“Magliani em ‘71”- Luiz Carlos Felizardo
Magliani Exposição homenagem
28 de maio a 12 de julho de 2013
Pinacoteca Aldo Locatelli Paço dos Açorianos Centro Histórico - Porto Alegre - RS
Textos
André Seffrin Denise Mattar Ivo Bender Jacob Klintowitz João Carlos Tiburski Julio Castro
Luiz Carlos Felizardo Luiz de Miranda Renato Rosa Sergius Gonzaga Teresa Poester
“Magliani em ‘71” - Luiz Carlos Felizardo Fotografias - Sala da Fonte Performance - Izabel
Ibias
Curadoria: Renato Rosa
UMA GRANDE MULHER A obra de Magliani se impõe em sua época. Tudo que produziu a partir da década de 1960 exorciza a dor provocada por conflitos e pressões sociais, mas traz também, de maneira avassaladora, o encontro com o outro e consigo própria. Privilegiando a representação da figura humana, tratou de observar o cotidiano e, a partir daí, não teve pudores em explicitar as angústias de quem viveu sob uma ditadura e muitas crises econômicas. Primeira mulher negra a se formar no Instituto de Artes da UFRGS, desde jovem foi paradigma de uma geração. Produziu intensamente, mas nem por isso deixou de enfrentar dificuldades de toda ordem. O drama da existência é explicitado na sua pintura, nos seus desenhos e nas suas gravuras. Não era afeiçoada a tons menores, não tinha papas na língua e tampouco economizava energia nas pinceladas. Quem teve oportunidade de visitar a exposição retrospectiva, realizada no Paço dos Açorianos, entre maio e junho de 2013, foi impactado por uma obra que merece ser alçada a um grande destaque no cenário cultural brasileiro. Pelo constatado na reação do público, cada vez mais Magliani obterá o merecido reconhecimento, não apenas pela grande artista que foi, mas, acima de tudo, por haver sido uma grande mulher.
Roque Jacoby
Secretário da Cultura de Porto Alegre
Sem título da série Ela - 1980 pastel s/papel - 28,0 x 43,0 cm Col Renato Rosa
A FORÇA DO GESTO Artista completa, Magliani atuou em vários domínios. Notabilizada pela pintura, desenho e gravura, também produziu cenografia e ilustração editorial. Mergulhou na interioridade psíquica expressando a realidade do mundo com cores fortes e dissonantes. Portadora de um tom dramático e de vigorosa força expressiva, abordou ao limite a condição humana. Desenvolveu trajetória pontuada por momentos formalmente distintos, porém entrelaçados por um pensamento coerente. Ainda aluna no Instituto de Artes, como tantos de sua geração, foi influenciada por Ado Malagoli. Porém logo superaria a técnica espatulada do mestre: na década de 1970, brotaram da transparência das pinceladas corpos de volumes acentuados construídos com o velho e bom claro-escuro. Ao mesmo tempo em que eram perfeitamente construídos e munidos de forte nota de sedução, Magliani insinuava – por meio de elementos que fustigavam esses corpos - que não eram imagens doces. Gerava imagens de sedução sim, mas com muita dor. Adiante explorou outra ordem construtiva, com a cor assumindo papel decisivo. Acabaram as transparências, e a pincelada passou a resolver a construção da figura. A sua obra estava definitivamente marcada pela vertente expressionista. No desenho, o traço era nervoso e, na pintura, a força do gesto era notória. Mesmo em meio às cores luminosas da série Praias, o biquini surge de duas ou três pinceladas certeiras e com grande carga dramática. A figura humana preponderava. Quando não explícita, surgia por associação crítica, como na série Acumulações, na qual o sutiã - ícone referente ao universo feminino - é questionado como convenção cultural. Magliani conferiu forma à dor. Às vezes, até na representação de um beijo, podia ser materializado o sofrimento. Isto é nítido numa de suas últimas obras, Cirurgia, na qual a fria cor esverdeada envolve e oprime a personagem representada. Para além da subjetividade, enfrentou repressões e tabus, tanto em sua obra quanto em sua vida. O teor erótico ou o prazer dos corpos em repouso de muitos de seus trabalhos evidenciam que a artista utilizou todos os instrumentos ao seu alcance para conferir matéria à vida. Por esses motivos, para a Coordenação de Artes Plásticas da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, foi uma dupla satisfação produzir a exposição de Magliani na Pinacoteca Aldo Locatelli e promover a edição do presente catálogo, necessário registro para a história da arte no Brasil.
Anete Abarno
Coordenadora de Artes Plásticas
Flávio Krawczyk
Diretor do Acervo Artístico
Auto-Retrato / Lídia na areia - 2000 óleo s/tela - 98,5 x 78,0 cm Col. Otávio Beylouni
A nossa Maria Lidia Magliani. Jacob Klintowitz É provável que seja estarrecedor, mas eu fiquei mais chocado comigo mesmo com a notícia da morte de Maria Lidia Magliani do que com a sua própria morte: não sei por que eu a imaginava imortal. No momento em que recebi a notícia percebi que não era plausível aquela morte. Ela não parecia ser para sempre? É provável que eu simplesmente imaginasse que tínhamos o tempo da eternidade para refazer os nossos fios de comunicação. Não ocorre isto com todos nós? Adiamos certas coisas e de repente o tempo está esgotado. A Magliani tinha esta atitude formidável e pouco brasileira de não rir para a máquina fotográfica. Isto sempre me agradou muito: não era uma artista que pretendia irradiar bom humor e otimismo. Eu tomei contato maior com o seu trabalho num Júri, em Porto Alegre, e a premiamos. O seu desenho tinha um raro brilho e era evidente que se tratava de uma artista intensa e de talento vigoroso. E de incisiva individualidade. É um tipo de artista que segue em frente, independente de qualquer obstáculo. Desde então eu a acompanhei, mesmo de longe, nos seus caminhos e descaminhos. A sua rota foi de sofrimento tão intenso quanto o seu talento. Ela não tinha paradeiro, ou não lhe davam o acolhimento necessário. Como saber? As suas dificuldades me comoviam. E a sua obra, mais ainda. Tinha uma obra de força impar, de corte expressionista, e me parecia uma artista marcada pelo sul. Os nossos invernos, as estações bem definidas, a solidão da planície pampeira, a tradição de cultivar o essencial, o asceticismo da formação gaúcha, tudo me fazia acreditar que ela bem representava o sul. Nos nossos poucos contatos pessoais ela não declarava esta afinidade. E nem outras, na verdade. Emergia apenas a sua áspera relação com o cotidiano. Uma vez me irritou a sua ênfase no feminismo, assunto que me parecia menor do que o seu talento. E ela, por sua vez, ficou magoada com a minha irritação. Tolices infantis. Não será mais possível acolher a Magliani e o seu olhar tão sério, ou dela se deixar acolher. Agora só é possível organizar a visão do seu percurso, refletir sobre o seu trabalho, apresentar a linguagem dessa artista de alta qualidade. Acho que esta tarefa deve ser liderada pelo Rio Grande do Sul. Até para que não se cumpra a profecia sombria de J. L. Borges no seu conto, “Sul”, onde nos diz que o que nós amamos nos mata.
