem (LP), em Santa Inês – Bahia (fev-mar 2013). Diâmetro

Diâmetro

Longitudinal (cm)* Transversal (cm)*

kmáx

kmín

Peso (g)

Caatinga (n=38) Pirênio

2,171±0,110

1,370±0,066

0,713

0,568

0,100

Amêndoa

1,249±0,066

0,811±0,112

0,875

0,500

0,023

Pirênio

2,272±0,194

1,507±0,173

1,000

0,580

0,118

Amêndoa

1,139±0,068

0,936±0,078

0,954

0,667

0,200

Pastagem (n=14)

*Média±D.P PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

O aumento significativo do peso das amêndoas (Tabela 1) sugere uma alocação de recursos para os frutos muito mais eficiente na pastagem, já que a amêndoa contém o albúmen, uma reserva alimentar acumulada na semente. Uma possibilidade plausível é que a ação antrópica nas pastagens, ao ampliar o espaçamento natural observado entre as palmeiras e ao reduzir a biodiversidade de plantas no local, reduza as taxas de competição inter e intraespecífica. Além disso, na Caatinga o licurizeiro funciona como “planta enfermeira” (nurse plant) atuando no processo de “facilitação ecológica” ao abrigar uma riqueza de espécies de epífitas (CARVALHO, FERREIRA, ALVES, 2014b), o que também eleva a competição por recursos similares (luz, nutrientes, CO2, dentre outros). Nossas observações de campo em outras regiões da Bahia corroboram esses dados, onde através de estimativa visual simples verifica-se que a produtividade (tamanho dos cachos e das bagas) é maior nos licurizeiros sobre a pastagem. Os dados sugerem a necessidade de uma intervenção planejada, a fim de que seja realizado o manejo dessa palmeira para melhoria no aspecto fitotécnico e produtivo. Por exemplo, a distribuição difusa das plantas nos estandes naturais (Caatinga) exige uma maior disponibilidade de mão-de-obra e torna o extrativismo menos eficiente. Indica-se a implantação de unidades de observação e unidades de demonstração de licurizais manejados e adequadamente espaçados em delineamentos capazes de oportunizar maior produção e produtividade. Além disso, reforça-se a importância dos estudos sobre os métodos de manejo adequado para as diferentes lavouras xerófilas, objetivando a promoção do desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação da sociobiodiversidade. Diante desse contexto, uma estratégia que emerge diz respeito ao manejo da agrobiodiversidade como um todo, com a diversificação produtiva dos sistemas e a utilização de espécies mais adaptadas ao semiárido. Encontrou-se numa das amostras o peso das amêndoas de 0,038g e peso da casca do pirênio de 0,130g na roça do agricultor na região do Salgado em Santa Inês, enquanto que na área da caatinga encontramos o peso da amêndoa de 0,023g e peso de casa de 0,100g. Verificou-se que na pastagem as amêndoas pesam 65% a mais que nos licurizais imersos na caatinga. Em relação à casca do pirênio, na caatinga pesam 30% a menos em comparação àqueles mais espaçados sob regime de sistema agrossilvipastoril. Salienta-se que ambos estão localizados em mesmo tipo de solos, em Santa Inês – BA. Acerca da germinação do licuri (Figura 11) foram encontrados relatos na literatura de 180 a 190 dias, indo até um ano. Entretanto, conseguimos coletar licuris maduros em março de 2013, na área vizinha ao IF Baiano Santa Inês, realizar a despolpa mecânica e após este operação, acondicionamos os restos de material da polpa com os pirênios (cocos) num balde, com a elevação da temperatura, vimos brotar a radícula em 20 dias, embora o percentual tenha sido bem pequeno. Mas percebemos ser esta uma possibilidade relativamente fácil de superação de dormência. 34

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Manual do licuri

Outra estratégia é realizar a despolpa e fazer um germinador de areia (Figura 14b e c). Após o nascimento das plântulas, cuidadosamente, transplantá-las para os saquinhos de fruticultura 20x30 cm, após 11 meses de viveiro (Figura 15), realizar a rustificação, que é colocar fora da proteção do telado por 1 mês antes do plantio.

Figura 11 – ‘Cama’ de licuri maduro, IF Baiano, Campus Santa Inês – BA (2013).

Figura 12 – Trabalho de campo na comunidade de Capoeira do Milho, Várzea da Roça – BA (2013). PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Figura 13 – Marcação de licurizeiros para estudo no IF Baiano, Campus Santa Inês – BA (2013).

Fazer as covas de 40x40x40 cm, separando a camada orgânica da camada mineral (mais clara) em dois lados da cova. Planta e molhar ao menos duas vezes na semana, escolhendo dias mais amenos para plantar. Não há espaçamento adequadamente indicado, mas tomando como referência o coqueiro da baia, que é recomendado um espaçamento em quincôncio de 7x7 m, pode-se extrapolar tal recomendação para o licuri colocando num espaçamento de 5x5 m. Adapta-se bem ao sistema agrossilvipastorial (Figura 16) e agroflorestais (Figuras 17, 18) no Semiárido como é visualizado nas fotos a seguir nos municípios de Mairi, comunidade de Uruçu, e às margens da rodovia que liga Várzea da Roça a Capim Grosso – BA. Os licurizeiros, mesmo quando adultos, toleram o transplante devendo ser retirados com a sapata e plantados nos meses mais chuvosos ou com irrigação complementar. A palmeira inicia sua frutificação aos 6 anos após plantio. A produtividade depende da precipitação. Nota-se a abertura das espatas (buzas) após as chuvas. 36

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Manual do licuri

b

a

c

Figura 14 – a) Morfologia do fruto do licuri (drupa fi brosa): epicarpo (=epi), mesocarpo (=mes), endocarpo (=end) e amêndoa ou semente (=sem); Crédito: Carolina Amorim; b e c) Montagem de experimento de germinação com alunos do 1º ano T.A. do IF Baiano, Campus Santa Inês – BA (2013). programa conca • SuStentabilidade, SabereS e SaboreS da caatinga

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Manual do licuri

Figura 15 – Mudas de licuri em viveiro de mudas da EFA Jaboticaba, Quixabeira – BA.

Figura 16 – Criação de bovinos combinado com licurizais, exemplo de sistema agrossilvipastoril, Quixabeira – BA. 38

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Manual do licuri

A

B

Figura 17 – Plantio de mandioca intercalado com licurizais, exemplo de sistema agrofl orestal, Quixabeira – BA.

a

b

Figura 18 – Plantio de palma (a) e sisal (b) consorciado com licurizais, exemplo de sistema agrofl orestal, Quixabeira – BA.

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Perspectiva de estudo de variedades

E

xiste grande variabilidade de licuri, inclusive com a formação de híbridos naturais nas palmeiras do gênero Syagrus (BALICK, 1988; JOHNSON, 1996). Noblick (1992) também confirmou a formação de híbridos na coleção de Syagrus do Jardim Botânico Fairchild Tropical Garden. No estado da Bahia, na comunidade de Embratel, município de São José do Jacuípe, os moradores relatam uma outra espécie (ou sub-espécie) ou híbrido natural: o Aririoba (Fig. 19), além do registro do licuri “mata-fome” (Fig. 20) para outras comunidades. Uma jovem da Comunidade de Embratel em São José do Jacuípe apresentou o pé de Aririoba, verificamos que há diferenças como a espata, a qual é mais estreita e comprida e os coquinhos saem da casca com mais facilidade quando quebrados e possuem sabor meio amargo. Na Várzea do Canto, no município de Quixabeira – BA coletamos uma variedade de licuri de tamanho maior do que os encontrados em outras regiões, coloração amarelo ouro quando maduro e formato arredondado (Figura 21), com a realização de coleta para germinação e georreferenciamento de matrizes. Por sua vez, em Capim Grosso, em uma área periurbana próxima a FTC, há uma roça em consócio com licurizais, bem conduzidos com coroamento e capinas entre uma planta e outra. Coroar significa carpir no entorno da planta num raio de 1,6 a 2,0 m, na projeção da copa.

Figura 19 – Aririoba, comunidade de Embratel, São José do Jacuípe – BA. programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Uma raridade genética com potencial ornamental é o licurizeiro com caules múltiplos, botanicamente, denominado de simpodial, nunca descrito para o gênero Syagrus (NOBLICK, 2014). Nas Arecaceae, esse fenômeno foi verificado apenas em Phoenix, Cocus e Raphia. Observamos relatos dessa ocorrência em Ipirá – BA e em Serrolândia – BA. Pessoalmente, encontramos no município de Caldeirão Grande – BA, próximo ao limite com o município de Caém – BA. Trata-se de uma mutação e os habitantes do entorno conservam o exemplar há mais de 40 anos (Figura 20b).

a

b

Figura 20 – a) Identifi cação de possíveis variedades, “licuri mata-fome”. b) Mutação rara do licuri, com vários caules (simpodial).

Figura 21 – Acessos de Licuri encontrados pelo Programa Conca em Capim Grosso e Quixabeira – BA. 42

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Licuri e agressões ambientais

E

mbora seja uma palmácea de uso múltiplo, observa-se um secular desprestígio dessa espécie vegetal. Nisso há uma identidade em povo e licuri, especialmente referente a mulheres e crianças rurais pobres, categorias excluídas socialmente. Não raro, viajando pelo semiárido da Bahia, vê-se licurizais dizimados e solos degradados, sendo a expressão disso a pouca diversidade vegetal em espaços degradados. Protegido por meio da Instrução Normativa (IN) 191/2008, ocasionada pela defesa da arara-azul-de-Lear, Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856 (Psittacidae), animal que depende em sua dieta do licuri no Nordeste da Bahia, região de Jeremoabo, Paulo Afonso e Santa Brígida, espécie que corre grande risco de extinção na natureza. Licuri e arara azul são a combinação perfeita, o pássaro dispersa a palmeira e garante a renovação de licurizais e as araras alimentam-se das bagas e da polpa do licuri maduro, fonte de energia e minerais. A IN 191/2008 proíbe o corte do licuri nas áreas de sua ocorrência natural. Uma Instrução Normativa tem força de lei, portanto, deve ser cumprida e é nosso dever denunciar crimes ambientais, como o corte e queimadas de licurizais. O mapa adaptado a seguir foi extraído do Plano de Ação Nacional para Conservação da Arara Azul de Lear (2012) expõe os estados onde a IN 191 está atingindo e foi traçado um contorno de localização da ocorrência natural do licuri. Sendo que esta espécie está fortemente impactada nos estados de Minas Gerais, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Na Bahia está a sua maior reserva, entretanto tem-se observado sua retração devido à queimadas, desmatamento, sobrepastejo e mecanização. Ao arrepio da instrução, verificamos a agressão na cidade de Mairi – BA em 09 de novembro de 2013 (Figura 23), imediatamente foi acionado o IBAMA para providências. Em uma outra ocorrência, o Ministério Público foi acionado para um caso semelhante em Jaboticaba, Quixabeira – BA. A Caatinga é bioma brasileiro seriamente impactado. Existem áreas em processo de desertificação não muito distante no município de Campo Formoso – Bahia. A devastação de sua vegetação contribui para o ambiente se tornar mais árido e inóspito. Solos compactados sem vegetação a água não infiltra, não recarrega mananciais e as estiagens são potencializadas em seus efeitos. Possivelmente, a morte dos licurizais está associada à estiagem e a desvegetação dos solos. Nem mesmo esta espécie nativa está resistindo.

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Manual do licuri

Figura 22 – Distribuição geográfi ca do Licuri (verde), com destaque para as áreas de ocorrência da arara-azul-de-Lear (amarelo) no semiárido baiano. Fonte: adaptado de Noblick (1991, 2014) e Brasil (2006).

