Zl nº 64

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Zona

Livre

JAN a JUN 2013 - Nº 64

ESTA REVISTA É UMA EDIÇÃO DO CLUBE SAFO, ASSOCIAÇÃO DE APOIO E DEFESA DOS DIREITOS DAS LÉSBICAS

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3 Editorial

FICHA TECNICA

5 Se me sinto homem, sou 7 “eyes to see” . Corpo, -o! - A liberdade de sentir e de experimentar - Mi Guerreiro

manifesto e aRtivismo queer em Zanele Muholi - Sónia Pina

11 NamOrO

12 Dança

10 Meeting-Point - Sara Barbosa

14 Viver um

- Elsa Almeida

- Cristina V.

14 Passou-se Comigo -

15 La Maestra Toñi

16 The Silly Season

- Rosal de La Frontera

- Gert Santos

18 Manifesto Ecosexual

18 Acolhimento de crianças

- Anabela Rocha

e jovens em situação de adopção – uma emergência nacional - Anabela Rocha

RCF

17 A responsabilidade dos ativismos sociais - Cassilda Pascoal

20 Aprovada co-adopção 21 Debate

relacionamento sem (ou com poucos ciúmes) - Helena Costa

23

por casais do mesmo sexo com 5 votos de diferença - Sónia Pina

Poliparentalidade - Fabíola Cardoso

Sobre o Livro «Sexual Fluidity: Understanding Women's Love and Desire» Inês Rôlo

24 Aos Novos Rumos

25 A Gisberta

26

- Sara Barbosa/Teatro Rápido

mulheres discriminadas por motivos de orientação sexual - Fabíola Cardoso

- Inês Rôlo

27 Cinematografia KIM 27 Agenda LONGINOTTO: Histórias no Feminino

Testemunhos de

27 Outras Iniciativas

Contribuiram para este número: Anabela Rocha Cassilda Pascoal Cristina V. Elsa Almeida Fabíola Cardoso Gert Santos Helena Costa Inês Rôlo Isabel Justino Mi Guerreiro RCF Rosal de La Frontera Sara Barbosa Sónia Pina Edição Sónia Pina Co-edição Elsa Almeida Inês Rôlo Isabel Justino Sara Barbosa Grafismo Sónia Pina PERIODICIDADE Semestral ISSN 2183-0320

CONTACTOS Queremos tornar a nossa "Zona Livre" cada vez mais participada e rica. Estamos à espera das vossas colaborações: textos, poemas, desenhos, fotografias, testemunhos, histórias, notícias, e afins. A tua colaboração poderá ser sobre qualquer outro assunto que te interesse. Qualquer pessoa pode participar; basta enviar os materiais até 30 de Setembro por e-mail ou para o Apartado indicado.

Todos os textos publicados refletem a opinião das autoras ou autores e não traduzem necessariamente a posição do Clube Safo. A publicação de fotografias ou a referência a pessoas não deve ser assumida como indicadora da sua orientação sexual.

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Apartado 9973 1911-701 Lisboa Tel: 967 957 516 www.clubesafo.com clubesafo@clubesafo.com facebook.com/Clubesafo Mailing-list: Clube_Safosubscribe@yahoogrupos.com.br


3

Editorial:

A

Associação Clube Safo, organização de defesa dos direitos das mulheres lésbicas portuguesas, elegeu em 9 de Fevereiro de 2013, uma nova equipa para os seus órgãos sociais, retomando a sua actividade que esteve indeterminada durante certo período. Esta equipa apresenta-se neste editorial como tendo uma visão do Clube Safo como associação apelante à participação de tod@s num espírito diversificado, inclusivo e colaborativo. Nesse horizonte, para o triénio afirmam-se eixos de intervenção em aberto no sentido da cooperação das associadas no programa e nos eventos delineados. A edição da Zona Livre compreende um desses eixos, pretendendo-se trilhar o seu percurso passado dando continuidade à divulgação dos textos das colaboradoras, simpatizantes e associadas, mas também exponenciar esta colaboração, apelando à partilha de narrativas (pessoais ou ficcionais), da criatividade (fotografia, ilustração, etc.), e dar continuidade à divulgação da agenda, bem como à divulgação da investigação académica em torno da temática lés e suas hipostasias. Retomando-se nesta edição a ZL como tribuna disponível a tod@s que queiram partilhar a sua voz. No sentido de abarcar o maior espaço de intervenção, criaram-se grupos de trabalho, na expectativa de que, da mesma forma, estes venham a integrar propostas das associadas, abrindo-se lugar para, caso assim se deseje, criar novos grupos. Afirmámos que, na senda do pioneirismo da associação, pretendemos manter os pilares de luta pelos direitos das

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4 lésbicas por meio da criação de uma plataforma para a intervenção, visibilidade e sociabilização. Estamos a encetar esforços para desenvolver um trabalho que não esteja virado exclusivamente para as comunidades lésbicas portuguesas, mas que acrescente valor a um mundo social e economicamente mais justo, culturalmente diverso e ecologicamente sustentável. Com esse objectivo procura-se desenvolver um trabalho em articulação com outros movimentos, nacionais e internacionais, que partilhem estes objectivos, de forma a que, por meio da cooperação, a acção do Clube Safo se torne mais incisiva e eficaz. Consequentemente, entendemos ser importante o reforço de sinergias com os grupos anti-austeritários e movimentos feministas porque, para além de reclamar o direito a uma identidade lésbica, a mulher lés tem, também, de enfrentar todos os dias a luta por salários e oportunidades iguais, sofrendo acrescidamente a pressão para cumprir os papéis sociais que o patriarcado lhes tenta impor, tal como a todas as mulheres, o dever da reprodução e de cuidadora, reduzindo-as a isso mesmo, unidades de produção e preservação de mão-de-obra, segregando quando elas não pretendem encarnar, somente, esses papéis tradicionais. O Clube Safo crê que ser lésbica e feminista são duas lutas indissociáveis. Igualmente, pretende o Clube reforçar também a cooperação inter-organizações, colocando na agenda todas as iniciativas que se enquadrem na luta contra a discriminação e que contribuam para a maior visibilidade da comunidade LGBTQI. Ainda, pretende abrir um novo eixo de actuação que se prenderá com a questão do envelhecimento da população lés, e a indestrinçável questão da múltipla discriminação e acumulação de vulnerabilidades, promovendo programas de apoio intergeracional e de promoção do envelhecimento activo e integrado. Entre estas, pretende-se avançar com outras propostas que resultam directamente do contexto sócio-económico que se vive, e com o objectivo de incentivar a continuidade das actuais associadas, fomentando a adesão de novas associadas: (1) a redução para 24€ anuais de quota mínima ou 12€ a quem se encontra em situação de fragilidade económica (que podem ser pagos de uma só vez ou semestralmente); (2) a actualização das quotas em atraso por meio de requerimento das associadas propondo-se a retomar o seu pagamento, efectivando apenas as quotas de 2013; (3) a redução para metade do valor das quotas pagas em 2012, o que poderá reverter para quotas de 2013 ou, em contrapartida, a recepção da Zona Livre em papel (o que implicará a contribuição do seu custo extra quando assim se verifique). Por fim, aspiramos a estreitar os pontos de contacto com as associadas, disponibilizando uma permanente actualização do site, tal como uma expedita página de Facebook também com actualização sistemática, e a mailinglist, procurando acompanhar e divulgar toda a informação relevante, e promover uma maior aproximação, e interacção com as associadas e simpatizantes.

Saudações sáficas, P‟la Associação Clube Safo Lisboa, Maio de 2013

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Se me sinto homem, sou-o! - A liberdade de sentir e de experimentar por Mi Guerreiro

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C

estereotipada e imposta, as quais eu mesmo tive a omo todas sabemos, há mulheres femininas, há

oportunidade de explorar. Mas esse empoderamento cedo

mulheres masculinas, há homens masculinos e há homens se transforma num reforço do binarismo de género femininos. O que algumas sabem, mas que nem todas

imposto pela sociedade (ou és homem ou és mulher). Na

compreendem profundamente é que há mulheres que se

verdade, nunca parecemos chegar a questionar conceitos

sentem homens e o são, e há homens que se sentem

como “mulher” e “homem”, para além do ponto de vista

mulheres e o são. Falo das pessoas transgénero, que nós

feminista. Afinal, o que significa ser um homem? Que

sabemos que existem, mas que parecem viver num mundo pedestal é este que ele ocupa e porque é que, como à parte. “As mulheres pertencem a Vénus e os homens a

lésbica, sentia que tinha de reafirmar o estatuto de

Marte”... Será assim tão simples?

mulher?

Afinal, de que forma está o mundo dos homens trans

Quase toda a minha infância foi passada com rapazes, por

relacionado com a comunidade lésbica/bissexual?

ter um irmão mais velho. Até nem me importava de brincar com bonecas, mas também não me importava de

Pretendo, humildemente, que este artigo se torne num

brincar com carros: afinal, são só brinquedos.

cachimbo de paz fumado entre estas duas comunidades. Na impossibilidade de o conseguir, fica a intenção. Eu

Lembro-me que das maiores cisões com o género que me

mesmo sinto-me e identifico-me como homem, logo sou-

foi imposto foi quando, numa das corridas de bicicleta que

o. No entanto, até recentemente vivi dentro dos circuitos

fazia, um rapaz novo do bairro me disse: “não, tu não

lésbicos/bissexuais, partilhando reflexões, sentimentos e

podes correr connosco porque és rapariga”. Os restantes

opressões. Como não realizei nenhuma operação cirúrgica concordaram, mas eu fiquei apenas confuso. Quer dizer, a nem tomei testosterona, as pessoas geralmente associam

minha mãe já me tinha dito que eu era uma rapariga, mas

o meu aspeto ao de uma lésbica butch, apesar de nada

nunca me tinha apercebido o quanto isso me poderia

saberem sobre a minha orientação sexual. Na verdade,

impedir de ser quem sou e fazer algo.

para simplificação, às pessoas que nasceram e foram socializadas como “mulher” chamarei, de agora em diante, Já em adolescente, tive dificuldade em entender a “faab”, do termo inglês “female assigned at birth”.

necessidade de afirmação da identidade de mulher, fora do meio reivindicativo. Na verdade, nunca me tinha sentido

A comunidade lésbica/bissexual foi aquela a que pertenci mulher e quanto mais mulheres e homens faab's conhecia, durante mais tempo. Como tal, não consigo deixar de

menos sentido me faziam essas categorias. Sentimos e

achar positivo, o à-vontade nela para a experimentação de somos? uma forma de vestir e agir masculinas. Uma liberdade que ainda bem que gozamos e exploramos! Um exemplo

Darei o último bafo no cachimbo, confessando a

da relação entre opressões e experiências é o nosso

importância da comunidade lésbica e bissexual para o

“gaydar” guiar-se por noções de expressão de género,

meu crescimento, enquanto pessoa mais livre, e convido,

nem sempre relacionadas com a orientação sexual.

quem quiser a explorar, sempre, todas as caixas que nos

Contudo, sinto que ainda existe uma reprodução rígida

oprimem.

das regras de género. O típico discurso “é uma mulher por causa da sua genética” parece não ter sido ultrapassado, também nesta comunidade. Há um sentimento de liberdade visível em criar novas formas de poder ser mulher, para além da

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2013


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“eyes to see” : Corpo, manifesto e aRtivismo queer em Zanele Muholi -

forma, de uma contradição, na medida note that we were here.” (2010: 6) em que é na e pela imagem que se

Ou seja, fazendo face a todos os de-

grassam todas as combatividades,

safios que a nossa comunidade en-

verificando-se na afirmação “What you frenta hoje diariamente, diz, em-

por Sónia Pina

see is what you get!” a glosa da uma

barquei numa jornada (missão) de

30/04/2013

identidade dita „autêntica‟.

activismo visual para assegurar que existe “black queer visibility”. É im-

No texto «Playing with „Normal’: A

portante para assinalar, mapear e

Review of Zanele Muholi‟s Faces and

preservar os movimentos (momentos)

Phases», publicado no site da artista,

através das histórias visuais tanto

Yvette Abrahams testemunha que

como referenciar para a posteridade,

todos os anos faz por sair do armário

para que no futuro as gerações

como sobrevivente de violação, e que

tenham noção que estivemos aí.

isso é tão politicamente importante como o seu coming-out como lésbica.

