CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, AÇÚCAR, ETANOL E BIOELETRICIDADE NO BRASIL: FECHAMENTO DA SAFRA 2013/2014
1ª Edição
Setembro de 2014
Universidade de São Paulo - USP Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ Departamento de Economia, Administração e Sociologia Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas - PECEGE Coordenação: CARLOS EDUARDO OSÓRIO XAVIER DANIEL YOKOYAMA SONODA JOÃO HENRIQUE MANTELLATTO ROSA PEDRO VALENTIM MARQUES Equipe técnica: ALINE BIGATON ALINE FERNANDA SOARES ANDRÉ FELIPE DANELON ANNELISE SAKAMOTO IZUMI DAVID HENRIQUE TEIXEIRA DA COSTA EDUARDO RIBEIRO GARCIA FRANCISCO DO AMARAL ALVES HÉLIO ANTÔNIO BASSO DO PRADO JEAN JACQUES CALAMARI CORDEIRO JOSÉ ARI FORMIGA JULIANO MANTELLATTO ROSA LARISSA LAROCCA DE SOUZA LUIZ FERNANDO SANSIGOLO XAVIER MATHEUS FERREIRA MORAES BAPTISTA MAURÍCIO FANTON RENATO HARBS RICARDO DE CAMPOS BULL RUAN RICHARD D’ARAGONE
PECEGE. Custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar, etanol e bioeletricidade no Brasil: Fechamento da safra 2013/2014. Piracicaba: Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas/Departamento de Economia, Administração e Sociologia. 2014. 54 p. Relatório apresentado à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA. ISSN 2177-4358
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AGRADECIMENTOS O PECEGE/CNA agradece a participação e apoio das instituições e empresas destacadas. Todas elas colaboraram com este trabalho e aceitaram a divulgação de seus nomes.
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 7 PRIMEIRA PARTE – CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DOS FORNECEDORES: FECHAMENTO DA SAFRA 2013/14 ............................................................................................. 9 1. FORNECEDORES .............................................................................................................................. 11 1.1
Resultados da safra 2013/14 ............................................................................................................ 12
1.1.1 Indicadores técnicos ........................................................................................................................ 12 1.1.2 Custos de produção ......................................................................................................................... 13 SEGUNDA PARTE – CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, AÇÚCAR E ETANOL NO BRASIL DA SAFRA 2013/14 ................................................................................................. 19 2. USINAS ............................................................................................................................................... 21 2.1
Metodologia de cálculo dos custos .................................................................................................. 23
2.1.1 Cálculo do custo de produção industrial (açúcar e etanol) .............................................................. 26 2.1.2 Cálculo do custo de produção de bioeletricidade ............................................................................ 28 2.2
Indicadores Técnicos de Produção .................................................................................................. 30
2.2.1 Estimativa de preço da cana do fornecedor para cada perfil de produção ....................................... 33 2.3
Custos de Produção Agroindustrial ................................................................................................. 34
2.3.1 Custos de Produção Agrícola .......................................................................................................... 34 2.3.2 Custos Agroindustriais .................................................................................................................... 40 2.3.3 Custos de geração de bioeletricidade............................................................................................... 44 2.4
Evolução dos Custos ....................................................................................................................... 48
2.5
Conclusões ...................................................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................... 51 Anexo 1 – Critério de classificação da tecnologia de cogeração de energia elétrica.................................. 52
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INTRODUÇÃO O Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) apresenta o 10º Relatório de Custos de Produção do Setor Sucroenergético em 2014, desenvolvido em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e fomentado por instituições que, desde 2011, são assinantes do Portal de Informações Sucroenergéticas. O relatório objetiva apresentar os custos agroindustriais do setor canavieiro para os sistemas de produção de fornecedores de cana e usinas produtoras de cana, açúcar e etanol na safra 2013/14. Uma novidade desse ano refere-se à criação do indicador de custos de produção de bioeletricidade. O levantamento foi realizado nacionalmente e os dados foram agregados em três regiões: Centro-Sul Tradicional (SP e PR), Centro-Sul Expansão (MG, GO, MS e MT) e Nordeste (AL, PE, PB). Esse relatório sintetiza os resultados da pesquisa iniciada em março e concluída em setembro de 2014, período no qual as usinas, fornecedores de cana-de-açúcar e representantes de classe de todo Brasil puderam consolidar os custos e indicadores referentes à safra analisada. Esse documento está organizado em dois grandes capítulos, os quais contemplam as principais questões metodológicas, resultados e análises do levantamento feito com os fornecedores e com as usinas. Os resultados detalhados dos levantamentos contendo análises tecnológicas, indicadores de produção, benchmarking de resultados e evolução desses fatores ao longo das sete últimas safras podem ser acessados pelos participantes dessas pesquisas do PECEGE através do Portal de Informações Sucroenergéticas disponível em www.pecege.esalq.usp.br/portal.
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PRIMEIRA PARTE – CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DOS FORNECEDORES: FECHAMENTO DA SAFRA 2013/14
Gestor: João Henrique Mantellatto Rosa Doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas pela ESALQ-USP Pesquisadores: Aline Fernanda Soares Mestranda em Economia Aplicada pela ESALQ-USP Jean Jacques Calamari Cordeiro Graduando em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP Juliano Mantellatto Rosa Graduando em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP José Ari Formiga Mestrando em Fitotecnia pela ESALQ-USP Renato Harbs Mestrando em Economia Aplicada pela ESALQ-USP Ruan Richard D’Aragone Graduando em Administração pela ESALQ-USP
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10
1.
FORNECEDORES Considerando a distribuição de produção de cana-de-açúcar no Brasil, a amostra da pesquisa
é definida em três macrorregiões produtoras: Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste. No caso dos fornecedores de cana, o levantamento das informações é realizado por meio de “painéis”, que são encontros presenciais, onde os participantes, que em geral são produtores rurais e técnicos de cooperativas, associações e sindicatos, caracterizam de forma consensual a unidade produtiva modal da região em questão, indicando os coeficientes técnicos e econômicos pré-determinados que definem o pacote tecnológico de produção de cana. Os nomes dos painéis que compõem cada macrorregião, bem como suas participações relativas 1, são apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Localidades e participações relativas dos painéis na safra 2013/2014. Macrorregião Painel UF Participação relativa no modelo - %2 Assis SP 23% Catanduva SP 12% Jacarezinho PR 3% Centro-Sul Jaú SP 20% Tradicional Piracicaba SP 12% Porecatu PR 3% Sertãozinho SP 27% Goiatuba GO 18% Maracaju MS 23% Centro-Sul Nova Olímpia MT 9% Expansão Quirinópolis GO 16% Uberaba MG 34% João Pessoa PB 12% Nordeste Maceió AL 52% Recife PE 36%
1
As participações relativas indicam a representatividade de determinado painel na composição do modelo macrorregional, este calculado por meio de ponderação a partir das observações individuais. 2 Elaborado a partir de dados de produção de cana em cada região disponibilizados pela União da Indústria de Cana-deaçúcar (UNICA) por meio da plataforma UNICADATA (http://www.unicadata.com.br/).
11
11
1.1
Resultados da safra 2013/14
1.1.1 Indicadores técnicos A Tabela 2 apresenta os principais indicadores técnicos de produção apurados pela pesquisa para as regiões Centro-Sul e Nordeste, sendo que os resultados mostraram-se bastante semelhantes aos da safra 2012/13, exceto para os indicadores de produtividade agrícola e qualidade/preço da matéria-prima (ATR3). No caso da produtividade, foram verificados aumentos em torno de 3 t/ha para todas as macrorregiões, ao passo que os níveis de ATR mostraram decréscimo, com destaque para a região Nordeste, que em função da elevada quantidade de chuvas, apresentou queda de 8%. Vale destacar, ainda, os crescentes índices de mecanização no centro-sul canavieiro, que para os fornecedores da região Tradicional alcançaram nesta colheita 77%, o que equivale a um aumento de 10 pontos percentuais (p.p.) em relação à safra 2012/13. Por outro lado, na região Expansão, cuja colheita é realizada integralmente de forma mecanizada há algumas safras, cresce a mecanização do plantio, que atingiu 81%, um crescimento de 8 p.p. em relação à safra passada. A região Nordeste segue com índices nulos de mecanização na colheita e plantio em áreas de fornecedores. Tabela 2 - Indicadores de produção na safra 2013/14 para os modelos macrorregionais. Indicador Unid Tradicional Expansão Nordeste Área total
ha
170
550
143
Área arrendada
%
9%
21%
7%
t/ha
80
84
52
Produção total
t
11.227
36.896
5.880
Cortes
n
5
5
5
Teor de ATR
kg/t
133,28
133,10
126,14
Raio médio
km
25
22
23
Colheita mecanizada
%
77%
100%
0%
Plantio mecanizado
%
0%
81%
0%
Arrendamento
t/ha
21
13
8
Preço do ATR4
R$/kg ATR
0,4572
0,4572
0,5408
Produtividade média
3
4
ATR – Açúcar Total Recuperável. Valor bruto.