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 191, DE 24 DE SETEMBRO DE 2008 O PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA, no uso das atribuições que lhe confere o inciso V, art. 22 do Anexo I ao Decreto no 6.099, de 26 de abril de 2007, que aprovou a Estrutura Regimental do IBAMA, publicado no Diário Oficial da União do dia subseqüente, Considerando as disposições dos arts. 7° e 14, alínea “b”, da Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965, que instituiu o Código Florestal, para a proteção de espécies vegetais relevantes; Considerando a necessidade de implementar medidas que garantam a preservação da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), de ocorrência restrita à região nordeste do Estado da Bahia, que abrange a Ecorregião do Raso da Catarina, e seriamente ameaçada de extinção na natureza; 44

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Manual do licuri

Considerando que a arara-azul-de-lear tem como principal componente alimentar o fruto da palmeira licuri (Syagrus coronata) e que a referida palmeira representa importante fonte de alimento para inúmeros outros animais silvestres; Considerando ainda a grande importância socioeconômica do licuri para a população sertaneja, e; Considerando as proposições apresentadas pela Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas (Processo nº02001.002077/2008-03); resolve: Art.1º Proibir o corte do licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) nas áreas de ocorrência natural desta palmeira nos Estados de Alagoas,Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe até que sejam estabelecidas normas de manejo da espécie por cada Estado. Art. 2º É permitida a coleta de frutos e folhas desde que não coloque em risco a regeneração da espécie e a flora e fauna silvestre a ela associadas. Art.3º Fica proibida a colocação de barreiras físicas que dificultem ou impeçam o livre acesso da fauna silvestre aos cachos de frutos. Art. 4º Somente será permitida a retirada anual de até três folhas verdes por palmeira que deverão estar localizadas na base das suas fileiras de folhas. Art.5º Será exigida, pelo órgão ambiental competente, das entidades jurídicas que façam uso comercial ou industrial da palmeira licuri, a título de reposição florestal, o plantio e manutenção até o seu completo estabelecimento, de uma unidade de palmeira licuri para o consumo anual de: a) 30 cachos de frutos, ou b) 300 folhas Art.6º As pessoas físicas ou jurídicas que façam uso comercial e industrial da palmeira licuri deverão observar as normas legais vigentes referentes ao licenciamento do órgão ambiental competente e ao Cadastro Técnico Federal. Art.7º Caberá aos Estados estabelecer os critérios necessários para a elaboração dos planos de conservação e uso da espécie licuri que garantam a sua sustentabilidade e a conservação das populações silvestres em função de sua importância para a fauna nativa, em especial a arara-azul-de-lear, e as comunidades que fazem uso da palmeira licuri. Parágrafo único. Os critérios técnicos estabelecidos pelos Estados poderão alterar o disposto nesta Instrução Normativa. Art. 8º Fica revogada a Instrução Normativa nº 147 de 10 de janeiro de 2007. Art. 9° Esta Instrução Normativa entra em vigor na data da sua publicação. ROBERTO MESSIAS FRANCO

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Manual do licuri

Figura 23 – Queimada em licurizal, Mairi – BA e morte de licurizais em Iaçu e Ipirá – BA, provavelmente atribuída à estiagem, que favorece o aparecimento e instalação de patógenos.

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Políticas Públicas de conservação e acesso aos licurizais discussão de leis municipais

E

m 09 de junho de 2013, na Escola Família Agrícola – EFA de Jaboticaba, Quixabeira – BA (Figura 24), reuniram-se 180 pessoas vinculadas à sociedade civil e poder público com o objetivo de dotar os municípios de instrumentos de aproveitamento e defesa dos licurizais, chegou-se a uma proposição de lei municipal a ser discutida nas Câmaras ou encaminhadas como uma minuta de Projeto de Lei de iniciativa popular para as Câmaras Municipais. A Câmara de Capim Grosso realizou reuniões sobre o assunto e levou a proposição ao plenário no início de 2014, finalmente sancionado pelo prefeito em 10 de setembro de 2014, Lei 292/2014. O item que tem gerado mais polêmica é o acesso das pessoas que vivem do extrativismo dos licurizais, as quais muitas vezes tem que dividir o produto com os donos das terras.

Figura 24 – Audiência pública na EFA Jaboticaba, Quixabeira – BA (junho de 2013).

Também em 2014 houve forte mobilização quanto à esta lei em Várzea do Poço, contando-se com uma audiência no auditório da Câmara de Vereadores com grande número de participantes, muitos deles agentes públicos, como professores. Entretanto, o município não avançou quanto à aprovação desse instrumento legal. Por outro lado, por iniciativa da Deputada Neusa Cadore, atenta à movimentação dos setores populares na Bacia do Jacuípe, foi realizada, em 06 de julho de 2015 (Figura 25), uma audiência pública na Casa do Menor, Capim Grosso – BA para discussão da Lei estadual, projeto de lei 21.135/2015. Pela proposta, o corte das árvores será permitido apenas quando necessário a execução de obras, planos, programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Figura 25 – Audiência pública para discussão sobre o PL 21.135/2015, Lei Estadual de proteção aos licurizais, Capim Grosso – BA (julho de 2015).

atividades ou projetos de utilidade pública ou de relevante interesse social, sendo preciso autorização do órgão competente. Mesmo assim, será exigido plantio das espécies suprimidas em locais próximos. Contou com representantes de orgãos públicos da região, professores, estudantes, políticos e associados da Coopes. A seguir, o modelo de Projeto de Lei discutido e enviado às Câmaras Municipais durante o I Seminário de Políticas Públicas e o Licuri, realizado da EFA Jaboticaba em 09 de julho de 2013, município de Quixabeira – BA.

MINUTA DE PROJETO DE LEI Nº XX/20xx* Dispõe sobre a proibição da derrubada de palmeiras de Licuri no território do município de (_________) e dá outras providencias. A Câmara Municipal de (______), estado a Bahia, decreta: Art. 1º Os licurizais do Município de (_____________) são considerados patrimônio de seu povo, destinado para usufruto de caráter comunitário das populações extrativistas que as exploram em regime de economia familiar. Art. 2º Ficam proibidas a derrubada e a queimada de palmeiras de licuri no âmbito municipal referidos no artigo anterior, salvo: I. Nas áreas destinadas a obras ou serviços de utilidade pública ou de interesse social declaradas pelo poder público, após a manifestação das comunidades envolvidas; 48

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II. Para aumentar a reprodução da palmeira ou facilitar a produção e a coleta, após plano de manejo e mediante a autorização do poder competente. Art. 3º Nas propriedades em que se desenvolvem atividades agropecuárias, os desbastes dos licuris serão autorizados de acordo com as seguintes condições: I. Apresentação do plano de manejo do licuri após a realização de estudos técnicos e a autorização do poder competente; II. Mediante plano de proteção contra as queimadas das palmeiras remanescentes: § 1º Fica proibido o uso de herbicidas no processo de desbaste. § 2º O órgão municipal responsável pela execução da política ambiental poderá autorizar o raleamento e o desbaste mediante consulta à comunidade que pratica o extrativismo na área em questão. Com a anuência do Conselho Municipal de Meio Ambiente. Art. 4º Independe de autorização do poder público a derrubada ou o desbaste de palmeiras do licuri localizadas em imóvel de até um módulo rural explorado em regime de economia familiar, respeitando o espaçamento mínimo de quatro metros entra cada palmeira remanescente. Art. 5º Fica garantido o uso de terras públicas, devolutas e privadas aos trabalhadores que as exploram em regime de economia familiar, conforme os costumes de cada região. Art. 6º Compete à Secretaria ou Diretoria Municipal de Meio Ambiente, por meio de seus órgãos, a execução e a fiscalização da presente lei. Assim, como, dentro de suas prerrogativas, o Conselho Municipal de Meio Ambiente. Parágrafo único. Ao proceder à fiscalização, os órgãos responsáveis deverão procurar prioritariamente os denunciantes, a comunidade ou as organizações dos trabalhadores envolvidos. Art. 7º O infrator da presente lei, independentemente de sanções civis, penais e administrativas previstas em lei, ainda estará sujeito às penalidades previstas na legislação ambiental em vigor. Art. 8º O produto da arrecadação das multas instituídas nesta lei será revertido para a recuperação de áreas e para políticas de fomento ao extrativismo de licuri, e será gerido por um fundo a ser criado por lei. Art. 9º O poder público e suas autarquias ficam proibidos de conferir benefícios sob qualquer instrumento a infratores da presente lei. Art. 10º O Município poderá desapropriar, por interesse social, propriedades de pessoas físicas ou jurídicas que infringirem os preceitos da presente lei. Art. 11º O órgão público referido no artigo 6º poderá celebrar convênios com órgãos públicos estaduais e municipais visando ao cumprimento desta lei. PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Art.12º Compete ao poder público estabelecer metodologias visando conscientizar as populações para a defesa e preservação dos licurizais, podendo celebrar convênios com organizações da sociedade civil, respeitadas as realidades de cada comunidade do Município. Art. 13º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. ............................................................................................... * A proposição acima foi baseada no PL de Babaçu livre de autoria do deputado Domingos Dutra (PT/MA), filho de quebradeira de babaçu no Maranhão.

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Licurizais e mamíferos associados

O

Licuri é uma espécie-chave no semiárido. Durante o período do Programa Conca, foi registrada uma espécie de roedor, regionalmente denominado rato-de-espinho (Trinomy spp., Rodentia), com um exemplar encontrado em um licurizal no Campus do IF Baiano, Santa Inês – BA (Figuras 26, 27). Os agricultores no Vale do Jiquiriçá relatam a existência do papa-coco (Sciurus alphonsei Thomas, 1906; Rodentia). Verificou-se pirênios (coquinhos) roídos pelo mocó (Kerodon rupestres Wied, 1820; Rodentia) na Fazenda Jatobá no município de Milagres – BA (Figura 28). Esta espécie além de se alimentar de licuri também assume importância enquanto dispersor do licuri na caatinga. Os bovinos, caprinos e ovinos também são importantes dispersores do licuri, embora consumam as plântulas e plantas jovens. Nas áreas de ocorrência, o licuri é uma forragem de relevância no semiárido baiano. Além dos frutos, esses rebanhos consomem as palhas verdes nos períodos de estiagem (Figura 29). Em 2012/2013 foi esse alimento volumoso que salvou o gado. Era comum a cena do gado se alimentando da palha que alcançou o preço de R$ 0,25/palma (Figura 30).

Figura 26 – Rato de espinho, encontrado morto em licurizal no Campus Santa Inês, maio/2013. programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Figura 27 – Pirênios de licuri roídos pelo ratode-espinho. IF Baiano, Campus Santa Inês – BA, maio/2013.

Figura 28 – Pirênios de licuri roídos pelo mocó. Fazenda Jatobá, Milagres – BA, setembro/2013.

Figura 29 – Bovinos alimentando-se da palha do licuri, cortada e deixada no campo. São José do Jacuípe – BA, maio/2013.

