UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
YORRAN BENAYON DE ALCANTARA NOGUEIRA
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL
VILA VELHA 2019
YORRAN BENAYON DE ALCANTARA NOGUEIRA
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Ana Dieuzeide Santos Souza
VILA VELHA 2019
DEDICATÓRIA ESTE TRABALHO, ASSIM COMO TODOS OS OUTROS QUE VIRÃO, SÃO DEDICADAS AS PESSOAS MAIS IMPORTANTES DA MINHA VIDA. AO SR. CELSO, SRA. SANDRA E MEU QUERIDO IRMÃO YSAAC. OBRIGADO POR ME NUTRIREM COM ESSE AMOR E POR ACREDITAREM NOS MEUS SONHOS. SEM VOCÊS NADA DISSO SERIA POSSÍVEL.
AGRADECIMENTOS AGRADEÇO AS MINHAS ORIENTADORAS ANA DIEUZEIDE E EDNA GUMZ PELA PACIÊNCIA E SEUS GRANDES ENSINAMENTOS, LEVAREI POR TODA VIDA. A PRESTIGIOSA PARTICIPAÇÃO VENEZUELANA DEVE SER RECONHECIDA. GRACIAS! DANIEL NADALES, MARIBEL LÓPEZ E JOSÉ ROSALE POR CONTRIBUÍREM SIGNIFICATIVAMENTE COM ESSE PROJETO. AOS MEUS QUERIDOS AMIGOS, SOU GRATO POR SEREM COMPREENSIVOS E ME APOIAREM DURANTE TODO O CAMINHO. RECONHEÇO A VITAL IMPORTÂNCIA DE CADA UM DE VOCÊS NESSE PROCESSO. OBRIGADO POR ESTAREM SEMPRE COMIGO.
“MILHÕES DE MULHERES, CRIANÇAS E HOMENS SÃO FORÇADOS A DEIXAR SUAS CASAS, FUGINDO DE CONFLITOS, VIOLÊNCIA E PERSEGUIÇÃO. MAIS DA METADE DOS REFUGIADOS DO MUNDO SÃO CRIANÇAS, MUITAS ESTÃO DESACOMPANHADAS.”
ACNUR, 2018
RESUMO O BRASIL SE TORNOU UMA DAS PRINCIPAIS ROTAS PARA O MOVIMENTO IMIGRATÓRIO ASCENDENTE DE POVOS LATINOS, EM ESPECIAL OS VENEZUELANOS. COM A CRISE POLÍTICA INSTALADA, MILHÕES DE PESSOAS JÁ DEIXARAM O PAÍS EM BUSCA DE COMIDA, MORADIA E TRABALHO. ATRAVÉS DA PERCEPÇÃO DESTE CENÁRIO, O ESTUDO A SEGUIR VISA À CRIAÇÃO DE UM MÓDULO DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL A SER IMPLEMENTADO EM CIDADES BRASILEIRAS. POSSUI COMO DIRETRIZ A ELABORAÇÃO DE UMA HABITAÇÃO DE CARÁTER EMERGENCIAL PARA ACOLHIMENTO DE REFUGIADOS NA REGIÃO NORTE DO PAÍS, PROVENIENTES DA VENEZUELA. O PROTÓTIPO BUSCA SUPRIR AS NECESSIDADES BÁSICAS DE MORADIA E DIGNIDADE. COMPREENDER O PERFIL DOS USUÁRIOS E PROPOR UMA HABITAÇÃO TEMPORÁRIA FAZEM PARTE DA PESQUISA E SUSCITAM UM PANORAMA SOBRE A SITUAÇÃO VIVENCIADA POR REFUGIADOS NO BRASIL. PALAVRAS-CHAVES: ARQUITETURA; HABITAÇÃO; EMERGENCIAL; MÓDULOS; REFUGIADOS.
ABSTRACT BRAZIL HAS BECOME ONE OF THE MAIN ROUTES FOR THE UPWARD IMIGRATION MOVEMENT OF LATIN PEOPLE, ESPECIALLY VENEZUELANS. WITH THE POLITICAL CRISIS IN PLACE, MILLIONS OF PEOPLE HAVE ALREADY LEFT THE COUNTRY IN SEARCH OF FOOD, SHELTER AND WORK. THROUGH THE PERCEPTION OF THIS SCENARIO, THE FOLLOWING STUDY AIMS AT THE CREATION OF AN EMERGENCY HOUSING MODULE TO BE IMPLEMENTED IN BRAZILIAN CITIES. IT HAS AS GUIDELINE THE ELABORATION OF AN EMERGENCY HOUSING FOR THE RECEPTION OF REFUGEES IN THE NORTHERN REGION OF THE COUNTRY, COMING FROM VENEZUELA. THIS PROTOTYPE SEEKS TO MEET THE BASIC NEEDS OF HOUSING WITH DIGNITY. UNDERSTANDING THE PROFILE OF THE USERS AND PROPOSING A TEMPORARY SHELTER ARE PART OF THE RESEARCH AND GIVE AN OVERVIEW OF THE SITUATION EXPERIENCED BY REFUGEES IN BRAZIL. KEYWORDS: ARCHITECTURE; HOUSING; EMERGENCY; MODULES; REFUGEES.
LISTA DE SIGLAS UNISDR: United Nations Office for Disaster Risk Reduction UNDRO: United Nations Disaster Relief Organization UNHCR: United Nations High Commissioner for Refugees EUA: Estados Unidos da América OSB: Oriented Strand Board OIM: Organização Internacional para as Migrações RR: Roraima
LISTAS DE FIGURAS FIGURA 1 – VILA DE PANIAN, PAQUISTÃO
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FIGURA 2 - CAMPO DE REFUGIADO EM CALAIS, FRANÇA
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FIGURA 3 - CIDADE DE SÃO FRANCISCO APÓS O TERREMOTO
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FIGURA 4 - UM AGLOMERADO DE ‘’COTTAGES” EM SÃO FRANCISCO
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FIGURA 5 - ABRIGO PROJETADO PELO ARQUITETO ALVAR AALTO DURANTE A 2A GUERRA MUNDIAL
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FIGURA 6 - RELAÇÃO ENTRE DESLOCAMENTO DE PESSOAS E INVESTIMENTOS REALIZADOS
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FIGURA 7 - PERTENCES DOS VENEZUELANOS SENDO QUEIMADOS EM PACARAIMA, RO
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FIGURA 8 - CONFRONTO ENTRE BRASILEIROS E VENEZUELANOS EM RORAIMA
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FIGURA 9 - MÓDULO FABRICADO EM IMPRESSORA 3D, AMIE
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FIGURA 10 - MODULO PRÉ-FABRICADO DE USO HABITACIONAL
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FIGURA 11 - ABRIGO DESMONTADO, SISTEMA FLAT-PACK
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FIGURA 12 - ABRIGO MONTADO, SISTEMA FLAT-PACK
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FIGURA 14 - ABRIGO DE LONA TENSIONADA FINALIZADO
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FIGURA 13 - MONTAGEM DE ABRIGO COM LONA TENSIONADA
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FIGURA 15 - ABRIGO INFLÁVEL DA EMPRESA HOLSTROY
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FIGURA 16 - PROTÓTIPO PUERTAS
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FIGURA 17 - ISOMETRIA EXPLODADA DO PROTÓTIPO PUERTAS
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FIGURA 18 - VISTA LATERAL DO PROTÓTIPO PUERTAS
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FIGURA 19 - TRANSITIONAL SHELTER TS200
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FIGURA 20 - TS200 CONSTRUÍDO SOBRE PLATAFORMA ELEVADA
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FIGURA 21 - INTERIOR DO ABRIGO TS200
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FIGURA 22 - ABERTURA SUPERIOR DO ABRIGO TS200
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FIGURA 23 - LE CABANON EM FASE DE FINALIZAÇÃO
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FIGURA 24 - COMPOSIÇÃO DOS PAINÉIS DO LE CABANON
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FIGURA 25 - ABERTURA FRONTAL DO LE CABANON
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FIGURA 26 - MODELO CUSTOMIZADO DO LE CABANON
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FIGURA 27 - LOCALIZAÇÃO DE BOA VISTA, RORAIMA
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FIGURA 28 - TEMPERATURA DE BOA VISTA, RR
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FIGURA 29 - PRECIPITAÇÃO DE CHUVA EM BOA VISTA, RR
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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO
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1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
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1.2. JUSTIFICATIVA
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1.3. OBJETIVOS
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1.3.1. OBJETIVOS GERAIS
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1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
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1.4. METODOLOGIA
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1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO
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2. HABITAÇÃO EMERGENCIAL
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2.1. DEFINIÇÕES E CONCEITOS
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2.2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DAS HABITAÇÕES EMERGENCIAIS
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2.3. NORMAS E LEGISLAÇÃO PARA ABRIGOS EMERGENCIAIS NO BRASIL
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2.4. REFUGIADOS NO BRASIL
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2.5. SOLUÇÕES DE ABRIGOS EMERGENCIAIS
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2.5.1. MÓDULOS (Module)
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2.5.2. PACOTES (Flat-Pack)
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2.5.3. TENSIONADOS (Tensile)
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2.5.4. INFLÁVEIS (Pneumatic)
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3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS
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3.1. PROTÓTIPO PUERTAS
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3.1.1. INFORMAÇÕES GERAIS