«Faces and Phases» configura um painel de retratos monocromáticos,

A luta das lésbicas na África-do-Sul é que é também arquivo vivo da também a luta pelos Direitos

existência de mulheres negras e queer

Humanos continuando estas, por isso, maioritariamente residentes na África

S

cerceadas de organizar efectivamente -do-Sul, e da violência quotidiana que a sua libertação, na medida em que em identidade visual, não existe

movimento diz Zanele Muholi.

se abate sobre elas.

esta libertação depende de viver depois de ser vítima de “violação

Também o filme documental

curativa” e da capacidade de se expor

«Difficult Love» (2012, Z. M. & Peter

A afirmação configura um manifesto à ao trauma. Contribuindo a visibilidade lésbica, queer e visibilidade, nessa dupla vertente,

Goldsmid‟s) retrata a realidade das

transgender, representando a história

filme foi apresentado inicialmente em

tanto para dar poder, como para

mulheres lésbicas violentadas. O

visual das lésbicas negras no contexto reavivar a dor. Não obstante, é a

17th Out in Africa Gay and Lesbian

do pós-Apartheid na África-do-Sul.

visibilidade e não o anonimato o

Film Festival na África-do-Sul, e em

reforço do processo da cura, na

diversos outros festivais nacionais e

Como infelizmente sabemos, o lastro

medida em que ficam mais fortes e

internacionais onde obteve seis

da combatividade LGBTQI ainda vai

combatem o processo de segregação.

prémios. A ampla divulgação deste

no átrio, sendo que a cobertura dos

filme maximizou o impacto da causa

actos de ódio contra esta população

Na introdução do seu Livro «Faces

além fronteiras e, ao mesmo tempo,

não existe, assumindo o activismo

and Phases» (2010), afirma: “In the

garantiu a Z.M. o devido

artístico, não raras vezes, o meio para face of all the challenges our community reconhecimento como artista queer. denunciar. A arte volve acção, arma encounters daily, I embarked on a journey de combate, na medida em que passa

of visual activism to ensure that there is

Diz Z.M. que embora a história sócio-

a ser resistência política, social e

black queer visibility. It is important to

política da África-do-Sul esteja

cultural.

mark, map and preserve our mo(ve)ments devidamente referenciada em through visual histories for reference and publicações, poucas são as que

O activismo visual germina, de certa

posterity so that future generations will

incluem Lésbicas, Gays, Bisexuais,

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8 Transgenders e Intersex (LGBTQI)

reconhecimento público às pessoas

sendo a partir desse jogo que reenvia

como pessoas que tenham

que têm tido um papel importante na

à identidade plural e ao corpo como

contribuido para as lutas da

emergência de uma nova cultura

“l’ouverture”. (…)

Liberdade e da Democracia. Somente democrática que inclua a temática depois de 1994 as vozes das lésbicas

LGBTQI, como atrizes, futebolistas,

negras começaram a ecoar. Muitas

activistas culturais, bailarinos,

começaram a operar na

realizadores, escritores, fotografos e

clandestinidade e poucas seriam

activistas em geral; celebrando

reconhecidas nas publicações gay. A

igualmente, o amor entre mulheres.

isto acresce o terrível facto das

————————

Notas: 1. http://www.zanelemuholi.com/Playing% 20with_YA%202010.pdf (Consultado a 15 de Abril de 2013);

lésbicas serem alvo de uma crença

Z.M. diz que a mensagem que

cultural ignorante que considera a

pretende partilhar é que não é

violação forma de cura da suposta

possível mudar leis sem mudar a

www.zanelemuholi.com/Review%20ZM_Nadia%

„anormalidade‟, sendo muitas vezes

imagem, e que para tal é necessário

20Sanger.pdf ;idem): 3. http://www.stevenson.info/

estupradas por elementos da própria

mudar a imagem para educar as

família.

pessoas.

2. Sanger, Nadia (s.d.) «Review: Reading Zanele Muholi’s Faces and Phases and Difficult Love» : http://

exhibitions/muholi/facesphases.htm (Consultado a 15 de Abril de 2013); 4. Butler, J. (2003). «Problemas de Género. Feminismo e subversão da identidade». Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, pgs.193-194

Em «Difficult Love» visiona-se

Em síntese e à guisa de Butler (2003),

claramente a barbárie de tais actos,

a projecção de uma identidade visual

por meio dos testemunhos crus de

permite a “redescrita dos processos

lésbicas que optam precisamente por

intrapsíquicos em termos de política

denunciar tais práticas. A

da superfície do corpo que por sua

disseminação da mensagem

vez implica uma redescrição corolária

possibilita a sua circulação em vários

do género como produção disciplinar

contextos, o que de outra forma não das imagens pelo jogo da presença e seria possível. Vê-se, pois, a classe

ausência da superfície do corpo, como

política directamente visada e

construção do corpo e o seu género

confrontada com a sua inoperância

por meio de uma série de exclusões e

perante o olhar de todxs, o que tem

negações, ausências significantes, que

proporcionado a estas mulheres outra em contrapartida remetem para a protecção e gradualmente a mudança necessidade de romper com a de mentalidades. Esta acção é

regulação, a fixação e a coerência

fundamental para a denúncia dos

identitária, reforçando o modelo

crimes de ódio que se propagam no

expressivo em detrimento do modelo

mundo inteiro, como

disciplinatório”.

lamentavelmente presenciámos. O activismo visual incorpora enfim a «Faces and Phases» cartografa pois

imagem que não representa mas

rostos, faces e histórias das mulheres

mostra. O corpo como inscrição bio-

lésbicas Sul-Africanas. Como

política volve manifesto, resistência e

memorial dá rosto as vítimas de

protesto. Uma condição que emerge

violência, às que desapareceram;

da relação performance vs.

como processo histórico, dá

performatividade (acepção de Butler),

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FACES AND PHASES (2010)

Thabile Mbatha, Vredehoek, Cape Town, 2009

Sacha 'Kalmplex' Morrison, Toronto, 2008

Eulander Koester, Gugulethu, Cape Town, 2008

Zama Sibiya, Braamfontein, Johannesburg, 2010

Bathandwa Mosho, Braamfontein, Johannesburg, 2010

Tumi Mkhuma, Katlehong, Johannesburg, 2010

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Meeting-Point

Há muito que nos tínhamos entendido por meias frases, ironias por Sara Barbosa mais ou menos discretas, olhares explicitamente cúmplices. Não, nunca houvera lugar para dúvidas. E depois, unca esperei encontrá-la ali. aquela mistura de segurança Embora talvez o desejasse, e coquetterie, de fragilidade e firmeza, secretamente. Na verdade, imaginava o modo como certos olhares me muitas vezes cruzar-me com ela em atingiam, às vezes, numa irónica algum lugar, mas nunca naquele sedução que eu sentia leve como lugar. Talvez um encontro ocasional dentes que se cravassem à saída de um cinema, ou melhor, de superficialmente na pele, apenas o um teatro, ou mesmo numa esplanada suficiente para quase doer. Intenso e de praia, por mero acaso, talvez sozinha, talvez acompanhada. Nas fantasias em que por vezes me afundava diletantemente, só para passar tempo, para saborear, de forma ligeira, esse picante do prazer imaginado, inócuo porque impossível; nessas alturas, permitia-me imaginá -la, com detalhe, diria mesmo com requintes de malvadez, a entrar numa livraria, com aquele ar estudado, distraído e falsamente ausente, talvez a passar rápido, e inconsequente, pensava eu, por mim como se não me visse, o que com alívio. contribuiria para instaurar desde logo Por isso me permitia, embora apenas um clima ligeiramente erótico. por momentos, envolvê-la em olhares Depois vinha o quase choque menos inocentes. Um jogo, como ocasional, o ah, olá, por aqui? que nos qualquer outro, simplesmente um conduziria para a inevitável conversa jogo. Captar um detalhe, a deliciosa num café próximo e adensaria aquela curva do pescoço, por exemplo, ou o atmosfera sensual… Enfim, não mais pouco do pulso que ultrapassava a que devaneios, nada de comparável ao manga da camisa (camisa já por si facto de a ter agora, à minha frente, provocante, um estilo ligeiramente naquele lugar onde não me tinha masculino, com botões de punho, (ainda?) permitido imaginá-la. esses sim, demasiado finos e Não que tivesse dúvidas a seu trabalhados, não aqueles que usa, respeito, nada de falsas ingenuidades. habitualmente, um homem), e explorá

N

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-lo luxuriosamente. Generoso dom, a imaginação. Que sempre me autorizou a ter por exclusivamente minhas tais divagações e a não conceber, nem por instantes, algum outro rumo para a história. Porque apenas na imaginação ela era minha, única e completamente minha. Era têla ali, abandonada, entregue ao meu olhar, como se a tivesse sob os meus dedos. Em sonhos, bem, só aí, me atreveria, talvez, a um convite mais directo, um café, um jantar, acompanhá-la depois a casa… Por tudo isto me era difícil aceitar o momento presente: ela estar ali, à minha frente, olhar e sorriso de ironia intraduzível. As amigas com quem viera já se tinham afastado, dando-me espaço ao verem que observava com demasiada atenção a mulher sentada naquela mesa ao fundo, sozinha, de copo quase vazio na mão… Os nossos olhares cruzaram-se e já não havia fuga possível, era um vago sorriso que se desenhava nos lábios de ambas, que eu forçava nos meus, ao mesmo tempo que os passos me encaminhavam para mais perto. O final da história é sempre deceptivo. Não existem finais felizes: é uma história que termina. Pelo menos eu sentia-o assim. Sentia a minha história imaginada com aquela mulher prestes a terminar. E agora? Pânico e um misto de excitação e tristeza, quando finalmente articulei: Por aqui, sozinha? Ainda bem, ofereço-lhe uma bebida. 2013


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"Quando fotografar faz parte da tua necessidade diária de ver / sentir / imaginar, muita coisa pode parecer o que não é, este namoro existiu? Sim, não, talvez. A necessidade quase física de te aproximares do que te rodeia com um registo compulsivo, onde os teus próprios signos se transformam em diário gráfico remete, muitas vezes, para a necessidade de gerar narrativas.

Este NAmOrO é isso mesmo.”

Elsa Almeida (2013)

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Dança

por Cristina V.