12
12
1.1.2 Custos de produção Os custos de produção de cana-de-açúcar para fornecedores na safra 2013/14, bem como o detalhamento dos valores que os compõem, são evidenciados no Quadro 1. Adicionalmente, de forma a facilitar a compreensão das análises a seguir, as mesmas informações são ilustradas de forma relativa (em porcentagem) na Figura 1 e 2. Numa análise comparativa entre as regiões, observa-se uma certa homogeneidade na somatória dos custos por estágios de produção5, com um montante gasto por área. As principais diferenças nos custos de produção entre as macrorregiões se dão nos fatores de remuneração da terra e outros custos, estes, em geral, de origem administrativa. No caso da remuneração da terra, os valores são norteados pelos indicadores de arrendamento, que na região Tradicional são relativamente mais elevados (Tabela 2), determinando, portanto, um custo de oportunidade superior quando comparado a outras regiões. Os outros custos, por sua vez, são influenciados diretamente pela escala de produção, sendo que, para as regiões Tradicional e Nordeste, cujos módulos de produção são em torno de 160 hectares, a mesma estrutura administrativa declarada atenderia uma produção de, pelo menos, duas vezes mais área, sem nenhuma alteração significativa. Além disso, vale destacar a maior versatilidade do produtor da região Expansão, que em geral, cultiva tanto cana-de-açúcar como outras culturas, por exemplo, soja e milho. Tal situação contribui para distribuir custos como despesas administrativas e máquinas de uso comum em diferentes culturas. A análise vertical do Quadro 1, tomando como base os custos por hectare de cada região, pode trazer uma conclusão equivocada dos resultados, visto que a mesma não faz qualquer relação com a produtividade agrícola. Tal conclusão pode ser facilmente entendida quando se observa o custo de produção de cana para a região Nordeste, que apesar de apresentar o menor custo em R$/ha, quando relacionado à baixa produtividade verificada, resulta nos maiores custos em R$/t.
5
Formação do canavial, tratos soca e colheita.
13
13
Descrição
Tradicional
Expansão
Nordeste
R$/ha
R$/t
R$/ha
R$/t
R$/ha
R$/t
254,81
3,19
190,93
2,27
257,72
4,96
1.232,65
-
914,86
-
1.214,25
-
641,15 3.101,57
8,01 -
724,18 3.470,05
8,62 -
713,39 3.361,15
13,72 -
80,28
1,00
91,00
1,08
130,55
2,51
388,37
-
436,03
-
615,10
-
976,25
12,20
1.006,11
11,98
1.101,66
21,19
4.722,60
-
4.820,95
-
5.190,50
-
876,12
10,95
969,65
11,54
960,51
18,47
1.059,55
-
1.161,56
-
1.131,37
-
Colheita
1.963,33
24,54
2.021,04
24,06
1.493,44
28,72
Remuneração da terra
1.293,42
16,17
713,00
8,49
596,48
11,47
Outros
1.015,54
12,69
699,85
8,33
804,16
15,46
Remuneração do proprietário
125,17 352,79 0,00 31,35 423,27
1,56 4,41 0,00 0,39 5,29
194,75 279,29 6,45 16,39 143,19
2,32 3,32 0,08 0,20 1,70
49,33 283,37 3,28 56,42 293,56
0,95 5,45 0,06 1,09 5,65
Remuneração do capital
82,96
1,04
59,77
0,71
118,20
2,27
6.124,65
76,56
5.409,65
64,40
4.956,25
95,31
Preparo de solo Hectare cultivado* Plantio Hectare cultivado Tratos planta Hectare cultivado Formação do canavial** Hectare cultivado Tratos soca Hectare cultivado
Arrendamento Despesas administrativas Capital de giro Benfeitorias e irrigação (D)***
TOTAL
* Real montante gasto em um hectare cultivado num determinado estágio de produção; ** Resultado do somatório dos estágios preparo de solo, plantio e tratos planta; *** Depreciação relativa a benfeitorias e equipamentos de irrigação.
Quadro 1 - Detalhamento dos fatores de formação dos custos de produção de cana-de-açúcar para os modelos macrorregionais na safra 2013/2014.
14
14
Nordeste
22%
Expansão
19%
19%
Tradicional
18%
16%
0%
10%
30%
37%
14%
20%
Formação do canavial*
32%
30%
Tratos soca
6%
40% Colheita
5%
6%
50%
12%
60%
Administrativo
11%
13%
21%
70%
80%
8%
11%
90%
Remuneração da terra
100% Outros**
* Formação do canavial – Somatório dos custos de preparo de solo, plantio e tratos culturais da cana planta considerando operações na área necessária para manutenção do canavial em equilibro de 5 cortes – vide detalhes em PECEGE (2012). ** Outros – Somatório dos fatores: arrendamento, capital de giro, depreciação com benfeitorias e equipamentos de irrigação, remuneração do proprietário e remuneração do capital.
Figura 1 - Distribuição relativa dos fatores de custos de produção de cana-de-açúcar na safra 2013/14 sob a perspectiva de estágios de produção.
Uma vez discutidos os custos por etapa de produção, a Figura 2 propõe a distribuição dos custos sob a perspectiva da participação relativa dos insumos, ou seja, a figura mostra comparativamente como os insumos afetam os custos de produção. Esta análise reflete, principalmente, os sistemas de produção adotados, em especial quanto à mecanização das operações. Na região Centro-Sul Expansão, a parcela mais evidente é a de “maquinário”, representando, praticamente, metade dos custos de produção, enquanto que na região Nordeste, o contexto é o oposto, com a maior parte dos custos relacionados à “mão de obra”. Na região Tradicional, os custos com “maquinário” também se mostram expressivos e tendem a seguir tendência de crescimento, considerando o panorama de produção, caracterizado por restrições à queima em pré-colheita. Entretanto, o que chama atenção no comparativo entre as regiões é a participação da “remuneração da terra” nos custos, em função dos altos valores de arrendamento praticados, conforme já discutido anteriormente. 15
15
Nordeste
21%
25%
26%
Expansão
44%
Tradicional
31%
0% Maquinário
20% Mão-de-obra
25%
5%
20%
11%
40% Insumos
6% 12%
6%
60%
Administrativo
5%
13%
21%
80% Remuneração da terra
11%
8%
11%
100% Outros*
* Outros – Somatório dos fatores: arrendamento, capital de giro, depreciação com benfeitorias e equipamentos de irrigação, remuneração do proprietário e remuneração do capital.
Figura 2 - Distribuição relativa dos fatores de formação dos custos de produção de cana-de-açúcar para os modelos macrorregionais na safra 2013/2014 sob a perspectiva de insumos de produção. Na análise de rentabilidade da atividade (Figuras 3 e 4), quando se relacionam os custos de produção com os preços praticados, o diagnóstico é feito sob duas perspectivas: do Custo operacional total (COT) e Custo total (CT). A diferença do segundo para o primeiro limita-se na incorporação dos custos de capital. Numa análise simplificada, o COT e CT representam, respectivamente, a viabilidade econômica da atividade nos horizontes de curto e longo prazo, tendo em vista a questão da remuneração do capital. Considerando a região Centro-Sul (Figura 3), os custos de produção operacionais de cana pelos fornecedores na safra 2013/14 ficaram em patamares muito semelhantes aos da safra passada, em torno de 59 R$/t para a região Tradicional e 55 R$/t para a região Expansão, apresentando, inclusive, uma sensível queda em função do aumento de produtividade, o que compensou eventuais aumentos, como preço do diesel e salários relacionados à mão de obra. Num comparativo entre as duas regiões, as principais razões para tal diferença, conforme aspectos já detalhados, são maior
16
16
produtividade agrícola e escala de produção pelos fornecedores da região Expansão, além do rateio de despesas fixas com outras culturas em paralelo à cana-de-açúcar. Relacionando tais custos com os preços praticados, observa-se que as margens líquidas para a atividade foram positivas (Figura 4), sendo 1,82 R$/t ou 2,99% para a região Tradicional e, 5,81 R$/t ou 9,55% para a região Expansão. Apesar de positivas, comparativamente a safra passada, as margens diminuíram, tendo em vista a queda do preço da cana – em torno de 4 R$/t – em função, basicamente, da redução dos índices de qualidade da matéria-prima e dos preços do ATR. Para a região Nordeste, a análise, em termos de tendência, é muito semelhante da região Centro-Sul, com manutenção dos custos, ainda que em patamares bem mais elevados (81 R$/t) – em função da menor produtividade agrícola – e queda da rentabilidade, com margem de –14 R$/t ou – 21%. Neste caso, o principal motivo foi a queda na qualidade da matéria-prima, que em função das chuvas, teve um decréscimo de 8% quando comparado a safra 2012/2013. Nesse sentido, o prejuízo é em parte suavizado por subsídios, como o programa de subvenção da cana-de-açúcar, que pagou nessa safra, 12,00 R$/t de cana cortada para os fornecedores com produção anual de até 10 mil toneladas de cana. Além dos subsídios formais, existem os subsídios informais, que são incentivos dados pelas usinas a determinados fornecedores, como descontos nos pagamentos de serviços de colheita e plantio. Ressalta-se que tais incentivos informais não são exclusivos do nordeste canavieiro, sendo verificados também na região CentroSul, em especial na Tradicional onde, comparativamente à Expansão, a competição por fornecedores é maior e os mesmos recorrem com mais frequência a serviços das usinas. Por fim, na análise dos custos totais, ou seja, incorporando os custos de capital aos custos operacionais, a situação é de prejuízo para todas as regiões analisadas. Dentre elas, destaca-se, novamente, a Tradicional (maior diferença entre COT e CT), onde os altos valores praticados em contratos de arrendamento resultam em elevados custos de oportunidade ao produtor.
17
17
120 100 80 R$/t
60 40 20 0
Tradicional
Expansão
Nordeste
Tradicional
Custo operacional total (COT) RT + RC COT CT PREÇO
59,12
55,04
81,29
60,94
60,85
67,19
Expansão
Nordeste
Custo total (CT) 17,44 59,12 76,56 60,94
9,36 55,04 64,40 60,85
14,02 81,29 95,31 67,19
* RT – Remuneração da terra; RC – Remuneração do capital; CT – Custo total; ** Os preços da cana foram determinados a partir dos respectivos valores para qualidade da cana (ATR) e preço do ATR (Tabela 2).
