P PAARRQQUUEE N C II O ONNAALL DDOO NA AC
IGUAÇU IGUAÇU PATRIMÔNIO NATURAL NATURAL DA PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE HUMANIDADE
IGUASSU NATIONAL PARK IGUASSU NATIONAL PARK
NATURAL HERITAGE OF HUMANITY NATURAL HERITAGE OF HUMANITY
Carlos Renato Fernandes Hudson Garcia
parque
nacional
do
igua莽u p a trim么nio natural da humanidade
iguassu national park natural heritage of humanity
C a r los Re nato F e r na nd e s H u d son G a rci a
parque
nacional
do
iguaçu p a trimônio natural da humanidade
iguassu national park natural heritage of humanity
C ur itiba Edi ç ão do Autor 2011
Projeto gráfico/Layout: O2 Design e Comunicação (www.o2comunicacao.com.br) e/and Carlos Renato Fernandes Capa/Cover: Cataratas do Iguaçu - Parque Nacional do Iguaçu Foto da capa/Cover photo: Carlos Renato Fernandes Contracapa/Back cover photo: Harpia/Harpy Eagle, Harpia Harpyja Foto da contracapa/Back cover photo: Hudson Garcia Colaboradores/Collaborators: Ernani Francisco da Rosa Filho, Ingrid Illich Müller, Julio Cesar de Moura-Leite, Marina Xavier, Mirna Martins Casagrande, Nelson Penteado Alves, Nilton Cáceres, Olaf Hermann Hendrik Mielke, Osmar dos Santos Ribas, Pedro Scherer Neto, Rafael Greca de Macedo, Vinícius Abilhoa Legendas/Legends: Carlos Renato Fernandes/Hudson Garcia Revisão do português/Portuguese proofreading: Beatriz de Castro da Cruz e/and Denise Mohr Versão para o inglês/Translation into English: Danuza Pisa Corradini Diagramação e produção/Layout and production: O2 Design e Comunicação (www.o2comunicacao.com.br) e/and Carlos Renato Fernandes e/and Hudson Garcia Editoração eletrônica/Eletronic editing: O2 Design e Comunicação (www.o2comunicacao.com.br) Fechamento de arquivo/Portable document format: O2 Design e Comunicação (www.o2comunicacao.com.br) Tratamento de imagens e digitalização/Image treatment and digitalising: Hary Slesaczek Júnior Ilustrações/Illustrations: Daniel Conrade, Diana Carneiro, Fátima Zagonel, Jonatas dos Santos Cunico, Maria da Penha Passos, Lais Felippu Pinto, Cristina Maria Klas Bico, Neuza G. Fedato Impressão e acabamento/Printing and finishing: Ipsis Gráfica e Editora - São Paulo-SP © Copyright 2011 - Carlos Renato Fernandes e Hudson Garcia Todos os direitos reservados/All rights reserved Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer processo sem a prévia autorização dos seus autores. No part of this work may be reproduced or used in any form by any means without written permission of the authors. Internet: carlosrenatofernandes@yahoo.com.br | hudson@hudsongarcia.com | www.hudsongarcia.com Pedidos/Orders through: Tel./Phone: 55 41 3264.6163 | 55 41 9972.1090 | 55 41 3342.2030 | 55 41 9604.4420
Dados internacionais de catalogação na publicação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira
Fernandes, Carlos Renato, 1938Parque Nacional do Iguaçu : patrimônio natural da humanidade = Iguassu National Park : natural heritage of humanity / Carlos Renato Fernandes. - Hudson Garcia. Curitiba, PR : Edição do autor, 2011. 252 p. : principalmente il. col. ; 27 x 31 cm. Texto em português com tradução em inglês. ISBN 978-85-900755-4-7 1. Parque Nacional do Iguaçu (PR) – Obras ilustradas. I. Garcia, Hudson, 1979-. II. Título. CDD ( 22ª ed.) 918.162
Dedicamos este livro aos que amam a natureza e reverenciam todas as suas formas de vida. We dedicate this book to everyone who loves and respects Nature in all its forms of life.
Nunca o homem inventará nada mais
Human subtlety will never devise an
simples nem mais belo do que uma
invention more beautiful, more simple
manifestação da natureza. Dada a causa,
or more direct than does nature
a natureza produz o efeito no modo mais
because in her inventions nothing is
breve em que pode ser produzido.
lacking, and nothing is superfluous.
Leonardo da Vinci (1452-1519)
Leonardo da Vinci (1452-1519)
A compaixão para com os animais é das
The love for all living creatures is the
mais nobres virtudes da natureza humana.
most noble attribute of man.
Charles Darwin (1809-1882)
Charles Darwin (1809-1882)
A natureza existirá sempre sem nós; sem
Nature can exist forever without us;
ela, não sobrevivemos.
without her, we cannot survive.
Carlos Renato Fernandes
Carlos Renato Fernandes
Agradecimentos / Acknowledgments Nossos agradecimentos às nossas famílias; ao Ministério da Cultura - Lei de Incentivo à Cultura e aos patrocinadores Volvo do Brasil, Terminal de Contêineres de Paranaguá e Cataratas S/A, sem os quais não seria possível a edição deste livro; à Itaipu Binacional e ao superintendente de Comunicação Social, Gilmar Piolla; ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Parque Nacional do Iguaçu e ao seu chefe, Jorge Luiz Pegoraro; ao Sr. Daniel Crosta, intendente do Parque Nacional Iguazú; ao Porto Canoas e ao seu gerente-geral, Celso Vítrio Florêncio; ao Parque das Aves e a toda sua equipe, em especial à Sra. Anna Croukamp, a Carmel Croukamp, Yara Barros, Evelyn Fernandes, Mathias Dislich, Laiz Padilha, Wilson Fernandes e aos tratadores Amarildo Alves, Giovane Garcia, Mário Diba, Francisco Oliveira, Paulo Alves e Wanderlei Spironello, pelo apoio na elaboração das imagens; ao Parque Güiráoga e seus fundadores, Jorge e Silvia Anfuso; às revisoras de português Beatriz de Castro da Cruz e Denise Mohr; à Danuza Corradini, pela versão para o inglês; à Eliane Marchiori Franco; a toda a equipe da O2 Design e Comunicação e à diagramadora Clarice Fensterseifer; ao amigo Marcos Venício Alves Meyer; a Luciano Breves; Kitty Harvill; Christoph Hrdina; Girlley M. Dourado; Gustavo Ruiz e Janael Ricetti; ao Nelson Penteado Alves; ao fotógrafo da natureza Marcelo Krause; às ilustradoras botânicas e zoológicas; ao Criadouro Onça-Pintada e ao seu idealizador, Luciano Sabóia; ao Macuco Safári, ao seu diretor, Ademir Fernandes dos Santos, e a Renato Fernandes dos Santos; aos amigos Luiz, Inêz e Victor Miola, da Pousada Patt's; à TV Cataratas; à TV Tarobá; à Rádio CBN de Foz do Iguaçu; ao periódico Gazeta do Povo e aos professores, mestres e ambientalistas pelos textos.
apoio / support
Uma beleza para observar, respeitar e conservar Esta obra literária, mais uma dos talentosos fotógrafos Carlos Renato Fernandes e Hudson Garcia, é um exemplar de rara beleza e de grande importância como registro da história. Mas vai além. Serve, principalmente, como um importante instrumento de alerta, de que a natureza pede e merece respeito, precisa de cada um de nós. A Volvo, que tem o respeito ao meio ambiente entre seus valores fundamentais, além da segurança e da qualidade, traz em sua essência o compromisso de apoiar manifestações que promovam de maneira séria e responsável a conservação do ambiente natural e de todas as vidas que o habitam. O Parque Nacional do Iguaçu é uma obra viva, que pulsa na fronteira de três importantes países da América Latina – Brasil, Argentina e Paraguai – mercados em que a Volvo se faz presente transportando pessoas, cargas e progresso. Como Patrimônio Natural da Humanidade, o Parque merece o cuidado e o respeito de todos os povos da região. Em suas 252 páginas, a obra não só traz belas fotos como conta com textos de importantes autores, que analisam a fauna, a flora e as populações que viveram e vivem nesse importante pedaço do mundo. A Volvo tem orgulho de atrelar sua marca a mais essa obra literária e educativa. Afinal, a empresa tem pelo Paraná uma relação de carinho e respeito. Em suas terras, na cidade de Curitiba, está a matriz de seus negócios para a América Latina. Indiscutivelmente, esta obra atinge seu objetivo. Afinal, é preciso conhecer para conservar. Encantar-se para defender. E registrar, para oferecer às novas gerações subsídios que criem a consciência de que todos somos responsáveis pelo destino que traçamos. Somos o resultado de nossas atitudes e escolhas. Desejamos a todos uma excelente leitura. Ótima para alma, diante da beleza das fotos. Ótima para a consciência, diante da clareza das informações e dos fatos.
Volvo do Brasil
A beauty to observe, respect and preserve This book by the talented photographers Carlos Renato Fernandes and Hudson Garcia is a work of rare beauty and is very important as a historical record. In fact, it is much more. The book is an alert that nature asks and deserves respect and needs each one of us. Volvo respects the environment, and it is one of the brand’s core values – besides safety and quality. Volvo’s commitment is to support activities that may promote nature’s conservation and pose positive impacts on all living beings. The Iguassu National Park is a living work, pulsating in the tri-border area along the junction of Paraguay, Argentina and Brazil – markets where Volvo transports people, cargo and progress. As a Natural Heritage of Humanity the Park deserves care and respect from all peoples living in the surrounding area. In its 252 pages, the book reveals not only beautiful photographs but also texts by important authors, who analyze the fauna, flora and the population that has lived and has been living within this important part of the planet. Volvo proudly links its brand to this literary and didactic work. After all, the company cares for the State of Paraná and respects its natural resources. On these lands, in the city of Curitiba, Volvo has its main business offices for Latin America. Unquestionably, the book reaches its main objective. After all, it is necessary to know how to preserve. Moreover, to be defended it is necessary to captivate; to register in order to offer to future generations the means necessary to raise awareness, that is, that we are all responsible for our future. We are the outcome of our actions and choices. Enjoy your reading. It’s good for the soul - they are all such beautiful photographs; and it’s good to broaden your horizons - information and facts are clear and interesting
Parque Nacional do Iguaçu. Um paraíso ecológico que precisa ser preservado. Estamos vivendo um novo tempo. Um tempo de consciência ambiental, onde todos nós temos um importante papel na preservação da natureza. Nosso planeta pede ajuda, por isso precisamos trabalhar juntos, cada um fazendo a sua parte. Pensando sempre no presente para que o futuro do meio ambiente seja próspero e cheio de vida. O TCP (Terminal de Contêineres de Paranaguá) oferece soluções em logística integrada para produtos que navegam por todos os oceanos, sempre traba-
Iguassu National Park
An ecological paradise that must be preserved Times are changing. Today we need to be ever more aware of our environment and we all have an important role to play in protecting nature. Our planet needs help, which is why we all need to work together, with everyone playing their part. Always having the present in mind so that the future of the environment will be prosperous and full of life.
lhando com cuidado e responsabilidade ambiental. A cada ano adotamos novas medidas em prol de um planeta mais sustentável. Em 2011 reformamos equipamentos antigos e investimos em novos equipamentos para reduzir em até 50% o consumo de combustíveis. Junto a outras constantes ações e políticas ambientais que fazem do TCP uma empresa de baixo impacto ambiental. Por isso não poderíamos deixar de apoiar um projeto que utiliza como cenário uma reserva de água como as Cataratas do Iguaçu. Um ecossistema tão grandioso quanto delicado, que acolhe animais e vegetais de uma beleza ímpar. Nós acreditamos no Parque Nacional do Iguaçu como um patrimônio natural da humanidade. E apoiamos os extraordinários fotógrafos curitibanos Carlos Renato Fernandes e Hudson Garcia na realização desse grande projeto. Eles conseguiram através das lentes das suas câmeras registrar detalhes impressionantes no meio da grandiosidade e exuberância desse paraíso ecológico. A partir de agora você vai ter o privilégio de nos acompanhar nesse importante registro, que alia a arte com a natureza. Estamos trabalhando e vamos continuar lutando cada vez mais pela preservação da fauna e da flora do nosso planeta. Convidamos vocês a trilharem esse caminho junto com a gente.
Terminal de Contêineres de Paranaguá
TCP (Paranagua Container terminal) offers integrated logistics solutions, for products that sail all the oceans while always working with care and environmental responsibility. Each year we adopt new measures in favour of a more sustainable planet. In 2011 we renovated old equipment and invested in new equipment to reduce fuel consumption by up to 50%. We also continue to take action and develop policies to maintain TCP’s reputation as a company with low environmental impact. For this reason we could hardly ignore a project based on the vast water resource of the Iguassu falls. Iguassu is an ecosystem that is both mighty and delicate and is home to plants and animals of especial beauty. We believe in the Iguassu National Park as a natural world heritage site and have engaged the extraordinary photographers Carlos Renato Fernandes and Hudson Garcia from Curitiba for this major project. They have been able to record through their lenses some of the impressive detail that is to be found in the midst of the power and diversity of this ecological paradise. As of today you can share the privilege of recording the uniqueness of Iguassu, through a coming together of nature and art. We are constantly striving, and will continue to strive, to preserve the flora and fauna of our planet. We invite you to join us on this road.
Cenas incríveis Os fotógrafos Carlos Renato Fernandes e Hudson Garcia revelam ângulos e aspectos incríveis do Parque Nacional do Iguaçu, uma das maiores reservas florestais da América do Sul. A unidade de conservação foi a primeira no Brasil
Amazing photographs
a ser instituída como Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, em 1986.
Photographers Carlos Renato Fernandes and Hudson Garcia reveal amazing angles and aspects of the Iguassu National Park, one the greatest forest reserves in South America. It was the first conservation unit in Brazil to be listed by UNESCO as a World Heritage Site in 1986.
É nesse cenário, que abriga, em seus 185 mil hectares, milhares de espécies silvestres de fauna e flora integrantes do bioma Floresta Atlântica, um dos mais ameaçados do planeta, que os profissionais capturaram o movimento dos animais e a mudança das paisagens ao longo de dias e estações.
This scenario that harbors hundreds of thousands of wild animal and plant species of the Atlantic Rainforest biome in its 185 thousand hectares is one of the most endangered on Earth. It was there that the two photographers captured the comings and goings of the wildlife and the change of scenery during days and seasons.
Os registros fotográficos desta publicação foram realizados durante três anos de excursão por terra, água e ar no Parque Nacional do Iguaçu. Durante esse período, Fernandes e Garcia registraram, com olhar atento e disparos certeiros, o ciclo da natureza. Os fotógrafos planejaram diferentes horários, dias, lentes e lugares para
The photographs shown in this book were taken during three years of travelling the Iguassu National Park on land, water and air in. During this period, Fernandes and Garcia captured the cycles of nature with their attentive observation and accurate photography.
fazer suas fotografias. Emoção. Raridade. Encanto. Detalhe. Expressão. Beleza. Tudo isso e muita surpresa o leitor irá encontrar nas próximas páginas. Uma verdadeira viagem em frames pelo Parque, que abriga uma riquíssima biodiversidade.
They planned their shooting approach by scheduling different times, days, lenses and places. Emotion. Uniqueness. Enchantment. Detail. Expression. Beauty. These are but a few of the adjectives that describe the amazing experience reserved for the reader in these pages. It is a veritable journey to be taken along each frame of the Park that harbors a wealth in diversity.
Boa leitura. Boa viagem!
Celso Vitrio Florêncio
Enjoy your reading. Enjoy your journey!
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Prefácio Se arte e natureza sempre tiveram uma relação harmônica, ainda que eventualmente de forma oblíqua ou inefável, também é certo que a fotografia é a expressão artística que mais adequadamente retrata o mundo natural, ao captar instantes mágicos da biodiversidade e fixá-los na perenidade da consciência universal. Este livro de Carlos Renato Fernandes e Hudson Garcia – fotógrafos da natureza cuja competência é amplamente reconhecida por seus trabalhos anteriores – reforça a conexão inextinguível entre arte, técnica e natureza. Mas seus méritos transcendem a inesgotável beleza do Parque Nacional do Iguaçu, aqui retratada. Com mais de 270 fotografias, mapas e ilustrações, ao longo de suas 252 páginas, Parque Nacional do Iguaçu: patrimônio natural da humanidade é um apelo poético-visual, comovente e silencioso, que clama pela preservação daquilo que temos de mais exuberante no território paranaense. Tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade em 1986, o Parque Nacional do Iguaçu, bem antes de sua instituição oficial, já chamava a atenção de personagens de visão – como o engenheiro André Rebouças, que em 1876 propôs a Dom Pedro II a criação do Parque Nacional como forma de salvaguardar a preservação da área. Em 1916 foi a vez de Santos Dumont, que, extasiado com a beleza monumental das Cataratas do Iguaçu, logo depois de conhecê-las sugeriu ao governo que levasse adiante a proposta do parque nacional, afinal instituído por decreto federal em 1939. Por incrível que possa parecer, o Parque Nacional do Iguaçu vai muito além das Cataratas. Carlos Fernandes e Hudson Garcia foram particularmente felizes, e fiéis, ao traduzir o espetáculo de cores, texturas, grafismos e formas da magnífica fauna – incluindo as espécies ameaçadas – e da grandiosa flora do Iguaçu, que ignoram fronteiras e se espalham por terras do Brasil e da Argentina. Sua apaixonada pesquisa rastreou ainda a cultura de nações indígenas que habitaram às margens do rio Iguaçu em tempos primevos - povos primitivos, cuja vida estava indissociavelmente ligada à natureza. Numa hora em que a conservação da biodiversidade está no centro de nossas preocupações, precisamos mais que nunca de sabedoria para identificar os caminhos do desenvolvimento sustentável. E a edição deste livro ilustra, a partir do privilegiado santuário natural que é o Parque Nacional do Iguaçu, o caráter de urgência nos cuidados pela preservação das espécies.
preface It is true that Art and Nature have always coexisted in harmony, albeit in an indirect or ineffable manner; it is also true that photography is the artistic expression that best depicts the natural world. Photography is able to capture magical biodiversity moments and retain them in the perennial universal consciousness. This book by Carlos Renato Fernandes and Hudson Garcia – both nature photographers that are widely acknowledged for their body of excellent works – reinforces the inextinguishable connection between Art, Technique and Nature. But their merits transcend the interminable beauty of the Iguaçu National Park that is portrayed in this book. There are over 270 photographs, maps and illustrations in the 252 pages of the Iguaçu National Park: a natural asset for humanity that constitute a poetic-visual, touching and silent plea for preserving the most exuberant landmark of the State of Parana. The Iguaçu National Park was listed as a natural asset by UNESCO in 1986, one hundred years after visionary engineer André proposed to Emperor Dom Pedro II the creation of a national park to safeguard the preservation of that region. In 1916 it was Santos Dumont’s turn to be was amazed by the monumental beauty of the Iguaçu Falls. As soon as he visited that region he recommended to the government that it should actually carry out the creation of the national park, which was then established by federal decree in 1939. As amazing as it may seem, the Iguaçu National Park occupies an area that by far exceeds the domains of the Iguaçu Falls. Carlos Fernandes and Hudson Garcia were particularly successful in faithfully capturing the amazing colors, textures, graphisms and forms of the magnificent fauna – including species threatened with extinction – and the grand flora of the Iguaçu that ignore boundaries and reach out across Brazil and Argentina. Their passionate research also tracked the culture of the nations of indigenous people that lived along the Iguaçu River in the times back when, whose life was indissolubly associated with nature. At a time when biodiversity conservation is a core concern, being capable of choosing wisely the road that leads to sustainable development is mandatory. By depicting the privileged natural sanctuary of the Iguaçu National Park, this book raises the awareness to the urgency of preserving the species.
Beto Richa Governador do Estado do Paraná Governor of the State of Paraná
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introdução 15 história 19 lendas 33 geologia 39 rio iguaçu 47 CATARATAS 57 FLORA 85 INVERTEBRADOS 115 AVES 137 MAMÍFEROS 199 RÉPTEIS 217 ANFÍBIOS 231 PEIXES 241 12
15 introduction 19 history 33 legends 39 geology 47 the iguassu river 57 the falls 85 FLORA 115 invertebrates 137 birds 199 mammals 217 Reptiles 231 anphibians 241 fish 13
IntroduÇÃO A criação dos Parques Nacionais, Unidades de Preservação e Reservas Biológicas, realizada por várias nações, foi uma das mais importantes iniciativas para a preservação do que restou da riquíssima biodiversidade que o nosso raro e maravilhoso planeta outrora abrigou. Essas reservas naturais ganham importância ainda maior se considerarmos que ultrapassam as fronteiras geográficas dos próprios territórios e se transformam em herança para todos os seres humanos. O aumento acelerado da população mundial e o uso irresponsável dos recursos naturais constituem uma séria ameaça à estabilidade da sociedade em vários países do mundo. Sabemos que o progresso social caminha junto com o crescimento econômico, mas o que não podemos mais ignorar é o fato de que a economia e o processo social dependem fundamentalmente dos recursos naturais disponíveis. Motivada pela paixão da descoberta, a ciência moderna, com apenas 400 anos, tem nos revelado inúmeros segredos da natureza. Hoje temos consciência de que habitamos uma frágil e minúscula esfera, próxima a uma estrela na extremidade de uma galáxia em espiral, entre bilhões de outras estrelas e galáxias que sofrem ainda os efeitos de uma grandiosa explosão, ocorrida há cerca de 13,5 bilhões de anos. Em 1859 duvidávamos de que Darwin tivesse razão. Menos de um século depois, em 1953, Francis Crick e James Watson abriram o texto secreto da vida (decodificaram o código genético), fechando o ciclo que teve início 94 anos antes com a comedida, sutil e profunda declaração de Darwin: "Muito se esclarecerá sobre a origem do homem e sua história". Compreender o Universo e a nós mesmos precisa continuar a ser o objetivo da ciência, mas devemos aceitar e refletir sobre a nossa atual condição de solidão cósmica. Apesar de todos os esforços dos radioastrônomos que trabalham no projeto SETI, do inglês Search for Extraterrestrial Intelligence (Busca por Vida Extraterrestre Inteligente), a ciência atual nos diz que, por enquanto, a Terra é o único local do Universo onde se sabe que existe vida como a conhecemos no nosso planeta. Se a vida superior é tão rara no Cosmo como suspeitamos, ela nos torna ainda mais especiais e redefine a nossa posição no Universo: estamos eliminando espécies não apenas do nosso planeta mas de um quadrante da nossa galáxia.
Introduction The creation of National Parks, Environmental Conservation Units and Biological Reserves endeavored by many countries was one of the most important initiatives to preserve what still remains of the planet’s dwindling rich biodiversity. These natural reserves become even more important when one takes into account that they are not restricted to any given national geographical territory, but rather, they are a heritage for all human beings. The accelerated growth of the worldwide population and the irresponsible use of natural resources pose a serious threat to the stability of society in different countries. It is a known fact that social progress walks hand-in-hand with economic growth; however, we must not ignore the fact that both depend fundamentally on the natural resources at hand. Driven by the passion for discovery, modern science – which is just 400 years old – has uncovered countless secrets about Nature. We are now aware that we live in a fragile and minute sphere located near a star at the far end of a spiral galaxy, among billions of other stars and galaxies that are still feeling the effects of the big bang that took place some 13.5 billion years ago. In 1859, it was doubted that Darwin was right. In 1953, less than a century later, Francis Crick and James Watson disclosed the secret text about life (they decoded the genetic code) and closed the circle that started 94 years earlier with Darwin’s profound statement: "Light would be thrown on the origin of man and his history". The goal of science must always be to understand the Universe and ourselves, but we must accept and ponder about our current condition of cosmic solitude. Despite all the efforts endeavored by radio astronomers that work on SETI Project - Search for Extraterrestrial Intelligence, present day science shows that for the time being the Earth is the only place in the Universe where life as we know it exists. If the existence of superior life forms in the Cosmos is as rare as we suspect, then we are even more unique beings, and this very fact redefines our position in the Universe: we are doing away with species not only in our planet but also within our galaxy’s quadrant.
John H. Lawton e Robert M. May, pesquisadores da Universidade de Oxford, afirmam que 99% das extinções da era moderna são atribuídas às ações humanas.
John H. Lawton and Robert M. May, researchers from Oxford University, affirm that the extinction of 99% of species during the modern era was caused by human actions.
Essa desastrosa ligação do homem com a natureza vem afetando continuamente as florestas tropicais. Acredita-se que mais da metade da biodiversidade animal e vegetal tenha como hábitat esses verdadeiros santuários ecológicos.
This disastrous relationship between humankind and nature continuously affects tropical rainforests. It is estimated that these ecological sanctuaries house the habitat of over half of both animal and plant biodiversity.
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Qual a melhor forma para reverter essa posição agressiva e arrogante da nossa espécie? Acreditamos que somente pela informação e pela ética ambiental, o cimento vital da sociedade, é que poderemos conquistar essa meta.
What is the best way to revert this aggressive and arrogant behavior of our species?
Temos a esperança de que este livro alcance o seu objetivo, não só por aquilo que diz mas também pelas imagens que apresenta. Procuramos despertar no leitor o instinto primitivo de amor pela natureza (ética ambiental) ao mostrar as belezas cênicas proporcionadas pela coreografia das águas e pelas formas e cores da exuberante flora e fauna do Parque Nacional do Iguaçu - Patrimônio Natural da Humanidade.
We believe that only information and environmental ethics, both the vital grouting that maintains society firmly established, will make this goal attainable.
Com uma área de cerca de 185.000ha no Brasil e aproximadamente 67.000ha na Argentina, o Parque é uma das mais belas e importantes reservas ecológicas da Terra. Resgatamos também, por meio de textos e imagens, a cultura das nações indígenas Caingangue e Tupi-Guarani, habitantes primitivos que viviam às margens do Rio Iguaçu cujo nome, de origem guarani, significa “água grande”. Relatamos como foi o processo da ocupação estratégica das fronteiras com os países irmãos Paraguai e Argentina: o Tratado de Tordesilhas (1594), o Tratado de Santo Ildefonso (1777) e a influência diplomática do Barão do Rio Branco consolidaram as fronteiras do Brasil. A natureza, por não ter fronteiras, une os três países, amalgamando hábitos e costumes das suas populações. Tudo isso proporciona uma rica diversidade cultural, étnica e religiosa. Repleta de histórias, em 1542 toda a região foi ponto de passagem das expedições espanholas comandadas por Dom Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, cujo destino era o Rio da Prata. No século XVII, acolheu as "missões jesuíticas espanholas". Para nós, fotógrafos da natureza, foi um imenso privilégio registrar a estética das paisagens, o voo gracioso dos beija-flores, a plumagem colorida dos pássaros, os desenhos da pele dos felinos, o esplendor e as cores da alvorada, as luzes cambiantes dos arrebóis, a textura dos troncos das árvores, a diversidade do verde nas florestas, o poder das cataratas e o grafismo das asas das borboletas do Parque Nacional do Iguaçu. Fomos intérpretes das forças da natureza, da sua beleza, mistério, imensidão e grandiosidade e temos certeza de que a divulgação das maravilhas do Parque Nacional do Iguaçu será um estímulo para que as pessoas procurem novas relações com a natureza, pois o ecoturismo é um instrumento valiosíssimo para a conservação e o desenvolvimento sustentável desse magnífico bioma.
Carlos Renato Fernandes Hudson Garcia
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We hope this book will reach its goal through the words and the images it presents. We have attempted to raise in the reader his or her primitive love for Nature (environmental ethics) and to show the beautiful sceneries bestowed by the choreography of the waters and the exuberant forms and colors of the flora and fauna that dwells in the Iguassu National Park – UNESCO World Natural Heritage. The Park is one of the most breathtaking and important ecological reserves on Earth, occupying an area of approximately 185,000 ha in Brazil and some 67,000 ha in Argentina. We were able to recapture from texts and images the culture of the nations of the Caingangue and Tupi-Guarani indigenous people, which originally lived at the margins of the Iguassu River, which in the Guarani language means “great water”. We tell about the strategic occupation of the frontiers of fellow-countries Paraguay and Argentina: the Treaty of Tordesillas (1594), the Treaty of San Ildefonso (1777) and how the diplomatic influence of Baron of Rio Branco consolidated the borders of Brazil. Because Nature is not restrained by boundaries, it unites the three countries; it amalgamates the habits and customs of their people, creating a rich cultural, ethnic and religious diversity. Stories abound – in 1542 the whole region was crisscrossed by the Spanish expeditions led by Dom Álvar Nuñes Cabeza de Vaca on their way to the Plata River. In the seventeenth century, it was the homestead of “Jesuit Spanish missions". For photographers of Nature – such as ourselves – it was a great privilege to capture the aesthetics of the landscape; the graceful flight of hummingbirds; the colorful plumage of the birds; the spots and stripes of the felines; the splendor and colors of dawn; the changing lights of the sunrise and sunset; the texture of tree trunks; the different hues of green in the forests; the power of the water falls and the design on butterfly wings of the Iguassu National Park. We interpreted the forces of Nature, its beauty, mystery, vastness and grandiosity. We are confident that by disseminating the magnificence of the Iguassu National Park we will encourage people to seek new ways of establishing their relationship with Nature, as ecotourism is invaluable as a conservation tool and for the sustainable development of this magnificent biome.
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Nelson Penteado Alves
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Histo´ria
ara entender a história de Foz do Iguaçu, veremos os relatos dos grandes aventureiros que, partindo da Europa rumo ao Novo Mundo, deixaram suas naus na costa brasileira e seguiram para o sertão, em busca de riqueza e poder, passando pelo território paranaense, onde corre o grande Rio Iguaçu. O Rio Iguaçu será o fio condutor desta história. Ele nasce num pingo de água, caminha num fio de cristal, na altitude de 1200 metros no lado leste do Estado do Paraná, na vertente oeste da Serra do Mar, alonga-se num ribeiro humilde e passa por Curitiba, para logo, contrariando a geografia, não correr diretamente para o mar, mas rumar para o oeste. Irrompendo seu caudal, atravessa todo o Estado e engorda gradativamente suas águas no tortuoso trajeto de 1.275 quilômetros, para então desembocar estrondosamente na sua foz e alimentar o Rio Paraná.
HISTORY In order to understand the history of Foz do Iguassu Falls, we will tell the tales of the great adventurers that left Europe to the New World. They left their ships on the Brazilian coast and headed into the hinterlands seeking wealth and power, travelling across the State of Paraná where the great Iguassu River runs. The Iguassu River will be the conducting thread of this story. It is born as a drop of water, travels along as a crystalline trickle 1200 meters high in the east of the State of Paraná, from the spring of the Mar Mountain Range. It continues as a modest brook and cuts across Curitiba, from where it defies geography because instead of flowing to the sea it goes west. As it meanders across the entire State it becomes gradually larger along the 1,275 kilometers it covers before it flows energetically to its mouth where it feeds the Paraná River.
Paisagem singular das cataratas em noite de lua cheia. The unique landscape of the waterfalls under a full moon.
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Nesse ponto ganha o nome de Foz do Iguaçu, onde a natureza caprichosa nos premiou com os mais lindos saltos da Terra. Os índios caingangues o chamavam de Goyo-Covó (rio das corredeiras ou rio da água cega ou rio que se bate). Os guaranis o tratavam por Iguaçu (água grande), indomado e solerte. O grande rio recebeu ainda dos primeiros exploradores o nome de Rio Grande do Registro ou Rio Grande de Curitiba. Prevaleceu o Iguaçu.
From this point on it is called the Iguassu Falls, where capricious nature has bestowed on us one of the most beautiful waterfalls on Earth. The Caingangue indigenous people called it by the name of Goyo-Cnew ovó (whitewater river or blind water river or thrashing river). For the Guarani indigenous people it was the Iguassu (great water), indomitable and vigorous. The great river was called the Great Registro River or yet the Great Curitiba River by the first explores, but it was the name Iguassu that prevailed.
Em 1920, Lange de Morretes (1892-1954), pintou esta linda paisagem inspirado pelas belezas cênicas das Cataratas do Iguaçu. In 1920, Lange de Morretes (1892-1954) painted this beautiful landscape inspired by the magnificent scenic beauty of the Iguassu Falls.
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O Rio Iguaçu teve uma missão histórica: foi o rio das descobertas, foi o rio dos conquistadores, que no século XVI dilataram os limites territoriais portugueses, e foi o rio dos colonizadores, pois encaminhou para suas margens fortes correntes de agricultores europeus. No século XVI, período épico das descobertas dos novos mundos, em que Portugal e Espanha disputavam palmo a palmo esses territórios, poucos anos depois do descobrimento do Brasil, o Rio Iguaçu foi palco de grandes expedições de conquista, dignas de figurar numa “História das Grandes Expedições do Planeta”.
The Iguassu River had a historical mission. It was the river of the discoveries and of the conquerors that in the sixteenth century expanded the borders of the Portuguese territory. It was the river of the settlers, as the strong waves of European farmers were drawn to its margins. The sixteenth century was the heyday of discoveries of the new world, when Portugal and Spain fought hand over fist for those territories. Not long after the discovery of Brazil, the Iguassu River was the backdrop of great expeditions that could be a chapter in a compendium about
O Paraná tem um território privilegiado para penetração de leste a oeste, que favoreceu os primeiros desbravadores. As florestas virgens de suas margens ainda eram abaladas pelos rugidos das feras e o brado guerreiro dos silvícolas, que faziam eco nas extensas solidões do seu curso.