F

no teatro. Por isso, refreei os meus pés, mesmo sabendo ser impossível refrear o coração. Coração que me saltava no peito e que tornava mais irrealizável acalmar o meu desejo!

inalmente, fui-te ver dançar… Era a estreia do teu Abri a porta do teu camarim sem bater e, mal te vi, fiz novo ballet! Por uma razão ou por outra nunca conseguira ir ver os teus espectáculos, por isso, até aquela amor contigo… Apenas com os olhos, pois não estavas só. O teu agente estava lá, simpático e elegante como noite, tinha-me consolado assistindo aos teus ensaios. sempre, de gravata perfeitamente alinhada. Dava-te os parabéns, enquanto um jovem casal te elogiava e oferecia Vi-te naquele palco grande e escuro onde tu bailavas… Sim, não estavas só, mas para mim, naquela sala, eras tu a um ramo de flores. Mais um para juntares aos muitos que enchiam já a sala. Eu levei-te “apenas” uma rosa “Black única bailarina: a minha “prima ballerina assoluta”! A luz dos holofotes caía sobre ti e tornava ainda mais luminoso magic”, príncipe negro, símbolo da nossa paixão. o teu vestido.

Olhaste-me mal entrei e percebi, pelo teu olhar, que a partir desse momento não tiveste olhos para mais Rodopiavas e o teu corpo magro, bem torneado e ninguém, apesar dos teus admiradores, homens e feminino ia contando uma história de amor. Os teus mulheres, continuarem a invadir a sala, sempre braços estendiam-se para o público, mas logo recuavas, acompanhados de flores, belas e aromáticas, como tu, ligeira, de cabeça baixa, como se tivesses sido rejeitada. E minha perfumada rosa negra! eu via-te e guardava na memória cada gesto teu… Tive de esperar e reprimir o que o meu corpo ansiava por te dizer! Também eu ansiava por dançar e rodopiar Dançavas… e a minha alma dançava contigo já que o contigo! meu corpo não podia. E como tu dançavas… Como tu dançavas, meu amor!!

Fazias uma pirouette e lembravas-me uma ampulheta, na qual a areia do tempo vai caindo. E rodavas, cada vez com mais velocidade… Mas, estranhamente ou talvez não, não eras tu que ficavas zonza, era eu… “Zonza” de amor por ti!

Alegrei-me por ver como tanta gente te admira e, quiçá, te ama e te adora, como se adoram aqueles que se aproximam dos deuses. E como tu danças, minha deusa! Não, não senti ciúmes, senti, sim, um enorme orgulho, como só quem muito ama e sente que é amada - pode sentir! Não há dúvidas no nosso amor e nem imaginas como isso me alegra!

A espera pareceu-me infinita, mas vale sempre a pena esperar por ti, Naquela noite, tive pena de não pois a cada segundo, a cada minuto, a ter aprendido ballet… cada hora te desejo mais! Arabesques ou um rond de jambe Deambulei pela sala, fingindo que admirava as flores e a en l'air eram, para mim, apenas palavras e expressões decoração, enquanto tu recebias sempre mais aplausos e francesas. Posso não perceber de dança, posso mesmo palavras doces dos teus fãs. E tu agradecias e sorrias, não saber dançar, mas percebo bem do teu corpo, do teu enquanto discretamente me olhavas e me desejavas. É tão belo e enamorado corpo! Mais exótico do que o meu, mais bom quando nos amam e nos desejam com a mesma forte do que o meu, mas que, milagre dos milagres, intensidade com que nós amamos e desejamos! Que sorte escolheu o meu para o amar! eu tenho, por te ter e te querer! E como eu te amo e como eu gosto de te ver dançar… Os teus cabelos escuros e muito ondulados ondulavam ainda mais à medida que contorcias o teu corpo moreno, muito moreno, mesclado de africano e europeu, pleno de ritmo, de terra, de rituais de fertilidade!

Ao fim de meia hora, que me pareceu um longo mês de inverno, o Daniel pediu aos teus admiradores para saírem da sala e te deixarem só, para que pudesses arranjar-te. Afinal, tinhas de ir jantar com a coreógrafa e os produtores e, claro, comigo! Antes de fechar a porta, ele piscou-me o olho, sorriu e acenou com a cabeça - ele sabe como te amo e como só te quero ver feliz!

Nunca desejei tanto que um espectáculo chegasse ao fim… Senti-te a minha Erato, a minha musa da poesia, Ainda não tinha rodado completamente a chave na por quem eu, simples mortal, me apaixonara sem medida! fechadura e já tu me tiravas a rosa da mão. Ao mesmo tempo que inalavas o seu aroma, puxaste-me para ti, com Quando, finalmente, no final do espectáculo se calou a a mesma determinação, vigor e paixão com que dançaste! segunda salva de palmas, dirigi-me apressadamente para Depois, muito devagar, sabendo que isso me fazia desejar os bastidores para te beijar. Queria tanto sentir os teus -te ainda mais, aproximaste a tua face da minha e roçaste lábios nos meus, beijar-te as orelhas, como sei que gostas, os teus lábios nos meus…len-ta-men-te. e dizer-te ao ouvido que te desejo como nunca desejei ninguém! Que maldade, amor! – sussurrei-te ao ouvido quando os Queria voar para te tocar, mas sabia que não devia correr

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13 Não sei se era por estarmos encharcadas de desejo, se era por falta de jeito meu ou se era apenas por os meus dedos tremerem por sentirem a proximidade da tua pele, talvez por isso os botões do teu vestido pareciam não se querer desapertar. O que eu quis arrancar o teu fato, mas tinhasme avisado que não podia fazer isso: ias precisar dele para as restantes apresentações. Sabendo que isso me atrapalhava ainda mais, beijavas-me o pescoço e rias-te da minha atrapalhação.

assim fica surpresa com tanto prazer!

Então amor, não me desejas? – perguntavas baixinho, sabendo bem qual era a resposta.

Estreitámos os nossos corpos ainda mais e não havia fronteira entre ti e mim. A nossa pele era nossa e apenas havia um corpo e um orgasmo e um gemido e um grito de prazer! Os nossos corpos colados, amados, plasmados…

Quando finalmente te consegui despir, já tu me tinhas tornado nua, sem qualquer respeito pelos meus botões. Tenho de tomar um banho – disseste-me languidamente, enquanto entravas no duche e me puxavas para me lavares com o teu corpo. Abriste a água, mas nem o frio conseguiu acalmar os nossos corpos e tornámos quente a água que por nós escorria. Beijei-te, beijámo-nos e senti os teus mamilos nos meus. Até nisso é bom sermos da mesma altura, de corpo e de espírito! Cheguei-te mais para mim, enquanto a água tornava mais fácil o meu ventre roçar o teu… Afastaste-me um pouco e olhaste-me,

Só tu me sabes dar prazer, meu amor, toca-me como só tu sabes! – pediste-me sabendo que não te recuso nada! E a água caía por nós abaixo e encharcava ainda mais o nosso amor. E tu e eu tremíamos e vibrávamos e, na exiguidade do duche, dançávamos… Uma dança só nossa, íntima, amorosa, plena de vida!

Amor! – disseste tu. Amor! – declarei-te eu. Amámo-nos, simplesmente, naturalmente, sem pressas! Amámo-nos! Os teus lábios nos meus, o teu prazer com o meu! Amámo-nos! Amamo-nos.

E naquele dia, naquele momento em que tu e eu fomos, novamente, uma só, soube, e sei que também soubeste, sem qualquer dúvida, que foi por ti que esperei e que é apenas contigo que quero dançar o resto da vida! Uma dança de entrega sem receios, sem limites, sem passados. Uma dança apenas de presente e de futuro. Uma dança como se memorizasses cada pedaço da minha nudez. E eu durante a qual os nossos corpos e os nossos espíritos amei-te ainda mais! sentem, crescem e envelhecem juntos, desejando sempre bem um ao outro, vibrando… um pelo outro… um com o Coloquei o meu indicador na covinha do teu pescoço e outro! 2013 deixei-o deslizar por entre os teus seios, pelo meio do teu tronco, pelo teu umbigo e, dando finalmente resposta ao meu desejo, alcancei a tua púbis e toquei-te… Estremeceste, como quem sabe o que a espera, mas ainda

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Viver um relacionamento sem (ou com poucos ciúmes) por Helena Costa

telemóvel e após o final da chamada, se a outra pessoa perguntar quem ligou, responder: “Não tens nada a ver com isso”?

materializado. A razão pela qual me sinto à vontade com ela e ela comigo para termos esta liberdade é a confiança que existe entre nós.

No entanto, a verdade é que nenhuma relação é 100% isenta de ciúmes e os ciúmes também não são maus de todo, podendo ser uma m dos aspectos que sempre me forma de se mostrar que se valoriza a fez confusão quando via pessoa com quem estamos. Ciúmes relacionamentos, tanto em demasia – os doentios – podem heterossexuais como homossexuais, perturbar a relação e a base de foi sempre a questão dos ciúmes e confiança e comunicação franca, ainda sem ter tido nenhuma relação, honesta e aberta sobre a qual deveria bem no início de eu ter saído do assentar, o que a fragiliza ou armário, pensava para mim mesma Dito isto, várias amigas minhas compromete. Esta situação pode que tentaria ao máximo evitar acham a minha relação culminar numa separação, que prejudicar a minha relação com a estranhamente liberal. Isto, porque poderia ter sido evitada, se se tivesse minha futura namorada com ciúmes. eu saio à noite e fico em casa de mantido um ambiente em que ambas outras pessoas que ela não conhece e as pessoas se tivessem sentido à Chegou o dia em que conheci a admito abertamente, mesmo estando vontade e livres para continuar a minha actual namorada e aí chegou a ao pé dela, quando uma rapariga me serem elas mesmas e a manterem hora de verdade e sabem que mais? atrai, fazendo por vezes comentários uma identidade própria, separada da O que eu dizia há anos atrás tentei e que podem ser considerados pouco da sua companheira. consegui cumprir. apropriados para se fazer ao pé de uma namorada. Concluo com uma frase que acho Um factor importante, a meu ver, é a Não dou grandes explicações sobre o muito interessante da Barbara Smith, comunicação entre os membros do que faço, com quem faço e porque feminista lésbica americana, que diz: casal e logo desde o início tentar-se faço, porque francamente, mãe já “A confiança é o início, a fundação perceber o outro. Ou seja, se estou tenho uma e chega-me. Inclusive, sobre a qual mais pode ser numa relação com uma pessoa durante um período em que construído. Onde há confiança, o ciumenta quando eu própria não sou, estivemos longe uma da outra, amor floresce”. ou sou pouco, vou sabotar a relação tínhamos uma relação aberta, ao fazer coisas como atender o embora nunca se tenha 2013

U

Passou-se comigo por RCF

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Com isto não estou a dizer que se deva ceder a todas as exigências, por pouco razoáveis que sejam. Não vou começar a deixar de sair com os meus amigos ou até outras raparigas lésbicas/bissexuais por ela ter ciúmes delas. Tenha santa paciência, mas ou me aceita como sou ou pode procurar outra pessoa mais compatível.

Cada vez que se deslocava à feira dos bovinos na Sertã, era dia de festa e de desilusão para mim. Dia de festa, porque vinha a minha prometida 'gaita'. Desilusão, porque o meu pai dizia sempre que a 'velha' não tinha.

ra eu bem pequena, 4/5 anos, já gostava de brincar só com rapazes. Jogar à bola, ao berlinde, à malha, subir Esta história, verídica, serviu para que todas as pessoas da minha família se divertissem à minha custa durante 4 às árvores, era o melhor que me podiam dar. anos. Tinha eu 8 anos, houve alguém de bom senso (não O meu pai era negociador de gado bovino. Um certo dia, me lembro quem) que me chamou à razão e me disse com na sua ingenuidade, caiu na asneira de me dizer: “Raça da todo o seu carinho e cuidado: Anda cá Rosinha, não fiques rapariga, só gosta de subir às árvores e brincar com os triste, mas sabes, eles andam a brincar contigo, as gaitas rapazes... deixa lá que quando voltar à feira para comprar não se compram, já nascem com os meninos. Tu tens uma bois, há lá uma velha que vende gaitas (pénis, queria ele pachachinha, ainda mais bonita que a gaita dos homens, etc. Aceitei com resignação o que a senhora me disse. dizer), vou-te trazer uma!” Hoje agradeço-lhe muito a maneira, a meiguice e o Eu, na minha ingenuidade, fiquei tão contente, mas tão cuidado, com que ela abordou o assunto. contente, que dava pulos de alegria.