Sem título - sem data acrílica s/tela - 23,0 x 19,0 cm Col. Renato Rosa
Magliani: a maquiagem definitiva “Se muito vale o já feito, mais vale o que será.” Milton Nascimento A pintora Maria Lídia dos Santos Magliani pintou muito. Pintou-se muito. Mas também desenhou bastante, gravou e desenhou-se. Sua imagem aparece em muitos de seus últimos trabalhos, especialmente em suas gravuras, sempre xilos. Em todo o seu percurso ouvi de muitas vozes, como se fossem queixas, que sua obra era por demais autorreferente...como se isso fosse demérito quando exatamente percebo nessas situações um dos grandes méritos de Magliani. Ela denunciava a solidão das cidades e não escondia sua própria solidão, isso perpassa em sua obra e ditou sua vida pessoal. Foi uma opção consciente já que beleza física nunca lhe faltou. Lembro a Magliani lírica dos iniciais anos 60 portando em suas telas poemas, verdadeiras mensagens, cartas, narrativas de solidão. Nessa exposição será vista a série justamente nominada como “Cartas” e isso remete às ditas queixas de que ela era muito literária. Mas qual artista não “conta” uma história tornando como “norma”, suas histórias pessoais? Picasso, por exemplo, devassava sua vida sexual. A vida de um artista e sua obra, sabemos, é feita de denúncias, alertas, toques, exibe, expressa o que lhe incomoda no mundo; tentativa permanente de diálogo entre o que ele faz e quem vê. Portanto, a presente exposição reflete um caráter, uma situação particular. Ela foi realizada com amor, agradecimento, raiva, pena, indignação, desespero, revolta, senso de justiça, loucura, reconhecimento, misturou-se muitos sentimentos para que esses trabalhos entrassem em cena!!! Temos então uma Magliani, mesmo parcial, por inteiro.
1960
Sem título - 1965 óleo s/tela - 54,0 x 45,0 cm Col. Anaurelino Corrêa de Barros Neto
Sem título - anos 60 óleo s/tela - 44,0 x 35,5 cm Col. Cacaio Praetzel
Sem título - 1969 óleo s/tela - 20,5 x 67,5 cm Col. Decio Presser
Rerato da amiga não de todo morta - sem data óleo s/tela, - 45,0 x 38,0 cm Col. Francisco Alberto Torres
Inútil pureza nascida de dois silêncios - 1967 óleo, areia e objetos s/tela, - 67,0 x 49,0 cm Col. particular - Porto Alegre
Diálogo II - 1967 óleo s/tela - 55,0 x 46,5 cm Col. Luiz Carlos Lisboa
Especialmente para Renato Rosa - 1967 贸leo s/madeira - 21,0 x 16,0 cm Col. Renato Rosa
O encanto do encontro est谩 no canto ou no pranto? - 1966 贸leo s/tela - 49,0 x 60,0 cm Col. Renato Rosa
1970
Andando - 1977 贸leo s/tela - 47,5 x 47,5 cm Col. Luiz In谩cio de Medeiros
Arquivo: Luiz Felizardo
“Tinha feito as fotografias para um audiovisual que o Signovo projetara para Lojas Renner, FUTURA 70. Sei lá se as fotografias eram boas, ou criativas, mas, nas fraldas da fotografia, eu achava que o assunto – moda – dava um espaço para o autor que outras áreas da fotografia comercial não davam. Dois outros trabalhos da mesma época abordavam ideias similares, e a qualidade das fotografias parecia progredir. No ano seguinte, resolvi fazer, “por conta própria”, um ensaio com imagens correlatas, investigando as alterações que alguns procedimentos provocavam no grão e na cor das fotografias. Usei algumas imagens existentes e, para fazer as coisas novas, convidei uma amiga próxima, a Magliani. Fotografamos em dois lugares, uma casa abandonada ao lado do meu estúdio, e, para o PATO MACHO, em preto-e-branco, o antigo Colégio Anchieta, na Duque de Caxias, já sem uso. Naquele tempo, eu namorava – ou pensava em namorar – uma amiga muito próxima da Magliani; a gente passava horas tocando, ouvindo música e conversando sobre arte, que elas já faziam e que eu ainda não sabia que viria a fazer. As fotografias que venceram o teste do tempo foram aquelas feitas no Anchieta, no preto-e-branco ao qual eu iria me dedicar com um pouco mais de competência nos anos seguintes – fotografias com que homenageio a figura de cabelos afro, magrinha e expressiva que eu conheci no começo dos anos ‘70.”
Sem título - sem data desenho a nanquim s/papel - 22,5 x 33,0 cm Col. Júlio Zanotta Vieira
Sem título - 1977 desenho a nanquim s/papel - 30,0 x 21,0 cm Col. Jones Lopes da Silva
Figura - 1978 desenho e pastel s/papel - 63,5 x 46,0 cm Col. Carlos Schmidt
Sem título - sem data nanquim s/papel - 23,5 x 14 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 1979 óleo s/tela - 69,0 x 48,5 cm Col. Luiz Inácio de Medeiros
Estudo p/retrato de Valdir Zwetsch - 1972 nanquim s/papel - 16,0 x 18,0 cm Col. Júlio Zanotta Vieira - São Paulo
Sem título - sem data nanquin, hidrocor e colagem s/papel - 26,0 x 34,0 cm Col. Júlio Zanotta Vieira
Ilustração para conto de Renato Rosa publicado em Caderno de Cultura ZH - 1970 nanquim s/papel - 24,0 x 31,5 cm Col. Renato Rosa
Ela - 1979 acrĂlica s/tela - 64,0 x 33,5 cm Col. Affonso Saraiva de Moraes - Porto Alegre
Sem título - 1979 pastel oleoso s/papel - 32,0 x 46,5 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data pintura objeto - 47,5 x 20,5 cm Col. Paulo Gasparotto
Sem título - 1976 acrílica s/madeira - 15,0 x 27,0 cm Col. Ney Gastal
Sem título - 1971 acrílica s/eucatex - 44,0 x 20,5 cm Col. Luiz Paulo Vasconcellos
Sem t铆tulo - 1978 贸leo s/tela - 59,0 x 49,5 cm Col. Cacaio Praetzel
Sem título - 1978 óleo s/cartão - 52,0 x 37,5 cm Col. Cacaio Praetzel
Sem título - 1978 óleo s/cartão - 38,0 x 52,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 1972 acrílica e nanquim s/cartão recortado - 31,5 x 15,0 cm Col. Cacaio Praetzel
Obra alusiva aos 30 anos de criação do Estado de Israel. Sem título - 1978 óleo s/tela - (40,0 x 70,0 cm) - (30,0 x 70,0 cm) - (40,0 x 70,0 cm) Col. Instituto Cultural Judaico Marc Chagall - Porto Alegre
Pequena história da infância (menina) - 1978 colagem e óleo s/papel - 54,5 x 40,5 cm Col. Franco Moraes da Costa
Pequena história da infância (menino) - 1978 colagem e óleo s/papel - 42,5 x 31,0 cm Col. Renato Rosa
Objeto de cena - 1976 óleo s/tela - 54,5 x 40,5 cm Acervo MACRS
Sem t铆tulo - 1978/79 贸leo s/tela - 59,0 x 49,0 cm Col. Ivan Pinheiro Machado
Objeto de Cena - 1977 acrílica, pastel oleoso, nanquim e lápis de cor - 49,0 x 67,5 cm Acervo MACRS
Sem t铆tulo - 1977 贸leo s/tela - 59,0 x 80,5 cm Acervo Pinacoteca APLUB
1980