10
20%
5
10%
0
0%
R$/t
-5
-10%
-10
-20%
-15 -20
-30%
-25
-40%
-30
-50% Tradicional
Expansão
Nordeste
Tradicional
Margem líquida R$/t %
%
Figura 3 - Custos de produção e preços da cana-de-açúcar na safra 2013/14 para os modelos macrorregionais.
1,82 2,99%
5,81 9,55%
Expansão
Nordeste
Lucro -14,09 -21%
-15,62 -25,64%
-3,55 -5,83%
-28,12 -42%
* Margem líquida: Preço - COT; Lucro: Preço - CT.
Figura 4 - Indicadores de rentabilidade para produção de cana-de-açúcar na safra 2013/14 para os modelos macrorregionais.
18
18
SEGUNDA PARTE – CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, AÇÚCAR E ETANOL NO BRASIL DA SAFRA 2013/14 Gestor: Carlos Eduardo Osório Xavier Doutorando em Economia Aplicada pela ESALQ-USP. Pesquisadores: Aline Bigaton Graduanda em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP Aline Fernanda Soares Mestranda em Economia Aplicada pela ESALQ-USP André Felipe Danelon Graduando em Ciências Econômicas pela ESALQ-USP Annelise Sakamoto Izumi Mestranda em Engenharia de Sistemas Logísticos pela POLI-USP David Henrique Teixeira da Costa Graduando em Ciências Econômicas pela ESALQ-USP Eduardo Ribeiro Garcia Graduando em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP Francisco do Amaral Alves Graduando em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP Hélio Antônio Basso Do Prado Graduando em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP Larissa Larocca de Souza Graduanda em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP Luiz Fernando Sansigolo Xavier Graduando em Ciências Econômicas pela ESALQ-USP Matheus Ferreira Moraes Baptista Graduando em Ciências Econômicas pela ESALQ-USP Maurício Fanton Graduando em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP
19
19
20
2.
USINAS A coleta de informações com as usinas na safra 2013/14 buscou manter a integridade, obter
dados confiáveis, adequados às especificações dos questionários da pesquisa e livre de vieses. O processo de levantamento de dados foi realizado à distância e cada pesquisador do PECEGE foi responsável pelo relacionamento com um grupo de participantes da pesquisa, estabelecendo com eles um cronograma de atividades, analisando e interpretando todas as informações preenchidas de cada questionário, antes que estas fossem agrupadas no banco de dados do Portal Informações Sucroenergéticas. Este portal é o canal por onde os dados foram submetidos pelas usinas, automaticamente pré-avaliados, considerando históricos de resultado, para, em seguida, serem analisados pelos pesquisadores do PECEGE e validados com as usinas. Todos os questionários com boa qualidade de preenchimento foram utilizados para o desenvolvimento de resultados detalhados sobre os custos de cada usina. Desta forma, além deste relatório, cada empresa com tal nível de participação receberá um relatório de análise individual sobre sua empresa, assim como indicadores de benchmarking. No levantamento da safra 2013/14, metade da amostra total disponibilizou informações suficientes para a elaboração dos relatórios de custos individuais, o que representa um aumento de mais de quase 50% em relação à safra anterior. Todas as usinas brasileiras foram convidadas a participar da pesquisa. Como resultado, 98 agroindústrias, responsáveis pelo processamento de 213 milhões de toneladas de cana, ou seja, aproximadamente um terço da produção nacional, preencheram os questionários da pesquisa de custos. A Tabela 1 apresenta, para as três regiões do levantamento, a representatividade da produção e o número de empresas participantes frente à população pesquisada, isto é, o total de moagem e usinas do Brasil para a safra 2013/14, enquanto a Figura 1 apresenta a distribuição das respostas dos questionários por subdivisão das regiões analisadas. Destaca-se a importante contribuição institucional dos sindicatos estaduais da indústria de açúcar e etanol para promoção da pesquisa. Tabela 1 - Comparativo da amostra da pesquisa e a população pesquisada. REGIÃO
MOAGEM (milhões toneladas)
USINAS (quantidade)
AMOSTRA
POPULAÇÃO
%
AMOSTRA
POPULAÇÃO
%
Tradicional
108
412
26%
44
204
22%
Expansão
88
190
46%
38
116
33%
Nordeste
19
52
36%
16
70
23%
TOTAL
214
653.
33%
98
390
25%
Fonte: Elaborado pelos autores com base em UNICA (2014), MAPA (2014).
21
21
PE 3%
AL 10%
PB MT 3% 2%
MA 1%
MS 7%
Catanduva 9%
PR 11%
SP 46%
Piracicaba 8%
Araçatuba 7%Sertãozinho 4%
GO 13% MG 15%
Jaú 3% Assis 2%
Figura 1 - Distribuição das usinas participantes da pesquisa por sub-região analisada. Ressalta-se aos leitores o cuidado na avaliação de variações de alguns indicadores da safra 2013/14, os quais sofreram impacto que podem parcialmente serem atribuídos à modificação do perfil da amostra pesquisada. Mudanças da amostra da pesquisa têm sido recorrente, uma vez que a participação é voluntária. Entretanto, os impactos são sobressaltados sempre que grupos econômicos com maior representatividade na produção regional passam a participar dessa pesquisa. O mesmo efeito ocorre em sentido inverso, quando usinas deixam de participar da pesquisa. Felizmente, em geral, são as usinas de menor representatividade que têm oscilado sua participação na pesquisa. Na safra 2013/14, o efeito de viés de mudança da amostra foi ressaltado na região Nordeste, onde dois grupos regionais importantes aderiram à pesquisa, enquanto três usinas participantes da pesquisa 2012/13 encerraram suas atividades. Na região Expansão houve o efeito relevante de três novos grupos participarem da pesquisa, enquanto a região Tradicional apresentou a oscilação típica de usinas participantes. A perspectiva positiva da mudança do perfil amostral na safra 2013/14 é a aderência dos atuais participantes às transformações recentes passadas pelo setor. Essencialmente, a consolidação de usinas de maior escala, uso de práticas de produção agrícola mais tecnificada e maturação dos investimentos nas indústrias com tecnologia mais avançada.
22
22
2.1
Metodologia de cálculo dos custos Visando aprimorar a metodologia de cálculo de custo do PECEGE, este levantamento
apresentou algumas alterações com relação tanto a forma de aplicação dos questionários quanto com o cálculo dos custos de produção. As principais alterações realizadas na pesquisa atual foram: a)
Mudanças de informações coletadas no questionário: i)
Inclusão de perguntas sobre detalhamento de custos de manutenção de sistema de irrigação e de estradas, visando proporcionar uma validação mais apurada de “tratos cana soca” e da “formação de canavial”. Para avaliar a distribuição de custos de irrigação com formação do canavial e tratos, foi solicitado o detalhamento da área total irrigada nessas duas operações, pois verificou-se que algumas usinas não incluíam custos com a irrigação de forma apropriada. Já a questão da manutenção de estradas foi importante para homogeneizar o critério de alocação desse fator. Anteriormente, observava-se que essa conta de custos era alocada tanto em formação do canavial para algumas usinas como em “CCT” em outras e também como “administração agrícola”. Buscou-se, nesse levantamento, alocar essa conta para “administração agrícola”.
ii)
Na parte industrial, voltou-se a calcular manutenção industrial por “materiais e serviços” e não mais como “safra e entressafra” com o objetivo de melhorar a qualidade da informação, já que a modificação incorporada na safra 2011/12, de divisão de manutenção em safra e entressafra não funcionou apropriadamente.
iii) Na etapa de perguntas sobre “custos administrativos” foi modificada a conta “capital de giro” com o objetivo de perguntar os valores de juros pagos de curto prazo e os de longo prazo pagos para financiamento. Os juros de curto prazo passaram a representar o custo de capital de giro. Anteriormente, notava-se uma confusão no preenchimento da pergunta sobre o montante de recursos capitado para “capital de giro”. iv)
Com o objetivo de aprimorar o processo de validação dos custos de “mão de obra”, seja do departamento agrícola, industrial ou administrativo, foi incluído um detalhamento do perfil de cargos da agroindústria. Dessa forma, foi possível a criação de indicadores para a comparação entre as usinas, diminuindo a incidência de erros no preenchimento.
23
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b)
Mudanças no cálculo de custos: i)
Mudou-se a forma de mensuração do “preço de ATR”. Na safra 2011/12 esse preço havia passado a ser calculado segundo as regras do CONSECANA, utilizando os indicadores estimados de “mix de produção” e preços de cada produto industrial comercializado regionalmente. A modificação de 2013/14 foi de simplificar os cálculos de forma a usar o valor médio divulgado pelo CONSECANA-SP, para as regiões Tradicional e Expansão e CONSECANA-AL, para o Nordeste. Essa alteração foi realizada pelas análises das respostas dos questionários onde ser observou que a maior parte das usinas adota o preço médio do ATR.
ii)
Foi incorporada a pergunta de “capacidade nominal de moagem da safra” usada para o cálculo do “nível de utilização da capacidade instalada” como a razão entre moagem efetiva na safra e o novo indicador. Dessa forma, o cálculo anterior do “nível de utilização da capacidade instalada”, que era baseado em uma estimativa do PECEGE em função das “horas com potencial de moagem”, foi substituído por um indicador definido pelas usinas, considerando suas próprias particularidades de produção. A estimava anterior do “nível de utilização da capacidade instalada” considerava a premissa implícita de 100% de uso da capacidade nominal de moagem durante as horas efetivas de moagem, ou seja, os desvios entre a moagem efetiva e a capacidade de moagem eram calculados em função do menor ou maior tempo de “processamento total de cana” pelas indústrias. A nova metodologia possui o efeito positivo de gerar uma informação de maior qualidade. A consequência prática da aplicação da nova metodologia para a safra 2013/14 é a de “custos de depreciação” e “custo de capital industrial” 0,7% maiores do que os estimados com a metodologia anterior. Além disso, há o efeito indireto de modificação às premissas de cálculo de área de cana própria das usinas e moagem dos modelos regionais. A Equação (1) representa a nova forma de cálculo da área própria, onde industrial” e
,a
representa o “nível de utilização da capacidade
“capacidade nominal de moagem”. A Equação (2) reitera a forma
de estimativa de moagem dos modelos regionais que não é modificada, porém possui efeito direto na nova forma de cálculo de
.
