Comunicação Alternativa - Qualquer atividade ou produção cultural desvinculada dos meios de comunicação convencionais, levada a público por outro canal que não faça parte dos mesmos.
Versão impressa do zine MãonosCórnOnLine - Junho - 2001 - # 1- ano1
Editorial Bem já dizia esse repórter eterno que é Marcos Faerman: “no jornalismo, a única coisa que interessa é o ser humano sufocado em sua vontade de ser”. E é esse sentimento que move o desejo de retratar a vida, narrar o cotidiano, dizer a palavra presa na garganta, contar da imagem colada na retina. O ser humano e sua vontade de ser, de dizer não a um real que sufoca, que é injusto. Dizer sim à vida, ao que pode vir, desvelar, desnudar o que se esconde nas brumas do ainda-não. Foi assim que nasceu o “Mãonoscórno”. Porque já não dava mais para dizer o real com palavras doces. Era preciso o grito, a mão espalmada na cara, o choque, a porrada. Um golpe duro, desferido com as palavras, essas que cortam, que rasgam, que não deixam dormir, que sobressaltam. Palavras que andam feito fantasmas aztecas, mortos insepultos, assombrando. Porque o jornalismo é isso. Esse assombramento com a vida, com a realidade, com o que pode ser. Então, num tempo em que tudo parece perder o sentido, num mundo em que o jornalismo parece ter deixado de ser a análise do dia, perdendo espaço para o “tempo real”, o “drops informativo”, a linguagem “internética”, alguns rebeldes dizem não. Recusam a náusea, aprontam as armas e disparam sonhos, angústias, desejos, palavrões, indignação, medo, esperanças. São garotas e garotos, insurgentes, cúmplices na utopia de que é possível um jornalismo transformador, que liberta e produz conhecimento. Começou eletrônico, porque é barato. Mas agora se dá também no papel. Vai te contaminar. Sem antídoto, porque não há veneno mais sublime do que a vontade de ser. E assim, como Píndaro, aos gritos, provoca: torna-te aquilo que és! Assim será... Elaine Tavares - Jornalista e Educadora - eteia@gmx.net
Há que se viver, vivendo no limiar de que a nossa consciência mandar Paulo Sérgio Zembruski - paulosz@live.com - publicado no MCOL nº 27 O texto desta edição é uma dedicação a vida, um apoio ao entusiasmo que move as pessoas por um mundo melhor.Este mundo imperceptível para a maioria das pessoas, que se delicia vendo as baixarias na TV, que se alimenta com as manchetes sanguinolentas dos jornais. Pessoas que num primeiro momento poderiam muito bem ser rotuladas de caretas, mas caretas acredito que sejam o rotuladores, os falsos de almas penadas, que tem como preocupação o fim, os meios nem sempre se justificam para estes seres que pregam e insistem que a violência justifica o prêmio. Sei o quanto é difícil ludibriar as sensações cinzentas que tomam conta das nossas almas na pós-modernidade. Pode conversar com as mais diversas pessoas, haverá poucas com entusiasmo suficiente para tocar a vida. Os consultórios dos analistas e psiquiatras estão sendo invadidos por seres doentes da alma que buscam uns compridos que lhe darão o tão prometido entusiasmo, a tão prometida vida alegre, divertida e feliz. Não há uma receita pronta, como não há um remédio específico para a cura. Há que se viver
EXPEDIENTE Mão nos Córno - negudico@bol.com.br Rua Luiz Bonifácio Pinto, 444 - São João - Cep: 88304-320 - Itajaí - Santa Catarina André Pinheiro - SC 01159 JP Débora Gaboeira Elaine Tavares Gabriela C. da Rosa Giselle Zambiazzi Kenzo Miura Paulo S. Zembruski - SC 01194 JP Rômulo Mafra
DTP: Zembruski + Mafra
sem importar-se com a moda, com os rótulos, com as preocupações de contas, dívidas, salário e impostos. Não há mais como negar que felizes são os que com nada precisam se preocupar, os que nada tem, os que fazem sua casa de papelão, os que buscam apenas seu sustento, os que não se preocupam em ter uma