Figura 30 – Área de retirada excessiva de palha. Estrada vicinal para Uruçu, Mairi – BA, maio/2013. 52

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Licurizais e insetos associados

Q

uanto aos insetos associados ao licurizeiro nas áreas estudadas, além das abelhas arapuás (Trigona spinipes, Figura 31) e as abelhas-sem-ferrão em geral (Apidae: Meliponini), que são importantes para a polinização do licuri (ROCHA, 2009; CARVALHO et al., 2013a) o mais recorrente foi o cascudo, Pachymerus nucleorum (Fabricius,1972) (Coleoptera: Bruchidae, Figura 33a), que na fase de larva se desenvolve no interior dos frutos e é conhecido como “morotó do licuri” (Figuras 32, 33a, 34). Além disso, foi registrado o besouro “cascudo” ou “broca-do-olho-do-coqueiro” (Rhynchophorus palmarum, Coleoptera: Curculionidae, Figura 33b) e também uma infestação com cochonilhas de carapaça (espécie ainda não identificada, Figura 33c) na comunidade de Jaboticaba, Quixabeira – BA, junho/2013. Esses dois últimos animais ainda não foram listados/discutidos em trabalhos com o licuri. Na comunidade de Cajueiro (Ipirá – BA) foi observada a morte de muitos licurizais acometidos por uma doença com sintomas semelhantes ao do anel vermelho, que compromete o vigor dessa palmeira, causando muitas vezes uma perda total (Figura 33d). O avanço do estudo dessa interação possibilitará confirmar se o curculionídeo

Figura 31 – Abelhas-sem-ferrão Arapuá (Trigona spinipes (Fab.), Hymenoptera: Apidae, Meliponini) coletando pólen nas flores masculinas em antese (=abertura floral) do licuri. A maioria do pólen é transportada para os ninhos principalmente nas corbículas (seta) na parte da tíbia traseira da arapuá, local de grande pilosidade. Alto do Capim, Quixabeira – BA, junho de 2016. programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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R. palmarum é o vetor dessa doença em Syagrus. Tal fitopatologia é causada pelo nematóide Bursaphelenchus cocophilus (Aphelenchida) e que promove a quebra da ráquis, inflorescências e decomposição da estipe devido aos danos ao meristema da planta, o que foi identificado para outras palmeiras (JAFFÉ et al., 1993; CYSNE et al., 2013). Durante trabalhos de campo, licurizeiros com esse aspecto também foram avistados em diversas outras localidades no semiárido baiano, necessitando-se estudos dessa interação para elucidar/confirmar os agentes biológicos envolvidos e visando minimizar a expansão da doença e seu impacto nos licurizais. Alguns agricultores, em seus depoimentos, afirmaram que percebem que não há renovação dos licurizais, podendo os mesmos se tornarem raros ou mesmo desaparecerem na região. Por outro lado, poucos desses agricultores enfatizaram a necessidade de pensar a produção de mudas e o replantio dessa espécie. Como já relatado, uma prática comumente observada e relatada durante nosso trabalho é o da despalma (corte de folhas) do licurizeiro para a alimentação do gado durante os períodos de seca prolongada. Outras palmeiras como o dendê e o coqueiro, ao sofrerem ferimentos, como durante a despalma e a colheita, liberam um cheiro característico que atrai o besouro R. palmarum (JAFFÉ et al., 1993; CYSNE et al., 2013). Estudos adicionais são necessários para esclarecer se o cheiro liberado pelos licurizeiros doentes e aqueles despalmados para o gado atraem esse besouro, o qual adquire o nematoide B. cocophilus, transportando-o e transmitindo-o às plantas sadias e, eventualmente, disseminando-o para outras populações de licuri. Nesse sentido, esperamos que o estudo das interações bióticas, das fitopatologias e da redução das populações naturais dessa palmeira nativa seja mais uma importante contribuição do CONCA pelo viés da pesquisa aplicada à extensão.

Figura 32 – Instares de Pachymerus nucleorum triados durante trabalho de biometria de pirênios coletados na reserva legal do IF Baiano, Campus Santa Inês, junho/2013. 54

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Figura 33 – Algumas interações bióticas identifi cadas durante as ações de extensão e pesquisa do Programa Conca no Semiárido baiano: a) Pachymerus nucleorum; b) Rhynchophorus palmarum (fonte: www.cnptia.embrapa.br); c) cochonilhas de carapaça; e d) licuri possivelmente acometido pela doença do anel vermelho (observe o apodrecimento e queda da estipe).

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Figura 34 – Alguns exemplares de Pachymerus nucleorum encontrados durante análises no Laboratório de Biologia, IF Baiano, Campus Santa Inês – BA, junho/2013. 56

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Licuri é coco pequeno e de grande valor

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stima-se que em cada cacho do licuri são encontrados de 400 a 1400 frutos (Figura 35). Potencialmente, um licurizeiro pode produzir aproximadamente 8 cachos/ano (FERREIRA, CARVALHO, in prep.). As suas amêndoas, segundo Crepaldi et al. (2001), são utilizadas na alimentação humana por ser muito rico em ferro, cálcio, cobre, magnésio, zinco, manganês, sais minerais e betacaroteno, tornando-se importante para a soberania alimentar e geração de renda para diversas comunidades.

Figura 35 – Cacho de licuri, IF Baiano, Campus Santa Inês – BA, junho/2013. programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Estudos de laboratório para identificar as propriedades nutricionais da amêndoa do licuri foram realizados pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, em convênio com a Coopes. Ficou comprovada a importância deste fruto na alimentação humana e animal, com destaque para as informações da Tabela 2, as quais atestam o grande potencial energético dessa planta. Além disso, ressaltam-se as pesquisas recentes indicando o potencial antimicrobiano e antioxidante do licuri (e.g., BELVISO et al., 2013; BESSA et al., 2016). Tabela 2 – Composição nutricional do licuri (UESB/Coopes, 2013) O valor nutricional do licuri Umidade

28,6 %

Nitrogênio

2,2 %

Cinzas

1,2 %

Proteínas

11,5 %

Lipídeos

49,2 %

Carboidratos totais

9,7 %

Cálcio

35,6 mg

Magnésio

115,6 mg

Ferro

2,77 mg

Zinco

2,16 mg

Cobre

0,88 mg

Manganês

1,23 mg

Minerais (por 100 gramas):

Verifica-se que o licuri é um alimento energético. Possui aproximadamente 50 % de lipídios e, portanto, uma oleaginosa que devido às suas características tem grande aplicabilidade na indústria de sabões e cosméticos. Também é de uso corrente na culinária do Centro-Norte baiano e a torta obtida após a extração do óleo é usada nas formulações de rações para os criatórios. Em perfis de óleos analisados por Bauer et al. (2013) e Santos (2014) os ácidos graxos encontrados foram: ácido láurico apresentando uma média de 40,24%, presente em maior concentração, sendo seguido pelos ácidos: mirístico (16,8%), oléico (17,24%), palmítico (9,66%), esteárico (5,59%), linoleico (3,43%), cáprico (3,63%) e caprílico (3,10%). Outros trabalhos corroboram esses percentuais com grande similaridade, como Neto et al. (2009) e La Salles et al. (2010). Os ácidos graxos de maiores concentrações, láurico e mirístico, atuam como antioxidantes, anti-inflamatório, e potencialmente como bactericida e antiviral. O saber popular já atribui muitas dessas funções fitoterápicas ao óleo do licuri, sendo de uso corrente em muitas comunidades da Bahia (CARVALHO, FERREIRA, ALVES, 2014) e Pernambuco (RUFINO et al., 2008).

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Produção de maquinários

U

m dos grandes desafios em relação à temática do beneficiamento e processamento do licuri tem sido as máquinas dentro de duas linhas básicas de produção: alimentação humana e a outra para alimentação de animais e produção de óleo para saponáceos, sendo que a primeira está sendo gestada na Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes) em Capim Grosso e a outra pela Escola Família Agrícola do Sertão (Efase), em Monte Santo – BA. Ambas entidades têm tido forte empenho na valorização do agroextrativismo do licuri há mais de uma década, inclusive para viabilizar sua valorização nos aspectos geração de renda, culturais, de modo que isso seja impactado na conservação ambiental do licurizais. A Coopes atua produzindo tanto óleos comestíveis, como uma infinidade de produtos disponibilizados ao Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE e avança na alta culinária junto a restaurantes de renome em Salvador e outras cidades dentro e fora do Brasil. A Efase, (cf. Quadro III) por sua vez, avançou na produção de óleo para indústria de sabões e alimentação de animais. O IF Baiano e a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) têm acompanhado as atividades em ambas as entidades da equipe do projeto, no sentido de dar resolutividade e pensar junto com agricultores e agricultoras formas de aperfeiçoar as máquinas existentes que processam e beneficiam o licuri, pois grande parte da atividade ainda é dominada por mulheres que quebram na pedra o licuri para extração da amêndoa. Pela habilidade para conceber e ajustar equipamentos recorreu-se ao Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da UFBA que indicou um egresso com experiência para compor a equipe de trabalho. Em março de 2015, em reunião com 30 moradores da comunidade de Caixão (Cansanção – BA), para discutir o aperfeiçoamento de uma máquina despeladeira, que a Efase já possui e mediante a qual extrai o mesocarpo que, na comunidade local, é denominado de “pele do licuri”. Ao retirar esta “pele”, obtém-se um produto que é componente de rações que é a polpa desidratada, rica em fibras, açúcares e minerais. Esse produto é vendido para compor rações para o gado em períodos secos a R$ 0,80/kg. Cumprida essa etapa, o licuri é direcionado para a máquina “quebradeira”. Em seguida, faz-se a separação da casca e amêndoa por flotação. A água rica em óleo, utilizada no processo de separação, é aproveitada para alimentação de porcos. O contato com água eleva a rancificação do produto, depreciando-o para uso mais nobres, onde alcançaria remuneração melhor, como por exemplo na indústria programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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de cosméticos. As amêndoas quebradas e separadas são encaminhadas para a máquina extratora de óleo na Efase, que vende o produto para uma fábrica de sabões em Euclides da Cunha – BA, sem exigências quanto ao índice de peróxidos. Porém, por conta disso, este óleo é comercializado por um preço inferior. Por sua vez, a despeladeira merece dois tratamentos para ser aperfeiçoada: redução do ruído e ajuste da velocidade de giro do cilindro. O ruído é provocado ao acionar a máquina, pois a mesma usa um conjunto de barras de aço pivotadas em torno de eixos longitudinais que giram impulsionados pelo motor do equipamento. Ao atingir dada velocidade de rotação, as barras de aço, devido à força centrífuga e à velocidade tangencial, criam um sistema percussivo robusto. No entanto, por conta de folgas excessivas nos pontos onde há movimento relativo, mesmo quando o equipamento não está com uma batelada de licuris, o ruído é intenso. Quando o equipamento está efetivamente trabalhando, o ruído é intolerável, exigindo a adoção de medidas de proteção como protetores auriculares e a limitação do tempo de trabalho dos operadores. Para este problema, o ideal é que se reduzam as folgas estabelecendo tolerâncias de fabricação para os componentes e até mesmo nos elementos de percussão. Já a velocidade alta danifica o produto devido ao aumento da energia de impacto, na medida em que internamente a amêndoa é quebrada aumentando sua superfície específica. Para contornar o problema pode-se montar uma plataforma de testes de modo a determinar a energia de impacto necessária para o processamento do produto e setar (configurar) os parâmetros de rotação da máquina em função dos dados levantados nos testes. As máquinas construídas (Figuras 36, 37, 38) respondem bem à realidade local, necessitando apenas de ajustes e aperfeiçoamento. Um outro viés é o aproveitamento múltiplo de um mesmo motor, uma vez que se trata de um dos itens mais caros do equipamento e que o processo de beneficiamento possui etapas interdependentes entre si, pode-se ter em um único equipamento conciso todas as etapas do processo alocadas, bastando que seja utilizado um mecanismo de acoplamento que permita a seleção de qual parte do equipamento deve ser utilizada a cada vez. Para a separação pode-se construir um equipamento cuja separação entre frutos quebrados e amêndoas seja realizada por diferença de densidade, utilizando um fluxo de ar e um plano inclinado ou a vibração de pilhas de material associada a um sistema que separe a parte superior e a parte inferior da pilha. Quanto à retirada de polpa dos frutos maduros, os agricultores que são experimentadores em sua essência, mostraram-se bastante interessados, já que o produto pode ser utilizado para alimentação humana (a composição da polpa do licuri é semelhante àquela da polpa do açaí). A mesma máquina de extração de polpa do açaí pode ser utilizada para o licuri, necessitando apenas do aumento do tamanho do crivo da peneira. A Coopes dispõe de uma prensa de óleo. O equipamento 60

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pode sofrer ajustes das dimensões de seu cone, necessitando de diminuição da sua seção transversal e acoplamento de mecanismos de acionamento mecânico, em vez do acionamento manual dos macacos. Diante do quadro que se apresentam as máquinas, percebe-se claramente a capacidade inventiva e de criatividade dos povos da caatinga ao conceber máquinas e processos que necessitam da academia para seu aperfeiçoamento, bem longe, portanto, das concepções do conhecimento privatizado, representado pelo patenteamento da inovação para o mercado. Mais próximos, portanto, do engenheirar, do uso do conhecimento para melhoria da qualidade de vida do conjunto de pessoas, de uma coletividade que necessita das Universidades e Institutos a serviço da agricultura familiar camponesa e suas organizações.