Sem tĂtulo - 1984 acrĂlica s/madeira - 69,5 x 50,0 cm Col. Martin Stribel
Fotografia de Roberto Grillo, publicada na FM - 1979
Sem título - “Pro Renato, com um beijo” - 1983 nanquim e aquarela s/papel - 26,0 x 15,5 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 1984 acrílica s/tela - 48,5 x 65,5 cm Col. Sergio Pacheco
Figura - 1986 pastel s/papel - 50,0 x 47,5 cm Col. Carlos Schmidt
Sem t铆tulo - 1987 贸leo s/tela - 99,0 x 99,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 1984 acrílica s/tela - 37,0 x 54,0 cm Col. Anete Abarno
Sem título - 1984 óleo s/tela - 15,2 x 106,0 cm Col. Particular
Cabeรงa - 1986 nanquim aguado s/papel - 45,0 x 45,0 cm Acervo Instituto Henrique Fuhro
Duas figuras e seta - 1982 pastel oleoso s/papel - 55,0 x 76,0 cm Col. Asher Rubin
Sem t铆tulo - 1987 贸leo s/tela - 120,0 x 99,0 cm Col. Particular
Sem tĂtulo (figura feminina) - sem data recorte em madeira pintada, com volume - 67,5 x 32,0 cm Col. Renato Rosa
Uma noite de muito trabalho - 1984 guache s/eucatex - 94,0 x 34,0 cm Col. Martin Streibel
Sem Título - 1984 acrílica s/madeira - 38,5 x 32,0 cm Col. Ivo Bender
Sem título - 1984 pastel s/ madeira - 39,5 x 33,0 cm Col. Martin Streibel
Nº 529 - 1984 óleo s/tela - 79,0 x 119,0 cm Col. Luiz Inácio Medeiros
Sem título - 1985 Acrílica s/tela - 75,0 x 94,0 cm Col. Renato Rosa
Encontros numa esquina - 1980 litogravura 02/30 - 68,0 x 48,0 cm Col. Arnaldo Buss
Mergulhando - 1980 giz, pastel e guache s/cart達o - 63,0 x 46,0 cm Col. Arnaldo Buss
Sem título - 1983 acrílica s/tela - 119 x 119,5 cm Col. Paulo Gasparotto
Meu idioma é a imagem Artistas como Thomas Mann e Picasso já disseram muitas vezes que a arte é uma poderosa arma contra a mentira, o ódio, a violência, a estupidez e a falta de dignidade do homem. A arte de Magliani pode ser definida como uma arte-arma empenhada nessa luta. Esta entrevista foi elaborada ouvindo o público que visitou a mostra Auto-retrato dentro da jaula, de Magliani, no MARGS. Tiburski – Afinal, quem é a Magliani? Magliani – A maior parte do tempo me vejo como alguém em descompasso com o presente alheio. Nem sempre o que me interessa e ocupa é o mesmo que preocupa as pessoas mais próximas no momento. Isto provoca desencontros freqüentes, arestas difíceis de aparar. Mas não sei como me definir deste ou daquele jeito. Ficariam faltando muitos “eus” que não conheço, que ainda não encontrei. Não vejo nada de extraordinário nisto, suponho que aconteça com todos. Para alguns, os obstáculos são maiores ou menores, mais ou menos duradouros; os objetivos, mais ou menos definidos. Não separo a artista da pessoa. Sou toda um mesmo nó – minha escolha é pintar, não saberia como ser de outro modo. Aparentemente fiz e faço muitas outras coisas, na verdade, todas partes de uma só, a pintura. Tudo o que quero neste momento é pintar e tenho dificuldade em compreender por que é preciso falar tanto sobre uma linguagem que não pertence ao mundo da palavra. Não entendo a necessidade da palavra autenticando ou explicando a imagem, uma linguagem dependendo de outra. Acho importante quando falam sobre o que o meu trabalho move em cada um, independentemente de sua cultura ou formação. Sou eu que estou querendo perguntar, não explicar. Não sou eu que tenho as respostas, mas talvez cada um de nós encontre a sua, desde que se ouça e continue se perguntando sempre. Prefiro ouvir, saber como os demais estão vendo e saber em que sentido ou medida estou acrescentando ou não. Meu idioma é a imagem, a forma, a procura de um alfabeto próprio através da cor. O que eu penso e elaboroestá no meu trabalho, o que eu tentar decodificar é redundância. Minha palavra é minha música, minha dança está aí; se não está claro, é porque eu não soube passar ou os outros ainda não souberam ver. Faço a minha parte e quero que aqueles que passam a conviver com o resultado me mostrem de que modo os atinge, que apresentem suas próprias conclusões. Uma troca: teu olho – minha mão.
Tiburski – Magliani, como foi o teu início, pintando lá no Bairro Sarandi? Costumo ignorar as fronteiras, elas não se formam na minha cabeça e não empresto um significado especial a este ou àquele bairro, cidade, país, minha pátria é ter nascido. Sei pouco demais sobre o planeta para afirmar que pertenço a ele. Sou natural de todas as estrelas que posso ver e minha curiosidade é conhecer o outro lado delas. Ter começado a andar em Pelotas, a ler na Floresta, pintar no Sarandi, dançar nos Moinhos de Vento, expor no Menino Deus, me apaixonar na rua da Praia não são determinantes, tudo poderia teracontecido em qualquer outro lugar. Me decepcionar na rua Coronel Vicente ou na avenida São João dói do mesmo jeito. O lugar sou eu em qualquer parte, é em mim que as coisas acontecem ou esquecem de acontecer. Tiburski – E a negritude, o feminismo e a ecologia na tua obra? Na questão sobre a ideologia da negritude, existe uma confusão grave: o movimento não nega a cor branca nem qualquer outra, apenas afirma os direitos da raça negra ainda esquecidos, mesmo num país mestiço, e reivindica a igualdade para todas as raças. Meu trabalho expressa ou pretende expressar a mim como um todo. Logo, estão incluídas nele todas as minhas descobertas, dúvidas e preocupações – também o feminismo, a ecologia e a negritude. Estão, incluídos com todas as coisas que me formaram até aqui, mas não estou interessada em fazer panfleto de nada, não sou militante de nenhum movimento específico. Pratico minhas idéias, não gosto de proselitismo. Me interessa sempre a essência do humano, que não é divisível em credos, raças e ideologias. Ser uma pessoa de cor negra não interfere em nada na minha pintura e não entendo a sempre presente preocupação das pessoas com este aspecto. É minha vez de perguntar: por que parece tão excepcional que um negro pinte? Por que a condição racial dos artistas de cor branca nunca é mencionada? Por que sempre me perguntam como é ser negra e ser artista? Ora, é igual ao ser de qualquer outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo mundo. A diferença quem faz é a mídia. É “normal” ser branco, e, portanto, é natural que o branco faça tudo, mas, quando se trata de um negro, age como se fosse algo fantástico, um fenômeno — o macaco que pinta! Não gosto disto.
