MUSEU DE LAMEGO | apontamentos janeiro.2103

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apontamentos MUSEU DE LAMEGO | janeiro

Um ano de TESOUROS [RESERVA]DOS

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TESOUROS [RESERVA]DOS

Doze meses, doze tesouros, podia ter sido também o título do projeto expositivo que o Museu de Lamego desenvolveu ao longo de 2012. Um projeto que se debruçou sobre as coleções que o museu possui e que habitualmente não se encontram acessíveis ao público, encontrando-se nas Reservas, por motivos de diversa ordem: seja devido à sua fragilidade intrínseca, como é o caso dos documentos visuais - desenhos, códices e gravuras -, cujo suporte, em papel, é muito sensível à luminosidade e consequentemente à exposição por períodos prolongados, princípio que se aplica igualmente às coleções têxteis (paramentaria, trajes e acessórios); seja pela natureza específica de algumas coleções, sem enquadramento na atual lógica narrativa da exposição permanente, de que são exemplo as espécies ligadas às indústrias tradicionais e etnologia; seja ainda, pelo facto de, em termos relativos, algumas coleções, de objetos cerâmicos, mobiliário e ourivesaria, serem muito numerosas, tornando inexequível a exposição simultânea de todas as espécies.

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Com uma rotatividade mensal, foram postos em destaque doze desses objetos “reservados”, de natureza assumidamente diversa, de modo a poder ilustrar não só a variedade do acervo do museu, mas também a explorar as múltiplas possibilidades de diálogo com a exposição permanente e com o próprio público, a partir das memórias que esses objetos convocam, não raramente, ligados ao universo pessoal e familiar de destacadas figuras de Lamego, cujo testemunho se mantém muito presente na comunidade envolvente. A apresentação dos Tesouros [Reserva]dos foi acompanhada pela edição de artigos relacionados que foram sendo disponibilizados não só no contexto da exposição, mas também em formato digital, nos órgãos de comunicação social, redes sociais e listas de e-mail. Este mês, em jeito de balanço, reeditamos toda a informação, numa compilação que reúne os todos os artigos difundidos ao longo dos doze meses passados, que pretendemos venha a constituir uma útil ferramenta de consulta sobre as coleções do museu.

O bom acolhimento e sucesso que a iniciativa granjeou junto da imprensa e do público em geral conduziram à decisão de prolongar o projeto em 2013, mantendo o formato original, alterandose apenas o tema geral, que passará a designar-se Tesouros | Conhecer, Conservar, Valorizar. Deste modo, o projeto dará primazia às obras incluídas na campanha de fundraising com o mesmo nome, como uma das várias propostas programadas, destinadas a dar maior visibilidade a esta campanha em curso, que recebeu um prémio da APOM.

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DOSSIER

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Tesouros [Reserva]dos


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CONTADOR Executado na tradição revivalista do século XIX, este exemplar recria a forma e a decoração dos pequenos escritórios executados na Alemanha, Países Baixos e Nápoles, cerca de 1600. Exportados para toda a Europa, estas pequenas peças portáteis possuíam frentes com portas que tapavam um interior com pequenas gavetas agrupadas em torno de um compartimento central, ocupado por uma gaveta ou por um pequeno armário com porta. A substituição do tampo frontal por duas portas que abriam ao centro acentuou a sua função de guarda de pequenos objetos. Na realidade, tratava-se originalmente de um móvel ligado à escrita (o tampo formava uma superfície para escrever). A produção de mobiliário com ébano e marfim revestindo carcaças de

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madeiras menos nobres parece ter-se desenvolvido na Itália do século XVI, para onde foi levada pelos artífices alemães e dos Países Baixos. Daí terá passado rapidamente a outros centros europeus. Característico da produção de Antuérpia, porto especializado no comércio de luxo, foram os pequenos contadores de portas, decorados por placas geométricas de marfim alternando com bandas de ébano, as primeiras gravadas com um reportório ornamental de teor naturalista que incluía flores e frutos, paisagens e figuras alegóricas, traçadas a tinta. A combinação do negro do ébano com o marfim permitia um austero contraste cromático, refletindo o gosto europeu pelo vestuário de

JANEIRO Contador

corte espanhol, rapidamente transporto para o mobiliário. Aliás, a produção de Nápoles, que rivalizou com a produção de contadores de ébano de Augsburg, destinava-se inicialmente ao mercado espanhol, refletindo, como não podia deixar de ser, o gosto da clientela a que se

Portugal, séc. XIX Casquinha, ébano e marfim

dirigia. Daí também a forma da caixa, diferente da restante produção

Doação de Fausto Guedes Teixeira

italiana muito próxima de formas arquitetónicas, e a ausência da forma

Museu de Lamego, inv. 502

piramidal do topo, usada quer na alemã. C.B. Bastos, Celina et al (1999): Mobiliário. Museu de Lamego Lisboa. Instituto Português de Museus


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FIGURAS DE MOVIMENTO De gosto assumidamente português e comprometidas socialmente com a realidade do país, as figuras de movimento, com um sistema de engonço que permite articular a cabeça, o tronco e as pernas, constituem uma marca de originalidade imprimida por Rafael Bordalo Pinheiro à cerâmica portuguesa de transição do século XIX para o XX. Nascido em Lisboa, em 1846, no seio de uma família de artistas, Bordalo Pinheiro, em 1883, no auge da sua carreira como caricaturista e ilustrador, aceita dirigir o setor técnico e artístico da recém-fundada Fábrica de Faianças, em Caldas da Rainha. Aí viria a desenvolver uma fecunda e criativa atividade de ceramista, influenciada pelos diversos

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figurinos estéticos coevos, mas, sobretudo, por correntes naturalistas, às quais empresta a sua visão acutilante sobre a sociedade.