“The History of the Great Expeditions on Earth”. The state Paraná is ideal for east-west territorial penetration, a feature that greatly helped the first explorers. Wild animals and indigenous peoples still ruled the pristine forests along the River, and their voices would echo through the unpopulated land where it flowed.
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Primórdios OS ÍNDIOS As memórias que os homens brancos têm são as de suas conquistas. O que está escrito e aprendemos é a partir da chegada dos conquistadores. As civilizações que antes habitavam aquelas regiões eram chamadas de gentios, silvícolas, selvagens, índios. Esquecemos, ou não aprendemos direito, que eram nações, de várias tribos, com suas tradições e famílias. Que eram organizadas, à sua maneira... Na região que hoje conhecemos como Paraná, habitavam os tupis (guaranis /tinguis /carijós) e outros grupos menores. Também havia os jê (botocudos) e os crên (caingangues).
The early days THE INDIGENOUS PEOPLE
Os então donos dessas terras eram considerados hostis, com muitos relatos de canibalismo e testemunhados pelos europeus. Mas foram justamente os índios que anunciaram a existência de ouro e prata, maior objeto da cobiça dos conquistadores. Quando os europeus começaram a penetração do território brasileiro, usaram os caminhos já trilhados pelos índios. Mesmo assim, alguns exploradores os caçaram como animais, os escravizaram, possuíram suas mulheres e filhas.
their own organization... In the region we call Paraná there were
The memories of the white men are about what they conquered. Books teach us of what happened when the conquerors first arrived here. The people that used to live in those regions were referred to as pagans, heathens, barbarians and indians. We forget or never actually learned that they were part of nations made up of different tribes that had their own traditions and families. They had the Tupis (Guaranis /Tinguis /Carijós) and other smaller groups. There were also the Jê (Botocudos) and the Crên (Caingangues). They were considered hostile populations and there were many reports of cannibalism witnessed by the Europeans. However, it was actually these indigenous people that announced that gold and silver were to be found – the very object of greed of the conquerors. When the Europeans started to move into the hinterland of the Brazilian territory they used the same trails used by the peoples of the forest. However, that fact did not stop some explorers from hunting them down like animals, enslaving them and raping their wives and daughters.
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Os homens brancos que ganharam a confiança e a amizade dos primitivos habitantes foram por eles conduzidos para o interior do território desconhecido, partindo do litoral para o oeste do continente em expedições audaciosas. Os conquistadores abriram para o mundo a existência da terra incógnita, revelando esse magnífico território da América do Sul.
The white men that wooed the trust and friendship of the primitive forest dwellers were led into the unknown territory, leaving from the coast to the west of the continent in daring expeditions. The conquerors showed to the world that there was a new land, thus disclosing the magnificent territory of South America.
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ALVAR NUÑEZ CABEZA DE VACA Esse espanhol foi um dos maiores aventureiros de todos os tempos. Documentou suas viagens em Naufrágios & Comentários, publicado entre 1557 e 1564, desde então obra inspiradora de aventuras. Em 1527, após naufrágio na América do Norte, liderou um grupo de sobreviventes durante dez anos por pântanos, desertos e montanhas, quando mais de 500 pessoas perderam a vida. Com 45 anos de idade, junto com os 3 últimos sobreviventes, regressou à Espanha, disposto a convencer o imperador Carlos V a nomeá-lo adelantado (governador) da Flórida e das novas províncias que descobrisse. O título, para sua decepção, já havia sido concedido a De Soto em 1537. Em 1539, após muitos esforços, conseguiu a nomeação de segundo adelantado do Rio da Prata. Partiu da Espanha com duas naus e uma caravela, com 400 homens e tudo que era preciso, além do dobro das armas que necessitariam. Desembarcaram no Brasil, na ilha de Santa Catarina, em 29 de março de 1541. Com sua experiência, logo tratou muito bem os indígenas locais, presenteando-os.
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ALVAR NUÑEZ CABEZA DE VACA This Spaniard was one of the greatest adventurers of all times. He documented his travels in a book called Shipwrecks & Comments, published in 1557-1564, which has been inspiring adventures since then. In 1527, after being shipwrecked in North America, he led a group of survivors for ten years, roaming swamps, deserts and mountains, where over 500 people died. He was 45 years old when he returned to Spain with the last three survivors, intent in convincing Emperor Charles V to appoint him adelantado (governor) of Florida and any new province he might discover. To his great disappointment the title had already been granted to De Soto in 1537. In 1539, after much effort, he was appointed the second adelantado for the Plata River. He left Spain taking with him two ships and a caravel carrying 400 men and everything they needed, as well as twice the number of weapons required. They went ashore on the island of Santa Catarina on 29 March 1541. Given his long experience, he was very good to the local indigenous people and showered them with gifts.
Em 18 de outubro, a expedição seguiu com 250 arcabuzeiros e balisteiros, 26 cavalos, 2 padres e índios amigos. Depois de passar por serras e vales, em 1º de dezembro atingem um rio que os índios chamam de Iguaçu. O local era Tindiquera (atual Araucária). Em todo o trajeto, encontravam povoações indígenas, e o governador entregava muitos presentes e recebia em troca alimentos. Isso corria como notícia e, a todo lugar que chegavam, eram esperados com alegria pelos nativos. No primeiro dia de janeiro de 1542, o governador partiu com sua gente, embrenhando-se por montanhas e matas fechadas. Até o dia 5 não encontraram nenhum povoado, passando muita fome. Dormiram na ribeira de um rio muito caudaloso (Rio do Cobre) e, a partir daí, seguiram por terra boa, boa água e muita caça de porcos selvagens e veados, suficientes para todos. Logo tornaram a passar por muitas aldeias, sempre bem recebidos.
On 18 October the expedition continued with 250 musketeers and rock throwers, 26 horses, 2 priests and a group of friendly indigenous people. After crossing mountain ranges and valleys, on 1 December they reached a river the indigenous people called Iguassu. The place was Tindiquera (nowadays Araucária). There were many tribes living along the route, and the governor would give them gifts in exchange for food. The news travelled fast and they were welcomed by the native people. On the first day of January 1542, the governor departed with his followers into the mountains and the dense forests. Until the fifth day they walked without running into any settlement and suffered great hunger. They slept along the margins of a very muddy river (Cobre River), and from there proceeded along
No dia 14 atravessaram o Rio Cotegipe e chegaram a um rio muito largo e caudaloso, que era finalmente o Iguaçu, “tan grande como el Guadalquivir”. No curso final, a descrição mostra a primeira impressão da descoberta da foz do Iguaçu pelo espanhol:
good land, good water and abundant wild boar and deer for hunting, enough to feed everyone. On the fourteenth day they crossed the Cotegipe River and arrived at a very large and muddy river, which was finally the Iguassu - “tan grande como el Guadalquivir”. The Spaniard gives his first impression of the
Y yendo por el dicho río Iguazú abajo, anotó Pero Hernández, era la corriente de el tan grande que corrían las canoas por el con mucha furia; y esto cáusalo que muy cerca de donde se embarcó a el río un salto por una peñas abajo muy altas, y a el agua lo bajo de la tierra tan gran golpe, que de muy lejos se oye; y la espuma del agua como cae con tanta fuerza sube en alto dos lanzas y más, por manera que fue necesario salir
Iguassu Falls at its final course, as follows: Y yendo por el dicho río Iguazú abajo, anotó Pero Hernández, era la corriente de el tan grande que corrían las canoas por el con mucha furia; y esto cáusalo que muy cerca de donde se embarcó a el río un salto por una peñas abajo muy altas, y a el agua lo bajo
de las canoas y sacallas del agua y llevarlas por tierra hasta pasar el salto, y a fuerza de
de la tierra tan gran golpe, que de muy lejos se oye; y la espuma
brazos las llevaron más de media legua, en que pasaron muy grandes trabajos; salvado
del agua como cae con tanta fuerza sube en alto dos lanzas y más,
aquel mal paso, volvieron a meter en el agua las dichas canoas y proseguir su viaje, y
por manera que fue necesario salir de las canoas y sacallas del agua
fueron por el dicho río abajo hasta que llegaron al río del Paraná; y fue Dios servido
y llevarlas por tierra hasta pasar el salto, y a fuerza de brazos las
que la gente y caballos que iban por tierra y las canoas y gente, con el gobernador
llevaron más de media legua, en que pasaron muy grandes trabajos;
que en ellas iban, llegaran todos a un tiempo.
salvado aquel mal paso, volvieron a meter en el agua las dichas canoas y proseguir su viaje, y fueron por el dicho río abajo hasta
Cabeza de Vaca foi o primeiro europeu a registrar as cataratas da foz do Iguaçu, por ele denominadas de Santa Maria.
que llegaron al río del Paraná; y fue Dios servido que la gente y caballos que iban por tierra y las canoas y gente, con el gobernador que en ellas iban, llegaran todos a un tiempo.
Em Puerto Iguazú, na Argentina, está incrustada numa rocha uma placa de bronze em homenagem ao aventureiro:
Cabeza de Vaca was the first European that made a record of the waterfalls that make up the Iguassu Falls, which he called Santa Maria.
A ALVAR NUÑEZ CABEZA DE VACA
There is a bronze plaque embedded in a rock in Puerto Iguazú,
Homenaje de la Administración General de Parques Nacionales y Turismo a la memoria del descubridor de estas Cataratas, Don Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, quién trás de cruentas luchas con la naturaleza y lo ignoto en su temerario viaje desde las selvas brasileñas Atlánticas en busca de una vía al Rio de La Plata descubrió esta maravilla del mundo en el año 1541.
in Argentina, paying homage to the great adventurer:
A ALVAR NUÑEZ CABEZA DE VACA Homenaje de la Administración General de Parques Nacionales y Turismo a la memoria del descubridor de estas Cataratas, Don Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, quién trás de cruentas luchas con la naturaleza y lo ignoto en su temerario viaje desde las selvas brasileñas Atlánticas en busca de una vía al Rio de La Plata descubrió esta maravilla del mundo en el año 1541.
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A navegação no Rio Iguaçu O presidente Fleury determinou aos engenheiros Francisco e José Keller o levantamento e nivelamento para a exploração do rio, visando à navegação a vapor. O trabalho foi iniciado no ano de 1867 em São José dos Pinhais e concluído em Mangueirinha, no Passo do Iguaçu, por onde passavam as tropas de Guarapuava para Palmas.
Navigating the Iguassu River
Os Kellers encontraram em franca atividade os canoeiros do Porto da União, que transportavam, no percurso de 50 léguas do rio, mercadorias como a erva-mate e o sal, que não podiam ser expostas às intempéries sem prejuízos. Ao longo de 20 anos de experiência, esses canoeiros desenvolveram um tipo de canoa com características próprias de segurança, manejo, capacidade e resistência. Construídas em imbuia, com dez metros de comprimento e um metro de boca, transportavam até três mil quilos. Na descida do rio, levavam sal, alimentos, querosene, tecidos, ferramentas. No retorno, traziam charque, erva-mate e couro, gêneros da produção das fazendas. Faziam uma viagem de ida e volta em 25 ou 30 dias, ou seja, percorriam de 20 a 24 quilômetros diários. Conforme a profundidade das águas, as canoas eram propelidas a remos de imbuia ou pindaúba ou varejões de pinheiro calçados de garfos de ferro.
and was concluded in Mangueirinha, at Passo do Iguassu, where
Em 1879 o empreendedor Amazonas de Araújo Marcondes obteve concessão do Império para estabelecer uma linha de navegação. Lançou em 1882 o primeiro barco a vapor, o “Cruzeiro”, substituindo as canoas pesadas e lentas. Esse vapor foi comprado no Rio de Janeiro e veio por mar até o porto de Antonina, onde foi desmontado para subir em 11 carroções de boi pela Estrada da Graciosa. Foi remontado às margens do Rio Iguaçu, no Porto Velho. Tinha potência de 18 CV, media 17,60m de comprimento e 5,72m de boca, com calado de 45 cm e capacidade para transportar 12 toneladas, rebocando ainda uma lancha grande e cinco canoas. Fazia o trajeto de Porto Amazonas a Porto da União em dois dias e quatro dias no retorno.
days on a round trip, which means they travelled 20 to 24
The president of the Province of Paraná, André Augusto de Pádua Fleury appointed engineers Francisco and José Keller to carry out the surveying and leveling of the river for its exploitation by steam boats. Work started in São José dos Pinhais in 1867, troops travelled from Guarapuava to Palmas. The Kellers found that the boatmen of Porto da União were quite busy carrying goods such as yerba-mate and salt along 330 miles on the river, as they were perishable. With over 20 years of experience, those seasoned boatmen developed a type of canoe that had their own safety, handling, load capacity and resistance features. They were built with imbuya wood and measured ten meters in length and one meter in width, and could carry up to three thousand kilos. Downstream they carried salt, provisions, kerosene, bolts of cloth and tools. Upstream they would bring back jerky beef, yerba-mate and leather that were produced at the farms. They took 25 to 30 kilometers every day. Depending on how deep the river was, canoes were propelled with oars made of imbuya or pindo palm wood, or yet pine poles supported by iron forks. In 1879, the Empire granted to entrepreneur Amazonas de Araújo Marcondes the concession to create a navigation line. The first steamboat was launched in 1882 - the “Cruzeiro” – which replaced the heavy and slow canoes. The steamboat was purchased in Rio de Janeiro and travelled by sea until the port of Antonina, where it was disassembled to be transported by 11 ox-driven wagons along the Graciosa Road. It was assembled
Era o início de uma nova era. O Vale do Iguaçu tornou-se o motor da economia do Paraná, desenvolvendo a pecuária e a agricultura (milho, feijão, mandioca). Com a extração da erva-mate veio o início da industrialização. Alguns anos mais tarde, com a corrida para o povoamento regional, começa a exploração e o beneficiamento do pinheiro. O estabelecimento da navegação em escala no Rio Iguaçu e seus tributários foi formando, ao longo dessas vias fluviais, uma extensa linha de portos de embarque, que coletavam aos poucos toda a produção daquela região. A máquina a vapor permitiu o aumento da carga nas embarcações e o transporte regular de passageiros.
again at the margins of the Iguassu River in Porto Velho. It had 18 CV of power, was 17.60m long and 5.72m wide, with 45 cm draft and capacity to carry 12 tons. It also towed a large boat and five canoes, covering the Porto Amazonas- Porto da União route in two days on the way out and four days on the return trip. It was the beginning of a new era. The Iguassu Valley became the driver of the economy of Paraná, developing cattle-raising and farming (corn, beans, and manioc). The extraction of yerba-mate brought industrialization in its wake. Some years later, with the race to occupy that region, the exploitation and processing of the Parana pine would begin. The establishment of large scale navigation on the Iguassu River and its effluents formed along those rivers an extensive line of ports that started to collect the region’s production. The steam engine made it possible to increase cargo and the regular transportation of passengers.
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De Porto Amazonas a Porto Vitória são 328 quilômetros. Por imposição das características dos rios, os primeiros vapores mediam entre 19 metros e 25 metros. O combustível era lenha, principalmente o branquilho, abundante naquelas margens. Em 1889 a Comissão Brasileira de Demarcação de Limites entre o Brasil e a Argentina viajou em vapor pelo Rio Iguaçu, elogiando o conforto e a rapidez com que foi feito o trajeto.
There are 328 kilometers from Porto Amazonas to Porto Vitória. Given the characteristics of the rivers, the first steamboats measured 19-25 meters. They were fueled by wood, specially a species called branquilho that occurred in abundance along the river banks. In 1889, the Brazilian Committee for Boundary Demarcation of Brazil and Argentina travelled the Iguassu River by steamboat and paid compliment to the comfort and swiftness of their journey.
Nos inúmeros portos de embarque das cargas brotaram muitas cidades. O governo brasileiro incentivou então a colonização, firmando contrato com os ingleses para a ocupação de áreas devolutas e mesmo desapropriadas. Vieram depois os alemães e imigrantes oriundos de outros países europeus. O apito das embarcações ecoava no vale do Iguaçu, como anúncio do progresso. Outros empresários também entraram nessa modalidade, e inúmeras embarcações foram lançadas às águas, somando diversas empresas de navegação, até que, em 1915, ocorreu a fusão de todas, sendo criado o Lloyd Paranaense S/A, com 23 embarcações, entre vapores e lanchas. A navegação fluvial contribuiu para a formação das cidades de Porto União, União da Vitória, Canoinhas, Três Barras, Rio Negro, São Mateus, Palmira, Porto Amazonas e toda a região ribeirinha. Os rios impunham também seus tributos, com regimes de forte estiagem, durante os quais a navegação cessava. Com a chegada da ferrovia e abertura de estradas, ficou mais rápido e econômico o transporte de cargas até Curitiba e começou a decadência do transporte marítimo. Depois de 71 anos, em 1953 foi feita a liquidação da empresa Lloyd Paranaense S/A, finalizando esse ciclo da história do vale do Iguaçu.
The countless ports where cargo was loaded gave rise to many towns. The Brazilian central government then encouraged colonization by entering agreements with the British to occupy vacant and even expropriated land. They were followed by the Germans and other European immigrants. The horn of vessels sounded in the Iguassu valley as if announcing that progress was on its way. Other entrepreneurs also invested on this type of business and many boats were launched by different navigation companies. In 1915 they were merged and Lloyd Paranaense S/A was created with 23 vessels that included steamboats and boats. River navigation was conducive to the creation of the cities of Porto União, União da Vitória, Canoinhas, Três Barras, Rio Negro, São Mateus, Palmira, Porto Amazonas and the entire region that is bathed by rivers. The rivers also set a price to be paid, where long period of draught would occur, thus forcing navigation to a halt. When railways and roads were opened, cargo transportation to Curitiba became quicker and more economical, marking the decline of maritime transportation. After 71 years, in 1953 Lloyd Paranaense S/A was closed down, thus putting an end to this cycle in the history of the Iguassu valley.
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O Município de Foz do Iguaçu Em 14 de março de 1914, pela Lei 1383, foi criado o Município de Vila Iguaçu e a primeira Câmara de Vereadores. Em 1918 o município passou a denominar-se Foz do Iguaçu. A estrada que liga esse município a Curitiba foi iniciada em 1920 e começou a ser asfaltada em 1950. A definitiva ligação oeste-leste ocorreu em 1969, quando a BR-277 (esse passou a ser o nome da estrada) uniu Foz do Iguaçu a Paranaguá, consolidando o comércio e desenvolvendo a região. A cidade de Foz do Iguaçu tem 256 mil habitantes (Censo de 2007) e integra uma área urbana com mais de 700 mil habitantes, constituída também pela Ciudad Del Este, no Paraguai, e Puerto Iguazú, na Argentina. A construção da Ponte Internacional da Amizade (Brasil-Paraguai), em 1965, contribuiu para o progresso da cidade de Foz do Iguaçu e desenvolveu a cidade paraguaia de Puerto Presidente Stroessner, atual Ciudad Del Este. Esta cidade tornou-se a terceira maior zona franca de comércio do mundo (após Miami e Hong Kong) e é responsável pela metade do PIB do Paraguai.
The Municipality of Foz do Iguassu The Municipality of Vila Iguassu and the first House of Representatives were created under Law 1383 on 14 March 1914. In 1918, the name of the municipality was changed to Foz do Iguassu. The road that connects this municipality to Curitiba started to be built in 1920 and to be paved in 1950. The permanent west-east connection was established in 1969 when highway BR-277 was inaugurated (that was the name given to the highway) connecting Foz do Iguassu to Paranaguá, thus consolidating trade and fostering regional development. The city of Foz do Iguassu has 256 thousand inhabitants (2007 Census) and integrates an urban area of with over 700 thousand inhabitants, which also comprises Ciudad Del Este in Paraguay, and Puerto Iguazú in Argentina. The International Bridge of Friendship (Brazil-Paraguay) was built in 1965 and helped to foster progress for the city of Foz do Iguassu and to develop the Paraguayan city of Puerto Presidente Stroessner, nowadays called Ciudad Del Este. This city is the third largest free trade zone in the world (after Miami and Hong Kong) and accounts for half of the GDP of Paraguay.
A criação do Parque Nacional do Iguaçu André Rebouças, engenheiro do Império, em seu livro Província do Paraná, caminho de ferro para Mato Grosso e Bolívia, de 1876, afirma: “... os magníficos Saltos do Iguaçu devem ser constituídos como Parque Nacional, garantidos às gerações futuras, conservados tal e qual Deus os criou, um cenário natural que reúne toda a gradação possível do belo ao sublime, do pitoresco ao assombroso. E uma flora que não tem igual no mundo”. Em 1916, o brasileiro inventor do avião, Alberto Santos Dumont, quando voltava de uma expedição pelo sul da América, vindo do Chile, fez uma escala em Foz do Iguaçu. Hospedou-se no Hotel Brasil, de onde depois foi levado por uma trilha na mata. Ao final dela, se deparou, maravilhado, com o cenário magistral das Cataratas do Iguaçu. Santos Dumont surpreendeu-se ao saber que toda aquela extensão pertencia a uma única pessoa, o uruguaio Jesus Val, e prontificou-se imediatamente a interceder junto às autoridades competentes, pleiteando a desapropriação da área e seu tombamento como patrimônio público.
The creation of the Iguassu National Park André Rebouças was an engineer for the Empire, who in 1876 wrote a book called The Province of Paraná, a railway to Mato Grosso and Bolivia, where he states: “... the magnificent Iguassu Falls should be declared National Park, guaranteed for future generations, preserved just the way God created them; a natural scenery that harbors all classes of things, the beautiful and the sublime, the picturesque and the astounding. And the most unique flora in the world”. In 1916, Brazilian Alberto Santos Dumont, who invented the airplane, was on an expedition in South America coming from Chile when he stopped in Foz do Iguassu. He stayed at the Hotel Brasil and was taken to hike a trail in the forest. At the end of that trail he saw the wondrous scenario of the Iguassu Falls. Santos Dumont was surprised to learn that the entire region belonged to one person, a Uruguayan called Jesus Val, and he immediately offered to talk to the powers that be requesting the expropriation of the area and
Partiu então para Curitiba e a primeira entidade que procurou foi o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, sendo recepcionado pelo então presidente, Marins Alves de Camargo, e seus companheiros de diretoria, Romário Martins, Sebastião Paraná e Ermelino de Leão. Na ocasião, o ilustre inventor foi admitido como sócio honorário do IHGPR.
its listing as a public asset. He then headed to Curitiba, and the first agency he looked up was the Historic and Geographic Institute of Paraná (IHGPR), where he was received by the president, Marins Alves de Camargo, and the board of directors: Romário Martins, Sebastião Paraná and Ermelino de Leão. He was then invited to become an honorary member of the IHGPR.
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Marins Alves de Camargo, considerando a importância da missão de Santos Dumont, agendou uma audiência com o presidente do Estado do Paraná, Afonso Alves de Camargo. Já no dia 23 de julho de 1916, por meio do Decreto 653, desapropriaram-se as terras do entorno das Cataratas do Iguaçu. Em seguida essas terras foram declaradas de utilidade pública para a criação de um parque. Tendo sido aberto esse precedente, em 1939 o Estado doou à União a área que havia desapropriado e, por decreto do presidente do Brasil, Getúlio Vargas, foi criado o Parque Nacional do Iguaçu. Hoje o Parque Nacional tem a superfície de 185 mil hectares.
Considering how important Santos Dumont’s mission was, Marins Alves de Camargo, made an appointment with the president of the State of Paraná, Afonso Alves de Camargo. And on 23 July 1916, Decree 653 expropriated the land around the Iguassu Falls, which later were listed as of public service to create a park. Based on this precedent, in 1939 the State donated to the Federal Government an expropriated area, and Getúlio Vargas,
Na década de 1970, um movimento de ambientalistas e funcionários do então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, que era responsável pelas unidades de conservação, convenceu o INCRA a auxiliar na remoção de mais de 400 famílias de colonos que ocupavam, havia mais de 30 anos, os 12 mil hectares da área de reserva biológica. Todos foram indenizados e removidos para terra boa, na região próxima. Sem mais interferência humana, a natureza incumbiu-se da regeneração natural, resultando numa exuberante porção da Floresta Atlântica.
the President of Brazil, created the Iguassu National Park by decree. Presently, the National Park covers 185 thousand hectares. In the 1970s, a movement led by environmentalists and employees of the Brazilian Institute for Forest Development (IBDF), which was responsible for conservation units, convinced the National Institute for Colonization and Land Reform (INCRA) to help move over 400 families of farmers that had been living for more than 30 years on the 12 thousand hectares of biological reserve. They were all compensated and transferred to a region of fertile land. Without human interference, nature took over the natural recovery resulting in one of the most luxurious parts of the Atlantic Rainforest.
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Em 1986, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – classificou o Parque Nacional do Iguaçu como Patrimônio Natural da Humanidade. Após um programa de revitalização do Parque, no final dos anos 90, o governo cedeu a administração a um órgão desmembrado do IBAMA, o Instituto Chico Mendes – ICMBio. Outras concessionárias são: Macuco Eco Aventura; Helisul; Hotel das Cataratas; Macuco Aventura; Macuco Safári e as Cataratas S/A.
In 1986, UNESCO (the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) listed the Iguassu National Park as a World Heritage Site. The Park underwent a revitalization program in the ‘90s, whereby the government appointed the Chico Mendes Institute (ICMBio) that is a stand-alone agency of IBAMA as administrators. Other concessionaries are: Macuco Eco Aventura; Helisul; Hotel das Cataratas; Macuco Aventura; Macuco Safári and Cataratas S/A.
A Estrada do Colono Inicialmente uma trilha, depois pique, picada, carreteira e, finalmente, estrada geral – Estrada do Colono. Em 1944, foi incorporada grande extensão de terras ao Parque Nacional do Iguaçu, quando seu lado leste alcançou o Rio Gonçalves Dias, absorvendo o trecho de 17 km da estrada que, desde 1923, era chamada “Pique dos Prestes” (referência à Coluna Prestes), e fazia a ligação do sudoeste com o oeste. A partir de então, a estrada foi denominada “Estrada do Parque”, porém é conhecida popularmente como “Estrada do Colono”, porque foi aberta pelos próprios colonos, acompanhando a trajetória da conquista, desde o Rio Grande do Sul até o centro de Mato Grosso – 1.945 km. Assim a via foi entregue ao Governo Federal, que a denominou BR-163.
The Colono Road It started as a track, a trail, a footpath and finally a road – the Colono Road. In 1944, a large area of land was incorporated to the Iguassu National Park, when the east reached the Gonçalves Dias River, absorbing 17 km of the road that since 1923 was called the “Prestes Track” (in reference to the Prestes rebel movement), connecting the southwest with the west. Since then the road is called “Park’s Road”, but is popularly known as the “Colono Road”. Colono means farmer, as they were the ones that opened the road following the road of the conquerors, from Rio Grande do Sul until
A Marinha concedeu licença para o funcionamento da barca no (depois) Porto Lupion. Quando a população local premiu pela melhoria da estrada, foi criada a “Campanha Nacional Pró-Abertura da Estrada do Colono”, em 1968, pleiteando sua inclusão no Plano Plurianual do Governo Federal. Em 1986, numa iniciativa do Governo do Paraná, o DER inicia o asfaltamento da rodovia Medianeira-Capanema, através do Parque Nacional do Iguaçu. Diante do fato, ecologistas entram com uma ação civil pública contra, e a Estrada do Colono é interditada no trecho do Parque.
the center of Mato Grosso – 1,945 km. The road was transferred to the Federal Government and is now called the BR-163 highway. The Navy granted the license for a boat to operate after Porto Lupion. Then the local population pressed for the improvement of the road, launching the “National Campaign in Favor of Opening the Colono Road” in 1968, petitioning for its inclusion in the Pluriannual Plan of the Federal Government. In 1986, fostered by an initiative from the Government of Paraná, the Department of Roads (DER) starts work to pave the
Em manifestação, a estrada é invadida pelos dois lados do Parque, e a balsa recolocada no Iguaçu. Comparecem 30 mil visitantes nos locais da manifestação (norte e sul) pela reabertura, no dia 13 de maio de 1997. No dia 27 daquele mês, o TRF – 4ª Região intima a reabertura.
Medianeira-Capanema highways crossing the Iguassu National
Em 11 de junho de 2001, a Estrada do Colono foi fechada em definitivo, e a Polícia Federal, a pedido da Justiça, dinamitou a barca, que afundou nas águas do Rio Iguaçu.
the Park and the ferry was put back into the Iguassu River. The
Park. In face of this fact, ecologists filed a public civil lawsuit and the Colono Road was blocked in the Park. In a sign of protest the road was invaded from both sides of venues where the demonstrations were held (north and south) were attended by 30 thousand supporters for its reopening on 13 May 1997. On the 27th the Federal Courts of the 4th Region demand its reopening. On 11 June 2001 the Colono Road was permanently closed and the Federal Police was ordered by the Courts to blow the boat, which sank into the Iguassu River.
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Lendas Legends
Rafael Greca de Macedo
LENDA DE TAROBÁ E NAIPI Os índios Caingangues dizem que o deus do rio se chama M'Bói e é uma serpente. M'Bói dava peixe para os índios. Em troca, os índios lhe davam uma moça, todos os anos, de presente. Mas a bela indiazinha Naipi se apaixonara pelo bravo e jovem guerreiro Tarobá. M'Bói se zangou porque M'Bói queria Naipi. Como não tinha Naipi, não dava mais peixe. Temerosos, os índios levaram, à noite, escondidos, Naipi de presente a M'Bói. Tarobá, esperto, acordou e, amor tão grande que desafiava os deuses, salvou Naipi das águas de M'Bói. Juntos empreenderam fuga desesperada. Na perseguição do casal, M'Bói serpenteava, fazia ágeis curvas, descia penhascos, e os dois sempre escapavam. Por último, M'Bói fez um despenhadeiro tão grande que ali tombaram os dois apaixonados: Tarobá transformado em árvore; Naipi, em penhascos. Os cabelos de Naipi nas espumas do rio que banham a árvore para sempre. Esta é a lenda indígena da criação das cataratas, na qual, como em toda a natureza, os índios viam tudo igualmente: pedra, rio, árvore, deus, peixe e amor.
THE LEGEND OF TAROBÁ AND NAIPI The Caiagangue indigenous people say that the god of the river is called M'Bói and that it is a serpent. M'Bói gave fish to the indigenous people. In exchange, every year they would give it a girl.But beautiful Naipi had fallen in love with Tarobá, a brave young warrior. M'Bói was angry because M'Bói wanted Naipi. Since it could not have Naipi, there was no more fish. In fear, at night the menfolk furtively took Naipi to M'Bói as a gift. Tarobá, who was smart, woke up and saved Naipi from M'Bói’s waters, as his love was so strong that it could defy the gods. Together they ran away in a desperate escape. M'Bói pursued the young lovers, trying to ensnare them at each sinuous turn, rolling down cliffs and making swift curves, but they would elude him. Finally, M’Bói created such a huge Em 1920, o pintor brasileiro Antônio Parreira, corporificou nesta pintura, "Cataratas do Iguaçu", as lendárias figuras de Naipi e Tarobá, personagens do folclore indígena paranaense. In 1920, Brazilian artist Antônio Parreira depicted in his painting called "Iguassu Falls" the legendary characters of Naipi and Tarobá, who are part of the folklore of the indigenous people of Paraná.
cliff that both Naipi and Tarobá succumbed: he was transformed into a tree and she into cliffs. Naipi’s hair became the river that froths and forever bathes the tree. This is the legend told by the indigenous people about how the falls were created, where nature is always one: rocks, river, tree, god, fish and love.
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Lenda da Corticeira (Ceibo) Conta uma lenda sobre a corticeira (ou ceibo) que, nas margens do Rio Paraná, vivia uma indiazinha guarani chamada Anahi. Embora não fosse bela, nas noites de verão encantava a todos com canções inspiradas em seus deuses e no amor à terra em que tinha nascido e da qual sua tribo era dona. Mas um dia chegaram os invasores, estes destemidos, insolentes e implacáveis seres de pele branca, que arrasaram as tribos e roubaram suas terras, seus ídolos e sua liberdade.
The Legend of the Cockspur Coral Tree
Anahi foi levada prisioneira junto com outros índios. Passou muitos dias chorando e muitas noites acordada, até que, quando o sono venceu o guarda que a vigiava, conseguiu escapar. Mas, enquanto fugia, o vigia acordou e ela, para alcançar seu objetivo, enfiou um punhal no peito do seu guardião, indo rapidamente para a selva.
would charm everyone singing songs inspired by their deities
O grito agonizante do carcereiro acordou outros espanhóis, que saíram em uma perseguição que se tornou uma caçada à pobre Anahi. Ela logo foi alcançada pelos conquistadores espanhóis. Estes, em vingança pela morte do guardião, lhe impuseram, como punição, a morte na fogueira. Amarraram-na a uma árvore e iniciaram o fogo, que parecia não querer aumentar suas chamas. A jovem índia, sem murmurar nenhuma palavra e com a cabeça inclinada para um lado, sofria em silêncio. Quando o fogo começou a subir, Anahi foi se convertendo em planta, num assombroso e surpreendente milagre. Na manhã seguinte, os soldados se depararam com a visão espetacular de uma bela e imponente árvore com reluzentes folhas verdes e flores vermelhas, aveludadas, que se mostrava em todo o seu esplendor e glória, simbolizando a força e a coragem frente ao sofrimento.