Tiburski – E o artista e a situação nacional? Acredito que o artista plástico está convivendo com a situação nacional da mesma forma que todo mundo – mal. Sofrendo as mesmas preocupações, as mesmos inseguranças. Está apreensivo com a indefinição econômica, decepcionado com os governantes e sem ilusões em relação à Assembléia Constituinte. E não se pode negar que já se viu muitas cenas desse filme como a sucessão de pacotes e a volta triunfal da censura. Público – Por que você não pinta paisagens? Alguém me pergunta por que não pinto paisagens. Já pintei, sim, aquarelas, e não descarto a possibilidade de voltar a elas. Não tenho nenhum preconceito contra paisagens e paisagistas, apenas no momento estou interessada na figura humana, acho uma forma inesgotável. Para a exposição do MARGS, foram selecionados trabalhos de várias fases, onde a figura feminina está presente, mas isto não significa que eu não pesquise outras formas. Público – Magliani, você estudou artes no exterior? Quanto aos meus estudos, minha formação foi feita aqui, nunca estive no exterior. Meu trabalho, sim, tem viajado bastante e somente agora estou pensando em visitar outros lugares e ver coisas que foram feitas há muito tempo. Milton Kurtz – Como entra a racionalidade no teu trabalho? O Kurtz me indaga sobre onde entra a racionalidade no meu trabalho. Aparentemente é muito intuitivo, impulsivo mesmo, principalmente agora, quando a figura aparece mais solta, a pincelada mais livre. Acho que o racional aparece na elaboração da linguagem plástica, na escolha dos materiais, na maneira de compor os elementos no espaço e na opção por determinadas cores em detrimento de outras. O que aparece como espontâneo na minha pintura é na verdade fruto de muita elaboração plástica e gráfica. O psicológico, filosófico ou sociológico, em que muitos se prendem à primeira vista, não está para mim em primeiro plano neste momento, apenas passa pelas frestas da disciplina, o que considero muito bom, pois do contrário o resultado seria muito frio. Considero que meu trabalho é bastante aberto à interpretação de cada espectador e que cada um vai encontrar nele ou acrescentar a ele as suas prioridades. Para alguns será mais importante a discussão da linguagem em si. Para outros, a investigação da condição humana. Armando Almeida – O visceral trágico do ser humano está sempre presen-
te na tua obra. Afinal, Magliani, há esperanças para o homem? Armando, por exemplo, vê no meu trabalho o mesmo visceral trágico que está presente nas suas gravuras, na carga inconfundível que ele põe na sua goiva, no seu jeito de se imprimir na madeira. E é neste agir sobre a matéria, mais do que pelo tema, que percebo nossas dúvidas. “Afinal, há esperança para os homens?” Não sei, Armando. Talvez nossa função seja continuar perguntando...
João Carlos Tiburski, editor Boletim Informativo do MARGS, nº 32, jan/mar, 1987
Sem título - 1980 acrílica s/tela - 28,5 x 46,0 cm Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli
1990
Personagens de insônia II - 1993 acrílica s/tela - 99,5 x 80,0 cm Col. Sepe Tiaraju Silveira Souza
Sem título - 1992 acrílica s/tela - 50,0 x 50,0 cm Col. Maria Beatriz e Eduardo Irigoryen
sem título - 1998 acrílica s/papel - 28,5 x 28,5 cm Col. Renato Rosa
sem título - 1998 acrílica s/papel - 28,5 x 28,5 cm Col. Renato Rosa
1/figuras - 1998 acrílica a pastel s/papel - 29,0 x 29,0 cm Col. Carlos Schmidt
2/figura - 1998 acrílica e pastel s/ papel - 29,0 x 29,0 cm Col. Carlos Schmidt
Janela de ... - samba - 1989 acrĂlica s/tela - 72,0 x 53,0 cm Col. Claudinho Pereira
Ela - 1998 acrílica, guache, nanquim e grafite s/papel - 25,0 x 27,0 cm Col. Renato Rosa
Janelas, 1999 acrílica s/tela - 99,0 x 79,0 cm Col. Itamara Stockinger
Janela para o jardim - 1994 acrílica s/tela - 99,0 x 79,0 cm Col Rui Spohr
Em Gerais, Flores como Recordações - 1990 pintura s/papel - 49,5 x 69,0 cm Col. Carlos Tenius
2000
Sem título - 2000 guache s/papel - 52,0 x 38,5 cm Col. Téti Waldraff
Magliani se entrega de corpo e alma à arte, sem fingimentos hipócritas. Conhece um e outro, a fundo. Sua criação se insere num expressionismo sangrento, que choca e fere os desavisados e os sectários. Desconhecem os infelizes que uma coisa não invalida a outra, que, muito antes pelo contrário, soma e surge como arte inteira, íntegra e plena. Seus gestos são chicotadas, não em nossos lombos, mas em nossas faces, as cores, agressivas e gritantes, retratam um universo dramático. Há em sua obra segredos des/sacralizados, sonhos censuráveis, há dor e há desesperança. E ainda assim, ou por causa, há uma sensualidade apocalíptica! Vejamos o que dela diz Chico Chaves: Magliani é uma artista que se entrega totalmente ao seu trabalho, sem mentiras nem concessões. Sua obra se insere numa linha expressionista e visceral, que, atualmente, é vista com reservas por uma parcela da crítica e do mercado de arte, mais afeita à obra “limpa” e conceitual. Estruturada na força do gesto largo e das cores audaciosas, a obra de Magliani se desenvolveu durante anos num universo de figuras deformadas, envoltas numa atmosfera dramática. Um mundo de sombras, desejos ocultos, dor e desespero. Na sua nova exposição “Trabalho Manual”, a artista apresenta um conjunto de obras que vem desenvolvendo desde 2001, e que, embora bastante diferente de seu trabalho anterior, guarda com ele uma profunda coerência. “Alfabeto” vem da série “Acumulações”, na qual Magliani reunia elementos do cotidiano explorando suas múltiplas possibilidades de forma. Criando pilhas de objetos, repetidos com pequenas variações, como bules, xícaras ou bolsas, a artista acentuava o excesso que caracteriza nossa sociedade consumista. Em “Alfabeto”, Magliani isola os traços dos objetos, acumula elementos decomp
ostos, reduz o gesto, abandona a cor – cria uma escrita enigmática em preto e branco. Isolamento e solidão são a chave para a compreensão desta nova fase da artista. “Retratos de Ninguém” e “ Todos”, são a rigor, uma mesma série. Nela, todas as figuras trágicas e sofridas de Magliani se rendem à impossibilidade de comunicação, elas se entregam, e se tornam uma multidão de rostos – sem corpo. São rostos anônimos, que não falam, não pensam e nem sequer sofrem. Rostos diferentes mas estranhamente iguais, pequenas ilhas de medo - retratos de ninguém. Ao recortar os rostos, quase monocromáticos, Magliani acentua sua solidão e, chega a um extremo tão dolorido, que eles se tornam paralisados – apáticos. Todos apenas assistem à vida olhando para um mesmo ponto: para nós? para o nada ? ou para uma tela de TV? Segundo Francis Bacon uma boa pintura deve ir do olho do espectador diretamente para o seu estômago, sem passar pelo cérebro, como um soco. É o que faz, mais uma vez, a artista Maria Lídia Magliani.