24
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(1)
(2)
c)
Novos Indicadores de custos: i)
Uma prática muito comum do setor é o pagamento de bonificações adicionais ao preço CONSECANA no pagamento da cana. Com o objetivo de mensurar esse indicador, foram incorporadas perguntas nos questionários agrícolas da pesquisa. As novas informações criaram um novo indicador para os modelos de cálculo de custo. O “preço pago pela cana de fornecedor” passou a ser a soma entre o preço CONSECANA e “bonificações pagas pela cana”. Nos questionários, o indicador de pagamento de bonificação foi dividido em três grupos: recebimento de ágio no preço CONSECANA da cana, benefícios indiretos disponibilizados pelas usinas aos fornecedores de cana na forma de preços cobrados pelos serviços prestados de “CCT” abaixo dos seus custos, e outros possíveis benefícios também na forma de preços cobrados pelas usinas abaixo dos custos, como, por exemplo, aplicação de vinhaça, venda de mudas, etc. Um aspecto importante é que as “bonificações” podem ser também negativas, caso as usinas obtenham lucro nos serviços de operações agrícolas prestados aos fornecedores. Na safra 2013/14, entretanto, não se observou esse caso em nenhuma usina pesquisada. Outra utilidade sobre as perguntas de “bonificações” foi seu efeito indireto de ajuda na validação dos custos de produção de “cana própria”. Isso ocorre porque uma prática comum em usinas é incorporar os custos das operações agrícolas realizadas aos fornecedores, que não foram descontadas do preço da cana, como parte dos custos da “cana própria”. Dessa forma, foi possível isolar de forma mais explícita o custo das operações para “cana própria” dos custos com “bonificações”.
ii)
Um novo indicador refere-se ao levantamento de cálculo de custos de energia, que será detalhado no subcapítulo específico sobre esse assunto.
25
25
2.1.1 Cálculo do custo de produção industrial (açúcar e etanol)
O cálculo dos custos de produção agroindustriais segue os procedimentos metodológicos
desenvolvidos e descritos nos relatórios dessa série de pesquisa. As definições e premissas fundamentais reiteradas nesse relatório são: a) O “Custo Operacional Efetivo (COE)” refere-se à quantidade monetária efetivamente desembolsada nas atividades de produção diretas ao longo da safra, enquanto o “Custo Operacional Total (COT)” incorpora a esses custos as estimativas de custos de depreciações (segundo uma vida útil pré-determinada) de benfeitorias, de máquinas e equipamentos, a partir do montante de capital investido. Sendo assim, as depreciações estão alocadas, portanto, na segunda parcela da estrutura de custos, o COT. Por fim, o “Custo Total (CT)” adiciona ao COT os “custos de remuneração do capital e da terra”, entendidos como custos de oportunidade. O agrupamento dos principais grupos de custos definidos acima para a aplicação da metodologia de cálculo de custo é sintetizado na Figura 2. Reitera-se que os custos de “formação de canavial” são classificados como investimentos depreciáveis a cada ano, ou seja, entram como componente de “depreciação”.
Figura 2 - Resumo do critério de alocação de custos agroindustriais.
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b) Para alocação dos custos de processamento agroindustrial da cana-de-açúcar entre custos do açúcar (cristal ou VHP) ou do etanol (anidro ou hidratado), adotou-se o critério de rateio da proporção de Açúcares Redutores Totais (ART) utilizados por cada produto. Os fatores de transformação definidos para a produção de uma unidade (t açúcar ou m³ de etanol) foram: açúcar branco 1,0474 t de ATR (Nordeste) e 1,0495 (Centro-Sul), açúcar VHP 1,0442 t de ATR (Nordeste) e 1,0453 (Centro-Sul), etanol anidro 1,5357 t de ATR e etanol hidratado 1,4575 t de ATR. Para cálculo da produtividade industrial, aos fatores de transformação são adicionadas as “perdas industriais comuns”, “rendimentos de fermentação” e “rendimentos de destilação”. c) O valor de investimento industrial adotado foi de R$ 135 por tonelada de capacidade de processamento industrial. A premissa para investimento de cogeração foi de R$ 60 por tonelada de capacidade de processamento industrial. Para estimativa de depreciação utiliza-se o critério da depreciação linear de 30 anos para o investimento em açúcar e etanol e 20 anos para cogeração. A taxa real de juro considerada para custos de oportunidade é de 6% ao ano. O custo de oportunidade da terra é definido pelos custos de arrendamento. d) As capacidades nominais de moagem consideradas foram de: 2,4 milhões de toneladas para as regiões Tradicional e Expansão e 1,2 milhões para a região Nordeste. e) O custo de produção por unidade de produto, isto é, reais gastos em cada tonelada de açúcar produzida ou R$/m³ de etanol, é estimado utilizando a Equação (3): (3) Os indicadores de custos “pagamento CONSECANA” e os “custos de embalagem dos produtos industriais” são exceções que não podem utilizar o critério de transformação apresentado na Equação (3). Para resolver a primeira exceção, calcula-se um preço pago pela cana diferente para cada produto produzido. Ressalta-se que os custos de bonificação pagos pela cana seguem as premissas de cálculo da Equação (3). Já o custo de embalagem é calculado dividindo o resultado calculado usando a Equação (3) pelo mix de produção de açúcar branco e alocando todo esses custos ao açúcar branco, enquanto os custos de embalagem são nulos para os demais produtos.
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2.1.2 Cálculo do custo de produção de bioeletricidade O cálculo de custo de produção de bioeletricidade pelas usinas sucroenergéticas na safra 2013/14 adotou como premissa que apenas usinas que vendem eletricidade possuem custos de geração de eletricidade. Dessa forma, usinas que não venderam eletricidade produziram energia sem custos adicionais para produção de açúcar e etanol. As usinas foram classificadas, de acordo com sua produtividade elétrica, em: tecnologia antiga de cogeração, retrofit6 e moderna. O cálculo do custo de geração de bioeletricidade foi realizado de acordo com a Equação (4). (4) Na qual: CTGE =
Custo de Geração de Eletricidade [R$/MWh*Ano]
V=
Se há venda de eletricidade [0 se não vende e 1 se vende]
CCE =
Custo de Comercialização de Eletricidade [R$]
DCGE =
Depreciação do Capital para Geração de Eletricidade [R$]
RCGE =
Remuneração do Capital para Geração de Eletricidade [R$]
VTE =
Venda Total de Eletricidade [MWh]
A variável “CCE” compõe o COE da geração de eletricidade, uma vez que corresponde aos encargos setoriais pagos pela venda de eletricidade. Com relação aos insumos utilizados para a geração de vapor, adotou-se a premissa que as usinas utilizaram apenas bagaço produzido no processamento da cana. Considerou-se também, em função das respostas dos questionários, que as usinas que exportam eletricidade, em termos médios, não comercializam bagaço. Os custos com a aquisição de insumos para as caldeiras já estão incorporados como custos do açúcar e etanol. Outros componentes comuns ao COE, como manutenção de caldeiras, despesas administrativas, entre outros, também já estão alocados aos custos industriais do módulo de produção de açúcar e álcool. A variável depreciação do capital utilizado da cogeração (DCGE) somada ao COE da cogeração, que é o CCE, gera o COT da cogeração. Por fim, adicionando-se o custo com a Remuneração do Capital para Geração de Eletricidade (RCGE) com o COT da cogeração, obtém-se o CT da cogeração, ou, como denominado aqui, Custo Total de Geração de Bioeletricidade (CTGB). 6
Retrofit é usado neste trabalho como sinônimo de renovação. Ou seja, refere-se às usinas que trocaram ao menos uma das caldeiras de baixa pressão por outra de média ou alta pressão.
