_F8 OFF
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FEV 2013
Publicação Acadêmica dos Alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie
inTro A idéia de expor meu trabalho ao outro leva-me ao entendimento de que arquitetura antes de qualquer coisa é uma prática intelectual, onde a reflexão sobre o tema e as características envolventes do projeto devem ser analisadas indo além de questões simplórias que levem a resultados superficiais, ao empilhamento de volumes vazios de entendimento, tornando arquitetura uma banalidade. A arquitetura é suporte a humanidade, sugere respostas a problemas cotidianos e por hora deve atender a questões da vida coletiva e da formação da cidade. O exercício da arquitetura tem seu alicerce tanto na História quanto nas fundamentações contemporâneas, a união desses conhecimentos nos permite compreender o mundo em que estamos inseridos para finalmente propormos algo condizente ao tempo em que vivemos. A criação desta Revista veio como um instrumento onde possamos divulgar nossas práticas, fazendo com que o outro as assimile, critique e promova avanços para juntos construírmos melhores espaços, edifícios e cidades.
“A real questão da arquitetura é a de sabermos como absorver a experiência humana continuamente (...). É inimaginável que tenhamos tanta história, tanto conhecimento em nossas mãos, e que, no entanto, a cidade possa ser um desastre, e não um abrigo para todos. Por isso, quando somos capazes de realizar os sonhos da humanidade – de juntos desenharmos uma América que ainda não realizou a ligação entre os Oceanos Atlântico e Pacífico -, estamos desejando a paz como fundamento da arquitetura. É o que nos move... Espero que essa chama esteja sempre acesa para que a arquitetura possa ser vista como a única e indispensável forma de conhecimento para o desenvolvimento da humanidade do futuro.” Paulo Mendes da Rocha, fragmento do Discurso do Prêmio Pritzker em Istambul.
indice
CRÉDITOS
CONSELHO EDITORIAL Carlos Alberto Coelho | Carlos Leite | Lauresto Escher | Ruth Zein
Direção Marcelo E.M. Macedo | Ronielle Laurentino
Diagramação Marcelo E.M. Macedo
Redação Ronielle Laurentino
Revisão Marcelo E.M. Macedo | Ronielle Laurentino
Visões do Mundo
Sofia Croso Mazzuco
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José Luis Romero: o labirinto e o fio
Ricardo H. Medrano
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Um sistema em oposição: o grafitti e a leitura da cidade Trabalhos em sala para Teoria da Arquitetura IIIetura III
Celso Minozzi + Ricardo H. Medrano
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Londres - AA - Architectural Association
Publicaram Concursos Concurso CBCA - MENÇÃO HONROSA Concurso Cidades Cicláveis - 1° LUGAR
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Ateliê 2 ano - Produção de alunos
Ronielle Laurentino
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3 ano - Produção de alunos
Victor Sardenberg
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Henrique Balbin Marcelo Macedo Tatiana Kahvegian Marcela Riani
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TFG’s - Trabalhos Finais de Graduação Contato contatof8off@gmail.com
! Essa é uma produção independente sem nenhum vínculo a Faculdade de Arquitetura Mackenzie! ! Todo o conteúdo publicado é de responsabilidade de seus respectivos autores !
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Iniciação Científica
Recuperação das áreas de mananciais em São Paulo: um estudo sobre projetos referenciais
Maria Isabel Barreiros
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Vis천es do Mundo
A vivência e participação em outras escolas pelo mundo proporcionam ao repertório do estudante um novo olhar a uma realidade global, no âmbito existêncial, pessoal, cultural até mesmo tecnológico. Ele compreende então, como outros povos enfrentam a problemática arquitetônica, quais suas formas e práticas projetuais, em que contexto expressam seus objetos e edifícios. O estudante que passa por isso enriquece sua bagagem, se torna capaz de perceber diferenças e semelhanças, próprias do local de destino, sobretudo quando compara ao seu local de origem. Se são tantos conhecimentos e experiências, por que não compartilhar com todos?
com precisão apurada- entre muitos outros aspectos- foi o que mais me chamou a atenção no meu temporário ambiente de estudo.
VISÕES DO MUNDO
A AA é uma escola excepcional que instiga a todo momento. Aquilo que faz a diferença é a vontade, sempre presente, de todos os que fazem parte da escola em aprender, ir além, desvendar, explorar...enfim, a vontade de mergulhar na arquitetura de uma maneira intensa e praticamente sem limites. Esta inquietação acaba gerando uma cultura arquitetônica, sempre animada por fervorosos diálogos, palestras, discussões e questionamentos tanto por parte dos alunos quanto por parte dos professores.