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3.1.2. MATERIAIS
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3.1.3. CONFORTO TÉRMICO E LUMINOTÉCNICO
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3.1.4. CUSTO
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3.1.5. ANÁLISE E CONCLUSÃO
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3.2. TRANSITIONAL SHELTER – TS200
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3.2.1. INFORMAÇÕES GERAIS
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3.2.2. MATERIAIS
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3.2.3. CONFORTO TÉRMICO E LUMINOTÉCNICO
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3.2.4. CUSTO
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3.2.5. ANÁLISE E CONCLUSÃO
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3.3 LE CABANON
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3.3.1. INFORMAÇÕES GERAIS
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3.3.2. MATERIAIS
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3.3.3. CONFORTO TÉRMICO E LUMINOTÉCNICO
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3.3.4. CUSTO
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3.3.5. ANÁLISE E CONCLUSÃO
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4. PROPOSTA
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4.1. ÁREA DE INTERVENÇÃO
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4.1.1. ASPECTOS AMBIENTAIS
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4.1.2. ASPECTOS SOCIAIS
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4.2.DIRETRIZES
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IV.3. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1 INTRODUÇÃO
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL 1. INTRODUÇÃO Fenômenos naturais ocorrem diariamente em todas as partes do mundo. Esses eventos espontâneos não necessitam de interferência humana para que aconteçam e se consolidam como resultados diretos e naturais do funcionamento dos ecossistemas da Terra. Todos os feitos naturais conhecidos (terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, inundações, deslizamento de terra e outros) podem gerar danos para a sociedade e ocasionar a necessidade da relocação de pessoas, não importando sua classificação ou magnitude (ANDERS, 2007). Após um levantamento realizado pela UNISDR1, no período de 1992 a 2012, foi diagnosticado que cerca de 4,4 bilhões de pessoas foram diretamente afetadas por eventos catastróficos naturais em todo mundo, totalizando 1,3 milhões de mortos e ocasionando danos estimados de US$ 2 trilhões. De acordo com o CRED – Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia dos Desastres, estima-se um aumento de 132 milhões de pessoas afetadas por ano a partir de 2015 e prejuízos em aproximadamente US$ 300 bilhões (Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento, 2003). Além disso, os fenômenos denominados “não 1 UNISDR – United Nations International Strategy for Disaster Reduction é uma iniciativa criada pelas Nações Unidas (ONU) com o objetivo de criar e implementar estratégias internacionais para redução de desastres.
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naturais”, como conflitos e guerras, vêm se intensificando e gerando o deslocamento de pessoas em todo o mundo, considerando apenas o período de janeiro de 2017 (UNHCR, 2018). A tendência é que essa situação se agrave cada vez mais devido à instabilidade política no Oriente Médio, África e na Venezuela. No amparo às vítimas de desastres naturais e refugiados, organizações humanitárias e governo local - onde há um plano de logística humanitária para desastres naturais - fornecem água, remédios, alimentos, e abrigos emergenciais, os quais desempenham papel de residência temporária para os desabrigados e podem ainda ser reaproveitados em outras situações (ANDERS, 2007).
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO A recorrência de eventos catastróficos acompanha a evolução humana desde a sua origem até a atualidade. A primordialidade pela sobrevivência norteou os caminhos da humanidade e, sua capacidade de se abrigar e adaptarse ao meio se tornou um dos fatores determinantes para que a raça humana não fosse extinta. Embora alguns séculos separem os homens modernos dos primitivos e, igualmente de sua diligência pela sobrevivência, alguns grupos ainda se encontram
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MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO SE DESLOCAM POR CONTA DE GUERRAS E CONFLITOS.
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MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO SÃO AFETADAS POR CATASTRÓFES NATURAIS.
em situações precárias. Conflitos geopolíticos, guerras, desigualdade social e fenômenos naturais assolam as populações atualmente e provocam o deslocamento de milhões de pessoas anualmente (UNHCR, 2018). De acordo com Ziebell (2010), a arquitetura emergencial é uma resposta rápida, mas não necessariamente imediata. Promover satisfação temporária de certas necessidades, o amparo contra agentes externos, por meio da eficiência de funções climáticas primordiais, assim como bens materiais e emoções, são possíveis quando se cria um espaço que possa compor laços sociais alternativos.
1.2. JUSTIFICATIVA No Brasil, o número de refugiados2 já é considerado o maior da história recente da América Latina, cerca de 2,3 milhões de venezuelanos já abandonaram o país devido à crise política e econômica instalada pelo ditador Nicolás Maduro (Human Rights Watch, Setembro 2018 p.1). 2 De acordo com a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, são considerados como refugiados: Qualquer pessoa que temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele (ONU, 1951).
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL
Figura 1 – Vila de Panian, Paquistão
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As medidas adotadas para conter essa situação têm se mostrado ineficientes, regulando o aumento de pessoas em vulnerabilidade social. A ausência de ações preventivas, assim como a tendência crescente de pessoas nessas situações, ressalta a importância de um planejamento de suporte às vítimas, provendo abrigo e meios de subsistência (FERES, 2014).
Uma crise ou emergência é uma condição ameaçadora que requer uma ação urgente. Medidas de emergência eficazes podem evitar o escalonamento de um evento em um desastre. Gerenciamento de emergência envolve planos e arranjos institucionais para envolver e orientar os esforços do governo, não-governamentais, agências voluntárias e privadas de forma abrangente e coordenada para responder a todo o espectro de necessidades emergenciais. (UNISDR Terminology on Disaster Risk Reduction, 2009, p.7).
Na situação catastrófica em que se encontra a grande maioria dos refugiados, gerar abrigo enquanto é prevista a construção da moradia permanente, é uma das principais ações para o prosseguimento das condições de vida no local atingido. Os auxílios médico, educacional e recreativo, devem ser oferecidos em conjunto com o grupo afetado. Do mesmo modo, deve-se considerar que, embora com características de habitação temporária, cerca da
metade dos acampamentos estabelecidos duram mais que cinco anos e apenas um quarto deles, menos que dois anos (ANDERS, 2007). A Figura 1 exibe um acampamento no Paquistão, onde os refugiados afegãos estão alojados por mais de 30 anos fugindo de regimes fundamentalistas e guerras. Além disso, o processo de reconstrução das cidades pós desastre é lento, principalmente em países em desenvolvimento, onde tendas desempenham função de habitação (CITO, 2013). Essa situação se agrava devido ao crescente número de acampamentos de refugiados somado às condições precárias em que as vítimas de desastres naturais se encontram (ANDERS, 2007). Os abrigos emergenciais existentes não estão de acordo com os aspectos sociais, econômicos e culturais onde são implantados (ANDERS, 2007). A carência de abrigos temporários que deem ao desabrigado a decência necessária e que sejam concebidos de forma respeitosa às características culturais de cada povo ainda se mostra um desafio para com o conceito de moradia digna.