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Figura 36 – Maquinário de processamento e benefi ciamento do licuri (Syagrus coronata) no Centro-Norte baiano: a) despeladeira (Povoado Caixão, Cansanção – BA); b) máquina de extração de óleo (Efase Monte Santo – BA).

Figura 37 – Forrageira adaptada para a quebra do licuri (Vaca Brava, São José do Jacuípe – BA).

Figura 38 – Prensa manual para extração de óleo (Coopes, Capim Grosso – BA).

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Desse modo, a tecnologia social flui enquanto ferramenta da agroecologia, ao criar e (re)criar um espaço dialético, dialógico e da engenharia pública. Afinal, diante do cenário em que os agricultores também são experimentadores e possuem a capacidade elaborativa para responder suas concretas necessidades, cabe à academia sistematizar e aperfeiçoar o que já existe, promovendo sua socialização. Daí, aproveitando o Edital específico para os Institutos Federais, empreendeu-se esforços para captação e logrou-se sucesso por meio aprovação do projeto estabelecido no Processo nº 468249/2014-1 (CNPq, SETEC/MEC Nº 17/2014) de Apoio a Projetos Cooperativos de Pesquisa Aplicada e de Extensão Tecnológica. Como resultados tem-se a produção da despeladeira com menor ruído e ajuste no cilindro rotatório (Figuras 39, 40a), além de uma nova quebradeira (Figura 40b). Quanto à prensa para extração de óleo comestível (Figura 38), encontra-se em andamento a elaboração de um protótipo na qual o acionamento será eletrônico e com redução da seção transversal do cilindro em que se depositam as amêndoas para a extração do óleo. Ao reduzir a área, eleva-se a pressão e aumenta a eficiência de extração do óleo, no aspecto de produtividade. O fluxograma para obtenção de todos os co-produtos oriundos do licuri e o balanço de massas aproximado (Quadro III) indica que, a partir de 10,0 kg de fruto, obteremos 0,9 kg de polpa, 1,1 kg de palha, 4,0 kg de casca, 1,0 kg de farelo e 2,0 kg de óleo, perdidos 1,0 kg de água. O aperfeiçoamento participativo dos maquinários de

Figura 39 – Desenvolvimento de protótipos construídos participativamente segundo às demandas identificadas para o processamento e beneficiamento do licuri no Centro-Norte baiano. Concebido pelo eng. mecânico Vitor Trigo Girardi. 62

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Manual do licuri

Quadro III – Fluxograma com síntese do balanço de massas do processamento/beneficiamento do licuri. Fonte: Ferreira et al. (2016).

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Figura 40 – Maquinários construídos a partir dos protótipos desenvolvidos participativamente: a) máquina despeladeira; e b) máquina quebradeira de licuri. Primeiros testes realizados no Dia do Licuri (EFA Jaboticaba) e 9ª Festa do Licuri, Alto do Capim, Quixabeira – BA, junho de 2016.

beneficiamento tem contribuido com a valorização da atividade agroextrativista e dos produtos e, especialmente, para a minimização do labor das quebradeiras-de-licuri, atividade exercida quase que exclusivamente por mulheres. Em testes experimentais realizados utilizando o ar para a separação da casca da amêndoa, após a quebra verificou-se que a diferença de densidade entre as partes casca e amêndoa quebrada é muito reduzida, dificultando a adoção desse processo em substituição à flotação. Possivelmente, será mais indicado o uso de tambor giratório ou esteira vibratória para a separação da mistura. Por outro lado, com o avanço na linha de produção, percebe-se a necessidade de realizar a classificação dos pirênios por tamanho, fazendo-se um ajuste na máquina quebradeira a fim de que seja possível a extração de amêndoas inteiras, o que facilita a separação sem o uso da água. Maiores informações quanto ao projeto de desenvolvimento de maquinários “Licuri, tecnologia e sustentabilidade nas Caatingas” (Processo: 468249/2014-1; CNPq-SETEC/MEC) podem ser consultadas em Carvalho et al. (2015a,b), Ferreira et al. (2015, 2016).

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Manejo do licurizeiro: algumas sugestões

A

s sugestões que se seguem foram sistematizadas em encontros realizados na região de Paulo Afonso, coordenados pela Aghenda, sendo um coletivo de entidades populares que desenvolvem trabalhos com o licuri. Assim, foi feita uma adaptação das recomendações emanadas desse coletivo. 1 Para tirar o cacho de licuri, é preciso ter muito cuidado para não machucar a palmeira. Quando possível, uma pessoa deverá apoiar o cacho embaixo para não cair no chão, evitando-se a despenca e contaminação dos frutos. Algumas pessoas colocam um cesto grande de cipó para aparar o cacho. Em alguns casos, quando o licurizeiro é muito alto recomenda-se o uso de um podão. 2 A secagem do licuri deve ser feita ao sol, em lugar limpo. Por isso tenha sempre o cuidado de retirar os frutos e armazená-los sobre um tablado de madeira ou numa lona, limpos, lavados com água corrente. Aconselha-se deixá-los imersos em água com cloro (na proporção de 10 litros de água para uma colher de sopa de hipoclorito de sódio, durante cinco minutos). Isso evita a contaminação da amêndoa ao quebrar o coquinho. Cuide para que os animais e insetos não se aproximem. 3 Para que o licuri tenha um maior durabilidade no pós-colheita, recomenda-se o armazenamento em uma embalagem a vácuo. O tempo de validade varia de 4 a 12 meses, dependendo do tipo de embalagem e armazenamento (vidro, pote plástico, saco plástico, caixa térmica, saco de papel). 4 Na época do transplantio, a cova que irá receber a planta deverá ter dimensões de 40x40x40 cm, de modo que as raízes se acomodem perfeitamente na cova. Deve-se colocar na cova esterco curtido misturado com terra à época do plantio. 5 A cama do licuri (frutos maduros espalhados sobre o solo próximo à palmeira) proporciona a criação e proliferação do besouro do gênero Pachymerus que prejudica o fruto do licuri. 6 Para que o licuri maduro saia da casca inteirinho, coloque no congelador durante 6 horas ou mais, retire do congelador, demore alguns minutos, ao descongelar, poderá quebrar e o licuri sairá inteiro. 7 Para conservar o licuri por mais tempo, de 4 a 8 meses, torre numa panela como se fosse amendoim ou coloque no forno e deixe secar 50% da água, deixe esfriar, guarde em vidros bem fechados ou garrafas pet, em lugar fresco e com pouca luz. programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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8 Para a produção de mudas de licuri, aconselha-se colher os frutos ainda maduros ou assim que cair, despolpá-los e colocá-los para embebição (de molho) em água por 24 horas. O plantio das sementes pode ser feito inicialmente em um canteiro de areia e transplantados para sacos plásticos, pretos, com tamanho de 15 cm de largura por 25 cm de altura. Deve-se utilizar uma mistura de terra mais esterco curtido na proporção de 3:1, ou seja, três partes de terra e uma de esterco. É necessário molhar esta terra adubada antes da semeadura e depois, com a ajuda de um bastão, são feitas pequenas covas com profundidade aproximadamente de 3 cm, onde as sementes são depositadas e cobertas por uma fina camada da terra preparada. 9 A germinação do licuri, como da maioria das palmeiras, ocorre desuniforme, ou seja, todas as sementes não germinam ao mesmo tempo, iniciando a germinação por volta de 90 dias após a semeadura. Após a germinação, as mudas devem ser levadas para lugar sombreado, pois isso favorece o seu crescimento. A conservação dos brotos e do plantio de novas mudas de licurizeiro é essencial para o crescimento da produção.

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Boas Práticas de Coleta, Beneficiamento e Fabricação de Produtos

A

amêndoa do Licuri apresenta em sua composição cerca de 50% de lipídeos. Este teor elevado de óleo propicia o processo de rancificação que torna o produto desagradável ao paladar dos consumidores. Algumas medidas devem ser adotadas com o objetivo de se evitar ou retardar este processo oxidativo na amêndoa do licuri. Secar ou desidratar toda a água da amêndoa, pode ser ao sol, numa estufa, forno ou na torrefação na panela. Depois de torrar, armazenar em local fresco, arejado e com pouca luz. A garantia de qualidade dos produtos alimentícios artesanais é atualmente exigência e anseio dos consumidores do mundo inteiro. Exige-se cada vez mais dos fabricantes um rigoroso controle de todos os aspectos do processo de produção, como forma de tornar os produtos mais competitivos, com maior acesso ao mercado. Os cuidados de higiene e a manipulação dos alimentos ao longo de toda cadeia produtiva são fatores importantes que interferem na qualidade final do produto. Todas as pessoas envolvidas no processamento de alimentos precisam conhecer e adotar Boas Práticas de Fabricação, como forma de garantir a produção de alimentos seguros, que atendam às normas higiênico-sanitárias e de qualidade. As Boas Práticas são os procedimentos necessários para garantir a qualidade sanitária dos alimentos e abrangem todos os aspectos que se relacionam com:

• Cuidados pessoais dos manipuladores, que são as pessoas que trabalham diretamente com os alimentos;

• Local onde se fabrica os alimentos, os equipamentos e utensílios utilizados; • Matéria prima; • Procedimentos de produção, isto é, as tecnologias utilizadas; • Informações ao consumidor; • Armazenamento e transporte dos produtos fabricados.

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Cuidados pessoais do manipulador de alimentos O manipulador de alimentos é a principal fonte de contaminação dos alimentos, por isso é necessário que conheça e adote cuidados de higiene pessoal para que possa produzir alimentos com qualidade.

• Pessoas com diarréia; doença infecto-contagiosa; infecção; feridas ou

inflamação na pele que possam causar contaminação do ambiente ou de outros manipuladores, não devem trabalhar na área de manipulação de alimentos.

• Todos os cortes, queimaduras ou ferimentos devem ser imediatamente

desinfetados e cobertos com curativo impermeável, e a pessoa deve ser direcionada para outro tipo de trabalho, que não seja a manipulação de alimentos;

• Os manipuladores devem evitar contato com pessoas resfriadas, com bronquite e enterites;

Além disso, o manipulador precisa observar os cuidados com: as mãos merecem cuidados especiais porque representam uma grande fonte de contaminação dos alimentos. As unhas devem ser mantidas curtas, limpas e sem qualquer tipo de esmalte.O manipulador de alimentos deve lavar e desinfetar as mãos e os braços até a altura dos cotovelos cuidadosamente, antes do início dos trabalhos, toda vez que mudar de atividade durante o trabalho, imediatamente após o uso do banheiro, após pentear os cabelos, depois de comer, fumar, assoar o nariz, depois de manipular lixo ou restos de alimentos e todas as vezes que for necessário.