SOFIA CROSO MAZZUCO 1988 4°anista LONDRES 2010 6 MESES Architectural Association
Tudo começou com uma simples vontade de conhecer o mundo e ampliar os meus conceitos sobre o significado do que é Arquitetura. Uma aventura, um ato de se jogar... não saberia definir, sei que aceitei mergulhar no incerto e simplesmente descobrir o que viria pela frente. Destino: Londres. Meta: estudar um semestre na Architectural Association, instituição acadêmica conhecida por sua inovadora abordagem com arquitetura. Uma escola completamente experimental, uma articulação singular e um treinamento ao senso crítico
Primeiros passos: Desde o início tudo foi bastante desafiador. Minha sala de projeto ficava no último andar de uma das lindas casas vitorianas localizadas em Bedford Square. Vencida a primeira etapa do desafio-chegar até a sala de projeto-começava a jornada de dez horas de estudo, somadas a presença de uma orientadora de projeto completamente workaholic, mas muito querida e competente. Confesso que levou um tempo para entrar no ritmo e conseguir entender os conceitos aos quais meus orientadores Fachada da Architectural Association - Instalação em espaço interno
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Trabalhos desenvolvidos por estudantes - Studio da Escola em Londres - Imagens extraídas a partir de http://www.aaschool.ac.uk/
procuravam me introduzir. Já no início queria resolver tudo no desenho, sem entender a estrutura do problema, o que me fez perceber que antes de oferecer uma resposta teria de me comprometer a vivenciar as próprias perguntas. Durante este processo me dei conta que, ao longo de todos estes anos de estudo, meu pensamento foi sendo estruturado com base num método de desenvolvimento de projeto claramente funcional e rígido, excluindo o espaço do pensar lúdico e falho em relação ao embasamento teórico. Mas o interessante é que, mesmo estes projetos sendo muitas vezes irrealizáveis e fantasiosos, mais do que o resultado final, o que interessa é o processo de raciocínio e a capacidade de formular questões para dar respostas a elas através de uma manipulação territorial. A idéia do projeto, concebida através da imaginação, deve ter domínio sobre a organização morfológica e existir a priori.
Na Architectural Association o programa de necessidades de um projeto não é nunca dado de ante mão ao aluno, nem mesmo o objeto em si é proposto por alguém que não seja ele mesmo. Os estudantes tem a opção de escolher um entre diversos temas que são apresentados no início do ano letivo pelos respectivos orientadores, o que permite que a formação acadêmica de cada aluno seja direcionada de acordo com seus interesses pessoais. Dentro do Spring Semester Program tinham 15 alunos de diversas nacionalidades e que foram divididos em dois grupos de projeto com enfoques diferentes. Optei pelo tema “Retreats for London”, coordenado pela arquiteta italiana Monia de Marchi. Minha turma era composta por sete alunos de diversas nacionalidade: Brasil, China, EUA, Bélgica, Kuwait e México. Cada um com sua experiência acadêmica e visão de mundo singular pôde contribuiu enormemente para ger-
ar ricas e longas discussões dentro e fora da sala de aula. Introdução a uma nova Abordagem: Conceito e Projeto Iniciamos o semestre lendo textos relacionados a questões da cidade genérica. Mergulhamos no entendimento das cidades do mundo contemporâneo sendo hoje definidas por um constante processo de remoção e inserção de obras arquiteturas que rapidamente se tornam inválidas, indicando a urgência por configurações espaciais mais maleáveis. Levando em conta este cenário de rápidas transformações urbanas compreendemos que o projeto arquitetônico não deve se estabelecer visando uma configuração estável. Em contrapartida, criar as condições para permitir a irrigação de territórios que venham a acomodar processos sem que estes se cristalizem em
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formas definitivas. Compreendemos que o cidadão da cidade genérica, submetido a um cenário de especulações econômicas, herda um território fragmentado com o qual já não se identifica e aonde não se situa, pois perderamse as referências. Cresce, assim, a necessidade de escapar da cidade over-designed, cidade esta que não deixa espaço para o imprevisível, que busca controle em sua totalidade. O cidadão passa a questionar quem é o verdadeiro cidadão e como gerar territórios que claramente lhe pertençam, aonde se sinta a vontade à sua maneira.
No início parecia tudo muito abstrato. Depois de escolhermos e sermos introduzidos mais detalhadamente ao tema geral de nossa unit –um espaço de retiro para o cidadão excluído das decisões arquitetônicas da cidade- cada estudante passou a buscar os quatro elementos principais que seriam guia ao desenvolvimento de um tema de interesse individual.