1.3. OBJETIVOS 1.3.1. OBJETIVOS GERAIS Propor um módulo de habitação emergencial que atenda às necessidades básicas de moradia para
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL refugiados em um período de 12 a 24 meses, situados em países de clima tropical e equatorial, promovendo por meio da arquitetura em questão requisitos de salubridade, sustentabilidade, conforto térmico e luminotécnico, além de uma boa logística e construtibilidade.
etapas: I.
Introdução e contextualização do tema, destinando-se à pesquisa teórica e revisão bibliográfica que fundamentam as premissas necessárias para a realização do projeto, através de leituras de livros, revistas, teses, artigos e sites que possuem temas e contextos similares ao estudado.
II.
Pesquisa sobre o que é habitação emergencial, assim como as normativas e leis que se aplicam a essa tipologia construtiva e que, de semelhante modo, apresenta um breve levantamento histórico com o objetivo de compreender a ingerência sobre os abrigos emergenciais atuais.
III.
Diagnóstico e compreensão da movimentação de refugiados no Brasil, afim de estabelecer uma relação entre os locais com a maior concentração de pessoas e os problemas existentes nessas localidades.
IV.
Análise, comparação e qualificação de diferentes tipos de abrigos emergenciais existentes, com o intuito de identificar e estabelecer as melhores técnicas construtivas e materiais para a proposta
1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Compreender o que é habitação emergencial, suas diretrizes, normativas e leis para sua implementação. • Entender a movimentação de refugiados no Brasil. • Pesquisar a história e evolução do abrigo de emergência e sua influência nos modelos existentes. • Analisar abrigos existentes e identificar as melhores soluções para utilização do módulo a ser desenvolvido. • Desenvolvimento de uma proposta projetual de arquitetura para um módulo de habitação emergencial, em nível de estudo preliminar.
1.4. METODOLOGIA Com base nos objetivos propostos neste trabalho, define-se como composição metodológica as seguintes
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projetual. V.
Aplicação das etapas anteriores, de forma a definir um conceito e partido de projeto com intuito de estruturar o desenvolvimento do modelo a nível de estudo preliminar.
1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO Com a definição do processo metodológico, a estruturação do trabalho segue do seguinte modo:
Capítulo IV. Tratará da proposta projetual do trabalho e suas diretrizes, além do desenvolvimento do programa de necessidades e estudo de fluxos. Do mesmo modo, irá apresentar definição do conceito e partido do projeto que resultam no produto: projeto arquitetônico em nível de estudo preliminar. Capítulo V. Serão desenvolvidas e apresentadas as considerações finais e conclusões obtidas com a realização do trabalho.
Capítulo I. Consiste na introdução do tema, contextualização, justificativa, indicando os objetivos a serem alcançados e metodologia utilizada. Capítulo II. Abordará o referencial teórico do tema, levantando pontos imprescindíveis para o trabalho que fundamentam e embasam o desenvolvimento do mesmo. Capítulo III. Dissertará sobre o referencial projetual por meio de estudos de precedentes, analisando os exemplos e os qualificando de acordo com as diretrizes estabelecidas para uma boa utilização de um módulo habitacional (salubridade, conforto térmico e luminotécnico, logística e facilidade de construção) anteriormente citados.
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2 HABITAÇÃO EMERGENCIAL
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL
2. HABITAÇÃO EMERGENCIAL
residências que tomam o lugar das edificações destruídas e passam a abrigar as vítimas para continuarem seu modo de vida habitual anterior à ocorrência do desastre.
2.1. DEFINIÇÕES E CONCEITOS Em ocorrências emergenciais, a busca por abrigo pode ser um fator determinante para salvar vidas e prolongar a sobrevivência (ANDERS, 2007). O processo de alocação de pessoas pós desastre, requer planejamento e pode ocorrer em até quatro etapas (QUARANTELLI, 1982, p.75-79): I.
Abrigo de emergência: Ocorre em qualquer local que providencie proteção da chuva, vento e do clima, se instalando dentro de veículos, embaixo de escombros ou em uma tenda.
II.
Abrigo temporário: Ocorre geralmente em escolas, igrejas e ginásios. Dispõe de lugares para dormir, se alimentar, tomar banho e fazer as necessidades fisiológicas.
III.
Habitação temporária: Os indivíduos ficam alojados em unidades habitacionais individuais, podendo retomar sua rotina e finalizar a construção da sua habitação permanente.
IV.
Habitação transitória ou permanente: Se trata das
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A eficiência de um abrigo está relacionada a condicionantes fundamentais. Sua construção deve levar em conta fatores climáticos e abranger aspectos culturais e sociais dos locais em que serão implantados (ANDERS, 2007). Funcionar em áreas mínimas, rapidez na sua montagem e desmontagem, vinculados à fonte de água potável, sistema sanitário, assim como fornecimento de alimentos e atendimento médico promovendo condições básicas de habitabilidade, são outras questões importantes a serem aplicadas segundo Kronenburg (1998). A adequação de abrigos emergenciais é vital na prevenção de novos eventos à população afetada. Dessa maneira os abrigos devem ser utilizados pelas vítimas logo nos primeiros dias. Em campo, a assistência humanitária juntamente com as próprias vítimas estão aptos a participarem diretamente das decisões e ações de implementação dos abrigos, devido a sua compreensão do local (ANDERS, 2007). Davis (2011) ressalta a importância da participação direta da população afetada na construção dos seus próprios abrigos.
Figura 2 - Campo de Refugiado em Calais, França
As lições mais importantes entre outras é que o abrigo deve crescer (com participação de comunidades) e não simplesmente ser construído (por construtores). O abrigo é orgânico, evolui, com tempo e recursos e necessidades, principalmente para os pobres [...] (DAVIS, 2011, traduzido pelo autor).
Analisar a estrutura familiar das pessoas afetadas é um fator bastante relevante, tendo em vista que será um dos parâmetros utilizados como referência, para estipulação média de pessoas por abrigo. Compreender a faixa etária, a quantidade de pessoas com necessidades especiais, assim como, suas relações familiares e o grau de proximidade delas dentro da sociedade e outras formas de estrutura social existentes (FERES, 2014). A Figura 2 exibe um acampamento na França, onde os refugiados construíram uma igreja, para que as pessoas do acampamento utilizassem.
Fonte: BBC News ǀ disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2016/02/160220_campo_refugiado_calais_franca_cm_rb ǀ acesso 17/09/2018
Um abrigo emergencial deve ser capaz de fornecer suporte aos esforços das vítimas de reconstruírem suas vidas, assim como, as suas atividades econômicas e sociais. Consequentemente, o grupo afetado deve ser capaz de construí-lo rapidamente e com o mínimo de esforço, sem a necessidade de manutenção adicional. Além disso, o abrigo deve possuir uma durabilidade
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL intrínseca, para que os seus usuários o utilizem apenas para fins emergenciais. Em alguns casos, a ajuda da comunidade internacional, não pode ser vista como um auxílio à longo prazo, devido a dependência de recursos, dificultando o desenvolvimento econômico e de demais atividades nos locais afetados (ANDERS, 2007). Um estudo realizado pela UNDRO3 descreve “abrigos temporários” como estruturas em que o período de utilização é variável em escala de meses até anos, antes de serem substituídas por habitações permanentes. Adotava-se essa medida, quando os danos eram muito extensos e previa-se, por questões econômicas, que a fase de reconstrução se iniciasse tardiamente. A utilização dessa estratégia em países menos desenvolvidos era problemática, pois geralmente a construção dessas estruturas tornavam-se mais caras que as habitações normais, fomentando o surgimento de bairros insalubres (UNDRO, 1982, p.32). A ausência de ações preventivas, resulta na origem e propagação de ambientes sobrecarregados e com tendências hostis. Uma infraestrutura deficiente ou inexistente nesses locais pode tornar dificultoso o auxílio 3 UNDRO – United Nations Disaster Relief Coordinator é uma iniciativa criada pelas Nações Unidas (ONU) com o objetivo de identificar riscos através de condicionantes variáveis e catalogação de ocorrências.