Como higienizar as mãos Lavar bem as mãos com água e sabonete neutro, demorando pelo menos 15 segundos com as mãos ensaboadas, enxaguar em água corrente e secá-las com papel toalha. Completar a higienização, sanificando as mãos com produtos devidamente autorizados, com registro no Ministério da Saúde, ou com a seguinte solução: X X 1

litro de álcool (96º GL)

X X 20

mL de glicerina

X X 320

mL de água

Misturar primeiramente o álcool e a glicerina, somente depois acrescentar a água

Cabelos, barba, bigode Sempre limpos e escovados. Deve-se utilizar uma proteção adequada (toca) de modo a cobrir inteiramente os cabelos e evitar sua queda sobre os alimentos. Não pentear os cabelos enquanto estiver usando o uniforme de trabalho, pois os pelos soltos e as caspas podem cair sobre os alimentos. No caso de barba e bigodes 68

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Manual do licuri

também é preciso ter muito cuidado e usar uma proteção adequada, para evitar que sirvam de fonte de contaminação dos alimentos.

Orelhas, nariz e boca As pessoas resfriadas ou gripadas não devem manipular os alimentos, pois cada espirro desprende uma nuvem de microrganismos sobre o corpo, sobre as superfícies e os alimentos. Os manipuladores também devem ter cuidado e sempre que assoar o nariz, tossir ou espirrar, usar lenços descartáveis e lavar as mãos.

Hábito de fumar, comer e mastigar O hábito de fumar em ambiente de manipulação de alimentos é ilegal e é perigoso. Ao fazer isso, toca-se a boca, e os microrganismos ali presentes podem contaminar o alimento. Além disso, geralmente os fumantes sofrem tosse e espirram com mais freqüência, formando nuvens de microrganismos que recaem nas superfícies e no próprio alimento que está sendo processado. Pontas de cigarros e cinzas podem cair nos alimentos.

Uso de jóias, perfumes e loção pós-barba Deve-se evitar o uso de loção pós-barba, colônias e perfumes, porque os alimentos têm grande capacidade de absorver odores. O uso de jóias, brincos, relógios e anéis também são proibidos por representar risco de queda no produto, além de provocar a contaminação devido a não-higienização desses objetos. São recomendações de higiene para os manipuladores:

• Retirar todos os adornos antes de iniciar o trabalho. • Manter as unhas bem aparadas, escovadas e sem esmaltes. • Mãos rigorosamente limpas e lavadas. • Usar toca ou gorro para proteger todo o cabelo. Quando longos ou

volumosos, os cabelos devem ser presos e protegidos com rede de tecido.

• Usar máscara protegendo nariz e a boca. • Usar avental de mangas compridas com elástico e sem botões para evitar contaminação por pelos do braço.

• Trocar periodicamente os uniformes, mantendo-os sempre limpos e sem rasgos ou esgarçados.

• Usar calçados de couro ou de borracha, fechado. Evitar o uso de calçados de lona e proibir o uso de chinelos e sandálias.

• Quando exigido, utilizar botas de cano longo, brancas, devendo ser higienizadas sempre que entrar na área de processamento.

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Manual do licuri

• Os fumantes não devem manipular alimentos antes de higienizar as mãos. • As pessoas gripadas, resfriadas, com tosse ou alguma infecção (garganta, olhos, ouvidos, respiratória) ou alergia na pele não devem manipular alimentos.

O uso de luvas descartáveis não dispensa a lavagem freqüente das mãos. É indicada para manipular alimentos cozidos ou que não serão aquecidos posteriormente, é também indicado o manuseio de alimentos prontos para o consumo. As luvas devem ser exclusivas de cada tarefa e descartadas quando estiverem contaminadas, ou se rasgarem e sempre que a tarefa terminar.

Pessoas estranhas no setor de produção O trânsito de pessoas estranhas deve ser evitado nas áreas de processamento. Toda pessoa que não esteja diretamente envolvida no processamento, seja funcionário de outras áreas da unidade de produção, seja visitante que precisar entrar no local, deve ajustar-se às normas definidas para o manipulador. Além de todas essas orientações também é muito importante observar nas boas práticas de fabricação, o cuidado com o local da produção. As unidades de processamento de alimentos devem situar-se em locais isentos de odores indesejáveis, fumaça, pó e outros poluentes. Devem ser construídos de tal modo que permitam a limpeza fácil e adequada. Evitar a penetração e permanência de insetos, pássaros ou outros animais daninhos. 70

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Atividades produtivas com os derivados do licuri

C

om o licuri se produz vários alimentos como petiscos, granola, paçoca, biscoitos, doces, tortas, cocada, licor, sorvete, moqueca de peixe e de ovos, galinhada e azeite.

O óleo, de fabrico artesanal e tradicional, é um óleo saturado, amarelado porque passa por torrefação e cozimento prolongado e é bastante utilizado na alimentação humana. Já o azeite de licuri é o óleo extravirgem, óleo da primeira prensa, extraído da amêndoa a frio, de uma prensa manual. A produção é feita na cooperativa, com um licuri de boa qualidade. Para produzir um litro de azeite é preciso 6 kg de licuri levemente torrado, ou seja, numa temperatura até 40 graus. O azeite pode ser utilizado na culinária em moquecas de peixe e de ovos, nas frituras, polentas e saladas, no cuscuz, em refogados, no pão ou torradas. A exploração do azeite teve início em 1937. A Farinha é um dos melhores produtos derivados do licuri. Ela é pura fibra; pode ser acrescentada em outros alimentos como cuscuz, farofa, bolo, pães e paçoca. O leite é extraído da amêndoa do licuri. Bastante rico em nutrientes, pode ser utilizado na alimentação humana em moquecas, cuscuz, arroz, galinhadas e outros.

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O licuri é também muito apreciado pelos animais de diversas espécies silvestres e domésticas: abelhas, ararinha azul, periquitos, sagui, jumento, galinhas, porcos, bovinos, ovinos e caprinos se alimentam da amêndoa e da polpa do licuri. É um alimento muito rico em proteínas, isso possibilita às galinhas poedeiras ter uma produção contínua e às vacas e cabras uma maior produção do leite. Alguns produtores enriquecem a ração animal com a farinha feita de licuri moído (amêndoas e cascas). As folhas podem ser usadas como forragem já que a planta é bastante resistente à estiagem. A torta resultante da extração do óleo da amêndoa é utilizada na ração animal por ser bastante nutritiva. A polpa, conhecida como o dendê do licuri, é uma excelente comida para os animais, contendo 3% de um óleo avermelhado sendo pouco consumido por humanos, entretanto constitui-se um potencial a ser explorado.

No Artesanato, biojoias e cosméticos A produção de artesanatos é realizada principalmente pelas mulheres. Com a palha da palmeira, elas produzem chapéus, esteiras, peneiras, bandejas etc. O trabalho artesanal feito a partir das palhas do licuri (chapéus, boca-piu, aiós, esteiras etc) requer bastante cuidado na retirada das palhas para que a planta continue bonita e possa produzir mais e melhor. Isto é respeito pela natureza. Na extração da cera comercial de características semelhantes a da carnaúba. A cera é extraída da seguinte forma: as folhas são raspadas na sua parte abaxial (parte de baixo) e o produto bruto colocado em fusão, sendo, logo após, filtrado através de um pano. Esta cera é utilizada na manufatura de papel carbono, graxas de sapato, tintas e cera de automóvel. No fabrico do óleo do licuri também se faz o sabão, cosméticos e hidratantes para cabelo e pele. É ótimo para auxiliar no tratamento de espinhas, picadas de insetos e para massagens em coluna e perna para relaxar e diminuir as dores musculares.

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As festas do Licuri: valorizando a caatinga e seu povo

A

Festa do Licuri é a culminância de trabalhos educativos realizados pela Coopes. Não é meramente um espaço festivo, é uma junção de diversas linguagens que vai de popular a científica e da tecnologia às artes, à cultura, ao economato, ao comércio e geração de renda, à segurança alimentar. A Festa também compõe-se da religiosidade popular, das danças, da música, da recreação, do civismo, de torneio de quebradeiras, da gastronomia, da conservação ambiental e vínculo entre o homem-sociedade-ambiente materializado e identificado no licuri (Syagrus coronata). Essa árvore no seu processo evolutivo abriu o leque de suas palhas em forma de coroa (coroa = coronata), fincou sua rede de raízes no chão em forma de cabeleira (fasciculada), ampliando suas relações com os microrganismos. Além disso, produziu cera sob suas folhas para evitar a transpiração, assumiu a eficiência hídrica para sua convivência com a semiaridez. Incrementou a produção de pólen, dominou a paisagem e de modo dadivoso, possibilitou a ampliação/amplificação da vida em ambientes com restrição de água, inclusive dos grupos humanos que secularmente habitam a região.

Figura 41 – Ciranda na Festa do Licuri, povoado de Barra Nova, Várzea do Poço – BA (2014). programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

O caráter popular e comunitário da festa é notório: reúne agricultores(as) e entidades parceiras dos diversos municípios. Ocorre sempre na zona rural em meio aos licurizais desde 2008. Constitui-se de um evento aglutinador de uma Rede de Experiências/Estudos, de Produção e de Valorização do Licuri. A tabela 3 apresenta as comunidades e municípios que sediaram as Festa do Licuri: Tabela 3 – Relação das Festas do Licuri, comunidade sede e Município do Estado da Bahia. Ano

Comunidade

Município

2008

Ramal

Quixabeira

2009

Canequinho

Serrolândia

2010

Capoeira do Milho

Várzea da Roça

2011

Caiçara

Capim Grosso

2012

Uruçu

Mairi

2013

Vaca Brava

São José do Jacuípe

2014

Barra Nova

Várzea do Poço

2015

São Miguel

Caldeirão Grande

2016

Alto do Capim

Quixabeira

A festa sempre se dá com intensa mobilização popular. Há muita alegria, participação das comunidades rurais e das quebradeiras de licuri da região. Compõe-se de diversas expressões sendo ao mesmo tempo religiosa, cívica, política, cultural, ambiental. Inicia-se com a celebração pelo padre Xavier, jesuíta, defensor dos licurizais e da qualidade de vida no semiárido. Em seguida ao ato religioso, há plantio simbólico de muda de Licuri. Apresentação de bandas marciais, grupos de música regional, torneio de quebradeira, venda e exposição de artesanato e comidas do licuri, dentre outras atividades. Além de um workshop a céu aberto sobre as tecnologias sociais envolvendo a espécie: como máquinas, processos de conservação, esclarecimentos acerca do manejo e conservação dos licurizais. A festa sempre deixa sua marca na comunidade sede do evento. A Festa do Licuri no povoado de Barra Nova, Município de Várzea do Poço em 2014 contou com forte inserção da Secretaria Municipal da Educação, que tornou o licuri um eixo temático de suas ações (Figura 41). A Comunidade de Barra Nova tem verdadeiras linhas de produção de artesanato de palha. As mulheres extrativistas trouxeram à baila a questão do uso da palha do ariri (Syagrus vagans (Bondar) A. D. Hawkes, Arecaceae, Figuras 42f-h), uma arecácea de caule subterrâneo que sofre um maior impacto que o licuri quanto à sua conservação, sua palha é bastante utilizada no local pela sua plasticidade para os 74

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Manual do licuri

trançados de cestos, aiós e outros artefatos. Na Festa do Licuri em 2015 houve forte presença da temática maquinários, onde foram expostas algumas daquelas máquinas produzidas na região.

a

b

c

d

e

f

g

h

Figura 42 – a a e) Diferentes momentos da Festa do Licuri em comunidades rurais do Centro-Norte baiano; f) a palmeira Ariri (Syagrus vagans): detalhe do hábito, caule subterrâneo, g) fl ores e h) frutos.