Ainda com muitas dúvidas, nos foi proposto um olhar atento sobre a cidade para buscar situações e cenários no contexto urbano de Londres que traduzissem nossos observações iniciais. Como guia e afim de desencadear este processo conceitual e morfológico passamos a refletir sobre: (1) quem está se ausentando da cidade e quais os motivos?; (2) do que o cidadão se ausenta?; (3) de que maneira o faz?; (4) o tempo de retiro é fator importante para que se cumpra o objetivo como espaço?; (5) quais elementos definem o espaço do retiro?; (6) quais as consequências do retiro na cidade, para a cidade, para o cidadão?; (7) qual o contexto ou área de implantação e por quais motivos?
Estes elementos guias eram: cidadão (1), espaço (2), infraestrutura (3) e ação (4). Em primeiro lugar deveríamos identificar o modus operandi do cidadão que parecia necessitar um retiro; em segundo lugar,
Passamos a registrar digitalmente todo o desenvolvimento em formato de portfolio, sempre através de uma imagem- croquis, cortes, diagramas, fotografias, etc- e um texto descritivo. Cada pensamento e in-
“Retreats for London” Desencadeado por estas inquietações, inicia-se o nosso projeto.
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como gerar um território que respondesse a estas necessidade; em terceiro lugar, qual seria a infraestrutura necessária para dar suporte às atividades principais; e, por último, que atividades seriam estas que poderiam responder e neutralizar essa necessidade de escape ? Lembrando que, neste caso, o retiro não é uma fuga da cidade, mas um espaço alternativo ao espaço urbano e que responde às reais necessidades humanas de acordo com o ponto de vista de cada um.
sight deveria ser posto no papel e a cada semana o desenvolvimento era apresentado ao grupo; o processo era intenso, as orientações diárias e o rítmo contínuo e estimulante. A seguir, o processo e o resultado da investigação desenvolvida ao longo destes 5 meses. A Retreat From Mechanical Living- (Um Retiro ao Ritmo de Vida Maquínico) Londres é uma cidade que atrai pessoas do mundo todo, por diversos motivos, mas principalmente por oferecer grandes oportunidades acadêmicas e profissionais. De maneira geral, é uma cidade rotativa, aonde novas pessoas se estabelecem até que atinjam uma certa meta definida a priori. Como espaço urbano é muito bem organizada. As possibilidades de encontros e de momentos espontâneos são enormes pois a vida acontece exposta na rua (muito mais do que em São Paulo, aonde a cidade é hoje mais espaço a ser vencido para se chegar a outros lugares do que espaço de passeio). Londres é muito globalizada e democrática, permitindo ao cidadão um uso franco, transparente e intenso da cidade, aonde layers de realidades distintas se intersectam e geram novas configurações espaciais. Apesar desta vantagem do cidadão em relação ao uso dos espaços urbanos, o ritmo cotidiano daqueles que vivem em Londres é freneticamente competitivo, como em
Tampa de Buei
iro de Londres
todas as grandes metrópoles. Sempre no nosso modo de repetição, fazemos parte da cidade como presença física passiva e seguimos a nossa rotina como robôs, sem prestar atenção ou perceber efetivamente o ambiente ao nosso redor. Naturalmente, tudo o que é repetitivo gera um comportamento automático, que já não demanda muita de nossa atenção e induz à alienação e ao individualismo. Observei também o quanto a tecnologia contribui para essa atitude de presença física e ausência mental, pois nos absorve completamente a percepção dos acontecimentos da vida cotidiana, abstrai os acontecimentos reais e nos leva a uma realidade virtual, fragmentando o contato efetivo entre as pessoas. A tecnologia se constitui agora como uma extensão do nosso próprio corpo, uma continuidade do nosso existir do qual dependemos indubitavelmente e que produz uma falsa conectividade. Através desta reflexão me dei conta do quão estilhaçado é o homem contemporâneo pois se perde à procura de algo que não sabe o que é. Quem sabe esta plenitude, que se afasta à medida que a buscamos, não esteja distante. Talvez seja uma questão de resgatar algo que, sem dar-nos conta de seu valor, permitimos que se afastasse. A Cela (3) - O Espaço Intermediário (2) - A Horta Comunitária (1)
O aprofundamento nas minhas inquietações me levou a desenvolver um retiro que toma como ponto de partida a relação de causa-efeito entre elementos da natureza e espaços que oferecem suporte às atividades cotidianas. Uma arquitetura passiva, sem intenção de transformar-se em objeto autônomo, que cumpre sua função através da troca recíproca entre espaços internos e ambiente exterior. Partindo do pressuposto de que os indivíduos podem se relacionar melhor a partir de um equilíbrio individual, a área definida como foco do retiro é a cell (cela) , módulo destinado à permanência de um único indivíduo que reativa a questão de contemplação do mundo através do estar só e do silêncio meditativo. Ao permitir o retorno a si mesmo, a oportunidade de estar só, reestabelece a percepção avivada do mundo o qual fazemos parte. Através de uma grande rasgo na cobertura da cela acontece a transposição do indivíduo, não para a realidade barulhenta da metrópole, mas com o mistério infinito do céu. A luz invade e molda o espaço, permitindo que a água da chuva, quando presente, também estimule uma percepção física do ambiente externo. A partir da cela os elementos da natureza– luz, água e vegetação- são coletados aos níveis inferiores do retiro. O direcionamento da água visa fertilizar, fisicamente e conceitualmente, as demais atividades praticadas no retiro. A mandala, que foi desenvolvida a partir de uma