Se não fosse essa senhora talvez hoje eu fosse uma pessoa O meu pai, na sua santa ignorância, também não se frustrada, traumatizada, sei lá... Por causa de uma apercebeu que tinha ali uma filha, com uma orientação brincadeira simples e sem maldade, que o meu GRANDE sexual diferente das pessoas existentes por aqueles lados PAI, teve para mim, mas na mais pura das ignorâncias nestas questões. (pelo menos que se soubesse). 2013

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La Maestra Toñi Por Rosal de La Frontera 27/9/2002

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oñi és joven, guapa, inteligente, divertida, buena y cariñosa.

Pero tudo está lejos de esa aldea adonde sólo tiene a sus alunos a quién tanto quiere. Porque Toñi adora ser maestra y, hace ya 10 años que se repite la incertitud: tendré plaza? Que alunos? Que aldea o ciudad? Que compañeros? Que casa alquilar? Al final del mês su sueldo se divide por alquiler de casa, cuenta de móvil, gasolina y comida.

Toñi és maestra y, tal como casi todas las maestras que lo Al final del año vuelve la incertitud del año seguiente y la han elegido ser, adora a sus niños y passa com ellos buenos ratos, mientras les enseña las ciências de la vida, inestabilidad és su seguridade de vida. Y, LO MÁS DRAMÁTICO,NO ÉS LA SOLITUD, LOS del mondo y del afecto. FANTASMAS NOCTURNOS NI LA INCERTITUD. És el desempleo puro y duro por sí acaso, no hay una Apesar de tener su casa y su família y su nobia en la plaza libre en los cien (100, sí!) para donde tiene que ciudad, Toñi tiene que vivir en un pueblo pequeño y inscribirse. lejano, de frontera, adonde no conosce a nadie y tiene miedos y insomnios por la noche. Toñi tiene, por eso, que vivir en una habitacione alquilada en una casa antiqua com techos de barrotes de madera y un pátio y un sobrado.

Mientras bebe su cervecita del consuelo por las largas tardes, Toñi sueña com planos de futuro que nunca podrá hacer com su compañera y dale vueltas a las leyes de los hombres para descubrir como tener una vida normal, compartida.

No, Toñi no és una joven maestra buscando su primero empleo. Toñi tiene 40 años y mucho ânimo y pedagogia y Y todo solo porque Toñi ama a sus alunos como si fueran calor en el corazón. En esa casa antiqua que tiene una puerta com postigo que sus hijos y tiene gusto o el vício de ser maestra. mira a un naranjo, Toñi sueña com una vida estabile, En este momento, pensemos en todas las Toñis de esta compartida com la mujer a quién ama. rica Andalucia que, com la dignidade que las leyes laborales y sociales les niegan, comen su bocadillo de la Por la noche, en la cocina, frente a la tele, Toñi come su bocadillo de jamón, mientras mira las fotos de vacaciones noche, condimentado com el amargo de una cási exclusión social. en la pared. Y se imagina como seria bueno ir a bailar a un bar de ambiente o nadar en la piscina o ir al cine o a un encuentro de mujeres.

Hoy, 22/4/2013, Toñi ya és mayor, 52 años, há aprovado los examenes todos y cumplido rigorosamente las leyes de los Reales Decretos de la Enseñanza Pública, trabaja com ordenador y habla por Skype, sigue vivendo en una casa alquilada de Rosal de la Frontera, sóla y sin ânimo para seguir adelante. Gana la mitad, todavia toma su cervecita por las tardes, ya no tiene el apoyo y comprensión de madres de alunos y su Director, pero una Directora incompetente y fascista que le está haciendo la vida imposible. “Por las noches no tengo sueños de tempos futuros mejores. Miro la tele, como mi bocadillo y pienso si tomar tranquilizantes, si entregarme en las manos de un psiquiatra o dejar de crer en las leyes, las directoras, los abusos de bullying de “niños” de 14 años, la hipocrisia de los compañeros , la injusticia de la vida, simplesmente me gustaría abandonar, sí abandonar tudo. Y, creo, k ya ni la enseñanza me gusta!” Rosal de La Frontera, Antónia Terrero Martinez, sindicalizada

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THE

SILLY SEASON

By Gert Santos

Me and the walls The walls and me Look! Whose ´r those eyes Starying at me? Can I talk to thee? Just the mirror And in the mirror…… just me! Whose „r the slippers Next to mine? - From the other one - Who‟s far away - Drinkin‟ beer and wine. Why can I feel only anxiety? Where‟s the garden With fresh wind blowing From trees and the sea? - The heat ate the flower Men cut the tree. Can they see me? Me and the walls The walls and me Sinking in thoughts of nice company. Will someone visit me? Read the book, go on the diet Watch the news, drink ginger tea Write on-line lyrics just for free Thou art alone Everyone can see Go to the pool or Swim in the sea Send her a poem Wishing your friend A HAPPY ANIVERSARY! Hey! There´s a mail There´re words, words on the screen In front of me. Uff! God gave me wings Wings of poetry! That make me fly Fly and see: Finally your words entering my room Words of wisdom, Friendship and Peace Full of hope and sincerity My mind is gay, gay and free Your words are coming Thou art here Here, for me. Not only heat, book and cell phone Pool and TV Thou art here And I can talk to thee! Portugal 2013

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17 Somos ambientalistas mas continuamos a comer carne, peixe e derivados. Queremos derrubar o imperialismo e o capitalismo mas não resistimos a consumir sem qualquer pudor e em larga escala todos os seus maiores símbolos. Por Cassilda Pascoal Defendemos o fim das guerras, somos anti-militaristas, mas ninguém quer saber se temos uma base militar americana nos Açores e outra da NATO em Oeiras. Somos feministas mas não dispensamos os ovos e leite ao os últimos tempos vimos a população experimentar pequeno-almoço. várias formas de organização, umas mais eficazes que Somos humanistas mas temos megafones Made in China outras. Com alguma surpresa, vimos gigantescos para levar para as manifs. momentos de união e mobilização popular, inéditos aos olhos de quem nasceu depois de 25 de abril de 74. Do sul global, do hemisfério mal tratado, chegam-nos noticias e exemplos de resistência de povos incríveis, As reivindicações, os discursos e as exigências foram-se desde a soberania alimentar à desmedicalização de também moldando, não só à realidade que muda a cada questões de saúde, que “cá em cima” são conscientemente momento, mas de acordo com o conhecimento que se vai ignoradas, não faladas nem divulgadas, pois aceitá-las ganhando e o pensamento que se vai produzindo. seria romper com o estilo de vida que temos e isso seria romper à séria com os sistemas patriarcal, capitalista e Tudo muito lindo mas, creio eu do alto da minha imperialista. ignorância, que tal como a revolução de abril ficou pela semente – com todo, e inquestionável, respeito por quem Imaginemos que de uma próxima vez em que o povo esteve envolvidx em todos os seus momentos, o período saísse à rua, enquanto o governo continuava obcecado de reivindicação em que vivemos ficará também com os cortes sociais, fossem exigidos bancos de terra condenado ao fracasso. públicos para que as pessoas pudessem produzir alguma da sua alimentação, a reestruturação de apoios nacionais e Defende-se tudo, com legitimidade é claro, mas no fundo europeus para áreas como a agricultura que tem levado à o que se defende é o sistema. Defendemos ferramentas e sobre-produção e sobre-exploração de recursos naturais moldes para que ele funcione quando a alternativa sem que sejam totalmente consumidos, ao mesmo tempo deveria ser destruí-lo, derrubá-lo, desmontá-lo, explodi- que existe fome no país, ou então, imaginemos que, em lo! vez de campanhas a mandar o Relvas estudar, se apelasse ao boicote de grandes superfícies comerciais em prol do Erguemo-nos contra os cortes nas pensões, nos salários, comércio local e tradicional, como contribuição para a na educação, na saúde, pelo direito à habitação, recuperação da soberania popular, ou talvez ainda, em vez defendemos tudo o que é cultural e, para além das de irmos “receber a troika” fossemos antes “expulsar” as sexualidades – de que nos lembramos às vezes, parecemos Mangos e as Zaras que nos impingem artigos feitos pelas ignorar tudo o que é o natural. vítimas de derrocadas no Bangladesh.

A responsabilidade dos ativistas sociais

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De que que nos servirá um salário se já não tivermos acesso à água? Para que nos servirá ir à escola se perdermos conhecimentos populares e ancestrais e já nem soubermos semear uma semente? Como poderá a habitação ser um direito se já nem tivermos direito à terra? De que serão feitas as notas daqueles que acham que o mais importante na sociedade é a economia quando não existirem árvores? Ignorar que a crise que vivemos é ecológica é bem mais fácil do que reduzi-la a uma crise económica, e aí esgotamo-nos e continuamos ao sabor do sistema em que vivemos, e é ele que vai ditando as regras das nossas ações que pensamos ser de resistência. A culpa é da banca mas continuamos a ter contas bancárias, porque falta a coragem para encontrar alternativa. Defendemos a escola pública mas continuamos a ter as nossas crianças em colégios privados. Queremos justiça climática mas continuamos a consumir produtos do outro lado do mundo, com todas as suas implicações.

Quando assumimos compromissos sociais, não devemos descartar a divulgação de outros modos de vida onde as pessoas sejam também individualmente empoderadas, nem tampouco deixar de denunciar a nossa contribuição para a degradação de outros. Tem-me sido muito difícil encontrar algo que justifique a falta de compromisso com o combate à destruição do planeta. Talvez esteja na hora de ser radical, mudar da raiz, e assumirmos responsabilidades na defesa da natureza, até mesmo porque tenho fortes suspeitas de que fazemos parte dela.

