Manual da Nova Ortografia

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Acordo ortográfico

Apresentação

O que muda

Artigo

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Presidente: Roberto Civita Diretor Executivo: David Saad Conselheiros:

Roberto Civita, Giancarlo Francesco Civita, Victor Civita, Roberta Anamaria Civita, Maria Antonia Magalhães Civita, Claudia Costin, Claudio de Moura Castro, José Augusto Pinto Moreira, Marcos Magalhães e Jorge Gerdau Johannpeter

Diretor de Redação: Gabriel Pillar Grossi Redatora-chefe: Denise Pellegrini Diretora de Arte: Manuela Novais Consultora Pedagógica: Regina Scarpa Editores: Paola Gentile, Ricardo Falzetta (on-line),

Rodrigo Ratier e Ronaldo Nunes (projetos especiais) Editores-assistentes: Arthur Guimarães (on-line) e Beatriz Vichessi Repórteres: Amanda Polato (estagiária), Ana Rita Martins,

Anderson Moço, Beatriz Santomauro, Gustavo Heidrich (on-line) e Thais Gurgel (projetos especiais) Editores de Arte: Sonia Schwartz (projetos especiais) e Vilmar Oliveira

Carta ao leitor

Designers: Fernanda Vidal e Julia Browne Desenvolvedores Web: Leonardo Lima e Thiago Barbosa de Moura Atendimento ao Leitor: Marina Simeoni

Para consultar sem moderação

Escrever bem é cada vez mais importante, tanto nas relações de trabalho quanto nos contatos com os amigos. Quem domina corretamente as palavras tem mais chances de crescer profissionalmente e merece o reconhecimento de todos à sua volta. E, porque não é fácil dominar todas as regras, cada proposta de reforma na língua preocupa (e às vezes assusta) tanta gente. É o que vai ocorrer mais uma vez nos próximos meses, com a entrada em vigor de um acordo ortográfico fechado entre os oito países que têm no português seu idioma oficial. Para ajudar você a entender melhor essas mudanças, NOVA ESCOLA e as editoras Ática e Scipione uniram-se na produção deste Manual da Nova Ortografia, o primeiro do gênero no Brasil. Aqui você encontra um breve histórico das transformações pelas quais a língua portuguesa passou, os próximos passos do tratado que muda o jeito de escrever as palavras, as principais alterações previstas pelo acordo e um artigo exclusivo sobre o impacto desses ajustes na vida de todos nós. Tenho certeza de que você vai querer guardar esta edição especial para ler e consultar sem moderação. Boa leitura e um grande abraço,

COMERCIAL Gerente de Publicidade: Sandra Moskovich Publicidade: Fernanda Sant’Anna Rocha Gerente de Publicações: Mirian Di Nizo Gerente de Assinaturas: Rosana Berbel Assistente de Circulação e Marketing: Elizabeth Sachetti Pacotes de Assinaturas: Cynthia Vasconcellos Processos Gráficos: Vanildo Carvalho Analista de Planejamento e Controle Operacional:

Kátia Gimenes

edição especial

manual da nova ortografia Diretor de Redação: Gabriel Pillar Grossi Diretora de Arte: Manuela Novais Designer: Fernanda Vidal Colaboraram nesta edição: Mariana Sgarioni (textos e edição),

Miguel Sanches Neto (texto), Ana Maria Herrera, Andrea Damasco, Carlos Rosa, Helia Gonsaga, Lavínia Fávero, Miriam Aboes, Roberta Martins, Roberta Vaiano, Sueli Campopiano, Teresa Porto (equipe Abril Educação) e Rosângela Ducati (revisão)

Diretor Geral: Mauro Calliari Diretor de Marketing: Marcelo Luciano Martins Diretor Editorial: Aurelio Gonçalves Filho NOVA ESCOLA edição especial Manual da Nova Ortografia (EAN

789-3614-05169/7) é uma publicação da Fundação Victor Civita. Distribuída em todo o país pela Distribuidora Nacional de Publicações (Dinap S.A.), São Paulo. NOVA ESCOLA não admite publicidade redacional. IMPRESSA NA DIVISÃO ­GRÁFICA DA EDITORA ABRIL S.A.

Ga­briel Pil­lar Gros­si Diretor de Redação

Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, CEP 02909-900, Freguesia do Ó, São Paulo, SP AGOSTO, 2008


Acordo ortográfico – Apresentação Acordo vem para unificar a ortografia oficial dos países de língua portuguesa e aproximar nações

Língua internacional

feiura

km

pela

exato

rio e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é a unificação da grafia de algumas palavras.