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A composição do Custo de Comercialização de Eletricidade (CCE) foi baseada nos encargos setoriais descritos em Mosquiara et al (2009) e em entrevistas com usinas. Os encargos considerados são a Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica da ANEEL (TFSEE), Contribuição Associativa à CCEE (Taxa CCEE), Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição para Geração (TUSDG) e Fomento a projetos de Pesquisa e Desenvolvimento de Eficiência Energética (P&D/EE). A soma dos encargos setoriais corresponde a 3,6% das receitas de venda de eletricidade. As relações para DCGE estão resumidas na Equação (5) e para RCCE na Equação (6). (5) Na qual: RCGE = Depreciação do Capital para Geração de Eletricidade [R$] ICGE = Investimento em Capital para Geração de Eletricidade [R$/t] Cap = Capacidade nominal de moagem instalada [t por safra] VR = Valor Residual do ICGE [R$] Anos_Dep = Anos de depreciação [anos] (6) Na qual: RCGE = Remuneração do Capital para Geração de Eletricidade [R$] O ICGE foi ajustado de acordo com a classificação tecnológica das usinas. Usinas de tecnologia de cogeração moderna apresentaram ICGE de R$ 60/t, ou seja, 100% do valor de investimento descrito em PECEGE (2012, 2013). O valor residual considerado foi de 20% do investimento, após 20 anos de vida útil do equipamento. Usinas de tecnologia antiga de cogeração foram consideras como com equipamentos totalmente depreciados. Para usinas classificadas como tecnologia retrofit considerou que o valor do investimento do módulo de produção de eletricidade foi parcialmente depreciado, de forma que, o ICGE é de 80% do valor do investimento das usinas com alta capacidade de cogeração. A Remuneração do Capital para Geração de Eletricidade (RCGE), consequentemente, também variou de acordo com a classificação tecnológica das usinas. 29
29
2.2
Indicadores Técnicos de Produção Os principais indicadores técnicos agroindustriais usados para os cálculos de custos agrícolas
e industriais são listados nas Tabela 2 e 3, respectivamente. Na safra 2013/14, os indicadores técnicos que apresentaram variações com maior impacto para a variação dos custos de produção foram a “produtividade da cana própria” e o “preço do ATR”. Ambos os fatores possuíram um impacto positivo para redução de custos. Seguindo a tendência de evolução de produtividade agrícola já observada na safra anterior, as três regiões produtoras obtiveram ganhos neste indicador. A produtividade nas regiões Expansão e Tradicional aumentou em 10% e 7%, respectivamente, enquanto no Nordeste a variação foi de 20%. O aumento do “nível de utilização da capacidade instalada” na região Tradicional e Nordeste também impactou positivamente para redução de custos. Tabela 2 - Principais indicadores de produção agrícola utilizados no modelo de custos para usinas localizadas nas regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste. Região Descrição Tradicional Expansão Nordeste Área de Produção de Cana Própria estimada¹ (ha) Porcentagem de área colhida na safra Porcentagem de área plantada² na safra Área Arrendada (ha) Produtividade da cana própria (t/ha) Participação de Cana Própria³ Processamento total de cana (t) Número de cortes antes do replantio do canavial Participação de cana de ano e meio Participação de colheita mecanizada Participação de plantio mecanizado Utilização de mudas no plantio (t/ha) ATR cana processada (kg/t) ATR cana fornecedor (kg/t) ATR padrão (kg/t cana) Preço do ATR (R$/kg) Valor do Arrendamento (t/ha/ano) Preço do arrendamento (R$/ha ano) 1
19.198 89,6% 17,9% 71,2% 81,2 63,3% 2.207.000 5 58% 82% 55% 15,2 131,31 133,97 121,97 0,4572 18,8 1.046
21.643 90,9% 18,2% 89,9% 79,3 76,0% 2.054.000 5 50% 96% 80% 17,6 133,26 135,57 121,97 0,4572 12,3 683
11.237 91,1% 18,2% 26,7% 64,1 63,0% 1.042.000 5 49% 13% 2% 13,6 128,29 131,24 114,09 0,5304 10,4 627
Vide Equação 1. Área teórica para a manutenção da área do canavial em equilíbrio. ³ Valor definido por premissa baseada em valores médios do histórico de pesquisas do PECEGE. 2
30
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Tabela 3 - Principais indicadores de produção industrial utilizados no modelo de custos para usinas localizadas nas regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste. Regiões Descrição Tradicional Expansão Nordeste Nível de utilização da capacidade instalada
92,0%
85,6%
86,8%
Perdas industriais Perdas industriais comuns Rendimento de fermentação Rendimento de destilação
8,2% 89,5% 99,6%
7,5% 89,4% 99,7%
10,4% 87,3% 99,6%
Produtividade Industrial1 Açúcar branco (kg/t cana) VHP (kg/t cana) Etanol anidro (L/t cana) Etanol hidratado (L/t cana) Produção eletricidade (KWh/t) Venda de eletricidade (KWh/t)
125,6 126,1 76,5 80,6 62,9 38,8
128,4 128,9 78,3 82,5 73,5 46,5
123,3 123,6 73,0 77,0 37,3 16,3
59,0%
34,7%
68,5%
18,8% 81,2%
27,6% 72,4%
52,4% 47,6%
41,0%
65,3%
31,5%
51,1%
44,0%
76,1%
Mix Produção Açúcar Branco VHP Etanol Anidro Hidratado 1
48,9% 56,0% 23,9% A produtividade industrial considerada é exclusiva, ou seja, a cana é usada para a produção de apenas um produto.
Como fatores secundários de impacto na variação de custos, destacaram-se a redução no “ATR da cana processada”, aumento das “perdas industriais comuns” e redução de “rendimento de fermentação”. Todos esses fatores causaram a redução da produtividade industrial em relação à safra anterior e, consequentemente, possuíram um efeito de aumento nos níveis de custos. De forma a sintetizar em um único indicador os valores e variações da produtividade agrícola, ATR médio da cana e as perdas industriais, calculou-se o indicador de produtividade agroindustrial da produção de etanol hidratado, isto é, a quantidade de etanol produzida por hectare de canavial colhido na safra. A Figura 3 apresenta um resumo dos níveis de produtividade agroindustrial do etanol hidratado dentro da pesquisa. Na safra 2013/14 esse indicador cresceu, devido à recuperação da produtividade agrícola. A dispersão desses valores apresentou amplitude de
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31
164% e coeficiente de variação de 23%. A usina com maior produtividade agroindustrial produziu 8,8 m³ de etanol hidratado para cada hectare de cana colhido, enquanto a usina com menor produtividade produziu 3,3 m³/ha. Tanto a usina com menor como a de maior produtividade estão localizadas na região Expansão. As usinas da região Tradicional tiveram suas produtividades agroindustriais divididas nas quatro classificações, sendo a maior parte regular. Nenhuma das usinas nordestinas, por sua vez, apresentou produtividade agroindustrial alta ou regular, dividindo-se entre baixa e muito baixa. Ressalta-se que a avaliação do indicador de produtividade agroindustrial do etanol hidratado é uma forma simplificada de destacar a competitividade dos custos das empresas do setor, uma vez que um único indicador resume a produtividade agrícola, o teor de qualidade da cana e perdas industriais do produto mais comum do setor. Em média, a quantidade de etanol produzida por hectare colhido cresceu 4,3% na região Tradicional, 8,7% na região Expansão e 13,5% na região Nordeste em relação à safra 2012/13. Além disso, houve aumento da proporção de usinas com alta produtividade e redução da proporção de usinas com produtividade baixa ou muito baixa.
ALTA: ↑ 7 m³/ha
REGULAR: entre 6 e 7 m³/ha
25% das usinas
30% das usinas
32% das usinas Expansão 23% das usinas Tradicional
25% das usinas Expansão 41% das usinasTradicional
BAIXA: entre 6 e 5 m³/ha
MUITO BAIXA: ↓ 5 m³/ha
17% das usinas
28% das usinas
18% das usinas Expansão 14% das usinas Tradicional 33% das usinas Nordeste
25% das usinas Expansão 23% das usinas Tradicional 67% das usinas Nordeste
Figura 3 - Distribuição da produtividade agroindustrial do etanol hidratado na safra 2013/14.
32
32
33
2.3
Custos de Produção Agroindustrial Os resultados dos custos agroindustriais das usinas são apresentados em três partes:
primeiramente, são detalhados os custos de produção do departamento agrícola da usina, ou seja, os custos de produção da cana própria e, em seguida, é feito o detalhamento dos custos agroindustriais agregados em reais por tonelada de cana e por produto final, açúcar e etanol. O custo da bioeletricidade, novo indicador incluído nesse levantamento, é detalhado em um capítulo específico.
2.3.1 Custos de Produção Agrícola A Tabela 5 apresenta os resultados finais de custos de produção de cana-de-açúcar produzidos pela própria usina, desagregando os principais grupos de custos constituintes do COE, COT e CT das três regiões produtoras para a safra analisada. Tabela 5 - Custos de produção de cana-de-açúcar de usinas das regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste para o fechamento da safra 2013/14. Descrição Mecanização Mão de obra Insumos Arrendamentos Despesas administrativas Custo Operacional Efetivo (COE) Depreciações Formação do Canavial Máquinas Benfeitorias Irrigação Custo Operacional Total (COT) Remuneração da Terra Remuneração do Capital Formação do Canavial Máquinas e implementos Benfeitorias Irrigação/Fertirrigação Custo Total (CT)
Tradicional R$/t 25,62 5,88 5,79 10,23 3,71 51,23 18,86 15,52 2,90 0,23 0,20 70,09 4,14 7,01 4,87 1,74 0,28 0,12 81,24
R$/ha 2.080 477 470 83’ 301 4.159 1.531 1.260 236 19 16 5.690 336 569 395 141 23 10 6.595
Regiões Expansão R$/t 30,08 2,55 5,92 8,51 3,70 50,77 20,49 17,11 2,92 0,21 0,25 71,26 0,96 7,51 5,36 1,75 0,25 0,15 79,73
R$/ha 2.386 203 470 675 294 4.028 1.625 1.357 232 16 20 5.653 76 596 425 139 20 12 6.325
Nordeste R$/t 16,33 20,08 9,06 2,87 5,80 54,14 21,54 17,96 1,99 0,25 1,35 75,69 7,87 7,87 5,57 1,19 0,30 0,81 91,43
R$/ha 1.046 1.287 581 184 372 3.470 1.381 1.151 128 16 87 4.851 504 505 357 77 19 52 5.860
34
34
Com exceção do Nordeste, onde houve diminuição de 6,3% no custo total para a produção de cana-de-açúcar, as outras regiões mostraram custos praticamente estáveis em relação à safra anterior. Na região Expansão, foi observado 0,5% de aumento, enquanto na Tradicional, o crescimento foi de 0,6%. Apesar da pequena alteração relativa no CT, o COE e o COT subiram mais que 5% em relação à última safra analisada tanto na região Expansão quanto Tradicional. Assim, o que amortizou o resultado para as duas primeiras regiões foi o baixo custo com “remuneração da terra”, o qual diminuiu consideravelmente em relação à safra 2012/13. No Nordeste, por outro lado, a remuneração da terra aumentou em razão da intensificação da produção em área mais produtivas e de arrendamentos mais caros, ou seja, uma reação natural às restrições de atratividade do setor. Na região Nordeste, verificou-se o aumento de produtividade acompanhado por aumento no uso de insumos em relação a safra anterior. Pode-se justificar esse efeito regional pelo aumento de representatividade dos grupos econômicos mais estruturados que contam com uma estrutura de produção com maior nível de tecnologia e escala. É interessante também destacar o efeito do melhor detalhamento dos custos de irrigação para o aumento dos indicadores de depreciações dos sistemas de irrigação nas três regiões, principalmente para o Nordeste, onde esses cuidados demonstram-se fundamentais para sustentabilidade econômica da produção. A tendência de substituição de mão de obra por mecanização foi mais intensa na região Expansão, mas ocorreu como aumento da participação percentual da mecanização no COE de todas as regiões. Os custos totais de produção de cana-de-açúcar da usina típica de todas as regiões foram superiores ao preço potencial que seria pago pela cana própria, caso esta fosse remunerada pela respectiva quantidade e preço de ATR (Figura 4). Isto é, para as usinas, a aquisição de cana permaneceu como opção mais atraente do que a sua produção. Mesmo considerando as bonificações pagas aos fornecedores, a análise não se altera, ou seja, as bonificações não são suficientes para equipar os custos de produção de cana própria com os preços recebidos pelos fornecedores. Nessa análise permanece a ressalva de que os sistemas de produção de cana de usinas e fornecedores não são perfeitamente comparáveis por razões como escala de produção, uso de resíduos industriais na produção agrícola, diferença de períodos de safra, como já discutido em levantamentos anteriores. Alternativamente, é possível apresentar os resultados de custos supracitados organizando-os em função dos custos por estágio de produção agrícola, destacados nas Figuras 5 a 7. Esse padrão de apresentação de resultados contribui para facilitar o processo de comunicação e análise dos resultados desta pesquisa ao destacar indicadores operacionais corriqueiramente utilizados no setor. 35
35
100
R$/t
80 60
40 20 0 RT+RC DEP COE Preço "potencial" CT COE
Tradicional 11,15 18,86 51,23 60,03 81,24 DEP
RT+RC
Expansão 8,47 20,49 50,77 60,92 79,73 Preço "potencial"
Nordeste 15,74 21,54 54,14 68,05 91,43 CT
* RT- Remuneração da terra; RC – Remuneração do capital; DEP – depreciações.