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MANIFESTO ECOSEXUAL Por Anabela Rocha

do amor, da alegria e do nosso poder de sedução. Acabaremos com a violação, o abuso e o envenenamento da Terra. Não aprovamos o uso da 1) SOMOS OS ECOSEXUAIS. A Terra é nossa violência, embora reconheçamos que alguns ecosexuais podem optar por lutar contra aqueles que amante. Estamos louca, ferozmente e são mais culpados de destruir a Terra através da apaixonadamente enamorados e agradecemos esta desobediência pública, do anarquismo e de relação, todos e cada dia. Com a finalidade de criar uma relação mais mútua e sustentável com a Terra, estratégias radicais de activismo ambiental. colaboramos com a natureza. Tratamos a Terra com Aderimos às tácticas revolucionárias da arte, da música, da poesia, do humor e do sexo. Trabalhamos amabilidade, respeito e afecto. e brincamos sem descanso pela justiça planetária e 2) FAZEMOS AMOR COM A TERRA. Somos pela paz mundial. As bombas doem. aquófilos, terrófilos, pirófilos e aerófilos. Sem pudor 5) ECOSEXUAL É UMA IDENTIDADE. Para abraçamos as árvores, massajamos a terra com os nossos pés, e falamos eroticamente com as plantas. alguns de nós ser ecosexual é a nossa identidade Somos naturistas, adoradores do sol e observadores (sexual) primária, enquanto que para outros não o é. Os ecosexuais podem ser LGBTQI, heterossexuais, das estrelas. Acariciamos rochas, gozamos com assexuais e cascatas, Outros. frequentemente Convidamos e admiramos as encorajamos os curvas da Terra. ecosexuais a Fazemos amor assumirem-se. com a Terra Estamos em através dos todo o lado. nossos sentidos. Somos Celebramos o polimorfos e nosso ponto E. polén-amorosos. Somos muito Educamos as sujos. pessoas sobre a cultura, comunidade e práticas ecosexuais. 3) SOMOS UMA COMUNIDADE GLOBAL ECOSEXUAL QUE CRESCE RAPIDAMENTE. Consideramos estas verdades auto-evidentes: que todos somos uma parte, e não separados, da Esta comunidade inclui artistas, académicos, natureza. Portanto, todo o sexo é ecosexo. trabalhadores do sexo, sexólogos, curandeiros, activistas ambientais, fetichistas da natureza, 6) O COMPROMISSO ECOSEXUAL. Prometo jardineiros, empresários, terapeutas, advogados, amar, honrar e cuidar da Terra, até que a morte nos activistas pela paz, eco-feministas, cientistas, aproxime para sempre. educadores, (r)evolucionários, criaturas e outras Viva a revolução ecosexual! Junte-se a nós! entidades de diversos âmbitos da vida. Alguns de nós são SexoEcologistas, investigando e explorando os lugares onde se cruzam a sexologia e a ecologia na nossa cultura. Como consumidores aspiramos a Elizabeth M. Stephens e Annie Sprinkle | http:// comprar menos. Quando temos de consumir sexecology.org/ compramos produtos sustentáveis, ecológicos e 2013 locais. Quer seja em quintas, no mar, nos bosques, em pequenas e grandes cidades, nós ligamo-nos e empatizamos com a natureza. 4) SOMOS ACTIVISTAS ECOSEXUAIS. Salvaremos as montanhas, as águas e os céus por todos os meios necessários, especialmente através

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Acolhimento de crianças e jovens em situação de adopção – uma emergência nacional Por Anabela Rocha

Por quanto mais tempo Portugal persistirá na ilegalidade, em que é o único, de não reconhecer direitos parentais a todos os que casam? Quantas mais vidas terão de ser emocionalmente destruídas para que se reconheçam às crianças e jovens o direito a serem adoptadas por quem as quer amar?

Comunicado de imprensa conjunto do movimento lgbt :: 15 de Maio de 2013:

Quantos mais anos pretende a sociedade portuguesa dispender recursos económicos na institucionalização de Acolhimento de crianças e jovens em situação de adopção crianças que, em quase metade dos casos, quando jovens (48,7% dos jovens entre os 15 e os 17 anos com e reconhecimento legal de todas as famílias de facto – problemas de comportamento graves), se revoltam UMA EMERGÊNCIA NACIONAL contra essa mesma sociedade por não terem esse direito garantido? O último relatório governamental* identificou 1087 crianças legalmente disponíveis para adopção mas ainda por adoptar. No ano de 2012 foram adoptadas apenas 400 Uma solução que defenda a integridade emocional destas (91,4% com menos de 9 anos) e apadrinhadas civilmente crianças e jovens impõe-se: direitos de adopção e apadrinhamento civil para todos os candidatos 19. Duzentas e noventa e uma (!!!) crianças não tiveram considerados adequados e imediato reconhecimento dos candidatos à adopção nacional ou internacionalmente. vínculos parentais de todas as famílias de facto. É o próprio relatório governamental que afirma que a situação é ainda mais Subscrevem as associações grave devido aos “longos e colectivos: tempos de institucionalização de Bichas Cobardes crianças com projeto e medida de adotabilidade, Caleidoscópio LGBT situação que afeta todas as faixas etárias, mas que Clube Safo atinge o máximo na faixa dos 10-14.” Isto é tanto Exército de Dumbledore mais grave, afirma o relatório, quanto GAT, Grupo Português demonstram “a experiência de Ativistas sobre e a investigação que as Tratamentos de VIH/ probabilidades de uma SIDA – Pedro Santos integração familiar bemsucedida variam na razão Grupo Transexual Portugal inversa do tempo total de acolhimento.” Quanto ao reduzidíssimo número de crianças apadrinhadas civilmente (figura legal entre a adopção e a tutela) o relatório aponta como causa “a insuficiente aposta técnica na definição do apadrinhamento civil como projeto de vida, quer de uma concomitante escassa divulgação e consequente adesão por parte de cidadãos dispostos a assumirem-se como padrinhos civis”.

não te prives – grupo de defesa dos direitos sexuais Opus Gay - Associação Obra Gay Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia rede ex aequo

Perante esta recorrente emergência nacional, perante o direito de todas as crianças a verem a sua família de facto eeconhecida na lei, perante a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que puniu a Áustria por não permitir a co-adopção, perante o reconhecimento científico crescente das mais diversas associações de psicologia e psiquiatria quanto à qualidade de vida das crianças adoptadas por homossexuais, perante o longo percurso de discussão pública desta questão em Portugal (esta é a 6ª vez que o assunto é discutido na Assembleia da República), as associações lgbt perguntam, apelando a todos os deputados:

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Por Sónia Pina 17 de Maio de 2013

admissibilidade legal da adopção, em qualquer das suas modalidades, por pessoas casadas com cônjuge do mesmo sexo" e que "nenhuma disposição legal em matéria de adopção pode ser interpretada em sentido contrário" ao disposto nesta cláusula.

«O parlamento aprovou no dia 17 de Maio de 2013, na generalidade, um projecto de lei do PS para que os homossexuais possam co-adoptar os filhos adoptivos ou biológicos da pessoa com quem estão casados ou com quem vivem em união de facto.

Por sua vez, o regime legal das uniões de facto entre duas pessoas determina que "é reconhecido às pessoas de sexo diferente que vivam em união de facto nos termos da presente lei o direito de adopção em condições análogas às previstas no artigo 1979.º do Código Civil", excluindo deste direito as uniões de facto homossexuais.»

Aprovada co-adopção por casais do mesmo sexo com 5 votos de diferença

Este projecto de lei teve 99 votos a favor, 94 contra e nove abstenções, anunciou a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves. Votaram a favor as bancadas do BE, PCP, PEV, a maioria dos deputados do PS e 16 deputados do PSD. (…) De acordo com o projecto de lei do PS, que tem como primeira subscritora a deputada Isabel Moreira, "quando duas pessoas do mesmo sexo sejam casadas ou vivam em união de facto, exercendo um deles responsabilidades parentais em relação a um menor, por via da filiação ou adopção, pode o cônjuge ou o unido de facto coadoptar o referido menor".

Em síntese, ficou aprovado que: 1 - Quando duas pessoas do mesmo sexo sejam casadas ou vivam em união de facto, exercendo um deles responsabilidades parentais em relação a um menor, por via da filiação ou adoção, pode o cônjuge ou o unido de facto co-adotar o referido menor. 2 - Só pode requerer a co-adoção dos filhos do cônjuge ou unido de facto quem tiver mais de 25 anos. 3 – Não pode ser requerida a co-adoção se existir um segundo vínculo de filiação estabelecido em relação ao menor.

Nos termos deste diploma, o direito de co -adopção está restrito a pessoas com mais de 25 anos e depende da não existência de "um segundo vínculo de filiação em relação ao menor".

4 – É necessário o consentimento para a co-adoção do menor que seja maior de 12 anos.

5 – As regras sobre adoção do filho do cônjuge previstas no Código Civil são subsidiariamente aplicáveis à coO projecto de lei do PS determina ainda que a co-adopção adoção. de uma criança maior de 12 anos exige o seu consentimento, conforme consta do Código Civil para a Torna-se assim, depois da Áustria, Finlândia, Alemanha e adopção. Israel, Portugal o quinto país onde a co-adopção de crianças por casais do mesmo sexo foi aprovada. Actualmente, segundo o artigo 1979.º do Código Civil, podem adoptar plenamente "duas pessoas casadas há mais A co-adopção é igualmente legal em três estados dos de quatro anos, se ambas tiverem mais de 25 anos", e EUA, na Tasmânia (Austrália) e na Gronelândia pessoas singulares que tenham "mais de 30 anos". As (Dinamarca). Quanto à adopção plena por casais pessoas singulares podem adoptar "o filho do cônjuge", se homossexuais, que não é permitida pela legislação tiverem "mais de 25 anos". portuguesa, ela está legalmente regulada em 14 países, 21 estados dos EUA, duas regiões do México e três estados Outro artigo do Código Civil, n.º 1975, estabelece que australianos. "enquanto subsistir uma adopção não pode constituir-se outra quanto ao mesmo adoptado, excepto se os Notas: adoptantes forem casados um com o outro". Desde 2010, o casamento passou a ser definido no Código Civil como um contrato celebrado entre duas pessoas, deixando de estar restrito aos casais heterossexuais.

1. 2. 3. 4.

Contudo, a lei que determinou esta alteração inclui uma norma estabelecendo que isso não implica "a

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Agência Lusa/SOL http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf? path=6148523063446f764c3246795a5868774d546f334e7a6777app.parl amento.pt ) http://www.publico.pt/politica/noticia/parlamento-aprova-coadopcaohomossexual-1594705#/0 Foto: Sónia Pina


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Debate Poliparentalidade (intervenção de Fabíola Cardoso) 06-04-2013

Boa tarde. É um prazer estar aqui com pessoas tão diversas, com uma mesa tão diversa, numa casa que continua a ser de todos, e, principalmente, numa iniciativa promovida pelo Clube Safo. É muito bom ver o Clube Safo a funcionar de novo, com gente nova, a ter esta capacidade maravilhosa de mobilização e a ter também a coragem de pegar em temas que não sejam muito fechados, muito exclusivos, mas temas que sejam verdadeiramente abrangentes. Portanto é com muito orgulho e muita alegria que estou aqui hoje e agradeço imenso este convite. Venho aqui falar da minha experiência de vida, gostava de começar por um testemunho pessoal e gostava de, a partir deste testemunho pessoal, passar para algum enquadramento legal e talvez daí para a importância do ativismo, do envolvimento e da ação. Estas são as minhas ideias à partida. Eu sou lésbica, sou mãe de duas crianças que nasceram num projeto de parentalidade lésbica, no seio de uma relação que existia e que se pensava séria e monogâmica, apesar de isso ser mais uma prática do que um pressuposto teórico, mas de facto as crianças surgem nesse projeto de parentalidade partilhada. Apesar de, para mim, ter sido muito “questionador” a questão da parentalidade. Eu li imenso, e lembro-me de ter, durante muitas semanas, afixado na porta do frigorífico, aquilo que me foi “vendido” como um ditado africano e que dizia que para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. Porque para mim, isso era uma questão que me assustava, de facto, a questão da responsabilidade. E fiquei mais descansada e mais segura quando percebi que se eu não vivia sozinha, se eu vivia numa rede de relações pessoais, familiares, sociais, a parentalidade também seria vivida dessa forma, de uma maneira partilhada, e que aquelas crianças, que também nunca pensei no singular, sempre pensei no plural, no mínimo duas, seriam de facto também uma mais-valia, uma riqueza, não só para aquelas duas pessoas que estavam envolvidas mas também para um conjunto de outras pessoas que por razões sociais, biológicas, profissionais, familiares, faziam parte dessa rede. Aliás, um livro que eu recomendo a quem anda a pensar nestas coisas, que me veio parar à mão por acaso nessa altura, é um ensaiozinho antropológico, chamado Nem Mãe, Nem Pai, e reflete sobre uma sociedade em Moçambique, os macuas, que tem uma estrutura social da qual não consta, não existe, o conceito nem de mãe, nem de pai. E para mim foi muito importante desconstruir esta suposta hegemonia, esta suposta naturalidade do conceito de mãe e de pai. Isso deu-me a largueza de perceber que, de facto, isto são conceitos sociais e sendo conceitos sociais cabe-nos a nós inventá-los, modificá-los, recriá-los e para mim isso foi uma base muito gratificante para partir para um projeto que então já não era tão fechado como podia parecer à partida. A vida passa, o tempo passa, as pessoas separamse…as pessoas juntam-se… as pessoas separam-se … as pessoas juntam-se….e, depois quando damos conta, já não há só duas pessoas muito diretamente implicadas na história, já há um conjunto de outras pessoas, umas mais diretamente, outras menos diretamente, implicadas na