Começaria então a produção de várias tipologias de caráter popular e social que possuíam, como nota preponderante, o sarcasmo, o humor,

FEVEREIRO Polícia e Ovarina Rafael Bordalo Pinheiro Portugal, 1906 e 1907 Fábrica de Cerâmica de Caldas da

a graça e vivacidade com que Rafael caricaturava ou simplesmente reproduzia personagens e costumes da época: a Maria Paciência, a Velha Maria, a Ama das Caldas, o Estudante, o Padre, o Sacristão, o Peixeiro, o Padeiro, o Forcado, a Fadista e, entre outros, o Polícia e a Ovarina, em evidência.

Rainha Barro moldado e modelado com

Provenientes da coleção de D. Maria Virgínia Magalhães da Silveira

vidrado polícromo

Montenegro Flórido, doada ao Museu em 1984, o Polícia e a Ovarina,

Marcas: “FFCR. 1906”, “FFCR. 1907”

foram produzidos nos dois anos seguintes à morte de Bordalo Pinheiro

Doação de D. Maria Virgínia

(em 1905), certamente, a partir dos moldes do mestre e pelo mesmo

Magalhães Silveira Montenegro Flórido Museu de Lamego, invs. 2943 e 2942

pessoal que trabalhava na fábrica, nessa altura, já sob a direção de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, seu sucessor. A.B.


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D. PEDRO III, REI DE PORTUGAL O retrato de D. Pedro III, rei de Portugal (1717-1786), pertence a uma coleção de cinco retratos reais - constituída também pelos retratos de D. José I, D. Mariana Victória de Bourbón, do príncipe D. José (filho dos anteriores) e de D. Maria I (mulher de D. Pedro III) - e um retrato do papa Clemente XIV, datados da segunda metade do século XVIII, que, para além do mesmo formato e dimensão, partilham vistosas molduras em talha dourada com motivos rococó a guarnecê-los. Conservam-se atualmente nas coleções nacionais numerosos exemplares destes retratos, oriundos naturalmente das coleções reais, mas também de palácios e de paços episcopais, nomeadamente, os retratos que pertenceram ao paço patriarcal de São Vicente de Fora e aos paços espicopais de Castelo Branco, Évora, Bragança e de Lamego, a que pertenceu a referida coleção. Trata-se de um conjunto significativo, que revela o bom acolhimento que tiveram junto de uma clientela informada os retratos da família real e de altos dignitários do clero, produzidos de acordo com esquemas representacionais destinados à fixação de uma imagem de afirmação e poder, filiados em modelos de inspiração francesa, da primeira metade do século XVIII.D. Pedro III figura ao nível do busto, com o braço fletido em pose galante, habitual na época, encostado a uma almofada onde pousa um elmo guarnecido de louro. Com um rosto maduro emoldurado por cabeleira empoada, veste camisa branca arrendada e sobre ela uma casaca de veludo dourado, com botões circulares do mesmo, nos punhos. Usa um manto azul, com fímbria exibindo friso de “gregas” a ouro e forrado a arminho, preso no ombro direito por um alfinete de pedra vermelha. Do pescoço pende uma fita vermelha que suporta uma cruz pedrejada da Ordem de Cristo. Correspondendo aos ideais neoclássicos, com referências à Antiguidade, de afinado valor simbólico associado a imagens de poder e autoridade - como são o motivo de “gregas” e a folhagem de louro a circundar o elmo -, a figuração do retratado é realista e de uma expressividade linear e vigorosa. Apesar da sua origem mal documentada, é de crer que este exemplar, assim como os demais, tenha sido adquirido, ainda no último quartel do século XVIII, quando se realizaram as campanhas de renovação do paço episcopal, ao tempo do bispo D. Manuel de Vasconcelos Pereira, fazendo dotar a residência dos bispos de uma linha mais atualizada que satisfizesse as ambições de aparato vigentes. É aí que os vamos encontrar, em 1821, mais precisamente, na sala de visitas, num ambiente de luxo e opulência, para o qual concorriam as peças de mobiliário de gosto francês um jogo composto de um canapé e vinte e quatro cadeiras, tudo estofado de damasco vermelho, cómodas-papeleiras e os pares de mesas de jogo; MARÇO os veludos escarlate dos pesados reposteiros pendendo de sanefas com frisos dourados e um impressionante número de pinturas de assuntos diversos, sessenta, ao todo, a ornar as paredes. Pese embora a incorporação do palácio e respetivo recheio no património D. Pedro III, rei de Portugal do Estado, decorrente da lei da Separação da Igreja e do Estado, após a implantação da República, a coleção de retratos permaneceria no mesmo local, na antiga residência Portugal,1777-1786 dos bispos, onde se encontra instalado o Museu desde 1917. Apeados da exposição Óleo sobre tela permanente há vários anos, estiveram expostos numa sala forrada de damasco Proveniente do antigo carmezim, coroada por um teto estucado, em estilo rocaille, com ornatos brancos sobre Paço Episcopal fundo rosa. Atualmente encerrada ao público, constitui uma remanescência do aparato Museu de Lamego, inv. 89 decorativo de que se revestiam os aposentos do antigo paço. A.B.

