Zé de Rocha Catálogo

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Ao longo de sua história, a CAIXA consolidou uma imagem de empresa de sucesso, presente em todos os municípios brasileiros, através de quase 70 mil pontos de atendimento. A participação efetiva da CAIXA no desenvolvimento das nossas cidades, e sua presença na vida de cada cidadão deste país, consolida-se por meio de programas e projetos de financiamento da infraestrutura e do saneamento básico dos municípios brasileiros; da execução e administração de programas sociais do Governo Federal; da concessão de créditos a juros acessíveis a todos e do financiamento habitacional a toda a sociedade, além de vários outros programas de largo alcance social. Atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do Pais, como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira estratégica do Estado Brasileiro, é a missão desta empresa pública cuja história visita três séculos da vida brasileira. Foi no transcurso desta vitoriosa existência que a CAIXA aproximou-se do artista e da arte nacionais. E vem, ao longo das últimas décadas, consolidando sua imagem de grande apoiadora da nossa cultura, e detentora de uma importante rede de espaços culturais, que hoje impulsiona a vida cultural de sete capitais brasileiras, onde promove e fomenta a produção artística do país, e contribui de maneira decisiva para a difusão e valorização da cultura brasileira. Com esta exposição, a CAIXA reafirma sua política cultural, sua vocação social e a disposição de democratizar o acesso aos seus espaços e à sua programação artística, e cumpre, desta forma, seu papel institucional de estimular a criação e dar condições concretas para que o artista possa apresentar seu trabalho e divulgar sua arte. A CAIXA agradece sua participação e acredita, desta maneira, estar contribuindo para a renovação, ampliação e fortalecimento das artes no Brasil, e ampliando as oportunidades de desenvolvimento cultural do nosso povo.

Caixa Econômica Federal


Os desenhos de Zé de Rocha partem de observações sobre o traço, o risco, a matéria e o uso sociocultural que se faz da imagem. Vemos, com isso, o artista elaborar desenhos em escalas variadas, partindo do uso da linha. Configuram-se, em alguns momentos, cenas de narrativas populares, como as brincadeiras juninas de guerra de espada, onde os brincantes se enfrentam com artefatos pirotécnicos. Em outro sentido, Zé reelabora cenas de acidentes que se tornaram corriqueiras, desde o advento da fotografia e, hoje, continuam circulando nos meios de massa. A imagem permanece como uma espécie complexa de intermediação entre as pessoas e a realidade. A imagem se configurou, historicamente, como uma vontade de restituir o que havia sido separado, pelo tempo, pela morte. Assim, foi usada com a condição de comprovação, mítica ou histórica. Nas tentativas de verificação, vimos tecidos guardarem vestígios, véus de Verônica virarem sudários para adoração coletiva. De outro modo, a fotografia analógica se adaptou a ocupar a presença do real, como se houvesse a impressão de um corpo, uma cena congelada, uma pegada. Zé de Rocha elabora, então, uma visão atualizada sobre tais usos históricos da imagem, ao assinalar a polissemia da palavra “risco”, etimologicamente ligada aos gestos de separação, anulação, corte. Nos desenhos do artista, a linha demarca fronteiras, contorna acontecimentos narrativos, explicita o perigo, garante a sobrevivência da imagem. Sim, a imagem, no trabalho do artista, sobrevive ao atrito do carvão e da pólvora sobre o papel, permanecendo, ainda que ameaçada pela incineração, como rastro, rastilho.

O desenho de Zé de Rocha constrói-se no espetáculo, evidencia uma espécie de esgotamento da imagem: ônibus destruídos, carros amassados, pneus esgarçados. Com isso, ora atentamos para a extenuação dos materiais próprios ao desenho, como o carvão, o sanguínea, ora percebemos que a própria imagem está prestes a se desfazer. Com os mesmos instrumentos utilizados na guerra de espadas, o desenho do artista excede limites, arriscando-se ao desaparecimento. O fogo, então, se torna elemento narrativo, desfazendo o rosto de homens que se exibem em dorso nu. O fogo é uma das mais importantes invenções humanas, roubada da natureza, não pela tentativa de produção de faíscas, mas pela capacidade de conservação. Os desenhos de Zé de Rocha, guardam, então, esta proximidade com a técnica que se utiliza da natureza (o fogo). Meios e fins se proliferam, mantendo-se em diálogo, abusando da capacidade de gerar sentido. E, assim, a imagem volta a exercitar seu poder de magia, como no sudário, já que os gestos dos atores se aproximam da prestidigitação, do ilusionismo. Os desenhos de Zé de Rocha são iluminações, êxtases, magia: nomeações distintas para os riscos da arte.