releitura dos bueiros de água em Londres e que se insere logo abaixo da abertura superior da cela, desdobra-se num elemento coluna-caule que estrutura e articula os espaços de caráter gradativamente mais públicos do retiro. No nível térreo a água é elemento primordial ao cultivo de hortas comunais, que estabelecem novas relações no espaço urbano e exige um cuidado contínuo para sua manutenção, trazendo o homem para um maior nível de presença e mútua colaboração. Apropriando-se do espaço da coluna, a vegetação presente tende a se verticalizar e a camuflar o espaço do retiro, qualquer seja o contexto espacial de inserção. Níveis de Privacidade: Num segundo momento de investigação, a cela passa a ser combinada de maneiras diferentes para explorar tempos de permanência no retiro que variam de acordo com o grau de intimidade, observando, assim, a influência do tempo sobre configurações e necessidades espaciais. 1.House Extension: A primeira configuração acontece como extensão do espaço privado da residência no espaço público. Neste caso, a permanência no retiro é ilimitada. As celas são acessadas unicamente através de duas passarelas que se conectam cada uma a uma residência. O piso intermediário é também conectado às casas por outras passarelas, servindo como uma extensão do espaço privado do
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2°pavimento
1°pavimento
Térreo
Isométrica - Sistema Captação de água
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Mandalas - Referência a tampa do bueiro Capta e distribui água da chuva
House Cell
Monastery Cell
Células individuais
Espaço Convivência
hortas comunitárias
Student Cell
City Hall Cell
Perspectivas
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House Cell
Célula Individual no 2° Pavimento
lar como uma segunda sala, um espaço de leitura, ou simplesmente uma chance ao dolce far niente. 2.The Monastery: A configuração seguinte oferece um tempo limitado que se resume a um mês de estadia. É o caso do monastério, aonde a atividade principal é o preparo dos alimentos cultivados na horta comunal. A distância entre as celas começa a se ampliar para gerar um espaço de permanência comum. Nesta segunda configuração de retiro, 12
todos os níveis são acessados através do nível público do térreo. O primeiro andar possui uma infraestrutura adequada a uma permanência prolongada. Sanitários e cozinhas são abastecidos pela água proveniente da cela através da coluna-caule, que, por sua vez, desdobrase numa estrutura curva para permitir que a vegetação cultivada na horta se verticalize. A implantação do monastério se dá entre espaços de densa vegetação na cidade.
Student Cell
Monastery Cell
1° pavimento de um House extension
City Hall Cell
3.The Study Room: O intuito desta configuração é oferecer ao indivíduo um espaço de estudo pelo período de uma semana. À medida que o tempo de permanência diminui, também diminui a infraestrutura designada a atender os habitantes temporários do retiro. Aqui, a organização das celas e seus espaços intermediários possibilita uma dinâmica mais jovial. Neste momento em que o retiro passa a
tomar um caráter menos individual, o espaço de contemplação dentro da cela passa a ser dividido entre duas pessoas. 4.The City Hall: Aqui, o cidadão não terá uma recepção muito calorosa. Todo o espaço é estruturado de maneira a oferecer o mínimo necessário para que se tenha uma única noite de permanência, sendo este um retiro voltado a casos de emergência. O primeiro andar possui apenas um sanitário e o térreo é invadido 13
pelas vias da cidade, tendo o seu espaço fragmentado e desassociado das funções relacionadas à permanência. Feedback + Conclusão: O processo de desenvolvimento foi apresentado em treze bancas à professores de diversas áreas da arquitetura e do urbanismo durante o semestre letivo. Receber críticas de profissionais de diversas áreas possibilitou uma reflexão constante sobre os mais diversos aspectos da investigação conceitual e morfológica, estimulando o aprofundamento do tema e uma compreensão mais ampla do mesmo . Na apresentação final do meu projeto pessoal, a sugestão mais extrema que ouvi foi : que o espaço interno da coluna-caule se tornasse o próprio retiro, tendo a sua escala aumentada para permitir para que as atividades acontecessem no espaço contido pela mesma. Outro aspecto levantado e de extrema importância, foi o conflito entre a linguagem adotada para a apresentação do meu projeto, rígida e funcional, e o caráter da proposta, por sua vez lúdica e fantasiosa. Os avaliadores afirmaram que seria ideal a criação de um roteiro fictício, sugerindo personagens que vivessem baseados em certas crenças e se apropriassem do espaço do retiro para a prática de seus rituais. Vale ressaltar que esta criação de roteiro
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é muito utilizada no desenvolvimento de projetos na AA, independente do nível de delírio. O que levo desta experiência é a certeza de que devemos alcançar autonomia para traduzir nossos anseios - como arquitetos e urbanistas – em propostas coerentes que permitam reestabelecer o ambiente urbano como espaço mais democrático. Mais importante, temos de valorizar os nossos direitos como cidadãos e exigí-los, em cada atitude do dia-a-dia, pois Arquitetura e cidade só podem existir a partir do homem, para o homem.