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AUTOCARICATURA DE JOÃO AMARAL Por ocasião da celebração do 95.º aniversário da criação do Museu de Lamego, por Decreto N.º 3074, de 5 de abril de 1917, destacamos a figura do artista lamecense, João Amaral, que foi o primeiro diretor do museu e autor do autorretrato caricatural que apresentamos como tesouro [reserva]do mês de abril. Sobre as suas memórias de estudante em Lamego, Aquilino Ribeiro escreveu “O Meu Velho Lamego”, oferecendo-nos um retrato nostálgico da cidade pacata e encantadora que era Lamego, por volta de 1900, na qual começava a despontar o astro radioso de João Amaral (1), pondo em relevo, de modo expressivo, uma figura ímpar do panorama cultural de Lamego da primeira década do século passado. Não cabendo, nestas linhas, traçar o percurso biográfico de João Amaral, nem o trabalho que desenvolveu na direção e organização do Museu de Lamego, o desenho do seu autorretrato é pretexto para evocar uma das múltiplas facetas que desenvolveu no domínio da caricatura, ilustração e desenho. Nascido em Lamego, em 1974, depois de concluir os estudos na terra natal, vai para o Porto, onde frequenta a Academia Portuense de Belas Artes. Desse período, o museu conserva o Álbum de Serões, caderno onde deixa as suas primeiras caricaturas. Reconhecido o talento por mestres e colegas da Academia, passa a colaborar regularmente como ilustrador em revistas e jornais - Galeria Portuguesa, Charivari, onde foi diretor artístico, em 1898, Raboleva (1905), Riso (1905), Careta (1909), Norte (1909), Século Cómico (1913) - e em diversas obras e artigos de revista de Vergílio Correia, Alfredo Guimarães e Alberto Sardoeira. O seu nome figurará, contudo, nos anais da história da caricatura, por ter sido o artista do “Enterro do Grau”, em Coimbra, no ano letivo de 1904-1095 e, nesse papel, um dos principais responsáveis pela transformação do Livro do Curso com fotografias por irreverentes caricaturas, iniciando uma tradição que ainda hoje perdura. É de sua autoria o álbum com mais de uma centena de caricaturas dos quartanistas da Universidade desse ano. De regresso a Lamego, onde o voltamos a encontrar em 1907, primeiro como professor de desenho e pintura no Colégio de Lamego e, anos depois, também como diretor do Museu de Lamego e membro da Comissão Estética do Município de Lamego e do Conselho de Arte e Arqueologia, João Amaral dedica-se igualmente à investigação, compulsando centenas de artigos em diversos jornais e revistas, com que colabora ininterruptamente durante várias dezenas de anos, e ainda a incursões pelo teatro e cenografia. Entre tantas ocupações, mantém-se infatigável na missão de fixar em caricatura uma imensa galeria de personagens reais ou fictícias, às quais empresta o seu enorme talento, sarcasmo e visão acutilante, com que brilhantemente sintetiza a sociedade de Lamego e a si mesmo, como no exemplo que apontamos. Executado quanto tinha 67 anos, João Amaral devolvenos, neste auto-retrato, uma imagem igual a ele próprio de Figura bem vincada de Artista, com a inseparável lavalière e a ondeante cabeleira encanecida, parecia arrancado à galeria anatoliana, para servir de elucidário do passado artístico de Lamego(2). A.B.

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ABRIL Autocaricatura de João Amaral Amaral, João (1874 1955) 1941 Lápis sobre papel Doação da família do autor Museu de Lamego, inv. 2699

(1)Ribeiro, Aquilino “O Meu Velho Lamego” (notas pessoais). Boletim da Casa Regional da Beira-Douro, Porto, Ano I, N.º 4, 1952, p. 114. (2) Lemos, Viriato, A Obra e o Autor. In Amaral, João, Roteiro Ilustrado da Cidade de Lamego. Lamego, 1961, p. s/n.