conta bancária, os que acreditam que um papo com o vizinho no final da tarde vale mais que duas novelas e um jornal nacional junto. Por tudo isso que eu exalto a vida que pulsa calma e serena dentro de cada ser, porque querer viver e fazer que as pessoas vivam, não como eu quero, nem também viver sob a ótica dos que acham que vivem. Cada um deve achar a sua vida, seu ponto de energia, seu arrimo de apoio, sem nunca esquecer as outras vidas, sem elas, que vale uma vida? Quantos, inúmeros pra falar
a verdade comentários eu tenho ouvido, visto sobre a qualidade da TV brasileira, muito se comenta, pouco se muda. Acontece que nossos olhos foram educados ao longo dos anos, principalmente nos anos 80 e 90, por vadias, verdadeiras cafetinas que criaram uma geração de prostitutas, mulheres sem valores. Que nas manhãs inocentes de Xuxa, Angélica e Eliana foram educadas sob um novo padrão de vestir-se, comportamento, respeito ao próximo e a si mesmo. Esta onda de adolescente grávidas que assola o país tem o pé neste programas vagabundos que denegriram a imagem da mulher, tornando-a um mero objeto, comercial tanto quanto uma lata de cerveja. Usa-se mulher pelada pra tudo hoje, fiquei pasmo este dias quando me deparei em uma loja de produtos agropecuários um banner de uma linda modelo seminua anunciando uma marca de sementes de hortaliças. Me digam o que tem a ver sementes de alface uma modelo de biquíni? Esta banalização do corpo perfeito a custa de horas de photoshop, porque a maquiagem não tem mais dado conta do recado, da magreza produzida por anfetaminas, do belo nazista. Quanta hipocrisia eu vejo e ouço no meu dia-a-dia sobre isso, são centenas de críticos do Hitler e seus seguidores, mas esquecem que o que está mais em voga no momento, era o que mais dava prazer o homem do pequeno bigode. A beleza produzida, o belo pra ser visto, o belo como forma perfeita, foi a sutileza do nazismo. A mesma que tantos imbecis apregoam, exaltam e ao mesmo tempo dizem-se ferrenhos combatentes do regime. Um recado pra vocês pobres almas, vão lavar suas mentes com um bom detergente, de preferência biodegradável.
Esta é uma edição especial, onde cada colunista escolheu seu melhor texto dentro do e-zine MãonosCórnonline para ser publicado aqui.
Liberdade de pensamento Deborah Garcia Boeira - degabo@terra.com.br - publicado no MCOL nº oxê esquecemos o número da edição Tenho medo do fim do mundo, mas não pensem que tenho medo de uma explosão ou mesmo do apocalipse. Apenas penso que a auto- destruição está cada vez maior, fazendo com que a loucura seja mesmo o fim desta vida que levamos. Que vida é essa, onde ingerimos alimentos completamente industrializados ao invés de plantarmos nossos alimentos. Muitos vivem enjaulados em prédios, se poderiam viver em casas, livres, com jardins, hortas. Poderíamos ser menos estressados, menos angustiados, se levássemos uma vida livre, sem dar valor para bens materiais, pois eles não nos trazem nada, apenas levam embora o que nos sobra, que são nossos sentimentos. Quantas vezes uma pessoa deixa de ajudar outra para não perder algo material? Poxa! Deixar de ajudar uma pessoa que está precisando para não se desfazer de algum bem material, que às vezes nem está mais sendo usado. Somos programados e rotulados para viver em um mundo globalizado... Você vive pra que? Para acordar cedo e brigar com alguém, por estar de mau humor de ter acordado 6:00h da manhã, ainda tendo que ir trabalhar em um lugar que você não gosta, mas precisa pois sua rotina custa-lhe o “olho da cara”. Esta noite você não dormiu bem? Ah! Com certeza em seu apartamento estava muito calor e você
não conseguia nem respirar de tão sufocado. Lá fora não tinha vento? Deve ter muitos prédios em volta do seu, fazendo com que o vento não circule. Tenha esperanças, quando fica muito quente, sempre dá uma chuvinha, pena que você só consiga olhar um peda-cinho do céu, que aparece no meio de vários prédios. E sua saúde como vai? Nossa! Deve
ser esses enlatados ou mesmo esses remédios que você está tomando. Cuidado! Você não precisa se matar em trabalhar, para ganhar cada vez mais dinheiro e não aproveitar sua vida. Não levamos nada daqui, apenas nossa paz de espírito.