POR MARIANA SGARIONI

A adopção de uma única ortografia entre países de língua portuguesa pode ser óptima.” Se este texto fosse escrito em Portugal, a frase anterior estaria corretíssima. Já no Brasil, a letra p (nas palavras adopção e óptima) está sobrando e parece um erro de digitação – apesar de todos sabermos que se trata do mesmo idioma. Do ponto de vista da ortografia, existem diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. E não apenas entre os dois países. Nas outras seis nações que falam e escrevem o português (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) ocorre o mesmo. Para acabar com essas diferenças, foi criado, em 1990, um acordo ortográfico – que deve vigorar no Brasil a partir do ano que vem (saiba mais sobre os próximos passos da implementação do acordo no quadro da página 7). “A existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público”, defendia o filólogo Antônio Houaiss, o principal responsável pelo processo de unificação aqui no Brasil. Originalmente, o combinado era que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deveriam ratificar o acordo para que ele tivesse valor. Em 2004, porém, os chefes de Estado da CPLP decidiram que bastava a aprovação de três nações para a reforma ortográfica entrar em vigor. O Brasil, no entanto, definiu que mudaria o jeito de escrever somente se Portugal também o fizesse (e o “sim” de Lisboa às novas normas só veio no ano passado). É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulá-

Daqui para a frente, a língua portuguesa (comum aos países lusófonos) tem tudo para ganhar espaço – até mesmo em fóruns internacionais –, pois o intercâmbio de informações e textos ficará mais fácil. Unificar a grafia também visa aproximar as oito nações da CPLP, reduzir custos de produção e adaptação de livros e facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias, bem como simplificar algumas regras (que suscitam dúvidas até entre especialistas). Do ponto de vista prático, ganha força o idioma falado no Brasil. Isso porque os portugueses terão de promover mais mudanças na escrita do que nós, adaptando várias palavras à grafia brasileira. Por exemplo, acção passa a ser ação. E cai também o h inicial de herva e húmido (confira as alterações a partir da página 8). O português é a única língua com dois cânones oficiais ortográficos, um europeu e outro brasileiro, e isso não só dificulta nossa vida lá fora como também a dos estrangeiros que querem aprendêlo. “Inscreve-se, finalmente, a língua portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia”, afirma Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Além da unificação da grafia, o acordo propõe simplificar o idioma, no mesmo espírito do que ocorreu na década de 1910, quando uma reforma semelhante alterou o modo de escrever palavras como pharmacia e christallino (para farmácia e cristalino, sem o ph, o ch e o ll). Na época, porém, as mudanças foram encabeçadas por Portugal, que não consultou o Brasil e acabou aprofundando algumas diferenças ortográficas.

ideia

Kuwait antirreligioso

coletivo tranquilo

enjoo

Um novo jeito de escrever

pera

voo sagui

autoestrada 1500 1580 1700 1759 A história da língua portuguesa no Brasil Desde que os portugueses chegaram a este lado do Atlântico, há cinco séculos, muita coisa mudou no jeito de falar

Os cerca de 5 milhões de indígenas que aqui viviam, distribuídos em mais de 1 500 povos, falavam em torno de mil línguas de vários grupos lingüÍsticos

Começa a ser registrada a Língua Geral Paulista, difundida por padres jesuítas e bandeirantes. “Tucuriuri” significava “gafanhotos verdes”

Surgem registros da Língua Geral Amazônica, de base tupinambá, e do dialeto de Minas, misto de português com o Evé-fon, trazido por escravos africanos

O Marquês de Pombal promulga lei impondo o uso da língua portuguesa, mas ainda coexistem NO PAÍS DIVERSOS idiomas indígenas e africanos

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O acordo prevê simplificações (como o fim do trema), mas tem inúmeros pontos obscuros, que só serão esclarecidos com o lançamento de gramáticas atualizadas e um novo Vocabulário Ortográfico oficial (tarefa a cargo da Academia Brasileira de Letras). O professor Pasquale Cipro Neto é um dos que se manifestaram contra o documento. “Ele não se limita a uniformizar a grafia: estabelece outras alterações no sistema ortográfico, várias delas para pior.”