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JARRA A coleção de aproximadamente cem peças de porcelana chinesa oferecidas pelo Comandante, ao Museu de Lamego, entre as décadas de 50 e 70 do século XX, é um bom exemplo do fascínio e da permanência de gosto que tem acompanhado os portugueses, desde os primeiros contactos com o Oriente, pelas louças e outros produtos exóticos e do lugar central que ocuparam no seio de coleções privadas constituídas no espírito romântico de Oitocentos. Humberto José dos Santos Leitão nasceu em Lamego em 1885, mas uma fulgurante carreira na Marinha conduziu a que a maior parte da sua vida fosse passada no Oriente, onde por duas vezes chegou a ocupar o cargo de Governador de Timor. Homem culto e refinado, autor de diversos estudos sobre náutica e sobre o papel dos portugueses no Oriente, deixaria maravilhar-se pelo brilho, beleza e sofisticação das porcelanas da China, onde iniciou uma interessante coleção que viria a complementar, depois do seu regresso a Portugal, com peças adquiridas em leilões de arte. Da sua coleção, apresentamos uma jarra executada numa porcelana branca, pesada e espessa, decorada com esmaltes da “família verde” onde predominam, como o nome indica, vários tons de verde combinados com azul, amarelo, vermelho ferro, beringela e preto. A decoração, que se desenvolve por toda a superfície vidrada, com um nível de detalhe e delicadeza assinaláveis, inclui quatro painéis, um por cada uma das faces do bojo, reproduzindo cenas de interior e exterior, baseadas certamente em fontes literárias, com generais, oficiais, senhoras e criadas, entre paisagens com flores variadas, montanhas rochosas, árvores, aves, pavilhões e objetos de valor simbólico. As porcelanas deste tipo foram produzidas durante o reinado do Imperador Kangxi (1662-1722), responsável pela recuperação do tradicional sistema de fábricas imperiais e pela revitalização da produção de porcelana em larga escala, depois de um período de grande escassez devido à destruição dos fornos da cidade de Jingdezhen (1674-75) durante a guerra. A presença de uma folha de artemísia pintada na base da jarra, em lugar da tradicional marca do reinado, em carateres kaishu, que permite a identificação da data em que o objeto é feito, informa-nos sobre a proibição de uso da marca imperial em peças produzidas em fornos privados, que ocorreu nos primeiros anos do reinado de Kangxi. A.B.

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MAIO Jarra China (Jingdezhen?) Dinastia Qing, período Kangxi (16621722) Porcelana branca e espessa decorada com esmaltes da “família verde” Marca: folha de artemísia Doação do Comandante Humberto Leitão Museu de Lamego, inv. 1726


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LEQUE O Museu de Lamego possui uma pequena coleção de leques datados de finais do século XIX e inícios do XX, resultante de diversas doações que atestam o papel desempenhado por este adereço, sinónimo de elegância e sofisticação, durante a Belle Époque, como aliás já o havia sido antes, nas cortes europeias do século XVIII, numa altura em que os leques conheceram o seu período áureo, como complemento indispensável do vestuário de uma dama. De entre os exemplares da coleção nenhum outro rivaliza em dimensão, exuberância e aparato com o leque em evidência: de grand-vol, com folha formada por 18 penas de avestruz pretas, as varetas e guardas em madeira recortada e incisa com motivos geométricos e festões e argola de onde pendem um cordão e borla de seda. A discrição na decoração é compensada pela voluptuosidade conferida pelas plumas de avestruz, uma novidade introduzida no contexto de um clima de euforia social e

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cultural vivida durante a Belle Époque, “em correspondência com o aparato das toilettes femininas usadas nas solenidades, os bailes e os espectáculos nocturnos de teatro e ópera”(1), como assinala Madalena Brás Teixeira, a propósito de um leque que pertenceu à 3.ª Duquesa de Palmela, hoje da coleção do Museu Nacional do Traje, semelhante ao presente exemplar, com exceção do material utilizado nas varetas e guarda, que são em tartaruga, no leque do Museu do Traje. Tão profundamente ligados ainda hoje à cultura de certos países europeus, sobretudo Espanha e Portugal, os primeiros leques portáteis e articulados, inspirados nas asas dos morcegos, surgiram na China, no

JUNHO

século VII, tendo sido introduzidos na Europa pelas mãos dos portugueses, nos finais do XV, na sequência do estabelecimento de rotas comerciais com o Oriente.

Leque Portugal, finais do séc. XIX, início do séc. XX

Após ter sido apresentada, em maio passado, no âmbito deste projeto expositivo, uma jarra em porcelana chinesa, do período Kangxi (16621722), decorada com painéis da vida quotidiana, onde, curiosamente,

Penas de avestruz, madeira

figuravam leques de grande porte, manuseados por lacaios, ligados aos

recortada, cordão de seda

momentos cerimoniais das classes mais elevadas, prosseguimos com o

Doação de D. Maria Isabel Raposo

exotismo de um leque, da coleção de D. Maria Isabel Raposo Osório, que

Osório

reflete de modo expressivo a influência oriental na cultura, hábitos e

Museu de Lamego, inv. 1221

costumes europeus. A.B. (1) Teixeira, Madalena Brás, Portugal 1900 (catálogo de exposição), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2000, p. 346.