Denise Mattar Rio, 2004
Sem título - sem data acrílica s/papel - 43,0 x 31,0 cm Col. Cida Moraes
Um de todos - 2001 óleo e acrílica s/madeira recortada - 40,0 x 32,0 (6) cm Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli
Sem título - 2000 acrílica s/papel - 32,5 x 50,5 cm Col. Juarez da Fonseca
Maiúscula - 2003 acrílica s/papel 30,5 x 43,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data acrílica s/papel - 30,0 x 43,5 cm Col. Preta Pereira
Objeto Discreto / Maiúscula - 2001 acrílica e guache s/papel montado em papelão 38,0 x 42,0 cm Col. Renato Rosa
Alfabeto - 2001 óleo s/tela - 80,5 x 150,0 cm Col. Iarema Renderson
Objeto discreto / Alfabeto - 2001 贸leo s/tela - 88,5 x 115,0 cm Col. Renato Rosa
Título - 2001 acrílica s/tela - 57,5 x 87,0 cm Col. Cida Moraes
Sem título da série Acumulações - 2001 acrílica s/papel - 32,5 x 50,0 cm Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli Doação de Francisco Reynaldo Amorim de Barros
Sem título da série Acumulações - 2001 acrílica s/papel - 37,0 x 53,0 cm Col. Renato Rosa
Sem tĂtulo - 2003 nanquim e guache s/papel - 69,0 x 98,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data acrílica s/papel - 13,0 x 18,0 cm Col. Anete Abarno
Mulher - sem data escultura em papier-mâché - 42,0 x 21,0 x 11,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data óleo e pastel oleoso s/cartão - 38,5 x 45,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 2008 acrílica s/tela - 75,0 x 53,0 cm Col. Renato Rosa
Petite Endormie - 2008 óleo s/cartão - 38,5 x 16,0 cm Col. Mariana Praetzel
Sem título da série Adormecidas - 2008 acrílica s/papel - 47,0 x 61,0 cm Col. Cacaio Praetzel
Sem título - sem data acrílica s/papel - dimensões Col. Sandra Dani e Luiz Paulo de Vasconcellos
Cartas - 2010 acrílica s/papel - 22,0 x 31,5 cm Col. Renato Rosa
Cartas - 2010 acrílica s/papel 24,0 x 29,5 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 2000 acrílica s/papel - 23,5 x 29 cm Col. Enio Carvalho - Curitiba PR
Sem título - sem data acrílica s/papel - 24,5 x 17,5 cm Col. Renato Rosa
Jogo na Praia - 2007 acrílica s/papel - 360 x 45,5 cm Col. Raquel Campari Schmiedel
Cirurgia - 2012 acrĂlica s/papel - 78,0 x 53,0 cm Col. Renato Viera
A Praia - 2004 acrílica s/papel - políptico 31,0 x 307,5 cm Col. Renato Rosa
Sem t铆tulo - 2009 xilogravura 1/20 - 25,0 x 30,0 cm Col. Renato Rosa
Figura com fios - 2007/2008 贸leo s/tela - 25,0 x 30,0 cm Col. Itamara Stockinger
Sem título - 2006 acrílica s/papel - 40,5 x 31 cm Col. Cacaio Praetzel
Manhã (versão da pintura “crepúsculo 99/2000”) - 2000 acrílica s/papel - 100,0 x 80 cm Col. Ingrid Króes
Cantiga para Magliani Luiz de Miranda Lídia Magliani, negra e linda, como uma luz cheia, ternura que não finda. Deixou toda a vida em suas eternas telas e o que vela no olho de Deus. Meiga e amorosa, discreta e poderosa, dominava os espaços por onde passava, deixando um perfume de madresselvas em flor e um amor que um dia, em forma de oração, partiu o meu coração. Do livro “Rumos do Fim do Mundo”, começado no Salão do Livro de Paris, em 17 de março de 2011.
Sem título - sem data acrílica e nanquim s/cartão - 11,0 x 9,0 cm Col. Cacaio Praetzel
Sem título - 2000 acrílica s/madeira - 13,5 x 10,0 cm Col. Cacaio Praetzel
Noturna - 2001 acrĂlica s/tela - 100,0 x 99,0 cm Col. Francisco Antonio Stockinger
obras variadas
Objetos
Cais
Espelho
Fogueira
detalhes do biombo
Biombo - Cais, Espelho e Fogueira - 1992 贸leo s/tela - 119,0 x 43,0 cm (3) Col. Aida e Neiss Felix Santin - Porto Alegre
Sem título - sem data papier-mâché - 28,0 x 14,0 x 12,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data acrílica s/papier-mâché - 10,0 x 20,0 cm Col. Maria do Carmos de Oliveira, RJ - Rio de Janeiro
Sem título (cabeça de Renato Rosa) - 1997 papier-mâché - 45,0 x 12,0 x 10,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data acrílica s/papier-mâché - 33,0 x 15,5 x 15,5 cm Col. Maria do Carmos de Oliveira, RJ - Rio de Janeiro
Sem título - sem data sacos plásticos tramados - 59,0 x 24,0 cm Col. Simone Rosa de Oliveira
Sem título - plásticos, tecidos e cordão de nylon - sem data objeto (bolsa) - 51,5 x 58,0 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data patchwork - aberto 42,0 x 81,0 cm Col. Cida Moraes
Sem título - Sem data papier-mâché - 33,0 x 15,5 x 15,5 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 2003 papier-mâché - 38,5 x 11,0 cm Col. Renato Rosa
cilindro recoberto por trançado elaborado com plástico - s/data 20,5 x 7,5 cm Col. Renato Rosa
Sem título - sem data papier-mâché - 24,0 x 10,0 x 8,5 cm Col. Renato Rosa
Sem título - 2001 papier-mâché - 11,5 x 10,5 cm Col. Renato Rosa
Espinho Bambu Floresta - 2002 papier-mâché - 31,0 x 18,0 x 12,0 cm Col. Renato Rosa
Programas, cartazes, etc...