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O Licuri e a Educação do Campo

A

Educação do Campo corresponde à uma vertente de educação necessária à educação dos povos do campo: crianças, jovens, homens e mulheres que trazem o traço de viverem no campo e lutarem por qualidade de vida, por escolarização contextualizada; inserida no modo particular, singular da pluriatividade da agricultura familiar camponesa. Ela surgiu nos movimentos sociais inseridos na luta pela terra, portanto, no chão dos acampamentos e assentamentos da reforma agrária e é contrária à educação rural, pensadas pelos latifundiários e ruralistas. Nesta linha, Leite (1999) afirma sobre a educação rural: “da cabeça dos ruralistas como forma de subordinar camponeses e reservar a eles um controlado espaço nas políticas públicas de educação para civilizar e manter a subordinação”, subordinação, portanto, dos camponeses a projetos da classe hegemônica” Obviamente, o modelo pedagógico da alternância entre Tempo Escola e Tempo Comunidade, tendo o trabalho como princípio educativo, da superação da dualidade entre trabalho manual e intelectual e da valorização da cultura local, do intercâmbio de saberes e conhecimento promove uma educação que possibilita o desencadeamento de processos emancipatórios e de lutas coletivas dos explorados. É da educação do campo, sob inspiração de Paulo Freire nos seus temas geradores, (FREIRE, 1983; FREIRE, NOGUEIRA, 1993, p. 61), ou nos complexos temáticos do pedagogo russo Pistrak (PISTRAK, 1981), que se insere o licuri, a palmeira de múltiplo uso do semiárido. De uma educação do campo que vem pautando políticas públicas de formandos e formadores, de estudantes e professores. Da educação do campo das Escolas Famílias Agrícola – EFA que surgem na França e, nos anos 60, são implantadas no Brasil e a Bahia foi um terreno fértil para sua disseminação. A EFA, que discute como preparar, conservar e produzir a terra, que traz o traço da participação dos camponeses no processo formativo que sediou, discutiu e corrobora para conservação dos licurizais, como foi nosso encontro sobre o licuri e políticas públicas em 09 de junho de 2013, na EFA de Jaboticaba em Quixabeira – BA. O nível de entendimento de aspectos botânicos e ecológicos do licuri que a população local detém é perceptível e expressivo. Isso instrumentalizou Secretarias Municipais de Educação a realizarem projetos interdisciplinares com o licuri. Tomando como exemplo Mairi – BA, que tem integrado demandas das associações rurais, viabilizaram trabalhos com o licuri em suas unidades escolares, usando programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

as artes, especialmente a música e a dança com o licuri como eixo temático. Na mesma linha, a Secretaria Municipal de Várzea do Poço trabalhou com o licuri, havendo discussões inseridas no Planejamento Pedagógico 2014 com mais de 200 professores participando. A temática permeou a Jornada Pedagógica e as ações educativas de professores ao longo do ano letivo, culminando com a participação de estudantes na 8ª Festa do Licuri na Comunidade de Barra Nova (Figura 43), onde há um trabalho forte de artesanato de palha com outra espécie nativa no mesmo gênero do licuri, o ariri (Syagrus vagans, Figuras 42f-h) que sofre uma devastação maior ainda que o licuri, devido especialmente a seu pequeno porte (Figura 42f) mais facilmente susceptível ao pastejo de animais e queimadas.

Figura 43 – Momentos da 6ª e 7ª Festas do Licuri realizadas nas Comunidades de Vaca Brava (São José do Jacuípe – BA) e Barra Nova (Várzea do Poço – BA).

O ato de educar, de aprender e de conviver formativamente são processos que devem ser trabalhados em todos os níveis de escolarização e comumente transcorre em espaços não-formais (práticas educativas realizadas na comunidade e na sociedade), diferentes da escola. Espaços não-formais podem ser “institucionais” (espaços regulamentados e com uma equipe técnica responsável pelas atividades), 78

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como Museus, Parques Zoobotânicos e Planetários; ou “não institucionais”, que são ambientes naturais ou urbanos que não possuem estrutura institucional, mas que permitem a realização de práticas educativas (e.g., NASCIMENTO, 2003; QUEIROZ et al., 2011; MAMORÉ et al., 2013). Corroborando Libânio (1999) coloca a educação não-formal no âmbito de espaços populares afirmando: “a educação não-formal como aquelas atividades com caráter intencional, porém de baixo grau de estruturação e sistematização, implicando certamente em relações pedagógicas, mas não formalizadas. Tal é o caso dos movimentos sociais organizados das cidade e do campo, os trabalhos comunitários, atividades de animação cultural, os meios de comunicação social, os equipamentos urbanos de educação tem contribuído especialmente para compreensão de processos educativos, para além da dualidade docente-discentes” (LIBÂNIO, 1999, pp. 83 e 84). Por sua vez, a lógica presente no contexto dos anos noventa, quando ganha importância a educação em espaços não-formais, é a de que a crise do sistema capitalista levou a uma crise dos sistemas educativos. Tal ‘crise na educação’ leva-a a redefinir/remodelar o seu papel e, nesse contexto, também ganha força o trabalho educativo dentro da cultura popular, da dita ação cultural (sensu FREIRE e NOGUEIRA, 1993) dentro de movimentos e relações sociais, cultura esta não entendida apenas como aquilo que está nos museus, nos livros, na música, “mas também nos gestos das pessoas se esforçando nos grupos e no trabalho […] cultura que dá sentido às relações humanas” (FREIRE, NOGUEIRA, 1993, p. 61): “Esse conjunto de pensamentos e atitudes foi o berço da educação popular. Ela nasceu nesse movimento de conquistar e inovar os espaços […] ela nasce da cultura que os movimentos populares usam e criam em suas lutas […] educação popular e mudança social andam juntas” O processo formativo agora é ‘para a vida’ e extrapola o âmbito da escola formal, uma vez que o indivíduo pode compor sua educação nos meios comunitários, nas associações, nas cooperativas, nos sindicatos e outras organizações. Discutir, desse modo, sobre a questão da formação e das aprendizagens no âmbito da Festa da Licuri, carecem de algumas enunciações, a priori, para se conclamar uma formação mais preocupada com a convivência com esse espaço de características tão peculiares. É nesse cenário que temos discutido/proposto a educação popular fomentada pela Agroecologia e processos formativos em espaços não-formais (CARVALHO, FERREIRA, MELO, 2013; CARVALHO et al., 2013a, 2013b; CARVALHO, FERREIRA, ALVES, 2014; CARVALHO, FERREIRA, 2015; CARVALHO, FICA PIRAS, FERREIRA, 2015; SILVA, FERREIRA, CARVALHO, 2016; RODRIGUES, FERREIRA, CARVALHO, 2016), como a Festa do Licuri, PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

as reuniões e oficinas de Diagnóstico Rápido Participativo (DRP, sensu VERDEJO, 2006), as atividades de assistência técnica e extensão rural e as audiências públicas, como a ocorrida em 6 de julho de 2015 em Capim Grosso, Bahia, visando discutir o Projeto de Lei nº 21.135/2015 que estabelece o umbu (Spondias tuberosa Arruda, Anarcardiaceae) e o licuri como espécies de interesse comum e imunes ao corte no estado da Bahia. A Festa do Licuri é um espaço não-formal interativo onde estudantes, camponeses(as), quebradeiras de licuri, agentes públicos, organizações e movimentos sociais, cooperativas, associações e diferentes comunidades têm a oportunidade de celebrar, conhecer, trocar saberes, conhecimentos e discutir diferentes aspectos dessa palmeira. O evento, coordenado pela Coopes – Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina, cuja sede localiza-se em Capim Grosso – BA, tem por objetivos: a) incentivar a preservação/conservação do licuri na caatinga; b) difundir e discutir a aprovação da Lei Municipal de Preservação do Licuri (Lei Nº 292/2014, Capim Grosso – BA); c) valorizar a cultura regional do licuri e a geração de renda familiar; e d) divulgar a criação de uma rede de produção e valorização do licuri. Embora o termo ‘Festa’ no senso comum remeta à folia, divertimento, dança, música, o evento assume para, além disso, um caráter multifacetado que reúne no mesmo locus dimensões: cívica, religiosa, lúdica, gastronômica, comercial, geracional, educativa e ambiental. É importante destacar o forte traço de gênero das atividades que envolvem o agroextrativismo do licuri, uma vez que a grande maioria dos sujeitos que coletam, quebram, trançam e beneficiam o licuri são mulheres do campo. Reiteradamente, ouve-se dos grupos de mulheres presentes na festa o relato do licuri enquanto possibilidade de renda que atravessa gerações. Isto nos remete a marca da sustentabilidade desta atividade no semiárido, algo também apontado por Siqueira-Filho (2012) enquanto uma das possibilidades de uso sustentável da flora da Caatinga. Como qualquer atividade humana o evento é permeado por diversos interesses que são processualmente evidenciados, uns convergentes, outros conflituosos. Sabe-se que recursos públicos são fundamentais para a estruturação física-financeira da Festa, daí a Coopes busca o apoio das prefeituras locais e do governo do estado, sem que isso descaracterize a proposta. Pode-se afirmar que sobressaem as ideias-forças do campo popular, garantindo a informalidade e espontaneidade, enquanto marca estruturante do evento, de modo que este não se perca em si mesmo, mas que deixem marcas significativas dentro e fora da comunidade rural sede do evento. Apenas para exemplificar, a Festa da Comunidade de Uruçu, município de Mairi – BA, passou anualmente a ocorrer e ficou institucionalizada pela Câmara de Vereadores no calendário da municipalidade, sendo seus maiores protagonistas os membros da Associação dos Moradores do Uruçu. As Festas se apresentam como uma iniciativa importante já que os licurizais vêm sofrendo acelerado processo de degradação em função da mecanização e quei80

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Manual do licuri

madas para a implantação de pastagens (DUQUE, 2004; CARVALHO, FERREIRA, ALVES, 2014; RODRIGUES et al., 2015). Diante do exposto, ressalta-se a importância da Festa do Licuri enquanto promotora da valorização do espaço identitário nos territórios do Centro-Norte baiano, das relações com a cosmovisão dos camponeses e das quebradeiras de licuri no processo de agroextrativismo e múltiplos usos do licuri em sua vida cotidiana e na transmissão de saberes intergeracionais. Vislumbra-se, ainda, a relação entre território e patrimônio biocultural, enquanto elementos muito importantes para forjar a identidade dessas populações em razão de um legado compartilhado e que, em grande medida, é permeado pelo agroextrativismo do licuri (SILVA, FERREIRA, CARVALHO, 2016; RODRIGUES, FERREIRA, CARVALHO, 2016). Assim, a Festa do Licuri traz elementos materiais e imateriais que possibilitam afirmar a identidade ontológica da agricultura camponesa (Figuras 43, 44). Esse conjunto de saberes e práticas que perpassam essa expressão cultural com foco no licuri, constitui-se um patrimônio biocultural essencial para que essas populações idealizem e efetivem práticas de auto-gestão e manejo dos recursos naturais de seus territórios, de modo que possam assegurar a conservação do Syagrus coronata para as gerações presentes e futuras.

Figura 44 – Momentos da 8ª Festa do Licuri na Comunidade de São Miguel, Caldeirão Grande – BA em 12 de julho de 2015. PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Vale asseverar que é tarefa do Estado defender e promover o reconhecimento e a valorização da memória e patrimônio biocultural a partir de políticas públicas que permitam preservar/conservar saberes e práticas ancestrais, ressignificando o presente com uso e apropriação de tecnologia, especialmente a tecnologia social, bem como a promoção da educação contextualizada e da popularização das ciências, expressas na agroecologia.