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DALMÁTICA A coleção de paramentos do Museu de Lamego é constituída por peças datadas sobretudos dos séculos XVII e XVIII, provenientes do antigo paço episcopal, mitra e extinto mosteiro das Chagas, cuja produção se insere no incremento do cerimonial religioso a que assistimos durante o período do barroco, num favorecimento da criação de ambientes sensoriais e encenados, dentro de um espírito de ostentação e aparato, que apelasse aos instintos, emoções e fantasia, como forma de consolidação da fé dos crentes. Neste contexto, de opulência e exuberância decorativa que caraterizam os paramentos do museu, a dalmática em destaque adquire um caráter excecional por pertencer ao conjunto mais antigo - do qual se conservam uma segunda dalmática, dois manípulos e uma estola , produzido ainda no século XVI, escapando a uma lógica de exacerbação dos ornamentos, em dimensão, dinamismo e plasticidade, comum a modelos de filiação barroca, de grande impacto visual. Em comparação, a dalmática - espécie de túnica ampla com mangas, habitualmente usada sobre a alba e estola pelos diáconos (=servos, numa analogia à imagem de “Cristo Servidor”) - apesar da densidade da malha decorativa a percorrer toda a superfície, apresenta-se sóbria, com ornatos de gosto renascentista, “ao romano”, de irrepreensível execução técnica, que combina motivos de pinha e flor dispostos alternadamente no interior de cartelas ogivais delimitadas por folhagem. Baseada neste esquema decorativo, Teresa Alarcão aponta, como possível a execução deste paramento em Espanha, onde estas composições aplicadas em brocatéis, damascos e veludos eram muito frequentes (1), não sendo de descartar a sua atribuição a uma oficina de Salamanca que foi, durante o século XVI, um importante centro de fabrico de paramentos, com uma produção destinada a confrarias, irmandades e igrejas não só de Salamanca e de diversas províncias espanholas, mas também ao mercado português. Das suas oficinas saíram peças de muito boa qualidade, quer pelo elevado nível de execução atingido, quer pela utilização de fios de seda e ouro da melhor qualidade, sendo muito caraterístico dos paramentos salamantinos, a aplicação massiva de fios dourados a preencher a base dos bordados, tal como sucede neste exemplar. Incorporada no museu quando este foi criado em 1917, torna-se hoje difícil determinar com exatidão a origem desta peça, que tem sido frequentemente associada ao extinto Mosteiro das Chagas de Lamego. Contudo, a ausência de quaisquer referências a este exemplar nos vários inventários consultados desta instituição e, por outra parte, a existência de uma verba referente a duas dalmáticas verdes, entre os bens que foram arrolados, em 1911, no Paço Episcopal de Lamego, obriga a repensar a proveniência deste e outros paramentos da coleção do museu, que uma análise comparativa da documentação existente poderá ajudar a esclarecer.

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JULHO Dalmática Espanha, Salamanca (?), Séc. XVI (2ª metade) Seda, linho, fio metálico, lampasso Proveniente do extinto Mosteiro das Chagas de Lamego Museu de Lamego, inv.309

A.B. (1) Alarcão, Teresa Paramentaria. In Ribeiro, Agostinho, coord Museu de Lamego. Roteiro. Lisboa: IPM/Museu de Lamego, 1988, p. 47


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SERVIÇO DE CHÁ O núcleo fundamental de objetos de origem oriental que o Museu de Lamego possui é constituído por peças que integram a doação do Comandante Humberto Leitão, já referida no âmbito deste projeto, no passado mês de maio, a propósito da apresentação de uma jarra com decoração “família verde” (inv. 1726). Para além de um grande número de porcelanas, entre a parafernália de objetos que foram incorporados na coleção entre as décadas de 50 e 70 do século XX, contam-se peças de mobiliário, marfins, bronzes, caquemonos (pintura japonesa em rolo de seda ou papel), tecidos e algumas pratas, adquiridos, muito provavelmente, nas primeiras décadas do século XX, em Cantão, que fervilhava em torno do mais importante empório do Oriente: “I did not visit this Chinese city (Cantão), but, from local information I gathered, it richly reapys the time expended. It is the capital of Southern China, and the most important commercial center int the Emperor's dominions, (…) and is the El Dorado of the curio hunter, as the city is famous for its old bronzes, ivory work, old and new embroideries, silver ware, blackwood furniture, screens, porcelain, jade-stone ornaments, silk (…) and a great of purely Chinese objets d'art”(1). Do reduzido núcleo de pratas, destacam-se um interessante recipiente para condimentos, formado por um “cúli” empurrando carrinho-de-mão (inv. 1757), e o serviço de chá em apreço. Ambos se inscrevem na produção de prata chinesa “de exportação”, destinada inicialmente ao mercado americano, que sucedeu os portugueses, holandeses, franceses, suecos, dinamarqueses e ingleses em Cantão. Produzidas, de acordo com especificações estrangeiras, e adquiridas por companhias de comércio, capitães-de-mar, diplomatas e outras pessoas que visitavam a China, estas peças mantêm-se, no essencial, chinesas, quer pelo modo AGOSTO de manufaturação e materiais utilizados, quer na aplicação de motivos decorativos tradicionais, traduzindo-se, muitas vezes, em modelos híbridos, como acontece no presente conjunto. Se na conceção geral dos objetos bule, leiteira e açucareiro - é Serviço de Chá (Bule, leiteira, açucareiro e evidente a apropriação de um figurino europeu, art déco, que é visível nas bases pinça) losangulares, no formato de perfil trapezoidal e nas superfícies côncavas, já as flores e hastes de bambu que os decoram são descritas, no Oriente, como flores das Cantão, 1895-1905 quatro estações (flor de ameixoeira - inverno; bambu - primavera; orquídea - verão; Prata fundida, cinzelada, crisântemo - outono) e conotadas com o desejo de felicidade para todo o ano. dourada e marfim. Todas as peças apresentam, na base, duas marcas estampadas em carateres kaishu Marcas: em carateres Kaishu: dispostos em reservas oblongas. Na da esquerda, pode ler-se “Kwong San”, de uma “Kwong San” e “WA”, de oficina localizada em Cantão e, possivelmente, em Hong-Kong, entre 1875-1920, ourives de Cantão e, na da direita, as iniciais “WA”, atribuídas ao ourives cantonês Kwong Wa (2), Doação do Comandante reconhecido pela autoria de peças para exportação, de grande qualidade. Humberto Leitão Durante muitos anos negligenciada, a prata chinesa de exportação tem vindo, Museu de Lamego, invs. nos últimos anos, a suscitar o interesse dos estudiosos e a marcar presença 1758-1760,1760a assídua nos leilões de antiguidades. A.B.