Capa de programa do Teatro leopoldina - 1969 fotoc贸pia de xilogravura - 41,0 x 27,0 cm Col. Renato Rosa
Via Sacra Seis fotografias reproduzindo publicações realizadas na Revista ZH em 22/04/1973 Col. Renato Rosa
Cartaz da exposição “Magliani” - 2008 Pinacoteca Aldo Locatelli
Dia Internacional da Mulher (cartaz) 47,0 x 31,0 cm Col. Renato Rosa
Magliani Conheci Maria Lidia Magliani em meados da década de 1960. Eu lecionava, à noite, num ginásio municipal, no bairro do Sarandi. A irmã de Maria Lidia, Gracinha, era minha aluna e foi por meio dela que comprei um quadro da artista. Era uma pintura em cores lutuosas e mostrava um corpo feminino. Na base da pintura havia uma inscrição feita a estilete na tinta fresca. Dizia “Além de ser a pedra, a flor”. Tornamo-nos amigos, Magliani e eu, e em 1972, trabalhamos juntos. Eu estava dirigindo Antígona, de Sófocles. O grupo era um all star cast: Caio Fernando Abreu, Romanita Disconzi, Vania Brown e Alba Lunardon, entre outros nomes. Para interpretar Tirésias, o adivinho cego, convidei Magliani. Minha ideia era compor o Adivinho como um vidente de candomblé. Magliani aceitou a incumbência e logo percebi o acerto da escolha. A peça foi encenada sobre um longo tapete vermelho, no espaço sagrado de um templo rosacruz . Magliani, como atriz, era intuitiva e muito disciplinada. Sua figura e interpretação foram o momento mais impactante do espetáculo. Magliani era assim: transitava tranquila e eficiente das artes plásticas ao teatro, passando pelo canto nas rodas de amigos. Esse deslocar-se no âmbito das artes teve sua correspondência na vida. Escolhendo a rosa-dos-ventos como mapa, Magliani viveu em diferentes cidades. Era como se, cigana andarilha, a pintora buscasse em diferentes espaços e atmosferas a energia criativa que sempre a caracterizou. Os tons escuros presentes no começo de sua carreira sempre se fariam presentes, mesmo quando a cor passou a lhe ocupar as telas. Já suas figuras humanas aparecem lesadas e nuitas vezes animalizadas. Feridas de morte pela vida, parece não haver saída para elas. No universo em que estão imersas não há redenção. Assim, é possível afirmar que a pintura de Magliani é a crônica pictórica da desesperada insignificância humana, da miséria física e de um vago diabolismo. Magliani partiu discreta e silenciosamente como viveu. Sem alarde, sem fazer o menor ruído, saiu na ponta dos pés. Deixou-nos, porém, um legado precioso: sua obra preenche o vazio deixado e nos conforta na sua ausência.
Ivo Bender maio, 2013
Duas fotografias do cenário da peça “A Libertação do Diretor - Presidente” de Col. Júlio Zanotta Vieira
Estudo para o cenário da peça “A Liberdade do Diretor-Presidente” de - 1979 hidrocor s/papel - 22,5 x 42,0 (3) cm Col. Júlio Zanotta Vieira
“...Magliani, a que sempre esteve acima do bem e do mal, a artista de uma geração, a amarga, a corrosiva, a incontornável Maria Lídia!...Parabéns aos porto-alegrenses que gostam de uma arte produzida para o sofrimento e, ao mesmo tempo, para o máximo deleite...”
Sergius Gonzaga “...Magliani foi uma espécie de ídolo para mim quando jovem e, acredito, para toda uma geração de artistas gaúchos. Lembro dela em alguns encontros casuais ainda aqui em Poa onde ela era a estrela rainha e nós estávamos apenas começando. Eu amava seus desenhos. Décadas depois, morando em Paris, tive uma grande surpresa quando a vi no atelier de um amigo. Logo a reconheci e me apresentei, foi um belo e divertido encontro. Ela estava conhecendo Paris pela primeira vez e comentou que deveria ter ido antes. Penso mesmo que se ela tivesse ido antes seu trabalho e sua trajetória talvez tivessem seguido outro rumo. Ela merecia ter tido essa oportunidade. Comentou também que só tinha conseguido ir naquela ocasião porque vendeste, Renato, dois trabalhos dela e praticamente a obrigaste a viajar com o Julio, que eu já conhecia, para o Portes Ouvertes de Belleville. Falava que estava amando aquela coisa de Madame Mademoiselle para lá e para cá pois, como boa pelotense, adorava uma frescura”.
Teresa Poester artista visual Visceral em tudo que criou, com uma noção muito clara daquilo que em arte é dispensável, Magliani trabalhou sempre na contramão das tendências pré-fabricadas e do comodismo reinante. Foi a sua maneira de manter-se fiel ao que é, ou deveria ser, prioridade na vida, na arte: evitar concessões. Ela própria, certa vez, apontou algumas afinidades eletivas, seus possíveis “irmãos” de alma, ninguém menos que Goya, Artaud, Van Gogh e Hans Bellmer, célebre legião de malditos, de seres deslocados em sua excepcional condição. Desligada das principais correntes da arte contemporânea, é fatal que se reconhecesse assim, entre rebeldes e malditos. Soube contudo navegar as melhores águas da arte moderna, pois sua linhagem ou, se assim podemos dizer, sua tradição na pintura é ainda a de Francis Bacon, Egon Schiele, Lucien Freud, Iberê Camargo ou Gianguido Bonfanti. São os espiões dos universos confinados, pintores da solidão, do desconforto e da fúria do homem em seu restrito espaço, o do corpo. Com essa aura de maldita, característica daqueles que não aceitam, que se revoltam, Magliani marcou seu tempo, e o nosso, com um incomum e quase litúrgico sentido de liberdade. Porque nela se conjugaram extraordinário domínio técnico, inquietude existencial transformada em incômoda vibração de cores e nenhuma condescendência com o que não fosse a sua verdade interior.
André Seffrin Rio, maio de 2013.
artigo de jornal FM, 9 jun 1979, p. 41
Pintora, Companheira, Andarilha, Parceira , Breve história da Infância, Brinquedos de armar, Acumulações, Pelotas, Tiradentes, Porto Alegre, Rio de Janeiro, A praia, Portas Abertas, Alfabeto, Retratos de ninguém, Gerd Bornheim, Caio Fernando, Belleville, Paraty, Artesã, Ilustradora, Atriz, Sedutora, Solidária, Aprendiz, Costureira, Cenógrafa, Santa Teresa, São Paulo, Santo Expedito, Todos, Encontros numa esquina, Cartas, Atelier, Rua Paim, Praia do Peró, Leitora, Estofadora, Lúcida, Doce, Verbo, Sagú, Obstinada, Gravadora, Experiência Múltipla, Retratos falados, Magritte, Bacon, Lapa, Mauá, Lumiar, Tecelã, Desenhista, Na madrugada insone, Giorgione, Nina Simone, Paris, Brasília, Bruxelas, Mundaréu, Como o nosso amor, Procura-se, Magliani.