Legend has it that there was a Cockspur Coral Tree (Ceibo in Spanish) growing on the banks of Parana River where a young girl from the Guarani tribe lived. Her name was Anahi. Although she was not beautiful, on warm summer nights she and the love she felt for the land where she was born, which belonged to her people. But one day the fearless, insolent and cruel white men attacked the tribes, annihilating their people and stealing their land, their idols and their freedom. Anahi was taken prisoner with the other tribe members. She cried for many days and spent many nights awake, until one night the watch guard fell asleep and she managed to escape. But when she was fleeing the guard woke up and she killed him with a knife in his chest and ran into the forest. The man’s agonizing cries raised his mates from sleep, who chased after poor Anahi in what became a hunt. She was soon overcome by the Spanish conquistadors. To revenge the guard’s death, she was sentenced to death by burning on the stake. She was tied to a tree and they started the fire that refused to burn bigger flames. The girl suffered without uttering a word, with her head hanging to the side. When the flames started to burn higher, an amazing and awesome miracle took place - Anahi was slowly turning into a plant. In the next morning the soldiers saw a beautiful and imposing tree covered with shiny green leaves and red velvety flowers standing in all its splendor and glory representing the strength and courage she showed in face of suffering.
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Essa árvore é o ceibo, flor nacional da Argentina e Uruguai. No Brasil é conhecida pelo nome de corticeira. This is the Cockspur Coral Tree, Ceibo in Spanish, the national flower of Argentina and Uruguay. In Brazil it is called Corticeira.
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Lenda do urutau Nheambiú, uma bela moça, filha de Tuxaua da nação Guarani, se apaixonou profundamente por um bravo guerreiro Tupi chamado Cuimbaé, que havia sido feito prisioneiro pelos Guaranis.
The Legend of the Grey Potoo
Nheambiú pediu aos seus pais que consentissem no seu casamento com Cuimbaé. Porém esse e os posteriores pedidos foram negados porque Cuimbaé era um Tupi, inimigo mortal dos Guaranis. Não suportando mais o sofrimento, Nheambiú desapareceu da Taba, causando um enorme alvoroço.
Cuimbaé, who had been made prisoner by the Guarani.
O velho cacique mobilizou então todos os seus guerreiros para que procurassem a sua preciosa filha, que após uma longa busca foi encontrada no coração da floresta, paralisada e muda, como uma estátua de pedra. Ao vê-la, o pai sacudiu-a, mas ela não deu nenhum sinal de vida. Mandou então chamar o feiticeiro da tribo que depois de examiná-la disse: Nheambiú perdeu a fala para sempre, só uma grande dor poderá fazer Nheambiú voltar a ser como era. Então começaram noticiar à jovem índia todas as notícias mais tristes possíveis: a morte de seu pai e a de todos os seus amigos, mas nada surtiu efeito. Nheambiú continuou inabalável.
Nheambiú, the lovely daughter of Tuxaua from the Guarani nation, fell deeply in love with a brave Tupi warrior called
Nheambiú asked her parents for their consent so she could marry Cuimbaé. However, all her pleading was to no avail because Cuimbaé was a Tupi, and as such, a deadly enemy of the Guarani. When she could no longer stand her suffering, Nheambiú fled from her hut, which caused much distress to the tribe. The old chief called all the warriors to look for his precious daughter, who after a long search was found in the heart of the forest paralyzed and mute like a statue. Her father grabbed her and shook her, but she would not respond. Then he called the medicine-men, who after examining her said: Nheambiú will never speak again. Just a great suffering would make her go back to the way she used to be. So they started to tell the young girl the saddest news they could think of: that her father had died, that all her friends were gone, but nothing would touch her heart. Nheambiú was inscrutable.
Então o pajé aproximou-se e disse: Cuimbaé acaba de ser morto. Nesse mesmo instante, o corpo da jovem moça estremeceu todo e soltando repetidos lamentos, desapareceu novamente na floresta. Todos que ali estavam, cheios de dor, transformaram-se em árvores secas, enquanto Nheambiú transformou-se num Urutau voando todas as noites pelos galhos daquelas árvores amigas, chorando a perda do seu grande amor
As soon as the witch doctor told her: “Cuimbaé has just been killed”, the girl’s body shook and she let out a cry, disappearing once again into the forest. Everyone that witnessed what had happened was filled with grief and turned into dry trees, while Nheambiú changed into a urutau, flying every night among the branches of those friendly trees and lamenting the death of her great love.
O urutau, mãe-da-lua, Nyctibius griseus, ave pouco conhecida, pertence a uma curiosa família de aves noturnas. Habita florestas neotropicais como a do Parque Nacional do Iguaçu. Seu nome vulgar, urutau, tem origem na língua indígena guarani e significa "ave fantasma", principalmente porque, na solidão da noite, nos bosques, emite sons melancólicos, que, para alguns, seduzem e, para outros, soam como lamentos. Sua plumagem mimética confunde-se com um tronco seco, onde nidifica e permanece à luz do dia em posição vertical (camuflagem de galho), principalmente quando está cobrindo um filhote, como nesta foto.
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The Grey Potoo, Nyctibius griseus, is a relatively unknown bird of a curious family of nocturnal birds. It lives in Neotropical forests like the Iguassu National Park. Its common name in Portuguese – urutau – come from the language of the Guarani indigenous people; it means "ghost bird", because in the dead of the night it sings a haunting melancholic song that is seductive for some and mournful for others. Its camouflaged plumage blends in with tree stumps where it builds its nest and perches completely still during the daytime (camouflaging as a branch), especially when protecting a chick, as in this picture.
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Ernani Francisco da Rosa Filho
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Geologia
á cerca de 225 milhões de anos, no período denominado Permiano, os atuais continentes ainda estavam unidos, em um supercontinente, o “Pangea”. Mais tarde ele se subdividiu em dois grandes blocos, denominados “Eurásia” e “Gondwana”, que, ao se fragmentarem, deram início à migração continental, com o afastamento da América em relação ao continente africano/europeu. Na borda do Gondwana, formou-se um mar intracontinental que evoluiu para uma vasta bacia sedimentar, com mais de 1.500.000 km2, geologicamente conhecida como Bacia Sedimentar do Paraná.
GEOLOGY Some 225 million years ago, during the Permian age, continents as we know today were linked together in one supercontinent – the “Pangea”. Later it became divided into two large blocks called “Eurasia” and “Gondwana”, which were fragmented and made continental migration possible, where America was separated from the African/European continent. An intercontinental sea was formed at the rim of the Gondwana continent, which evolved into a large sedimentary basin measuring over 1,500,000 km2, geologically known as the Paraná Sedimentary Basin. The area of scope of this sedimentary basin is illustrated below.
As colunas rochosas que compõem os paredões do canyon das cataratas, vistas nesta imagem, é o resultado da contração causada pelo resfriamento dos derrames de lava basáltica ocorrida há milhões de anos. The rocky columns seen in this picture, which make up the walls of the canyon of the waterfalls, are the result of the contraction caused when basaltic lava that was spilled millions of years ago.
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A Formação Serra Geral, inicialmente designada por White (1906), é fundamentalmente constituída por rochas magmáticas oriundas de derrames de lavas básicas, recobrindo 1,2 milhão de km2 da Bacia Sedimentar do Paraná. Essa área abrange toda a região centro-sul do Brasil, estendendo-se ao longo das fronteiras do Paraguai, Uruguai e Argentina. O vulcanismo fissural da Formação Serra Geral ocorreu no início do Período Cretáceo, entre 137 e 127 milhões de anos, associado a um processo de ruptura do supercontinente Gondwana e à formação do Atlântico Sul. Este evento resultou numa espessa sucessão vulcânica e é uma das maiores extrusões ígneas do planeta, estendendo-se até o continente africano, na Bacia de Etendeka, na Namíbia e em Angola.
The Serra Geral Formation, initially designated by White (1906), is fundamentally made up of magma rocks formed by basic lava spills that covered 1.2 million km2 of the Paraná Sedimentary Basin. This area included all the mid-west region of Brazil, reaching as far as the country’s borders with Paraguay, Uruguay and Argentina. The volcanic fissure of the Serra Geral Formation took place in the Cretaceous Period, from 137 to 127 million of years, associated to the process of rupture of the Gondwana supercontinent and the formation of the South Atlantic. This event resulted in a thick volcanic succession and
Essa unidade é constituída dominantemente por basaltos e basalto-andesitos de filiação toleítica, os quais contrastam com riolitos e riodacitos aflorantes, que caracterizam uma associação litográfica bimodal (basalto-riolito).
accounts for one of the largest igneous rock extrusions in the planet, extending to the African continent at the Etendeka Basin in Namibia, in Angola. This unit is dominantly comprised of basalts and Andesite basalts of toleitic filiation, which contrast with emerging
O leito do Rio Iguaçu em sua grande extensão é formado por derrames basálticos (foto à esquerda), e em alguns trechos as fendas de erosão causam verdadeiras ondas, como vistas na fotografia acima. The long-extending bed of the Iguassu River is formed by basaltic spills (see picture on the left), and in some parts the gaps caused by erosion result in waves, as shown in the picture above.
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rhyolites and rhyodacites that characterize the bimodal lithographic association (basalt-rhyolite).
Esta fotografia aérea mostra o leito do Rio Iguaçu, que em grande parte é formado por derrames de lava basáltica. This aerial photograph shows the bed of the Iguaçu River, which is largely formed by basaltic lava spills.
O sistema de derrames em platô é alimentado através de uma intensa atividade intrusiva, normalmente representada por diques e sills, ocorrendo nas descontinuidades estruturais das rochas preexistentes da bacia sedimentar. Essa estruturação tectônica está diretamente conectada à junção gerada pela ação dos pontos de anomalia termal no interior da terra, ligados a sistemas de convecção do manto e responsáveis pelo vulcanismo no interior de placas tectônicas. Esses sistemas de fraturamentos, complementares ao rift Atlântico, são responsáveis pela abertura, fragmentação e espalhamento dos fragmentos gondwânicos e separação das bacias do Paraná e Etendeka.
The spillage system on the plateaus is fed by intensive intrusive activity, usually represented by dike sills that occur along the structural gaps of preexisting rocks in the sedimentary basin. This tectonic structure is directly connected to the joining caused by the action of points of heat anomaly in the earth linked to stratum convection systems and account for volcanic activity inside the tectonic plates. These complementary fracturing systems to the Atlantic rift are responsible for the gap, the fragmentation and the spreading of the Gondwana fragments, and the separation of the Paraná and Etendeka basins.
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De acordo com estudos recentes realizados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, as variações composicionais, os dados geocronológicos, as características texturais e o arranjo entre derrames e rochas intrusivas da bacia possibilitaram a divisão desse magmatismo em nove fácies distintas: cinco relacionadas ao magmatismo máfico (fácies Gramado, Paranapanema, Pitanga, Esmeralda, Campo Erê e Lomba Grande) e quatro, ao magmatismo intermediário a félsico (fácies Palmas, Chapecó, Várzea do Cedro e Alegrete). Cada derrame basáltico atinge em média 25 m de espessura, e o conjunto de derrames chega a valores da ordem de 1500 m. A decomposição dessas rochas formou os ricos solos vermelhos conhecidos como “terra roxa”, excelentes para a agricultura. Quando na condição de rocha não alterada, os basaltos são encontradas sob a forma de platô, cada qual representando um derrame. Na foto das Cataratas do Rio Iguaçu, mostrada a seguir, pode ser visualizado esse tipo de estruturação. Os basaltos continentais da Província Magmática do Paraná, definida por Peate et al, (1992), representam grandes volumes de magma gerados em períodos relativamente curtos de tempo. Rápidas taxas de geração de magma indicam fusão parcial, em resposta a eventos extensionais, associados à abertura do Atlântico Sul. Os derrames possuem textura microcristalina, estrutura maciça e vesicular e/ou amigdaloide, intenso fraturamento, bem como esfoliações esferoidais. Segundo Melfi et al. (1988), as suítes vulcânicas são essencialmente sub-horizontais, com um mergulho médio de 5° em direção ao interior da Bacia do Paraná. Entretanto, os fluxos basais podem apresentar inclinações excepcionalmente altas, relacionadas à topografia irregular do embasamento.
Recent studies carried out by Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) (Mineral Resources Research Company) show that composition variations, geochronological data, texture characteristics and the arrangement between the basin’s spillages and intrusive rocks enable the division of this magmatism into nine distinct fascia: five are related to mafic magmatism (Gramado, Paranapanema, Pitanga, Esmeralda, Campo Erê and Lomba Grande fascia), and four form the intermediary to the felsic magmatism (Palmas, Chapecó, Várzea do Cedro and Alegrete fascia). Each basaltic spillage can reach an average thickness of 25 m, and the group of spillages can be of 1500 m. The decomposition of these rocks formed the rich the soil called “reddish-purple soil” that is excellent for farming plateaus, each representing a different spillage. The picture of the Iguassu Falls shows this type of structure. The continental basalts of the Paraná Magma Province that was defined by Peate et al, (1992) represent large volumes of magma generated over relatively short periods of time. Rates of quickly-generated magma point to partial fusion in response to the extension event associated to the creation of the South Atlantic. The spillages present microcrystalline texture, solid and vesicular and/or amygdaloidal structures, intense fracturing, as well as spherical exfoliation. According to Melfi et al. (1988), volcanic suites are essentially sub-horizontal with an average five-degree flow towards the interior of the Paraná Basin. However, basal flows can present exceptionally steep inclinations in relation to the irregular topography of the base.
Na base dos paredões do canyon, junto às margens do rio Iguaçu, acumulam-se fragmentos de rochas basálticas. At the foot of the canyon’s walls, on the bank of the Iguassu River, there is an accumulation of basaltic rock fragments.
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Os derrames de lava basáltica se resfriam a partir da base e do topo. À medida que perdem calor, ocorre uma contração de até 10% de seu volume, produzindo rupturas e dando origem a colunas. Após resfriado e consolidado, um derrame basáltico resulta em disjunções colunares. Na base, resulta em uma zona conhecida por “vítrea” e, no topo, na zona “vesicular e/ou “amigdaloidal”. As colunas tendem a um formato hexagonal e são perpendiculares ao topo e à base do derrame. Na zona vítrea, os minerais se cristalizaram de forma muito rápida como, consequência do resfriamento da lava ao entrar em contato com a superfície do terreno. No topo do derrame, é comum a existência de pequenos vacúolos formados pela saída dos gases voláteis da lava. Quando preenchidos por minerais secundários, é que resultam em amígdalas. Em derrames espessos, entre as duas zonas colunares permanece uma zona não atingida pela disjunção, chamada de entablamento, zona central ou miolo. Essa zona central é mais resistente à erosão do que as zonas colunares, o que propicia o surgimento de erosões diferenciais em regiões onde há uma sucessão de derrames basálticos em degrau, dando origem, por exemplo, às Cataratas do Iguaçu. Os minerais mais comuns que entram na formação desse tipo de rocha, geralmente escura pela presença de ferro e magnésio, é que caracterizam as rochas máficas. Esses minerais são representados por olivinas, piroxênios, anfibólios, biotitas e, quando as rochas são ricas em cálcio, também ocorrem os plagioclásios e feldspatos. O aumento da concentração de elementos pesados faz-se à custa da diminuição do teor de SiO2, visto que esses materiais são menos silicatados. A pobreza em silicatos é que as faz serem denominadas de rochas básicas. Os materiais máficos são em geral de cor escura (do negro ao verde-escuro e ao azul) e têm densidade superior a 3,0 (ou seja 3 t/m³), o que contribui para a elevada densidade desse tipo de rocha. Em tendo textura afanítica, o que significa não ser possível reconhecer os seus minerais a olho nu, a determinação somente é possível em microscópios, através de lâminas delgadas, tal como é mostrado na ilustração a seguir.
Basaltic lava spillages cool off from the base and the top. As they lose heat, there is a contraction that affects up to 10% of their volume producing ruptures and creating columns. After cooled off and consolidated, basaltic spillage results in column disjunctions. It forms a “vitreous” zone at the base and a “vesicular” and/or “amygdaloidal” zone at the top. Columns tend to acquire a hexagonal shape and are perpendicular to the top and base of the spillage. Minerals quickly crystallize at the vitreous zone as a consequence of the cooling off of the lava when it is exposed to terrain surface. At the top of the spillage, it is common to observe small cavities formed by the exit of the lava’s volatile gases. The amygdalae are formed when they are filled by secondary minerals. In the case of thick spillages, a zone that is not affected by the disjunction remains between the two column zones, which is called tabling, central zone or core. This central zone offers more resistance to erosion than column zones, which is conducive to the formation of differential erosion in regions where there is a succession of basaltic spillages in steps, creating the Iguassu Falls, for example. The most common minerals that form this type of rock, which is usually dark-colored due to the presence of iron and manganese, characterize mafic rocks. These minerals are represented by olivines, pyroxenes, amphiboles, and biotites; when rocks are rich in calcium, plagioclase and feldspar also occur. The concentration of heavy elements takes place when the content of SiO2 decreases, as these materials contain less silicon. These rocks are called basic due to their poor content of silicon. Mafic materials are usually
O Parque Nacional do Iguaçu, no Estado do Paraná, localizado no extremo oeste paranaense, tem uma área de 185.262,20 ha e é representado, geologicamente, pela Formação Serra Geral. A espessura dos basaltos, nessa região, varia de 540 a 1000 m.
dark-colored (from black to dark green and blue) and their intensity exceeds 3.0 (i.e. 3 t/m³), thus causing this type of rock to have high density. Given their aphanitic texture, which means that it is not possible to recognize the minerals with the naked eye, determination can only be made using thin
Subjacentes aos basaltos, ocorrem os sedimentos arenosos da Formação Botucatu, depositados em ambiente eólico. Em virtude da sua excelente seleção granulométrica, os arenitos possuem excepcional capacidade para armazenar água em seu meio – esse reservatório de água subterrânea, cuja espessura na área é da ordem de 100 m, é também conhecido por Aquífero Guarani.
microscope slides, as shown in the picture. The Iguassu National Park is located in the far-west of the State of Paraná. It occupies 185,262.20 ha, geologically represented by the Serra Geral Formation. In this region, basalt thickness varies from 540 to 1000 m. Sandy sediments deposited in eolic environment occur in the Botucatu Formation, subjacent to basalts. Given their excellent grading, sandstones are outstanding for water storing in their environment – this 100 m wide groundwater reservoir is also known as the Guarani Aquifer.
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Rio Iguac,u
Rio Iguaçu, principal rio do Estado do Paraná, afluente do Rio Paraná, é formado pelo encontro dos rios Iraí e Atuba, na parte leste do Município de Curitiba, próximo à divisa deste com os municípios de Pinhais e São José dos Pinhais. A partir de suas nascentes, nas proximidades de Curitiba, na frente ocidental da Serra do Mar, até sua foz, no Rio Paraná, o Iguaçu tem cerca de 1.100 km e um desnível aproximado de 800 m. A sua bacia hidrográfica situa-se aproximadamente entre as latitudes 24º57’S e 26º51’S e as longitudes 48º57’W e 54º36’W, drenando uma área de 67.483 km2. A bacia se alonga por cerca de 550 km, com uma largura razoavelmente uniforme da ordem de 120 km, podendo atingir até 150 km. Ao atravessar a Região Metropolitana de Curitiba, o Rio Iguaçu recebe o esgoto doméstico de Curitiba e por isso se encontra poluído, assim como alguns dos seus principais afluentes. Ao longo do curso, ele volta a se regenerar. Nota-se a presença de peixes a partir do Município de Porto Amazonas, bem como em municípios do médio curso do rio, que passam a fazer a captação de água para distribuição e para uso doméstico. O Rio Iguaçu atravessa de leste a oeste os planaltos de Curitiba, de Ponta Grossa e de Guarapuava, chamados respectivamente de Primeiro, Segundo e Terceiro Planalto Paranaense, nos quais tanto a topografia como os rios revelam características distintas. A jusante de União da Vitória, onde inicia a região do Planalto de Guarapuava, apresenta um vale profundo e encaixado, com ocorrência de extensas corredeiras. Desse ponto até as Cataratas do Iguaçu, estão localizadas as principais usinas hidrelétricas do Rio Iguaçu. Após o maravilhoso espetáculo das Cataratas do Iguaçu, com águas que despencam em uma profunda fenda de erosão, formando 272 saltos, na divisa entre o Brasil e a Argentina, o Rio Iguaçu segue seu rumo, encontrando o Rio Paraná para compor a magia das Três Fronteiras, que representam a união dos povos do Brasil, Argentina e Paraguai.
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Ingrid Illich Müller
THE Iguassu RIVER The Iguassu River is the most important river of the State of Paraná; it is formed when the Iraí and Atuba rivers are joined at the west of the Municipality of Curitiba, near its border with the municipalities of Pinhais and São José dos Pinhais. From its springs near Curitiba, at the western side of the Mar Mountain Range until its mouth at the Paraná River, the Iguassu is some 1,100 km long with approximate level variance of 800 m. The river basin is located somewhere between latitudes 24º57’S and 26º51’S and longitudes 48º57’W and 54º36’W, draining 67,483 km2. The basin extends over some 550 km, where it maintains a reasonably constant width of 120 km, reaching up to 150 km. Household sewage is discharged into the Iguassu River when it runs through the Metropolitan Region of Curitiba, and for this reason both the river and its main effluents are polluted, to become once again regenerated as it runs its course, where fish can be found starting in the Municipality of Porto Amazonas. Other municipalities located along the mid-point of its course collect the water that will be distributed for household use. The Iguassu River runs from east to west across the plateaus of Curitiba, Ponta Grossa and Guarapuava, which are called respectively the First, Second and Third Plateau of Parana, where both the topography and the river take on distinct characteristics. Downstream from União da Vitória, where the Guarapuava Plateau begins there is a deep and encrusted valley with wide-ranging rapids. Major hydroelectric power plants of the Iguassu River are located from that point until the Iguassu Falls. After the breathtaking spectacle of the Iguassu Falls, where the water plunges into a deep crevice formed by erosion forming 272 falls at the border of Brazil and Argentina, the Iguassu River follows its course until it meets the Paraná River to create the magic of the Three Borders, which represents the union of the people of Brazil, Argentina and Paraguay.
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O Rio Iguaçu nasce num pingo de água, caminha num fio de cristal, na altitude de 1200 metros no lado leste do Estado do Paraná, na vertente oeste da Serra do Mar, alongase num ribeiro humilde e passa por Curitiba, para logo, contrariando a geografia, não correr diretamente para o mar, mas rumar para o oeste. The Iguassu River is born as a drop of water, travels along as a crystalline trickle 1200 meters high in the east of the State of Paraná, from the spring of the Mar Mountain Range. It continues as a modest brook and cuts across Curitiba, from where it defies geography because instead of flowing to the sea it goes west.
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Esta é uma das nascentes do Rio Iguaçu na porção oeste da Serra do Mar. Sua altitude é cerca de 1.200m. This is one of the springs of the Iguassu River on the west side of the Mar Mountain Range, at some 1,200 m high.
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RIO FLORIANO
THE FLORIANO RIVER
Como todos os rios, o Rio Floriano nasce das águas cristalinas que brotam da terra. Mas, diferente dos outros, não atravessa as cidades, não dilui seus esgotos, seu leito não é canalizado nem se torna veículo dos tóxicos físico-químicos. Nasce na sombra de árvores frondosas, xaxins e samambaias. Da sua nascente até a foz são cem quilômetros de meandros, cercado de floresta, na região mais selvagem e intocada do Parque Nacional do Iguaçu. Despeja suas águas de aspecto límpido e sadio no Rio Iguaçu.
The Floriano River is born just like all other rivers – from crystalline waters that emerge from the ground. But unlike most rivers, it is never polluted by sewage, its bed is nowhere piped and it never carries physical-chemical toxic waste. It is born under the shade of leafy trees and luxuriant tree ferns. From spring to mouth, the river winds along one hundred kilometers bordered by forests in the most pristine and untouched region of the Iguassu National Park. Its sound and limpid waters run into Iguassu River.
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Carlos Renato Fernandes
A
Cataratas
lém das belezas cênicas proporcionadas pelo verde cambiante da Floresta Atlântica e das cores e formas da sua diversificada fauna, o Parque Nacional do Iguaçu é emoldurado por um conjunto de quedas de água que compõem uma das mais lindas paisagens da Terra. A vazão média do Rio Iguaçu é de aproximadamente 1.500 metros cúbicos por segundo, chegando até 6.500 metros cúbicos por segundo nas cheias. Dependendo da vazão, o número de saltos varia de 150 a 300, e a altura das quedas é de 40 a 82 metros, com largura de 800 metros no lado brasileiro e 1.900 metros no lado argentino, num formato semicircular. A mais impressionante de todas as cataratas é o Salto União, assim chamado por marcar a fronteira entre a Argentina e o Brasil. É mais conhecido, porém, como Garganta do Diabo, formada por uma profunda fenda de erosão com 82 metros de altura, 150 metros de largura e 700 metros de comprimento. Acima das Cataratas o Rio Iguaçu mede 1200 metros de largura e após as quedas estreita-se numa fenda tectônica (cânion) de até 65 metros de largura.
THE FALLS The variegated green of the Atlantic Rainforest and the different colors and forms of the fauna are added attractions to the one of the most beautiful landscapes on Earth, set among the group of waterfalls in the Iguassu National Park. The average flow of the Iguassu River is approximately 1,500 cubic meters per second, reaching up to 6,500 cubic meters per second during flood seasons. The number of waterfalls may vary from 150 to 300 depending on the flow, and they stand 40 to 82 meters high. They form a horseshoe measuring 800 meters wide in the Brazilian territory and 1,900 meters wide in the Argentinian side. The most impressive of all the waterfalls is the Salto União (Union Falls) thus named because it marks the border between Argentina and Brazil. However, the most famous is known as Garganta do Diabo (Devil’s Throat), formed by a deep chasm 82 meters high, 150 meters wide and 700 meters long. The Iguassu Rivers is 1200 meters wide above the Falls and becomes narrower into a 65-meter wide tectonic rift (canyon).
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\ A mais impressionante de todas as cataratas é o Salto União, assim chamado por marcar a fronteira entre a Argentina e o Brasil. É mais conhecido, porém, como Garganta do Diabo, formada por uma profunda fenda de erosão com 82 metros de altura, 150 metros de largura e 700 metros de comprimento.
The most impressive of all the waterfalls is the Salto União (Union Falls) thus named because it marks the border between Argentina and Brazil. However, the most famous is known as Garganta do Diabo (Devil’s Throat), formed by a deep chasm 82 meters high, 150 meters wide and 700 meters long.
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Divinamente infernal: um privilégio vê-las, uma temeridade enfrentá-las, exclamou o conquistador espanhol Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, em 1541, quando o fragor das águas o preveniu da grandeza daquelas quedas. Divinely infernal: a privilege to see them; a temerity to defy them – exclaimed Spanish conquistador Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, in 1541, when the roaring sound of the waterfalls announced their grandeur.
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Osmar dos Santos Ribas
H
Flora
á milhares de anos, a região que viria a ser o que hoje se conhece como América do Sul passou por várias glaciações e grandes mudanças climáticas, o que resultou no estabelecimento de um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta: a Floresta Atlântica, uma extensa área verde que ocupava, originalmente, 1.300.000 km², cerca de 15% do território brasileiro atual. Nos últimos 17 mil anos, após o encerramento das grandes glaciações, a paisagem permaneceu em equilíbrio, intacta, até a época do descobrimento do Brasil, em 1500.
Flora Millions of years ago, the region that would be South America underwent several glaciations and great climate changes, leading to the creation of one of the richest biodiversity on Earth: the Atlantic Rainforest, a wide green area that originally occupied 1,300,000 square kilometers – some 15% of Brazil’s current territory. Over the last 17 thousand years, after the end of the great glaciations, the landscape was maintained in equilibrium until the discovery of Brazil in 1500.
A samambaiaçu ou xaxim, Dicksonia sellowiana, uma das espécies vegetais mais antigas do planeta, é muito importante para a melhoria das condições físico-químicas do solo. The Tree Fern, Dicksonia sellowiana, is one of the oldest plant species on the planet. It plays an important role in improving the physicalchemical conditions of the soil.
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Após o descobrimento, na rota da civilização, a Floresta Atlântica começou a enfrentar os impactos causados pela ocupação humana: a exploração do paubrasil, as monoculturas do café e da cana-de-açúcar, a instalação dos polos industriais, a caça ilegal e predatória, o corte das árvores da floresta com fins madeireiros, o extrativismo do palmito e a especulação imobiliária. Nos dias atuais, devido a todos esses fatores, restam apenas 6% de sua área original. A Floresta Atlântica é uma floresta tropical característica, associada aos ecossistemas costeiros de mangues nas enseadas, foz de imensos rios, baías e lagunas de influência marinha, matas de restinga e florestas com Araucaria no planalto (floresta ombrófila mista) nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, ainda, aos campos de altitude (floresta ombrófila densa montana e altomontana) no cume das serras da Bocaina, Urubici, dos Órgãos, da Mantiqueira e do Caparaó, além da subformação floresta estacional semidecidual, que avança para o interior, adentrando os países vizinhos, como Argentina e Paraguai.
After the discovery, with the start of civilization, the Atlantic Rainforest began to face the impacts caused by human occupation: the extraction of Brazil wood, coffee and sugarcane monocultures, the setting up of industrial centers, illegal and predatory hunting, tree cutting for lumber purposes, the extraction of heart of palm, and real estate speculation. Because of all these factors, only 6% of the forest’s original area still remains. The Atlantic Rainforest is a typical rainforest, associated to the mangrove coastal ecosystems of coves, the mouth of great rivers, bays and marine lagoons, sandbank vegetation and Araucaria forests on the plateau (mixed ombrophyle forest) of the states of Paraná, Santa Catarina and Rio Grande do Sul. It also occurs in the high fields (dense mountain and mountain-top ombrophyle forest) at the top of the Bocaina, Urubici, Órgãos, Mantiqueira and Caparaó mountain ranges, as well as the semidecidual stational forest subformation that advances into the hinterland, and into neighboring countries such as Argentina and Paraguay.
ipê-roxo, Tabebuia avelianadae, árvore símbolo da cidade de Foz do Iguaçu Trumpet tree, Tabebuia avelianadae, symbol-tree of the city of Foz do Iguassu
A Floresta Atlântica, também conhecida como Bioma Mata Atlântica, percorre 13 estados, estendendo-se por quase todo o litoral brasileiro. A maior parte das espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora brasileira são endêmicas da Floresta Atlântica, ou seja, ocorrem apenas nesse bioma e em nenhum outro lugar do planeta. Apesar da imensa riqueza de sua diversidade biológica, ainda pouco conhecida e estudada, o Bioma Mata Atlântica está listado como um dos mais ameaçados no planeta. Em 10 de janeiro de 1939, através do Decreto Federal n.º 1.035, foi criado o Parque Nacional do Iguaçu, tendo como objetivos principais a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, para possibilitar a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, além de recreação em contato com a natureza e do turismo ecológico.
The Atlantic Rainforest, also called the Atlantic Rainforest Biome, occupies 13 states and extends across most of the coast of Brazil. Most Brazilian fauna and flora species threatened with extinction are endemic to the Atlantic Rainforest, which means that they occur only in that biome and nowhere else in the world. In spite of its great biological diversity, which is yet to be fully known and comprehensively studied, the Atlantic Rainforest Biome is listed as one of the most threatened in the planet. On 10 January 1939, Federal Decree n.º 1.035 created the Iguassu National Park with the main objective of preserving the natural ecosystem of great ecological relevance and scenic beauty, in order to further scientific research and the
O Parque Nacional do Iguaçu está localizado no extremo oeste do Estado do Paraná, na bacia hidrográfica do Rio Iguaçu, distando 17 quilômetros do centro da cidade de Foz do Iguaçu. Faz fronteira com a Argentina, onde, do outro lado do rio Iguaçu, está implantado o Parque Nacional Iguazú, criado em 1934. O Parque Nacional do Iguaçu recebeu esse nome por compreender em sua área aproximadamente 50 quilômetros de curso do Rio Iguaçu e também por abrigar as famosas Cataratas do Iguaçu.
development of environmental education and interpretation, as well as a venue to enjoy nature and ecological tourism. The Iguassu National Park is located at the far west portion of the State of Paraná, at the basin of the Iguassu River, 17 kilometers far from the city of Foz do Iguassu. It is at the border with Argentina, where the Iguazú National Park was created in 1934, on the other margin of the Iguassu River. The Iguassu National Park was named after the 50-kilometer area where the Iguassu River runs and also because it is where the famous Iguassu Falls are located.
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Considerado o maior e mais importante parque da Bacia do Prata, o Parque Nacional do Iguaçu foi o primeiro no Brasil a receber um Plano de Manejo, pelo fato de abrigar um importante patrimônio genético de espécies animais e vegetais, muitas das quais ameaçadas de extinção.