Horta ComunitĂĄria no TĂŠrreo
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Publicaram
O conhecimento de nada serve se não for repassado. Há uma série de estudiosos dentro da Faculdade que pesquisam, escrevem, criam e analisam teorias e não há um veículo para que esse conhecimento venha a ser transmitido amplamente, abrangendo alunos e discentes de outras áreas da FAU. Grande parte do conhecimento produzido não tem como ser disseminado. A _F8 OFF vem veicular resenhas de teses e de livros ou até mesmo capítulos na íntegra, críticas, e outros. Com intuito de servir como referência na bibliografia de disciplinas internas e expor pensamentos relevantes sobre esse mundo que é a Arquitetura..
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JOSÉ LUIS ROMERO: O LABIRINTO E O FIO
Ricardo H. Medrano É arquiteto e urbanista, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e pesquisador externo do Instituto de Arte Americano, da Universidade de Buenos Aires
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Há exatos cem anos nascia em Buenos Aires José Luis Romero. Após a morte de seu pai, ainda na infância, Romero esteve sob os cuidados de Francisco Romero, irmão mais velho do lado paterno, um importante filósofo argentino, também militar e engenheiro. Isto lhe permitiu (apoiado também em outros mestres, como Pedro Henríquez Ureña), desde muito cedo encontrar lugar para suas inquietações e construir uma sólida trajetória, tendo se transformado em um dos mais importantes historiadores do século XX. Romero faleceu durante uma viagem ao Japão, em 1977, deixando-nos como legado uma valiosa coleção de idéias e trabalhos. Entre suas obras mais citadas estão Las ideas políticas en la Argentina (1946), La Revolución Burguesa en el mundo feudal (1967), Crisis y orden en el mundo feudoburgués (publicada pouco depois de sua morte) e Latinoamérica. Las ciudades y las ideas (1976. A edição brasileira é de 2004), da qual nos ocuparemos mais adiante. Como explica seu filho, Luis Alberto Romero (também eminente historiador), antes dos trinta anos de idade, já havia definido seu projeto intelectual, ao qual dedicou uma
vida de trabalho rigoroso e persistente. Para definir a personalidade do pai, Luis Alberto Romero cita o historiador italiano Ruggiero Romano, que dizia que as pessoas comuns têm muitas idéias, mudandoas com facilidade; por isso, os “pequenos mestres” possuem cinco ou seis idéias em sua vida, e os grandes mestres apenas uma. Romero se situa neste caso, fazendo com que esta empresa o absorvesse completamente, muitas vezes deixando de seguir os padrões convencionais acadêmicos. Tudo o que recolhia em seus estudos direcionava para seu projeto que, estando já definido, apenas aguardava sua concretização. Seu grande tema de estudo foi a cultura ocidental, explorando-a desde a antiguidade greco-romana até os tempos contemporâneos. Nesse arco temporal ocupam também um espaço significativo a Idade Média e as transformações do século XVIII. Muitos destacados humanistas se debruçaram sobre a obra de Romero, de sorte que hoje é possível contar com um rico repertório de análises e interpretações, entre outros: Túlio Halperin Donghi, Felix Luna, Adrián Gorelik, Jacques Le Goff, Noé Jitrik, Carlos Altamirano e Afonso Carlos Marques dos Santos, além de Luis Alberto Romero.