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às vítimas. Nesses casos, a identificação das medidas de urgência a serem adotadas é imprescindível para um melhor planejamento e realocação das pessoas afetadas (THE UN REFUGEE AGENCY, 2007).
2.2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DAS HABITAÇÕES EMERGENCIAIS O envolvimento dos arquitetos no contexto de abrigos emergenciais é pouco conhecido e pouco difundido. Não se sabe ao certo quando essa terminologia passou a ser adotada. Porém, ao longo da história, foram notadas várias ocorrências em que o homem precisou buscar abrigo para sobreviver, seja por questões relacionadas à fenômenos naturais ou conflitos sociais e políticos (FRADE, 2012). No início do século XX, a cidade de São Francisco foi palco de um dos maiores desastres naturais da Era Industrial. Um terremoto atingiu a cidade americana deixando um enorme rastro de destruição como mostra a Figura 3. Calcula-se que cerca de 250.000 pessoas foram desalojadas e o número de mortos estimado é de 1500 a 3000 pessoas. A princípio, a estratégia adotada para atender os desabrigados foi a improvisação de abrigos com mantas, que logo em seguida foram substituídas por tendas, formando assim os primeiros acampamentos, que duraram por mais de um ano.
Figura 3 - Cidade de São Francisco após o terremoto
Figura 4 - Um aglomerado de ‘’cottages” em São Francisco
Fonte: BBC News ǀ disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/ internacional/2016/05/160506_san_andres_terremoto_if ǀ acesso 11/10/2018
Fonte: San Francisco Curbed ǀ disponível em: https://sf.curbed. com/2015/2/24/9988502/remembering-earthquake-shacks-san-franciscos-original-tiny-houses ǀ acesso 11/10/2018
Para evitar que a situação dos desabrigados perdurasse por mais tempo, uma nova solução de habitação temporária foi desenvolvida: consistiu na criação de cabanas de madeira, denominadas “cottages” conforme mostrado na Figura 4.
que resistiram às catástrofes ou a construção de abrigos pelos próprios desabrigados (FRADE, 2012).
Essas edificações possuíam uma área de aproximadamente 13 m2 e 37 m2 e poderiam ser adquiridas por US$ 50 ou alugadas por US$ 2 mensais. Após o grande terremoto, a provisão de abrigos de emergência para outras ocorrências passou a ser realizada pelo fornecimento de tendas. Outras estratégias adotadas foram o aproveitamento de edifícios públicos existentes
Além das grandes ocorrências de fenômenos naturais, o século XX também foi palco de drásticas mudanças sociais e políticas, marcadas por duas grandes guerras mundiais. Durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), muitas cidades foram completamente destruídas e milhões de pessoas morreram ou ficaram desabrigadas. Novas soluções passaram a ser desenvolvidas para atender à demanda crescente de vítimas, conforme ilustra a Figura 5 (GONÇALVES, 2015 apud ARAÚJO, 2017 p.16).
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Figura 5 - Abrigo projetado pelo arquiteto Alvar Aalto durante a 2a Guerra Mundial
Fonte: Arquitectura de Emergencia, Ian Davis Ç€ disponĂvel em: Ian Davis, Arquitectura de Emergencia, Editorial Gustavo Gili, S.A., Barcelona, 1980, p.137.
Após a segunda Guerra Mundial, houve o surgimento de grandes organizações não governamentais, como as Nações Unidas (ONU); algumas governamentais, como a USAID (United States Agency for International Development) e; agências humanitárias como, a OXFAM (Oxford Committee for Famine Relief). Essas organizações passaram a atuar significativamente no fornecimento de abrigos de emergência para refugiados e vítimas de desastres naturais. Dessa forma, o conceito de arquitetura emergencial, aliada à ajuda humanitária, foi se consolidando até os dias atuais, desempenhando um importante papel na proteção à vida (FRADE, 2012).
2.3. NORMAS E LEGISLAÇÃO ABRIGOS EMERGENCIAIS NO BRASIL
PARA
Ao analisar a situação jurídica dos refugiados no Brasil, é possível identificar estatutos, declarações e tratados que amparam essas pessoas. Porém, em nenhum desses casos existe obrigatoriedade por parte do governo em ceder abrigos de emergência para refugiados. O direito ao abrigo está subentendido, como descrito no artigo 21 do Estatuto dos Refugiados de 1951: Art. 21 – No que concerne ao alojamento, os Estados Contratantes darão, na medida em que esta questão seja regulada por leis ou regulamentos ou seja submetida ao controle das autoridades públicas, aos refugiados que residam regularmente no seu território, tratamento tão favorável quanto
possível e, em todo caso, tratamento não menos favorável do que o que é dado, nas mesmas circunstancias, aos estrangeiros em geral (ONU, 1951).
Posteriormente, no ano de 1997, com a aprovação da Lei No 9.474, o Estatuto dos Refugiados de 1951 foi fortalecido, estabelecendo direitos e deveres, assim como todo procedimento legal a ser adotado pelos refugiados em todo território nacional conforme descrito no artigo quinto: Art. 5º – O refugiado gozará de direitos e estará sujeito aos deveres dos estrangeiros no Brasil, ao disposto nesta Lei, na Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e no Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967, cabendo-lhe a obrigação de acatar as leis, regulamentos e providências destinados à manutenção da ordem pública (BRASIL, 1997).
Na cúpula da ONU de 2016, foi aprovada por unanimidade a Declaração de Nova York para Refugiados e Migrantes, uma declaração política que visa melhorar a maneira como a comunidade internacional responde a grandes movimentos de refugiados e migrantes, bem como situações prolongadas de refugiados. Um dos compromissos estabelecidos nessa assembleia, foi a provisão de moradias.
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL Encontrar novas casas para todos os refugiados identificados pelo ACNUR como necessitando de reassentamento; e expandir as oportunidades para que os refugiados se mudem para outros países através, por exemplo, de esquemas de mobilidade ou educação de mão-de-obra (ONU, 2016).
Em 2018, a UNHCR apresentou a Assembleia Geral das Nações um Pacto Global sobre os refugiados, endossada pela Declaração de Nova York para Refugiados e Migrantes com o objetivo de reforçar a importância da política de ajuda humanitária.
2.4. REFUGIADOS NO BRASIL De acordo com dados da UNHCR (2018), cerca de 67,7 milhões de pessoas foram deslocadas de seus países de origem, impulsionados por conflitos e guerras. O custo para auxílio às vítimas previsto para o ano de 2018 é de US$ 7,508 bilhões, conforme apresenta a Figura 6. As solicitações de asilo na América aumentaram 83% em 2015, totalizando cerca de 184 mil solicitações, um resultado diretamente relacionado aos conflitos armados ocorrentes na Síria, Afeganistão e Iraque (SICREMI, 2017). Com a atual crise política na Venezuela, estima se que cerca de 2,3 milhões de pessoas deixaram o país entre 2014 e 2017, tornando esse evento a maior crise migratória da história recente da América Latina (ACNUR, 2018 apud
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HUMAN RIGHTS WATCH, 2018). O Brasil está na rota dos refugiados. Segundo dados da ONU (2018), até o mês de abril de 2018 cerca de 32.7 mil cidadãos venezuelanos solicitaram asilo no país e outros 25.300 mil haviam obtido outro tipo de permanência legal. Além dos venezuelanos, existem outros 10.145 mil refugiados no Brasil (dados referentes até o final de 2017), oriundos de 81 nacionalidades, entre elas, Síria, Angola, Colômbia, República Democrática do Congo e Palestina (ACNUR, 2018). Com base nas informações da Policia Federal e ACNUR, os Estados que mais concentram refugiados legais atualmente no Brasil são: 1. Roraima (15.955 mil); 2. São Paulo (9.591mil) e 3. Amazonas (2.864 mil). O governo brasileiro forneceu investimentos para os Estados de Roraima e Amazonas, para que pudessem prestar assistência social e cuidados médicos aos refugiados venezuelanos, porém a ajuda tem se mostrado ineficiente devido à precariedade dos serviços públicos no norte do país (MIGRACIONES FORZADAS, p.50, 2017).