Analisar uma vida nesta sociedade é assim, como diz Zé Geraldo em uma de suas canções, somos cabeças treinadas para competir/ sementes de toda ambição. Desde pequenos recebemos informações que são armazenadas em nossa mente, gerando robozinhos responsáveis por continuar ou fazer o mesmo que seus pais e se não pararmos com isso, não conseguimos nos libertar, tão cedo, deste verdadeiro jogo de ambições. Cada dia surge uma nova surpresa, que nos destrói, que destrói nossa alma. Paz? Como que as pessoas acham que vão conquistar a paz. Desta forma? Devem estar brincando, pois até estas campanhas de paz não passam de jogos de marketing. Fazem um fuzuê, divulgando e chamando atenção de todos, mas no fim todos querem é paz, para os seus bolsos! Bolsos estes, que já estão recheados, mas precisam de mais dinheiro, pois precisa se sobressair perante a sociedade. Posso até tentar entender as pessoas que vivem desta forma, mas eu não penso mais assim. Ainda bem que minha mente me ajudou e vai me ajudar muito mais, pois viver fora deste meio medíocre, insensato, pobre e egoísta. São poucos os que conseguem. Minha mente é limpa e minha alma é imortal. SOU LIVRE! De pensamento, de alma, e principalmente sou livre do materialismo destruidor!!!
O segredo das orelhas de Joey Kenzo Miura - kenzo.miura@bol.com.br - publicado no MCOL nº 26 Uma pena a morte de Joey Ramone. Nosso rock (seja ele punk, heavy ou o escambau) anda tão surrado, e agora com a morte dele, parece que levou mais um cascudão. Eu comecei a curtir rock ouvindo Ramones, e sonhava em mostrar pro meu guri o Joey velhão, e dizer, mais ou menos como meu pai, que me mostra o Johnny Mathis e fala: “Hã, hã, hã, esse Johnny... na minha época ele era fodão...” Porém, todo mundo já falou isto, e o que eu vou abordar agora é um assunto mais complexo, que requer um pouco mais de estudo (ou requeria, uma vez que o Joey já tá noutra). Provavelmente será mais um daqueles mistérios que a humanidade esqueceu, e apenas uns loucos (no caso, eu) vão ficar o resto da vida andando pelas ruas, com um cartazão de cartolina e pedindo esmolas por aí, de barbas brancas e túnicas encardidas. O assunto que eu vou abordar não vai ser compreendido agora, e eu compreendo o porquê. O questionamento, na verdade, é o seguinte: O que diabos havia nas orelhas de Joey? Eu tenho o péssimo hábito (não sei porque) desde de guri de imaginar as pessoas com penteados diferentes, principalmente os cabeludos. E, ao ver o Joey, eu pensei: “Deve haver uma foto dele jovem, de cabelos curtos e com a cara do Bill Gates” (eu conheci o Joey beeeeeeeeem antes do Bill Gates, diga-se de passagem). Porém, apareceu um imprevisto: o cara não tem fotos de cabelos curtos. Não tem. É a mesma coisa que procurar uma foto da Claudia Ohana depilada. Não tem. Então, o questionamento óbvio apareceu: “O que há de errado com as orelhas do Joey, para ele escondê-las a qualquer custo?” Não deve ser um simples caso de orelhas de abano, afinal, ele era punk (de verdade, o autêntico, não um Blink da vida). E ainda por cima, Joey era o cara que ganhou milhões de dólares, e mesmo assim, só tinha 3 calças rasgadas e 4 camisetas, todas iguais, então, ele não devia ser o cara mais vaidoso do mundo, e não se deixaria abalar por duas simples abas laterais. Então,
cheguei a conclusão de que algo de muito grave deve existir lá, para que até um punk tenha que esconder. Creio eu que devia ser alguma coisa relacionada com a paz mundial, que ele devia estar esperando para mostrar ao mundo em caso de uma 3ª Guerra Mundial, devia ser alguma profecia sagrada que uniria todas as nações. Pode ser o contrário: Joey tinha, em cada orelha, um “666” bem grande, e ele era o próprio Damien, o rabudão, o Tinhoso, o Carcará Sanguinolento, o chifrudo... enfim, o demo. Quem sabe? Eu gastei horas a fio pensando no assunto, criei as mais improváveis teorias, que vão desde o segredo da fórmula da Coca-Cola até a profecia