Considered the largest and the most important Park of the Plata Basin, the Iguassu National Park was the first park in
A vegetação representada na área do Parque Nacional do Iguaçu é composta por duas subformações da Floresta Atlântica e enquadra-se, na sua maioria, na formação florestal denominada por Veloso et al. (1991) como floresta estacional semidecidual (FESD), caracterizada principalmente por apresentar dupla estacionalidade climática, seja ela definida por um período seco e outro chuvoso ou, como se aplica à região do Parque, por diferenças significativas nas médias das temperaturas ao longo do ano, o que ocasiona uma “seca fisiológica”, devido ao intenso frio verificado nos meses de inverno. A floresta estacional semidecidual, que compreende a maior parte do Parque (cerca de 90%), é considerada a maior e mais importante área preservada desse tipo de formação vegetacional em nosso país. Embora com menor representatividade (cerca de 10%), também é digna de nota a presença da floresta ombrófila mista (FOM), mais conhecida como floresta com araucária, com
Brazil to have a Management Plan because it harbors an important genetic asset of animal and plant species, many of which are threatened with extinction. Vegetation represented in the area of the Iguassu National Park is comprised of two Atlantic Rainforest subformations. Most of the forest formation is called by Veloso et al. (1991) as semidecidual stational forest (FESD), characterized mainly because there are two climatic stations, i.e. it is defined by a dry and a rainy season. Applied to the Park’s region, it entails significant differences in the average temperatures throughout the year, which causes a “physiological draught” given the very low temperatures during the winter months. Most of the Park (some 90%) is comprised of semidecidual
notável ocorrência na porção nordeste do Parque.
stational forest, which is considered the largest and most
A zona de contato entre essas duas formações constitui o que se denomina “zona de tensão ecológica”, ou ecótono, onde se verifica uma conspícua heterogeneidade em virtude da interposição de floras e formas de vida distintas.Nessa região, área de ecótono, concentra-se uma diversidade biológica mais exuberante que a dos ecossistemas em transição, havendo, por conseguinte, um grande número de espécies vegetais bastante raras e seriamente ameaçadas de extinção. O lado brasileiro do Parque Nacional do Iguaçu permite admirar uma das maiores quedas de água do planeta, que chega a ter cerca de 80 metros de altura e mais de 2.700 metros de extensão. A névoa, espessa e bastante extensa, originada pelo impressionante volume de água das corredeiras e cataratas, provoca alterações na umidade relativa do ar, propiciando o desenvolvimento de uma farta vegetação, rica em epífitas, cipós e samambaias, bastante semelhante à floresta ombrófila densa da Serra do Mar, no litoral. Esse fator tem notável influência no aumento da diversidade biológica, proporcionando um ambiente favorável ao estabelecimento e abrigo de inúmeras espécies da flora e da fauna em perigo de extinção.
important preserved area for this type of plant formation in Brazil. Although the rate of occurrence of mixed ombrophyle forest (FOM), also known as the Parana pine forest, in the Park is lower (some 10%), it is noteworthy given its incidence in the northeast portion of the Park. The contact zone of both formations is called the “ecologic tension zone” –ecotone – where a conspicuous heterogeneity can be observed given the interposition of distinct flora and life forms. Within this region, the ecotone area concentrates a more exuberant biological diversity, compared to ecosystems under transition. Consequently, there is a great number of very rare plant species that are seriously threatened with extinction. In the Brazilian side of the Iguassu National Park visitors can admire one of the greatest waterfalls of the planet. reaching some 80 meters high and over 2,700 meters wide. The dense and far-reaching mist created by the impressive volume of water from the rapids and the waterfalls causes changes to relative air humidity, fostering the development of a plant cover that abounds with epiphytes, vines and tree ferns, similar to the dense ombrophyle forest of the coastal Sea Mountain Range. This factor also has great influence on the increase of biological diversity, providing a favorable environment where countless flora and fauna species threatened with extinction can find a safe haven.
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PRINCIPAIS ESPÉCIES DE ÁRVORES DA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL O Parque apresenta uma enorme diversidade biológica da flora. São milhares de espécies encontradas na floresta estacional semidecidual, além de outras tantas, características da floresta ombrófila mista. Nas trilhas que cortam as áreas do Parque, na subformação floresta estacional semidecidual, pode-se observar grandes árvores, como por exemplo Perobarosa (Aspidosperma polyneuron) – a espécie mais representativa e considerada a rainha da floresta estacional semidecidual – , Figueira (Ficus eximia), Paumarfim (Balfourodendron riedelianum), Timbaúva (Enterolobium contortisiliquum), Jequitibá-branco (Cariniana estrellensis), Alecrim (Holocalyx balansae), Pau-cincho (Sorocea bonplandii), Guatambu (Chrysophyllum gonocarpum), Açoita-cavalo (Luehea divaricata), Paineira (Ceiba speciosa), Jaracatiá (Jacaratia spinosa), Caliandra (Calliandra foliolosa), Gurucaia (Parapiptadenia rigida), Canafístula (Peltophorum dubium (Spreng.) Taiúva (Maclura tinctoria), Buganvília (Bougainvillea glabra), Algodoeiro (Heliocarpus americanus ), Corticeira, ceibo (Erythrina crista-galli) – árvore-símbolo da Argentina –, Ipê-roxo (Handroanthus heptaphyllus) – árvore-símbolo do Município de Foz do Iguaçu – e Palmitojuçara (Euterpe edulis).
MAIN TREE SPECIES OF THE SEMIDECIDUAL STATIONAL FOREST The Park has an immense biological diversity of flora. There are hundreds of thousands of species in the semidecidual stational forest, as well as many others that are typical of the mixed ombrophyle forest. Large trees border the trails that crisscross the Park’s semidecidual stational forest, such as: Peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) – the most representative species and considered the queen of the semidecidual stational forest –, Ficus (Ficus eximia), Guatumbu Blanco (Balfourodendron riedelianum), Earpod Tree (Enterolobium contortisiliquum), White Jequitiba (Cariniana estrellensis), Alecrim (Holocalyx balansae), Pau-cincho (Sorocea bonplandii), Guatambu (Chrysophyllum gonocarpum), Açoita-cavalo (Luehea divaricata), Silk Floss Tree (Ceiba speciosa), Jaracatia (Jacaratia spinosa), Powderpuff (Calliandra foliolosa), Angico (Parapiptadenia rigida), Horsebush (Peltophorum dubium), Cubanwood (Maclura tinctoria), Bouganvillea (Bougainvillea glabra), Broadleaf Moho (Heliocarpus americanus), Cockspur Coral Tree (Erythrina crista-galli) – national tree of Argentina –, Tabebuia (Handroanthus heptaphyllus) – symbol tree of the Municipality of Foz do Iguassu – and Jucara Palm (Euterpe edulis) – although it grows in a fully protected area that is designated untouchable, illegal extraction is still practiced.
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Como comentam Reis e Reis (2000), os níveis de interação entre o palmito-juçara e os animais sugerem ser essa espécie um tipo de gatilho capaz de mudar os rumos da dinâmica sucessional quando a espécie está presente na comunidade florestal. Seu papel de “bagueira”, como normalmente é indicado pelos caçadores, garante a permanência dos animais durante meio ano, com suprimento de frutos maduros. Nos outros meses do ano, os animais ainda têm disponíveis sementes, frutos verdes e todo o banco de plântulas capaz de oferecer ótima forragem para os herbívoros.
Reis and Reis (2000) comment on the levels of interaction between the Jucara Palm and wildlife. It is thought that this species performs as a trigger that can change the successional dynamics when it occurs in a forest community. It plays the role of “bagueira”, as usually indicated by hunters, ensuring the permanence of animals for six months as it yields ripe fruit. During the other months, animals are still able to find seeds, unripe fruit and the entire bank of seedlings that are an excellent source of forage for herbivores.
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AS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE ÁRVORES DA FLORESTA OMBRÓFILA MISTA Nas trilhas que cortam as áreas da porção nordeste do Parque, na subformação floresta ombrófila mista, a fitofisionomia se modifica e são observadas outras espécies de grandes árvores, como por exemplo: Pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) – árvore-símbolo do Estado do Paraná e a espécie mais representativa, considerada o rei da floresta ombrófila mista –, Imbuia (Ocotea porosa) – árvoresímbolo do Estado de Santa Catarina –, Caroba (Jacaranda puberula), Miguelpintado (Cupania vernalis), Erva-mate (Ilex paraguariensis) –árvore-símbolo do Estado do Rio Grande do Sul) –, Carvalho-brasileiro (Roupala montana), Tarumã (Vitex megapotamica), Cerejeira-do-mato (Eugenia involucrata), Pata-de-vaca (Bauhinia forficata), Pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii), Guamirim-vermelho (Eugenia handroana), Guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa), Sete-capotes (Campomanesia guazumifolia), Cedro-rosa (Cedrela fissilis), Canjerana (Cabralea canjerana), Corticeira-da-serra (Erythrina falcata), Canela-sebo (Ocotea puberula), Canela-sassafrás (Ocotea odorifera), Tanheiro, tapiá (Alchornea triplinervia), Louro-pardo (Cordia trichotoma), Cambará (Gochnatia polymorpha). Em relação aos rios que percorrem o interior do Parque e deságuam no Iguaçu, como por exemplo os rios Benjamin Constant, Deodoro e Floriano, é importante salientar que se situam na área intangível do Parque, não sendo percorridos nem mesmo pelas patrulhas de fiscalização, por constituírem modelos e parâmetro de comparação da qualidade da água. No ano de 2003 a direção do IBAMA do Parque Nacional do Iguaçu organizou uma expedição de pesquisa e fiscalização ao longo do Rio Floriano, que ficou conhecida como “Expedição Floriano”. Nessa expedição, composta por pesquisadores de distintas áreas da biologia, foram coletadas espécies de plantas aquáticas pertencentes à família Podostemaceae. Essas espécies são pouquíssimo estudadas e têm destaque como plantas bioindicadoras da qualidade da água, ou seja, não ocorrem em ambientes em que a água esteja poluída. As espécies aquáticas coletadas no Parque Nacional do Iguaçu, nos rios citados, foram as seguintes: Apinagia yguazuensis, Mourera áspera, Podostemum distichum, Podostemum irgangii, Podostemum muelleri, Podostemum rutifolium e Tristicha trifaria. Além dessas espécies, também foi coletada uma planta pertencente à família Apodanthaceae, sendo o primeiro registro dessa espécie para o Estado do Paraná: Pilostyles ulei Solms, uma parasita do tronco da Calliandra foliolosa Benth.
MAIN TREE SPECIES OF THE MIXED OMBROPHYLE FOREST The trails the crisscross the northeast portion of the Park, in the mixed ombrophyle forest subformation, phytophysionomy is different and other species of great trees occur, such as: Paraná Pine (Araucaria angustifolia) – tree symbol of the State Paraná and the most typical of species, considered the king of the mixed ombrophyle forest –, Imbuya (Ocotea porosa) – tree symbol of the State of Santa Catarina –, Jacaranda (Jacaranda puberula), Miguel-pintado (Cupania vernalis), Yerba mate (Ilex paraguariensis) – tree symbol of the State of Rio Grande do Sul –, Leopardwood (Roupala Montana), Tarumã (Vitex megapotamica), Cherry of Rio Grande (Eugenia involucrate), White Orchid Tree (Bauhinia forficate), Pinaster (Podocarpus lambertii), Guamirim-vermelho (Eugenia handroana), Campomanesia (Campomanesia xanthocarpa), Gabiroba (Campomanesia guazumifolia), Rose Cedar (Cedrela fissilis), Cancharana (Cabralea canjerana), Brazilian Coral Tree (Erythrina falcate), Canela-sebo (Ocotea puberula), Sweetwood (Ocotea odorifera), Tanheiro, Tapia (Alchornea triplinervia), Afata (Cordia trichotoma) and Cambara (Gochnatia polymorpha). It is noteworthy that the rivers that run in the Park and that flow into the Iguassu River, such as the Benjamin Constant, Deodoro and Floriano are located in an untouchable area and are not navigated even by the surveillance teams, as these rivers serve as models and the parameter to compare the quality of water. In 2003, the high management of IBAMA for the Iguassu National Park organized a research and monitoring expedition along the Floriano River that was called the “Floriano Expedition”. The expedition included researchers from different areas of biology that collected aquatic plant species of the family Podostemaceae. Very few studies have been carried out on these species that are bioindicators of the quality of water, i.e. they do not occur on polluted water. The following species were collected in the aforementioned rivers that run in the Iguassu National Park: Apinagia yguazuensis, Mourera aspera, Podostemum distichum, Podostemum irgangii, Podostemum muelleri, Podostemum rutifolium and Tristicha trifaria. In addition to these species, a plant of the family Apodanthaceae was also collected, which is the first recorded in the State of Paraná: the Pilostyles ulei Solms, which is a parasite that grows on the trunk of the Calliandra foliolosa Benth.
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O Parque Nacional do Iguaçu ainda é uma fonte um tanto quanto desconhecida da biodiversidade brasileira, sobre o qual mais pesquisas e investigações científicas se fazem necessárias. Após estudos mais aprofundados, agradáveis surpresas poderão aparecer no interior dessa unidade de conservação. Em 17 de novembro de 1986, na Conferência Geral da Unesco, em Paris, o Parque Nacional do Iguaçu foi tombado como Patrimônio Mundial Natural da Humanidade, recebendo a distinção como uma das maiores reservas florestais da América do Sul. Embora sofra pressão antrópica bastante acentuada, o Parque Nacional do Iguaçu resiste bravamente e mantém o principal propósito para o qual foi criado: Conservar, preservar e proporcionar um ambiente limpo para as futuras gerações, semelhante ao que tinha sido criado por Deus e dotado de toda a preservação possível, do belo ao sublime, do impressionante ao pitoresco e com uma flora única, inigualável, localizado no entorno das magníficas Cataratas do Iguaçu.
The Iguassu National Park is still a relatively unknown source of Brazilian biodiversity and still need to be further researched and investigated scientifically. Some pleasant surprises could come time light when comprehensive studies are carried out in this conservation unit. On 17 November 1986, during the UNESCO General Conference in Paris, the Iguassu National Park was listed as World Natural Heritage and was awarded the classification of one of the largest forest reserves of South America. In spite of the strong anthropic pressure put on the Iguassu National Park, this unparalleled natural monument bravely resists and continues to play its major role: To conserve, preserve and provide a clean environment for future generations, similar to what God created and with all the means for as much preservation as possible, of what is beautiful and sublime, of what is astounding and picturesque, where its flora is unique, unparalleled, located near the magnificent Iguassu Falls.
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Vista do dossel superior da floresta do Parque. View of the Park’s forest canopy.
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Uma das maneiras mais prazerosas para a contemplação e interação com as diversas espécies da flora do Parque é percorrer os 9 quilômetros da trilha do poço preto. One of the best ways to enjoy and interact with the diversity of plant species in the Park is walking the 9-kilometer long Poço Preto trail.
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BromĂŠlia, Vriesia incurvata Bromeliad, Vriesia incurvata
BromĂŠlia, Aechmea sp Bromeliad, Aechmea sp
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Os tucanos-de-bico-verde, Ramphastos dicolorus, estรฃo entre os maiores consumidores e dispersores da semente do palmito-doce ou juรงara, porque regurgitam os caroรงos em diversos pontos da floresta. The Red-breasted Toucan, Ramphastos dicolorus, are among the largest consumers and dispersers of the seed of the "sweet palmito" or "juรงara", as they regurgitate their seeds in different areas of the forest.
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Palmito-doce, Euterpes edulis. Heart of Palm, Euterpes edulis.
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Os fungos são organismos que dependem fundamentalmente da água para o seu crescimento e desenvolvimento. O ideal para a formação de fungos em troncos de árvores vivas é quando a umidade está acima de 30% do peso seco da madeira. Fungi are organisms that depend fundamentally on water in order to grow and thrive. The ideal environment for fungi that grow on the trunks of live trees is when moisture content is over 30% of dry wood weight.
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Ananรกs ou abacaxi, Ananas comosus Bromeliad Pineapples, Ananas comosus
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O pinheiro-do-paraná, Araucária angustifolia, é considerada a rainha da floresta ombrófila mista, e é a árvore símbolo do Estado do Paraná. Nas estações outono-inverno, seu fruto, o pinhão, é o principal alimento da gralha-azul, Cyanocorax caeruleus, ave símbolo do Estado do Paraná . The Paraná pine, Araucaria angustifolia, is considered the queen tree of the mixed ombrophile forest. It is also the State Tree of Paraná. During the autumn and winter its fruit – the cones (called pinhão) – are the staple food of the Azure Jay, Cyanocorax caeruleus, which is the State Bird of Paraná.
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O grimpeirinho, Leptasthenura setaria, ave-símbolo da cidade de Curitiba, é um pássaro intimamente ligado ao pinheiro-doparaná, Araucaria angustifolia. Vive sobre as grimpas nas copas dos pinheiros, que lhe fornecem alimento (larvas de insetos) e proteção. The Araucaria Tit-Spinetail, Leptasthenura setaria, is the bird symbol of the city of Curitiba, and is closely associated to the Paraná pine, Araucaria angustifolia. It lives on the top of the pine tree canopy, where it feeds on insect larvae and finds shelter.
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As ninféias (Nymphaea), ao amanhecer nos corpos de água do Parque Nacional do Iguaçu, emergem da escuridão e voltam-se para o leste, como que, prestando reverência ao sol nascente. Water lilies (Nymphaea) at dawn in the bodies of water of the Iguassu National Park emerge from the dark and face the east, as if paying homage to the rising sun.
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ร rvore de grande porte, a peroba-rosa, Aspidosperma polyneuron, chega a alcanรงar 40m de altura. Domina o dossel superior da floresta do Parque do Iguaรงu. The grandiose Peroba, Aspidosperma polyneuron, is a tree that can grow as tall as 40m high. It abounds in the higher canopy of the Iguassu Park forest.
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O ipê-roxo, Tabebuia impetiginosa, floresce durante os meses de maio a agosto. É característica da floresta estacional semidecidual do Parque Nacional do Iguaçu. The Trumpet tree, Tabebuia impetiginosa, where it blooms from May to August. It is a typical species of the semidecidual stational forest of the Iguassu National Park.
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\ A névoa, espessa e bastante extensa, originada pelo impressionante volume de água das corredeiras e cataratas, provoca alterações na umidade relativa do ar, propiciando o desenvolvimento de uma farta vegetação, rica em epífitas, cipós e samambaias, bastante semelhante à floresta ombrófila densa da Serra do Mar, no litoral. The dense and far-reaching mist created by the impressive volume of water from the rapids and the waterfalls causes changes to relative air humidity, fostering the development of a plant cover that abounds with epiphytes, vines and tree ferns, similar to the dense ombrophyle forest of the coastal Sea Mountain Range.
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Mirna Martins Casagrande Olaf Hermann Hendrik Mielke
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Invertebrados
o total de animais conhecidos até os dias atuais no planeta, 85% são artrópodes (animais com apêndices articulados), por isso seria sensato separarmos os animais em artrópodes e não artrópodes. No entanto, essa lógica não é seguida, e os animais desde 1801 são separados em invertebrados (animais sem vértebras) e vertebrados (animais com vértebras). Dessa forma, o evolucionista francês Jean-Baptiste de Lamarck perpetuou esse conceito – invertebrados e vertebrados – até os dias atuais, não pela riqueza e diversidade, mas pela presença ou ausência de esqueleto. Mais uma vez, a lógica não funciona, pois estudos de filogenia (parte da ciência que investiga a relação entre grupos de organismos) demonstram que são pouquíssimas as evidências que corroboram essa divisão. Esse conceito, totalmente artificial, é mais uma forma didática de reunir em um mesmo grupo a maior diversidade animal conhecida em qualquer tipo de ambiente – os invertebrados.
INVERTEBRATES
Competindo com a beleza das cataratas, bandos de borboletas (panapanás) em revoada enfeitam as margens do Rio Iguaçu.
Of all the animals known until today that have lived on this planet, 85% are arthropods (animals with articulated appendices), which is a good reason to classify animals as arthropods and non-arthropods. However, this kind of logic is not the prevailing rule, and since 1801 animals are classified as invertebrate (animals without vertebrae) and vertebrate (animals with vertebrae). Hence, French evolutionist Jean-Baptiste de Lamarck perpetuated this concept – invertebrate and vertebrate – until present times, not due to the wealth of species and their diversity, but rather for the lack of a skeleton. Once again logic has been set aside, as studies of phylogeny (the part of science that investigates the relationship between groups of organisms) show that there is very little evidence to support this classification. This concept is totally artificial, but it is used as a didactical means of classifying the greatest diversity of animals that dwell in any type of environment under a same group – the invertebrates.
Competing with the beauty of the water falls, a rabble of butterflies in flight adorns the margins of the Iguaçu River.
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No Parque Nacional do Iguaçu não poderia ser diferente, visto que ele é formado por uma riqueza de espécies florestais, componentes de variados segmentos da Floresta Atlântica, associadas a um solo privilegiado, a recursos hídricos peculiares e a uma intrincada rede de pequenas lagoas, lagos, córregos e rios, que garantem a alta taxa de umidade necessária para manter a exuberância da Floresta Atlântica e de toda a fauna a ela associada. Dessa forma, os invertebrados desfrutam de especial condição no Parque Nacional do Iguaçu, com hábitat apropriado e conservado, quando nos dias atuais a maior ameaça à biodiversidade está relacionada com a destruição de hábitats fora de áreas de preservação.
It could not be any different in the Iguassu National Park. It harbors a wealth in forest species, different segment components of the Atlantic Rainforest that are associated to a privileged soil, peculiar water resources and a complex network of lagoons, lakes, brooks and rivers. All those components guarantee the high moisture rate required to maintain the exuberance of the Atlantic Forest and its entire fauna. Thus, invertebrates enjoy this special feature of the Iguassu National Park in a correct and preserved habitat, given that nowadays
Os primeiros registros de invertebrados na “história da Terra” datam de cerca de 670 milhões de anos, embora os primeiros fósseis, como os trilobitos, já extintos, somente tenham aparecido há cerca de 550 milhões de anos da Era Paleozoica, no Período Cambriano. Nos períodos que se seguem, Ordoviciano e Siluriano (de aproximadamente 475 a aproximadamente 425 milhões de anos), com o clima morno e a radiação das plantas terrestres, além da já existente diversidade de invertebrados aquáticos, surgem os primeiros invertebrados terrestres, como opiliões e lacraias. Durante o Período Devoniano (cerca de 413 milhões de anos), aparecem as primeiras florestas e concomitantemente uma expressiva radiação dos insetos, porém o fato mais marcante desse momento na história da evolução foi o surgimento dos primeiros insetos alados. O sucesso desse grupo de invertebrados, afora a presença de um exoesqueleto, metamorfose, entre outros aspectos, está relacionado à capacidade de voar, que lhes permite a fuga rápida dos predadores e a conquista de novos territórios, aumentando assim a capacidade de dispersão. No primeiro período da Era Mesozoica, o Triássico (perto de 225 milhões de anos), as gimnospermas (plantas sem flores) dominavam os ambientes e surgiam as primeiras Angiospermas (plantas com flores). Desse período também são os registros dos primeiros fósseis de borboletas e mariposas (Lepidoptera) e abelhas, vespas e formigas (Hymenoptera), embora se suponha que essas ordens de insetos tenham surgido antes.
the greatest threat to biodiversity lies in the destruction of habitats located outside the scope of preservation areas. The first records of invertebrates in the “history of Earth” date from some 670 million years ago, although the first fossil, such as the extinct trilobites, only appeared some 550 million years ago in the Paleozoic Era of the Cambrian Period. In the following periods – the Ordovician and the Silurian (approximately 475 to approximately 425 million years ago) the first terrestrial invertebrates, harvestmen and centipedes, came into existence due to the temperate climate and the radiation of terrestrial plants, joining the existing diversity of aquatic invertebrates. In the Devonian Period (some 413 million years ago), the first rainforests were formed, and with them came the expressive radiation of insects. However, the most outstanding fact of this time in the history of evolution was the appearance of the first winged insects. Added to the presence of an exoskeleton, metamorphosis and other aspects, this class of invertebrates was successful because they could fly and quickly flee from their predators, conquer new territories, and consequently increase their dispersion capacity. In the first period of the Mesozoic Era - the Triassic Period (some 225 million years ago), Gymnosperms (plants without flowers) prevailed in all environments, when they were joined by the first Angiosperms (plants with flowers). The first fossils of butterflies and moths (Lepidoptera), bees, wasps and ants (Hymenoptera) also date from this period, although it is thought that these orders of insects may have existed before.
borboleta-do-manacá, Methona themisto Bates Butterfly, Methona themisto
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borboleta-oitenta-e-oito, Diaethria clymena janeira Eighty eight Butterfly, Diaethria clymena janeira
borboleta-monarca, Danaus erippus Monarch Butterfly, Danaus erippus
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borboleta-julia, Dryas iulia alcionea Julia Longwing Butterfly, Dryas iulia alcionea
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Os invertebrados podem ser encontrados isoladamente ou compondo massivas populações de formas séssil (fixa) ou errante (livre). Distribuem-se em ambientes terrestres, como subsolo, diferentes estratos florestais, troncos, debaixo de pedras ou entre elas, em ninhos de vertebrados, por exemplo, e em diversos ambientes dulciaquícolas, como rios, córregos, lagos, brejos, poças, oco de troncos, interstícios de substratos, pequenos aquários que se formam entre folhas de bromélias e epífitas em geral, entre outros. Outro ambiente especial, característico do basalto vesicular e um dos tipos de rocha que forma o substrato do Parque, são os milhares de cavidades esféricas ou tubulares produzidas pela outrora expansão e escape dos gases, que uma vez com água se constituem em microambientes específicos para espécies com desenvolvimento rápido ou para completar uma fase do desenvolvimento. Conforme suas características e conquistas, em função de necessidades básicas, como equilíbrio hídrico, alimentação e ambiente adequado para a reprodução, ou seja, perpetuação da espécie, podemos tratar dos invertebrados mais comumente encontrados no Parque em grupos como segue:
Invertebrates can be found individually or as part of huge populations of sessile forms (fixed) and itinerant forms (free). They are found in terrestrial environments, such as underground, in different forest extracts. They dwell in tree trunks, under rocks or between them, in the nests of vertebrates, in different fresh water environments, such as rivers, brooks, lakes, swamps, wells, hollowed trees, substrate interstices, the small aquariums formed between the leaves of bromeliads and epiphytes in general, to mention but a few. Hundreds of thousands of circular and tubular gaps created when gas was coming from the core of the Earth also make up an especial environment that is characteristic of the vesicular basalt and is one type of rock that forms the Park’s substrate. When these holes are filled with water they became specific microenvironments for fast developing species or to complete one of the development phases. Invertebrates are the most common species harbored by the Park, which as classified according to their characteristic and achievements, their basic needs, i.e. water equilibrium, food and the right environment for reproducing, e.g., the perpetuation of the species,. They are divided into the following classes:
borboleta-ponto-de-laranja, Antheos menippe
borboleta, Dione juno juno
Yellow Brimstone Butterfly, Antheos menippe
Silverspot Butterfly, Dione juno juno
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malaquita, Placidina euryanassa Malachite Butterfly, Placidina euryanassa
borboleta-asa-de-vidro, Ithomia drymo Clearwing Butterfly, Ithomia drymo
Formando tapetes sobre o leito e as margens dos rios estão as esponjas (Porifera) dulciaquícolas. Possuem o corpo formado por espículas de sílica unidas por espongina, proteína semelhante ao colágeno, substância que se desintegra quando a esponja morre. As espículas, no entanto, permanecem no substrato, formando o que se conhece por espongilito. As esponjas, pelo seu caráter séssil, foram consideradas durante muitos anos como plantas e somente após a observação de correntes internas de água seu status foi alterado para animal. São primitivas, não possuem boca ou ânus, nem neurônios e tampouco células musculares organizadas. A forma e o crescimento de uma esponja se dão principalmente pela disponibilidade de espaço, o que torna fácil compreender por que se esparramam pelo leito dos rios. As hidras, organismos isolados de pequeno tamanho e aspecto de planta, inclusive na coloração verde, são os representantes dulciaquícolas de Cnidaria/ Hydrozoa. Prendem-se e crescem ligadas às vegetações aquáticas, rochas, conchas, etc. Difíceis de serem visualizadas a olho nu e muito sensíveis às variações de qualidade da água, são excelentes bioindicadores. Pertencem ao mesmo grupo zoológico que as medusas e os corais dos ambientes marinhos.
Fresh water sponges (Porifera) cover river beds and margins. Their body is formed by de silica spicules linked by spongin, which is a protein similar to the collagen, a substance that disintegrates when the sponge dies. However, the spicules remain in the substrate and form the spongilitis. Given their sessile nature, sponges were considered for a long time as plants; it was only changed to the status of an animal after a long period of observation of internal water currents. They are primitive animals that do not have mouth or anus, nor neurons, and they also lack organized muscle cells. Sponges grow according to the space at hand, which explains their high occurrence on river beds. Hydras are the fresh water representatives of the Cnidaria/ Hydrozoa. They are small green isolated organisms that look like a plant. They grow on aquatic plants, rocks, shells, etc. They are difficult to see with the naked eye and are extremely sensitive to changes in the quality of the water, and for this reason are excellent bioindicators. Nydras belong to the same
Os vermes chatos de vida livre (Platyhelminthes/Turbellaria), predominantemente pequenos, dorsoventralmente achatados, ovais ou alongados, de cores escuras, como preto, marrom ou cinza, estão presentes na água doce, rastejando pelo fundo lodoso. Quando terrestres, se escondem em ambientes úmidos, entre cascas de árvores, debaixo de pedras ou troncos caídos, evitando dessa forma expor a superfície do corpo ao ressecamento, impedindo as trocas gasosas, já que o oxigênio é absorvido através da parede corporal. Normalmente são confundidos com as lesmas (Mollusca), mas, por uma série de características, são distintos. Os de vida terrestre podem ser facilmente observados em nichos mais úmidos próximos à beira de calçadas ou embaixo de folhas caídas.
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zoological class as the medusas and marine corals. Flatworms (Platyhelminthes/Turbellaria) are predominately small, dorso-ventrally flattened, oval or elongated. They can be darkcolored (black, brown or grey) and dwell in freshwater, crawling along the muddy bottom. When terrestrial, they hide in humid environments, inside tree bark, under rocks or fallen tree trunks in order to avoid exposing their dry body surface, thus preventing gas exchange, as oxygen is absorbed by their body. They are usually mistaken for slugs (Mollusca), from which they differ due to a series of characteristic. Terrestrial species can be commonly found in the wetter niches near sidewalks or under fallen leaves.
borboleta-poror贸, Hamadryas amphinome amphinome Red clicker Butterfly, Hamadryas amphinome amphinome
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borboleta-olho-de-coruja, Caligo brasiliensis Owl Butterfly, Caligo brasiliensis
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Os invertebrados mais familiares são os caracóis, caramujos e lesmas (Mollusca), conhecidos pela forma vagarosa como se deslocam: arrastam o corpo, formado por uma massa mole, na maioria das vezes protegida por uma ou duas conchas de carbonato de cálcio. Os aquáticos habitam o fundo arenoso ou lodoso das lagoas, rios ou vegetação adjacente, enquanto que os terrestres fogem de ambientes claros e buscam lugares com menos intensidade de luz e mais umidade, evitando que o tecido que reveste o corpo resseque, pois as trocas gasosas se realizam através dele. Larvas de um dos grupos de água doce desenvolvem parte de seu ciclo parasitando brânquias de peixes. Nos terrestres, é fácil identificar o esconderijo ou o caminho seguido: basta acompanhar o traço de muco brilhoso, secretado pelo próprio animal e expelido pela abertura das glândulas salivares na região anterior do corpo. Esse muco, que solidifica em contato com o ar, é depositado sobre folhas ou troncos e auxilia na locomoção, diminuindo o atrito entre a aspereza do substrato e a massa que constitui o pé, estrutura de locomoção. Entre os moluscos, encontramos os mais variados comportamentos, desde grupos que se alimentam de folhas, como os caracóis e lesmas (Gastropoda), até os filtradores, que consomem depósitos seletivos, representados pelos moluscos com duas conchas (Bivalvia).
The most common invertebrates are the snails, conches and slugs (Mollusca). They are known for their slow pace: they drag their body that is formed by a soft mass, usually protected by one or two calcium carbonate shells. Aquatic species live at the sandy or muddy bottom of lakes, rivers or surrounding vegetation. Terrestrial species avoid bright environments, preferring habitats with less light intensity and higher humidity in order to prevent their body tissue from drying out, as the exchanging of gas is made from there. Larvae from fresh water species develop part of their cycle as parasites on fish gills. It is easy to see where terrestrial species hide and the trail they leave behind: just follow the trace of shiny mucus secreted by the animal and discharged from the saliva glands located on the back of the body. This mucus that becomes solid when exposed to air is deposited on leaves or tree trunks, helping them move by decreasing the friction between substrate roughness and the mass that is the foot, i.e. the locomotion structure. There are different types of behaviors among the mollusks. Some eat leaves, like snails and slugs (Gastropoda), and some even perform as filters that eat selective deposits, such as two-shell mollusks (Bivalvia).