Julio Castro
maio de 2013
Magliani Sob a minha cabeceira repousa um quadro - pequeno - pintado em papelão. É um quadro escuro, em vermelho e negro, apenas essas duas cores. Que modo sintético e estranho para alguém enviar “uma mensagem”....Não existe figura mas apenas um soutien negro que parece óculos que aprece duas beringelas que parece nada...o fundo vermelho projeta com uma certa violência essa imagem intitulada “Objeto discreto-maiuscula”... Esse quadro, e agora mais que nunca é a presença solitária de Magliani em minha casa. Perfeito, coerente com seu pensamento e linha de vida. Ela jamas abriu mão de sua solidão, muitas vezes comprovadamente - criativa e outras que até podemos advinhar pois era sua escolhe e a isso, respeite-se. Ética, digna, sem fazer concessões, sobreviveu a uma vida dura no Rio de Janeiro. Morreu sozinha num hospital da Tijuca. Tivemos ua amizade bastante duradoura - desde 1965 - até estes últimos dias. Lembro que há pouco mais de um mês discuti (feio e de modo agressivo) com ela porque queria forçá-la a passar alguns dias em Porto Alegre para fazer uma operação (ela era cardíaca e teimosa, fumava) que inventara de adiar...daí a minha indignação porque uma operação no coração não se adia!!! Cult em vida, Magliani teve sempre muitas e boas amizades como a dedicada pelo artista plástico conterrâneo Júlio Castro com quem dividia muitas tarefas artisticas no Atelier 19, muitas delas no exterior. como fizeram na França e na Bélgica e mais recentemente em Porto Alegre através do marchand Sergio Lewgoy, a pessoa que mais apoiou o talento de Magliani nos últmos anos em Porto Alegre. Bravos Sergio!!! Sei que não estou sozinho nesse momento tão delicadoquando perdi uma legítima irmã da vida. Obrigado Júlio Castro, Cacaio Praetzel, Cida Moraes, Raquel Campani, Fernando Duval, Aida Ferraz, Anete Abarno, Paulo Gasparotto, Claudinho Pereira, Sergius Gonzaga, Juarez Fonseca, Sepé Tiarajú Silveira de Souza, morreu uma estrela da nossa geração...perdemos uma estrela e penso que por isso o meu quadro ganhará mais luz, intensidade. A vida não se encerra. A vida permanecerá na obra da pintora Maria Lídia dos Santos Magliani e para isso ela existiu. Renato Rosa
Caderno “Magliani xilogravuras”, tiragem 4/20. Projeto Experiência Múltipla Estúdio Dezenove, Rio de Janeiro, 2010.
RESUMO BIOGRÁFICO Maria Lídia dos Santos Magliani Pelotas - RS- 1946 - Rio de Janeiro - RJ - 2012 Pintora, gravadora, desenhista, cenógrafa, figurinista, cartazista, diagramadora, ilustradora, escultora, artesã, atriz, Magliani viveu e desenvolveu atividades artísticas entre os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerias, Estado do Rio e Rio de Janeiro. Formação 1963 / 1967 Cursou e formou-se no Instituto de Artes da UFRGS - Pós-Graduação em pintura com Ado Malagoli e formação pedagógica pela Fac. de Filosofia da UFRGS, Porto Alegre, RS 1969 Realiza cursos livres de litografia, Porto Alegre, RS 1974 Litografia com Danúbio Gonçalves, Atelier Livre da Prefeitura, Porto Alegre, RS Exposições coletivas e prêmiações 1965 Salão de alunos do Instituto de Artes - UFRGS - Porto Alegre, RS - Menção Honrosa 1967 III Salão Cidade de Porto Alegre, Porto Alegre, RS 1969 IV Salão Cidade de Porto Alegre, Porto Alegre, RS 1972 Arte Gaúcha no Festival de Inverno de Ouro Preto, MG 1977 I Salão de Desenho do Rio Grande do Sul – MARGS - Porto Alegre, RS - 1º Prêmio | IV Salão Nacional de Artes Plásticas de Goiás, Goiânia, GO - Prêmio de Aquisição em Pintura 1979 Panorama da Arte Brasileira Atual - Museu da Pampulha, Belo Horizonte, MG 1980 Panorama da Arte Brasileira Atual - Museu de Arte Moderna - São Paulo, SP 1981 “Desenho e Gravura” do Rio Grande do Sul - MAC - Curitiba - PR 1983 Panorama da Arte Brasileira Atual - Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP | IV Salão Nacional de Artes Plásticas - Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ | Projeto Arte na Rua, Outdoors, Museu de Arte Contemporânea, USP - São Paulo, SP 1984 VII Salão Nacional de Artes Plásticas - FUNARTE / Rio de Janeiro, RJ | V Salão Nacional de Artes Plásticas de Goiás, Goiás, GO | Arte na Rua - Projeto “Zero Hora” - Porto Alegre, RS 1985 XVIII Bienal Internacional de São Paulo - “Expressionismo no Brasil: Heranças e Afinidades” - Pintura e Desenho - São Paulo, SP 1986 Bienal Latino Americana de Arte sobre Papel - Buenos Aires, Argentina | Panorama da Arte Brasileira Atual - Museu de Arte Moderna - São Paulo - SP 1987 Projeto “Co-Nexus” - Museum of Contemporary Hispanic Art, Nova York, EUA 1988 “A Mão Afro-Brasileira” - Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP | 10 Artistas do RS - Museu de Arte Contemporânea de Montevideo, Uruguai 1989 “Introspectives: Contemporary Art by American and African Descent” - Exposição Itinerante em museus pelos Estados Unidos | 1º Encontro Latino Americano de Artes Plásticas - Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre, RS | Projeto Co-Nexus - Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, SP | ARTESUL - MARGS - Porto Alegre, RS 1993 Panorama da Arte Brasileira Atual - Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP - Menção Honrosa1998 “Em Torno do Figurativo” - Galeria do SESC Copacabana, Rio de Janeiro, RJ | Universidade Federal de Viçosa, MG, com Maria José Boaventura | 2º Festival de Inverno de Santa Teresa, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ | RS / “Arte Erótica” - Curadoria: Renato Rosa - MARGS, Porto Alegre, RS | “Brazilian Artists from Rio Grande do Sul “- Curadoria: Renato Rosa - Embaixada do Brasil - Haia - Holanda 1999 - Esculturas em papier mâché, Galeria Escola Abaporu, Belho Horizonte, MG