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Resgatando os Saberes e Sabores

A

cultura das receitas caseiras tradicionais tem tido uma divulgação e aceitação no mercado alimentício. O cozimento, sem pressa, pensando e respeitando o consumidor, com ausência dos ingredientes químicos, é hoje procurado e valorizado. Portanto, resgatar as receitas caseiras feitas com gosto do licuri, é hoje uma grande oportunidade de negócio para pequenas produtoras que sempre viveram do licuri. Seguem algumas das deliciosas receitas da nossa região:

Galinha Caipira com Licuri Modo de fazer: Cozinhar a galinha caipira. Depois, acrescente o leite de licuri e deixe cozinhar um pouco, até engrossar o caldo. O leite pode ser cozido antes de colocar na galinha. Evitar cortar.

Arroz com Licuri Modo de fazer: Acrescentar no arroz pré-cozido o leite do licuri e deixar ferver por mais 10 minutos. É recomendável utilizar o arroz tipo branco ou integral. O arroz parabolizado não seria o ideal para.

Leite do Licuri Modo de fazer: Para fazer um litro de leite, utilize um litro de água filtrada para um litro de licuri. Moer bastante no liquidificador e coar em peneira fina.

Cuscuz de Aipim com Licuri Modo de fazer: Ralar o aipim, espremer com pano e retirar a água. Colocar o licuri moído, açúcar e uma pitada de sal. Mexer bem. Colocar para cozinhar em cuscuzeiro. Servir ainda quente, com manteiga ou leite condensado.

Biscoito de Tapioca e Leite de Licuri X X 1

kg de tapioca seca

X X 2

ovos

X X 300

g de manteiga

X X 200g

de açúcar

X X 200g

de licuri batido no liquidificador programa conca • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Modo de fazer: Bata os ovos, açúcar manteiga e licuri. Acrescente a tapioca aos poucos, até dar o ponto de fazer as bolinhas. Coloque em assadeiras para assar em forno quente. Quanto estiver coradinho embaixo, está bom. Bom apetite.

Biscoito de Licuri

(Isabel – Vaca Brava)

X X 500

gramas de manteiga

X X 200

gramas de açúcar

X X 500

gramas de trigo

X X 250

gramas de licuri moído no liquidificador com pouca água

X X 1.5

kg de goma doce

Modo de fazer: Mistura os ingredientes, vá colocando a goma e o trigo aos poucos até dar o ponto de enrolar os biscoitos. Depois, amassar com um garfo. Coloque em assadeiras e asse em forno quente.

Cocada de Licuri X X 2

(Dona Tieta – Ramal)

xícaras de rapadura

X X 800

gramas de açúcar

X X 1

litro de licuri moído ou pisado

X X 1

copo de leite

Preparo: Colocar a rapadura, o açúcar, o leite numa panela e levar ao fogo, mexer até ferver. Depois que tiver bem fervido, colocar o licuri e mexer sempre. Quando estiver soltando do fundo da panela, tire do fogo, molhe um pouco uma tábua e espalhe. Em seguida, molhe uma faca e corte os pedaços, molhando sempre a faca.

Paçoca de Licuri X X 1/5 X X 3 X X ½

(Tieta)

litro de licuri

xícaras de rapadura moída litro de farinha de mandioca

Preparo: Misture todos os ingredientes e leve para moer ou passar no liquidificador. Coloque em vidros.

Beiju de Licuri X X Goma X X Uma

(Aldaci -Baixa Grande)

fresca

pitada de sal

X X Licuri

triturado

X X Rapadura

Fazer o beiju em forno quente, colocar o recheio de licuri batido com rapadura derretida e espalhar no beiju. 84

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As cantorias que dão o ritmo ao trabalho das quebradeiras – Cantigas de Trabalho Ô Baiana

(rasta pé – tipo forró)

Ô Baiana, ô mineira, você é trabalhadeira. A baiana está vendendo licuri. Capim Grosso, Várzea da roça, Vaca Brava e Miari (bis)

Tango Ô tu pisa baiana, eu gostei de ver pisar, pisa baiana, pisa lá que eu piso cá. (bis)

Forró Saí de casa pra vir até aqui, vim convidar vocês pra Festa do Licuri. Em Vaca Brava você não deixe de ir, a Festa é muito boa, pra gente se divertir. (bis)

Saideira Várzea do Poço eu já vou viajar, a saudade é muita, mas não posso te levar, a saudade é muita, mas não posso te levar.

Corta o Cacho Corta o cacho, licuri dendê, joga pra secar, quebra pra comer. Licuri tem fortaleza, o povão vai saciar. Fazemos as comidas típicas e o povão vai saborear. (Refrão: Corta o cacho...)

Território O Licuri é um tudo que ele dá, o óleo pra o cabelo e aliança pra usar, discutir no território como vamos trabalhar. Não queimar licuri que é pra vida melhorar.

Torra aí o Licuri Torra aí que eu quero ver. Faz azeite, faz o doce e faz o leite pra comer.

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Pisa e repisa no pilão Pisa, repisa, as mulheres estão pisando. O pilão está cheio, o licuri está voando, o pilão está cheio e o licuri está voando.

Olha o pó da palha Olá o pó da palha, que se tá tirando, se não fosse o pó da palha, as moças não tavam luxando, olha o pó da palhaaaaa.

Vamos juventude Vamos juventude, vamos trabalhar, vamos quebrar licuri pra vida melhorar. “Não quebro Licuri porque tenho vergonha. Melhor quebrar Licuri do que fumar maconha. (bis)

O licuri é tudo que ele dá Na Quixabeira ninguém pode mais dormir, mode a pancada da pedra do bago do Licuri. O Licuri, é tudo que ele dá, o óleo para o cabelo e a aliança pra usar. (bis)

Festa do Licuri

(Itamar)

I Vou falar de uma festa,

III Resgata os saberes,

Que me deixa muito animado.

Informando ao pessoal.

É a festa do licuri,

Pra que serve o licuri,

Vou mandar o meu recado.

Que foi e é uma fonte de vida tradicional.

II

Que ajuda as pessoas,

O licuri é uma tradição,

A terem uma renda adicional.

Que não pode se perder.

IV

Vem dos mais antigos,

Resgata sabores,

Vou falar pra você.

Mostrando o que se pode fazer.

Que têm várias utilidades,

Com o famoso licuri,

Essa festa vão ver.

Faz tantas coisas pra comer. Como cocada, quebraqueixo, E o geladinho não pode esquecer

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Manual do licuri

O Licuri

(Cailane)

I O licuri é um produto,

III

Que aguenta a Seca.

Na paçoca, pratos especiais.

Produto plantado no sertão,

Este bocapio,

Todo mundo cultiva,

E também massa para os animais.

Mais um produto pode aproveitar,

De fome não morre não.

II O licuri é um produto, De grande valor. Serve para o gado, E também para o agricultor.

Vamos juntos cuidar

(Naiane

I

III

O licuri está sofrendo,

E tem várias coisas gostosas,

Vamos juntos ajudar.

Que se pode fazer.

Sem matar, nem desmatar,

Doces, azeites, biscoitos, paçocas,

Ajudando a preservar.

Hum, que delícia pra comer.

II

Sem esquecer o artesanato,

O agricultor inteligente,

Que é uma beleza de se ver.

Não irá desmatar,

IV

Vai logo, cuidar de preservar.

Meu povo inteligente,

Além de fazer parte da agricultura familiar,

Vamos juntos cuidar.

Quando a seca chegar,

Preservando e ajudando,

Serve para a fome dos animais saciar.

Pra essa cultura nunca acabar.

O Licuri é tradição

(Thalis)

I

II

Fica clara a importância,

O licuri é uma tradição,

Dessa festa acontecer.

Que não pode se perder.

Para nós crianças,

Vem das mais antigas,

É uma oportunidade de aprender.

Vou falar pra você,

Cabe ao licuri que ajudou,

Que tem várias utilidades.

Nossos pais, avós, e bisavós. PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Fonte de Sustentabilidade

(Lucicleide)

I

IV

É através de um cordel,

A palmeira do licuri,

Uma arte popular.

É de tamanha utilidade.

Escrevemos esses versos,

Fabrica-se esteira, capangas e bolsas,

Para poder informar.

Dentre outras variedades.

Aos leitores de Mairi,

A obra de artesanato,

A importância do licuri,

Serve de aparato,

Na agricultura familiar.

Fonte de sustentabilidade.

II

V

É uma planta adequada,

Caros amigos leitores,

Do solo arenoso,

Vocês prestem atenção.

Predominante de Mairi, Jacobina e Capim Grosso.

Vamos preservar o meio ambiente,

Esta bela palmeira, Encontra-se também, Em Quixabeira, Serrolândia e Várzea do Poço.

Não fazendo devastação. Para poder existir, Em preservar licuri, Evitar extinção.

VI

III O seu fruto é muito rico, E de grande serventia. A sua palmeira serve de ração, A fome dos animais sacia. O agricultor alegre cultiva, Esta planta nativa do Nordeste da Bahia.

Aqui finalizamos, Cumprimos com obrigação. É preciso que as pessoas, Mudem de opinião. Vamos todos aplaudir, Dizendo sim ao licuri, E ao desmatamento dizer não

Licuri sofrido

(Naiane)

I

II

O licuri está sofrendo,

Pois o licuri está morrendo,

Tenha dó.

E os estão ajudando.

Ele sobrevive tenha chuva,

Mas o que eles não sabem,

Ou faça Sol.

É que o licuri está acabando.

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Manual do licuri

III O licuri está sofrendo,

Mas pensa que não.

E quer ajuda meu irmão.

Pra preservar o licuri,

Nós precisamos,

Precisamos de colaboração.

Licuri de valor

(Leisiane)

I O licuri é um produto,

Serve para nossa família,

De muito valor.

E para o lavrador.

Não mate o Licuri

(Khadija)

I Não mate o licuri,

Porque se não fosse ele,

Pare pra pensar.

Essa festa não teria aqui.

Com ele fizemos muitas coisas,

III

E dá dinheiro pra nos sustentar.

O licuri é fruto,

II

O coquinho da Bahia.

Meu amigo agricultor,

Resgatando o sabor,

Nunca mate o licuri.

Que apresenta dia a dia.

O licuri e a seca

(Ellen)

I

III

A seca que enfrentamos,

O licuri no Uruçu,

Está muito prolongada.

Da uma festa animada.

As pessoas se lamentam,

Nos diverte,

E eu fico emocionada,

E a gente fica cansada.

Por verem as pessoas,

E no outro dia fica pensando,

Ficarem amarguradas.

Na nova temporada.

II

Se você nunca foi,

O que irá acontecer,

Não perca este ano.

De agora em diante.

Cada vez é melhor,

A seca nos castiga,

E não é nenhum engano.

Nos deixa sem horizontes.

E todo mundo que vai,

Ô meu Deus abençoe,

Acaba gostando.

Esta pobre viajante. PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Manual do licuri

Preserve o Licuri

(Evelin)

I

II

O licuri é muito importante,

Com o licuri,

Para nossa alimentação.

Muitas coisas há de fazer.

Quem preserva o licuri,

Comida, artesanato,

De fome não morre não.

Ração e arte pra vender.

O Licuri quer viver

(Maria Rita)

I

II

O licuri está sofrendo,

No período da seca,

Não pode desmatar.

Ele não vai secar.

Ele é uma palmeira que da muitos frutos,

Alimenta os animais,

Dos quais,

E as donas de casa podem quebrar.

Podemos nos alimentar.

Repente Ecológico

(paródia) A fonte de vida é

Preste atenção meu amigo

O licuri meu irmão

No que eu vou falar

Preservar é necessário

Falando da natureza

Pra evitar extinção.