O que muda daqui para a frente

Tempo de adaptação

em 1980 e consumiram dez anos de negociações

Aqui no Brasil, a última grande reforma do idioma foi realizada em 1971, a fim de aproximar mais nosso jeito de escrever do de Portugal. Desde então foi abolido o acento diferencial em alguns vocábulos, bem como o acento grave ou circunflexo nas palavras derivadas de outras acentuadas – mais de dois terços dos acentos que causavam divergências foram suprimidos. Nessa mesma época os substantivos acôrdo e govêrno viraram acordo e governo (perderam o circunflexo que os diferenciava das formas verbais eu acordo e eu governo, que eram e continuam sendo pronunciadas de forma diferente). Outras palavras, como somente, propriamente, rapidamente, cortesmente, sozinho, cafezinho e cafezal, também deixaram de ser acentuadas. Naquela ocasião, muitas pessoas estranharam a alteração (sem falar que diversos materiais impressos, como livros, levaram um bom tempo até ter novas edições com o jeito certo de escrever). Até hoje, aliás, ainda há quem escreva êle, com o circunflexo extinto no início dos anos 1970. Nas próximas páginas, você vai conhecer (de forma simplificada) as mudanças trazidas pelo acordo, com exemplos de grafias atuais e de como vamos passar a escrever. São regras bastante fáceis, mas que precisam ser bem compreendidas para ser usadas corretamente em textos produzidos no papel ou na tela do computador. Guarde este manual e consulte-o sempre que necessário.

Congresso Nacional aprovou o texto em 1995, mas

1808 1850 A chegada da família real é decisiva para a difusão da língua: são criadas bibliotecas, escolas e gráficas (e, com elas, jornais e revistas)

imigrantes europeus aportam em grande número no país, incentivando transformações no idioma com a introdução de diversos estrangeirismos

Dezenove anos depois de sua elaboração, tratado deve enfim sair do papel em 2009 Não é de hoje que os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pensam em unificar as ortografias de nosso idioma. Os trabalhos da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa tiveram início até o acordo ortográfico ficar pronto. No Brasil, o sua implementação ficou “na gaveta”, à espera da aprovação pelos parlamentares de Portugal. Agora, basta um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que a nova grafia entre em vigor no país (até o fechamento desta edição não havia uma data determinada, mas a previsão é que isso ocorra em 2009). Mesmo sem o decreto presidencial, a Comissão de Língua Portuguesa (Colip), do Ministério da Educação, já propôs que a reforma entre em vigor no próximo dia 1º de janeiro. Estima-se que o período de transição para a nova norma dure três anos. Se a proposta do MEC for cumprida, todos os textos produzidos a partir de 2009 terão de ser impressos segundo as novas regras lingüísticas. Vestibulares, concursos e avaliações poderão aceitar as duas grafias como corretas até 31 de dezembro de 2011. Quanto aos livros didáticos, deve haver um escalonamento. A partir de 2010 os alunos de 1º a 5º ano do Ensino Fundamental receberão os livros dentro da nova norma – o que deve ocorrer com as turmas de 6º a 9º ano e de Ensino Médio, respectivamente, em 2011 e 2012.

1922 1988 1990 A Semana de Arte Moderna leva o português informal para as artes. A crescente urbanização e o surgimento do rádio ajudam a misturar variedades lingüísticas

A Constituição garante a preservação dos dialetos de grupos indígenas e remanescentes de quilombos. Hoje Ha 180 línguas indígenas e mil quilombolas

Com a TV presente em mais de 90% dos lares, não se constata isolamento lingüístico. Começa a nascer a linguagem rápida usada na internet


Acordo ortográfico – O que muda l

Acentuação

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nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com o u tônico

precedido das letras g ou q e seguido de e ou i. Esses casos são pouco freqüentes na língua portuguesa: apenas nas formas verbais de

Acento agudo

argüir e redargüir.

O acento agudo desaparece das palavras da língua portuguesa em três casos, como se pode ver a seguir: l

nos ditongos (encontro de duas vogais proferidas em uma só sílaba)

abertos ei e oi das palavras paroxítonas (aquelas cuja sílaba pronunciada com mais intensidade é a penúltima).

COMO é hoje

COMO VAI FICAR

assembléia heróico idéia jibóia

assembleia heroico ideia jiboia

no entanto, as oxítonas (palavras com acento na última sílaba)

e os monossílabos tônicos terminados em éi, éu e ói continuam com o acento (no singular e/ou no plural). Exemplos: herói(s), ilhéu(s),

chapéu(s), anéis, dói, céu.