Figura 6 - Relação entre deslocamento de pessoas e investimentos realizados
UNHCR Global presence (2018 projection)
11,621 staff members* in 468 locations, 130 countries where UNHCR is present
67.7 million people of concern PROJECTION in 2017 - 2018
Unit: Million
$ 7.508 billion global budget HQ
2.9%
70
Reserves JBOS
7.6% 0.2%
60 50 40 30 20
Global Programmes
10 0
2001
2007
2012
2017
5.6%
Field
83.3%
* All posts excluding JPOs and UNVs (source: A/AC.96/1169 - UNHCR Biennial programme budget 2018-2019).
Fonte: UNHCR 2018
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL Figura 7 - Pertences dos venezuelanos sendo queimados em Pacaraima, RO
Figura 8 - Confronto entre brasileiros e venezuelanos em Roraima
Fonte: Folha de São Paulo ǀ disponível em https://www1.folha.uol.com. br/mundo/2018/08/refugiados-venezuelanos-sao-agredidos-e-expulsos-de-tendas-em-roraima.shtml ǀ acesso 15/10/2018
Fonte: Folha de São Paulo ǀ disponível em https://www1.folha.uol.com. br/mundo/2018/08/refugiados-venezuelanos-sao-agredidos-e-expulsos-de-tendas-em-roraima.shtml ǀ acesso 15/10/2018
Além da precariedade na prestação de serviços públicos, escassez de alimentos e dificuldade em se abrigarem, os venezuelanos enfrentam a xenofobia em algumas cidades brasileiras, ocasionando confrontos, como mostram a Figura 7 e 8 (FOLHA DE SÃO PAULO, 2018). A tendência é que o número de refugiados aumente, até que se restabeleça a situação política e econômica na Venezuela. O governo federal declarou estado de calamidade social devido à grande quantidade de pessoas que estão cruzando a fronteira do estado (G1, 2018).
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Com o objetivo de coletar e processar informações sobre os Venezuelanos no Brasil, a Organização Internacional para as Migrações (OIM, 2018) realizou um levantamento com 3.516 pessoas, em dois municípios (Boa Vista e Pacaraima) do estado de Roraima, no período entre 25 de janeiro a 8 de março de 2018. Desse recorte, 97% dos entrevistados eram venezuelanos, sendo o restante composto por colombianos, peruanos, chilenos entre outros. Através desses dados foi possível criar um perfil dos venezuelanos que se encontram no Brasil e suas principais necessidades conforme ilustram as tabelas.
Idade
Gênero
71% Entre 25 - 49 anos 22% Entre 15 - 24 anos 7% Mais de 50 anos
58% Masculino 41% Feminino - 3% Mulheres Grávidas 1% Trans/Outro
Estado Civil
Família
50% 43% 6% 1%
40% Com grupo familiar 40% Sozinho 20% Com outro grupo
Solteiro Casado Divorciado Viúvo
Nível de Escolaridade 51% Secundário 26% Superior 12% Primário
8% Técnico 2% Pós-graduação 1% Nenhum
Grupo Étnico* 82% 8% 7% 3%
Mestiço ou afrodescendente Não respondeu ou Não sabe Branco Indígena
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TEMPO NO BRASIL POR STATUS MIGRATÓRIO 37%
MENOS DE 1 MÊS DE 1 A 6 MESES DE 6 A 12 MESES MAIS DE 12 MESES
13%
46%
8% 27%
8% 37%
40% 3%
15% 3%
8%
43%
2%
22%
49%
19%
Sem status regular de imigração
Com visto de turista
Solicitação de refúgio
Solicitação de residente
Residente (RNE, RG)
Outro
4% 13%
Perseguição: 1% Outro: 1% Razões familiares: 2% Violência: 7%
RAZÕES PARA DEIXAR O SEU PAÍS
Falta de acesso a alimentos e serviços médicos: 22%
Razões econômicas e laborais: 67%
SITUAÇÃO LABORAL NO BRASIL E NÍVEL DE ESCOLARIDADE Outro 1% Não escolarizado 0,15%
Secundária 50%
Primária 12%
Desempregado 57% Pós - graduação 9%
Superior 28%
Primária 14% Superior 23% Empregado 42% Secundária 54%
Não escolarizado 0,71% Técnico 7% Pós-graduação 1%
2.5. SOLUÇÕES DE ABRIGOS EMERGENCIAIS O abrigo é imprescindível em situações de emergência e vital no amparo às vítimas. Nas ocorrências de fenômenos naturais e não naturais, como as guerras, as estratégias usadas para auxiliar as pessoas são semelhantes. Os sobreviventes podem passar por situações simples, como estragos superficiais em suas moradias até a completa devastação, sendo necessário uma relocação por inteiro (ANDERS, 2007). Com o passar dos anos, a intensificação dos conflitos armados e ocorrências de fenômenos naturais no mundo produziu uma grande quantidade de projetos de abrigos emergenciais. O que pode ser comprovado pela enorme quantidade de patentes adquiridas. Porém, grande parte delas não apresentam soluções práticas, segundo Feres (2014). Sucede que, as empresas são seduzidas pelas inúmeras possibilidades de design, que podem combinar soluções contemporâneas à tecnologia moderna, préfabricação, mobilidade entre outros quesitos. Porém, falham pela ingenuidade em imaginar uma situação de crise (PRIZEMAN, 2003 apud FERES 2014, p.53). Cada agência de assistência tem um arquivo cheio de ideias brilhantes enviadas por estudantes de pós-graduação, designers industriais e arquitetos, que oferecem a solução definitiva para os problemas de moradia do mundo. Milhares de desenhos e conceitos foram elaborados,
alguns foram desenvolvidos e até mesmo alguns chegaram ao campo (PRIZEMAN, 2003 apud FERES, 2014, p.53, traduzido pelo autor).
A eficiência dos abrigos está diretamente conectada às necessidades das vítimas. Em situações de emergência os abrigos devem possuir critérios que implicarão diretamente em sua construção e logística: I.
Fornecimento rápido
II.
Baixo Custo
III.
Exequibilidade
IV.
Adaptabilidade
Para a construção dos abrigos emergenciais, devese considerar a complexidade em que se encontram as vítimas. Para isso, os materiais precisam ser providenciados de maneira rápida, considerando peso e tamanho pois influenciam diretamente na agilidade em que são fornecidos. É cada vez mais corriqueiro a utilização de materiais disponíveis localmente pois, desta maneira, há redução no custo e no tempo de fornecimento, além do seu uso ser familiarizado pela população afetada. No entanto, o uso intenso e continuo desses materiais pode provocar uma elevação nos preços e impactos no meio ambiente (ANDERS, 2007).
