Misericรณrdia de Lamego 1519-2019
Museu de Lamego
18.05 - 29.09.2019
APRESENTAÇÃO 05 . Diretor Regional de Cultura do Norte, António Ponte 07 . Diretora do Museu de Lamego, Alexandra Falcão 09 . Provedor da Santa Casa da Misericórdia, António Marques Luís 10 INTRODUÇÃO 11 . Nuno Resende - «Um Mundo sobre Outro Mundo»: Lamego no século XVI 29 . Joana Balsa Pinho - As confrarias da Misericórdia e a encomenda de obras de arte no século XVI: estratégias de definição e afirmação institucional 44 CRONOLOGIA 46 MISERICÓRDIA DE LAMEGO. 1519-2019 | CATÁLOGO 48 CAPÍTULO 1. O HOSPITAL DA MISERICÓRDIA NUM TESTAMENTO DE 1597 49 . Carla Varela Fernandes - Nossa Senhora do Ó 53 . Ana Bidarra e Pedro Antunes [Cinábrio, Conservação e Restauro] - “Nossa Senhora do Ó” – Materialidade, Conservação e Restauro. 62 . Helena Lemos [transcrição] - Cópia do Testamento de Felipa Rodrigues do Amaral 69 70 86 93 100 103
CAPÍTULO 2. A ENCOMENDA. OS ARTISTAS . Beatriz Albuquerque - Visitação . Beatriz Albuquerque - Cristo atado à coluna e Flagelação de Cristo . Rosa Vouga - Cristo atado à coluna e Flagelação de Cristo [Conservação & Restauro] . Beatriz Albuquerque - Cristo atado à coluna e Ecce Homo . Ana Brito, Ana Figueiredo, Rita Veiga, Sílvia Rocha [Porto Restauro] - Cristo atado à coluna e Ecce Homo [Conservação & Restauro]
113 CAPÍTULO 3. BENEMÉRITOS 114 . Nuno Resende - Galeria de Retratos de Beneméritos da Santa Casa da Misericórdia de Lamego 122 . Nuno Resende - Livros de Tombo dos Irmãos da Misericórdia de Lamego 127 CAPÍTULO 4. REFORMAR, MODERNIZAR 128 . Anísio Franco - Pedro Alexandrino Carvalho 131 . Anne-Louise Gonçalves - Uma Visitação de Pedro Alexandrino de Carvalho 134 . Carla Tavares - A pintura Visitação de Pedro Alexandrino de Carvalho 140 . Georgina Pessoa - Relíquias de Santa Mafalda 149 CAPÍTULO 5. OBRAS DE RETABULÁRIA DISPERSA 150 . Carla Sofia Ferreira Queirós - O Retábulo de Nossa Senhora da Paz do hospital velho de Lamego 152 . Carla Sofia Ferreira Queirós - O Retábulo da Capela de Nossa Senhora da Graça, Juvandes
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ÍNDICE
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MUSEU DE LAMEGO: NUM TEMPO E NUM ESPAÇO
Os museus são hoje mais que meros depósitos de bens culturais. Cabe a estas instituições colocar no centro da sua atividade um trabalho em prol dos seus públicos a partir de um trabalho multidimensional com as suas coleções. O museu como instituição deve contar a história da Humanidade e o modo como esta sobreviveu no seu ambiente ao longo dos anos. Assim, o Homem, as peças que este produziu, não podem estar separadas do tempo e do espaço em que foram criadas e dos contextos em que foram vividas. Ao promover uma dinâmica deste género o Museu estará a albergar e promover a alma cultural da sua localidade, da sua região ou da sua nação. Hoje o papel do Museu é muito abrangente. A estas instituições são confiadas missões educacionais, sociais e politicas. Vemos ser pedido aos museus serviços de interpretação e mediação cada vez mais alargados, um papel decisivo na integração das comunidades minoritárias e de pessoas com necessidades especiais, um papel ativo no desenvolvimento da cidadania e do sentido de pertença. Face a todas estas novas dinâmicas que desafiam as instituições museológicas o Museu de Lamego assume um papel de primeira linha naquilo que é a sua Missão enquanto instituição cultural numa cidade ao serviço de uma região, salvaguardando património de dimensão nacional. A exposição «Misericórdia de Lamego. 