Nuestro hermoso deber es imaginar que hay un laberinto y un hilo. Nunca daremos con el hilo; acaso lo encontraremos y lo perderemos en un acto de fe, en una cadencia, en el sueño, en las palabras que se llaman filosofía o en la mera y sencilla felicidad. Jorge Luis Borges. El hilo de la fábula. Los Conjurados (1985)
Nestes processos de criação, construção e transformação, Romero dá um lugar especial às cidades, palco privilegiado onde encontra uma base sólida e segura para estudar as diferentes manifestações históricas. Seu interesse não era apenas “de escritório”, nesta empreitada visitou mais de cem cidades, guardando consigo um arquivo de imagens e planos. Porém, imaginou que viveria alguns anos mais, deixando assim, algumas obras inconclusas. Felizmente, parte desta obra têm vindo à luz. Destacamos, em particular, a recente publicação de La ciudad occidental (2009), uma coletânea desses textos que, como as peças de um meccano (jogo pelo qual tomou gosto), permitiam que suas idéias fossem ganhando forma e sentido. Em notável prefácio, Adrian Gorelik destaca o impacto que a primeira visita às cidades européias lhe causou, onde esse cedo despertar teve um papel decisivo em seu projeto de vida. Assinala Gorelik: A importância crescente que foi ganhando nele a cidade, menos como objeto material que lhe interessasse por si mesmo, e mais como meio revelador de algo muito caro à própria forma como concebia a história: a
condensação de processos de longo prazo da vida social e cultural, a síntese do conjunto das criações humanas representativas de uma época. Mas ladeando em importância La ciudad occidental, está o magnífico livro, fundamental e singular: Latinoamérica. Las ciudades y las ideas. Publicado originalmente em 1976, teve que enfrentar o ambiente deflagrado pelo golpe militar de 24 de março desse mesmo ano, que reprimiu duramente as manifestações intelectuais, fechou a editora (Siglo Veintiuno Argentina), e provocou a prisão e o desaparecimento de autores e editores. Seu formato, sem notas de rodapé, fontes e discussão do “estado da questão” também provocou estranhamento. Aos poucos, entretanto, foi divulgado e valorizado, traduzido para outras línguas, construindo sua reputação de obra excepcional. Segundo Romero, o objetivo essencial deste livro é responder à pergunta: “qual o papel desempenhado pelas cidades no processo histórico latino-americano”. O livro foi dividido em capítulos, cada um tratando de uma etapa da história da América Latina, recolhendo um universo multifacetado que deriva do conceito por ele denominado “vida
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histórica”: formas de vida, política, mentalidades, economia, ideologias. Inicia-se com a expansão européia, passa pelo ciclo das fundações, pelas cidades fidalgas, cidades criollas, cidades patrícias, cidades burguesas, e finaliza com as cidades massificadas. Embora recolha contribuições de diferentes origens - Escola dos Annales, marxismo, sociologia estadunidense, entre outras – sua particular abordagem torna difícil qualquer filiação, como já foi apontado por Carlos Altamirano. Romero era, como ele próprio se definia, um historiador cultural. Há um aspecto fundamental desta obra que merece ser destacado: a construção de uma visão de conjunto da América Latina. Fazendo parte de um reduzido universo de trabalhos com essa abrangência, e ainda mais reduzido se nos atermos às cidades e ocupação do território, podemos situá-la ao lado outros autores, como Angel Rama (em particular La ciudad letrada, de 1984), Jorge Enrique Hardoy, Ramón Gutierrez, Richard Morse e Adrián Gorelik. Mas não é uma história endógena, pelo contrário, é uma construção que incorpora esta parte do mundo à história ocidental. Fornece-nos ainda instrumentos para enfrentar este recorte tão difícil de definir, mas
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ao mesmo tempo complexo e fascinante que é a América Latina. Há certamente um fio condutor, afirma, mas é tarefa difícil encontrá-lo. O livro começa com a chegada dos europeus, e a partir daí vai amarrando, no tempo e no espaço, toda sorte de aspectos culturais, que habilmente transforma em uma explicação convincente para esse processo, incluindo aí um dos períodos mais áridos para os estudos urbanos: a primeira parte do século XIX (ver, por exemplo, La ciudad regular, de Fernando Aliata). O fio condutor, que alinhava esse período histórico, e que tem como suporte a cidade – entendida como uma sociedade urbana e sua criação – começa com a implantação de uma Europa na América, fazendo tabula rasa do que aqui existia: um território vazio. Este sistema, controlado com mão firme desde a metrópole no caso espanhol, mais frouxo no caso português, se no inicio permitiu a costrução de algo que foi passível de controle, logo sucumbiu à tomada de consciência, por estas cidades, de que já possuíam uma história, e ao confronto da realidade com uma construção abstrata que vinha da Europa. Diante da ofensiva mercantilista, nas últimas décadas do século XVIII, estas cidades