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Nas águas ou nas áreas úmidas do Parque Nacional do Iguaçu, também são comuns as minhocas e sanguessugas. São os vermes segmentados (Annelida/ Oligochaeta/Hirudínea). O corpo é dividido em partes semelhantes, anéis, distribuídos de forma linear ao longo de um eixo anteroposterior. Entre as minhocas, as aquáticas escavam nos sedimentos do fundo ou se alojam entre a vegetação submersa, enquanto as terrestres podem cavar túneis no subsolo, arejando e revolvendo terra ou ainda habitando grandes alturas em húmus depositado nas axilas das folhas ou em epífitas. Por outro lado, entre as sanguessugas, nem todas sugam sangue, como o nome indica. Algumas são predadoras de outros invertebrados, como larvas de insetos, caramujos, etc. Pertencentes a um mesmo grupo de animais (Arthropoda), caracterizados por possuírem apêndices articulados, exoesqueleto, metamorfose, capacidade de adaptação aos diferentes ambientes e acentuado potencial reprodutivo, estão os caranguejos e camarões (Crustacea), aranhas e opiliões (Arachnida), centopeias e piolhos-de-cobra (Miriapoda), além de borboletas, mariposas, abelhas, vespas, formigas, besouros, moscas, percevejos, libélulas e muitos outros insetos (Insecta).
Worms and bloodsuckers are also a common occurrence in the waters or humid areas of the Iguassu National Park. They are called segmented worms (Annelida/Oligochaeta/Hirudínea) because their body is divided into parts similar to rings distributed linearly along an anteroposterior axle. Aquatic worms dig sediments from the bottom or nestle among the underwater vegetation. Terrestrial worms can dig underground tunnels that air and revolve the soil, or yet can live at high altitudes in humus deposited on the axilla of leaves or in epiphytes. However, not all bloodsuckers are true to their name and actually suck blood. Some are predators of other invertebrates, such as insect larvae, snail, etc. Crabs and shrimps (Crustacea), spiders and harvestmen (Arachnida), centipedes and myrapods (Miriapoda), as well as butterflies, moths, bees, wasps, ants, beetles, flies, dragonflies and many other insects (Insecta) belong to the same class of animals (Arthropoda). They are characterized for having articulate appendices, exoskeleton, metamorphosis, ability to adapt to different environments and accentuated reproductive potential.
louva-deus, Mantidae praying mantises, Mantidae
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libĂŠlula, Anisoptera Dragonfly, Anisoptera
bicho-pau, Proscopidae Stick Insect, Proscopidae
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Saturniidae/Saturniinae
Saturniidae/Hemileucinae
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aranha-carangueijo, Epicadus heterogaster Flower mimicking Crab Spider, Epicadus heterogaster
São conhecidas muitas espécies de crustáceos, no entanto as mais familiares são
There are many well-known species of crustaceans, but the
as comestíveis, como caranguejos e camarões. A riqueza de pequenas espécies
most familiar are the edible ones, such as the crab and shrimp.
que habitam rios, lagos e lagoas é igualmente significativa para a cadeia trófica,
The diversity of small species that live in rivers, lakes and
na qual estão outros consumidores que não o homem. Nesse grupo também
lagoons is equally important for the trophic food chain, where
estão os “tatuzinhos”, aqueles que, quando tocados, se enrolam feito bolinha. Vivem exclusivamente em ambientes terrestres, se escondendo no solo úmido debaixo de pedras, troncos de árvores, entre folhas, para evitar a perda de água.
consumers are not human beings. Quarry lice – the small beetles that curl up in a ball when they are touched – are also part of this class. They occur exclusively on the terrestrial environment.
Com quatro pares de pernas, dotadas de um sistema sensorial apurado e na
Spiders (Arachnida) have four legs, a very sophisticated
grande maioria de hábitos solitários, as aranhas (Arachnida) tecem teias formadas
sensorial system and usually keep solitary habits. They weave
por fios de seda, uma proteína secretada por glândulas abdominais, expelida
webs of silk that is excreted by their abdominal glands as a
de forma líquida, que se solidifica durante o processo de esticamento, quando
liquid that becomes solid while it stretches out as a web or
da elaboração da teia ou fios isolados. Algumas vezes, podemos observar ara-
as stand-alone threads. It may seem sometimes that spiders
nhas que parecem “planar” no ar, no entanto só representam estar assim, pois
are “floating” in the air, but that is not so, as they do not
não possuem asas de fato: estão presas por um fino fio de seda, que costumam
have wings. They are actually held by a strand of silk they
produzir enquanto vagueiam aleatoriamente. Por outro lado, a teia é engenhosa e pacientemente construída, na realidade uma armadilha para as presas, que, quando penetram nesse emaranhado de fios, são prontamente paralisadas. Algumas espécies, com padrões coloridos, espreitam a presa camuflando-se em perfeita harmonia com flores e frutos, independente da teia. As que vivem em grupos tecem enormes teias, em um trabalho de cooperação invejável, tanto para
produce while roaming randomly. The web, on the other hand, is ingeniously and patiently weaved as a trap for their prey; when the victim gets caught in this silken net it is immediately paralyzed. Some spider species depict colored patterns they use as a camouflage, blending perfectly with flowers and fruits, regardless of the web. Spiders that live in communities weave a huge web, which is an enviable example of cooperation, both
a construção da teia quanto para a paralisação da presa. Outras vivem em ocos
in terms of web weaving and prey stunning. Other spiders live
de árvores ou buracos em barrancos, como é o caso da aranha-caranguejeira,
in hollow trees or holes on hillsides, such as the white-kneed
também conhecida como aranha-caçadora.
tarantulas.
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Abundantes na vegetação, solo da floresta, troncos e cavernas, caracterizados pelas longas pernas e pequeno corpo, liso ou com espinhos exuberantes, estão os opiliões. Em sua grande maioria são de coloração marrom, mas algumas espécies podem ser vermelhas, alaranjadas, amarelas, verdes ou com manchas coloridas. Na margem lateral do corpo, possuem um par de estruturas denominadas glândulas repugnantes, dado o cheiro acre e picante da secreção, expelida na intenção de afugentar os predadores. Em geral, são predadores de insetos menores, mas também têm grande importância no nível dedritívoro da cadeia trófica. Os invertebrados conhecidos como centopeias e piolhos-de-cobra (Miriapoda) são habitantes de galerias, fendas, sob rochas, troncos, casca de árvores, húmus e outros ambientes com expressiva umidade e abrigados da luz intensa do sol. Enquanto as centopeias são em sua maioria predadoras de insetos, minhocas, caramujos e vermes, os piolhos-de-cobra são herbívoros. As grandes centopeias são temidas, mas o veneno injetado, embora dolorido, não é tóxico o suficiente para ser letal ao homem. Os piolhos-de-cobra, como não possuem nenhum tipo de órgão defensivo, quando incomodados, enrolam-se em espiral e, através de glândulas localizadas nas laterais do corpo, emitem líquido de odor desagradável, sua única forma de defesa. Com uma diversidade enorme de formas e cores, o segmento de fauna mais diverso entre os invertebrados é dos insetos (borboletas, mariposas, abelhas, vespas, formigas, besouros, gafanhotos, esperanças, baratas, libélulas, percevejos, cigarras, etc.). Distribuem-se pelos diferentes extratos da floresta, vários ambientes aquáticos e outros tantos, parasitando animais.
Harvestmen abound in the vegetation, the forest’s soil, on tree trunks and caves. They have long legs and a small body that can be smooth or spiky. The great majority is brown, but some species can be red, orange, yellow, green or have colored spots. Harvestmen have a pair of prismatic defensive scent glands (ozopores) that secrete a peculiar smelling fluid when disturbed that repels their predators. They are usually the predators of smaller insects and are very important as scavengers in the trophic food chain. Invertebrates known as centipedes and myriapods live in galleries, gaps, under rocks, tree trunks, tree bark, humus and other highly humid environments where they can hide from the strong sunlight. While most centipedes are the predators of insects, worms and snails, myriapods are herbivores. Large centipedes inspire fear because of their poison; however, it is not toxic enough to be lethal to human beings, although it is very painful. Myriapods lack any type of defensive organ, and when they are disturbed they roll into a spiral and discharge a noxious smelling liquid from the side of their bodies as their only form of defense. Insects (butterflies, moths, bees, wasps, ants, beetles, grasshoppers, praying mantis, cockroaches, dragonflies, bugs, cicadas, etc.) occur in a great variety of colors and shapes. They dwell in the different parts of the forest, in water and even as parasites of other animals.
aranha-saltadora, Phiale sp. Jumping Spider, Phiale sp.
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aranha-saltadora, Chira sp. Jumping Spider, Chira sp.
aranha-saltadora, Psecas sp. Jumping Spider, Psecas sp.
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A aranha-da-teia-dourada, Nephila clavipes,constrói sua teia de fios dourados para aprisionar sua caça (foto acima). Já as aranhas saltadoras, da grande família Salticidae, (5.025 espécies), utilizam seus oito olhos para rastrear suas presas e num rápido salto as aprisionam (foto à direita). The Golden Silk Orbweaver, Nephila clavipes, weaves a web with golden thread to capture its prey (picture above). However, the jumping spiders of the great family Salticidae use their eight eyes to hunt and capture their prey by quickly jumping on them (picture on the right).
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aranha-saltadora, Thiodina sp. Jumping Spider, Thiodina sp.
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Estudos mais completos para estimar a diversidade de insetos estão relacionados com borboletas e mariposas (Lepidóptera), insetos aos quais as escamas (pelos modificados) conferem admirável beleza, riqueza de cores e reflexos. As borboletas se utilizam do calor do sol para obter energia e voar, escolhendo os espaços mais claros ou frestas entre árvores, por onde penetra luz, pousando em troncos, galhos, folhas, flores, frutos ou mesmo no solo, buscando o substrato ideal para se alimentar (néctar, frutas e animais em decomposição, resinas, fezes de outros animais, etc.), acasalar ou colocar seus ovos e garantir a perpetuação da espécie. É comum encontrar grupos de borboletas ou panapanás, em sua grande maioria amarelas e brancas, sugando sais minerais em beira de poças, rios, lagoas ou locais onde vertebrados urinam. São mundialmente famosos esses agrupamentos nas áreas do Parque durante as épocas mais secas. As mariposas, no entanto, voam, com raras exceções, apenas à noite, atraídas pela luz. Embora em número de espécies estimado muito maior que das borboletas, são menos conhecidas.
Comprehensive studies have been carried out on the diversity of butterflies and moths (Lepidóptera), which are insects covered by tiny scales (modified hairs) that give their beautiful colors and hues. Butterflies acquire their energy to fly from the sunlight, and thus choose brighter areas in the forest to sunbathe, such as tree trunks, branches, leaves, fruits or even the soil, where they look for the ideal substrate to feed on (nectar, fruits and decomposing animals, resins, and the feces of other animals), to mate or to deposit their eggs and perpetuate the species. It is common to find swarms or rabbles of butterflies, mostly yellow or white, sucking mineral salts from the margins of puddles, rivers, lakes or other places where vertebrates urinate. The Park is famous worldwide for these swarms during the dryer season. Moths, on the other hand, mostly fly at night and are attracted to light. Although it is estimated that there are many more species of moths than of butterflies, they are less known.
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A luz é importante fator na distribuição das plantas, seres autótrofos, ou seja, aqueles que sintetizam os componentes de que necessitam para obter energia. Como a maioria dos insetos é herbívora (alimenta-se de plantas), sua distribuição está intimamente relacionada a isso. Porém a rede trófica não está limitada aos seres autótrofos e à herbivoria: um batalhão de outros insetos (besouros, cupins, formigas, etc.), vermes e outros pequenos invertebrados não necessitam de tanta luz ou mesmo fogem completamente dela (fototropismo negativo) e, por estarem junto ao solo, atuam ativamente na cadeia detritívora (animais que se alimentam de detritos – decompositores), transformando-o. Dessa decomposição em partículas menores segue-se a ação dos fungos e bactérias, e o resultado é o retorno de nutrientes ao solo, base de alimento para as plantas. Muitos são também os predadores, entre eles as libélulas (Odonata). Encontradas nas imediações de ambientes aquáticos, são verdadeiras equilibristas quando pousam na extremidade de galhos de árvores próximo às margens de rios, lagoas e brejos. Mas as ações dos insetos não estão relacionadas apenas com o ciclo de nutrientes da floresta, a eles também se atribuem importantes papéis na polinização e dispersão das plantas. Nas áreas abertas da floresta, onde o vento está presente, cabe em grande parte a ele a dispersão das sementes. No entanto, dentro da floresta, onde a concentração de árvores é maior, sendo a ação dos ventos mais amena, são os insetos que carregam, entre os pelos de suas pernas e corpo ou presos na espirotromba (parte do aparelho bucal das borboletas), o pólen de uma planta para outra. O Parque Nacional do Iguaçu (PNI), além de incontestável beleza cênica, tem também um importantíssimo papel na geração de conhecimentos e informações para a humanidade. Entre os objetivos de uma unidade de conservação está proteger e conservar todas as espécies da fauna e da flora nativas, inclusive espécies migratórias. No entanto, no que diz respeito aos invertebrados, somente dois são os artigos com informações sobre a riqueza de espécies: ambos tratam de borboletas (Lepidóptera), e os registros estão aquém do esperado, quando comparados com outros em áreas adjacentes. Assim, fica evidente que existe ainda muito a ser feito no que diz respeito ao conhecimento da biodiversidade das áreas que estamos conservando. No entanto, alguns aspectos burocráticos devem ser corrigidos no sentido de incentivar as pesquisas científicas.
Light is an important factor for plant cover, as plants are autotroph organisms that synthetize whatever components they need in order to obtain energy. Given that most insects are herbivores, i.e. feed of plants, their occurrence is closely associated to this factor. However, the autotrophic network is not limited to autotroph organisms and herbivory: there is an army of other insects (beetles, termites, ants, etc.), worms and other small invertebrates that do not need so much light or that even flee from it (negative phototropism). Because they live on the soil, they are active members of the detritivore food chain (animals than feed on detritus - scavengers) and they transform it. Fungi and bacteria act on decomposing detritus into smaller particles, which causes nutrients to be returned to the soil and then become food for plants. There are also many predators, like the dragonfly (Odonata) for example. They dwell near water environments and defy the laws of gravity when perching on tree branches near river banks and the margins of lakes and marshes. However, insects do not play an important role only in relation to the forest’s nutrient cycle. They are also responsible for pollinizing and dispersing plants. In clearings in the forest, the winds play a major role in dispersing seeds. However, inside the forest where there is a higher concentration of trees and less wind, insects are responsible for transferring the pollen from plant to plant, carrying it on their legs and bodies, or attached to the proboscis (mouth-parts of butterflies). The Iguassu National Park (PNI) is not only outstanding for its undeniable scenic beauty, but also for the role it plays as a source of knowledge and information for humankind. One of the many goals of a conservation unit is to protect and preserve all species of native fauna and flora, including migrating ones. However, in relation to invertebrates, there are only two articles that provide information about the diversity of the species: both address butterflies (Lepidóptera), and the records are quite poor when compared with those of adjacent regions. Hence, it is clear that there is yet much to be done in terms of knowledge related to biodiversity in the areas we are preserving. There are some red tape aspects that must be aligned in order to encourage scientific research.
Coleoptera - Chrysomelidae Coleoptera - Chrysomelidae
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Tucano-toco, ranphastos toco Tucano-toco, ranphastos toco
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Aves
O
Parque Nacional do Iguaçu mantém uma rica fauna de aves, típica da Floresta Atlântica, que recobria o oeste paranaense até meados do século XIX. Hoje constitui o maior trecho dessa fabulosa floresta, onde podem ocorrer cerca de 350 espécies de aves, que se distribuem principalmente no ambiente florestal dominante nesse parque. Para conhecer essa comunidade de aves, que inclui algumas espécies ameaçadas, foi preciso que muitos naturalistas e pesquisadores, tanto brasileiros como estrangeiros, investigassem esse parque por meio de diferentes métodos de pesquisa. Antes de ele ser oficialmente criado, em 1939, isso aconteceu com as expedições à região de Foz de Iguaçu lideradas por Emilie Snethlage, a serviço do Museu Nacional do Rio de Janeiro, e por Emil Kaempfer, do Museu de História Natural de Nova York. Entretanto, a mais famosa das expedições estrangeiras foi liderada pelo naturalista polonês Tadeusz Chrostowski, que percorreu quase todo o Estado do Paraná, coletando inúmeras espécies de aves que posteriormente foram depositadas no Museu Polonês de História Natural. No início da década de 40, o naturalista João Moojen de Oliveira, a serviço do Museu Nacional do Rio de Janeiro, coletou e preparou uma série de espécimes de aves para essa instituição. Da mesma forma, outros naturalistas dessa época, como Emílio Dente e Dionísio Seraglia, coletaram e prepararam inúmeros espécimes, tanto de aves quanto de mamíferos, que ficaram expostos no Museu do Parque por longo tempo. Nessa coleção havia espécies importantes de aves, que retratavam localmente parte da rica avifauna, infelizmente perdidas pela falta de conservação adequada por parte das administrações que passaram pelo parque.
birds The Iguassu National Park houses a rich fauna of birds that occurs typically in the Atlantic Rainforest that covered the west of the State of Paraná until the mid nineteenth century. Nowadays, the Park is the largest portion of this fabulous forest, where might occur 350 bird species, which are mainly found in the forest environment of the park. Brazilian and foreign naturalists and researchers had to use different research methods in order to learn more about this bird community that includes many endangered species. Before the Park was officially created in 1939, research was carried out by expeditions to Foz do Iguassu led by Emilie Snethlage, who worked for the Rio de Janeiro National Museum, and by Emil Kaempfer, from the New York Museum of Natural History. However, the most famous foreign expedition was led by Polish naturalist Tadeusz Chrostowski that travelled the State of Paraná collecting different bird species, which were later transferred to the Polish Natural History Museum. In the early ‘40s, naturalist João Moojen de Oliveira of the Rio de Janeiro National Museum collected and prepared series of birds specimens for that institution. Likewise, other naturalists from those days, such as Emílio Dente and Dionísio Seraglia, collected and prepared a great number of specimens – both bird and mammal – that were displayed at the Park Museum for a long period of time. The collection included important bird species that were an example of the abundant variety of birds of that region, unfortunately lost due to the lack of adequate conservation by the many Park administrations.
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Pedro Scherer Neto
Ainda nessa época, em 1948, por força da legislação estadual, que previa pesquisas, e através de seu centro máximo, o Museu Paranaense, o naturalista viajante Andreas Mayer visita a região de Foz de Iguaçu por dois meses, coletando material zoológico, atualmente depositado no Museu de História Natural Capão da Imbuia, de Curitiba.
In 1948, according to the state law, that predicts natural researches, through the leading institution, Paraná state Museum; the travelling naturalist Andreas Mayer was then
Muito tempo depois, o Parque Nacional do Iguaçu recebeu observadores de aves, incluindo membros do Clube de Observadores de Aves do Paraná, que realizaram, nessa unidade de conservação, diversas visitas a locais permitidos. Conforme publicações sobre a avifauna do Parque Nacional do Iguaçu, as pesquisas ornitológicas mais consistentes se devem a Ted Parker III e Jaqueline Goerck, que revelaram a ocorrência de 226 espécies em apenas 5 dias de observações. Outro importante esforço de pesquisa, durante a década de 90, se deve ao ornitólogo Jan Karel Mähler Júnior, que registrou 270 espécies de aves.
commissioned to cover the Foz do Iguassu region for two
Nos últimos anos o parque tem sido alvo de pesquisas ornitológicas pelo professor José Flávio Candido Júnior, da Universidade do Oeste do Paraná, que, juntamente com Fernando Costa Straube e Alberto Urben Filho, atualiza e publica informações sobre a avifauna do Parque Nacional do Iguaçu. Esses ornitólogos são responsáveis pela reunião de todas as informações fidedignas sobre aves nessa grande unidade de conservação, em documento de alto valor para outros trabalhos de pesquisa e manejo em áreas naturais protegidas.
Jaqueline Goerck, when 226 species were identified in only
months, when he collected zoological material that is nowadays housed at the Capão da Imbuia Natural History Museum of Curitiba. Many years later, bird watchers from the Paraná Bird Watching Club visited the National Park and the visiting allowed areas many times. Publications about the birds and the wildlife of the Iguassu National Park reveal that the most consistent ornithological research was carried out by Ted Parker III and 5 days of observation. Another important research effort happened in the decade of 90, when the ornithologist Jan Karel Mähler Júnior recorded 270 bird species. Over the last few years, Professor José Flávio Candido Júnior, from Universidade do Oeste do Paraná, has also carried out research in partnership with Fernando Costa Straube and Alberto Urben Filho, updating and publishing information about the avifauna of the Iguassu National Park. These ornithologists are responsible for compiling all the accurate information about the birds that dwell in this grand conservation unit in a valuable document that provides support to research and management work carried out in protected natural areas.
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\ Entre as famílias que atualmente compõem a Ordem dos Falconiformes, podem ser encontradas 40 espécies de gaviões e falcões, incluindo a harpia (Harpia harpyja)
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Of the families that currently make up the Order Falconiformes , there are 40 species of hawks and falcons, including the Harpy Eagle (Harpia harpyja)
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Birds are one of the species of vertebrate animals most admired
As aves estão entre os animais vertebrados mais apreciados pelo homem, tamanha é a beleza de sua plumagem e de seu canto, o que as torna alvo de caça para múltiplos fins e também para o lazer de muitas pessoas que as admiram em seu ambiente. Exercendo encanto inigualável sobre o ser humano, muitas aves se tornaram animais de estimação. Algumas foram até domesticadas no passado e são fonte alimentar importante como suplemento proteico da dieta humana. Entretanto, algumas aves se tornaram pragas e foram duramente combatidas até sua extinção. Já outras foram retiradas de seu ambiente natural para serem comercializadas ilegalmente, o que prejudicou o equilíbrio de sua população e levou-as à extinção irreversível na natureza.
by humankind given the beauty of their plumage and their singing, which makes them the coveted prey for many purposes, but also a source of enjoyment for those that appreciate the animals in their habitat. Because of their unparallel enchantment, many birds are now raised as pets. Some were even domesticated and are an important food source that provides additional protein to the human diet. However, some birds were considered a pest and harshly exterminated until they became extinct. Species were removed from their natural habitat and sold illegally, which harmed population equilibrium and caused their irreversible extinction in nature. One of the ways that modern humankind devised to prevent the
Uma das maneiras que o homem moderno encontrou para evitar que muitas espécies animais desaparecessem da face da Terra foi criar parques, reservas e estações ecológicas, entre outros, para proteger o bioma como um todo, ou seja, a intrínseca rede de relacionamentos entre espécies vegetais, animais e o tamanho de uma área protegida. O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em função de seus monumentos naturais, as Cataratas, mas também para proteger uma grande extensão de floresta estacional semidecidual e ombrófila mista, o que faz supor que muitas espécies animais estejam protegidas. Sendo contíguo ao parque argentino, é imenso o valor conservacionista dessa grande floresta, que permite a ocorrência de um grande número de espécies animais, principalmente de aves.
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extinction of a large number of animal species from the face of the Earth was to create parks, reserves and ecological stations - to mention but a few of the schemes - to protect the biome as a whole, setting up closely knit relationships between plant species, animals and the size of the protected area The Iguassu National Park was created as a consequence of its natural monuments, the Iguassu Falls, but also to protect a large extension of semi-deciduous seasonal and mixed ombrophyle forest, whereby it is expected that many animal species will be protected. This huge forest stands in a contiguous area to the Argentine Park, and as because of its location it houses a large number of animal species, mainly birds.
Conforme a reunião de informações de registros ornitológicos elaborada por Fernando Costa Straube, no Parque Nacional do Iguaçu ocorrem 335 espécies de aves. Esse valor pode aumentar na razão direta do esforço de pesquisa em campo, mas pode também revelar a ausência de muitas espécies, graças aos vários fatores que regem o equilíbrio na dinâmica de uma comunidade animal. A grande maioria das espécies de aves que podem ser encontradas no Parque Nacional do Iguaçu é de hábito florestal e se distribui nos mais diferentes estratos arbóreos, desde a copa ou dossel superior e suas divisões até o chão da floresta. Outros ambientes, como os rios afluentes que compõem a rede hidrográfica do Iguaçu, proporcionam a ocorrência de aves aquáticas e limícolas, que usam as margens e o próprio leito do rio para forrageamento e descanso. No meio da mata, estão algumas lagoas com banhados utilizadas por garças, socós, saracuras e maçaricos, que podem ser apreciados de uma torre de madeira por visitantes aficionados.
Ornithological records compiled by Fernando Costa Straube at the Iguassu National Park shows that 335 bird species occurs in this park. This richness could increase largely due to field research, but could also reveal the absence of many species, caused by different factors that regulate the equilibrium of the dynamics in a community of animals. The great majority of bird species found in the Iguassu National Park is comprised of forest dwellers and live in different levels, from the upper crown or canopy to the mid sections and the ground. Other environments, such as the network of tributaries that feed the Iguassu River, favoring the occurrence of aquatic and wader bird species that feed from and rest on river banks and their water. The forest has many lagoons, and the swampy terrain is populated by egrets, black-crowned night herons, gray-necked wood rails and white ibises, which can be observed by the bird-lovers
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from atop a wood tower.
A grande maioria das espécies de aves que podem ser encontradas no Parque Nacional do Iguaçu é de hábito florestal e se distribui nos mais diferentes estratos arbóreos, desde a copa ou dossel superior e suas divisões até o chão da floresta.
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The great majority of bird species found in the Iguassu National Park is comprised of forest dwellers and live in different tree tiers, from the upper crown or canopy to the mid sections and the ground.
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Para quem deseja observar aves não só por prazer mas também com outras finalidades, essa unidade de conservação possui trilhas e caminhos tradicionais, e a rodovia que dá acesso às Cataratas e a toda a infraestrutura dedicada ao turismo. Os caminhos mais famosos são o Macuco e o Poço Preto, além da própria rodovia e dos arredores das edificações existentes, que podem ser usados, desde que respeitadas as normas internas do órgão ambiental gestor do parque.
For the ones that wished to do bird watching for both pleasure and other purposes, there are trails and traditional paths crossing the conservation unit and a highway that takes visitors to the Iguassu Falls, as well as comprehensive tourist infrastructure. The most well-known paths are called Macuco and Poço Preto, not to mention the highway and roads along
As aves exercem importante papel na floresta e suas populações flutuam quantitativamente, em razão principalmente da oferta de recursos alimentares. As aves são disseminadoras de sementes de várias plantas, que vão regenerar a comunidade vegetal e também favorecer a alimentação de outros animais terrícolas.
the buildings that can also be used, provided the internal
Como a Classe Aves está dividida artificialmente em Não Passeriformes e Passeriformes, cada grupo contém respectivamente 38 e 17 famílias distintas, sendo a mais rica em espécies a família Tyrannidae, com 81 táxons.
the plant community and also benefit other land animals.
regulations of the environmental agency that manages the Park are complied with. Birds play an important role in the forest, and the size of their population fluctuates especially because of food availability. Birds disseminate the seeds of different plants that will recover
As the birds are artificially divided into Non-Passeriformes and Passeriformes, each group contains respectively 38 and 17 distinct families, the most expressive of which in number of species is the Tyrannidae family with 81 taxa.
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As aves são disseminadoras de sementes de várias plantas, que vão regenerar a comunidade vegetal e também favorecer a alimentação de outros animais terrícolas. Birds disseminate the seeds of different plants that will recover the plant community and also benefit other land-borne animals.
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Nessa comunidade de aves, existem espécies típicas do chão da floresta do parque, como o macuco (Tinamus solitarius), o inambu (Crypturellus spp.) e o uru (Odontophorus capueira), que são perceptíveis mais pelas suas vocalizações inconfundíveis do que por uma rara aparição ao visitante observador de aves. No interior da mata, além de muitos passeriformes, é notável a juruva (Baryphtengus ruficapillus), pela beleza e também pelo hábito de escavar buracos no chão para nidificar. Um grupo de aves difícil de ser percebido é o das corujas, por terem em sua maioria hábitos noturnos, como também o dos curiangos, bacuraus e urutaus, que também são crepusculares. São 13 espécies de corujas e 11 de caprimulgiformes vistos ao entardecer nos caminhos e estradas do Parque Nacional do Iguaçu.
Within this bird community, there are species that typically dwell on the ground of the Park’s forest, such as the Solitary Tinamou (Tinamus solitarius), many species of tinamous (Crypturellus spp.) and the Spot-winged Wood Quail (Odontophorus capueira) that are identified by their unique call rather than by the rare sighting by bird watchers. In the forest interior besides many Passeriformes, is remarkable the Rufous Motmot (Baryphtengus ruficapillus), which is outstanding for their beauty and for building nests in holes they dig in the ground. Owls are hardly ever seen in the forest, as they have nocturnal habits, similar to the Long-trained Nightjar, the Common Pauraque and the Common Potoo, which are also crepuscular, and night birds. There are 13 owl species and 11 Caprimulgiformes that can be seen at dusk along the paths and roads of the Iguassu National Park.
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Muitas aves aquáticas ocorrem ao longo dos rios, que podem ser hábitat para o raro pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), que necessita de cursos de água rasos, límpidos e com correnteza. São comuns sobre os rios os martins-pescadores, biguás e biguatingas, que mergulham para capturar suas presas e, após saciar a fome, pousam para descanso em galhos e troncos das margens dos rios e em pedras. Em águas rasas, muitas espécies de garças são encontradas no parque, sendo as mais abundantes a garça-branca (Ardea alba), a garcinha-branca (Egretta thula), os socós (Butorides striata) e o socó-dorminhoco (Nycticorax nycticorax). Entre os ardeídeos, é importante a ocorrência do socójararaca (Tigrisoma fasciatum), muito raro e com escassos registros para o Estado do Paraná, cabendo a essa unidade de conservação a tarefa de proteger a espécie. Apesar de haver muitos registros de espécies limícolas e aquáticas, a limitação da riqueza e abundância nesse grupo de aves deve-se à ausência, nesse parque nacional, de hábitats aquáticos de grande porte, como lagos, lagoas, banhados e brejos extensos. A existência de pesquisas in loco por longos períodos e a utilização de certos métodos de pesquisa, com uso de armadilhas fotográficas para mamíferos, revelaram recentemente a ocorrência de gaviões raros no sul do Brasil e habitantes de florestas bem preservadas. No ano de 2010, um exemplar de gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) foi fotografado no chão da antiga Estrada do Colono, um dos poucos registros documentados para essa espécie no Paraná. Entre as famílias que atualmente compõem a Ordem dos Falconiformes, podem ser encontradas 40 espécies de gaviões e falcões, incluindo a harpia (Harpia harpyja) e a magnífica águia-cinzenta (Harpyhaliaetus coronatus), registrada em 2004 na foz do Rio Gonçalves Dias. Uma das espécies mais importantes para a qual devem ser direcionadas atitudes conservacionistas é a jacutinga (Pipile jacutinga), cracídeo muito ameaçado pela caça em toda a sua área de ocorrência. Trata-se de ave pouco conspícua, pois habita o dossel da floresta e vem ocasionalmente ao chão para, entre outras coisas, espojar-se ou beber água do Rio Iguaçu, fato pessoalmente observado. Em novembro de 2010, um exemplar da espécie foi fotografado nas imediações do Hotel das Cataratas, pousado em uma imbaúba para consumir seus frutos.
Many aquatic birds live along the river banks, which can be the habitat of the rare Brazilian Merganser (Mergus octosetaceus) that needs shallow, limpid and flowing waters. The kingfishers and cormorants are also typically found flying or perched above rivers, where they dive to fish and rest on tree branches, trunks, and on rocks at their margins. Different species of egrets live along the Park’s shallow waters, where the most numerous are the Great Egret (Ardea alba), the (Egretta thula), the Striated Heron (Butorides striata) and the Black-crowned Night Heron (Nycticorax nycticorax). Of the Family Ardeidae, one of the most important species is the rare Fasciated Tiger-Heron (Tigrisoma fasciatum), which has scarce records in the State of Paraná, and this conservation unit is responsible for protecting it. Despite many records of waders and aquatic species, they number is limited due to the lack of great aquatic habitats in the Park, such as extensive lakes, lagoons, swamps and marshes. Extensive in situ research and the application of certain research method using wildlife camera traps recently revealed the occurrence of rare species of hawks in southern Brazil, inhabitant of well-preserved forests. In 2010, an Ornate Hawk-eagle (Spizaetus ornatus) was photographed on the ground at the old road called Estrada do Colono, and this is one of the very few records of this species in Paraná. Of the families that currently make up the Order Falconiformes , there are 40 species of hawks and falcons, including the Harpy Eagle (Harpia harpyja) and the magnificent Crowned Solitary Eagle (Harpyhaliaetus coronatus), recorded in 2004 at the mouth of the Gonçalves Dias river. One of the most important species that should be addressed by conservationist measures is the Black-Fronted PipingGuan (Pipile jacutinga) of the family Cracidae, threatened with extinction because of hunting that takes place in its area of occurrence. This is an inconspicuous bird, given it dwells on tree canopies and only flies to the ground occasionally to bathe in or drink from the Iguassu River, which I was fortunate to observe. In November 2010, one
Também na família Cracidae, representada por quatro espécies, a possibilidade de ocorrer o mutum-de-penacho (Crax fasciolata) na atualidade seria uma grande descoberta.
such bird was photographed near the Hotel das Cataratas sitting on the branch of an imbaúba tree eating its fruit. Currently, the sighting of a Bare-Faced Curassow (Crax fasciolata), which is one of the four species of the Family Cracidae, would be a great discovery.