1519-2109» cumpre essa missão. O Museu de Lamego enquanto entidade de promoção dos valores culturais assinala os 500 anos da Misericórdia de Lamego, com uma exposição artística e documental de grande qualidade que traz ao público novos elementos da História da Misericórdia. “Fundadas com o intuito assistencial e caritativo, as Misericórdias tiveram igualmente um importante papel no mecenato artístico, ligado à construção de templos que fizeram disseminar um pouco por todo o mundo português. Refletir sobre os 500 anos de uma instituição por meio do seu legado artístico assume, no caso da Santa Casa da Misericórdia de Lamego, particular relevância, tendo em conta o desaparecimento da primitiva igreja, na sequência de um incêndio que devorou a rua de Almacave, em 1911, e a posterior transferência para a igreja das Chagas. Às obras que irremediavelmente se perderam, soma-se a dispersão e a -1-
incerteza em relação ao destino de muitas outras.” -1Museu de Lamego
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Cumpre-me, neste momento, felicitar a equipa do Museu de Lamego pela sua atividade e pelo seu papel na dinâmica cultural de toda a região.
ANTÓNIO PONTE [DIREÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO NORTE]
DIÁLOGO(S)
A organização no Museu de Lamego de uma exposição titulada «Misericórdia de Lamego - 1519-2019» pressupõe desde logo um compromisso de diálogo. De diálogo com a memória e de diálogo com Lamego, através de uma das suas instituições mais antigas e que maior impacte tiveram e têm na cidade. Refletir sobre uma instituição que acumula uma já longa história de 500 anos coloca necessariamente muitas questões, tantas, quantas as possibilidades de abordagem. Seguimos aquela que se afigurou como mais óbvia: a colação a um passado comum que é partilhado entre a Santa Casa da Misericórdia de Lamego e Museu de Lamego. Com efeito, desde a sua fundação, em 1917, que o Museu de Lamego integra no seu acervo um importante conjunto de obras que faziam parte do recheio artístico da primitiva igreja da Misericórdia. Demolido o edifício na sequência do grande incêndio que em 1911 devastou a rua de Almacave, a par da dispersão ou perda irremediável de obras que faziam parte do seu recheio, outras houve que acompanharam o processo de transferência do culto da Misericórdia para a igreja do extinto Mosteiro das Chagas, aí instalado desde 1913. As obras remanescentes, ou por que não tiveram no novo templo espaço adequado para as acolher, ou por que se encontravam em mau estado de conservação, foram distribuídas por várias dependências do Hospital «novo» da Misericórdia e da Câmara Municipal. As últimas, pelo reconhecimento do seu valor artístico, seriam, mais tarde, incorporadas nas coleções do museu. Ao desafio, sempre desejável, de relançar um atento e renovado olhar sobre objetos menos conhecidos, de os problematizar, de os contextualizar e de lhes atribuir novos significados, catapultando-os para o domínio da historiografia artística, acresce o caminho que é deixado em aberto para uma sustentada reflexão sobre o reposicionamento das obras no museu, no quadro de um revigorado figurino expositivo. Seria justamente o espólio proveniente do edifício desaparecido, o ponto de partida para a exposição comemorativa dos 500 anos da Santa Casa da Misericórdia de Lamego. Para além da sua representatividade em termos iconográficos, que nos remete para dois dos temas mais recorrentes das Misericórdias, o ciclo da Paixão e a Visitação da Virgem a sua prima Santa Isabel, do ponto de vista cronológico, o conjunto formado por pintura e escultura reveste-se do maior significado, permitindo-nos evocar duas das mais importantes campanhas de decoração do templo. A primeira