história. É isto uma situação de poliparentalidade? Não sei, se calhar para algumas pessoas será, se assumirem esse conceito e se identificarem enquanto tal, e para outras mesmo não assumindo o conceito, não se identificando enquanto tal, é essa a prática. E para as crianças também é essa a prática. Porque se para as crianças é relativamente claro que vão construindo certos conceitos e que não chamam mãe a toda a gente, também é relativamente claro que há pessoas que transcendem a simples amiga, a simples namorada da mãe, ou a tia ou a prima, e eles próprios vão criando uma espécie de diversidade de terminologias e de diversidade de relações que abarca, às vezes, até de uma maneira que a nós nos questiona e nós leva a ter que alargar as nossas próprias limitações para aceitar aquilo que é a realidade emocional, aquilo que é a realidade de vida dessas pessoas e dessas situações. A minha realidade hoje é a de duas crianças que já têm 10 e 8 anos, que entretanto foram para casa com a outra mãe e com a namorada da outra mãe, que vieram buscá-los porque temos uma guarda que mantemos ainda partilhada. Acho que se está bem, com várias pessoas, com situações que mudam, com relações que são mais sérias, com relações que são menos sérias, com franqueza, com abertura, com capacidade de diálogo e de responder às perguntas deles. E dando espaço essas perguntas surgem muito naturalmente e muitas vezes são eles próprios que nos questionam: mas é só tua amiga ou é tua namorada? E a pessoa que está ao lado é que fica embaraçada porque tem dificuldade com a palavra e a situação fica ali um bocadinho complicada. Mas com flexibilidade, disponibilidade, com muito diálogo e essencialmente com muito amor, com capacidade de bemquerer as crianças, de bem-querer as pessoas e de ser capaz de salvaguardar e valorizar o que há de bom em todas as circunstâncias, a situação tem evoluído, tem funcionado de uma maneira que eu acho que é muito positiva, para nós, para mim e também para eles. Com algumas destas vantagens, de podermos vir para Lisboa passar um fim-de-semana sem ter as crianças atrás e algumas vantagens práticas. Aquilo que tem acontecido é uma experiência muito, muito positiva. Eu dou só um exemplo, muito simples. Nós moramos em Santarém, os meus filhos frequentaram o Centro Social Interparoquial de Santarém, onde a família deles era perfeitamente conhecida. Quando saiu um livro muito bonito, que se chama O Livro do Pedro, da Isabel Bacelar, que é a uma menina que conta a história de quando era pequena, conta à sua filha a história de quando ela era pequena e tinha dois pais. Quando o livro saiu eu estava toda entusiasmada e qual não é o meu espanto quando eu chego um dia ao infantário e a educadora do meu filho, a educadora do Centro Social Interparoquial de Santarém, estava a contar a história aos meninos, tinha comprado o livro para oferecer ao meu filho. Estas coisas acontecem. Apesar de reconhecer que quando tudo está bem, tudo está bem, mas às vezes não é assim. Por exemplo, a situação legal portuguesa cria-nos uma série de problemas em relação especificamente às questões das parentalidade e destas parentalidades um bocadinho não normativas. A adoção entre casais homossexuais é proibida em Portugal, neste momento, a procriação medicamente assistida é proibida a todas as mulheres que não sejam

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22 tuteladas por um homem, o que se pode fazer em Espanha, com muita facilidade e se faz em Espanha, com muita facilidade, é possível. E mesmo quando conseguimos ultrapassar estas situações, quando uma mulher sozinha ou quando um casal de lésbicas ou quando um casal de gays vai ao estrangeiro e consegue ter uma criança, chega a Portugal e tem um problema grave com o registo da criança. A legislação portuguesa pressupõe, na defesa, supostamente, do interesse da criança, a existência de obrigatoriedade de uma figura de pai e obrigatoriedade de uma figura de mãe. Quando isto não acontece, inicia-se um processo de averiguação oficiosa de parentalidade que tem como objetivo descobrir quem é o pai daquela criança, não interessando ou não estando a situação prevista de que aquela criança possa efetivamente não ter pai e ter duas mães, isto não é possível à luz da lei portuguesa. O que, se formos a ver essas situações todas, e temos aqui excelentes exemplos de situações bem resolvidas, mas também há, e eu conheço, algumas situações mal resolvidas e algumas situações claramente conflituosas, coloca muitas questões: de guarda, de separação e até questões práticas. Os meus filhos agora saíram daqui, se tiverem um acidente a caminho de não sei onde e chegarem ao Hospital e for precisa uma intervenção de emergência, aquela senhora, a quem eles tratam por mãe e que os quis e cuidou, não tem legitimidade legal para assinar um papel que lhes permita uma intervenção rápida que lhes pode salvar a vida E se eu tiver o meu telemóvel desligado dá-se a situação ridícula de ela ter de telefonar à minha mãe, que tem mais legitimidade legal e social para assinar aquele papel do que ela. Portanto, é necessário também lutarmos para mudar estas situações e estão a ser feitas iniciativas, a existência destes debates, destas reflexões são iniciativas também nesse sentido. A ILGA Portugal apresentou muito recentemente uma ação popular contra o Estado português que pega em dez casais, em dez situações familiares, destas situações, que envolvem homens e mulheres, e que pretende o reconhecimento das responsabilidades parentais, por enquanto ainda só de

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duas pessoas, mas que essas duas pessoas possam ser do mesmo sexo. Eu tenho muito orgulho em estar aqui, neste sítio, e tenho muito orgulho sempre que oiço alguém a dizer que está aqui a entrar pela primeira vez. Porque acho que é muito bom, as pessoas entrarem num sítio destes, acho que se sai ligeiramente diferente daquilo que se entrou, e este passo é um segundo passo que não é só de vida pessoal, é o coletivo, é a ação, é o ativismo. Acho que este é um passo essencial na vida de todos nós. Idealmente, evoluiremos deste nível mais associativo para um nível mais político, para um nível mais reivindicativo a nível de visibilidade que poderá passar por eventos mais públicos, por congressos, por debates, por idas à televisão. Mas também por uma ação dentro dos partidos, por exemplo, por uma ação reivindicativa, nós todos somos votantes. De que maneira é que nós questionamos os partidos nos quais votamos em relação a todas estas questões? Muitas vezes não há uma postura desses partidos porque também não há um questionamento suficientemente sério e frontal e público das pessoas que votam nesses partidos sobre estas questões. Portanto, acho que é muito importante passarmos deste nível mais pessoal para um nível de intervenção social e para um nível de intervenção política que, em última instância, acabará por reverter para benefício das nossas vidas pessoais. Teremos muito mais condições para sermos mais felizes e mais livres, para os nossos filhos serem mais felizes e mais livres, se efetivamente vivermos numa sociedade mais ampla, mais justa, mais aberta. Do meu ponto de vista, neste momento, todas as parentalidades são poli. Qualquer forma de parentalidade saudável, qualquer forma de parentalidade vivida, partilhada de uma maneira saudável é uma parentalidade poli. Mais ou menos normativa, mais ou menos aceite pela sociedade, mas, de facto, todas as parentalidades, para serem efetivamente uma mais-valia na vida das pessoas e não uma pressão enorme, são parentalidades poli.


23 Diamond destaca a importância que as relações íntimas e emocionais têm, como catalisadoras da mudança na sexualidade de uma mulher (p. 50). Ao contrário dos homens, as mulheres exibem mais frequentemente Por Inês Rôlo comportamentos e atracções inconsistentes com a identidade sexual que assumem. A não-exclusividade das atracções levou algumas destas mulheres a adoptar Durante uma década, Lisa Diamond acompanhou cerca identidades flexíveis, que permitissem acomodar as de 100 mulheres, que foi entrevistando de dois em dois diferentes relações que desenvolveram ao longo do anos, à medida que elas passavam por diferentes padrões tempo. Contrariamente à ideia comum de que o género é de atracção, comportamento e identificação: desde o primeiro factor determinante no despertar da atracção, mulheres lésbicas que se envolvem profundamente em ou mesmo contrariamente à própria definição de relações heterossexuais, a mulheres bissexuais para orientação sexual, algumas destas mulheres descreveram quem o género da pessoa com quem se relacionam é experiências de atracções “baseadas na pessoa”, irrelevante, a mulheres que se recusam a categorizar a evidenciando a capacidade de se apaixonarem e sua orientação sexual, por corresponderem erótica e considerarem que não há emocionalmente a alguém nenhum termo que defina a com uma personalidade que heterogeneidade das suas considerem atraente, experiências... No final, mais independentemente do seu de dois terços destas género. Diamond lança duas mulheres tinha mudado de possibilidades para identidade (lésbica, pensarmos as atracções pela bissexual, heterossexual ou pessoa e não pelo género: “não identificada”) pelo estas poderão ser um novo menos uma vez. tipo de orientação sexual, a Partindo de um quadro juntar aos já existentes; ou teórico oriundo da ser uma capacidade psicologia, estudos presente, em diferentes genéticos, biologia, graus, em todos os sociologia e antropologia, indivíduos com atracções Diamond vem propor que as não-exclusivas e que cada experiências de sexualidade um pode ou não das mulheres são desenvolver. fundamentalmente Essencial é a conclusão de diferentes das dos homens, que as identidades fixas pondo em evidência um tradicionais que temos fenómeno: a fluidez sexual, disponíveis se revelam que se prende com a ideia de insuficientes para acomodar que os sentimentos, esta variedade de atracções e desejos das experiências. As orientações mulheres se alteram ao sexuais (em particular, as passar por diferentes das mulheres) são situações, relações, multidimensionais e ambientes e períodos de dinâmicas. Falta agora esta desenvolvimento (p. 52). ideia entrar na consciência Reconhecendo que esta pública. Diamond lança as noção pode ser controversa bases para um entendimento mais queer da sexualidade, e susceptível a distorções politicamente motivadas, a do género e da identidade, aberto a todas as nuances, autora procede à desconstrução do conceito, abrindo caminho ao desenvolvimento de novos modelos estabelecendo o que a fluidez sexual não é: 1) não quer que tenham em conta as diferentes experiências das dizer que todas as mulheres sejam bissexuais, ou seja, as mulheres e a centralidade que as atracções nãomulheres têm diferentes orientações sexuais e diferentes exclusivas têm na sua sexualidade. graus de fluidez sexual e, como tal, umas experienciarão padrões de amor e desejo relativamente estáveis ao 2013 longo da sua vida, enquanto outras não; 2) não questiona a existência da orientação sexual, pelo contrário operando conjuntamente com esta; 3) não significa que a orientação sexual muda, mas sim que ela não é a única a influenciar desejos, atracções e afectos; 4) não significa que a orientação sexual seja uma questão de escolha, uma vez que as mudanças registadas podem fugir ao controlo das mulheres.