sofrem nova inflexão, onde algumas se mantêm no esquema tradicional, estancando-se, e outras se transformam em ativas cidades mercantis, já decididamente burguesas e em busca de independência. A sociedade industrial provoca novo impacto nas últimas décadas do século XIX, período no qual passam a se inserir plenamente no sistema econômico capitalista mundial. Neste caso, as burguesias que já estavam constituídas buscam um desenvolvimento heterônomo, freando o desenvolvimento autônomo mediante o exercício de um poder forte. Isto não durou mais do que alguns decênios, quando diante de novos atores, mudanças políticas e do fenômeno da metropolização, é deflagrado um novo ciclo, a cidade das massas. Parafraseando Argan, esta é uma história da América Latina como história de suas cidades. Que é, para Romero, esse jogo constante de forças, entre desenvolvimento heterônomo e autônomo, entre mundo rural e mundo urbano, entre ideologias e estruturas reais. Isto nos fornece armas para enfrentar alguns dos problemas freqüentemente apontados na historiografia, como, por exemplo, o das histórias nacionais, que lidam com um limite arbitrário, as fronteiras nacionais,
para explicar fenômenos cuja lógica obriga a transcendê-las. Isto fica ainda mais evidente ao tratar do território e das cidades. Outro problema refere-se à possibilidade de uma explicação conjunta das colonizações espanhola e portuguesa, ainda um obstáculo a ser transposto. Esta tensão não está ausente no livro: o protagonismo da cidade se vê surpreendido por um Brasil onde no período colonial as atividades nas cidades eram quase sempre sazonais e a vida se passava nos engenhos. Somente já avançado o século XVIII os universos luso-americano e hispanoamericano se encontram em um percurso comum. Sérgio Buarque de Holanda, no célebre Raízes do Brasil, também percorreu a trilha destas cidades, mas em Romero elas recebem como incumbência o papel principal, e a América Latina é o princípio. Que estas breves palavras sirvam de estímulo à leitura de um autor ainda pouco conhecido no Brasil. Romero encontrou um fio. Mas o labirinto ainda permanece à nossa espera. Artigo publicado em: Nossa AméricaNossa América (São Paulo), v. 34, p. 12-16, 2009. Palavras-chave: América Latina; José Luis Romero; Cidades Latinoamericanas Homepage: http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/ContentBuilder.do?open=subrevistaNossaAmericaPu&ma=pu&pagina=rev istaNossaAmericaPu; ISSN/ISBN: 01036777.
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UM SISTEMA EM OPOSIÇÃO: O GRAFFITI E A LEITURA DA CIDADE TRABALHOS EM SALA DE AULA PARA TEORIA DA ARQUITETURA III
DISCIPLINA DE TEORIA DA ARQUITETURA 3
Celso L. Minozzi Doutor pela Universidade de São Paulo, professor de Teoria da Arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ricardo H. Medrano Doutor pela Universidade de São Paulo, professor de Teoria da Arquitetura pela Universidade Presbi teriana Mackenzie Professores de Teoria da Arquitetura III FAU UPM
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Trabalho executado para a disciplina. Realizado por Alessandra Behr, Andreia Lee, Fernanda Costa, Lívia Zaneri, Marina Budib e Maya Leal
A inserção de um trabalho de expressão gráfica como exercício de uma disciplina de teoria da arquitetura encontra seu foco no próprio problema do pensar, do teorizar e do criticar. O pensar arquitetura é compreendido como uma ação complexa e criativa por estabelecer conexões entre objetos comunicacionais diferentes. Estudar e compreender arquitetura exige a possibilidade de conectar entendimentos próprios de universos análogos – desenhos de expressão e representação, mapas e fotos, a obra construída – que são pensados por sintaxes abertas mesmo quando de-
terminadas por processos matemáticos, com universos lógicos – tratados, textos teóricos, textos críticos – estruturados pela linguagem e com fortes características objetivas, muitas vezes científicas, quanto ao seu entendimento. Em sala de aula, para a disciplina Teoria da Arquitetura III, são estudados textos de arquitetos e não arquitetos com a finalidade de estabelecer um campo do pensar arqui tetônico e por entender-se que a teoria da arquitetura está essencialmente escrita. Entende-se também que a teoria encontra a permuta de seus valores no diálogo que deve ser estabelecido com o fazer da ar-
quitetura, na relação de um processo técnico da escrita espacial e um processo técnico da força intencional, motivando uma compreensão da arquitetura e seu sentido de construção no projeto e na edificação. O estudo em teoria da arquitetura deve promover a possibilidade deste diálogo mesmo considerando que o fazer arqui tetônico tenha sua especificidade teórica e a teorização arquitetônica possua o seu próprio fazer. O conhecimento teórico em diálogo com o conhecimento do fazer deve dar base a uma visão crítica da arquitetura, entendida na sua função analítica, dialética e fundamentadora das ações e reações em arqui tetura. Os textos analisados buscam demonstrar a arquitetura e a cidade como semióticas complexas, ou seja, tranças de sistemas sígnicos nem sempre redutíveis ao universo da linguagem e de origens diversas, matérias diferentes relacionadas por funções diferentes determinando conhecimentos diferentes como os cálculos de engenharia e as representações do espaço em arqui tetura, a materialidade do concreto e do vidro e do tijolo, frente à natureza orgânica da vegetação e dos animais. A reunião destes universos discretos indica a complexidade sígnica do espaço construído e da cidade.