de quem seria o próximo campeão da Copa do Mundo, porém, agora que ele se foi, morre também o segredo. Só falta agora morrer o Neil Young, o BB King, e algum dos irmãos Gibbs, que o mundo acaba de vez. --Joey Ramone sai da vida pra entrar na “necrofilia da arte”. Daqui a alguns meses vocês verão o milagre da multiplicação de camisetas, e todos os punks da moda vão fazer um cd tributo, além do relançamento de todos os albuns fora de catálogo, remasterizados, com capa nova, e com singles a dar com o pau (será que os Ramones tinham singles?). A gurizada vai sair com camisetas da banda, com letras atrás e tudo. É verdade que o Joey tinha recém acabado de gravar um disco solo? Vai ser Billboard na certa. Realmente, a morte, para as gravadoras, é um evento. Basta ver o Bradley Nowell, do Sublime. O cara já estava morto quando lançaram seu mais aclamado cd
(Sublime, o do Santeria - que o pessoal da Tribo de Jah regravou com o belo nome de “Foi uma onda que passou e eu não dropei”. Aiaiai...), mas a mídia, astuta como sempre, viu no evento vários cifrões enfileirados, prontos para o abate, e só foi preciso recarregar as armas. Mais uma porrada de cds foram lançados, inclusive um (péssimo, por sinal), chamado de acústico, onde Bradley cantava sozinho com o violão em shows ou em estúdio (a única música decente do cd é uma versão de “Rivers Of Babylon”). Nas gravações ao vivo dá pra ouvir até o pessoal do bar conversando, é deplorável. No Brasil, o célebre caso de Renato Russo dispensa comentários. O lançamento de vários cds póstumos (dizem que ainda tem mais um no forno), além das bandas covers descaradas (Cogumelo Plutão, Catedral e outras coisas igualmente ruins), mostram como o povo cai facilmente nestes engodos, que compram fielmente estes materiais sem ao menos questionar a qualidade do produto. Qualquer coisa que cheire como Legião serve. Não estou reclamando dos fãs de Legião (se bem que muitas vezes, eles não recebem bem as críticas da banda, parece que você está xingando a mãe deles). Na verdade, a reclamação é com a superexposição da banda, que enche o saco de qualquer um.
Zine - Mão nos Córno é um exemplo de zine. Zine vem de fanzine, revista alternativa produzida por apreciadores de determinado[s] assunto[s]. Pode ser montado eletrônica ou artesanalmente, no papel ou na Internet.
Onde esconderam a criatividade?
Giselle Zambiazzi - abretesesamo0@yahoo.com.br - publicado no MCOL nº 20 Quando de repente toca uma música qualquer no lugar onde você está não surge uma estranha sensação de conhecer aquele conjunto de acordes, de já ter ouvido alguma música falando sobre aquele assunto? Ultimamente é isto que vejo que vem acontecendo com a música brasileira. A música, não só no Brasil, deixou há muito tempo de ser arte para se tornar, antes disso, num rentável negócio. A geração de jovens atual é completamente vazia, sem criatividade, não tem do que falar, não sente necessidades reais, só de plástico. Atualmente é difícil encontrar alguém que tenha capacidade de compor belas músicas, novas melodias. Claro que não podemos desprezar caras como o Zeca Baleiro, o Tom Zé, o Chico César, que estão na estrada para mostrar que ainda tem gente boa, graças a Deus. Mas é só comparar a quantidade de feras que tinha antigamente, há uns 10 ou 20, e o que tem agora. Mas o que mais me entristece nem é tanto a falta de criatividade, porque quem curte música de verdade, vai atrás e acha coisa boa. O que mais me dói no estômago é saber que, os que desprezam ou desconhecem a história da música, desconhecem a obra dos grandes nomes das décadas passadas, agora se utilizam de suas composições para tocar nas rádios, agradar aos ouvidos consumidores e vender milhões de cópias até ganhar um disco de ouro no Xuxa Park. É muito triste ligar a televisão no Chatão do Faustão e ver a capacidade de alguns produtores, como os de Pepê e Neném. Eles conseguiram, por exemplo, assassinar uma das belíssimas baladas de Cat Stevens, um som gravado nos primórdios de 1971 (Wild World). A versão em português é ridícula, dá, no mínimo, vontade de chorar. Outra que está a cada dia mais insu-