l

nas palavras paroxítonas com i e u tônicos que formam hiato (se-

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COMO é hoje

COMO VAI FICAR

argúis argúem redargúis redargúem

arguis arguem redarguis redarguem

Acento diferencial O acento diferencial é utilizado para permitir a identificação mais fácil de palavras homófonas, ou seja, que têm a mesma pronúncia. Atualmente, usamos o acento diferencial – agudo ou circunflexo – em vocábulos como pára (forma verbal), a fim de não confundir com para (a preposição), entre vários outros exemplos. Com a entrada em vigor do acordo, o acento diferencial não será mais usado nesse caso e também nos que estão a seguir:

qüência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes) com a

l

péla (do verbo pelar) e pela (a união da preposição com o artigo);

vogal anterior quando esta faz parte de um ditongo;

l

pólo (o substantivo) e polo (a união antiga e popular de por e lo);

l

pélo (do verbo pelar) e pêlo (o substantivo);

l

pêra (o substantivo) e péra (o substantivo arcaico que significa pe-

COMO é hoje baiúca boiúna feiúra

COMO VAI FICAR baiuca boiuna feiura

dra), em oposição a pera (a preposição arcaica que significa para).

no entanto, duas palavras obrigatoriamente continuarão recebendo o acento diferencial: l

no entanto, as letras i e u continuam a ser acentuadas se

formarem hiato mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de s. Exemplos: baú, baús, saída.

No caso das palavras oxítonas, nas mesmas condições descritas no item anterior, o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, Piauí.

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pôr (verbo) mantém o circunflexo para que não seja confundido

com a preposição por; l

pôde (o verbo conjugado no passado) também mantém o cir-

cunflexo para que não haja confusão com pode (o mesmo verbo conjugado no presente). Observação: já em fôrma/forma, o acento é facultativo.

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Acento circunflexo

COMO é hoje

nas palavras terminadas em oo.

COMO VAI FICAR

enjôo vôo abençôo corôo magôo perdôo

enjoo voo abençoo coroo magoo perdoo

aguentar eloquente frequente linguiça sagui sequestro tranquilo anhanguera

agüentar eloqüente freqüente lingüiça sagüi seqüestro tranqüilo anhangüera

Com o acordo ortográfico, o acento circunflexo não será mais usado

COMO é hoje

COMO VAI FICAR

no entanto, o acordo prevê que o trema seja mantido em nomes próprios de origem estrangeira, bem como em seus derivados. Exemplos: Bündchen, Müller, mülleriano.

Da mesma forma, deixa de ser usado o circunflexo na conjugação da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados.

COMO é hoje

COMO VAI FICAR

crêem dêem lêem vêem descrêem relêem revêem

creem deem leem veem descreem releem reveem

no entanto, nada muda na acentuação dos verbos ter, vir e seus derivados. Eles continuam com o acento circunflexo no plural (eles têm, eles vêm) e, no caso dos derivados, com o acento agudo nas formas que possuem mais de uma sílaba no singular (ele detém, ele intervém).

Trema

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Um sinal a menos

Hífen

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Palavras compostas O hífen deixa de ser empregado nas seguintes situações: l

quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa

com as consoantes s ou r. Nesse caso, a consoante obrigatoriamente passa a ser duplicada; l

quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa

com uma vogal diferente.

COMO É HOJE anti-religioso anti-semita auto-aprendizagem auto-estrada contra-regra contra-senha extra-escolar extra-regulamentação

COMO VAI FICAR antirreligioso antissemita autoaprendizagem autoestrada contrarregra contrassenha extraescolar extrarregulamentação

O trema, sinal gráfico de dois pontos usado em cima do u para indicar que essa letra, nos grupos que, qui, gue e gui, é pronunciada, será abolido. É simples assim: ele deixa de existir na língua portuguesa. Vale lembrar, porém, que a pronúncia continua a mesma.

no entanto, o hífen permanece quando o prefixo termina com r (hiper, inter e super) e a primeira letra do segundo elemento também é r. Exemplos: hiper-requintado, super-resistente.

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Alfabeto

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no entanto, em alguns casos em que a letra c é pronunciada, seu uso poderá ser facultativo. Exemplos: facto, sector.

Novas letras

O acordo prevê também dupla grafia (ou seja, a forma de escrever

O acordo prevê que nosso alfabeto passe a ter 26 letras – hoje são 23. Além das atuais, serão oficialmente incorporadas as letras k, w e y. No entanto, seu emprego fica restrito a apenas alguns casos, como já ocorre atualmente. Confira os principais exemplos: l

em nomes próprios de pessoas e seus derivados; Exemplos: Franklin, frankliniano, Darwin, darwinismo, Wagner,

é opcional, conforme o uso mais comum em cada local) nas palavras proparoxítonas cuja vogal tônica admita mudança de timbre. Exemplos: acadêmico (ou académico, grafia mais comum em Portugal), cômodo (ou cómodo), ingênuo (ou ingénuo), oxigênio (ou oxigénio). As chamadas proparoxítonas aparentes também permitem dupla grafia: gênio (ou génio), insônia (ou insónia).

wagneriano, Taylor, taylorista, Byron, byroniano. l

em nomes próprios de lugares originários de outras línguas e seus

derivados; Exemplos: Kuwait, kuwaitiano, Washington, Yokohama, Kiev. l

em símbolos, abreviaturas, siglas e palavras adotadas como unida-

des de medida internacionais; Exemplos: km (quilômetro), KLM (companhia aérea), K (potássio), W (watt), www (sigla de world wide web, expressão que é sinônimo para a rede mundial de computadores). l

em palavras estrangeiras incorporadas à língua. Exemplo: sexy, show, download, megabyte.