Marcelo Campos

Professor do Instituto de Artes da UERJ


Há Risco é uma mostra essencialmente gráfica, na qual a polissemia da palavra risco é tratada como fio condutor para a apresentação das obras do artista Zé de Rocha, divididas em três momentos: o traço apurado do carvão, o traçar arriscado da espada de fogo, e o risco como catalizador de um novo traço. No primeiro momento o artista se apresenta com grande domínio técnico, dono de um traço forte, preciso, definitivo, recriando, a partir de uma ferramenta quase rudimentar, um emaranhado de linhas retorcidas, gráfica e plasticamente complexas. Em seguida, a iconografia de Zé de Rocha revela a violência das espadas, através das marcações feitas em tela, e o risco de utilizar o próprio artefato – presente quando se autorretrata como espadeiro. A relação muito próxima que pode existir entre o traço e o risco está aqui representada. Por fim, a causalidade entre os dois elementos centrais de seu discurso põe o artista à prova, forçando-o a reaprender a traçar as imagens, desenhando sua mão direita com a mão esquerda, depois de um acidente de trabalho, em um exercício que discorre não só sobre o comprometimento com a sua arte, mas também sobre a reconstrução do saber técnico. As obras aqui reunidas, produzidas ao longo de mais de cinco anos, são a memória dos processos artísticos aos quais Zé de Rocha se dedica, tendo sempre como ponto de partida o desenho. Algumas apresentadas ao público pela primeira vez, as peças criam uma imagem perfeita do artista que está pronto a se arriscar para traçar seu nome do cenário da arte contemporânea.

Larissa Martina Curadora


Há desenho, há risco. Desde o início de meu percurso no campo das artes visuais – e o tempo se confunde na memória – estive envolvido com traços e manchas que, mesmo sem saber por que, buscavam uma imagem capaz de impactar. Não se tratava apenas de ilustrar a violência, mas de encontrar uma tensão que se conforma através da imagem. Pois, acredito que a contundência de certas imagens pode revelar, sob as camadas superficiais, algo de nossa humanidade. É neste sentido que aproximo minha busca poética e a polissemia da palavra risco, enquanto traço sobre uma superfície ou como possibilidade de perigo iminente. Essa aproximação, que estabelece o RISCO como princípio criador na instauração de meu trabalho gráfico, configura-se como uma estratégia, no sentido que Gómes Molina (artista e teórico espanhol) estabelece ao escrever sobre o desenhista contemporâneo. Ou seja, uma estratégia no sentido de uma tomada de posição, visto que “a estratégia vincula-se mais à ação de desenhar do que ao próprio desenho.” (Molina, 1999, p. 19). Essa estratégia, que passei a denominar Poética do Risco ou Crônicas do Extremo, muitas vezes leva a imagem a dialogar com o material com o qual foi construída. São materiais com características e tendências que, por relações simbólicas ou associações de causa e efeito, remetem ao imaginário do risco. Um exemplo simples é a utilização de carvão na realização de desenhos que representam automóveis carbonizados. Dessa maneira, como aponta o artista e professor Eriel Araújo (2013, p. 67), “a imagem retorna à matéria que lhe deu origem”. Como nos mapas, em que a linha que divide também pertence aos territórios divididos, parece ser essa a fronteira onde se encontra a linguagem do desenho: simultaneidade entre um vestígio material (o desenho = substantivo) e uma ação singular (eu desenho = verbo). O desenho que almejo encontra-se, sobretudo, nesse limite impreciso entre o resultado e a estratégia que o gerou.

Zé de Rocha

(José Raimundo Magalhães Rocha) MOLINA, Juan José Gómez (Coord.). Estrategias del Dibujo en el Arte Contemporáneo. Madrid: Cátedra, 1999. ARAÚJO, Eriel. In: ROCHA, J. R. M.Crônicas do extremo: uma poética do risco. 2013. 148 f.: il. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Universidade Federal da Bahia, Escola de Belas Artes, Salvador, 2013.