portável é uma que gostam de chamar de mãe do rock brasileiro. Ela pode ser mãe de qualquer coisa, menos do rock. A garotada se diverte nas danceterias cantando “venenosa, hei, hei, hei, erva venenosa” querendo mostrar para todo mundo que são uns malucões, que a erva venenosa que a Rita Lee fala na música é a maconha. Ah, que legal! Só que eles não fazem nem idéia que o nome verdadeiro dessa música é Poison Ivy, que ela foi gravada em 1964 por um grupinho que ninguém conhece chamado Rolling Stones. Aí você vai
falar de Stones com aqueles imbecis da danceteria e eles fazem cara de quem chupou limão. Você já ouviu falar de Zé Renato e o grupo Azimuth? Pode ser que não, mas com certeza já ouviu alguns riffs dessa banda na rádio. “Tic, tac, o tempo vai passando, e a gente aqui sentado num banquinho conversando...” Infelizmente eu não lembro o nome desses caras, mas sei que essa música eles iniciam com os riffs da música “Linha do Horizonte”, também gravada na década de 70. Essa música é linda, e hoje em dia, é difícil encontrar alguém que tenha capacidade de fazer uma composição como essa. Tá ,tudo bem, quem nunca fez um cover na vida? Qual o músico que não
regravou um som de outro músico? O que eu critico é a forma como isso é feito hoje em dia. Além dos caras se apropriarem de jóias valiosas, ainda as transformam na coisa mais cafona de se ouvir. Se ao menos divulgassem a fonte de onde beberam, se pelo menos soubessem quem é Cat Stevens, Azimuth, se pelo menos a Rita dissesse que a música não é dela, mas é uma cópia do som dos Stones, seria um pouco mais aceitável. Isso sem esquecer que a versão de Poison Ivy feito por Rita Lee já é cópia de outra versão feita por outro grupo há muito tempo. Quando é para crescer, mostrar que tem talento e fazer uma versão decente, como é o caso do Zeca Baleiro e a versão que ele fez da música dos chatos do Charlie Brown Jr., tudo bem. Mas quando os caras acham que têm que se rebaixar a tal ponto de regravar Mamonas Assassinas e, além disso, acabar com as próprias músicas para vender disco, fazendo dois acústicos sofríveis, é porque a coisa tá séria. Onde está o talento, a criatividade e o bom senso? É como eu sempre imaginei. Saiu o Arnaldo Antunes do Titãs e a banda afundou. Tem muitos outros a serem citados, como o coitado do Raul, por exemplo. Pra quê cara mais mil vezes assassinado que ele. Até cantor sertanojento regravou suas músicas. O Paulo Ricardo se acha no direito de gemer Gita, crente que tá agradando. (digo gemer porque nunca vi esse cara cantando, só gemendo). Mas vou poupar meus queridos leitores e deixar que esse assunto fermente em suas cabeças. Falou? “...vou fazendo o meu caminho, não peço que me sigam. Cada um faz o que pode, os homens passam e as músicas ficam ...”
Olhe lá dentro... Rômulo Mafra - romulomafra@bol.com.br - publicado no MCOL nº 18 Agora fiquem com uma de minhas maiores insanidades. Fiz um texto, onde misturei mais de 40 letras de músicas (que eu gosto, é claro) com frases minhas. Se alguém descobrir todas as bandas escondidas aí, eu dou um ano de assinatura de um e-zine que escrevo... o MCOL... vocês conhecem?? E vai ser de graça ehehe O sinal verde sinaliza que posso passar. Sinaliza que posso morrer. As pessoas estão passando por mim, sorriem sorrisos vazios como suas almas. Um cachorro late para um velhinho no meio da rua e ele sorri de volta. Sorri com sabedoria. Por favor, não coloque a sua vida nas mãos de uma banda de rock’n roll, pois você deve amar a música, não o cantor. Não é sempre assim que acontece, eu sei. Então Sally, espere, mas não olhe pra trás. Venha como você é, pois o mundo também não pode esperar. Derrube o governo e vamos flutuar com cola. Me disseram que assim como os seus pais, você nunca