Sei que vocês vão gostar. Se você é agricultor O licuri está sofrendo

Mude a forma de pensar

Quer ajuda meu irmão

Pois o desenvolvimento

Ele precisa da gente

Você pode evitar.

Há gente que pensa, não! Pra preservar do perigo

Vamos encerrar esta prosa

É preciso união.

Com muitas palmas e muito louvor Parabenizando a Coopes, Com muito amor.

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Xote Ecológico

(paródia)

Eu quero trabalhar, eu quero trabalhar. A terra está sofrendo e não dá pra esperar. Se a gente não plantar, ela não dará. Os seus frutos bons para nos sustentar. Amigos visitantes sejam todos bem vindos. Nesta 5ª festa do licuri. Neste povoado de Uruçu do município de Mairi. Prezados agricultores queremos lhe pedir. Pra ter muito cuidado com o licuri. Vamos preservar e não vamos matar. Que ele é um alimento que você não vai comprar. Se você é meu amigo. Mude a forma de pensar. Pois o desmatamento você pode evitar. Tenham consciência da situação. Que o licuri não se pode matar não. Agradeço a vocês, que veio nos ajudar. A esta linda festa aqui neste lugar. Agradecendo a Coopes e a todos que aqui estão. E ao pai do céu, que não pode faltar.

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Forró de Ouricuri

(Luiz Gonzaga)

O forró vai ser bom ninguém vai sair daqui Tá chegando um caminhão de mulher de Ouricuri Sanfoneiro Chicó é quem veio pra tocar, E forró que Chicó toca é forró pra danar... Toque e segure toque! Chicó, Chiquin, Chicotão... Toque e segure toque! Castiga no zabumbão... Toque e segure toque! Tá chegando João do Pife... Toque e segure toque! Pra fazer turituri, Forró só é bom danado com mulher de Ouricuri. O forró vai ser bom ninguém vai sair daqui Tá chegando um caminhão de mulher de Ouricuri Sanfoneiro Chicó é quem veio pra tocar, O forró que Chicó toca é forró pra danar... Toque e segure toque! Antônio, Dedé, vai chegar... Toque e segure toque! Bote a cerveja pra cá homi!!! Toque e segure toque! Eu já falei com Sinhá... Toque e segure toque! Pra fazer carne de sebo pra encher o rabo dos bebos Que ficam pra chatear...

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Forró de Ouricuri

(Luiz Gonzaga)

O forró vai ser bom ninguém vai sair daqui Tá chegando um caminhão de mulher de Ouricuri Sanfoneiro Chicó é quem veio pra tocar, O forró que Chico toca é forró pra danar... Toque e segure toque! Antônio, Dedé, vai chegar... Toque e segure toque! Bote a cerveja pra cá sujeito!!! Toque e segure toque! Eu já falei com Sinhá... Toque e segure toque! Pra fazer carne de sebo pra encher o rabo dos bebos Que ficam pra chatear...

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Índice de imagens Figura 1 – a e b) Licuri em área de restinga, Barra do Itatriri, município de Conde – BA. . . . . . . . . . . 14 Figura 2 – Licuri na Chapada Diamantina, Caém – BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Figura 3 – Aspectos da fenologia e morfologia floral do licuri: a) buza; b) botões florais imaturos (fechados); c) flores femininas e d) masculinas em antese (abertura floral); e) frutos imaturos (verdes); f) frutos maduros; g) flores pistiladas (femininas); h) flores estaminadas (masculinas); Morfologia das flores: i) flor pistilada; j) detalhe do pistilo com estigma trífido (est) no ápice, ovário (ov) e anel de estaminódios vestigiais (aev) na base; k) flor estaminada; l) estame com detalhe das anteras (ant) e dos filetes (fil); m) detalhe da antera isolada. Escalas = 1 mm. Desenhos: Marcio Harrison. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Figura 4 – Epífitas entre as bainhas foliares do licuri, Pedra Vermelha, Monte Santo – BA (2016). . . 18 Figura 5 – Licuri na Reserva indígena Kiriri, Mirandela – BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Figura 6 – Vestimentas indígenas de fibra de licuri e etnomapeamentos na Reserva indígena Kiriri, Mirandela – BA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Figura 7 – Dona Enedina, quebradeira de licuri, comunidade de Caiçara, São José do Jacuípe – BA (2013).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Figura 8 – DRP com as quebradeiras de licuri, realizado na Casa do Menor, em 03 de maio de 2013. Capim Grosso – BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

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Figura 9 – DRP em Itatiaia, São José do Jacuípe – BA, com Movimento de Pequenos Agricultores, associação e STTR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Figura 10 – Localização dos licurizais estudados no Vale do Jiquiriçá – BA (dez 2012– mai 2013). a) Mapa com localização das áreas amostradas em Santa Inês – BA (quadro); b) licurizeiros em área de pastagem (LP); e c e d) em área de caatinga (LC).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Figura 11 – ‘Cama’ de licuri maduro, IF Baiano, Campus Santa Inês – BA (2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Figura 12 – Trabalho de campo na comunidade de Capoeira do Milho, Várzea da Roça – BA (2013).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Figura 13 – Marcação de licurizeiros para estudo no IF Baiano,

Campus Santa Inês – BA (2013).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Figura 14 – a) Morfologia do fruto do licuri (drupa fibrosa): epicarpo (=epi), mesocarpo (=mes), endocarpo (=end) e amêndoa ou semente (=sem); Crédito: Carolina Amorim; b e c) Montagem de experimento de germinação com alunos do 1º ano T.A. do IF Baiano, Campus Santa Inês – BA (2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Figura 15 – Mudas de licuri em viveiro de mudas da EFA Jaboticaba, Quixabeira – BA. . . . . . . . . . . . . 36 Figura 16 – Criação de bovinos combinado com licurizais, exemplo de sistema agrossilvipastoril, Quixabeira – BA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Figura 17 – Plantio de mandioca intercalado com licurizais, exemplo de sistema agroflorestal, Quixabeira – BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Figura 18 – Plantio de palma a) e sisal b) consorciado com licurizais, exemplo de sistema agroflorestal, Quixabeira – BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Figura 19 – Aririoba, comunidade de Embratel, São José do Jacuípe – BA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Figura 20 – a) Identificação de possíveis variedades, “licuri mata-fome”. b) Mutação rara do licuri, com vários caules (simpodial). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Figura 21 – Acessos de Licuri encontrados pelo Programa Conca em Capim Grosso e Quixabeira – BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Figura 22 – Distribuição geográfica do Licuri (verde), com destaque para as áreas de ocorrência da arara-azul-de-Lear (amarelo) no semiárido baiano. Fonte: adaptado de Noblick (1991, 2014) e Brasil (2006).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Figura 23 – Queimada em licurizal, Mairi – BA e morte de licurizais em Iaçu e Ipirá – BA, provavelmente atribuída à estiagem, que favorece o aparecimento e instalação de patógenos.. . . . 44 Figura 24 – Audiência pública na EFA Jaboticaba, Quixabeira – BA (junho de 2013).. . . . . . . . . . . . . . 45 Figura 25 – Audiência pública para discussão sobre o PL 21.135/2015, Lei Estadual de proteção aos licurizais, Capim Grosso – BA (julho de 2015).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Figura 26 – Rato de espinho, encontrado morto em licurizal no Campus Santa Inês, maio/2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Figura 27 – Pirênios de licuri roídos pelo rato-de-espinho. IF Baiano, Campus Santa Inês – BA, maio/2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Figura 28 – Pirênios de licuri roídos pelo mocó. Fazenda Jatobá, Milagres – BA, setembro/2013.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Figura 29 – Bovinos alimentando-se da palha do licuri, cortada e deixada no campo. São José do Jacuípe – BA, maio/2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Figura 30 – Área de retirada excessiva de palha. Estrada vicinal para Uruçu, Mairi – BA, maio/2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 PROGRAMA CONCA • Sustentabilidade, saberes e sabores da Caatinga

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Figura 31 – Abelhas-sem-ferrão Arapuá (Trigona spinipes (Fab.), Hymenoptera: Apidae, Meliponini) coletando pólen nas flores masculinas em antese (=abertura floral) do licuri. A maioria do pólen é transportada para os ninhos principalmente nas corbículas (seta) na parte da tíbia traseira da arapuá, local de grande pilosidade. Alto do Capim, Quixabeira – BA, junho de 2016. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Figura 32 – Instares de Pachymerus nucleorum triados durante trabalho de biometria de pirênios coletados na reserva legal do IF Baiano, Campus Santa Inês, junho/2013.. . . . . . . . . . . . . 52 Figura 33 – Algumas interações bióticas identificadas durante as ações de extensão e pesquisa do Programa Conca no Semiárido baiano: a) Pachymerus nucleorum; b) Rhynchophorus palmarum (fonte: www.cnptia.embrapa.br); c) cochonilhas de carapaça; e d) licuri possivelmente acometido pela doença do anel vermelho (observe o apodrecimento e queda da estipe).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Figura 34 – Alguns exemplares de Pachymerus nucleorum encontrados durante análises no Laboratório de Biologia, IF Baiano, Campus Santa Inês, junho/2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Figura 35 – Cacho de licuri, IF Baiano, Campus Santa Inês, Bahia, junho/2013.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Figura 36 – Maquinário de processamento e beneficiamento do licuri (Syagrus coronata) no Centro-Norte baiano: a) despeladeira (Povoado Caixão, Cansanção – BA); b) máquina de extração de óleo (Efase Monte Santo – BA).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Figura 37 – Forrageira adaptada para a quebra do licuri (Vaca Brava, São José do Jacuípe – BA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Figura 38 – Prensa manual para extração de óleo (Coopes, Capim Grosso – BA). . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Figura 39 – Desenvolvimento de protótipos construídos participativamente segundo às demandas identificadas para o processamento e beneficiamento do licuri no Centro-Norte baiano. Concebido pelo eng. mecânico Vitor Trigo Girardi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Figura 40 – Maquinários construídos a partir dos protótipos desenvolvidos participativamente: a) máquina despeladeira; e b) máquina quebradeira de licuri. Primeiros testes realizados no Dia do Licuri (EFA Jaboticaba) e 9ª Festa do Licuri, Alto do Capim, Quixabeira – BA, junho de 2016. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Figura 41 – Ciranda na Festa do Licuri, povoado de Barra Nova, Várzea do Poço – BA (2014).. . . . . . 71 Figura 42 – a a e) Diferentes momentos da Festa do Licuri em comunidades rurais do Centro-Norte baiano; f) a palmeira Ariri (Syagrus vagans): detalhe do hábito, caule subterrâneo, g) flores e h) frutos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Figura 43 – Momentos da 6ª e 7ª Festas do Licuri realizadas nas Comunidades de Vaca Brava (São José do Jacuípe – BA) e Barra Nova (Várzea do Poço – BA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Figura 44 – Momentos da 8ª Festa do Licuri na Comunidade de São Miguel, Caldeirão Grande – BA em 12 de julho de 2015.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Quadros e Tabelas Quadro I – Múltiplos usos do licuri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Quadro II – Licuri enquanto elemento místico*. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Tabela 1 – Biometria de pirênios e amêndoas de licuri (Syagrus coronata) em duas áreas: Caatinga (LC) e Pastagem (LP), em Santa Inês – Bahia (fev-mar 2013).. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Tabela 2 – Composição nutricional do licuri (UESB/Coopes, 2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

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Quadro III – Fluxograma com síntese do balanço de massas do processamento/beneficiamento do licuri. Fonte: Ferreira et al. (2016). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Tabela 3 – Relação das Festas do Licuri, comunidade sede e Município do Estado da Bahia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

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Esta obra foi composta em Open Sans, por Ă ttema para o Programa Conca, em novembro de 2016.




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