Sobre o Livro «Sexual Fluidity: Understanding Women's Love and Desire» (2009)

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24 horizontes. O Safo convidou uma lésbica poliamorosa, numa relação com um homem e queer para ter um papel Por Inês Rôlo activo nos grupos de trabalho e nas actividades que vão ser desenvolvidas. Isto, para mim, representou um voto Este texto é uma história pessoal sobre activismo. Quem de confiança, mas também um sinal de que as pessoas que estão a trabalhar pelo Clube Safo querem ver mudanças e o faz sabe que a maioria de nós nunca leva só uma querem levantar questões importantes para as bandeira. Muitos têm vários bonés ou chapéus, outros vão alternando a bandeira que carregam com orgulho. No identidades lésbicas, mas também para a comunidade LGBTQ em geral e outras identidades não-normativas. meu percurso ainda muito curto de activismo, tenho

Aos Novos Rumos

notado que luto sempre em várias frentes. Sou sócia da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), pela costela feminista. Faço parte do grupo PolyPortugal e este parece, ultimamente, ser o meu lado mais visível. Simpatizo com as Panteras Rosa, pela costela queer. Também por esta costela, faço parte do Bizarrias. Sou lésbica e há dois anos que desfilo na Marcha do Orgulho segurando a bandeira da bissexualidade e com um vestido bi. No entanto, este texto não é sobre nenhuma destas afiliações mais ou menos oficiais, mas sobre uma outra.

O Clube Safo está com os movimentos feministas, LGBT, anti-austeridade, pró-escolha, de ecossexualidade e sexpositive e contra todas as formas de discriminação de etnia, idade, género ou outras. A riqueza desta proposta é visível, mesmo ainda sem o que vou dizer em seguida. É que o Clube Safo tem, pela primeira vez na sua agenda, o tema do poliamor, das não-monogamias e da poliparentalidade como central para a comunidade LGBT. Temos em Portugal uma única associação de defesa dos direitos de mulheres lésbicas, uma associação que continua a renascer e a refazer-se, levando agora No dia 9 de fevereiro deste ano assinei o meu nome nos documentos oficiais, no final de uma Assembleia Geral do também na mão a bandeira poly, junto com tantas outras. Clube Safo. Fundada em 1996, esta é a única associação em Portugal que tem como missão principal defender os E eu não podia estar mais feliz por fazer parte disto e direitos das lésbicas. O facto de ser a única diz muito segurar, bem alto, a bandeira do Safo. sobre a visibilidade lésbica, assim como disso são testemunhas os anos difíceis que quase viram a sua dissolução. O risco real de desaparecimento da única Este texto é de teor pessoal e não representa a opinião de associação centrada nas mulheres lésbicas foi, felizmente, cada uma das pessoas que compõe o Clube Safo nem pretende subsumir as opiniões de qualquer uma das superado. O convite para integrar a lista chegou no sócias. As únicas opiniões aqui veiculadas são as minhas e princípio de 2013 e eu aceitei quase de imediato por esta é a minha pequena estória de activismo no Clube conhecer a história do Clube. Safo. Fui convidada por alguém em quem tenho uma enorme confiança intelectual e que me disse que o Safo precisava de lésbicas como eu. Não apenas num sentido de renovação, mas também num sentido de alargamento de

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(Texto publicado em http:// polyportugal.blogspot.pt/2013/03/aos-novosrumos.html)


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GISBERTA

infância, a não seguir um caminho por ela e por muitos considerado “anti-natura”; da violência e do abandono familiar; da saudade; da culpa; do arrependimento... Mas no discurso de Angelina, por um lado delator da sua decepção, vergonha e ignorância, há uma ternura que revela o amor incomensurável desta mãe pelo seu filho. Um sentimento que se mistura à revolta contra àqueles que mataram o “seu menino”, e a uma subsequente negação à Deus. Angelina também assumirá a sua parcela de culpa por nunca ter sido capaz de realizar o desejo mais fulcral do "seu menino": ser tratada por Gisberta.»

Horário: 2 Maio 2013 às 18:15 a 31 Maio 2013 às 20:15 Local: Teatro Rápido Rua: Rua Serpa Pinto, nº. 14, Lisboa Teatro Rápido «Angelina é a mãe da transexual Gisberta que foi morta Cidade: Lisboa - Chiado barbaramente no ano de 2006, na cidade do Porto, vítima Telefone: 213 479 138 da violência de 14 jovens internos de uma instituição católica. Durante a peça Angelina vai relatar a um Texto e Encenação: Eduardo Gaspar jornalista factos da vida do “seu menino”, desde a infância Interpretação: Rita Ribeiro até o momento em que parte do Brasil em busca do seu Fotografias e Criação Gráfica: Inês Torres da Silva direito de ser vista e respeitada como mulher. Angelina fala da sua dificuldade em aceitar a identidade de género do filho e das várias tentativas de o dissuadir, ainda na

Jaz mort@ e apodrece Por Sara Barbosa

Talvez tenha nascido, sorrido Menino de sua mãe. Enganada porém Nem corpo nem alma Nem sensação Nenhuma porta ao estender da mão. A vida Atirou a primeira pedra E o espelho devolveu A imagem errada: Ilusão de Homem, Sangue doce de Mulher...

Malhas que o Império tece Jaz morto e apodrece O menino de sua mãe. F. Pessoa

Voou, foi nuvem Sonhou, mais além O mundo em aplauso, Acreditou...era seu De novo o que os anjos guardam. Cedo demais, Espinhos feriram o caminho Ao longe, esqueceram a prece No medo, a lembrança esquece E vieram os perdidos Mais perdidos que a perdida (A fome não conhece perdão) Jaz mort@ e agora arrefece Apodrece Em paz, Puro coração. 28/04/06

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TESTEMUNHOS DE MULHERES DISCRIMINADAS POR MOTIVOS DE ORIENTAÇÃO SEXUAL (LÉSBICAS, BISSEXUAIS) Por Fabíola Cardoso

E

ste projeto pretende dar voz e visibilidade às mulheres que sejam ou tenham sido discriminadas por motivos ligados à sua orientação sexual, isto é, por terem relações amorosas com outras mulheres, quer se identifiquem como lésbicas, bissexuais ou heterossexuais. Para esse efeito, peço-lhe que escreva um testemunho acerca da sua experiência. Pode seguir o guião que apresento, mas este servirá apenas como auxiliar para expor situações e questões que sejam relevantes para si. Pode, assim, acrescentar outras informações ou ideias que não estejam previstas. Pretende-se que seja uma reflexão pessoal acerca de situações que vive (ou viveu), de como as sentiu e que impacto e significado tiveram para si. Alternativamente, e se preferir ou se for mais conveniente para si, poderei recolher o seu testemunho presencialmente ou por via telefónica, ou ainda através da internet (Messenger, Skype). Para tal, só necessito que mo solicite, para o endereço de e-mail abaixo indicado, e combinaremos a melhor forma de realizar a entrevista. O seu relato/testemunho será reunido num volume (livro), em conjunto com outros relatos de outras mulheres e não se destina a um trabalho académico. Esta recolha é anónima e em nenhum momento do seu relato terá de fornecer dados acerca da sua identidade ou de terceiros que não pretenda revelar. Apenas lhe peço alguns elementos (idade, local de residência, orientação sexual), que tem toda a liberdade de fornecer ou não. Não há limites mínimos ou máximos para o seu testemunho, no caso de enviá-lo por escrito. Pode anexar o seu documento ao e-mail, de preferência (em Word ou pdf), ou escrever o seu depoimento diretamente no próprio espaço de mensagem do e-mail, e enviar para o endereço: soslesbifobia@gmail.com. As participantes serão informadas acerca da data de publicação do volume com a reunião de todos os

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depoimentos. Muito obrigada pela sua colaboração! Pedido - Guião De seguida apresento-lhe alguns dos tópicos que poderão orientá-la na escrita do seu testemunho, podendo seguir a ordem que entender ou acrescentar outros elementos que aqui não estejam previstos: pessoas ou situações, piadas, ofensas, etc. e que a tenham feito sentir posta em causa na sua orientação sexual. 1. Conteúdo - episódios/acontecimentos em que se tenha sentido discriminada por manter uma relação amorosa com outra mulher (namorada, companheira). - comportamentos e atitudes de que tenha sido alvo e que revelem preconceito em relação à orientação sexual (lésbica, bissexual), tais como: insultos, ofensas, julgamento pela aparência física, tratamento diferenciado e que tenham implicado mal-estar, perturbação ou algum tipo de prejuízo na sua vida pessoal. - situações em que tenha sentido, de algum modo, discriminação por comentários indiretos a outras de algum modo, discriminação por comentários indiretos a outras pessoas ou situações, piadas, ofensas, etc. e que a tenham feito sentir posta em causa na sua orientação sexual. 2. Contextos - na(s) situação(ões) que relata: O que aconteceu? Com quem estava? Como reagiu? O que sentiu? A quem contou e com quem contou? Recorreu a alguém (ou apresentou queixa)? - situações/contextos de vida: na família, no trabalho, na escola, entre amigos/as, em ocasiões de lazer, na rua, com desconhecidos, etc. - momento, na sua história de vida, em que sucederam: infância, adolescência, idade adulta, recentemente, no momento presente? Que impacto/significado tiveram para si?

- Elementos de identificação (facultativo): idade, residência, orientação sexual - Autorização para publicar o testemunho. Este projeto, da autoria de Helena Topa, pretende dar voz e visibilidade a todas as mulheres que passem (ou tenham passado) pela situação de discriminação por motivos de orientação sexual. Formada em Psicologia, fez, na sua tese de mestrado, investigação sobre a violência doméstica em casais homossexuais, com especial incidência sobre a violência entre mulheres. Para quaisquer esclarecimentos adicionais, é favor contatar Helena Topa através do e-mail: helenatopa@clix.pt.


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KIM LONGINOTTO: Histórias no Feminino

do florescente circuito dos festivais de cinema. Quase todos os seus filmes foram premiados um pouco por todo o mundo, sendo que “Sisters in Law” recebeu o Prémio Arte e Ensaio do Festival de Cannes, “Hold me tight, Let me go” foi galardoado com o Prémio Especial do Júri no Festival Internacional de Documentário de Amesterdão e “Rough Aunties” ganhou o Prémio do Júri na competição World Cinema do Festival de Sundance.» (http://www.zeroemcomportamento.org/downloads/kl.zip)

Um olhar intimo sobre a vida conjugal do Irão e seus conflitos através das histórias de seis mulheres que invocam o direito de se divorciarem num país onde a lei favorece os maridos. Num registo alternadamente cómico e trágico e tendo por cenário um tribunal de divórcio em Teerão, acompanhamos estas mulheres no seu esforço para chegar a um resultado favorável num meio de leis parciais, políticas administrativas contraditórias e severas restrições culturais.