vai mudar, mas eu prefiro não acreditar nestas besteiras que as músicas me dizem de vez em quando, porém não se preocupe, você ainda será minha. Você foi alguém nos anos 80, estava por cima e usava isso pra conseguir garotas, mas suas árvores falsas de plástico estão morrendo e ninguém quer te ajudar, eu sei. A primavera está florescendo e você deveria estar acordando, mas seus olhos estão vermelhos da noite anterior. Abra suas portas e me deixe entrar. Não me pergunte porque, pois não saberei responder. Então pergunte-me qual é a frequência, que também não te direi. Te amarei. Te odiarei. Procure a benzedrina e jogue fora, my dear. Tente cantar uma nota fora do acorde e veja seus horizontes se abrirem para sempre. Estou ouvindo canções sem letras todos os dias e ninguém diz nada contra. Desde o dia em que nasci, estou fadado a decadência. Os 36 graus de febre não adian-
taram muito, mas quem disse que 36 é febre? É só um número? É só um símbolo? Eu sou só mais um símbolo? Os delírios são a melhor parte da viagem. É com g ou j? São somente símbolos num mundo onde todos estão sedentos por eles. Atravesse o outro lado e veja se há pessoas estranhas. Serão estranhas se você for estranho. Rápidos movimentos em seus olhos indicam sono novamente. Eles continuam vermelhos e lindos. Ela falou para o seu pai que quer matá-lo e ele não ouviu uma só palavra, e agora está perdida numa roda de dores, daquelas que machucam sem piedade. Não diga mais nenhum palavrão, entre na brincadeira de adivinhar quem vai me matar. Quem vai me amar. Quem vai me odiar. Ainda não usei aspas hoje... mas eu não uso mais... de qualquer jeito, tudo que não é eterno acaba um dia. Eu acabo um dia. Este texto acaba daqui a pouco. Pode acabar agora se tu quiseres. Eu não posso dizer a meus amigos que vi um disco voador, pois eles me chamarão de loucos e irão colocar camisas-de-força em mim. Não posso dizer que te amo, pois irão me prender em celas de marfim que os homens-elefantes fizeram pra mim. Deitarei em colchões cobertos com as penas, que os homens-pássaros trouxeram de presente e me taparei quando sentir frio, com as peles que os homens-ursos esqueceram de propósito. E quando eu for rei, você será o primeiro a ir contra a parede com suas
opiniões sem consequência. Mandarei prender os homens que falam em enigmas e mulheres que soam como rádios fora da estação. Farei leis que não devem ser seguidas e darei ordens que deverão ser contrariadas Me tire do acidente aéreo, me tire do lago, pois eu sou seu super-herói, lembra? O mundo parecia estar em chamas, e ninguém poderia me salvar a não ser você. Mas eu sobrevivi porque um airbag me salvou. O que seria de qualquer coisa, se não houvesse a dor, que mata lentamente e nos faz viver intensamente? Eu queria que agora fossem os anos 60. Eu queria que agora eu fosse feliz, mas estou preso numa cadeira de plástico na frente de uma tela de acrílico, que mata pessoas no interior de suas vidas. Eu pediria desculpas, se soubesse que isso faria a sua mente mudar, e te pediria pra me levar esta noite pra sair, para algum lugar onde houvesse música e pessoas jovens e vivas, já que há sempre uma luz que não se apaga, não é mesmo? Eu acho melhor quando as luzes estão apagadas, e quando choro em seus braços, pois então vejo que tu és a chave que irá abri minha porta, há tanto fechada. Esperei tempo demais e o tempo não para, já dizia o poeta que olhava as ondas baterem na pedra. Amanhã de tarde eu quero descansar. Amanhã quero subir as pedras para ver o mar novamente. Mas você talvez venha até aqui, mesmo sabendo que isso torna as coisas mais difíceis ainda pra mim. Este é o final, meu doce amigo. Meu único final. Nosso único final. E ele será como todos os outros... com um ponto final.
Como receber o MCOL - Para receber o MãonosCórnonline basta enviar um e-mail para o endereço negudico@bol.com.br colocando no assunto, CADASTRAR. O e-zine é semanal e gratuito.