2000 - “Artistas do Rio Grande do Sul” - Lançamento do “Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul” - Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro, RJ e “22 artistas do Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul” - Curadoria: Renato Rosa, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, SP, 2004 “A Chave Mestra mostra a sua cara” - Centro Cult. Laurinda Santos Lobo, Rio de Janeiro, RJ 2007 “10 anos /Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul” - MARGS - Porto Alegre, RS 2008 “Portes Ouvertes” - Intercâmbio com ateliers de Belleville, Paris, FR 2009 “Experiência Múltipla”/Maria Tomás e Julio Castro - Estudio Dezenove, Rio de Janeiro, RJ 2011 “Fábrica de Fábulas” - SESC Ramos, Rio de Janeiro, RJ | Coleção do Acervo do Museu Nacional da Cultura Afro Brasileira. Curadoria: Emanoel Araújo - Museu Nacional, Brasília, DF 2012 “O Triunfo do Contemporâneo” - 20 Anos do MAC - Santander Cultural, Porto Alegre, RS | “Experiência Múltipla”, com Julio Castro - Casa da Gravura, Porto Alegre, RS 2013 “Cromomuseu” - MARGS, Porto Alegre, RS Exposições individuais 1966 “Pinturas” - Galeria Espaço - Porto Alegre, RS 1967 “Pinturas” - Galeria Leopoldina - Porto Alegre, RS 1969 “Pinturas” - Galeria do Teatro Aldeia II - Porto Alegre, RS 1971 “Pinturas” - Galeria do Teatro de Câmara - Porto Alegre, RS 1976 “Pinturas” - MARGS - Porto Alegre, RS 1977 “Pinturas” - Galeria do IAB - Porto Alegre, RS 1979 “Pinturas e desenhos” - Galeria de Arte Independência - Porto Alegre, RS 1980 “Desenhos” - Curadoria: Emanoel Araújo - Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP 1983 “Desenhos” - CEB - Convite: Livio Abramo - Embaixada do Brasil, Assunção, Paraguai 1986 “Auto Retrato Dentro da Jaula” - Retrospectiva - Curadoria: Cho Dornelles e Sergio Sartori - MARGS - Porto Alegre, RS 1987 “Pinturas, Desenhos e Esculturas” - Galeria Paulo Figueiredo, São Paulo, SP | Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre, RS | Galeria Espaço Capital, Brasília, DF |Galeria Van Gogh, Pelotas, RS 2003 “Projeto Vitrine Efêmera” - Estudio Dezenove, Rio de Janeiro, RJ; “Pintura” - Galeria Firenze - Pelotas, RS |“Pintura” - Depto. Cult. da Prefeitura de Rio Grande, RS 2004 “Trabalho Manual” Pinturas – Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Rio de Janeiro, RJ 2005 “Pinturas” - Garagem de Arte - Porto Alegre, RS 2008 “Pinturas” - Sala da Fonte - Paço Municipal - Porto Alegre, RS 2010 “Pinturas, Gravuras e Recortes” - Casa da Gravura - Porto Alegre, RS 2011 “My Baby Just Care for Me” - Museu Imaginário - Bruxelas, BE 2012 “PROCURA-SE”- Estudio Dezenove, Rio de Janeiro, RJ Cenários e figurinos 1970 Cenário c/Elton Manganelli - “Não Saia da Faixa de Segurança” de Carlos Carvalho e Francisco Aron - Teatro Aldeia II, (peça proibida pela Censura) - Porto Alegre, RS 1972 Cenário para “Calígula”, de Albert Camus - Teatro de Arena, Porto Alegre, RS 1974 Cenário e Figurino c/Elton Manganelli - “O Baile dos Ladrões” de Jean Anouill Teatro de Câmara, Porto Alegre, RS| Cenário - “Aventuras de um Diabo Malandro” - Teatro de Arena de Porto Alegre | Cenário - “A Noite dos Assassinos”, de Roma Maiheu, Teatro de Câmara, Porto Alegre, RS 1975 Cenário p/show ”Em Palpos de Aranha”, de Giba Giba e Wanderley Falkenberg -
Teatro do Círculo Social Israelita, Porto Alegre, RS 1976 Cenário p/“O Jogo da caça ao Pássaro”, Teatro de Câmara, Porto Alegre, RS 1979 Telões p/“A Libertação do Senhor Presidente”, de Julio Zanotta Vieira e Grupo “Ói Nóis Aqui Traveiz” - Teatro de Câmara, Porto Alegre, RS 1998 Figurinos p/“O Sapateiro do Rei”, Grupo Entrevista - Centro Cultural Yves Alves, Tiradentes, MG Ilustrações 1967/69 Xilogravuras p/capas de programas teatrais 1974 Capa e Ilustração p/“O Inventário do Irremediável” de Caio Fernando Abreu | “O Segundo da Lista” contos de Sergio Caparelli - antologia “A Teia” | Capa e Ilustração p/novela “Andrô meda”, de Sergio Caparelli | Capa e Ilustração p/antologia “A Margem” 1972/74 Jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário de Notícias, Porto Alegre, RS 1980 - Folhetim - Folha de São Paulo, São Paulo, SP ..............colocar livros Sergius Gonzaga Obras em acervos públicos e privados Pinacoteca Aldo Locatelli – Porto Alegre, RS Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli – MARGS, RS Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MAC, RS Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, SP Museu de Arte de Santa Catarina - MASC, Florianópolis Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Instituto de Artes da UFRGS, Porto Alegre, RS Coleção Mônica e George Kornis, RJ Museu de Arte Moderna - Salvador - Bahia Museu Afro/Brasil, São Paulo, SP Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS Referências bibliográficas “Introspectives: Contemporary Art by American and African Descent” - catálogo “Expressionismo no Brasil - Heranças e Afinidades” - catálogo XVIII Bienal Internacional de São Paulo, SP “A Mão Afro-Brasileira” - Catálogo MAM, São Paulo “Dicionário das Artes Plásticas no Brasil” - Roberto Pontual “Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul” - Renato Rosa e Decio Presser Editora da Universidade, UFRGS, 1ª e 2ª edição
PARALELO - n°1 - 1976 e acima páginas do miolo Acervo Juarez Fonseca
Cartaz impresso da exposição “Magliani: autorretrato dentro da jaula” - 1987 - MARGS Col. Renato Rosa
Agradecimentos Affonso Saraiva de Moraes, Aida Ferrás, Aida Santin, Anaurelino Corrêa de Barros Neto, André Guarisse, André Venzon, Anita Brumer, Arnaldo Buss, Ascher Rubin, Cacaio Praetzel, Carlos Henrique Moreira Becker, Carlos Schmidt, Carlos Tenius, Cida Moraes, Claudinho Pereira, Decio Presser, Denise Mattar, Eduardo Vieira da Cunha, Eduardo Irigoyen, Eliete Pereira, Ênio Carvalho, Estúdio Dezenove, Evelyn Ioschpe, Fernando Duval, Francisco Antônio Stockinger, Francisco Reynaldo Amorim de Barros, Guillermo Henderson, Hanne Lore Krey, Iarema Henderson, Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, Ivan Pinheiro Machado, Ivo Bender, Izabel Ibias, Itamara Stockinger, Jacob Klintowitz, Jones Bergamin, Jones Silva, Jó Saldanha, Julio Castro, Júlio Zanotta Vieira, Luiz Carlos Felizardo, Luiz Carlos Lisboa, Luiz Henrique Fuhro, Luiz Inácio Medeiros, Luiz Paulo Vasconcellos, MAC-RS, Manoel Antônio dos Santos Magliani, Maria Cecilia Sperb, Maria Beatriz Irigoyen, Maria da Graça Magliani Azevedo, Martin Streibel, Ney Gastal, Otávio Beylouni, Paulo Gasparotto, Paulo Fonseca, Paulo Wainberg, Pedro Gus, Pinacoteca APLUB, Preta Pereira, Renato Viera, Raquel Campani Schmiedel, Robson Pereira Gonçalves, Rolf Zelmanovicz, Rui Spohr, Rui Paulo Diniz Gonçalves, Sandra Dani, Sepé Tiarajú Silveira Souza, Silvana Goss, Simone da Rosa Oliveira, Sônia Wagner, Tânia Fonseca, Teresa Poester, Téti Waldraff.
prefeito
josé fortunati secretário municipal da cultura
Roque Jacoby coordenadora de artes plásticas
Anete Abarno Diretor do Acervo Artístico
Flávio Krawczyk equipe de montagem
Leornardo Eleuherio Caroline Weimer Nelson Azevedo Manuela Raupp criação
Renato Rosa Operador de software Andrei Zebrowski fotografia
F.Zago - Studio Z