“Como é a morte?” perguntara o Lobo Cinzento.
Yasmim Mahmud Kader
Como é a morte?” perguntara o lobo cinzento em sua dourada juventude. Seu pai, o líder da alcatéia, não respondera como ele esperava. Fora metafórico em suas palavras e a pouca sabedoria do jovem não foi capaz de entendê-lo. É como a noite que trará a luz e fechará nossos olhos. Ele não se importou; às vezes não nos importamos nas palavras que os velhos dizem, na verdade. Contudo, sua pergunta continuou intacta, acesa em seu interior. Queria conhecer a morte! Entendê-la.
O tempo passou. Ele cresceu forte e com a morte de seu pai passou a comandar a alcatéia. Escolhera sua fêmea, teve seus filhotes; porém o que deveria ser uma conquista, para o lobo cinzento, era apenas uma passagem. E as cores se tornaram cinzas. O tempo estava abatendo-o, alcançando-o; o inverno também. Quanto tempo levaria para a fome de sua resposta ser satisfeita? Vivera seus últimos dias dourados em silêncio. Sentia seu coração ainda bater, embora cada pulsar parecesse ser o final. Via suas crianças saltitar entre os flocos de neve, embora sentisse que, em cada piscar, ficaria cego. Já não mais conseguia correr junto a elas; tampouco aceitar uma mão ajudando-o. O desejo pela resposta sobre a morte tornou-o arrogante e distante.
Não possuía outros desejos, todavia sabia estar errado. Eram seus últimos dias dourados! Precisava mudar! Chamara seu filho, um lobo branco como todos os outros, o mais velho deles e, pela primeira vez, o acariciara com o focinho. Você é quem irá liderar ao invés de mim. Não há tempo, não hesite! Ou, como eu, você nunca achará o seu destino. Por que a vida é apenas uma fase.
O lobo cinzento então fechou seus olhos e lembrou as palavras que um dia seu pai dissera sobre a morte. Infelizmente, ainda não as compreendia. É como a noite que trará a luz e fechará nossos olhos.
Abriu-os novamente, observou suas crianças por uma ultima vez antes de partirem com o jovem líder. Viu seu passado, todos os rostos familiares. Também, viu um futuro; toda a vida que poderia ter levado se não fosse o insano desejo por entender a morte. O mistério, tudo! Todos partiram e o lobo cinzento ficou para trás.
Ouvia as montanhas cantar ao seu redor pela última vez. Marcavam o momento; a sua solidão, mas, acima de tudo, o seu arrependimento. Fechou os olhos, enxergou seu pai e também seus antepassados, os últimos cinzentos da alcatéia. Uivavam. Não fora a noite que trouxera a luz, mas ao contrário! A luz trouxe a escuridão e inibiu que ele abrisse os olhos uma vez mais. Apesar de todo seu arrependimento, o lobo cinzento estava feliz. Encontrara seu lugar. Jamais entendera a morte, mas sua felicidade era saber que até mesmo seu pai, e todos os antepassados, erram sobre ela.
Ninguém era capaz de compreender o mistério da morte. Nem os mais sábios, nem os mais jovens. Seria sempre um enigma para qualquer existência.
FIM