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(1)Le Couteur, William To Nippon, the land of the rising sun, by N.Y.K. “Guide Book to Japan, for the use of passengers by the Nippon Yusen Kaisha” (Japanese Mail Steamship Company). Sydney: John Andrew & Co., Printers, 1899: p. 24 (2) Page, L., Apsara Enterprises, http://www.uq.net.au/~zzlesp, consultado em 12 de fevereiro de 2004.


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LANTERNA PROCESSIONAL Habitualmente em prata, as lanternas processionais são compostas basicamente de uma haste cilíndrica, encimada por uma lanterna com decoração normalmente religiosa. Transportadas nas procissões a acompanhar o Santíssimo Sacramento ou o Viático, apresentam-se aos pares. Os presentes exemplares, inspirados nos modelos de ourivesaria do século XVIII, possuem secção trapezoidal invertida e base tipo corola assente em secção cilíndrica moldurada para encaixe na haste. Apresentam três faces perfuradas, onduladas na moldura superior, uma das quais a abrir em charneira e arestas chanfradas de onde saem quatro aletas, fazendo a ligação com chaminé cilíndrica a encimar a cobertura. Com diferenças pontuais, a decoração é relevada, recortada e pintada, com motivos de volutas, palmetas, folhagem e máscaras, de lembrança barroca, que se distribuem de modo simétrico ao longo das peças. No centro das faces, foi pintada, a ouro, uma custódia. Foi sobretudo nos séculos XVII e XVIII que, com o incremento do cerimonial religioso, as instituições religiosas ou laicas procuraram para a produção de alfaias destinadas aos ofícios os metais nobres, o ouro e a prata. Todavia, sempre que os meios financeiros não o permitiam, foram admitidos outros metais ou ligas metálicas, sendo frequente o uso de objetos em cobre, ferro, estanho, latão e em folha-de-Flandres, como é o caso do conjunto de oito lanternas processionais que o Museu possui. De origem mal documentada, as lanternas foram recolhidas “nas aldeias arrabaldeiras desta Cidade” (1), uma informação que é complementada pelas inscrições a lápis que ambos os exemplares conservam na haste indicando duas aldeias da Diocese: Britiande (inv. 7731) e Dalvares (inv. 7732), onde eram mais escassos os recursos. Encontravam-se, por essa altura, expostas numa das salas da ala “nova” do Museu, depois de concluído o projeto de obra de beneficiação e restauro levado a efeito na década anterior, que permitiu a ampliação da área disponível para exposição ao rés-do-chão do edifício. Promovido pelo Estado Novo, pretendia-se engrandecer um dos museus da província que mais preciosidades possuía, através da ocupação de todas as dependências do antigo Paço Episcopal, num esforço que foi acompanhado por um empenho notável no alargamento da coleção existente, com novas espécies, sobretudo aquelas ligadas às indústrias tradicionais e etnografia, que passaram a apresentar-se no rés-do-chão, com as coleções de arqueologia e meios de transporte. Excetuando as duas últimas coleções, que permanecem no espaço que na altura lhes foi destinado, todos os outros objetos encontram-se, atualmente, nas Reservas. A.B.

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SETEMBRO Lanterna Processional Portugal, 1.ª metade do século XIX Folha-de-Flandres recortada, perfurada, dourada e policromada; madeira Proveniente da Diocese de Lamego. Britiande e Dalvares Museu de Lamego, inv. 7731