Figura 4 - Comparativo entre o custo de produção da cana própria e seu respectivo preço potencial para as regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste na safra 2013/14. Os indicadores de variabilidade das informações para custos de cada estágio de produção agrícola, permaneceram altos em todas as regiões. O coeficiente de variação típico de todas operações em todas regiões foi de 20%. Em termos simplificados, isso significa que 70% das usinas estão concentradas em um intervalo de custos entre 80% e 120% dos valores de custos das operações listadas nas Figuras 5 a 7. Uma interpretação simples desse resultado é que usinas menos eficientes em termos de custos das operações possuem custos 50% maiores que as usinas eficientes. Um destaque extremo são os 30% de coeficiente de variação dos custos de CCT da região de Expansão. Em outras palavras, os custos de CCT de usinas menos eficientes são quase 80% maiores que de usinas eficientes. Para o acompanhamento da safra 2014/15 novos esforços serão feitos para compreender as razões dessas variações extremas. Espera-se que oportunidades possam ser identificadas no sentido de convergência para práticas mais eficientes das operações. Reitera-se, o exemplo da safra 2012/13 sobre boas práticas, como a relação entre CCT competitivo e custos de formação do canavial baseados em análise de custo e benefício sobre operações de sistematização de terreno para uso de colhedores e adubação voltado a melhor produtividade agrícola.
36
36
37
38
39
2.3.2 Custos Agroindustriais Os resultados dos custos regionais agroindustriais são inicialmente apresentados em função dos custos por tonelada de cana e, em seguida, por tonelada de açúcar e metro cúbico de etanol. A Tabela 6 apresenta os resultados do custo de processamento agroindustrial de cana-deaçúcar na safra 2013/14, em R$/t. Os custos industriais apresentaram diminuição nas três regiões pesquisadas, sendo que a região Tradicional apresentou a maior redução. Tabela 6 - Custo de produção agroindustrial de processamento da cana (R$/t), por região. Região Descrição Tradicional Expansão Nordeste Matéria-prima COE Cana de fornecedores
77,50 58,50 26,07
77,52 55,51 16,93
86,59 63,10 28,99
Pagamento CONSECANA
22,48
14,88
25,76
Bonificações
3,59
2,05
3,23
32,43 11,94 7,06 25,68 12,96 5,17 2,25
38,58 15,57 6,44 27,46 13,79 5,35 2,27
34,11 13,57 9,92 30,17 16,69 6,57 3,37
Químico
1,17
1,47
1,73
Diversos¹
0,75
0,58
0,72
Embalagem
0,33
0,22
0,92
4,66 0,87 3,91 8,81
5,08 1,10 4,21 9,46
5,97 0,78 4,15 9,33
9,04 3,89 2,75 2,40
9,52 3,76 2,96 2,80
9,88 4,33 3,37 2,18
112,22
114,50
126,64
COE cana própria Depreciações Remuneração do capital e terra Industrial Operação industrial Mão de obra Insumos
Manutenção Administração Depreciação Custo de Capital Administrativo Mão de obra Insumos e serviços Capital de giro
Custo Total
¹ Agrupamento dos itens de custos com eletrodos de preparo e extração, combustíveis, lubrificantes e eletricidade.
40
40
Uma percepção negativa foi a redução dos custos concomitante à redução de produtividades industriais em todas as regiões. Felizmente, essa perda de eficiência na indústria foi parcialmente compensada pelo aumento da produtividade agrícola. Na região Centro-Sul, a pressão do aumento de custos das operações agrícolas, no entanto, suplantou o efeito da variação de produtividade agrícola e causou suave aumento de custos da matéria prima e, consequentemente, dos custos agroindustriais. A alocação dos custos de produção agroindustriais considerando seus principais fatores de formação de custos é mostrada na Tabela 7. Reitera-se que, como nos levantamentos anteriores, o fator “cana” refere-se aos custos com aquisição de cana; o fator “maquinário, manutenção e serviços de reparo” às despesas com peças, insumos (incluindo diesel, no caso agrícola), serviços de manutenção (incluindo custos com operadores das máquinas agrícolas) e reparo de máquinas agrícolas e industriais, assim como, itens de depreciação de máquinas e instalações tanto agrícola como industrial. O fator “mão de obra” refere-se aos gastos com salários diretos e indiretos, exceto os salários dos operadores de máquinas agrícolas, enquanto o fator “terra” inclui os custos com arrendamentos e custos de oportunidade da terra. Já “custos de remuneração do capital” relaciona-se aos custos de oportunidade do capital imobilizado e de giro nas atividades agroindustriais. Tabela 7 - Distribuição dos custos agroindustriais de cada região por fatores na safra 2013/14. Região Fator de custo Tradicional Expansão Nordeste 23,2% 14,8% 22,9% Cana 28,4% 36,9% 20,7% Maquinário, Manutenção e Serviços de reparo 14,2% 16,0% 13,8% Custo de remuneração de capital 12,4% 10,0% 21,2% Mão de obra 10,8% 12,6% 12,6% Insumos agroindustriais 8,1% 6,3% 5,3% Terra 2,9% 3,4% 3,5% Outros A Tabela 7 ilustra a percepção geral sobre os sistemas de produção de cana-de-açúcar no país. Ou seja, nota-se intenso uso de mão de obra na região Nordeste, sistema de produção intensivo em capital (“maquinário e manutenção” e “custos de remuneração do capital”) na região Expansão, e, maior relevância do fator “terra” na região Tradicional, apesar da redução de seu custo devido ao aumento de produtividade e do preço do ATR. Uma tendência, como já destacado anteriormente para parte agrícola, é a substituição da mão de obra pelo maquinário e manutenção agroindustrial.
41
41
A Figura 8 detalha os custos de produção, preços e margens econômicas dos produtos finais de produção de açúcar e a Figura 9 apresenta os mesmos indicadores para a produção de etanol. Os resultados evidenciam que dentre os quatro produtos, o açúcar branco permaneceu como o de melhor atratividade, entretanto apenas no Nordeste as usinas garantiram margem econômica nessa produção. É impactante observar que a queda de preços do açúcar no mercado externo eliminaram a margem de econômica de toda a produção no Centro-Sul e da maior tarde da produção do Nordeste. Para o etanol, nem mesmo os aumentos de preços maiores que os aumentos de custos permitiram que a margem econômica da produção deixasse de ser negativa. No Nordeste, como já havia ocorrido na safra anterior, nem mesmo o COT do etanol hidratado foi remunerado. Em função da melhoria da qualidade das informações coletadas na pesquisa foi possível calcular a distribuição dos custos totais do etanol hidratado de 61 usinas na safra 2013/14, a qual é apresentada na Figura 10. Destaca-se que o etanol hidratado, produto sucroenergético com pior atratividade da série de pesquisas do PECEGE, atingiu níveis de custos inferiores aos preços médios regionais do Centro-Sul em 16% das usinas brasileiras que conseguiram produzi-lo abaixo de R$ 1.200/m3. Já no Nordeste nenhuma usina atingiu custo de etanol hidratado abaixo do seu preço. 1.200
R$/t açúcar
1.000 800 600 400 200
RT+RC DEP COE COT CT Preço Margem
Tradicional 126,37 126,23 680,16 806,38 932,75 930,60 -0,2%
Expansão BRANCO 123,82 153,99 635,27 789,26 913,08 897,51 -1,7%
Nordeste
Tradicional
156,12 143,74 740,74 884,48 1.040,60 1.093,94 5,1%
125,86 125,72 635,56 761,28 887,14 839,28 -5,4%
Expansão VHP 123,32 153,37 610,27 763,64 886,96 858,15 -3,2%
Nordeste 155,65 143,30 717,79 861,09 1.016,74 883,52 -13,1%
Figura 8 - Custos, preços e margens do açúcar branco e VHP por região na safra 2013/14. 42
42
1.800
R$/m³ etanol
1.500 1.200 900 600 300 RT+RC DEP COE COT CT Preço Margem
Tradicional 207,33 207,10 1.046,53 1.253,63 1.460,96 1.342,06 -8,1%
Expansão ANIDRO 203,17 252,68 1.011,79 1.264,47 1.467,63 1.419,98 -3,2%
Nordeste
Tradicional
263,49 242,59 1.215,10 1.457,70 1.721,19 1.532,35 -11,0%
196,77 196,55 980,70 1.177,25 1.374,03 1.216,18 -11,5%
Expansão HIDRATADO 192,82 239,81 944,52 1.184,33 1.377,16 1.234,44 -10,4%
Nordeste 250,08 230,24 1.153,24 1.383,48 1.633,56 1.345,73 -17,6%
Figura 9 - Custos, preços e margens do etanol anidro e hidratado por região na safra 2013/14.