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Uma das famílias mais importantes na comunidade de aves do Parque Nacional do Iguaçu é sem dúvida a das Psittacidae, que também guarda espécies ameaçadas localmente, como é o caso das duas grandes araras, a canindé (Ara ararauna) e a arara-vermelha (Ara chloropterus). Alguns exemplares foram avistados pelo autor nas imediações do parque, no final da década de 60, em propriedades rurais às margens da Rodovia das Cataratas.
One of the most important families of the bird community of the Iguassu National Park is unquestionably the Psittacidae, which also includes species locally threatened with extinction, such as two large macaws: the Blue-and-yellow Macaw (Ara ararauna) and the Red-and-green Macaw (Ara chloropterus). A few macaws were sighted by the author near the Park in
Certamente 13 espécies de psitacídeos ocorrem no parque e suas imediações; outras quatro têm ocorrência duvidosa e carecem de comprovação. Entretanto, para quem visita o parque, é muito fácil ver tirivas (Pyrrhura frontalis), bandos de periquitão (Aratinga leucophthalmus), baitacas (Pionus maximiliani) e tuins (Forpus xanthopterygius) ao longo dos caminhos que levam às cataratas. Nesses caminhos, destaca-se a presença do tucano-toco (Ramphastos toco), o maior representante da família Ramphastidae, que conta com seis espécies, sendo os araçaris (Selenidera maculirostris) e o araçaride-bico-preto (Pteroglossus castanotis) encontrados facilmente nas áreas destinadas ao turismo. Entre os Passeriformes, distribuídos em 17 famílias distintas, cujas espécies ocorrem em quase todos os hábitats desse parque, de forma muito evidente, estão os guaxes (Cacicus haemorrhous), que, sem se inibirem com a quantidade de pessoas que circulam no parque, constroem seus ninhos em palmeiras e outras árvores, formando grandes colônias. Ao olhar atento do visitante não passará despercebida uma série de pássaros, como o bem-te-vi, suiriri, sanhaço, saíra e saí, em especial a saí-andorinha (Tersina viridis), pela intensa cor azul e verde de machos e fêmeas. Não faltam gaturamos e tiés, canários, sabiás, coleiros e gralhas, das quais duas espécies podem ser avistadas no parque. De forma especial, muitas espécies de beija-flores ocorrem no Parque Nacional do Iguaçu: cerca de 15 espécies dessas magníficas aves podem ser avistadas enquanto retiram das flores seu alimento.
the late ‘60s, in rural properties along the Cataratas highway. There are, for sure, 13 parrot species dwelling in the Park and near it, but the occurrence of four additional species is questionable and lacking in proof. However, Park visitors can frequently observe the Maroon-bellied Parakeet (Pyrrhura frontalis), flocks of the White-eyed Parakeets (Aratinga leucophthalmus), the Scaly-headed Parrot (Pionus maximiliani) and the Bluewinged Parrotlet (Forpus xanthopterygius) along the pathways that lead to the falls. These pathways also abound with the Toco Toucan (Ramphastos toco), which is the most outstanding representative of the Family Ramphastidae that comprises six species, where the Spot-billed Toucanet (Selenidera macu lirostris) and the Chestnut-eared Aracari (Pteroglossus castanotis) are found in large numbers in tourist-dedicated areas. Passeriformes are divided into 17 distinct families, and their species dwell in all of the Park’s habitats, the most outstanding of which are: the Red-rumped Cacique (Cacicus haemorrhous), which is far from shy of visitors, building their nests on palm trees and other trees where they form large colonies. The attentive visitor cannot fail to observe many different birds, such as Great Kiskadees, Tropical Kingbirds, Sayaca Tanagers, Burnished-buff Tanagers and Blue Dacnis, mainly SwallowTanagers (Tersina viridis), because of their bright blue and green plumage that occurs both on male and female species. There is no shortage of Blue-naped Chlorophonias and Brazilian tanagers, canaries, Rufous-bellied Thrushes, and two species from the Family Cyanocorax in the Park. Different species of hummingbirds particularly dwell in the
Como unidade de conservação, esse parque nacional exerce uma função primordial, além de proporcionar ao visitante a oportunidade de avistar muitas aves. Com características diferenciadas de comportamento e uso de ambiente, a comunidade de aves deve ser preservada para que as gerações futuras de visitantes encontrem nesse local inúmeros motivos para apreciar essa magnífica floresta.
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Iguassu National Park: some 15 species of these magnificent birds can be seen feeding from flowers. The Park’s plays a fundamental role as a conservation unit and also provides visitors with the chance of seeing many birds. Each bird community has their own characteristics and behavior that must be preserved for future generations to find in the Park their own reason to enjoy this magnificent forest.
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A garรงa-moura, maguari, Ardea cocoi, vive na beira aberta de lagoas como esta, no Parque Nacional do Iguaรงu. The Cocoi Heron, Ardea cocoi, dwells at the shore of lagoons like this one in the Iguassu National Park.
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garรงa-branca-grande, Ardea alba Great Egret, Ardea alba
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garรงa-branca-pequena, Egretta thula Snowy Egret, Egretta thula
biguatinga, Anhinga anhinga Anhinga, Anhinga anhinga
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urubu-de-cabeรงa-vermelha, Cathartes aura Turkey Vulture, Cathartes aura
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A carúncula carnosa amarelo-alaranjada é uma das características do belo urubu-rei, Sarcoramphus papa. The yellow-orange fleshy caruncle on its beak is one of the characteristics of the King Vulture, Sarcoramphus papa.
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O gavião-real, Harpia harpyja, habitante do Parque Nacional do Iguaçu, é a mais poderosa ave de rapina da Terra. The Harpy Eagle, Harpia harpyja, that dwells in the Iguassu National Park is the most powerful bird of prey on Earth.
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gavi達o-pega-macaco, Spizaetus tyrannus Black Hawk-Eagle, Spizaetus tyrannus
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gavi達o-pato, Espizaetus melanoleucus Black-and-white Hawk-Eagle, Espizaetus melanoleucus
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gavi達o-de-penacho, Espizaetus ornatus Ornate Hawk-Eagle, Espizaetus ornatus
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O caracará, Caracará plancus, é muito comum no Parque. Onívoro, alimenta-se tanto de animais vivos como mortos. The Southern Caracara, Caracará plancus, can be seen frequently in the Park. It is an omnivorous species that feeds upon both live and dead animals.
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jacutinga, Aburria jacutinga Black-fronted Piping-Guan, Aburria jacutinga
jacuaรงu, Penelope obscura Dusky-legged Guan, Penelope obscura
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saracura-do-mato, Aramides saracura Slaty-breasted Wood-Rail, Aramides saracura
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suindara, Tyto alba Barn Owl, Tyto alba
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coruja-orelhuda, Rhinoptynx clamator Striped Owl, Rhinoptynx clamator
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Este belo papagaio-de-peito-roxo, Amazona vinacea, espécie ameaçada pela caça de contrabando e destruição do hábitat, ainda encontra abrigo na floresta ombrófila mista do Parque. This beautiful Vinaceous Parrot, Amazona vinacea, is an endangered species because of illegal trapping for contraband and the destruction of its habitat. It can still find shelter in the Park’s mixed ombrophyle forest.
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\ O andorinhão-velho-da-cascata, Cypseloides senex, nidifica nas rochas atrás das quedas e, em bandos, voeja sob o arco-íris que se forma nas Cataratas do Iguaçu.
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The Great Dusky Swift, Cypseloides senex, builds its nest on rocks behind the waterfalls and flies in flocks above the rainbows formed by the Iguassu Falls.
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surucuรก-variado, Trogon surrucura Surucua Trogon, Trogon surrucura
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martim-pescador-pequeno, Chloro ceryle americana Green Kingfisher, Chloro ceryle americana
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pica-pau-rei, Campephilus robustus Robust Woodpecker, Campephilus robustus
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pica-pau-de-cabeรงa-amarela, Celeus flavescens Blond-crested Woodpecker, Celeus flavescens
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Tucano-toco, ranphastos toco Tucano-toco, ranphastos toco
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Tucano-de-bico-verde, ranphastos dicolorus Red-breasted Toucan, ranphastos dicolorus
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guaxe, Cacicus haemorrhous Red-rumped Cacique, Cacicus haemorrhous
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gralha-picaรงa, Cyanocorax chrysops Plush-crested Jay, Cyanocorax chrysops
gralha-azul, Cyanocorax caeruleus Azure Jay, Cyanocorax caeruleus
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tangará, Chiroxiphia caudata Blue Manakin, Chiroxiphia caudata
tiê-de-topete, Lanio melanops Black-googled Tanager, Lanio melanops
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A plumagem colorida do uirapuru-laranja, Pipra fasciicauda, contrasta com o verde cambiante da floresta. The variegated plumage of the Band-tailed Manakin, Pipra fasciicauda, is contrasting with the many hues of green of the forest.
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tico-tico-rei, Lanio cucullatus Red-crested Finch, Lanio cucullatus
tico-tico, Zonotrichia capensis Rufous-collared Sparrow, Zonotrichia capensis
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gaturamo verdadeiro, Euphonia violacea (macho e fĂŞmea) Violaceous Euphonia, Euphonia violacea (male and female)
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cambacica, Coereba flaveola Bananaquit, Coereba flaveola
saĂra-preciosa, Tangara preciosa Chestnut-backed Tanager, Tangara preciosa
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saĂra-sete-cores, Tangara seledon Green-headed Tanager, Tangara seledon
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pomba-de-bando, Zenaida auriculata Eared Dove, Zenaida auriculata
A sabiá-laranjeira, Turdus rufiventris, ave símbolo do Brasil, emite um belíssimo canto que se assemelha ao som de uma flauta. The Rufous-bellied Thrush, Turdus rufiventris, is the national bird of Brazil. It’s beautiful singing sounds like a flute.
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sabiรก-coleira, Turdus albicollis White-necked Thrush, Turdus albicollis
sabiรก-do-campo, Mimus saturninus Chalk-browed Mockingbird, Mimus saturninus
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cardeal, Paroaria coronata Red-crested Cardinal, Paroaria Coronata
bem-te-vi, Pitangus sulphuratus Great Kiskadee, Pitangus sulphuratus
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canรกrio-da-terra-verdadeiro, Sicalis flaveola Saffron Finch, Sicalis flaveola
sanhaรงu-do-coqueiro, Tangara palmarum Palm Tanager, Tangara palmarum
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saí-azul, Dacnis cayana (macho) Blue Dacnis, Dacnis cayana (male)
saí-azul, Dacnis cayana (fêmea) Blue Dacnis, Dacnis cayana (female)
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araponga, Procnias nudicollis Bare-throated Bellbird, Procnias nudicollis
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beija-flor-de-veste-preta, Anthracothorax nigricollis Black-throated Mango, Anthracothorax nigricollis
beija-flor-de-banda-branca, Amazilia versicolor Versicolored Emerald, Amazilia versicolor
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beija-flor-de-orelha-violeta, Colibri serrirostris White-vented Violetear, Colibri serrirostris
beija-flor-de-fronte-violeta, Thalurania glaucopis Violet-capped Woodnymph, Thalurania glaucopis
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Parque das aves Idealizado para promover a preservação e educação ambiental, o Parque das Aves, próximo ao Parque Nacional do Iguaçu, mantém cerca de 800 aves de 150 espécies. Esse interessante parque temático abriga também aves ameaçadas de extinção, de vários hábitats de todo o planeta. Com suas formas e belíssimas plumagens coloridas, elas encantam os visitantes, principalmente em momentos singulares como estes, magicamente eternizados pela fotografia.
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The Bird Park The Bird Park was created to foster preservation and environmental education. It is located near the Iguassu National Park, where some 800 birds and 150 species dwell. This interesting theme park also houses birds threatened with extinction from different habitats worldwide. They astound visitors with their beautiful forms and multicolored plumage, especially in unique moments like things, magically captured for eternity by a picture.
arara-canindĂŠ, Ara ararauna Blue-and-yellow Macaw, Ara ararauna
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One of the most important families of the bird community of the Park is unquestionably the Psittacidae, which also includes species locally threatened with extinction, such as two large macaws: the Blue-and-yellow Macaw (Ara ararauna) and the Red-and-green Macaw (Ara chloropterus).
arara-vermelha-grande, Ara chloropterus Red-and-green Macaw, Ara chloropterus
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Uma das famílias mais importantes na comunidade de aves do Parque é sem dúvida a das Psittacidae, que também guarda espécies ameaçadas localmente, como é o caso das duas grandes araras, a canindé (Ara ararauna) e a araravermelha (Ara chloropterus).
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arara-canindĂŠ, Ara ararauna Blue-and-yellow Macaw, Ara ararauna
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arara-vermelha-grande, Ara chloropterus Red-and-green Macaw, Ara chloropterus
tiriba-de-orelha-branca, Pyrrhura leucotis Maroon-faced Parakeet, Pyrrhura leucotis
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ararajuba, Guaruba guarouba Golden Parakeet, Guaruba guarouba
papagaio-de-cara-roxa, Amazona brasiliensis Red-tailed Parrot, Amazona brasiliensis
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Nilton C. Cáceres
O
Mami´feros
s mamíferos do Parque Nacional do Iguaçu representam uma significativa parte da fauna local, que muito tem contribuído para a atração de turistas à região. No Parque existe uma população de onças-pintadas (Panthera onca), grande mamífero carnívoro que sozinho é capaz de chamar a atenção do público local e visitante. Evidentemente há muitas outras espécies que, por serem diurnas, são conhecidas pelo público, como o quati (Nasua nasua), o macaco-prego (Cebus nigritus) e o bugio (Alouatta guariba). Sendo notórias ou não aos nossos olhos, algumas podem servir como espécies-bandeira, ou seja, aquelas que sozinhas atraem a atenção do público em função do seu valor ecológico, pois onde elas existem há uma gama muito grande de espécies, que de certa forma são subordinadas a sua presença. O Parque Nacional do Iguaçu destaca-se por ser um dos últimos redutos da onça-pintada no sul e leste do Brasil, aliando a fauna à conservação ambiental e ao ecoturismo.
Mammals
Os quatis, Nasua nasua, um dos símbolos do PNI, são facilmente observados pelos visitantes. Dormem no alto das árvores, enrolados como uma bola, e não descem antes do amanhecer. The Coati, Nasua nasua, is one of the symbols of the PNI, and is easily seen by visitors. They sleep on tree tops rolled up as a ball, only to come down at dawn.
The local fauna of the Iguassu National Park is significantly comprised of mammals, which are a major attraction for the visitors. There is the jaguar (Panthera onca) – the largest Brazilian carnivorous mammal that alone can attract many tourists. Other species with diurnal habits are well-known to visitors, such as the coati (Nasua nasua), the capuchinmonkey (Cebus nigritus) and the howler-monkey (Alouatta guariba). However, regardless of how much attention they may or may not call, some are flagship species given their ecological significance. Their presence entails the existence of many other species that are also subordinated to them. The Iguassu National Park is outstanding for being one of the last refuges of the Jaguar in southern and eastern Brazil, associating the fauna to environmental conservation and to ecotourism.
O Parque Nacional do Iguaçu comporta uma rica fauna de mamíferos das mais variadas formas, alcançando um total de 76 espécies catalogadas e um total estimado de 90 espécies, se mais pesquisas forem realizadas no interior do Parque. Do total até então catalogado, entre as principais espécies, 25 são de morcegos, 16 são de roedores, 14 são de carnívoros e 9 são de marsupiais. Como esperado para essa região do planeta, a grande maioria das espécies é de pequeno ou médio porte, como os morcegos, ratos-do-mato e marsupiais. Do mesmo modo, a maioria também é críptica com o ambiente, ou seja, usa de hábitos sorrateiros para não ser observada, maximizando sua sobrevivência. Isso inclui o hábito noturno e muitas vezes arborícola, o que dificulta sua localização pelo ser humano e mesmo a predação por mamíferos carnívoros e aves de rapina.
The Iguassu National Park harbors a great mammal diversity, where 76 species have been recorded of an estimated total of 90 species, if more surveys were carried out in the heartland of the Park. Of the total that has been recorded, 25 are bats, 16 are rodents, 14 are carnivores and 9 are marsupials. As expected for this part of our planet, most species range from small to medium size, such as bats, rodents and marsupials. Likewise, most species are also cryptic to the environment, i.e. they are stealthy in their habitats to maximize their survival. They are usually nocturnal and can dwell in trees, which makes difficult their observation in the field by human beings,
Mas a fauna de mamíferos do Parque Nacional do Iguaçu também é composta de mamíferos de maior porte, como a já mencionada onça-pintada, a onçaparda, o lobo-guará, a anta (o maior mamífero brasileiro), porcos-do-mato (cateto e queixada) e veados. Infelizmente, mesmo por serem mais aparentes, essas espécies maiores de mamíferos têm sido alvo de caça e perseguição, o que pode pô-las em risco de sobrevivência. Se esses problemas forem contornados, as populações de mamíferos poderão viver em harmonia no interior do Parque, já que delas também o Parque depende em longo prazo para a manutenção de toda a biota. Essas grandes e pequenas espécies de mamíferos desempenham papel crucial na manutenção da floresta, através de relações ecológicas entre elas próprias e entre elas e o meio ambiente.
and even by carnivore mammals and birds of prey. However, the fauna of the Iguassu National Park also includes larger mammals, such as the jaguars, cougars, maned wolves, tapirs (the largest Brazilian mammal), peccaries and deer. Unfortunately, because they are more visible, these larger mammals are hunted and persecuted, and their survival is at risk. If these issues are overcome, the population of mammals will be able to live in harmony within the Park, as the Park depends of them in long-term to the maintenance of all biota. Both large and small species of mammals play a crucial role in maintaining the forest through the ecological relationship between themselves
Como a diversidade de espécies de mamíferos no Parque é elevada, essas espécies têm de dividir o espaço, de modo a não se sobrepor a outra espécie, evitando assim a competição.
and between them and the environment.
Assim, as espécies no Parque exibem nichos que são particulares delas mesmas e ocupam micro-hábitats específicos. Esse é o caso, por exemplo, das arborícolas, que passam a maior parte do tempo vivendo no alto das árvores, como algumas espécies de roedores e marsupiais, além de primatas. Por outro lado, há as que vivem no chão da floresta - onde exploram o folhiço, rico em alimentos como os insetos (consumidos pelo gambá Didelphis aurita) - e há aquelas que dividem o espaço, ocupando áreas mais úmidas e sombreadas (como o tatugalinha Dasypus novemcinctus e a paca Cuniculus paca) ou mais secas (cotia Dasyprocta azarae), mais densas (irara Eira barbara) ou menos densas (veados do gênero Mazama) em vegetação de sub-bosque.
competing with each other.
Em termos de conservação da biodiversidade, mesmo que uma relação ecológica seja à primeira vista prejudicial, como por exemplo a predação de um cateto por uma onça-pintada, na verdade essa relação é positiva, pois faz com que, por um lado, a onça sobreviva e, por outro, mesmo com a morte de uma presa como o cateto, essa espécie de ungulado onívoro tenha plenas condições populacionais de suportar tais perdas como a exemplificada.
Given the high diversity of mammal species in the Park, they have to share the same space without interfering and
Thus, species dwelling in the Park have their own niches and live in specific micro-habitats. This is the case of tree-dwelling species that spend most of their time on tree tops, such as arboreal rodents, marsupials and primates. On the other hand, some species, like the opossum Didelphis aurita, live on the ground, where they find their food in the litter that is rich in insects. The nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus) and the paca prefer humid and shaded sites, while the agouti (Dasyprocta azarae) thrives in dryer ones. The tayra (Eira barbara) lives in sites where plant cover is denser, while the deer (genus Mazama) prefers more open vegetation. With regard to conservation of biodiversity, when an ecological interaction appears to be negative, such as the predation of a collared peccary (Pecary tajacu) by the Jaguar, in fact it will be positive to the environment, because it allows the jaguar to survive and, on the other hand, even with the death of the peccary, these ungulates are adapted to support some individual losses by natural predation.
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Mamíferos onívoros e herbívoros são abundantes na natureza, desde que a espécie humana não interfira sobre eles negativamente, como através da caça ilegal. Além da predação que animais carnívoros (onças, gatos-do-mato) e afins (quati, graxaim, gambá) fazem sobre animais menores, há outros tipos de interações ecológicas, como a dispersão de sementes e a polinização que os mamíferos fazem. Desde mamíferos de maior tamanho, como a anta (Tapirus terrestris), até pequenas espécies, como morcegos frugívoros e gambás, a gama de dispersores de sementes no Parque é grande. Isso ocorre com muitos morcegos, como o morcego-beija-flor (Glossophaga soricina), que poliniza diversas espécies de plantas. Tanto a dispersão de sementes quanto a polinização de flores são de crucial importância para a manutenção de uma floresta madura, como é a do Parque Nacional do Iguaçu.
Omnivorous and herbivorous mammals are abundant in nature, provided that human beings do not intervene negatively with their existence by illegally hunting them. In addition to carnivore animals (jaguars, wild cats) and other species (coati, crab-eating fox, opossum) that are the predators of smaller animals, mammals also perform other kinds of ecological interactions, such as seed dispersal and the pollination of plants. The former is made both by large animals like the tapir (Tapirus terrestris) and other smaller species, which includes fruit-eating bats and opossums. The latter is also carried out by different species of bats, like the long-tongued bat (Glossophaga soricina). Both seed dispersal and pollination
Além do valor ecológico, muitas espécies de mamíferos do Parque possuem outros tipos de valor, como o relacionado à sua vulnerabilidade no ambiente, já que o Parque Nacional é um dos últimos redutos onde muitas espécies vivem no sul do Brasil e países adjacentes. O grau de ameaça de uma espécie está relacionado, de modo geral, a quantos indivíduos ainda existem em uma região - se são abundantes ou raros ali - e à saúde desses indivíduos. Assim, com sua grande extensão em área territorial, o Parque pode sustentar muitas das espécies que comporta atualmente por longo prazo, principalmente para as espécies pequenas já mencionadas, mas a situação pode ser complicada para as espécies de maior porte, como a onça-pintada, em que cada indivíduo necessita de uma área muito grande para sobreviver. Felizmente, esforços para conservá-la estão sendo feitos, além dos esforços sobre outras espécies vulneráveis à extinção, e o fato de o Parque brasileiro ter continuidade com o lado argentino, onde há o Parque Nacional de Iguazú, de proporções similares, reforça de maneira significativa o valor ecológico e conservacionista do Parque Nacional do Iguaçu.
of flowers are vitally important to preserve a mature forest like that present in the Iguassu National Park. In addition to their ecologic value, many species of mammals in the Park are important because they are vulnerable to extinction. The Park is one of the last refuges for many species that occur in southern Brazil and neighboring countries. In general, what defines if a species is threatened or not depends on how many individuals there are in a given region – whether they are abundant or rare – and their health. Because the Park covers a wide territory, it will be capable of maintaining many of the existing species for a long period of time, especially the aforementioned smaller species. However, this condition may not be ideal for larger species, such as the jaguar, which require extensive areas to survive. Fortunately, actions to preserve the jaguar are being endeavored, as well as for other vulnerable species. The ecological and conservationist value of the Iguassu National Park is even more important due to fact that both the Brazilian Park and the Argentinean Iguazú National Park occupy one vast uninterrupted territory, both with approximately the same area.
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A onça-pintada, Panthera onca, símbolo do Parque Nacional do Iguaçu, é o animal mais importante da Floresta Atlântica e de suas subformações, como a floresta estacional semidecidual do Parque. Por ser o ápice da cadeia alimentar desse bioma, atua no controle e aprimoramento genético das outras espécies. The Jaguar, Panthera onca, symbol of the Iguaçu National Park, is the most important animal of the Atlantic Rainforest and its sub formations, such as the Park’s semidecidual seasonal forest. It stands at the top of this biome’s food chain, as it is responsible for carrying out the genetic control and improvement of other species.
onça-parda, Puma concolor Cougar, Puma concolor
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gato-do-mato-pequeno. Leopardus tigrinus Oncilla, Leopardus tigrinus
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O cachorro-do-mato-vinagre, Speothus venaticus, é considerado pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) como um dos canídeos mais ameaçados de extinção no Brasil. Habita a floresta do Parque Nacional do Iguaçu e é muito difícil de ser visto. Abriga-se em tocas (como na foto), em troncos de árvores e em buracos abertos por tatus de grande porte, sempre próximo à água. The Bush dog, Speothus venaticus, is considered by the International Union for Conservation of Nature (IUCN) as one of the canids most threatened with extinction in Brazil. It dwells in the forest of the Iguassu National park and is seldom seen. It takes refuge in burrows (as in the picture), in tree trunks and holes made by large armadillos, always near the water.
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quati, Nasua nasua South American Coati, Nasua nasua
O macaco-prego, Cebus nigritus, habita o Parque Nacional do Iguaçu, no Brasil, e o Parque Nacional del Iguazú, na Argentina. Vive em bandos de até 50 indivíduos e é considerado o primata mais inteligente das Américas. Utiliza ferramentas, como pedras, para quebrar cocos e nozes, e varetas para capturar larvas de insetos e mel em ocos de árvores. The Capuchin monkey, Cebus nigritus, dwells in the Iguaçu National Park in Brazil, and in Iguazú National Park in Argentina. It lives in bands of as many as 50 individuals and is considered the most intelligent primate of the Americas. It uses tools, such as rocks, to break open coconuts and nuts, and sticks to capture larvae and insects, and the honey that is trapped in hollow trees.
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cuĂca-de-quatro-olhos-cinza, Philander frenatus Gray four-eyed opossum, Philander frenatus
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cuĂca-lanosa, Caluromys lanatus Western woolly Opossum, Caluromys lanatus
ouriço-cacheiro, Sphiggurus villosus Spined-hairy dwarf Porcupine, Sphiggurus villosus
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tamanduรก-bandeira, Myrmecophaga tridactyla Giant Anteater, Myrmecophaga tridactyla
tamanduรก-mirim, Tamandua tetradactyla Collared Anteater, Tamandua tetradactyla
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tatĂş-galinha, Dasypus novemcinctus Nine-banded armadillo, Dasypus novemcinctus
serelepe, Sciurus aestuans Brazilian squirrel, Sciurus aestuans
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O veado-catingueiro, Mazama gouazoubira, habita as matas densas do Parque mas pode ser encontrado também em campos abertos como nesta foto. A cada gestação a fêmea tem um único filhote que pesa cerca de 500g. Sua pelagem é marrom, salpicada de pintas brancas distribuídas pelos flancos. The Grey Brocket Dear, Mazama gouazoubira, dwells in the dense woods of the Park, but can also be seen in open fields, like in this picture. The doe has only one fawn per gestation, which weighs approximately 500g. They have brown coats dappled with white spots on the flanks.
veado-bororó, Mazama nana Dwarf-brocket Deer, Mazama nana
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A capivara, Hydrochoerus hydrochaeris, é o maior roedor do planeta. Vive em bandos no Parque Nacional do Iguaçu. Sua gestação dura em torno de quatro meses, dando origem geralmente a quatro filhotes. The Capybara, Hydrochoerus hydrochaeris, is the largest rodent in the planet. It lives in packs in the Iguaçu National Park. Gestation period last approximately four months and they usually give birth to four cubs.
cutia, Dasyprocta azarae Agouti, Dasyprocta azarae
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anta, Tapirus terrestris Lowland Tapir, Tapirus terrestris
cateto, Pecari tajacu Collared peccary, Pecari tajacu
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O morcego-das-frutas, Artibeus lituratus (acima), e o morcegobeija-flor, Glossophaga soricina (ao lado), são os grandes polinizadores da noite. Dispersam sementes, polinizam plantas e controlam a população de insetos. Estes mamíferos alados são muito importantes tanto para o equilíbrio e manutenção das florestas quanto para a recuperação de áreas degradadas. The Great Fruit-eating Bat, Artibeus lituratus (top), and the Nectar-feeding Bat, Glossophaga soricina (right), are important night pollinizers. They disperse seed, pollinize plants and control insect populations. Both these species of winged mammals play a major role in the equilibrium and maintenance of forests and in the recovery of degraded areas.
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Julio Cesar de Moura-Leite
O
Re´pteis
Parque Nacional do Iguaçu abriga uma diversidade significativa de espécies de répteis. Um passeio por suas inúmeras trilhas permitirá ao visitante atento observar, dentro do Parque e nos arredores, algumas das cerca de 50 espécies que ocorrem naquela região. A herpetofauna local constitui um mosaico de elementos, sendo composta por espécies características das florestas de baixa altitude, espécies típicas de áreas mais altas ocupadas pela floresta ombrófila mista (floresta com araucárias), algumas formas associadas a formações abertas e espécies aquáticas ou semiaquáticas, cuja dispersão encontrase associada ao curso dos grandes rios do oeste do Paraná, além de espécies de ampla distribuição no Estado e no país1. Nesse contexto, predominam as espécies de serpentes, mas também podem ser observadas algumas de lagartos, incluindo os anfisbênidos (mais conhecidos como cobras-de-duas-cabeças), quelônios e mesmo jacarés.
Reptiles
As cobras-d'água, Liophis miliaris, caçam na água mas abrigam-se também no chão ou em pequenos arbustos como nesta helicônia.
The Iguassu National Park harbors a great diversity of reptile species. The observant visitor will be able to spot some of the 50 recorded species in a walk along one of the Park’s many trails. Local herpetofauna is a mosaic of elements, comprised by species that are typical of low altitude stationary forests, species that are typical of the higher areas covered with Mixed ombrophilous forest (Araucaria forest), some typical types of open formations and aquatic or semi-aquatic formations. Their dispersion is associated with the course of the great rivers in the west of Paraná, as well as species widely distributed in the State and in Brazil1. Within this context, the predominant species are snakes, but some lizards can also be found, including the Amphisbaenidae (best known as worm lizards), turtles and even alligators.
Water-snakes, Liophis miliaris, go hunting in the water but they also seek shelter on the ground or in small bushes like this heliconia.
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Os jacarés compõem um pequeno grupo de sete espécies amplamente distribuídas nas Américas Central e do Sul, das quais seis ocorrem em território brasileiro. Na região do Parque, é comum observar a presença de apenas uma espécie, o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), que aparece normalmente nos rios, lagos e áreas de várzea. Normalmente, as fêmeas cuidam dos ninhos e dos filhotes após a eclosão dos ovos. Constroem os ninhos nessas várzeas, longe de áreas habitadas, amontoando terra e gravetos e depositando em torno de 30 ovos, que são incubados aí por cerca de dois meses. Poucos ovos vingam, e os nascimentos ocorrem geralmente no final do verão. Jacarés-de-papo-amarelo são predadores oportunistas e generalistas, alimentando-se de invertebrados (principalmente insetos, camarões e moluscos), peixes e pequenos vertebrados terrestres. São particularmente visados por caçadores da região, que apreciam a sua carne. O couro também é cobiçado por ter grande aceitação no exterior, sendo utilizado na fabricação de bolsas, cintos e vestimentas.
Alligators form a small group of seven species that are largely distributed in Central and South America, of which six occur in Brazilian territory. Within the Park, just one species is commonly observed – the Broad-snouted Caiman (Caiman latirostris) that usually dwells in rivers, lakes and floodplains. The female usually tends the nest and the hatchlings. They build their nests on floodplains, far from inhabited areas, where they pile earth and sticks to lay some 30 eggs, which are incubated for approximately 2 months. Hatching occurs late in the summer, where only a few eggs survive. The Broad-snouted Caiman is an opportunistic and generalist species that feeds upon invertebrates (especially insects, shrimps and mollusks) fish and small terrestrial vertebrates.
Os quelônios, ou Testudines, formam um grupo de quase 300 espécies de tartarugas, cágados e jabutis, amplamente distribuídas pelas áreas temperadas e tropicais do planeta. Esse grupo é caracterizado pela presença de um casco ósseo (também chamado de concha) geralmente bem desenvolvido, que protege as partes moles do corpo. São todos ovíparos. Quatro espécies encontram-se representadas no Parna Iguaçu e suas cercanias, três de cágados e uma de jabuti. O jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria) é uma espécie terrestre de ampla distribuição na América do Sul, e a região onde atualmente se encontra o Parque parece ser o limite meridional de ocorrência dessa espécie no Brasil, apesar de não existirem registros oficiais de sua presença ali. O mesmo pode ser dito em relação a uma espécie de cágado, Phrynops geoffroanus, amplamente distribuída no continente. Diferentemente dos jabutis, os cágados são quelônios de hábitos aquáticos, que normalmente só podem ser observados quando estão tomando sol sobre pedras ou troncos caídos às margens dos rios e lagos onde vivem. Mergulham e nadam rapidamente para o fundo como resposta à aproximação do observador. De maneira geral, esses animais se alimentam de invertebrados aquáticos, pequenos peixes e matéria vegetal. Duas outras espécies de cágados podem ser encontradas na região do Parque: uma delas, o cágado-pescoço-de-cobra (Hydromedusa tectifera), é amplamente distribuída no Estado do Paraná, podendo ser vista em rios de águas claras ou turvas, além de lagos e tanques artificiais. A outra espécie, o cágado-de-williams (Phrynops williamsi), distribui-se pelo sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina. Essa espécie encontra-se ameaçada de extinção no Paraná, aí ocorrendo exclusivamente na bacia do Rio Iguaçu. Seu declínio populacional está relacionado às alterações ambientais causadas pelos sucessivos barramentos e pela formação de reservatórios para o aproveitamento hidrelétrico do rio.