O que muda em Portugal

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Considerações gerais

quer saber mais? Portal da Língua Portuguesa

http://www.portaldalinguaportuguesa.org O site do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal traz o acordo oficial, assinado pela Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, na íntegra. Contém ainda acordos anteriores, como o de 1945, e um histórico das reformas ortográficas do português. Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_ Ortogr%C3%A1fico_de_1990 A página da enciclopédia livre Wikipedia é bem completa. Traz detalhes das mudanças, histórico, negociações entre os governos e a situação em Portugal, além de diversos links de referências.

Boa parte das mudanças previstas no novo acordo não afeta o português escrito no Brasil, mas tem relação direta com a grafia atual das palavras em Portugal. Um exemplo é a eliminação da letra h no início de palavras como

herva e húmido (que há muito tempo são erva e úmido por aqui e passarão a ser escritas só dessa forma em todos os países lusófonos). Além disso, como regra geral, desaparecem o c e o p das palavras

Jornal Público http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/acor doOrtografico.aspx Link elaborado pelo jornal português Público que traz algumas das principais perguntas e respostas sobre o acordo.

COMO É HOJE

COMO VAI FICAR

Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/ sys/start.htm?tpl=home No site da Academia Brasileira de Letras há textos sobre a aprovação do texto e um link para você enviar dúvidas sobre os pontos obscuros do acordo.

acção aflicto colectivo director exacto baptizar

ação aflito coletivo diretor exato batizar

Comissão de Língua Portuguesa http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option =content&task=view&id=693&Itemid=303 Página oficial da Comissão de Língua Portuguesa (Colip), do Ministério da Educação, órgão responsável pela implantação do acordo no Brasil.

em que essas letras não são pronunciadas.

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Artigo

Uma questão de tempo

D

POR Miguel Sanches Neto

emorei para aprender ortografia. E essa aprendizagem contou com a ajuda dos editores de texto, no computador. Quando eu cometia uma infração, pequena ou grande, o programa grifava em vermelho meu deslize. Fui assim me obrigando a escrever minimamente do jeito correto. Mas de meu tempo de escola trago uma grande descoberta, a do monstro ortográfico. O nome dele era Qüeqüi Güegüi. Sim, esse animal existiu de fato. A professora de Português nos disse que devíamos usar trema nas sílabas qüe, qüi, güe e güi quando o u é pronunciado. Fiquei com essa expressão tão sonora quanto enigmática na cabeça. Quando meditava sobre algum problema terrível – pois na pré-adolescência sempre temos problemas terríveis –, eu tentava me libertar da coisa repetindo em voz alta: “Qüeqüi Güegüi”. Se numa prova de Matemática eu não conseguia me lembrar de uma fórmula, lá vinham as palavras mágicas. Um desses problemas terríveis, uma namorada, ouvindo minha evocação, quis saber o que era esse tal de Qüeqüi Güegüi. – Você nunca ouviu falar nele? – perguntei. – Ainda não fomos apresentados – ela disse. – É o abominável monstro ortográfico – fiz uma falsa voz de terror. – E ele faz o quê? – Atrapalha a gente na hora de escrever. Ela riu e se desinteressou do assunto. Provavelmente não sabia usar trema nem se lembrava da regrinha. Aos poucos, eu me habituei a colocar as letras e os sinais no lugar certo. Como essa aprendizagem foi demorada, não sei se conseguirei escrever de outra forma – agora que teremos novas regras. Por isso, peço desde já que perdoem meus futuros erros, que servirão ao menos para determinar minha idade. – Esse aí é do tempo do trema.

Miguel Sanches Neto é escritor, crítico literário e professor de Literatura Brasileira. Nasceu em 1965 em Bela Vista do Paraíso, PR. Autor, entre outros, dos romances Chove Sobre Minha Infância, Um Amor Anarquista e A Primeira Mulher, lançou em 2008 a novela juvenil Amor de Menino (todos pela Ed. Record). Mantém o site www.miguelsanches.com.br.

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