(1) Amaral, João, Roteiro Ilustrado da cidade de Lamego, Lamego, 1961: p. 59


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A BÍBLIA DE LAMEGO A Bíblia de Lamego é uma escritura que é considerada, pelos estudiosos em matéria de Teologia, como sendo um documento ímpar a nível das traduções mais ancianas do Antigo Testamento; estamos a referir-nos a um exemplar da Bíblia Sagrada e hoje conhecida por Bíblia de Lamego, dadas as suas características únicas. É um documento manuscrito que se encontra na biblioteca do Museu de Lamego preciosamente preservada; o seu grande interesse reside no facto de possuir nas últimas folhas um extenso corpo de leis judaicas. A Bíblia de Lamego, assim baptizada pelo Cónego Mendes de Castro, pela comparação que é feita com a Bíblia de Alcobaça, porque as duas reportam-se ao Antigo Testamento e dizem respeito não ao texto da versão latina da Bíblia, da responsabilidade de S. Jerónimo (séc. IV) e única reconhecida como canónica pelo Concílio de Trento, mas sim à Historia Scholastica. É um enorme volume, muitíssimo bem conservado e que na lombada apresenta o título: Bíblia Sagrada; o manuscrito contém 188 fólios numerados, todo em papel de linho com uma caligrafia redonda, bem desenhada, fazendo lembrar os documentos emanados da corte do rei D. Manuel e é de fácil leitura. Neste documento logo no primeiro fólio aparece o nome do bispo D. Francisco de Castro com a seguinte indicação a lápis: «neto do vice-rei da Índia D. João de Castro» e no quinto fólio vamos encontrar a licença de leitura, datada de 9 de Novembro de 1558, por ordem do Cardeal Infante D. Henrique, Inquisidor Geral no reino de Portugal desde Junho de 1539. Esta licença de leitura ordenada pelo Cardeal Infante tinha o suporte de um Breve do papa Pio IV, que lhe reforça o poder de Inquisidor Geral e, em tal condição, concede-lhe a faculdade de punir, corrigir e castigar os casos de heresia e a faculdade de ler qualquer livro de cultura herege e conceder a mesma licença às pessoas doutas que achasse por bem. Essa ordem foi escrita na Bíblia de Lamego por D. Francisco Foreiro, religioso dominicano, com a data de 9 de Novembro de 1558, e a Bíblia era propriedade de «Francisco de Sá era camareiro-mor do reino». No entanto, a maior singularidade deste documento, reside no facto de no final do volume surgirem as sentenças do Pirqué Abot nele incluídas, por certo, por mão judaica e não parece ter sido acrescentado posteriormente, mas sim inserido logo no acto da sua elaboração pois o papel e as letras são os mesmos, não deixando dúvidas sobre a sua uniformidade. O Pirqué Abot, isto é, Sentenças dos Padres, é formado por uma colecção de 50 aforismos mais ou menos jurídicos, nos quais a religião judaica se baseava é inédita a inserção de um texto rabínico numa Bíblia cristã anterior ao ano de 1558 e foi, sem dúvida, este facto que transformou a Bíblia de Lamego num documento único na história da cultura portuguesa. M.V.

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OUTUBRO Bíblia Dita “de Lamego” Portugal (Lisboa ?), século XVI, 1ª metade Couro, papel, tinta e ouro Proveniente do antigo Paço Episcopal Museu de Lamego, inv. 951


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CRUZ RELICÁRIO Estrutura em madeira revestida de incrustações em madrepérola, com elementos iconográficos cristológicos, marianos e vegetalistas, incisos a buril (?) e pintados a tinta da china. A cruz de tipologia latina e de secção retangular, apresenta as hastes trilobadas com reentrâncias centrais cobertas por vidraças, onde se alojam pequenas relíquias pétreas e resplendor na interseção destas. Encaixa por espigão em base alteada de formato trapezoidal, recortado em chaveta, assente em três pés cilíndricos dispostos longitudinalmente. Ao centro, alvéolo reentrante recortado em alfiz, de intradorso chanfrado. Contém placa em madrepérola com iconografia incisa, representando a Ressurreição de Cristo, ladeada por relíquias similares às das hastes. Peça de influência indo-portuguesa, proveniente do espólio do antigo Paço Episcopal. Em contexto religioso e no que concerne ao cristianismo, o culto das relíquias tem origem nos primórdios do mesmo, relacionando-se com a veneração dos corpos dos mártires e na crença no seu poder protetor e taumatúrgico, alargando-se posteriormente aos santos. Fragmentos dos seus corpos, dos objetos que lhes pertenceram, que neles tocaram ou lhe estiveram próximos, são elementos materiais, visíveis, exemplos palpáveis da fé e do ideal de conduta cristã a seguir. Tendo nos despojos de Cristo, ou com Ele relacionados, as relíquias de excelência e na proximidade com Este ou com os santos mártires o seu grau de importância, a sua veneração foi-se afirmando, atingindo o seu auge nos finais da Idade Média, dando origem a grandes centros de peregrinação, como Jerusalém ou Santiago de Compostela. A expansão e incremento do culto das relíquias, em conventos e catedrais, levou à constituição de grandes coleções de relíquias (lipsanotecas), expostas geralmente em tabernáculos nas sacristias, nos coros conventuais, ou em capelas próprias. Foram objeto de culto em espaço privado e público, de doação e oferta entre reinos e senhores, laicos e religiosos, particular expressão da devoção feminina, que no seu espaço íntimo possuía os seus oratórios com as mais poderosas relíquias. Simultaneamente, o incremento das falsificações e do comércio ilícito destas levará, em 1563, o Concílio de Trento a refletir e legislar sobre esta matéria, confirmando e legitimando a veneração das relíquias, ao mesmo tempo que se exigia a sua avaliação e creditação. A necessidade de proteger e preservar as relíquias, frágeis na sua composição material e nobres na sua dignidade espiritual, levou à criação de extraordinários recetáculos, os relicários - objetos de várias tipologias de acordo com a dignificação a dar à relíquia, a capacidade económica, os gostos dos ofertantes e as caraterísticas dos materiais. Escolhem-se materiais nobres e dispendiosos, como o ouro, a prata e as pedras preciosas, com frequência se recorre à madeira dourada, policromada, ou incrustada, normalmente associados a um trabalho oficinal de grande qualidade. Aspetos que cumulam com a sua relevância estética e o seu intrínseco valor simbólico, como o exemplifica a cruz relicário que agora se apresenta como “Tesouro” do mês de novembro, no Museu de Lamego. G.P.