They are particularly coveted by local hunters because of their meat. Their skin is also highly valued because of the price it reaches in the foreign market, where they are used to make handbags, belts and clothes. Turtles or Testudines are a group of approximately 300 species of turtles, terrapins and tortoises, widely distributed in temperate and tropical regions. This species is characterized by a special bony shell that covers the soft body parts. They are oviparous. There are four species in the Iguassu Park and surrounding region - three turtle and one tortoise species. The Red-footed tortoise (Chelonoidis carbonaria) is a terrestrial species largely distributed in South America. The region where it dwells in the Park seems to be the Meridional limit of occurrence of this species in Brazil, although there are no official records of its presence in that area. Likewise, the Williams’side-necked turtle (Phrynops geoffroanus) is also greatly distributed in the continent. Unlike tortoises, turtles have aquatic habits and usually can be seen only when sunning themselves on rocks or fallen tree trunks along river banks or at the margin of lakes where they dwell. They dive and swim quickly to the bottom of the water when they notice they are being watched. In general, these animals feed upon aquatic invertebrates, small fish and plants. There are two other species of tortoises that dwell in the Park: the Snake-necked turtle (Hydromedusa tectifera) is largely distributed in the State of Paraná and can be observed in clear or muddy rivers, lakes and manmade ponds; the Williams’side turtle (Phrynops williamsi) is distributed in the south of Brazil, Uruguay, Paraguay and Argentina. The latter is threatened with extinction in Paraná, where it occurs exclusively in the Iguassu River Basin. Population decline is related to environmental changes caused by successive building of dams and reservoirs to use the river a as source for energy.
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jacarĂŠ-do-papo-amarelo, Caiman latirostris Broad-snouted Caiman, Caiman latirostris
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teiĂş, Tupinambis merianae Black and White Tegu, Tupinambis merianae
tigre-d'ĂĄgua-americano, Trachemys scripta elegans Black-belied Slider, Trachemys scripta elegans
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Os escamados formam o maior e mais diversificado grupo de répteis, tendo sido descritas mais de sete mil espécies no mundo. Quase 10% delas podem ser encontradas em território brasileiro, o que constitui excelente exemplo da megadiversidade faunística observada em nosso país. Entre os escamados, figuram os lagartos e dois outros grupos que deles se originaram, as serpentes e os anfisbênidos. Os anfisbênidos são lagartos ápodes (sem patas) similares às serpentes, adaptados à fossorialidade, ou seja, vivem sob a terra, onde geralmente se alimentam de pequenos invertebrados que localizam mediante o uso de um olfato apurado. Pelo menos três espécies do gênero Amphisbaena podem ser encontradas na área do Parque. No entanto, em função de permanecerem a maior parte do tempo sob a terra, raramente são vistas.
The largest and most diversified group of reptiles is Squamata (lizards and snakes), where over seven thousand species have been described worldwide. Approximately 10% occur in Brazil, which is a good example of the amazing fauna megadiversity of our country. Amphisbaenids are limbless lizards, similar to snakes in appearance. They are adapted to fossoriality, i.e. live the ground, usually feeding upon small invertebrates that they hunt using their highly-developed olfactory sense. There are at least three species of the genus Amphisbaena in the Park. However, they are rarely seen because they spend
Entre os lagartos mais facilmente observáveis, está a lagartixa-de-parede (Hemidactylus mabouia), uma espécie amplamente distribuída na América do Sul, que prefere viver em condições sinantrópicas, ou seja, em habitações humanas e outros tipos de construção, onde encontra facilmente grande quantidade de pequenos artrópodos que constituem a sua dieta e também abrigo adequado contra predadores. Essa espécie, originária da África, foi há muito introduzida no Brasil, ao qual pode ter chegado clandestinamente em navios negreiros, utilizados no tráfico de escravos. Já o teiú (Tupinambis merianae) pode ser encontrado em vários tipos de ambientes, incluindo as trilhas e áreas alteradas, onde se alimenta de invertebrados, pequenos vertebrados e matéria vegetal, que procura ativamente no solo, não dispensando a ingestão do lixo orgânico gerado pelos visitantes. A espécie é muito visada por caçadores em função da carne saborosa e da valorizada pele. Apesar disso, esse lagarto ainda é bastante comum dentro do Parque e nos arredores. Alguns calangos (Tropidurus torquatus) podem ser facilmente vistos na região, inclusive nas cataratas. Esses pequenos lagartos apresentam hábito saxícola, ou seja, ocupam preferencialmente as fendas de rochedos, onde se alimentam de pequenos artrópodos que passam ao seu alcance. O interior da mata esconde, também, algumas outras espécies que, sobre as árvores e arbustos ou ocultos entre a serrapilheira, são mais difíceis de serem observados. Entre esses lagartos, podem ser citadas as espécies Mabuya frenata, Anisolepis grilli, Stenocercus caducus e Cercosaura schreibersii, além das chamadas cobras-de-vidro (lagartos ápodos do gênero Ophiodes), que, como a maioria dos lagartos ocorrentes no Estado do Paraná, é mal amostrada em coleções científicas. Provavelmente estudos de médio e longo prazo venham a detectar um maior número de espécies na região, sobretudo as formas pequenas, especializadas em viver no folhiço que cobre o chão da floresta.
most of their time underground. Between the most commonly observed lizards the AfroAmerican-house-gecko, Hemidactylus mabouia, is a species greatly distributed in South America. Most of the time it occurs in sinantropic conditions, i.e. in human households and other types of buildings where a great number of small arthropods can be readily available to feed upon, and to find protection against predators. This species is originally from Africa and was introduced in Brazil a long time ago, possibly as a clandestine passenger on the slave ships. The Tegu (Tupinambis merianae) dwells in different environments, including trails and altered areas, where it feeds upon invertebrates, small vertebrates and plants that it actively hunts on the ground, not forsaking organic waste left behind by visitors. This species is a common target of hunters because of its tasty meat and highly-valued skin. Despite this factor, it occurs in large numbers in the Park and surrounding region. The calangos (Tropidurus torquatus) can be frequently observed, including in the waterfalls. These small lizards dwell in rock gaps where they feed upon small arthropods that cross their path. There are also other species living in the forest which are more difficult to observe , as they dwell in trees or shrubs, or yet hidden in the leaves on the ground,. These species of lizards include the Cope’s Mabuya, Mabuya frenata, the Boulenger’s tree lizard, Anisolepis grilli, Stenocercus caducus and the Scchreiber’s many fingered teiid, Cercosaura schreibersii, as well as the worm lizards, known in Brazil as glasssnakes (limbless lizards of the genus Ophiodes). Similar to what occurs with most lizards of the State of Paraná, they are poorly represented in scientific collections. It is possible that medium and long term studies will identify a greater number of species in that region, especially in relation to the smaller forms that dwell among the leaves that cover the forest ground.
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As serpentes constituem a maioria das espécies de répteis encontradas no Parque. Podem ser ali encontradas em torno de 40 espécies. Algumas são predominantemente noturnas, outras são ativas durante o dia, e há mesmo as que podem ser encontradas em atividade em diferentes horários do dia e da noite. De um jeito ou de outro, dificilmente são observadas em ambiente natural, uma vez que manifestam hábitos mais reservados, escondendo-se em meio à vegetação e ao folhiço do chão da mata. A maioria das cobras tende a ter padrões de coloração que se confundem com o ambiente circundante (camuflagem), o que representa uma excelente estratégia tanto para evitar predadores quanto para apresar pequenos animais que delas se aproximam. Muitas das espécies de serpentes existentes no parque são primariamente florestais, como as cobras-cipó dos gêneros Chironius (C. bicarinatus, C. exoletus) e Leptophis (L. ahaetulla), esta última também chamada azulão-boia, a caninana, Spilotes pullatus, e a dormideira, Dipsas indica, que podem ser observadas sobre árvores ou no solo. A maioria das espécies, no entanto, vive sobre o solo da floresta. Entre as espécies geralmente observadas no solo, atravessando trilhas na mata, podem ser citadas as cobras-lisas do gênero Liophis (L. frenatus, L. miliaris, L. poecilogyrus, L. reginae) e as cobras-espada do gênero Thamnodynastes (T. strigatus), espécies que podem também ser vistas em banhados e às margens de rios e lagos. Entre as outras serpentes que costumam ser encontradas rastejando sobre o solo estão a boipeva (Xenodon merremii), cujo nome em língua indígena alude ao característico hábito de achatar o corpo para intimidar possíveis agressores, a papa-pinto ou parelheira, Philodryas patagoniensis, e a cobra-verde, Philodryas olfersii, que procuram ativamente por pequenos vertebrados que constituem a sua dieta, assim como acontece com várias serpentes bastante coloridas e vistosas, conhecidas como falsas-corais, dos gêneros Erythrolamprus (E. aesculapii) e Oxyrhopus (O. clathratus, O. petola, O. guibei). As falsas-corais do gênero Oxyrhopus muitas vezes se tornam escuras depois de adultas, em função da deposição de melanina (pigmento escuro) nas áreas mais claras do corpo, a cada muda de pele. Há ainda as dormideiras (Sibynomorphus mikani) e cobras-espada do gênero Tomodon (T. dorsatus), cuja dieta, curiosamente, é composta de moluscos gastrópodos (lesmas). Há também serpentes, como a cobra-cega (Liotyphlops beui), que, de maneira similar aos anfisbênidos, escavam galerias na camada de húmus que se forma sob as árvores, ali se alimentando de pequenos invertebrados. Algumas espécies não chegam a escavar galerias – preferem viver por entre o folhiço e sob troncos caídos, como a cobrinha Atractus paraguayensis.
Snakes comprise most of the species of reptiles found in the Park, accounting for some 40 species. Some are predominantly nocturnal in their habits, others live during the day, and some can even be found at different times during the night and the day. One way or another, they are not seldom observed in the natural environment as they have reserved habits and hide in the vegetation and leaves on the ground. Most snakes tend to display a pattern of colors that blend with the surrounding environment (camouflage), which is an excellent strategy to capture small animals that cross their path. Many snake species that dwell in the Park are primarily forest species, such as the Sipo snakes of the genus Chironius (C. bicarinatus, C. exoletus) and Leptophis (L. ahaetulla), which is also known as Parrot Snake, the Tiger Rat Snake (Spilotes pullatus), and the Snail-eater snake (Dipsas indica) that can be observed both on trees and on the ground. However, most species live on the forest’s ground. Some of the species that usually dwell on the ground, slithering across the trails in the forest are the swampsnakes of the genus Liophis (L. frenatus, L. miliaris, L. poecilogyrus, L. reginae) and the Coastal House Snakes of the genus Thamnodynastes (T. strigatus). These species also live in swamps and on river banks and the margins of lakes. There are also other snakes that can be observed slithering on the ground, such as the False jararaca (Xenodon merremii) that can flatten its body in order to intimidate its aggressors, the Patagonian green racer (Philodryas patagoniensis), and the Lichtenstein’s Green Racer (Philodryas olfersii) that hunt small vertebrates. Other snakes also have the same feeding habits, such as the colorful and gaudy species known as False coral snakes of the genus Erythrolamprus (E. aesculapii) and Oxyrhopus (O. clathratus, O. petola, O. guibei). False coral snakes of the genus Oxyrhopus often become darker when they are adults due to melanin deposition (dark pigment) on the lighter areas of their body each time they shed skin. There are yet the species Sibynomorphus mikani and the Pampas Snake of the genus Tomodon (T. dorsatus) that feed upon gastropod mollusks (snails). There are also the Blindsnakes (Liotyphlops beui) that similar to the amphisbaenids bore holes into the layer of humus under the trees and feed upon small invertebrates dwelling in the environment. Some species do not even bore holes, as they prefer to live among the leaves on the ground and the fallen tree trunks, such as the Atractus paraguayensis.
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dormideira, Sibynomorphus mikanii Slug eating Snake, Sibynomorphus mikanii
cobra-verde, Philodryas olfersii Green Racer, Philodryas olfersii
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caninana, Spilotes pullatus Tiger Rat Snake, Spilotes pullatus
boipeva, Xenodon merremii Flat Snake, Xenodon merremii
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Corpos de água de diferentes tipos também oferecem abrigo e alimento para algumas serpentes. Esse é o caso das pequenas cobras-d’água do gênero Helicops, agressivas em relação ao homem e encontradiças em rios, lagos e várzeas, onde se alimentam de pequenos peixes e anfíbios, e também das sucuris do gênero Eunectes, de grande porte, que vez por outra atingem a região sudoeste do Estado, descendo pelo vale do Rio Paraná e possivelmente adentrando a foz dos seus principais tributários. As sucuris se alimentam principalmente de peixes, mas podem apresar grandes vertebrados, como aves, mamíferos e mesmo jacarés ou cágados. Algumas serpentes que ocorrem na região do Parque estão associadas a ambientes abertos, sendo comuns em áreas de campos e várzeas do Estado do Paraná. Entre elas, a jiboia-arco-íris ou salamanta (Epicrates crassus), boídeo de pequeno porte extremamente agressivo, que caça pequenos roedores pelos descampados, além da dormideira-do-campo (Sibynomorphus ventrimaculatus), que se alimenta de moluscos, e do jararacuçu-do-brejo, Mastigodryas bifossatus, que caça pequenas rãs e pererecas nas várzeas.
Different types of waterbodies also provide protection and food for some snakes, such as the small water snakes of the genus Helicops. They are aggressive towards human beings and dwell in rivers, lakes and floodplains, where they feed upon small fish and amphibians. There are also the large anacondas of the genus Eunectes that occasionally reach the southwest region of the Paraná State, going down the valley of the Paraná River and possibly reaching its main tributaries. The main diet of these snakes is fish, but they can also hunt large vertebrates, such as birds, mammals and even alligators and tortoises. Some of the snakes that occur in the Park are associated with vegetational open formations and can commonly occur in fields and floodplains in the State of Paraná. These species include the Rainbow Boa (Epicrates crassus), a very small and aggressive boid that preys on small rodents in the fields; the Snail-eater snake Sibynomorphus ventrimaculatus, that feeds upon mollusks; and the Racer (Mastigodryas bifossatus) that hunts toads and frogs in the floodplains.
cobra-espada, Thamnodynastes strigilis Coastal housesnakes, Thamnodynastes strigilis
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As serpentes são normalmente muito temidas pela população em geral, face à presença de espécies peçonhentas. Como a identificação da maioria das espécies não é tarefa fácil, exigindo treinamento e experiência do observador, muitas das acima mencionadas são frequentemente confundidas com as corais-verdadeiras e as jararacas, estas sim muito mais perigosas, causadoras de graves acidentes, por vezes fatais. Classificar as serpentes em “peçonhentas” e “não peçonhentas”, no entanto, é uma supersimplificação, que não condiz com a diversidade encontrada nesses animais. Ainda que existam espécies absolutamente inofensivas, muitas serpentes ocorrentes no Brasil produzem secreções tóxicas, podendo causar diferentes graus de envenenamento em animais e seres humanos. Assim, muitas cobras brasileiras ditas “não venenosas”, ao contrário do que se pensa, podem ser causadoras de ofidismo. Nesse caso, os acidentes geralmente são leves ou moderados, uma vez que os dentes inoculadores de peçonha estão localizados no fundo da boca, mas existem casos de intoxicações graves, particularmente com a cobra-verde (Philodryas olfersii). Outras espécies que podem causar acidentes na região são as parelheiras (Philodryas patagoniensis), as cobras-espada (Thamnodynastes strigatus, Tomodon dorsatus) e as falsas-corais do gênero Oxyrhopus.
Snakes usually instill fear in human beings because there are poisonous species. Identifying most species is not an easy task, as it requires a well-trained and seasoned observer. Often times some of the abovementioned species are mistaken for true Coral Snakes and Jararacas, which are actually much more dangerous and can cause serious accidents that sometimes are fatal. However, merely classifying snakes as “poisonous” and “non-poisonous” is a simplification that does not do justice to the diversity of these animals. Despite the existence of completely harmless species, different types of toxins are produced by different genera of snakes, and may cause different types and degrees of intoxication in humans. Hence, unlike popular belief, many Brazilian snakes that are considered “non-poisonous” can cause ophidism. In this case, accidents are usually light or moderate, as the fangs that inoculate the poison are located deep inside their mouth, but there have been cases of serious intoxication, especially when caused by the Common Green Racer (Philodryas olfersii). Other species that can cause accidents in that regions are the
Duas espécies de corais-verdadeiras podem ser encontradas na região. Uma delas (Micrurus corallinus) encontra-se associada às áreas mais baixas, em meio à floresta estacional, enquanto a outra (Micrurus altirostris) acompanha a floresta ombrófila mista ou de araucária nas áreas mais altas. Ambas são extremamente venenosas, apresentando peçonha neurotóxica. No entanto, acidentes com corais são raros, uma vez que esses animais não são agressivos e preferem fugir a enfrentar os seus agressores. Corais-verdadeiras são ofiófagas, ou seja, alimentam-se de outras serpentes e de lagartos de corpo alongado.
Patagonia Green Racer (Philodryas patagoniensis), the Common
O risco maior de acidentes está relacionado ao encontro com uma cascavel ou com uma das várias espécies de jararacas existentes na região (gêneros Bothrops, Bothropoides e Rhinocerophis). A cascavel, Caudisona durissa, ocupa preferencialmente áreas abertas, não sendo encontrada com frequência dentro da mata. O mesmo pode ser dito em relação à urutu, Rhinocerophis alternatus. Já a jararaca pintada, Bothrops diporus, o jararacão, Bothrops moojeni, e o jararacuçu, Bothrops jararacussu, são animais geralmente encontrados dentro da mata ou na margem de rios, e a jararaca propriamente, Bothropoides jararaca, ocupa diferentes tipos de ambiente, incluindo áreas antropizadas. A cotiara, Rhinocerophis cotiara, é uma espécie típica de floresta de araucária que deve também ocorrer nas áreas mais altas do parque. Jararacas e cascavéis se alimentam de pequenos roedores, podendo incluir outros vertebrados em sua dieta (como, por exemplo, aves). Jovens jararacas se alimentam de anfíbios anuros. Enquanto as cascavéis apresentam veneno neurotóxico, a peçonha das diferentes espécies de jararaca tem ação proteolítica, coagulante e hemorrágica. Todas são muito agressivas, enrodilhando-se e desferindo botes certeiros quando da aproximação de um possível agressor.
as they are not aggressive and tend to flee rather than face their
House Snake (Thamnodynastes strigatus), the Pampas Snake (Tomodon dorsatus) and even the False Coral Snakes of the genus Oxyrhopus. Two species of true Coral Snakes can be found in that region. One is the Micrurus corallinus that is typical of lower regions, in the stationary forests, and the other is the Micrurus altirostris that dwells in the Mixed ombrophilous forest (Araucaria forest) in the upper regions. They are extremely poisonous and their venom is neurotoxic. However, episodes involving Coral Snakes are rare, aggressors. True Coral Snakes are ophiophagus, i.e. they feed upon other snakes and long-bodied lizards. The highest risk of accidents occurs when a person runs into a Rattlesnake or one of the species of jararacas that dwell in that region (genera Bothrops, Bothropoides, and Rhinocerophis). The Rattlesnake (Caudisona durissa) occurs mainly in clearings and is seldom found in the forest, like the Urutu (Rhinocerophis alternatus). On the other hand, the Brazilian Lancehead (Bothrops moojeni) and the Jararacussu (Bothrops jararacussu) typically live inside the forest or on river banks. The True Jararaca, Bothropoides jararaca, lives in different environments, including anthropized areas. Jararacas and rattlesnakes feed upon small rodents and may include other vertebrates to their diet (such as birds). Young jararacas feed upon anuran amphibians. The rattlesnake have a neurotoxic venom, as long as the venoms of different Jararaca species have proteolytic, coagulative, and hemorrhagic activities. All these species are very aggressive; they coil and pounce with deadly accuracy when a potential aggressor comes near them.
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cotiara, Rhinocerophis cotiara Cotiara, Rhinocerophis cotiara
jararacuçú, Bothrops jararacussu Jararacussu, Bothrops jararacussu
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coral-verdadeira, Micrurus altirostris
Toda essa diversidade encontra-se permanentemente ameaçada por atividades como a caça, hábito secular e arraigado na cultura do homem do interior. Ademais, o desmatamento ilegal e atividades extrativistas ilegais, bem como o uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura, atingindo os rios da região e o atropelamento da fauna silvestre, constituem sérias ameaças à integridade da fauna reptiliana. Como se não bastasse, a região fronteiriça é conhecida como uma das principais rotas de tráfico de animais. O contrabando internacional de animais silvestres representa, além do grave problema gerado pela retirada de animais da natureza, uma ameaça adicional: a entrada e o estabelecimento de espécies exóticas, que poderiam ser introduzidas acidentalmente no Parque durante o transporte pela fronteira. Esse é o caso, por exemplo, dos tigres-d’água, (Trachemys scripta elegans), tartarugas de água doce que foram importadas em grande quantidade (a maioria delas, de forma ilegal) nas décadas de 1980 e 1990, para servir como animais de estimação. Exemplares podem ser observados em cativeiro no comércio paraguaio, como forma de atrair os turistas. Centenas desses animais foram abandonados por seus antigos donos em rios e lagos do Brasil, especialmente em parques urbanos. Ainda que o impacto causado pela sua introdução em ambientes naturais do país esteja pouco documentado, o caráter invasor dessas tartarugas se faz sentir há décadas em várias regiões do mundo. Os répteis, em geral, são vertebrados estigmatizados em nossa cultura. O estilo de vida, hábitos e comportamento, tão diferentes dos mamíferos e aves, em geral causa estranheza e repulsa num primeiro momento. No entanto, à medida que entendemos melhor como esses animais “funcionam” e, principalmente, nos apercebemos do papel fundamental que desempenham nos ecossistemas, passamos a respeitá-los e a entender a real necessidade de se conservarem cobras, lagartos, jacarés e tartarugas, no mesmo nível e com o mesmo empenho com que pretendemos salvar da extinção onças e ararinhas-azuis.
Southern Coral Snake, Micrurus altirostris
The herpetofaunal diversity is permanently threatened by activities such as hunting, which is a traditional habit of the people that live in the hinterlands. Furthermore, illegal deforestation and extractivist activities, and the indiscriminate use of agricultural pesticides reaching the rivers that flow in that region, together with wildlife road kills threaten the integrity of the reptile fauna. If that were not enough, the region that borders with other countries is infamous as a route for animal trafficking. The smuggling of wild animals to other countries poses a twofold problem: the serious consequences of removing animals from their natural habitat and the additional hazard of exotic species that are brought into the region and could be accidentally introduced into the Park when the borders are crossed. This is the case of the Red-eared-Slider (Trachemys scripta elegans), a freshwater turtle that was imported in large numbers (most illegally) in the 1980s and 1990s to become pets. They are displayed in captivity in some Paraguayan shops to attract tourists. Hundreds of these animals were abandoned by their former owners in the rivers and lakes of Brazil, mainly in urban parks. Despite the fact that their impact in natural environments is poorly documented in our country, the invading nature of these turtles has been observed for many decades throughout the world. Reptiles are vertebrates that suffer great prejudice in our culture. Because their lifestyle, habits and behavior are so different from those of mammals and birds, they are regarded as weird and repulsive at first. However, as we understand how they “work” we realize they play a crucial role in the ecosystems and then we respect and grasp the real need to protect snakes, lizards, alligators and turtles, just like we fight for the protection of jaguars and blue parrots threatened with extinction.
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O autor agradece penhoradamente a todos os colegas que colaboraram na organização e no desenvolvimento das coleções do Museu de História Natural Capão da Imbuia (MHNCI – Curitiba), os quais tiveram, direta ou indiretamente, papel importante na geração das informações acima veiculadas. De forma particular, a Renato Silveira Bérnils, Sérgio Augusto Abrahão Morato e Magno Vicente Segalla, companheiros de longa data, pelos muitos anos de convivência na árdua tarefa de construir e legar um acervo herpetológico paranaense, de pesquisar e divulgar a nossa rica fauna.
The author would like to thank all his peers that collaborated in the organization and development of the zoological collections of the Natural History Museum of Capão da Imbuia (MHNCI – Curitiba), which played an important role, both directly and indirectly, in generating the information hereby presented. I would like to especially acknowledge the assistance given by the researchers Renato Silveira Bérnils, Sérgio Augusto Abrahão Morato, and Magno Vicente Segalla, long-time friends that have shared the arduous task of building and bequeathing a herpetological collection of Parana.
cascavel, Caudisona durissa Neotropical Rattlesnake, Caudisona durissa
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Marina Xavier
A
Anfi´bios
classe Amphibia, representada por sapos, salamandras e cecílias, compreende o primeiro grupo de vertebrados a conquistar o ambiente terrestre, há cerca de 400 milhões de anos. Apesar do longo período evolutivo, os anfíbios mantêm grande dependência com o ambiente aquático, evidente em diversas características da classe. A maioria das espécies passa parte do seu ciclo de vida no ambiente aquático, respirando por brânquias (fase larval), e parte no ambiente terrestre, com respiração pulmonar (fase adulta). É justamente a presença de duas fases de vida tão distintas que nomeia o grupo: anfíbio significa “duas vidas”, do prefixo amphi, duas, e de bio, vida. Os anfíbios, ao contrário de répteis, aves e mamíferos, possuem embriões desprovidos de proteção contra dessecação, sendo, portanto, fortemente dependentes de fatores ambientais como umidade e cobertura florestal. Essa particularidade confere a esses vertebrados um importante papel, pois, em geral, estão associados a ambientes ecologicamente saudáveis, por serem bastante exigentes e sensíveis a variáveis ambientais.
Anphibians The class Amphibia is represented by frogs, salamanders and worm lizards. It is the first group of vertebrates that survived on the terrestrial environment some 400 million years ago. Notwithstanding its long period of evolution, amphibians greatly depend on the aquatic environment, which is observed in many characteristics of their class. Most species spend part of their life cycle in the aquatic environment, where they breathe through gills (in the larval phase), and part on the terrestrial environment, where they breathe through their lungs (the adult phase). It is precisely the two distinct phases of their lives that names this group: amphibian means “two lives”, from the Greek prefix amphi, two, and the word bio, life. Unlike other reptiles, birds and mammals, the embryo of the amphibians are not protected against desiccation; hence, they greatly depend on environmental factors, such as moisture and plant cover. This unique feature provides these vertebrates an important role, as they are generally associated with ecologically sound environments perereca-ferreira, Hypsiboas faber
and very particular and sensitive to environmental variables.
Smith Tree Frog, Hypsiboas faber
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Os anfíbios, surgidos há 350 milhões de anos, representam o elo de ligação entre a vida na água e a vida na terra. As alterações fisiológicas e anatômicas, que ocorrem com os anfíbios em apenas algumas semanas, são dos exemplos mais interessantes que ajudam a explicar uma das etapas da evolução. O mesmos animais que nascem na água, com uma morfologia hidrodinâmica e um sistema de respiração aquático (branquial), modificam-se em indivíduos anatomicamente terrestres, respirando oxigênio diretamente do ar. Amphibians came into being 350 million years ago they are constitute the link between life in water and life on earth. The physiologic and anatomic changes that occur in the amphibians in only a few weeks are one of the most interesting examples that help us understand one of the stages of evolution. The same animals that are born in the water, with hydrodynamic morphology and an aquatic (branchial) system, are changed into anatomically terrestrial individuals, breathing oxygen directly from the air.
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A grande dependência com a água, aliada à abundância de recursos hídricos do nosso planeta, favoreceu a conquista dos mais remotos ambientes. Ao longo dos anos, os anfíbios distribuíram-se amplamente, ocorrendo em quase todo o globo terrestre, exceto na Antártica e algumas ilhas oceânicas, e ocuparam os mais variados tipos de hábitats em diferentes condições ambientais, com exceção da água salgada. Os anfíbios são vertebrados ectotérmicos, regulando suas temperaturas de acordo com a temperatura do ambiente. São, por isso, mais frequentemente observados durante os períodos quentes, quando se tornam mais ativos e a temperatura da água favorece a reprodução. Quando adultos, alimentam-se de insetos e demais invertebrados, bem como de pequenos vertebrados. As larvas, quando presentes, alimentam-se principalmente de algas e detritos.
Their strong dependence on water, associated with water resources that abound on our planet was conducive to conquering the most remote environments. Over time, amphibians became widely spread out and can be found throughout most of the globe, except the Antarctic and some oceanic islands, and occupy the most diverse habitats in different environmental conditions, except seawater. Amphibians are ectothermic vertebrates that regulate their body temperature according to the environment’s temperature. For this reason, it is more common to see them when the weather is warm because they are more active and the water temperature is favourable to reproduction. As adults, they feed on insects and
A classe Amphibia possui atualmente cerca de 6.300 espécies, sendo dividida em três ordens. Os anuros, representados pelos sapos, rãs e pererecas, formam o grupo mais expressivo, com cerca de 5.800 espécies. O nome anuro significa sem cauda, uma distinção pela perda da cauda na passagem do girino para a vida adulta. No Brasil são registradas 847 espécies, segundo
other invertebrates, as well as small vertebrates. Larvae feed mainly
informações da Sociedade Brasileira de Herpetologia. Isso coloca o país no honroso posto de detentor da maior riqueza de espécies do mundo. As salamandras, por outro lado, possuem cauda e são agrupadas na ordem Caudata, com 597 espécies e apenas uma representante brasileira, a Bolitoglossa paraensis, com ocorrência na Amazônia. Cobras-cegas ou cecílias possuem cauda curta, vivem em galerias subterrâneas e assemelham-se a serpentes. São agrupadas na ordem Gymnophiona, com 183 espécies, sendo 27 do Brasil.
5,800 species. The name anura means without tail, distinguishing
A Floresta Atlântica é detentora da maior biodiversidade de anuros do Brasil, com mais da metade das espécies conhecidas. Isso porque o relevo irregular, principalmente na região costeira, facilita o processo de especiação (formação de novas espécies) e contribui para o elevado endemismo (espécies com ocorrência limitada). Contraditoriamente, a Floresta Atlântica é também o bioma mais ameaçado do Brasil, com menos de 8% da cobertura original preservada.
paraensis that lives in the Amazon. Worm lizards have a short tail
on algae and detritus. There are currently some 6,300 species under the class Amphibia, which is divided in three orders. The anura order that includes frogs, toads and slender-legged tree frogs is the most significant, with some their members because they lose their tail as a tadpole when they become adults. In Brazil there are 847 species recorded, according to information provided by the Brazilian Herpetology Society, which puts Brazil in the honourable rank of the country with the greatest number of species in the world. Salamanders, on the other hand, have a tail and are grouped under the order Caudata with 597 species, and only one Brazilian representative – the Bolitoglossa and live in subterranean galleries, and look like serpents. They are grouped under the order Gymnophiona with 183 species, of which 27 occur in Brazil. The Atlantic Rainforest harbours the greatest diversity of anura in Brazil, where over half of the known species dwell. This occurs due to the irregular terrain, especially at the coast, which is conducive to the speciation process (the process of new species formation),
O Parque Nacional do Iguaçu (PNI) é particularmente privilegiado em recursos hídricos, como demonstra seu maior atrativo, as Cataratas do Iguaçu. A fauna de anfíbios, todavia, é pouco estudada, sendo reconhecidas cerca de 40 espécies de anuros com ocorrência provável, mas apenas 26 com ocorrência confirmada. Os anuros são particularmente conhecidos pelo repertório de cantos emitidos, somente pelos machos, como forma eficiente de comunicação em baixa luminosidade. A maioria das espécies têm hábitos noturnos e são comumente encontradas nas beiras de brejos, lagoas, rios e ambientes encachoeirados. Gostam também de viver em bromélias, onde encontram água acumulada, alimento e proteção.
and also high levels of endemism (limited occurrence species). This is in itself a huge contradiction, given that the Atlantic Rainforest is also the most threatened biome in Brazil, where less than 8% of the original plant cover has been preserved. The Iguassu National Park (PNI) is particularly privileged in terms of water resources, which is evidenced by its main attraction – the Iguassu Falls. However, amphibian wildlife is yet to be studied in depth, where only 40 anura species of probable occurrence have been identified, and only 26 have been confirmed. Anura are particularly known by the repertoire of sounds made only by the male as a form of efficient low-luminosity communication. Most species have nocturnal habits and typically live on the banks of marshes, lagoons, rivers and waterfalls. They also like to live in bromeliads that accumulate water, where they can feed and find shelter.
