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Capítulo 20 Manutenção diária
Depois que tivermos seguido todos os Dez Passos — recomeçar; separar as coisas em pilhas de Lixo, Tesouro e Transferência; garantir que tenhamos um bom motivo para cada objeto; encontrar um lugar para cada coisa e pôr cada uma delas em seu lugar; manter todas as superfícies vazias; arrumar as coisas em módulos; impor limites às nossas posses; seguir a regra Entra-Um-Sai-Outro; e restringir os pertences —, não podemos simplesmente dar a missão por cumprida e voltar a agir como antes. Não mesmo! Precisamos preservar a situação com um pouco de manutenção diária. Virar minimalista não é como fazer uma dieta radical. Não adianta só enxotar todas as nossas posses numa sessão pesada de organização e depois anotar na lista como “feito”. Se fosse assim, é provável que sofreríamos do efeito sanfona — as coisas voltariam a se acumular de maneira tão certeira e veloz quanto o peso perdido. Em vez disso, precisamos mudar nossas características intrínsecas (por isso fizemos todos aqueles exercícios mentais) e desenvolver novos hábitos (por isso aprendemos o método dos Dez Passos). Devemos encarar a vida minimalista como uma dieta nova e mais saudável — não como uma atividade única, mas como uma mudança total de estilo de vida. O mais importante é continuarmos atentos ao que entra em casa. Lembra da discussão sobre sermos bons porteiros? Para manter o estilo de vida minimalista, não podemos nunca baixar a guarda — as coisas podem sair de controle muito rápido se deixarmos. A boa notícia é que a tarefa é mais simples do que parece e logo se torna natural. Precisamos apenas estabelecer uma rotina para lidar com as coisas que entram — como correspondência, catálogos, presentes e brindes — e segui-la fielmente. Colocar caixas de doações e de reciclagem perto da porta de entrada, por exemplo, faz maravilhas — elas evitam toneladas de bagunça em potencial quase sem nenhum esforço.
Mesmo assim, às vezes você pode ter a sensação de que está sempre na defensiva, tentando deter sozinho o tsunami de coisas que ameaça seu lar. Mas você pode agir no ataque também: cancelando assinaturas de revistas, decidindo não participar de trocas de presentes e deixando claro para todos que você está em busca de um estilo de vida minimalista. O último ponto é mais importante do que você pensa: porque, quando virem seus cômodos “vazios”, amigos e parentes bem-intencionados podem entender a falta de coisas como uma necessidade de coisas. Na melhor das hipóteses, você pode receber uma chuva de presentes indesejados e, na pior, a bagunça que eles não querem mais. Além de monitorar a porta de entrada, mantenha o olhar atento a focos de bagunça. Como você sabe, bagunça atrai bagunça. Depois que para de pegar no pé de determinado objeto, ele logo fica à vontade e chama os amigos. Não deixe a festa começar! É muito mais fácil expulsar um hóspede indesejado do que um bando inteiro. O fato é que, se você não age aos primeiros sinais de acúmulo, seu radar enfraquece. Pense um pouco: há uma grande diferença entre uma superfície perfeitamente vazia e outra com um objeto que não é dali. O objeto estranho se destaca como um machucado no dedão. No entanto, o contraste entre uma superfície com um objeto estranho e outra com dois não é tão dissonante, e muito menos entre uma com dois e uma com três (e assim por diante). Melhor limpar a bagunça assim que a vir do que correr o risco de um novo acúmulo. No processo, você muitas vezes vai ter de lidar com a BOP — bagunça de outras pessoas. Como, de modo geral, você não tem liberdade para se livrar dela, a melhor opção é devolvê-la rapidamente para o proprietário de direito. Se o objeto pertence a alguém que não mora na sua casa — como as coisas que sua irmã enfiou no seu porão durante a mudança dela (e ainda não veio buscar) ou o projeto de artesanato que uma amiga largou na sua mesa de jantar —, um simples telefonema ou e-mail explicando seus esforços de arrumação devem motivar a pessoa a buscar seus pertences. Na maioria das vezes, porém, o objeto estranho é de outro membro da família. Nesse caso, simplesmente devolva-o ao espaço pessoal do proprietário (por exemplo, logo atrás da porta de seu quarto ou escritório). A ideia não é virar empregado de todo mundo, e sim gerar um efeito bumerangue — reforçando
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sempre o conceito de que tudo o que se aventurar para o espaço familiar será imediatamente devolvido ao local de origem. Com sorte, eles vão acabar percebendo e pensarão duas vezes antes de deixar coisas para trás. Apontar a bagunça incômoda ao seu proprietário e lhe dar a opção de removê-la ou jogá-la fora também cumpre muito bem a função. Por fim, continue organizando! A limpeza inicial da casa não é a primeira e última da sua purgação; na verdade, ela é apenas um começo. Você irá descobrir que seus poderes minimalistas se fortalecerão com o tempo — e os itens essenciais que sobreviveram à primeira organização não parecerão mais tão essenciais na segunda rodada. Por esse motivo, recomendo expulsá-los em ciclos; depois da organização inicial, dê mais uma olhada após algumas semanas ou meses. Você vai ver suas posses com outros olhos e sob uma perspectiva mais madura. Nesse meio-tempo, você terá começado a sentir o prazer e a liberdade de um estilo de vida minimalista — o que vai motiválo (e animá-lo) a se livrar de mais coisas. Você vai se surpreender em como vai passar a ser fácil abrir mão de coisas na segunda, terceira, quarta (ou décima ou vigésima!) rodada. A prática, é claro, leva à perfeição. Portanto, em vez da expulsão de uma só vez, você pode preferir uma abordagem lenta e constante como a de Um-Por- Dia. Simplesmente se comprometa a se livrar de um objeto por dia. Pode ser qualquer coisa: um par velho de meias, um livro que nunca vai ler, um presente sem o qual pode viver, uma camiseta que não serve mais ou uma revista antiga. Gasta-se pouco tempo ou esforço (apenas alguns minutos por dia) e, ao fim do ano, sua casa terá 365 objetos a menos. Para que você evite mandar objetos úteis para um aterro, mantenha uma caixa de doações escondida na despensa ou no armário do corredor. Coloque nela seus descartes um a um e, quando estiver cheia, doe-a para o Exército da Salvação ou para outra instituição de caridade. Outra opção é definir metas de organização para determinados períodos: dez objetos por semana ou cem por mês, por exemplo. Mantenha seus descartes sob controle para poder observar seu progresso e manter-se motivado. E o mais importante: divirta-se! A melhor parte da vida minimalista é que as recompensas são imediatas: cada objeto que você descarta alivia sua carga instantaneamente.
Repita isso todos os dias e se sentirá muito bem. Seu único arrependimento será não ter começado antes!