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Capítulo 19 Restrinja

No capítulo anterior, aprendemos a alcançar um estado estável de posses, compensando cada objeto que entra na casa com a saída de um parecido. Fantástico! Agora não parece tão estranho dar um passo à frente e dois para trás. Com esse sistema em funcionamento, cada objeto novo que expulsamos nos aproxima dos objetivos minimalistas. Mas, para avançar de verdade, precisamos pegar firme nos esforços de organização. Reduzir não significa se livrar de algumas coisas temporariamente e depois voltar a agir como antes. Muito pelo contrário! Trata-se de um processo pensado para nos ajudar a alcançar o Santo Graal da vida minimalista: possuir apenas o suficiente para atender às nossas necessidades e nada além disso. Desta forma, ao lidar com as coisas nos armários e nas gavetas, assim como nos nossos módulos e nas áreas, temos uma missão: restringir. Num mundo ideal, reduziríamos as nossas posses às necessidades básicas. Agora, antes que você fique com medo de ter de viver numa barraca ou dormir no chão, deixe-me explicar. “Necessidades básicas” significam coisas diferentes para pessoas diferentes. O minimalista que reside num veleiro pode conseguir atender às suas necessidades culinárias com uma simples chapa elétrica. Mas, para nós, que temos cozinhas completas, o micro-ondas, a fôrma de pizza e a máquina de arroz são indispensáveis. Da mesma forma, o equipamento de mergulho que o velejador considera essencial muito provavelmente seria considerado um item supérfluo para nós. Nossos itens pessoais básicos dependem de uma grande variedade de fatores: idade, gênero, profissão, hobbies, clima, cultura, família e amigos. Minimalistas que trabalham em escritório podem achar ternos e sapatos sociais obrigatórios, ao passo que aqueles que trabalham em casa conseguem se virar com guarda-roupas mais simples. Pais com filhos pequenos terão

uma lista de itens básicos diferente da de um solteirão que mora sozinho. Bibliófilos e fãs de esportes terão necessidades diferentes, assim como estudantes e aposentados, homens e mulheres. Portanto, não há uma lista-mestra do que deve existir numa casa minimalista. Na verdade, ao contrário da crença popular, não existe um número mágico. Não importa se você possui cinquenta, quinhentas ou 5 mil coisas — o que importa é que tenha apenas o suficiente (e não demais) para você. Você é que deve determinar sua própria lista de itens essenciais, para depois restringir suas coisas de acordo com ela. Esse passo, portanto, serve para reduzir suas posses a níveis “ideais” particulares. Sempre que comprarmos um objeto novo, devemos parar para pensar se de fato precisamos dele — ou se podemos muito bem viver sem ele. Quando descobrirmos que temos itens repetidos, devemos cortar o excesso de imediato. Ao desenterrarmos aquela caixa de coisas que não são usadas, devemos considerar seriamente jogar tudo fora. A boa notícia: conforme progredimos na jornada minimalista, nosso número de “necessidades” tende a diminuir — de maneira lenta, mas ainda assim diminuirá. Além de simplesmente eliminar a bagunça, podemos também “restringir” nossas posses de formas mais criativas — preferindo, por exemplo, objetos multifuncionais aos de função única. Um sofá-cama elimina a necessidade de uma cama de hóspedes à parte. Uma impressora com função de scanner representa um equipamento de escritório a menos. Um smartphone pode substituir um calendário, um relógio de pulso, uma calculadora e uma agenda, entre outras coisas. O objetivo é realizar o maior número de tarefas com o mínimo de objetos. Seguindo o mesmo princípio, devemos dar preferência a objetos versáteis em vez de especializados. Uma frigideira funda pode fazer o mesmo trabalho que uma gaveta cheia de outras panelas. Um clássico scarpin preto de salto combina com roupas profissionais e sociais, cumprindo uma função dupla no guarda- roupa — ao contrário daquele sapato fúcsia que nunca combina com nada. Um limpador multiúso pode deixar a casa brilhando, substituindo spray s específicos para a pia, a banheira, o espelho e a bancada. No entanto, quando estivermos restringindo nossos objetos, algumas coisas nos deterão no meio do caminho — e,

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com muita frequência, terão um caráter sentimental. É muito difícil abrirmos mão de coisas que nos trazem lembranças. Mas não se preocupe — nós, minimalistas, também temos meios de lidar com elas! “Miniaturizar”, por exemplo, é uma estratégia de eficácia comprovada. Não, não estou falando em apontar um raio encolhedor para elas (por mais divertido que isso fosse!). Em vez disso, salvamos apenas uma parte do objeto em vez da coisa toda. A lógica: se o propósito de um objeto é evocar memórias, as mesmas memórias podem ser evocadas por uma parte menor. Considere “miniaturizar” objetos como vestidos de casamento, roupas de batismo, colchas de bebê, lembranças de formatura, uniformes esportivos e moletons da faculdade. Por exemplo, em vez de guardar todo o vestido de casamento, corte um pedaço do tecido e exiba-o junto com uma foto, um convite ou as flores secas do buquê. Em vez de guardar o capelo de sua colação de grau, guarde apenas o cordão. Faça o mesmo com relíquias que você herdou: em vez de estocar todas as doze porcelanas do conjunto de sua avó no sótão, fique com apenas um prato e pendure-o num lugar de destaque. Uma alternativa é tirar fotos dos objetos e depois se livrar deles: as fotos preservam as memórias sem ocupar espaço. Elas também são mais acessíveis — e mais fáceis de admirar do que um objeto escondido no depósito. Finalmente, podemos restringir as posses digitalizandoas. Coleções inteiras de coisas — música, filmes, video games, livros — podem agora ser reduzidas a bits e by tes intangíveis. Estamos numa época maravilhosa para os minimalistas! Se você adotar o minimalismo de coração aberto, vai perceber que estará sempre atento a novos meios de restringir suas coisas. Seja criativo. Encare como um desafio pessoal a tarefa de fazer mais com menos e divirta-se explorando todas as possibilidades. Você pode se surpreender com as coisas sem as quais pode viver!

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