Turbulência Lona queimada e fuligem. 460 x 80 cm (díptico) | 2012


A feira Lona queimada e fuligem. 80 x 210 cm | 2012

Sangue-Ă­gneo I Lona queimada e fuligem. 160 x 210 cm | 2011



Cicatriz Lona queimada e fuligem. 200 x130 cm | 2012


Armadura I

Paiol

Lona queimada e fuligem. 80,5 x100,5 cm | 2011

Lona queimada e fuligem. 69 x100 cm | 2012



Acidente - polĂ­ptico

Acidente - polĂ­ptico

Sanguinea sobre papel. 40 x 30cm | 2014

Sanguinea sobre papel. 40 x 30cm | 2014


Acidente - polĂ­ptico

Acidente - polĂ­ptico

Sanguinea sobre papel. 40 x 30cm | 2014

Sanguinea sobre papel. 40 x 30cm | 2014


Acidente - políptico

Acidente - políptico

Lápis dermatográfico e pastel óleo sobre papel. 40 x 30cm | 2013

Lápis dermatográfico e pastel óleo sobre papel. 40 x 30cm | 2013


Acidente - políptico

Acidente - políptico

Lápis dermatográfico sobre papel. 40 x 30cm | 2013

Lápis dermatográfico e pastel óleo sobre papel. 40 x 30cm | 2013


Acidente - políptico

Acidente - políptico

Lápis dermatográfico e pastel óleo sobre papel. 40 x 30cm | 2013

Lápis dermatográfico e pastel óleo sobre papel. 40 x 30cm | 2013


Acidente - políptico

Acidente - políptico

Lápis dermatográfico sobre papel. 40 x 30cm | 2013

Lápis dermatográfico sobre papel. 40 x 30cm | 2013


Acidente - polĂ­ptico

Acidente - polĂ­ptico

Sanguinea sobre papel. 40 x 30cm | 2014

Sanguinea sobre papel. 40 x 30cm | 2014



Risco de Infinito 1

CarvĂŁo sobre papel. 125x125cm | 2015

Risco de infinito

CarvĂŁo sobre papel. 125x125cm | 2015


Série Risco VIII Carvão sobre lona. 220x160cm | 2015


Série Risco V

Série Risco VI

Carvão sobre lona. 220 x 160cm | 2009

Carvão sobre lona. 220 x 160cm | 2009


Ônibus Carvão sobre lona. 160 x 220cm | 2015

Bio do artista. Artista Visual e músico nascido em Cruz das Almas, recôncavo baiano. Estudou Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia, onde fez mestrado em processos criativos. Sua pesquisa artística possui como ponto primordial a realização de imagens que discutem a violência urbana e cotidiana. O risco é seu princípio de criação, partindo da polissemia desta palavra na língua portuguesa, em suas acepções de traço feito numa superfície e de possibilidade de passar por perigo. Ganhador do Grande Prêmio da IX edição da Bienal do Recôncavo, promovida pelo Centro Cultural Dannemann em novembro 2008, foi contemplado com uma estadia de 4 meses em Milão - Itália a convite do professor e crítico de arte italiano Antonio d’Avossa, da Accademia di Belle Arti di Brera. Possui experiência significativa na área de artes visuais, com participações e premiações em diversas mostras na Bahia, muitas delas promovidas pela Fundação Cultural desse estado. Atualmente, é professor de desenho na Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF e atua entre as cidades de Salvador-BA e Petrolina-PE.

Artista representado pela galeria RV Cultura e Arte


Presidenta da República Dilma Vana Rouseff Ministro da Fazenda Joaquim Vieira Ferreira Levy Presidente da Caixa Econômica Federal Miriam Aparecida Belchior

Ficha Técnica Curadoria • Larissa Martina Coordenação Geral • RV Cultura e Arte Produção Executiva • Ilan Iglesias Projeto Expográfico • RV Cultura e Arte Projeto 3d • APSP Arquitetos Associados Projeto Gráfico • Alltera Comunição Assessoria de Comunicação • Alltera Comunicação



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