BAIXO: ↓ R$ 1.200 m³
REGULAR: R$ 1.200-1.350/m³
16% das usinas
28% das usinas
31% das usinas Tradicional 11% das usinas Expansão
32% das usinas Expansão 32% das usinasTradicional
ALTO: R$ 1.350-1.500/m³
MUITO ALTO: ↑ R$ 1.500/ m³
27% das usinas
29% das usinas
25% das usinas Expansão 26% das usinas Tradicional 38% das usinas Nordeste
32% das usinas Expansão 11% das usinas Tradicional 62% das usinas Nordeste
Figura 10 - Distribuição dos custos totais de produção do etanol hidratado na safra 2013/14.
43
43
2.3.3 Custos de geração de bioeletricidade A prática da cogeração de energia amplamente difundida no setor sucroenergético brasileiro permite a autossuficiência em energia elétrica das usinas. Desde o final da década de 1980, tecnologias de maior eficiência de cogeração permitiram a prática de exportação de excedentes de eletricidade produzida pelas usinas para as distribuidoras. Contudo, apesar da constante evolução, o potencial elétrico das usinas continua pouco aproveitado. Por outro lado, consistentemente a comercialização de eletricidade tem se incorporado como um vetor mais relevante de geração de receita para as agroindústrias canavieiras. A Figura 11 destaca o crescimento da quantidade vendida e, consequentemente, da receita gerada, por tonelada processada de cana pelas usinas ao longo das safras pesquisadas pelo PECEGE. Seguindo a tendência de crescimento da importância da bioeletricidade, no levantamento da safra 2013/14, o PECEGE introduz os indicadores de custos de
Venda de eletricidade (kWh/t de cana)
produção de energia elétrica com o objetivo de melhor compreender e detalhar esse mercado. 47
50 40
30
35 29 17
20
27 14
10 0
30
24
2
2008/09
2009/10
16 4
0
2010/11
2011/12
39
23
16
4
2012/13
2013/14
Safra Centro-Sul Expansão
Centro-Sul Tradicional
Nordeste
Figura 11 - Evolução da quantidade de eletricidade vendida, medida em kWh/t de cana processada, nos levantamentos de safra do PECEGE. O desafio inicial para criação do indicador de custo de produção de eletricidade inicia-se com a definição de nível de tecnologia de cogeração de energia elétrica8, como foi destacado no tópico 2.1.2. A partir da análise da quantidade de energia elétrica vendida declarada por 50 usinas 8
Para detalhes sobre o critério de classificação dos níveis tecnológicos vide Anexo 1.
44
44
45
R$/MWh bioeletricidade
200 160 120
80 40 0
RC DEP COE Preço eletricidade CT
Tradicional 64,51 43,00 7,12 197,71 114,63 COE
Expansão 57,94 38,63 7,05 195,96 103,62 DEP
RC
Nordeste 10,12 0,00 6,43 178,49 16,54
Preço eletricidade
Figura 12 - Custos de produção e preços do MWh nas regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste: safra 2013/14. Os resultados indicam que a região Nordeste apresentou o menor custo, entretanto deve-se avaliar que a usina típica da região possui tecnologia antiga de cogeração, ou seja, o excedente de eletricidade que pode ser vendido é limitado. Para análises mais adequadas da relevância da receita e custos da comercialização de eletricidade pelas usinas faz sentido observar os valores trazidos a uma base de comparação em R$/t de cana processada, como destaca a Tabela 9. Tabela 9 - Descrição de receita, custos e margem da comercialização de energia elétrica medida em R$/t de cana processada para as regiões avaliadas na safra 2013/14: usinas típicas. Descrição
Tradicional R$ R$/t
Regiões Expansão R$ R$/t
Nordeste R$ R$/t
Receita
16.947.684
7,68
18.702.001
9,11
3.047.945
2,93
Custos
9.826.117
4,45
9.889.272
4,81
282.526
0,27
Margem econômica
7.121.567
3,23
8.812.729
4,29
2.765.419
2,65
Na Tabela 9, note-se que a região mais atrativa, em termos de geração de margem em valores absolutos e relativos, foi a Centro-Sul Expansão como consequência da maior produtividade e quantidade vendida de eletricidade. Também nota-se que o potencial de geração de receita e margem
46
46
com a comercialização de eletricidade ainda é relativamente baixo. Em todas as regiões, a margem de comercialização da eletricidade é inferior, por exemplo, a folha de pagamento industrial das usinas. Em outras palavras, embora os custos de produção da eletricidade estejam abaixo do preço pago pela energia, cabe destacar que a avaliação das margens deve ser relativizada devido a se tratar de uma análise para uma usina com tecnologia parcialmente depreciada. Como a geração de bioeletricidade é dependente do processamento de cana, é recomendável a análise conjunta das atividades agroindustriais e de cogeração para a correta avaliação de viabilidade econômica. Para avaliar com maior sensibilidade a viabilidade do investimento em capital para cogeração, é válido considerar a tecnologia mais atualizada disponível no mercado, ou seja, a tecnologia utilizada pelas usinas classificadas como de alta capacidade de cogeração neste relatório. Utilizando-se essa hipótese, note-se que a venda relativa de energia elétrica é de 69,5; 57,0 e 52,2 nas regiões Expansão, Tradicional e Nordeste, respectivamente. A Figura 13 apresenta os resultados de custos da produção de eletricidade sob essa condição de tecnologia. A informação implícita é: embora a margem seja menor, o maior volume de vendas gera maior receita que a obtida pelas
R$/MWh bioeletricidade
usinas com tecnologia retrofit de cogeração. A Tabela 10 corrobora essa análise. 200 160 120 80 40 0
RC DEP COE Preço eletricidade CT
Tradicional 68,68 45,79 7,12 197,71 121,59
COE
Expansão 60,52 40,35 7,05 195,96 107,93
DEP
RC
Nordeste 79,44 52,96 6,43 178,49 138,82
Preço eletricidade
Figura 13 - Custos de produção e preços pagos pelo MWh para as usinas com tecnologia moderna de cogeração nas regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste: safra 2013/14.
47
47
Tabela 10 - Descrição de receita, custos e margem da comercialização de energia elétrica medida em R$/t de cana para as regiões avaliadas na safra 2013/14: tecnologia moderna. Descrição
Tradicional R$/t R$
Regiões Expansão R$ R$/t
Nordeste R$
R$/t
Receita
24.871.345
11,27
27.974.110
13,62
9.706.890
9,32
Custos
15.295.368
6,93
15.407.068
7,50
7.549.448
7,25
Margem econômica
9.575.977
4,34
12.567.042
6,12
2.157.442
2,07
Por fim, destaca-se que a avaliação dos custos de geração de bioeletricidade realizada pelo PECEGE/CNA para a safra 2013/14 está em desenvolvimento metodológico e seus resultados iniciais visam contribuir para a análise do mercado sucroenergético ao apresentar indicadores que possam aprofundar o entendimento dos desafios enfrentados pelas usinas típicas das diferentes regiões do Brasil.