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL Ao pensar em arquitetura, normalmente associase a mesma a espaços estáticos. Porém, a arquitetura enquanto objeto pode apresentar mobilidade, desde que, em sua elaboração sejam contempladas premissas como a portabilidade, desmontagem, reutilização de materiais, entre outros aspectos. A arquitetura móvel possui uma vasta aplicabilidade, desde estruturas performativas ou transitórias, como protótipos de resposta humanitária, abrigos temporários, clínicas hospitalares móveis, escolas itinerantes e etc. (ZIEBELL, 2010). A Figura 9 apresenta um módulo produzido em impressora 3D desenvolvido pelo Departamento de Energia dos EUA em parceria com o
Laboratório Nacional de Oak Ridge. O AMIE (Additive
Manufacturing Integrated Energy), como foi batizado, é capaz de produzir e armazenar energia renovável, além de transmiti-la via wireless e pode ser atrelada a veículos para ser transportada. Kronenburg (1995) define arquitetura móvel como aquela que pode ser montada, desmontada e conduzida
Figura 9 - Módulo fabricado em impressora 3D, AMIE
Fonte: Casa Vogue ǀ disponível em: https://casavogue.globo.com/Arquitetura/noticia/2016/02/uma-construcao-movel-e-inovadora-feita-com-impressao-3d.html ǀ acesso 10/10/2018
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novamente para outro lugar. Ele classifica as edificações móveis segundo a sua forma de montagem e quesitos gerais em quatro tipos: Módulos (module), pacotes (flatpack), tensionados (tensile) e infláveis (pneumatic). 2.5.1. MÓDULOS (Module) O sistema Module se restringe a unidades que são entregues praticamente prontas para utilização, dispensando a montagem in loco. Os materiais mais utilizados nesse sistema construtivo se tratam da madeira e o aço, devido aos seus pesos serem significativamente inferiores, comparados ao da alvenaria. O transporte
Figura 10 - Modulo pré-fabricado de uso habitacional Fonte: Embraloc Soluções Modulares ǀ disponível em: http://embraloc. com.br/modulos-pre-fabricados/ ǀ acesso 10/10/2018
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL dessas estruturas é feito por caminhão e, dependendo da dificuldade de acesso ao local, também pode ser realizado por meio de helicóptero ou avião, conforme ilustrado na Figura 10 (ANDERS, 2007). 2.5.2. PACOTES (Flat-Pack)
Figura 11 - Abrigo desmontado, sistema Flat-pack Fonte: New Atlas ǀ disponível em: https://newatlas.com/disaster-emergency-relief-shelter-best/40699/#gallery ǀ acesso 10/10/2018
Figura 12 - Abrigo montado, sistema Flat-pack Fonte: New Atlas ǀ disponível em: https://newatlas.com/disaster-emergency-relief-shelter-best/40699/#gallery ǀ acesso 10/10/2018
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As unidades Flat-pack, são similares ao sistema Module. Porém, tem como diferencial a maneira como é transportado para o local. Todos os componentes que fazem parte da unidade são entregues desmontados, o que significa que seu tamanho é relativamente menor ao ser deslocado. Os materiais utilizados no Flat-pack
também são semelhantes aos do Module, entretanto, o que interfere diretamente em sua eficiência é o procedimento de montagem, exemplificado na Figura 11 e 12 (ANDERS, 2007). 2.5.3. TENSIONADOS (Tensile) O sistema Tensile é indicado para situações que necessitam de espaços mais flexíveis. Usualmente, esse sistema utiliza uma armação rígida que sustenta uma membrana, estruturando-se por meio de compressão. Para a armação, os materiais mais comumente utilizados são o aço e alumínio, e para a membrana, lona ou poliéster Figura 13 - Montagem de abrigo com lona tensionada
Figura 14 - Abrigo de lona tensionada finalizado Fonte: AEC Web ǀ disponível em: https://www.aecweb.com.br/emp/cont/m/sistemas-modulares-para-abrigos-versateis-e-seguros_34431_12099 ǀ acesso 10/10/2018
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL reforçado com PVC. O Tensile é a solução mais empregada em abrigos emergenciais, devido a sua estrutura leve e fácil de montar, atrelada ao baixo custo, como mostra a Figura 13 e 14 (ANDERS, 2007). 2.2.4. INFLÁVEIS (Pneumatic) O sistema pneumático ou inflável funciona de maneira semelhante ao Tensile. Sua estruturação acontece devido à pressão exercida pelo ar diretamente na membrana. Esse sistema permite a criação de grandes estruturas por conta da facilidade de montagem. Seu
Figura 15 - Abrigo inflável da empresa Holstroy Fonte: Arch Expo ǀ disponível emhttp://www.archiexpo.com/pt/prod/holstroy/product-158169-1929209.html ǀ acesso 11/10/2018
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49
3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL peso é um diferencial, considerado bastante leve, facilita ainda mais seu transporte. Contudo, para que o sistema funcione, é necessário suprimento de energia constante, como mostra a Figura 15 (ANDERS, 2007).
Figura 16 - Protótipo Puertas
3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS Existe uma série de propostas de abrigos emergenciais desenvolvidas, com um elevado número de patentes adquiridas nos últimos anos, porém, poucos deles realmente são úteis no cotidiano (FERES, 2014). Para que um abrigo funcione, este deve respeitar alguns condicionantes fundamentais, como: fatores climáticos, aspectos culturais e sociais dos locais em que serão implantados, assim como facilidade de manuseio e montagem (ANDERS, 2007). Com base nessas informações, esse capitulo analisará três modelos de abrigos existentes. O principal objetivo é identificar pontos positivos e negativos de cada proposta, verificando sua funcionalidade, logística, materiais, dimensionamento, conforto térmico, luminotécnico e custo aproximado.
3.1. PROTÓTIPO PUERTAS 3.1.1. INFORMAÇÕES GERAIS O Protótipo Puertas foi desenvolvido pela equipe Pelayo Fernandez, Soffia Daniel, Nicolas Venegas e
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Fonte: Plataforma Arquitectura ǀ disponível em https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-38122/prototipo-puertas-vivienda-de-emergencia-para-casos-catastroficos-cubo-arquitectos/nor-oriente ǀ acesso 21/10/2018
supervisionados por Contreras R. Salim, profissionais que fazem parte do escritório de arquitetura Cubo. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Universidade Central do Chile - UCC no ano de 2005. O conceito é desenvolver uma edificação que atenda de 4 a 6 pessoas, utilizando materiais de fácil acesso e que possua baixo custo, conforme mostra a Figura 16. 3.1.2. MATERIAIS Segundo os arquitetos, a construção do protótipo pode ser realizada com materiais comuns em depósitos
Figura 17 - Isometria explodada do Protótipo Puertas Fonte: Plataforma Arquitectura ǀ disponível em https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-38122/prototipo-puertas-vivienda-de-emergencia-para-casos-catastroficos-cubo-arquitectos/nor-oriente ǀ acesso 21/10/2018
de material de construção. A base é desenvolvida com pallets de madeira estruturada com pilares em Pinus. Os pisos e as paredes são de placas OSB4. As janelas se tratam de aberturas de piso ao teto, vedadas com plástico bolha. Já as portas, são convencionais de bater, também em madeira Pinus. A cobertura é construída com perfis circulares de metal, cobertos com uma manta plástica. O 4 OSB – Oriented Strand Board é um material derivado da madeira, composto por lascas de madeira, orientadas em camadas cruzadas, elas são coladas e compresadas garantindo alta resistência ao material.
período de montagem do protótipo pode durar até 8 horas e o esquema de montagem está representado na Figura 17. 3.1.3. CONFORTO TÉRMICO E LUMINOTÉCNICO O Protótipo Puertas é composto basicamente por madeira. Um material com grande versatilidade de uso e propriedades, entre elas, apresentar um bom desempenho como isolante térmico. A madeira pode ser utilizada em climas quentes e frios, devido a sua baixa condutividade
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL Figura 18 - Vista lateral do Protótipo Puertas
Fonte: Plataforma Arquitectura ǀ disponível em https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-38122/prototipo-puertas-vivienda-de-emergencia-para-casos-catastroficos-cubo-arquitectos/nor-oriente ǀ acesso 21/10/2018
térmica. Outro fator que favorece o conforto térmico no projeto é a cobertura suspensa da edificação, proporcionando uma constante ventilação. Por conter grandes aberturas, o Puertas utiliza bastante a luz natural difusa (devido ao plástico bolha), dispensando o uso de luz artificial durante o dia. 3.1.4. CUSTO De acordo com escritório Cubo, o valor aproximado para a construção do Protótipo Puertas é de US$ 305,46, o que pode ser considerado um valor baixo. Entretanto, o preço pode sofrer variações dependendo da localidade onde será implantado e a demanda de materiais naquela região.
