Revista Fundações & Obras Geotécnicas - Edição 46

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.rudders.com.br

Ano 4 Nº 46 R$ 27,00

Julho de 2014

www.rudders.com.br

Ano 4 – Nº 46 – Julho de 2014

Alpha Sigma Towers: com o intuito de suportar cargas superiores, o empreendimento empregará 114 estacas barrete cada uma com 32 m de profundidade Ensaio de integridade (PIT) – interpretação de resultados obtidos para os casos de estacas dos tipos hélice contínua monitorada e raiz


opinião

Melchiades Ramalho / Editora Rudder

Uso da Geofísica Rasa na identificação de elementos de fundação

Infelizmente no Brasil não há uma prática sistemática de registro de projetos de fundação de obras de infraestrutura e civis. É rara a empresa, órgão público ou concessionária que disponha do projeto de fundação de um empreendimento realizado até os anos 80. Esta cultura afeta a implantação de novos empreendimentos no entorno dos já existentes bem como no retrofitting (do inglês: adaptação e melhora) de construções. Recentemente, o projeto do túnel de serviço da Linha 4 Sul do Metrô do Rio de Janeiro teve o seu cronograma atrasado devido à falta de informação acerca dos tipos de elementos de fundação existentes para suportar as cargas 44 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

dos pilares do Elevado da Autoestrada Lagoa-Barra na Gávea, construído nos idos dos anos 70. O projeto do referido túnel previa a construção de seu emboque sob os pilares do elevado e havia uma dúvida se estes estavam assentes sobre fundações rasas ou profundas. O assunto é mais grave no caso de obras civis, não obstante o seu porte ou importância. É inimaginável que um dos aeroportos com maior movimentação de passageiros no Brasil não possua em sua Sala de Projetos plantas do projeto de fundação de um dos seus Terminais de Passageiros. Os gestores do Aeroporto Santos Dumont (RJ), vitimado por um incêndio de grandes proporções em fe-

vereiro de 1998, em que 18 pessoas ficaram feridas, tiveram dificuldades em conceber o projeto de recuperação e ampliação do Terminal de Passageiros em virtude da falta de informação sobre o tipo de fundação que fora executada. A Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) não possuía a totalidade das plantas das fundações do prédio que abriga o terminal de passageiros. Os registros existentes apenas designavam o tipo de fundação que foi adotado, estacas moldadas in loco, e a planta de locação das estacas. Os registros indicavam que a carga do pilar era transferida para um grupo de três estacas, mas não assinalavam qual era a for-


na implantação de inúmeros empreendimentos residenciais multifamiliares. No entanto, há uma série de dificuldades envolvidas no emprego desta ferramenta, cuja aplicabilidade vem sendo contestada ultimamente, devido, em parte, à utilização de equipamento ade-

quado, como também pela subjetividade de sua interpretação. Em relação à interpretação, ressalta-se a necessidade do intérprete estar ciente dos objetivos do levantamento e que tenha um conhecimento prévio do meio físico e do sistema construtivo.

Face à realidade existente, é imperioso o desenvolvimento de técnicas não invasivas para a identificação de elementos de fundação. Neste sentido, a geofísica rasa se apresenta como uma excelente alternativa, devido à sua rapidez de execução e a possibilidade de trabalhar em ambientes confinados Divulgação CTC / PUC-Rio

Arquivo pessoal

José Araruna Júnior é doutor em geotecnia pela Universidade de Newcastle upon Tyne, no Reino Unido e professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), onde atua nas áreas de ensino e pesquisa. Como consultor, o tem executado investigações geofísicas de campo, avaliações de impacto ambiental, investigações e monitoramentos ambientais, projetos de recuperação de áreas degradadas e planos de gerenciamento de áreas contaminadas. Divulgação CTC / PUC-Rio

ma em que a carga era transmitida, i.e., através de vigas de transição ou bloco de coroamento. Face à realidade existente, é imperioso o desenvolvimento de técnicas não invasivas para a identificação de elementos de fundação. Neste sentido, a geofísica rasa se apresenta como uma excelente alternativa, devido à sua rapidez de execução e a possibilidade de trabalhar em ambientes confinados. Entre os métodos geofísicos, um dos mais promissores é o GPR (Ground Penetrating Radar – Radar de Penetração) que passou por um crescente desenvolvimento de teoria, técnica e aplicações nas últimas duas décadas. O GPR é um método geofísico não destrutivo, fundamentado na propagação e reflexão de ondas eletromagnéticas. As sondagens geofísicas são realizadas através da movimentação das antenas transmissoras e receptoras ao longo de um perfil a ser analisado. A antena transmissora emite pulsos eletromagnéticos na superfície e a antena receptora registra os sinais refletidos na interface entre os diferentes materiais que apresentam propriedades eletromagnéticas distintas (i.e., permissividade dielétrica, condutividade elétrica e permeabilidade magnética). Através dos dados coletados, podem-se deduzir informações importantes do subsolo, incluindo a presença e tipo de elementos de fundação, bem como a determinação do nível de água e a delimitação de camadas estratigráficas. A escolha da antena varia de acordo com a profundidade a ser analisada, sendo que, quanto maior a frequência da antena, menor será a penetração do sinal no meio poroso ou fraturado. Esta técnica vem sendo bastante utilizada na cidade do Rio de Janeiro na última década, fornecendo informações importantes para o projeto de fundações de empreendimentos de grande porte como a ampliação do Terminal de Passageiro do Aeroporto Santos Dumont, Cidade das Artes, Estação de Metrô PUC/Gávea, Túnel de Serviço e Ponte Estaiada da Linha 4 Sul do Metrô do Rio de Janeiro, bem como

Patrício José Moreira Pires é doutor em geotecnia e professor da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), onde atua nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Também realiza trabalhos nas áreas de investigações geotécnicas e monitoramento ambiental. Nos últimos anos tem usado investigações geofísicas para realização de trabalhos de campo como ferramenta para auxiliar no desenvolvimento de modelos geológicos, detecção de utilidades e determinação de áreas contaminadas. Pedricto Rocha Filho é doutor em geotecnia pelo Imperial College da Universidade de Londres e professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio, onde atua nas áreas de ensino e pesquisa. Atualmente, atua em consultorias na área de geotecnia de fundações. FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS • 45


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