TSCHUMISTOCK (liberando geral) Gabriela Caroline da Rosa - fergabi@terra.com.br - publicado no MCOL nº 14 Hoje, em plena segunda-feira, 13 de Novembro de 2000, às 11:57hs, estou eu aqui voltando à minha vidinha de sempre... Tomando um café preto pra agüentar os olhos abertos, e escrevendo alguma coisa. É até estranho pensar que sábado, nesse mesmo horário, eu estava no meio do mato, com um monte de gente louca, curtindo muito rock’n’roll, paz e amor*. Nesse tal de Tschumistock... Tudo começou sábado, umas 04:00hs da manhã, quando eu, a Deborah e o Rômulo, saímos de um show do Vlad V, em Balneário Camboriú, rumo a Rio do Sul. Eu e a Deborah chegamos em casa, arrumamos as trouxas, e dormimos das 5:00 ateeeeé as 5:20. Pegamos um ônibus, o Rômulo, outro ônibus, uma carona para Blumenau, outra carona para a BR-470 e finalmente outra carona para Rio do Sul.... Antes das 11:00, lá estávamos nós... No Tschumistock!!! Montamos nosso acampamento (a tenda mística...), e dormimos um pouco (como se fosse possível dormir com cobertores de lã debaixo de um sol escaldante...). Mas nosso destino não era ficar na barraca: Primeiro o sol que nos castigava, depois os
nossos vizinhos com seus repetitivos e irritantes rap’s. Então fomos para a frente do palco, (ou para o lado do palco), e sentamos no lugar em que ficaríamos até o fim da festa, com as bundas já quadradas. O Rômulo literalmente “deitou, rolou, e... dormiu”, no meio da galera. É isso aí, “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei...” (ou quase tudo). A visão lá da porta da nossa tenda, não era das melhores... Uma vara de homens-porcos, grunhiam e sujavam tudo ao seu redor... Transformaram o canto deles num verdadeiro curral, provavelmente para se sentirem em casa. Sujaram tudo, e acharam aquilo legal. No domingo, só precisávamos de carona para voltar para casa. Uma galera “gente fina” de Itajaí quebrou esse galho para nós (Valeu Galera!!). Lá pelas 17:00 hs, depois que eu a Deborah e o Rômulo já tínhamos acabado com o estoque de cachorro-quente do Tschumistock, estávamos voltando para o aconchego de nossos lares (que eu trocaria sem dúvida pelo “desconforto” do Tschumi...). Só lamento uma coisa: Fiquei sabendo que o nosso amigo Rafael subiu ao palco para dar uma palhinha, ao raiar do sol; e isso eu perdi. Mas não faz mal, na próxima eu estarei lá para ver... * Trecho alterado em função da censura. (Autocensura, da própria autora do texto...). Durante esse fim de semana, nos meus constantes momentos de “ócio físico”, enquanto eu ficava pensando (viajando), comecei a perceber algumas coisas. É incrível como todas as pessoas estão saturadas de suas rotinas capitalistas, urbanas, medíocres e politicamente corretas. Observando o povo num lugar assim, onde ninguém liga muito para nada, você repara que o sistema faz com que as pessoas percam suas verdadeiras identidades. As “Patis”, com uma produção alternativa, que sempre
sonharam desfilar em algum lugar, mas não sabiam bem aonde, liberam seus instintos humanos naturais. Não ligam mais para a roupa suja, o cabelo despenteado, a unha quebrada; só querem curtir o momento, esquecer o que as espera na segunda-feira. Os meninos também. Rolam no barro, na água, na lama, no barranco, e com as meninas nas barracas. Só querem esquecer tudo. Esquecer que a sociedade os forçou a abrir mão de muitas coisas que tinham vontade de fazer, e não podem mais. Não podem por causa de barreiras que eles mesmos criaram, obedecendo as imposições do sistema. Atire a primeira pedra quem de nós nunca teve vontade de sair pulando como louco por aí... Quem nunca teve vontade de deitar no chão molhado, ficar sujo, simplesmente sujo para depois tomar banho de chuva... De sair gritando como um louco desvairado....Mas infelizmente poucos conseguem ser assim. Poucos tem peito para romper as correntes que nos prendem ao sistema. Imaginem quantas pessoas acordam todo dia, vão comer, vão trabalhar, vão comer, vão trabalhar, vão comer, vão estudar, e vão dormir, para no outro dia fazer tudo isso de novo. Quantas não reprimem dentro de si uma grande frustração por não viverem do jeito que têm vontade? É legal pararmos para pensar, que a nossa passagem por aqui (Planeta Terra, né?) é muito breve. Mesmo que oprimidos pelo sistema que nós mesmos criamos, não devemos deixar de fazer as coisas que temos vontade, mesmo que seja só de vez em quando. Rolar no chão, cair na água, pular como um louco, declarar-se para alguém, sumir, passar horas sentado olhando para o infinito, não se importar com horários, com banho, com comida, com trabalho, com nada... “Faça o que tu queres...”, mas respeitando o mundo ao teu redor, (Ex.: Não jogue lixo no chão, não seja um porcalhão, falou?). Tchauzinho, e “aproveitem o dia...”