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3.1.5. ANÁLISE E CONCLUSÃO De acordo com o escritório Cubo, o valor aproximado para a construção do Protótipo Puertas é de US$ 305,46, o que pode ser considerado um valor baixo. Entretanto, o preço pode sofrer variações dependendo da localidade onde será implantado e a demanda de materiais naquela região.
3.2. TRANSITIONAL SHELTER – TS200 3.2.1. INFORMAÇÕES GERAIS O TS200 ou Transitional Shelter, é um dos produtos da empresa alemã Losberger, especializada em soluções modulares para uso temporário e permanente como mostra a Figura 19. O abrigo tem capacidade para 5 pessoas, e requer pelo menos 3 pessoas para sua montagem, totalizando 2 horas para instalação completa do abrigo. Tem como conceito uma edificação durável, custando duas vezes menos que abrigos convencionais, podendo ser transportada de maneira fácil, ser reutilizada e dispensando o uso de material local.
3.2.2. MATERIAIS A produção do Transitional Shelter -TS200 é relativamente simples, aplicando apenas dois materiais em sua construção: alumínio e lona. A estrutura do abrigo é composta por perfis de alumínio, parafusados um ao outro, compondo desde a ancoragem no solo até a cobertura. Para realizar as vedações, a empresa alemã utilizou uma lona composta de algodão, poliéster e polietileno. Na base do abrigo, é empregada apenas uma lona de polietileno, contudo, em ambientes úmidos, o fabricante recomenda a utilização de uma plataforma elevada a ser construída com 30 painéis de 30 cm x 120 cm de madeira OSB conforme exemplificado na Figura 20.
Figura 19 - Transitional Shelter TS200
Figura 20 - TS200 construído sobre plataforma elevada
Fonte: Transitional Tent ǀ disponível http://www.transitionaltent.org/ ǀ acesso 21/10/2018
Fonte: Transitional Tent ǀ disponível http://www.transitionaltent.org/ ǀ acesso 22/10/2018
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL 3.2.3. CONFORTO TÉRMICO E LUMINOTÉCNICO
Figura 21 - Interior do abrigo TS200
O TS200 pode ser classificado como um abrigo tensionado (Tensile), ou seja, suas vedações são compostas por lonas estruturadas. A versatilidade do material pode ser considerada um atrativo. Entretanto, seu uso em determinados locais pode acarretar problemas. Isso ocorre devido à lona possuir uma baixa inércia térmica, fazendo com que o calor se propague com facilidade para dentro do abrigo. Em climas frios, há grande perda de calor do interior para o exterior. Em uma tentativa de amenizar os efeitos causados em climas quentes, o Transitional Shelter conta com aberturas na parte frontal, posterior e na cobertura, proporcionando uma troca de ventilação. Essas aberturas auxiliam na iluminação do abrigo, assim como o próprio material que compõem as paredes e teto, já que apresentam uma propriedade translúcida, onde a luz se propaga para o interior de maneira difusa, como mostra a Figura 21 e 22.
Fonte: Transitional Tent ǀ disponível http://www.transitionaltent.org/ ǀ acesso 22/10/2018 Figura 22 - Abertura superior do abrigo TS200
Fonte: Transitional Tent ǀ disponível http://www.transitionaltent.org/ ǀ acesso 22/10/2018
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3.2.4. CUSTO O site do fabricante não especifica o valor para a compra do modelo TS200, porém comparado a outros modelos de abrigos no mercado, o preço médio pode variar entre US$ 500,00 e US$ 800,00. 3.2.5. ANÁLISE E CONCLUSÃO O Transitional Shelter é um modelo de abrigo emergencial simples, a baixo custo e que pode ser transportado e montado rapidamente em qualquer localidade. Classificado como um abrigo tensionado (Tensile), o produto da empresa alemã Losberger tem como premissa ser uma resposta rápida aos refugiados, mas, a extrema simplificação construtiva do TS200, interfere diretamente em sua durabilidade em campo, variando entre 6 a 8 meses de acordo com o clima. A lona como material principal, faz com que a utilização do abrigo seja restrita a locais com temperatura média de 20°C devido às propriedades térmicas do material, o que pode dificultar sua implementação em alguns países.
inicial foi construir 1000 casas para atender às vítimas do terremoto que ocorreu no Haiti no ano de 2010. A construção leva cerca de 1 dia para ser finalizada e pode acomodar até 8 pessoas em beliches. A logística aplicada na produção das habitações, contou com a instalação de uma fábrica próximo à cidade de Porto Príncipe no Haiti. Após a confecção das peças, a distribuição foi realizada por caminhões até as cidades afetadas, classificando o Le Cabanon como um Module conforme mostra a Figura 23. 3.3.2. MATERIAIS O projeto conta com painéis isolantes autoportantes de até 4 polegadas, feitos com fibra de vidro de alta Figura 23 - Le Cabanon em fase de finalização
3.3 LE CABANON 3.3.1. INFORMAÇÕES GERAIS O Le Cabanon é um projeto desenvolvido pelo arquiteto americano Andres Duany em parceria com a fabricante de painéis compostos Innovida. O objetivo
Fonte: Inhabitat ǀ disponível https://inhabitat.com/1000-duany-shelters-to-be-donated-to-haiti/ ǀ acesso 03/11/2018
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ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL Figura 24 - Composição dos painéis do Le Cabanon
Figura 25 - Abertura frontal do Le Cabanon
Fonte: Inhabitat ǀ disponível https://inhabitat.com/1000-duany-shelters-to-be-donated-to-haiti/ ǀ acesso 03/11/2018
Fonte: Inhabitat ǀ disponível https://inhabitat.com/1000-duany-shelters-to-be-donated-to-haiti/ ǀ acesso 03/11/2018
resistência coberta com uma resina epóxi polimérica resistente ao fogo. O núcleo dos painéis é composto por espuma de construção, similar à espuma de Poliuretano, usada corriqueiramente no preenchimento de portas e janelas na construção civil, conforme mostra a Figura 24. Segundo a fabricante, Innovida, a tecnologia empregada no Le Cabanon é a mesma utilizada na indústria da aviação e aerogeradores.
conforto térmico através da ventilação cruzada.
3.3.3. CONFORTO TÉRMICO E LUMINOTÉCNICO O Haiti é um país localizado na América Central, próximo ao Caribe e Cuba. Suas temperaturas, durante quase todo o ano, se mantém acima dos 30oC. Os painéis autoportantes compostos de espuma e fibra de vidro desempenham um papel de isolante térmico na edificação, funcionando em conjunto com as aberturas que promovem
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A edificação possui uma grande abertura na parte frontal, protegida por uma porta, que ao levantada, produz sombra e que também é responsável por levar luz para dentro da construção (Figura 25). 3.3.4. CUSTO O custo para o desenvolvimento do Le Cabanon pode variar entre US$ 2.500,00 e US$ 10.000,00. Alguns modelos podem ser customizados podendo incluir banheiros e espaços maiores, como exemplificado na Figura 26. 3.3.5. ANÁLISE E CONCLUSÃO O Le Cabanon é um projeto contemporâneo e pode
Figura 26 - Modelo customizado do Le Cabanon
Fonte: Inhabitat ǀ disponível https://inhabitat.com/1000-duany-shelters-to-be-donated-to-haiti/ ǀ acesso 03/11/2018
ser considerado uma boa resposta às vítimas do terremoto no Haiti, ocorrido em 2010. A elaboração da proposta, com base nos perfis das famílias haitianas, é um diferencial, pois demonstra preocupação com os aspectos sociais por parte dos desenvolvedores. A logística para a produção e distribuição dos abrigos é um fator questionável, tendo em vista os custos para implementação de uma fábrica em território Haitiano. Além disso, o impacto ambiental causado pela empresa e pelos materiais que compõem os painéis autoportantes contribuiu negativamente para o projeto. Mesmo atendendo às necessidades climáticas, as habitações precisariam ser trocadas e os materiais descartados na natureza, após determinado tempo.