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perereca-musgo, Itapotihyla langsdorffii Casque headed Treefrog, Itapotihyla langsdorffii
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sapo-cururu-pequeno, Bufo crucifer Striped Toad, Bufo crucifer
Entre as espécies de fácil visualização, temos o sapo-cururu (Rhinella crucifer). Essa espécie é tolerante a mudanças ambientais e costuma viver bem em contato com o homem. Durante o período reprodutivo, observam-se com frequência os locais de oviposição, caracterizados por longos cordões gelatinosos, com ovos escuros deixados na superfície da água. Outros representantes da família Bufonidae com ocorrência no PNI são Rhinella icterica, R. arenarum e R. schneideri, entre outros.
One of the species that can be easily sighted is the Beakedtoad (Rhinella crucifer). It can adapt easily to environmental changes and usually lives in harmony with human beings. During their reproductive period, the place where they lay their eggs can be identified by long gelatinous ropes of dark eggs on the surface of the water. Other representatives of the family Bufonidae that occur in the PNI are Rhinella icterica, R. arenarum and R. schneideri, to mention but a few.
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Embora a popularização do termo não encontre correspondência científica, os anuros pertencentes à família Hylidae são considerados bons representantes do nome popular perereca. Apresentam grande variação de tamanho e cores e se caracterizam pela presença de discos adesivos nas pontas dos dedos, adaptação para o hábito arborícola. Entre as espécies mais robustas, o sapoferreiro, Hypsiboas faber, possui coloração bege-alaranjada, frequentemente com uma listra fina e negra que vai da ponta do focinho até o meio do tronco. Pode chegar até 10 cm de comprimento. Sua principal característica é o forte canto, que soa como o martelar de uma bigorna. Sapos-ferreiros constroem ninhos de barro semelhantes a pequenas crateras de 15 a 20 cm de diâmetro, denominadas “panelas”, onde realizam o amplexo (abraço sexual) e a postura de cerca de 2 a 3 mil ovos. São comuns também encontros agressivos entre os machos, cujas lutas, entretanto, não resultam em grandes danos físicos.
Although the term that is commonly used has no scientific correspondence, the anura of the family Hylidae are considered good representatives of the common name slender-legged toads. They come in a wide range of sizes and colours and are characterised by the adhesive pads on their finger-tips, which is an adaptation for their tree-dwelling habit. The most robust species are the beige-orange Blacksmith Treefrog (Hypsiboas faber) that has a thin black stripe running from the tip of its nose to the middle of the body. It can measure up to 10 cm, and its most typical characteristic is the strong sound it makes – like a hammer hitting an anvil. Blacksmith Treefrogs usually build mud nests that look like small 15-20 cm wide
Outra espécie que chama atenção pelo tamanho robusto é a perereca-musgo, Itapotihyla langsdorffii. É uma espécie bastante tranquila, encontrada no interior da floresta, nas áreas adjacentes aos corpos de água, mas não imediatamente próximo a eles. Costuma repousar em troncos com musgos, onde sua coloração verde-amarelada se mistura com a paisagem. Chama atenção a coloração amarelada com listras negras de sua íris, outro atributo que favorece a camuflagem. Normalmente são encontrados poucos indivíduos juntos.
craters called “pans”, where they perform the amplexo (sexual embrace) and lay some 2-3 thousand eggs. The male can be aggressive and enter fighting matches that do not result in great physical damage. There is another species that is outstanding for its robust size Itapotihyla langsdorffii. It is very peaceful and lives in the rainforest near water bodies, but not necessarily on their banks. It usually rests on moss-covered tree trunks and blends into the landscape because of their green-yellow colour. An outstanding feature of this species is the yellow and black-striped iris, which also helps in their camouflage. Typically, few individuals live in groups.
sapo-chifrudo, Proceratophrys boiei Horned-frog, Proceratophrys boiei
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Outra representante da família Hylidae é a Hypsiboas albopunctatus, espécie com ampla distribuição geográfica. De coloração amarelada, sua principal característica é a presença de pontos amarelos na lateral da barriga e parte interna do fêmur. Os machos costumam vocalizar em beiras de córregos permanentes e são geralmente encontrados em ambientes abertos ou de vegetação secundária.
The Hypsiboas albopunctatus is another representative of the family Hylidae that is widely spread in geographic terms. Yellow in colour, its main characteristic are the yellow spots on the side of its belly and inner femur. The male typically sings
A família Leptodactylidae é a maior representante dentro da ordem Anura e, embora não existam ranídeos nativos do Brasil, corresponde às espécies que mais se assemelham às populares rãs. Fazem parte desse grupo espécies como a rã-manteiga e o sapo-boi. Entre as pequenas rãzinhas, é comum o encontro com a rã-cachorro, Physalaemus cuvieri, e mais raramente com outra espécie, a Physalaemus gracilis, que se distingue da anterior por apresentar uma mancha alaranjada na porção interna das coxas e axilas. Espécies dessa família são bastante diversificadas na aparência externa e no tipo de ambiente que ocupam, desde espécies arborícolas, terrícolas, exclusivamente aquáticas, independentes da água, até grandes predadores de outros vertebrados. A maioria das espécies constrói ninhos de espuma em tocas, gramíneas ou em locais de água rasa.
on the banks of permanent brooks and dwells on open land
Os anfíbios são vertebrados interessantíssimos do ponto de vista do comportamento, uma vez que apresentam diversidade enorme de vocalizações e estratégias reprodutivas, além de ocupar grande variedade de ambientes. É particularmente interessante também a integração desses organismos à paisagem, suas estratégias de defesa, competição por fêmeas, espaços para reprodução, entre outros recursos.
predators of other vertebrates. Most representatives of this
Embora a maior biodiversidade de anurofauna ocorra no Brasil, muitas espécies são encontradas com cada vez menos frequência na natureza. Estudos recentes apontam para um declínio global do grupo, alertando para esforços urgentes de proteção. A compreensão clara sobre o real status de ameaça e conservação dos anfíbios é ainda incipiente e carente de estudos de longo prazo em diversas regiões do mundo. A principal ameaça ao grupo é seguramente a destruição dos hábitats e, mais recentemente, as mudanças climáticas. Considerados erroneamente como locais sujos e de baixa biodiversidade, brejos e lagos são normalmente subestimados do ponto de vista do interesse da conservação e, portanto, pouco protegidos. Além disso, a pele extremamente delgada e permeável dos anfíbios torna esses animais sensíveis a impactos mínimos, como radiação ultravioleta, por exemplo, o que normalmente não afeta outros grupos de animais. Por outras tantas razões, as populações de anfíbios estão cada vez mais ameaçadas, demandando urgentes os esforços de conservação.
or where secondary vegetation occurs. The family Leptodactylidae has the largest number of species of the order Anura; notwithstanding the inexistence of native anura in Brazil, it corresponds to species that are most similar to the common frogs. This group includes the Thin-toed frog (Leptodactylus ocellatus) and the bull frog. Tiny frog species can also include the Physalaemus cuvieri, and more rarely the Physalaemus gracilis, different from the former in that it has and orange spot in the inner thighs and armpits. Species of this family have different physical aspects and live in different environments; they can dwell in trees, on the land, exclusively in water – regardless of the type of water – and can even be species build foamy nests in holes, on the grass or where the water is shallow. Amphibians are very interesting vertebrates from the behavioural point of view because they make a wide range of different sounds and have different reproductive strategies, and for dwelling in different habitats. Their integration to the landscape is another interesting aspect, as wells as their defence strategies, competition for the female, and reproduction venues, to mention but a few of their resources. Although the greatest anurofauna biodiversity occurs in Brazil, many species are dwindling in nature. Recent studies point to a global decline of the group and alert to the fact that urgent protection measures must be taken. Clear understanding of the actual status of both the threat to and conservation of amphibians is still incipient and lack long-term studies in many regions of the world. The most serious threat to this group is for sure the destruction on their habitats, and more recently, climate changes. Marshes and lagoons are mistaken for dirty and low-diversity venues, and are usually underestimated as points of interest from the conservation point of view; hence, they are poorly protected. Also, amphibians have extremely thin and permeable skin that makes them sensitive to minimal impacts, such as ultraviolet rays that typically do not affect other groups of animals. There are also a number of different reasons that justify why populations of amphibians are growingly becoming more threatened and that call for urgent conservation efforts.
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r達-manteiga, Leptodactylus ocellatus Butter frog, Leptodactylus ocellatus
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Vinícius Abilhoa
O
Peixes
Rio Iguaçu percorre cerca de 1.300 km desde suas nascentes, na vertente oeste da Serra do Mar, na Região Metropolitana de Curitiba, até sua foz, no Rio Paraná, no Município de Foz do Iguaçu. Durante esse longo percurso, o Rio Iguaçu corta os três planaltos paranaenses, atravessando regiões de floresta ombrófila densa (Floresta Atlântica), floresta ombrófila mista (Mata de Araucária) e floresta estacional semidecidual (Mata do Interior). A bacia hidrográfica como um todo se estende por 72 mil km2 na região sudeste da América do Sul, abrangendo áreas do sul do Brasil e nordeste da Argentina. A maior parte da bacia está em território paranaense (57 mil km2) (MAACK, 1981).
Fish The Iguassu River travels some 1,300 km from its springs on the west side of the Serra do Mar Mountain Range, in the Metropolitan Region of Curitiba, until its mouth on the Paraná River, in the Municipality of Foz do Iguassu. During its long course, the Iguassu River meanders across the three plateaus of Parana, crossing regions populated with dense ombrophile forest (Atlantic Rainforest), mixed ombrophile forest (Parana pine Forest) and semidecidual stational forest (Inland Forest). The entire river basin occupies 72 thousand km2 at the southeast region of South America, including areas in the south of Brazil and in the northeast of Argentina. Most part of the river basin is located in the State of Parana (57 thousand km2) (MAACK, 1981).
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A ictiofauna dessa bacia hidrográfica, quando comparada com outros tributários do Rio Paraná, é caracterizada pelo elevado grau de endemismo (exclusividade) e também pela ausência natural de inúmeras espécies de peixes muito comuns na bacia do Rio Paraná, como piaus, piavas, dourados, tabaranas, curimbatás, pintados e armados. Atualmente são conhecidas pelo menos 90 espécies de peixes de pequeno (<20cm), médio (entre 20 e 40cm) e grande porte (>40cm) para a bacia do Rio Iguaçu, incluindo algumas espécies exóticas (ABILHOA; BOSCARDIN, 2004). Embora esse número possa ser considerado significativo, é subestimado, em função da insuficiência de levantamentos na bacia e da falta de conhecimento da composição taxonômica de alguns grupos existentes. A participação das diferentes ordens reflete a situação descrita para os rios neotropicais - mais de 90% dos peixes pertencem às ordens Characiformes e Siluriformes.
Compared to other tributaries of the Paraná River, ichthyofauna in this river basin is characterized by the high rate of endemism (exclusiveness) and by the natural absence of different species of fish that are typical in the basin of the Paraná River, such as leporinus species, dorados, tabaranas, prochilodus, spotted sorubim and granulated catfishes. Presently there are at least 90 known species of small (<20cm), medium (20-40cm) and large (>40cm) fish in the Iguassu River Basin, including some exotic species (ABILHOA; BOSCARDIN, 2004). Notwithstanding the fact that this may be considered a significant number of species, it is still underestimated because the basin is yet to be further surveyed and studied on the taxonomic composition
A distribuição da ictiofauna ao longo do curso do Rio Iguaçu não é uniforme: algumas espécies são encontradas apenas em regiões de maior altitude, próximas às cabeceiras desse sistema (ABILHOA, 2004), enquanto outras são exclusivas das regiões do curso médio e baixo. Essa divisão segue, em linhas gerais, três subunidades naturais: Primeiro Planalto ou Planalto de Curitiba, Segundo Planalto ou Planalto de Ponta Grossa e Terceiro Planalto paranaense. A demarcação dessas paisagens está baseada no substrato geológico, nos divisores de água e na posição das escarpas que delimitam as bordas dos planaltos.
of some of the existing groups. Ichthyofauna distribution along the Iguassu River is not uniform: some species occur at higher altitude near the headwaters (ABILHOA, 2004), while others are exclusive of medium and low altitudes. In general terms, this division falls under three natural sub-units: First Plateau or the Curitiba Plateau, Second Plateau or the Ponta Grossa Plateau, and the Third Plateau of Parana. The demarcation of these landscapes is based on the geological substrate, water dividers and the position of escarpments that limit the borders of the plateaus.
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A região denominada de Baixo Iguaçu corresponde à área de drenagem entre Salto Grande, em União da Vitória, e as Cataratas do Iguaçu. Essa subunidade está localizada entre a escarpa mesozoica, que faz a divisa entre o Segundo e o Terceiro Planaltos, e as Cataratas do Iguaçu, já próximo da sua foz, no Rio Paraná. Essa subunidade em que se situa o Parque Nacional do Iguaçu está inteiramente localizada na Bacia Geológica do Paraná, onde o Rio Iguaçu apresenta um aspecto rejuvenescido, com inúmeras ilhas e corredeiras. Ao longo da maior parte do curso do Rio Iguaçu, ocorre a floresta ombrófila mista (Floresta com Araucária), enquanto que no trecho final do seu curso encontra-se a floresta estacional semidecidual (Floresta do Rio Paraná). Essas duas últimas regiões fitofisonômicas estão bastante descaracterizadas, em função da agricultura e pecuária. Nesse contexto, o Parque Nacional representa o mais importante remanescente de floresta estacional semidecidual do país.
The region called Lower Iguassu corresponds to the drainage area between Salto Grande, at União da Vitória, and the Iguassu Falls. This sub-unit is located between the Mesozoic escarpment that divides the Second and the Third Plateau, and the Iguassu Falls near its mouth at the Paraná River. This sub-unit that harbors the Iguassu National Park is totally located in the Paraná Geological Basin, where the Iguassu River bears a rejuvenated appearance with many islands and whitewater rapids. Most part of the course of the Iguassu River runs through mixed ombrophile forest (Parana pine Forest), while at the final stretch it flows through semidecidual stational forest (Paraná River Forest). These two phitophysionomic regions are significantly defaced due to farming and cattle-raising activities. Within this context, the National Park represents the most important remaining semidecidual stational forest in Brazil.
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Riqueza A ictiofauna da subunidade biogeográfica denominada de Baixo Iguaçu, incluindo aqui o Parque Nacional do Iguaçu, é representada por 65 espécies de peixes, as quais estão distribuídas em 34 gêneros e 17 famílias. A ictiofauna nativa é dominada principalmente por Siluriformes, com cerca de 50% das espécies registradas, seguida de Characiformes, com 40%. A participação das diferentes ordens reflete a situação descrita para os rios neotropicais (LOWE-McCONNELL, 1987), onde a maioria dos peixes pertence às ordens Characiformes e Siluriformes. De modo geral, a ictiofauna local apresenta o padrão generalizado da ictiofauna da bacia do Rio Iguaçu, com relativamente poucas espécies e elevado grau de endemismo. Caracteriza-se também pela ausência das famílias de peixes migradores mais comuns na bacia do Rio Paraná, muito embora o Rio Iguaçu seja tributário desde a formação histórica dessa última bacia (GARAVELLO et al., 1997). O isolamento causado pelas Cataratas do Iguaçu, associado a fenômenos climáticos, pode ter levado a uma compartimentalização geológica da bacia do Rio Iguaçu, sendo esse fenômeno o principal responsável pela atual situação da ictiofauna dessa bacia (SAMPAIO, 1988). Informações relativas à distribuição, hábitos e hábitat das famílias de peixes nativos registradas nessa região estão disponibilizadas abaixo: • Parodontidae: Vivem geralmente em rios de águas correntes e de fundo pedregoso. Permanecem sobre o substrato, raspando e ingerindo os organismos fixados nesse ambiente, como detritos e algas (perifíton). Realizam pequenas migrações durante a época reprodutiva (verão). Possuem boca inferior, além de dentes espatulados e multicuspidados na maxila superior.
richness Ichthyofauna of the biogeographic sub-unit called the Lower Iguassu, which includes the Iguassu National Park, is represented by 65 fish species that are distributed in 34 genera and 17 families. Native ichthyofauna is largely classified as Siluriformes, where some 50% of species are recorded, followed by Characiformes with 40%. The occurrence of different orders reflects the status registered for neotropical rivers (LOWE-McCONNELL, 1987), where most fish species belong to the orders Characiformes and Siluriformes. In general, local ichthyofauna presents the overall standard typical of the ichthyofauna of the Iguassu River Basin, with relatively few species and a high rate of endemism. It is also characterized by the absence of families of migrating fish that occur commonly in the Paraná River Basin, even though the Iguassu River is a tributary of the Parana Rivers since its historical formation (GARAVELLO et al., 1997). The isolation factor cause by the Iguassu Falls associated with climate phenomenon may have caused a geological fractioning of the Iguassu River Basin, where this phenomenon is largely responsible for the current situation of the basin’s ichthyofauna (SAMPAIO, 1988). Information on distribution, habits and the habitat of native fish families recorded for this region is as follows: • Parodontidae: This species usually lives in flowing waters where the bottom is rocky. They swim at the substrate, where they scrape and feed upon organisms typical of this environment, such as detritus and algae (periphyton). They migrate for short periods
• Curimatidae: São peixes de pequeno porte que não possuem dentes nas maxilas. Ocorrem em rios, lagoas, riachos e canais, onde se alimentam de detritos e matéria orgânica em decomposição. Em função de suas características oportunistas e preferência por ambientes lênticos, podem apresentar sucesso na colonização inicial de reservatórios. • Crenuchidae: São peixes de pequeno porte que ocorrem em rios, lagoas, riachos e canais, onde se alimentam de larvas de insetos aquáticos. Apresentam modificações nas nadadeiras pélvicas e peitorais (tamanho e formato), o que permite a ocorrência de algumas espécies em locais de grande vazão, inclusive transpondo barreiras (quedas de água).
to reproduce (summer). They have lower mouth, spatula-shaped and multi-cuspidated teeth on the upper maxilla. • Curimatidae: Small toothless fish. They live in rivers, lakes, streams and canals, where they feed upon detritus and decomposing organic matter. Given their opportunistic characteristic and their preference for lentic environments they have been particularly successful in colonizing new reservoirs. • Crenuchidae: Small fish that live in rivers, lakes, streams and canals, where they feed upon aquatic larvae of insects. They have modified pelvic and pectoral fins (size and shape), whereby it is possible for some species to dwell in strong flowing waters,
• Characidae: São peixes de forma muito variada, quase sempre comprimidos ou lateralmente achatados. Dulcícolas, de hábitos alimentares diversificados (herbívoros, onívoros e carnívoros), exploram uma grande variedade de hábitats. Algumas espécies realizam pequenas migrações e podem se reproduzir durante boa parte do ano.
which also enables them to overcome natural barriers (waterfalls). • Characidae: Fishes with a wide range of shapes, usually compressed or with flat sides. They live in freshwater and their feeding habits are diversified (herbivorous, omnivorous and carnivorous), thus they are able to explore a wide range of habitats. Some species migrate for a short period and can reproduce throughout most part of the year.
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• Erythrinidae: As traíras são peixes carnívoros, predadores, que apresentam ampla distribuição. Habitam ambientes lênticos, rios de pequeno e grande porte. Os indivíduos jovens são predominantemente insetívoros, enquanto que os adultos são ictiófagos. Os locais de desova são as lagoas marginais e as calhas dos rios. • Trichomycteridae: São peixes de pequeno porte que possuem espinhos na região opercular. Algumas espécies se introduzem nas guelras dos peixes maiores para sugar-lhes o sangue. Alimentam-se de invertebrados aquáticos, e informações sobre a reprodução são escassas. A boca é subterminal, com ou sem barbilhões. São comuns nas cabeceiras dos rios.
• Erythrinidae: Trahiras are carnivorous and predator fishes that are widely distributed. They live in lentic environments and in small and large rivers alike. Young specimens are predominantly insectivores, while adults are ichthyophagous. They lay their eggs in marginal lakes and river sides. • Trichomycteridae: It is a family of small fishes that have thorns on the opercular region. Some fish introduce themselves into the gills of larger fish to suck their blood. They feed upon aquatic invertebrates and there is scarce information about
• Callichthyidae: Peixes de pequeno e médio porte, possuem o corpo coberto com duas séries de placas. Apresentam órgãos acessórios para a respiração (região posterior do trato digestório). Alimentam-se de pequenos peixes, invertebrados e vegetais. As espécies podem ser encontradas em riachos, lagoas e canais.
their reproduction habits. They have subterminal mouth, with or without barbels on the lower maxillary. They occur typically in headwater. • Callichthyidae: It is a family of small and medium fish with two overlapping rows of bony plates covering their bodies. They have accessory breathing organs (posterior part of the digestive tract). They feed upon small fish, invertebrates and plants. This species dwell in streams, lakes and canals.
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• Loricariidae: Os cascudos desta família constituem um dos grupos mais diversificados de peixes Siluriformes. Possuem ampla distribuição em toda a região neotropical. Têm o corpo recoberto por placas ósseas em várias séries, os lábios alargados em forma de ventosa e as maxilas providas de dentículos adaptados para raspar alimentos do substrato. • Heptapteridae: Esta família de bagres compreende animais carnívoros e bentônicos, que podem ser encontrados em corredeiras e poços profundos de rios. Algumas espécies podem realizar pequenas migrações, e sua reprodução acontece durante o verão.
• Loricariidae: Bony plated fishes under this family belong to one of the largest groups of Siluriformes. They are widely distributed throughout the neotropical region. Their body is covered with a series of bony plates and they exhibit a ventral suckermouth. The modified mouth and lips allow the fish to feed, breathe, and attach to the substrate through suction. • Heptapteridae: This family of catfish includes carnivorous and benthic fish that live in river rapids and deep river wells. Some species migrate briefly and reproduce in the summertime.
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• Pimelodidae: Esta família inclui um conjunto muito grande de peixes de importância comercial. Compreende formas muito diversificadas, cujo tamanho máximo varia entre 40 e 120cm. Os adultos vivem normalmente em poços profundos de rios. Desovam em regiões rasas, com pouca ou nenhuma correnteza. • Auchenipteridae: Os bagres desta família apresentam pequeno e médio porte. Possuem corpo nu e os olhos são recobertos por tecido adiposo. Alimentam-se de crustáceos, larvas de insetos e peixes. Apresentam dimorfismo sexual, sendo a fecundação interna. A reprodução ocorre entre a primavera e o verão.
• Pimelodidae: This family encompasses a wide range of fishes that have significant commercial value. They present different shapes and their sizes vary from 40 to 120cm. Adults typically live in deep river wells. They lay their eggs in shallow waters where there is little or no flow. • Auchenipteridae: Catfish of this family are small to medium in size. They have bare bodies and their eyes are covered with adipose tissue. They feed upon shellfish, insect larvae and fish. They have sexual dimorphism and internal fertilization, and reproduction
• Cichlidae: Espécies comuns em rios e canais, desovam durante boa parte do ano, e os ovos são depositados em pequenos círculos construídos com a boca. Apresentam cuidado parental. Preferem águas de fundo lodoso, movimentando-se preferencialmente à noite. São bentófagos, alimentandose basicamente do lodo depositado no fundo.
takes place between spring and summer. • Cichlidae: These species occur typically in rivers and canals, and lay their eggs during most of the year, which are deposited in small circles they build with their mouth. They show parental care for both eggs and larvae. They prefer muddy environments and have nocturnal habits. They are a benthofagous species that basically feeds upon the sludge deposited at the bottom.
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• Poeciliidae: As espécies desta família apresentam adaptações pouco usuais entre os teleósteos, sendo a viviparidade a principal delas, o que envolve modificações morfológicas e fisiológicas em machos e fêmeas. Entretanto, nem todas as espécies são vivíparas. Alimentam-se de larvas de insetos e algas. • Gymnotidae: Grupo de peixes eletrogênicos de água doce, representados atualmente por poucas famílias e aproximadamente 70 espécies. Peixes de hábitos noturnos que usam órgãos elétricos para sua orientação. Não possuem nadadeira caudal, e o corpo é escuro, com faixas oblíquas claras. Vivem preferencialmente em ambientes lênticos.
• Poeciliidae: Species of this family show unusual adaptations among the teleosteous, where viviparity is the main one, involving morphological and physiological modification of the male and the female. However, not all species are viviparous. They feed upon insect larvae and algae. • Gymnotidae: Is a freshwater fish species that has organs adapted to the exploitation of bioelectricity which they use for navigation at night. They are currently represented by a few families and some 70 species. The dorsal fin and pectoral fins are absent, and the body is dark with light oblique stripes. They prefer lentic environments.
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Espécies endêmicas A ictiofauna registrada pode ser dividida basicamente em três categorias de espécies, em função da sua distribuição original: espécies autóctones, ou seja, aquelas endêmicas da bacia do Rio Iguaçu; espécies alóctones, que são aquelas de ocorrência natural em outras bacias hidrográficas, além da bacia do Rio Iguaçu; espécies introduzidas, ou seja, espécies provenientes de outras bacias hidrográficas neotropicais ou até mesmo de outros continentes, que foram introduzidas na região por meio de escapes de cultivos ou solturas intencionais.
Endemic species
Cerca de 70% das espécies registradas são exclusivas dessa bacia hidrográfica (Rio Iguaçu), e essa participação demonstra a importância dos processos regionais na determinação da composição e estrutura das ictiocenoses. Entre as 90 espécies de peixes já citadas para estudos realizados no Rio Iguaçu, muitas são exclusivas para os trechos médio e baixo, como Apareiodon vitattus, Ancistrus mullerae, Glanidium ribeiroi, Steindachneridion melanodermatum, Tatia jaracatia, Pimelodus britski e Pimelodus ortmanni, Crenicichla iguassuenis e Crenicichla sp., além de inúmeros peixes descritos para o trecho argentino da bacia.
other continents, which were introduced into the regions due to
Ichthyofauna that has been recorded can be classified in three basic categories of species based on their original distribution: autochthonous species, i.e. that are endemic to the Iguassu River Basin; allochthonous species, which occur naturally in other river basins besides the Iguassu River Basin; introduced species, i.e. that are originally form other neotropical river basins, or yet from intentional or non-intentional release from fish farms. Some 70% of the recorded species are exclusive to the Iguassu River Basin, which shows their importance in regional processes to establish ichthyocenosis composition and structure. Of the 90 abovementioned species that were studies in the Iguassu River, many are exclusive of the Medium and Lower parts of this river, such as Apareiodon vitattus, Ancistrus mullerae, Glanidium ribeiroi, Steindachneridion melanodermatum, Tatia jaracatia, Pimelodus britski and Pimelodus ortmanni, Crenicichla iguassuenis and Crenicichla sp., as well as countless species described for the Argentine portion of the Basin.
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Peixes de riachos A ictiofauna do Parque Nacional possui forte componente de espécies torrentícolas, ou seja, aquelas adaptadas à vida em riachos e cabeceiras de cursos de água. Além de apresentar uma comunidade peculiar, esse tipo de ambiente aquático (riachos) abriga normalmente espécies de pequeno porte, com limitado potencial de dispersão (WEITZMAN; VARI, 1988), que apresentam interações ecológicas complexas, sendo o endemismo uma característica importante (KNÖPPEL, 1970; SABINO; ZUANON, 1998). Outra característica importante dessa ictiofauna é a sua dependência, direta ou indireta, de recursos importando da vegetação marginal. A vegetação marginal pode proporcionar ampla gama de microambientes, pois, além de evitar a erosão dos solos, a queda de galhos e troncos dentro de um riacho, pode provocar inúmeros pequenos represamentos, e esses ambientes criam condições favoráveis para abrigar diferentes grupos, como algumas espécies reofílicas ou torrentícolas (como os lambaris Astyanax spp. e Bryconamericus spp.), bentônicas (como os cascudos Ancistrus e Hypostomus spp. e os candirus Trichomycterus spp.) e de ambientes lênticos (como os ciclídeos).
STREAM FISH The ichthyofauna of the National Park includes torrenticulous species i.e. that are adapted to live in streams or at headwater. This type of aquatic environment harbors a peculiar community of usually small fish with limited dispersion potential (WEITZMAN; VARI, 1988). They have complex ecological interactions, where endemism is an important characteristic (KNÖPPEL, 1970; SABINO; ZUANON, 1998). Another important characteristic of this ichthyofauna is the direct or indirect dependence on resources imported from marginal vegetation. Marginal vegetation can provide a great variety of microenvironments as it prevents soil erosion. When tree branches and trunks fall into a stream they can cause a number of small dams and these environments are conducive to harboring different groups, such as rheophilics or torrenticulous (such as the Astyanax spp. and the Bryconamericus spp.), benthonic (such as the Ancistrus and the Hypostomus spp., and the Trichomycterus spp.) and lentic environments (such as the cichlids).
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Além disso, a mata ciliar é responsável também pelo fornecimento de uma variedade de alimentos de origem vegetal e de animais terrestres que caem na água. O espectro alimentar apresentado pelas espécies citadas acima mostra uma dependência direta ou indireta da matéria orgânica importada da vegetação ciliar, o que pode ser claramente detectado na bibliografia, em função do registro de itens alimentares autóctones (larvas de insetos, microcrustáceos, insetos aquáticos e algas) e alóctones (invertebrados e plantas terrestres). Tendo isso em vista, a preservação de remanescentes, mesmo que isolados, tem papel importante na manutenção da diversidade faunística local, uma vez que a fauna aquática dos riachos abrange diversas espécies dependentes, em maior ou menor grau, de ambientes florestais.
In addition, the riparian forest is also responsible for providing a wide range of food sources from plants and terrestrial animals that fall into the water. The spectrum of feeding habits of the abovementioned species shows their direct or indirect dependence on organic matter imported from the riparian forest, which is clearly identified in the bibliography, due to the existing records of autochthonous (insect larvae, microcrustaceans, aquatic insects and algae) and allochthonous (invertebrates and terrestrial plants) food resources. Taking this into account, the preservation of vegetation remains, albeit isolated, plays an important role in the maintenance of local fauna diversity, as the aquatic fauna in the streams includes different species that dependent – to a greater or lesser degree – of forest environment.
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lista de ilustrações / illustration list 1 - Pintura/Painting – Cataratas do Iguaçu, Lange de Morretes, 1920 – Acervo Clube Curitibano – p. 20 2 - Pintura/Painting – Grandes Saltos do Iguaçu, 1892 – Edmundo Barros – Acervo Museu Paranaense – p. 21 3 - Pintura/Painting – Indiozinho Guarani – Daniel William Conrade – p. 22 4 - Pintura/Painting – Índia Kaingang – Daniel William Conrade – p. 23 5 - Pintura/Painting – Cataratas do Iguaçu – (Lenda das Cataratas) – Antonio Diogo da Silva Parreiras,1920 – Acervo Palácio do Iguaçu – p. 32-33 6 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – corticeira, Erythrina crista-galli – Fátima Zagonel – p. 35 7 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – caeté, Heliconia velloziana – Lais Felippu Pinto – p. 86 8 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – ipê-roxo, Tabebuia avelianadae – Maria da Penha Passos – p. 87 9 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – paineira, Ceiba speciosa – Diana Carneiro – p. 89 10 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – orquídea, Maxillaria picta – Fátima Zagonel – p. 90 11 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – pata-de-vaca, Bauhinia forficata – Lais Felippu Pinto – p. 91 12 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – fruto-de-papagaio, Manettia luteo-rubra – Neusa G. Fedato – p. 93 13 - Ilustração Botânica/Botanical Illustration – pinheiro-do-paraná, Araucaria angustifolia – Cristina Maria Klas Bico – p. 94 14 - Ilustração Zoológica/Zoological Illustration – gavião-real, Harpia harpija – Maria da Penha Passos – p. 138-139 15 - Ilustração Zoológica/Zoological Illustration – urubu-rei, Sarcoramphus papa – Maria da Penha Passos – p. 140 16 - Ilustração Zoológica/Zoological Illustration – araçari-banana, Pteroglossus bailloni – Maria da Penha Passos – p. 141 17 - Ilustração Zoológica/Zoological Illustration – surucuá-variado, Trogon surrucura – Maria da Penha Passos – p. 142 18 - Ilustração Zoológica/Zoological Illustration – beija-flor-de-garganta-verde, Amazilia fimbriata – Maria da Penha Passos. – p. 145 19 - Ilustração Zoológica/Zoological Illustration – gato-mourisco, Puma yagouaroundi – Maria da Penha Passos – p. 201 20 - Mapa/Map – Jonatas dos Santos Cunico – p. 254-255
Créditos fotográficos / Photographic credits Com exceção das fotografias abaixo relacionadas, todas as outras são de autoria de Carlos Renato Fernandes e Hudson Garcia. Except for the photos listed below, all were taken by Carlos Renato Fernandes and Hudson Garcia.
Acervo Museu Paranaense: Ponte sobre o Rio Iguaçu – União da Vitória – p. 27 Vista parcial dos Saltos de Santa Maria – p. 24 Saltos do Iguaçu - Garganta do Diabo – p. 31 Saltos Santa Maria – p. 31 Marcelo Krause: p. 107 (em cima) e p. 240 a 253 Luciano Sabóia: foto da primeira orelha da sobrecapa
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