THE DAY I WILL NEVER DREAM GIRLS FORGET Kim Longinotto e Jano Williams, 50‟, Kim Longinotto, 92‟, 2002 1993 Documentário marcante, onde “Dream Girls” é um documentário fascinante sobre a famosa escola de «Uma das mais proeminentes documentaristas em actividade, Kim Longinotto, é reconhecida internacionalmente pelos seus pungentes retratos e pelo seu sensível e apaixonante tratamento de tópicos difíceis. Observando, reflectindo e contando as estórias de mulheres que desafiam convenções e lutam contra instituições, opressão e preconceitos, Longinotto documenta e revela as idiossincrasias e os costumes de sociedades oprimentes. Passando por temas tão diversos como o divórcio no Irão, a mutilação genital feminina no Quénia, a violência sobre mulheres e crianças nos Camarões, na África do Sul ou na Índia, a educação de crianças emocionalmente perturbadas em Inglaterra ou mesmo questões de género, identidade sexual e contradições culturais no Japão, Longinotto assume-se politicamente comprometida, viajando pelo mundo inteiro para documentar os aspectos mais difíceis da realidade das mulheres. Navegando pelas águas do documentário, desde que iniciou a sua carreira em 1976, trabalhando quase sempre com equipas reduzidas – a própria, na câmara, uma corealizadora local e apenas uma pessoa no som – e mantendo-se sempre independente de quaisquer produtoras, Longinotto tem conseguido financiar o seu trabalho através da emissão dos seus filmes na BBC e vem conquistando a sua importância cinematográfica através

Longinotto retrata o tema da mutilação genital feminina no Quénia, com excepcional sensibilidade e franqueza. De depoimentos comoventes de mulheres que foram submetidas à teatro musical japonesa Takarazuka, circuncisão até entrevistas com idosas cujos espectáculos são reminiscências matriarcas que teimosamente da Broadway dirigidos a um público defendem a prática, o filme retrata a feminino, nos quais a popularidade da complexidade das polémicas e actriz no papel masculino supera o conflitos em torno da angustiante das estrelas pop do mainstream. Ao questão do combate à tradição. contrário do teatro japonês tradicional, todo os membros desta SISTERS IN LAW escola são mulheres que se submetem Kim Longinotto e Florence Avisi, a anos de reclusão e disciplina 104’, 2005 intensa. Uma reflexão sobre questões Em “Sisters in Law” assistimos ao de género e identidade sexual e contradições culturais no Japão da actualidade. DIVORCE IRANIAN STYLE Kim Longinotto e Ziba Mir-Hosseini, 80’, 1998 trabalho de duas mulheres da Associação de Mulheres Juristas (WLA) de Kumba, nos Camarões, que prestam apoio jurídico a mulheres e crianças vítimas de abusos, que de outra forma não seriam considerados pelo sistema judicial numa sociedade fortemente patriarcal marcada pela tradição de abuso e de violência. Um filme marcante e por vezes hilariante, que mostra um feroz acto de coragem

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28 determinado a melhorar a violentos e excluídos do sistema de comunidade e talvez mudar o país no educação comum. processo. Nesta escola recebem a atenção, paciência e empenho de mais de HOLD ME TIGHT, LET ME GO cem responsáveis, entre docentes e auxiliares, que enfrentam os seus constantes acessos de raiva,

Kim Longinotto, 100’, 2007 A Mulberry Bush School, em Oxfordshire, na Inglaterra, é uma escola especializada em lidar com crianças emocionalmente perturbadas, com comportamentos

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organização de bem-estar infantil, Bobbi Bear, permanecem firmes nas suas convicções pessoais, enquanto lutam contra a apatia e a corrupção, procurando justiça para as vítimas. Olhar inspirador e humanitário de uma realidade devastadora e cruel.

PINK SARIS Kim Longinotto, 96’, 2010 Em “Pink Saris”, acompanhamos a história de Sampat Pal, uma complexa e singular activista política, líder do movimento Gulabi Gang, que trabalha pelos direitos das agressão física e destruição, mas também as manifestações de carinho mulheres na região de Uttar Pradesh, no norte da Índia. Assistimos ao e afeição. Uma difícil luta entre o empenho individual de Sampat, desequilíbrio e a harmonia. referência para muitas mulheres maltratadas, na mediação de dramas ROUGH AUNTIES familiares, testemunhada por Kim Longinotto, 103’, 2008 dezenas de espectadores, Filme sobre o dia a dia de um notável defendendo pessoas em situações de grupo de mulheres destemidas que vulnerabilidade e que desnudam as convenções da sociedade Indiana. lutam contra o abuso sexual de crianças e mulheres, negligenciadas e esquecidas de Durban, cidade da África do Sul. Apesar da dura realidade com que trabalham na


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AGENDA * *Acompanha as actualizações nos nossos canais de comunicação

17 DE MAIO IDAHO Dia Internacional de Luta contra Homofobia e Transfobia (IDAHO) mas também contra a Bifobia, Intersexofobia, a Lesbofobia e a Polifobia. A 17 de Maio de 1990 a Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde decidiu retirar a homossexualidade da sua lista de doenças mentais. Esse dia tornou-se um marco importante na defesa dos direitos LGBT e passou a assinalar o combate a todas as fobias relacionadas com a orientação sexual. São várias as iniciativas que vão ocorrer em Portugal e a Associação Clube Safo irá estar presente em algumas: No plenário da Assembleia da República está agendada para as 10:00 a discussão de três projectos de Lei sobre as nossas famílias: Projeto de Lei n.º 278/XII/1.ª (PS) Consagra a possibilidade de co-adoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo e procede à 23.ª alteração ao Código do Registo Civil.; Projeto de Lei n.º 393/XII/2.ª (BE) - Altera o Código do Registo Civil, tendo em conta a procriação medicamente assistida, a adoção e o apadrinhamento civil por casais do mesmo sexo; Projeto de Lei n.º 392/XII/2.ª (BE) - Eliminação da impossibilidade legal de adoção por casais do mesmo sexo primeira alteração à Lei n.º 9/2010, de 31 de maio e segunda alteração à Lei n.º 7/2001, de 11 de maio. ( http:// app.parlamento.pt/BI2/#SEC-2)

Em Coimbra a IV Marcha Contra a Homofobia e Transfobia terá início às 17h30 nos Jardins do Mosteiro de Santa Clara. Em Lisboa terá lugar a projeção de um filme em celebração do IDAHO no MOB – espaço associativo (Travessa da Queimada, 33, Bairro Alto).

17 DE MAIO A 18 DE JUNHO Agressão, Não! Entre 17 de Maio e 18 de Junho irá decorrer um ciclo de acções de prevenção, consciencialização e informação contra a violência doméstica entre casais Homossexuais no âmbito do Projecto “Agressão, Não!” um projecto desenvolvido pela Associação Opus Gay que conta com o Apoio da Câmara Municipal de Lisboa. Os detalhes sobre as acções serão indicadas oportunamente no site do projecto. O inquérito que servirá de base a um estudo sobre Violência Doméstica no concelho de Lisboa está disponível em http://agressaonao.wordpress.com

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20 A 22 DE JUNHO Primeirã conferenciã em Psicologiã orientãdã pãrã pessoãs LGBT No intuito de promover relações mais ricas entre a academia e o activismo o Clube Safo estará presente nesta conferência com uma apresentação sobre as funções terapêuticas da participação em actividades do Safo. Agradecemos o convite da organização, a custo zero, dando um excelente exemplo do que pode e deve ser a relação entre a academia e os activismos. Em breve solicitaremos a colaboração de todas para recolhermos testemunhos sobre as citadas funções terapêuticas. A conferência terá lugar no ISCTE-IUL e tem como objectivo principal “promover a investigação em psicologia orientada para as pessoas LGBT contribuindo, assim, para um desenvolvimento cívico, socialmente consciente e enquadrado no actual panorama social internacional onde cada vez mais se respeita a diversidade sexual.” - César Monteiro no site Dezanove

22 DE JUNHO Mãrchã “Arco-iris contrã ã crise” A 14ª Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa terá início no Jardim do Príncipe Real às 17h.

6 DE JULHO Porto—8ª Mãrchã do Orgulho LGBT A 8ª Marcha do Orgulho LGBT no Porto será realizada a 6 de Julho a concentração está marcada para as 15h30 na Praça da República. Está prevista a participação da Associação Clube Safo e a possibilidade de realizar uma actividade nesse fim de semana. Se quiseres partilhar a viagem ou colaborar na realização da actividade, envia a tua disponibilidade para o endereço electrónico clubesafo@cluA edição de 2013 do Arraial Pride de Lisboa foi agendado para dia 6 de Julho no Terreiro do Paço.

6 DE JULHO Lisboã - Arrãiãl Pride Devido à sobreposição de datas com a Marcha do Orgulho LGBT no Porto, a participação da Associação Clube Safo está a ser equacionada.

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OUTRAS INICIATIVAS Hetero q.b. - colectivã internãcionãl de video 09.04. ã 30.06.2013 «Esta programação apresenta um conjunto internacional de obras em vídeo realizadas por mulheres, sobre temáticas que vão desde o feminismo, ao lesbianismo e transgénero. A seleção de trabalhos abrange países e realidades consideradas “periféricas”, em relação ao discurso e prática do feminismo clássico euroamericano, usualmente mais conotado como progressista na defesa da igualdade das mulheres e do género. Sociedades em que as tensões históricas, culturais, sociais, políticas e naturais sobre o género têm sido, nas últimas décadas, disputadas e reivindicadas sob outros moldes, desafiantes da própria história do movimento feminista. Por outro lado, esta programação revela alguns dos debates mais importantes Valentim de Barros sobre as questões dos feminismos ou pósPormenor de pintura feminismo, assim como todo o âmbito das Museu Hospital Miguel Bombarda diversidades queer, desde o lesbianismo, bissexualidade, transsexualidade ou transgénero, que têm sido fundamentais para o esclarecimento e a constituição de uma nova cultura e mentalidade sobre estas realidades. (…)» Emília Tavares e Paula Roush

Switching Clothes Series No âmbito do grupo Performatividades e a(r)tivismo divulgamos o interessante projecto fotográfico de Teresa Tojo inspirado no “Switching Clothes Series”, que explora a questão da identidade, imagem e do estereótipo, e que pretende envolver o máximo número de pessoas, convidando aqui à participação de todas/os: «Tenho um projeto artístico e para o concretizar necessito de pessoas que se deixem fotografar com a roupa com a qual mais se identificam e depois troquem a mesma com quem trouxerem consigo para posar. Este projecto tem em vista ser um trabalho para apresentar numa futura exposição.Aqui fica o site onde é explicado o conceito do projecto e o que é pretendido. Se quiserem ficar só com um registo sem ser público, participem. Ver mais informação aqui: http://switchingclothesrevisitada.blogspot.pt/ etc. Qualquer contacto façam-no por aqui: quatroaoquadrado@gmail.com»

Concurso «Pinch Me!» O CLUBE SAFO lança concurso de ilustrações para PINS com o tema «PINCH ME!», desafiando todxs à apresentação de propostas para a 1ª edição de “o melhor PIN”. Pretendendo-se desta forma alertar e sensibilizar de forma criativa e positiva para o activismo LGBTQI. O melhor PIN será divulgado, com indicação do nome dx vencedorx e/ou pseudónimo, na página Facebook , reproduzido e disponibilizado no âmbito das actividades do Clube Safo, com especial divulgação nesta 14ª edição da Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa. Requisitos do da imagem a apresentar: - Resolução pretendida: 300 a 450 dpi [mín. e máx.]; - Formatos digitais aceites: JPG, TIF ou PNG; - Tema: LGBTQI (Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer or Questioning, and Intersex); Manda-nos o teu PIN para clubesafo@clubesafo.com Pinch me! P‟la direcção. Clube Safo

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ALOJAMENTO Casa Wladival Rua da Barca, s/n 2240-611 Dornes T. 249 366 788 TM. 962 049 148 www.casawladival.com info@casawladival.com Desconto de 20% sobre o preço de balcão em estadias mínimas de 2 noites.

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