2.4
Evolução dos Custos Os resultados dos custos totais de produção agroindustrial, seguindo a metodologia
atualizada, são apresentados nas Tabelas 10 a 16. Essas tabelas apresentam valores de custos das últimas sete safras, a variação anual média e a acumulada desde a safra 2007/08. Nas últimas sete safras, os custos de produção tiveram tendência de variação anual acima de 9% em todas as regiões, chegando a até quase 13% no caso da cana própria produzida na região Tradicional. Esses valores são superiores aos índices de inflação como, por exemplo, o IPA – Índice de Preço por Atacado, que foi de, aproximadamente, 6% a.a. no período. Destaca-se que a Tabela 11 abaixo aponta a evolução do preço pago à cana de fornecedores pelo método CONSECANA, ou seja, não estão incluídos nos preços apontados os valores referentes à bonificação paga aos fornecedores, indicador que passou a ser avaliado a partir da pesquisa atual. Tabela 11 - Evolução do preço CONSECANA pago na cana de fornecedores em R$/t. Preço da safra % anual Região Expansão Tradicional Nordeste
2007/08 35,41 34,88 37,43
2008/09 38,83 38,68 46,92
2009/10 45,27 44,90 60,75
2010/11 53,66 57,66 74,05
2011/12 66,36 71,97 70,46
2012/13 63,69 65,68 73,64
2013/14 61,98 61,25 69,61
10,9% 11,5% 10,4%
% total
75,1% 75,6% 86,0%
48
48
Tabela 12 - Evolução dos custos de produção de cana própria da usina em R$/t. Custo da safra Região Expansão Tradicional Nordeste
2007/08 47,93 42,53 54,51
2008/09 45,91 45,93 60,06
2009/10 47,84 47,61 58,70
2010/11 49,35 56,26 66,45
2011/12 70,58 77,21 74,31
2012/13 79,24 80,57 97,23
Tabela 13 - Evolução dos custos de produção do açúcar branco em R$/t. Custo da safra Região Expansão Tradicional Nordeste
2007/08 518 495 629
2008/09 577 550 625
2009/10 653 706 720
2010/11 655 695 816
2011/12 883 933 894
2012/13 891 880 1.001
Tabela 14 - Evolução dos custos de produção do açúcar VHP em R$/t. Custo da safra Região Expansão Tradicional Nordeste
2007/08 497 468 612
2008/09 554 523 611
2009/10 618 620 707
2010/11 621 650 789
2011/12 820 859 836
2012/13 865 865 961
Tabela 15- Evolução dos custos de produção do etanol anidro em R$/m³. Custo da safra Região Expansão Tradicional Nordeste
2007/08 838 805 1.033
2008/09 958 906 1.064
2009/10 1.018 1.041 1.191
2010/11 1.006 1.038 1.308
2011/12 1.342 1.401 1.422
2012/13 1.383 1.376 1.635
2013/14 79,73 81,24 91,43
2013/14 913 933 1.041
2013/14 887 887 1.017
2013/14 1.468 1.461 1.721
Tabela 16 - Evolução dos custos de produção do açúcar hidratado em R$/m³. Custo da safra Região Expansão Tradicional Nordeste
2007/08 788 752 980
2008/09 896 841 1.010
2009/10 964 966 1.130
2010/11 942 974 1.242
2011/12 1.272 1.316 1.349
2012/13 1.297 1.286 1.552
2013/14 1.377 1.374 1.634
% anual
% total
10,7% 12,7% 9,8%
66,3% 91,0% 67,7%
% anual
% total
10,3% 11,1% 9,5%
76,2% 88,5% 65,4%
% anual
% total
10,4% 11,6% 9,3%
78,4% 89,4% 66,2%
% anual
% total
9,6% 10,4% 9,2%
75,0% 81,4% 66,7%
% anual
% total
9,6% 10,6% 9,2%
74,7% 82,6% 66,7%
49
49
2.5
Conclusões Os principais resultados do levantamento de custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar,
etanol e bioeletricidade para a safra 2013/14 reiteram os resultados do levantamento de previsão realizado no final de 2013. Os principais pontos de destaque são: i.
Os resultados do levantamento da safra 2013/14 mostraram os custos totais agrícolas das usinas proporcionalmente distribuídos e homogêneos nas regiões Tradicional e Expansão;
ii.
Os custos de cana produzida pela usina são superiores aos preços potenciais em todas as regiões destacando a vantagem das usinas que adquiriram mais cana nessa safra;
iii.
O aumento da produtividade do canavial aumentou a oferta de matéria prima, causando elevação no nível de utilização da capacidade instalada, o que por sua vez implica em uma maior diluição dos custos com industrial, administrativo de custos fixos agrícolas (depreciação, custos de arrendamento e custo de capital, por exemplo);
iv.
Diminui a diferença de atratividade entre açúcar e etanol. Entretanto, exceto pelo açúcar VHP na região Nordeste, o açúcar manteve margem superior ao etanol;
v.
Apenas o açúcar branco na região Nordeste alcançou margem econômica positiva. A safra 2013/14 foi a de pior resultados desde 2008/09;
vi.
As usinas que venderam eletricidade na safra 2013/14 obtiveram receitas adicionais que contribuíram para suavizar a deterioração da atratividades e resultados da produção de açúcar e etanol.
50
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CENTRO DE TECNOLOGIA CANAVIEIRA – CTC. Comunicação pessoal. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA (2014) Relação das unidades produtoras cadastradas no Departamento da Cana-de-açucar e Agronergia (posição de 23/05/2014). Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/. Acesso em 15/09/2014. MOSQUIARA, C.; CAMPOSILVAN, D. M.; JAVORSKI, P. S. BERTANI, R. F. Análise De Viabilidade de implantação de projeto “Retrofit” para cogeração e venda de energia elétrica produzida a partir de bagaço de Cana. Piracicaba, 2009. 69 p. Monografia MBA em Agroenergia, Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. PECEGE. Custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar e etanol no Brasil: safra 2011/12. Piracicaba: Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas/Departamento de Economia, Administração e Sociologia. 2012. 72 p. PECEGE. Custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar e etanol no Brasil: safra 2012/13. Piracicaba: Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas/Departamento de Economia, Administração e Sociologia. 2013. 67p. UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR – UNICA (2014). UNICADATA. Moagem de cana-de-açúcar e produção de açúcar e etanol - safra 2013/2014. Disponível em: www.unicadata.com.br. Acesso em 14/09/2014.
51
51
Anexo 1 – Critério de classificação da tecnologia de cogeração de energia elétrica Para criar a regra de classificação da tecnologia de geração de energia das usinas foi construída a Figura 1 onde cada ponto em azul representa uma usina diferente e o eixo vertical representa produtividade elétrica de cada unidade industrial (medida em kWh/t de cana processada), classificadas em ordem crescente. O eixo horizontal representa a participação acumulada de venda de energia elétrica da amostra até a respectiva usina. Explicando de outra forma, isso significa que o primeiro ponto azul, a esquerda do gráfico, representa a usina com a menor produtividade elétrica, a qual não vende energia, logo participa com 0% do total de energia elétrica vendida pela amostra. Já o último ponto azul do gráfico, que fica no lado direito, representa a usina com maior produtividade elétrica da amostra e, por ser a última usina que vende eletricidade, ao somar sua quantidade de energia elétrica com a quantidade de eletricidade vendida por todas usinas anteriores, contribui com 100% de participação acumulada de eletricidade vendida. Produção elétrica por tonelada de cana processada (kWh/t)
120 100 80 60 40 20 0
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Participação acumulada do total de eletricidade vendida pelas usinas da amostra (%) Figura 1 - Frequência acumulada do total de eletricidade vendida pelas usinas da amostra de acordo com a produtividade elétrica das usinas ordenada de forma crescente: safra 2013/14. Ou seja, considerando a quantidade de eletricidade vendida pelas usinas da amostra no mercado de acordo com suas respectivas produtividades elétricas, foi possível identificar na Figura 1 pelo menos 3 grupos de usinas produtoras de eletricidade. O primeiro grupo é identificado por usinas com produtividade elétrica de até 40 kWh/t, que comercializam praticamente 0% da energia total da amostra. A partir da produtividade 40 kWh/t, note-se um distanciamento dos pontos azuis do 52
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gráfico em relação ao eixo vertical, ou seja, participação da venda acumulada de eletricidade pelas usinas aumenta gradativamente, apontando que a venda de eletricidade por essas usinas ocorre de forma consistente, pois, há geração de excedentes suficientes de eletricidade produzida pelas usinas para venda a terceiros. Em outras palavras, a comercialização de eletricidade não é uma oportunidade esporádica. Ainda na Figura 1 nota-se dois grandes saltos de produtividade elétrica. O primeiro ocorre a partir da produtividade de aproximadamente 60 kWh/t que passa muito rapidamente para produtividade de 80 kWh/t e, em seguida, para aproximadamente 100 kWh/t. Olhando sob a perspectiva do eixo horizontal é interessante observar que até a produtividade de 60 kWh/t, todas a usinas comercializam apenas 30% do total da eletricidade vendida pela amostra. Em seguida, apenas 4 usinas, que produzem entre 60 kWh/t e 80 kWh/t comercializam outros 15% da energia vendida pela amostra e acumulam aproximadamente 45% do total de eletricidade comercializada pela amostra. A partir desse ponto, a participação das vendas acumuladas de eletricidade das usinas com produtividade elétrica acima de 80 kWh/t representa mais que 55% do total comercializado. Como a Figura 1 possui 50 usinas representadas, pode-se contar que as 11 usinas produzem entre 40 kWh/t e 60 kWh/t, outras 4 usinas estão entre 60 kWh/t e 80 kWh/t enquanto 13 usinas possuem produção maior que 80 kWh/t. Por diferença, obtém-se que 22 usinas, com produção inferior a 40 kWh/t, não comercializam praticamente nenhuma eletricidade. Por um processo lógico e intuitivo considera-se que as 22 usinas de menor produtividade referem-se a agroindústrias com tecnologia de cogeração antiga e já depreciada. Acima de 80 kWh/t a produtividade das usinas se mostra mais constante, passando a sugestão de uso de práticas de produção mais uniformes, dessa forma, as usinas dessa faixa de produtividade são classificadas como de tecnologia moderna de cogeração. O intervalo de produtividade elétrica entre 40 kWh/t e 80 kWh/t é caracterizado por uma evolução gradativa de produtividade, o que é o comportamento esperado por um grupo de usinas com diferentes intensidades de uso de tecnologia de cogeração, ou seja, a característica esperada da tecnologia retrofit de cogeração que pode ter sido aplicada para caldeiras de média e alta pressão e, eventualmente, para apenas algumas caldeiras da usina.
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CUSTOS DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, AÇÚCAR, ETANOL E BIOELETRICIDADE NO BRASIL: FECHAMENTO DA SAFRA 2013/2014 Arte da capa: Marcos V. Saito / Finalização: André Gorga Diagramação: Pecege Arte final: André Gorga Impressão: Gráfica Riopedrense