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NOVEMBRO Cruz Relicário Séc. XVII/XVIII Madeira, madrepérola, tintada-china, vidro Proveniente do antigo Paço Episcopal Museu de Lamego, inv. 765


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[LAMEGO. EDITAL E APONTAMENTOS para a obra das dez Cellas no Recolhimento de Sta. Tereza da Regueira] [manuscrito] Instalado no antigo paço episcopal de Lamego, o Museu de Lamego conserva do antigo arquivo eclesiástico um reduzido mas importante núcleo documental, constituído por peças manuscritas ou impressas de diversas proveniências, que abrangem um largo período que vai do século XVI até à primeira década do século XX. Desse acervo sublinha-se, como tesouro reservado de dezembro, um códice de um conjunto de três recentemente doados ao museu, na sequência da sua aquisição num leilão de livros e manuscritos da coleção António Capucho realizado em 2011. Produzido em Lamego, no paço episcopal, constitui um exemplo da dispersão e circulação de documentos de natureza diversa - que neste caso, assume o sentido literal do termo - que tem ocorrido através dos tempos, devido às mais variadas causas e motivações. Constituído por um caderno de papel tecido, com marca de água (no centro da folha, três círculos alinhados verticalmente: o primeiro sobrepujado por cruz recruzada e intercetado por uma linha curva, formando um crescente, no interior; no do centro, uma mão e no inferior o número 5) e contendo 85 fólios, cozidos entre si por fio têxtil, um deles em harmónico com raro traçado arquitetónico de um alçado e planta. Com várias letras diferentes, em escrita moderna, possui dois selos de chapa e lacre, marcas de tabelião e múltiplas assinaturas autógrafas. Em data incerta, provavelmente no século XX, foram acrescentadas inúmeras anotações a lápis, que podemos correlacionar com outros documentos analisados. O facto de apresentar algumas faltas na numeração dos fólios; de haver fólios marcados com o mesmo número; de outros se encontrarem vazios; ou ainda, o facto de haver discrepâncias de sequência cronológica das diversas peças do documento, poderão justificar uma reunião da documentação relativa a um mesmo assunto, em data posterior. O presente exemplar é de inegável interesse para a história de Lamego, não apenas por se relacionar com uma obra há muitos anos desaparecida, o Recolhimento de Santa Teresa de Lamego, que se situava na antiga rua da Regueira, no lugar onde posteriormente foi construída o edifício das Escolas Primárias Centrais (atual sede da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego), mas também pelo facto de possuir informações inéditas sobre o espaço e as obras que se fizeram nesse Recolhimento, custeadas pela Mitra de Lamego, ao tempo do bispo D. Nuno Alvares Pereira de Mello (1710-1733), sobre as quais daremos notícia, por ocasião de cerimónia pública de doação da documentação aludida. A.B.

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DEZEMBRO [LAMEGO. EDITAL E APONTAMENTOS para a obra das dez Cellas no Recolhimento de Sta. Tereza da Regueira] [manuscrito]

Lamego 1723, maio, 12 - 1733, fevereiro, 04 Caderno de papel tecido, constituído por 85 fólios, incluindo desdobrável e capa Proveniente do antigo Paço Episcopal Coleção António Capucho


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FICHA TÉCNICA DO PROJETO Projeto

Paula Pinto

Textos

Alexandra Braga (A.B.) Celina Bastos (C.B.) Georgina Pessoa (G.P.) Manuela Vaquero (M.V.)

Design gráfico

Patrícia Brás

Fotografia

José Pessoa

Montagem

Jaime Bento José Roque Paula Pinto Teresa Sequeira

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AGENDA


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EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA | “O Túmulo de um Rei” Túmulo de D. Fernando | Museu Arqueológico do Carmo Fotos: José Pessoa

Inauguração |2 de fevereiro |15h30 Exposição integrada nas Comemorações do 150º do Aniversário da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

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CONFERÊNCIAS | “A História no Museu” | 16h00 | 2 de fevereiro

“Projeto Vale do Varosa: passado, presente e futuro” Luís Sebastian, Diretor do Museu de Lamego e coordenador do Projeto Vale do Varosa

“A importância do tema da caça nas memórias tumulares da nobreza medieval portuguesa (séculos XIII e XIV) Carla Varela Fernandes,doutora em História da Arte, Divisão de Museus da Câmara Municipal de Cascais. Investigadora do CEAUCP/CAM (Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto/Campo Arqueológico de Mértola)

“S. Pedro de Balsemão: uma igreja pré-românica?” Paulo Almeida Fernandes,investigador do CEAUCP/CAM (Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto/Campo Arqueológico de Mértola) e membro do Grupo Multidisciplinar em Artes

“Inventário Fotográfico: recuperar memória, criar memória” José Pessoa, técnico de fotografia do Museu de Lamego

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Museu de Lamego Largo de Camões 5100-147 Lamego

Tel: 254600230 E-mail: mlamego@culturanorte.pt Site: www.museudelamego.pt (em construção) Siga-nos no FACEBOOK.

Horário De terça-feira a domingo, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h00. Encerra às segundas-feiras. Gratuito aos domingos e feriados até às 12h30.

Serviço Educativo Visitas orientadas/comentadas à exposição permanente e exposições temporárias, mediante marcação prévia.

Biblioteca De terça a sexta-feira, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h00.

Auditório 100 lugares

Loja

DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO NORTE


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