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Capítulo 18 Entra um, sai outro

Às vezes nós organizamos, organizamos e organizamos mais um pouco — mas, quando olhamos para as nossas casas, não vemos nenhum progresso. Não dá para entender o que acontece: enchemos sacos de lixo até a boca, abarrotamos o portamalas com doações e lotamos caixas endereçadas ao nosso cunhado. Mesmo assim, parece que continuamos com o mesmo número de coisas no guarda-roupa, nas gavetas e na despensa. Estamos nos esforçando e queremos ver resultados. Qual é o problema? Pense na sua casa e em todas as coisas que há dentro dela como em um balde de água. Tirar a bagunça é como fazer um buraco no fundo dele — levando o balde a se esvaziar lentamente, gota a gota, à medida que você livra a casa de objetos indesejados. Ótimo, parece que estamos progredindo! Se você mantiver o bom hábito da organização, seu nível de bagunça deve sempre diminuir. O problema é o seguinte: o nível de bagunça só diminui se você parar de colocar novas coisas em cima dela. Todo objeto que entra em sua casa é um acréscimo ao balde. Portanto, se continuarmos fazendo compras no shopping e levando para casa brindes de conferências profissionais, as gotas que saem por baixo não vão adiantar muito. O balde nunca vai ficar vazio e poderá inclusive transbordar! Você pode resolver esse problema seguindo uma regra simples: entra um, sai outro. Toda vez que um objeto novo entrar em casa, outro parecido precisa sair. A cada gota dentro do balde, outra deve pingar para fora. Essa estratégia garante que sua casa não inunde, comprometendo todo o seu o progresso. A regra Entra-Um-Sai-Outro é mais eficaz quando aplicada a objetos parecidos. A cada camiseta nova que entra no guarda-roupa, uma velha sai. A cada livro novo que entra para sua coleção, um antigo sai da estante. A cada par novo de sapatos que entra dançando, um par mais gasto sai porta afora. É bem simples. Se um jogo de pratos novo aparece, o velho sai de cena.

Se um edredom novo diz olá, um antigo diz adeus. Se um lindo vaso faz sua estreia na casa, um menos lindo faz a reverência final. Você pode misturar um pouquinho, se achar necessário, para reequilibrar suas posses. Por exemplo, se tem calças de mais e camisetas de menos, jogue fora um par de calças sociais quando for comprar uma blusa nova. Mas seja justo: desfazer-se de um par de meias para contrabalançar um casaco — ou trocar um clipe de papel por uma cadeira de escritório — não faz efeito! Com muita frequência, quando compramos um objeto novo, guardamos o antigo que ele deveria substituir. É assim que costuma acontecer: identificamos em casa alguma coisa que já viu dias melhores — ela pode ter saído de moda, estar se despedaçando ou simplesmente não atender mais às nossas necessidades. Em seguida partimos para uma missão de compras, loucos para trocar a versão antiga por uma melhor, mais bonita, reluzente e tecnológica. Pesquisamos, comparamos preços, lemos resenhas e enfim fazemos a compra. E aí acontece uma coisa estranha: quando trazemos para casa o modelo novo, o antigo não parece mais tão ruim. Embora tenhamos considerado que não era “bom o bastante” para o uso, ele ainda parece “bom demais” para se jogar fora. Começamos a imaginar todos os cenários (por mais improváveis que sejam) em que “possamos precisar dele”. (Como se o substituto novinho em folha e de última tecnologia fosse parar de funcionar no dia seguinte…) E assim, sem mais nem menos, o objeto velho e cansado passa a habitar confortavelmente o nosso quartinho da bagunça; afinal, “vai que” ele possa ser útil um dia. A estratégia Entra-Um-Sai-Outro ajuda você a mostrar o caminho da rua para os seus desapegos — em vez de abrigálos durante a aposentadoria deles. Assim que o modelo novo entrar, dê adeus ao antigo. O sistema não tem segredo, mas exige disciplina. Posso dizer por experiência própria que é tentador trapacear, prometendo a si mesmo que vai se livrar de algo “depois”. A vontade de usar a blusa recém-comprada ou de jogar o video game novo é tão grande que você não tem pique de sair pela casa procurando uma troca adequada. Ainda assim, reúna seus poderes minimalistas e se comprometa a tirar o que sai antes de abrir, pendurar ou usar o que entra — pois, se não o fizer imediatamente, é provável que nunca o faça. Cheguei a ponto de deixar objetos novos ainda com etiqueta no porta-

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malas do carro até conseguir expulsar algum velho. Quando se está começando a tirar a bagunça, a regra Entra-Um-Sai-Outro é um ótimo paliativo. Ela limita o número de posses e o mantém na direção certa. Não existe nada mais desencorajador do que lutar para expulsar dez objetos — sofrendo com as decisões, criando forças para deixar que partam — e depois descobrir que acumulou outros doze nesse meiotempo. Seguir esse princípio impede uma situação dessas. A partir do momento em que você se compromete, sua casa entra num estado estável de coisas: enquanto seguir o programa, você nunca mais irá possuir além do que possui no momento. Melhor ainda, enquanto continuar expulsando suas posses, você verá uma redução significativa no nível de coisas. Depois de ter “fechado a torneira”, as gotas que saem de debaixo do balde passam a ter uma melhora visível (e extremamente satisfatória). Claro, quanto mais coisas você expulsar, mais gratificante será o resultado — é por isso que, a seguir, vamos transformar a goteira da organização numa vazão constante.

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