Street fighting man André Pinheiro - pinheiropoeta@gmail.com - publicado no MCOL nº 04
“Oh, what can a poor boy do, except to sing in a rock-and-roll band?” - The Rolling Stones, 1968. Tinha acabado de comprar um caderno com o Pernalonga na capa, numa loja de 1,99 que fica bem ali numa daquelas transversais que têm nomes escrotos de militares - não lembro qual - do centro da Ilha. Ando bem rápido quando quero/preciso, e como já estava atrasado para a aula de sexta à noite, seguia desviando alucinadamente das pessoas, forçando o passo ao máximo. Quando estava quase saindo da transversal e alcançando a Felipe Schmidt, ouvi algo que mudaria aquele fim de tarde: o violão bem dedilhado de `Hotel California’, dos Eagles, não deixava dúvidas - alguma loja de discos exagerou nos decibéis ao colocar pra rodar uma bolacha das antigas. À medida que me aproximava, logo depois de vencer a esquina, é que percebi: o som era ao vivo, executado na da própria rua. Depois de mais alguns passos, avistei uma figura ao longe: amplificador, microfone e violão elétrico eram as armas utilizadas por aquele lutador das ruas. Cabelos grisalhos, rugas no rosto e dentes em estado deplorável: era a materialização - em carne, osso e fúria - do arquetípico (anti-)herói rock’n’roll. Sua voz, contrastando com a figura mirrada e inofensiva, poderosamente cuspia clássicos do r’n’r com uma intensidade que chegava muito perto dos originais. “Angie”; “Satisfaction”, muito próximo do Jagger 1965; “Blue Suede Shoes”; “Knockin’ on Heaven’s Door”,
na versão do Dylan; “Johnny B. Goode” na versão do Peter Tosh. Só para citar algumas. Não precisa dizer que, entre curiosos e interessados, aquele calçadão ficou apinhado de gente: era engraçado e ao mesmo tempo comovente ver a expressão de `revival’ no rosto de alguns 40ões e 50ões naquela tarde-noite. Não faltavam também, é claro, aqueles desprezíveis playboys e playburras que, desfilando entre um shopping e outro passavam de nariz torcido como quem diz: “oh, my god! tenho que aturar isso...”. Simplesmente eram pessoas que não sacaram o mínimo da importância do que acontecia ali. Gente (podemos chamá-los assim?) tacanha cuja escala de valores definitivamente não inclui talento, espírito de aventura e, acima de tudo, a coragem daquele homem frágil que ousava atrapalhar a rotina modorrenta do calçadão. Aquele frágil homem que, com sua espontaneidade, emocionava um público formado também por anônimos pessoas que não saíram d e suas casas para assistir a um show de rock’n’roll, mas acabaram se entregando à beleza e ao inesperado do espetáculo que acontecia diante de seus olhos e ouvidos. O homem frágil e aparentemente inofensivo tinha ainda o poder de transportar a platéia de anônimos no tempo e no espaço,fazendo com que a multidão, olhando para ele, enxergasse e ouvisse os grandes ícones roqueiros. A partir da terceira música, não me contive mais: agitava meu corpo foda-se a galera no calçadão! - e cantava junto com o misterioso homem. Por alguns instantes, ele era tudo o que eu queria ser. Fechava os olhos e via, na minha mente, Mick Jagger, Elvis, Peter Tosh, Jerry Lee. Meu regozijo chegou ao máximo quando
ouvi as primeiras notas de “What I’d Say”, de Ray Charles. Regravada por Beatles, John Mayall, Jerry Lee e praticamente toda a primeira e parte da segunda geração do rock, a música teve sua introdução chupada - com algumas modificações, claro - pelos Doors na também clássica “Break on through”. Além da música ser realmente um estrondo e nosso herói tê-la interpretado de forma magistral, eu nunca havia visto uma banda que a tocasse em seus shows. Quando o homem cansou um pouco e pediu um pequeno `break’, atravessei a rua e fui conversar com ele. Primeiramente, apertei sua mão e disse: “Meu! Muito obrigado por ter tocado “What I’d Say”. Isso mudou minha vida”. Nosso herói sorriu
emocionado e agradeceu de volta. Trocamos mais algumas palavras e fiquei sabendo que ele se chama Mariano e veio da Itália. Tocou nas ruas da Europa por 14 anos e está há 10 em Floripa, onde mora num muquifo encravado no centrinho. Segui então meu caminho para a aula, agora já sem pressa. Não importava mais o atraso, que a essa altura já era de meia-hora. Não importava mais a distância. Foda-se o tempo; foda-se a pressa: vamos viver um pouco a vida. O fim-de-semana já estava ganho, e havia muita coisa para se pensar, depois do que presenciei no calçadão. Sem exageros posso afirmar que aquele fim de tarde, de alguma forma que ainda não sei definir, mudou minha vida.