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4 PROPOSTA
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL localização fronteiriça com a Venezuela (EL PAÍS, 2018).
4. PROPOSTA 4.1. ÁREA DE INTERVENÇÃO Após análise e levantamento de dados, é possível criar um panorama da situação dos refugiados no Brasil. Por meio dessas informações, é possível definir estratégias e desenvolver planos de ajuda humanitária para essas pessoas. Atualmente, a cidade de Boa Vista, estado de Roraima, é a cidade que mais recebe refugiados no país, devido ao agravamento da instabilidade política, e por sua
Com base nos dados levantados e com a premissa de desenvolver um modelo de abrigo temporário eficiente, todos os esforços desse trabalho acadêmico serão direcionados ao intuito de amenizar o sofrimento dos refugiados venezuelanos situados no norte do país, com ênfase na cidade de Boa Vista, RR. 4.1.1. ASPECTOS AMBIENTAIS Como visto, ao projetar um abrigo, é preciso considerar diversos fatores, como clima, cultura, tempo
Figura 27 - Localização de Boa Vista, Roraima
Fonte: Google Maps ǀ disponível https://www.google.com/maps/place/Boa+Vista,+RR/@-1.2148133,-68.4024224,4.97z/data=!4m5!3m4!1s0x8d9305cacbaaa4db:0xb72e65c7a9d75f45!8m2!3d2.8235098!4d-60.6758331ǀ acesso 04/11/2018
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aproximado de uso, recursos disponíveis, entre outros. Os condicionantes ambientais auxiliam nas decisões que serão adotadas. Por meio dessas informações, identificamse as condições a que a edificação estará sujeita e assim pode-se estabelecer diretrizes a serem adotadas para que o projeto funcione.
e Pará (Figura 27).
A cidade de Boa Vista está localizada na região norte do Brasil, no estado de Roraima. O estado faz divisa com Venezuela e Guiana e com os estados do Amazonas
a Figura 28 e 29. Os ventos predominantes é outro fator importante a ser considerado, pois pode ser usado como estratégia para se atingir conforto térmico. Em Boa Vista,
Por sua proximidade com a linha do equador, o clima predominante na região é o clima equatorial, que tem como característica ser quente e úmido, com pouquíssima definição entre as estações, tendo temperatura média de 27oC e precipitação durante todo ano, como mostra
Figura 28 - Temperatura de Boa Vista, RR
DADOS CLIMÁTICOS 32 30 28
26 24 22 20
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHOA
OAGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
Zona de Conforto (ºC) Temp. bulbo seco méd. mensal (ºC) Temp. bulbo úmido méd. mensal (ºC)
Fonte: Projeteee ǀ disponível http://projeteee.mma.gov.br/dados-climaticos/?cidade=RR+-+Boa+Vista&id_ cidade=bra_rr_boa.vista.816150_inmetǀ acesso 03/11/2018
63
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL Figura 29 - Precipitação de chuva em Boa Vista, RR
DADOS CLIMÁTICOS
500
400
300
200
100
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses Prec. de chuva mensal (mm)
Fonte: Projeteee ǀ disponível http://projeteee.mma.gov.br/dados-climaticos/?cidade=RR+-+Boa+Vista&id_ cidade=bra_rr_boa.vista.816150_inmetǀ acesso 03/11/2018
os ventos predominantes são o nordeste e o leste, com intensidade de 0 – 4 m/s durante todo ano (PROJETEEE, 2018). Para se atingir o conforto térmico na cidade de Boa Vista, duas principais estratégias bioclimáticas são
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sugeridas pela plataforma Projeteee5: a ventilação natural6 e o sombreamento7 da edificação. 5 Projeteee é a primeira plataforma nacional cuja finalidade é fornecer suporte didático e possibilitar que profissionais da construção civil integrem a seus projetos a variável da eficiência energética especialmente através de elementos bioclimáticos. 6 A ventilação natural consiste na troca de ar entre o ambiente interno e externo promovendo a troca de calor e consequentemente controle térmico na edificação. 7 O sombreamento é uma estratégia que tem como finalidade evitar o ganho de calor por meio da envoltória da edificação e de mecanismos que bloqueiem os raios solares incidentes na fachada.
4.1.2. ASPECTOS SOCIAIS Compreender os aspectos sociais é vital na elaboração de abrigos emergenciais. Incluir as características culturais ao projeto faz com que os usuários se apropriem da obra (ANDERS, 2007). Com base nisso, ainda que de maneira informal, foram entrevistados 3 venezuelanos a fim de se compreender um pouco sobre a cultura desse país: Daniel Nadales, Maribel Lopéz e José Rosale. Quando questionados sobre suas vidas cotidiana em seu país natal, houve unanimidade nas respostas ao dizerem sobre a importância do convívio social, e a maneira como as pessoas são muito interativas e receptivas na Venezuela. Eventos esportivos e datas comemorativas, como o natal, também são pontos marcantes na cultura do país.
4.2.DIRETRIZES Para a elaboração do protótipo, foram estabelecidas algumas diretrizes, que aplicadas, irão abranger diversos aspectos relevantes para o funcionamento eficaz do abrigo: I. Utilização de materiais de baixo custo e com pouco impacto ambiental; II. Module;
Logística facilitada através do sistema
III.
Montagem intuitiva e simplificada;
IV.
Possuir resistência contra incêndios;
V.
Comportar no mínimo 4 pessoas;
VI.
Possuir durabilidade de no mínimo 1 ano;
VII. Permitir aos usuários realização de tarefas como dormir, alimentar e interagir socialmente; e VIII. Possibilitar aos usuários a customização dos seus abrigos.
IV.3. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA
O projeto foi humanizadas, sendo:
estruturado
em
4
pranchas
• Prancha 1: Contexto, conceito, programa de necessidades e materiais; • Prancha 2: O abrigo, logística, montagem, custo e durabilidade; • e sociais; •
Prancha 3: Implantação, aspectos culturais Prancha 4: Detalhes técnicos, layout e corte.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseado nos estudos realizados no decorrer desse trabalho, é possível concluir a importância da assistência humanitária às vítimas de distúrbios geopolíticos, guerras e desastres naturais. Os abrigos desempenham um importante papel na prestação de socorro, acolhimento e sobrevivência dessas pessoas. O projeto tem como objetivo ser uma resposta humanitária eficaz, atendendo à necessidade de moradia dos refugiados venezuelanos no norte do Brasil, oferecendo a esse grupo de pessoas, um abrigo de emergência acolhedor, seguro e agradável. A elaboração do projeto foi fundamentada em diretrizes, onde foi definido que é preciso garantir uma logística simplificada, facilidade de construção e manutenção, conforto térmico e lumínico, assim como a preocupação com os aspectos culturais dos seus usuários. Em súmula, o projeto pode contribuir significativamente para o acolhimento dos refugiados no norte do Brasil. A elaboração de um bom conceito é decisivo na concepção das diretrizes que norteiam o projeto. Buscando através da arquitetura emergencial, uma segunda chance aos refugiados venezuelanos.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARQUITETURA EMERGENCIAL – EDIFICAÇÕES PARA PESSOAS EM VULNERABILIDADE SOCIAL 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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