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ocorrida entre c. 1561-1574, durante a construção da igreja, e a segunda, em finais do séc. XVIII, quando se procederam a importantes obras no seu arranjo interior. Na verdade, as peças em causa faziam parte de estruturas retabulares desmanteladas que, em dois momentos, decoraram os altares da primitiva igreja, assumindo-se como peças centrais para uma melhor compreensão sobre as mutações ocorridas num espaço – o mais importante – de afirmação da Misericórdia nos domínios espiritual e devocional. Indissociáveis das obras são os artistas, os mecenas e igualmente os beneméritos, que foram convocados para a exposição, com o propósito de destacar o contributo decisivo que deram para o engrandecimento da Instituição, e o de alargar o debate à vocação assistencial e caritativa, que esteve na base da fundação destas confrarias. O esforço de síntese e contextualização imprimido à organização da exposição, apresentada no Museu de Lamego entre 18 de maio e 29 de setembro de 2019, adquire agora a sua forma definitiva, num catálogo que reúne as entradas de catálogo de onze investigadores especialistas nas áreas da História, História da Arte e Conservação e Restauro, distribuídos por quatro capítulos temáticos: «O Hospital da Misericórdia num testamento de 1597», «A encomenda. Os artistas», «Beneméritos» e «Reformar. Modernizar», aos quais foi adicionado mais um, que não teve presença na exposição, dedicado a obras de retabulária dispersa. As entradas das peças são antecedidas por dois artigos, de âmbito mais abrangente, sobre a implantação da Misericórdia de Lamego na cidade quinhentista e sobre a importância da encomenda artística no desenvolvimento das Misericórdias. O volume é complementado por textos de caráter informativo e formativo sobre as intervenções de conservação e restauro realizadas, entre 2016 e 2019, em algumas das peças que figuraram na exposição, numa oportunidade de alargar o conhecimento sobre as mesmas a uma perspetiva multidisciplinar e o de divulgar trabalhos levados a efeito em circunstâncias que ultrapassaram o contexto específico da exposição. Cumpre-nos registar o nosso agradecimento aos autores, às entidades emprestadoras, Museu Nacional de Arte Antiga e Academia Nacional de Belas Artes, e, de modo particular, à Santa Casa da Misericórdia de Lamego, pelo generoso número de peças cedidas para a exposição e o inestimável apoio e colaboração na sua organização. Pelo mecenato concedido, à Liga dos Amigos do Museu de Lamego e à Lusitânia, Companhia de Seguros, o nosso muito obrigado.
ALEXANDRA FALCÃO [DIRETORA DO MUSEU DE LAMEGO]
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500 ANOS DE VIDA.
Uma data histórica e cheia de simbolismo para a Santa Casa da Misericórdia de Lamego a mais antiga instituição da cidade de Lamego, com exceção da sua diocese. Cinco séculos dedicados à procura incessante e desinteressada do bem-estar dos mais pobres, dos mais doentes, dos mais carenciados, dos mais excluídos da nossa sociedade. Muitos milhares de irmãos se dedicaram de alma e coração, de bondade e de misericórdia, ao serviço dos outros, de forma muitas vezes apaixonada, intensa e dedicada, que passou inclusivamente pela doação dos seus bens a esta instituição. E se os doaram é porque tinham a convicção de que esta instituição era a mais indicada, porquanto os iria por ao serviço do bem-estar daqueles que menos bens tinham. Em boa hora, no âmbito das comemorações desta efeméride, a Santa Casa da Misericórdia se associou a uma das mais prestigiadas instituições públicas desta cidade, o Museu de Lamego, promovendo esta exposição que permite um conhecimento adequado das suas origens, da sua evolução e do seu impacto no nosso concelho. É sem dúvida um grande contributo para a comemoração condigna deste aniversário. Um agradecimento muito sentido, à Sra. Diretora do Museu e aos seus técnicos, pela extraordinária colaboração, pelo seu profissionalismo demonstrado na conceção, execução e implementação desta exposição.
ANTÓNIO MANUEL MARQUES LUÍS, PROVEDOR. [SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LAMEGO]
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