O estudo teórico da arquitetura é um estabelecimento territorial sobre o seu universo de conhecimento assim como o estudo das arquiteturas e das cidades é também o estabelecimento de territórios de conhecimento dos objetos. O estabelecimento de territórios que permitem agregar valor e significado aos pensamentos e às coisas é também uma ação política, compreendendo esta ação política como um reconhecimento de ser aqui e agora, um conhecimento do ser histórico sobre o seu mundo e uma consciência sobre essa ação.
Edifícios, ruas, automóveis, luminosos... promovem uma polissemia urbana, uma multiplicidade de sistemas sígnicos com significações próprias que se misturam na aproximação de fluxos informacionais. Todos os objetos e pessoas dentro da cidade participam destes fluxos informacionais, pois a pressa com a qual uma multidão se desloca em horários de rush nas calçadas, dentro dos carros, em direção à estação de trem, indicam a comunicação de seu objetivo de participação na vida coletiva e do seu sistema produtivo.
A crítica, tendo como base de uma ação política, permite uma apropriação do estudo da arquitetura assim como uma ação projetual permite uma apropriação do espaço da cidade.
Os fluxos informacionais indicam uma deriva significante que preenche os objetos da cidade com intensidade afetiva e valor.
O exercício com o graffiti encontra-se no nó produzido por uma ação sobre o universo de conhecimento e o universo da cidade, na escritura dos sistemas análogos e na escritura dos sistemas lógicos. Na dimensão desta conjunção é que se propõe um graffiti localizado na cidade a partir de suas relações com os textos, com a cidade e com sua própria linguagem. TOMANDO COMO BASE QUE... A cidade é o resultado da sobreposição de estratos diversos, com sistemas produtivos diversos e com alterações dos sistemas de informação e linguagem e a cidade contemporânea é este estado potencializado.
Uma poética urbana poderá ser compreendida pela tensão produzida entre os fluxos significantes, pela intensidade de suas atribuições afetivas e pelo valor atribuído como estado de sua existência. Relações entre memória e contemporaneidade regem a produção de valores que permitem equiparar ou diferenciar fluxos significantes: edifícios históricos e edifícios funcionais, ruas históricas e população. A superprodução das metrópoles altera a relação entre estas forças e a contemporaneidade e sua potencias de mutação são fortes o suficiente para desequilibrarem o sentido de manutenção da memória e das potencias de significação.
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Com a velocidade de produção e reprodução urbanas a perda de significação de seus espaços é intensificada. Grandes edifícios crescem velozmente em regiões antes ocupadas por residências baixas, alterando a predominância horizontal de ocupação pela predominância de verticais. Enquanto as edificações rapidamente alteram seu valor, e na sua generalidade há uma comutação de valor, o traçado das ruas permanece o mesmo e exibe a discrepância dos tempos de transformação dos elementos urbanos e a perda de permutabilidade de valores. É possível que a tensão provocada por esta diferença seja positiva e abra campos de significação, mas também acontece que esta discrepância evidencie a falta de valor que muitas vezes acontece nos espaços da cidade. Há uma perda das relações de centralidade numa nova configuração das metrópoles e dos seus edifícios e lugares como expõe Massimo Cacciari em seu livro “A Cidade”, no qual desenvolve a noção da dissolução das metrópoles movida pelo ímpeto das forças de mercado e da indústria. Cacciari avança sobre uma nova forma de compreender as cidades na redução das relações humanas a um sistema de trocas que alavanca o sistema de su24
perprodução. A história das cidades e a memória necessária para os significados dos lugares são desconfiguradas pela nova forma das cidades: os lugares simbólicos são substituídos pelos territórios, as cidades-territórios, ou seja, a experiência da dissolução dos lugares e dos processos de memória que acentua a leitura dos fluxos significantes e de seus próprios ritos de produção e significação. O lugar é para Cacciari (2010) “o sítio onde paramos: é pausa – é análogo ao silêncio de uma partitura” (p.35), uma situação dentro da cidade na qual a sensação do repouso confere a sua ‘habitabilidade’. O movimento e a intensidade das trocas são equivalentes aos processos das linguagens e das semióticas e nos processos particulares em como se insere e infere a memória como agente significativo. CABE UM PENSAMENTO INVERSO. As pausas, ou seja, as ausências são os motores da aceleração dos processos de significação. Como quando ouvimos uma palavra estranha ou impactante no meio de uma fala. A busca pelo entendimento e pela dimensão daquela palavra reverbera em nosso pensamento enquanto a forma sonora ecoa em nossa memória e se junta às memórias daquela palavra, daquele som, em busca de uma grandeza de sua significação. O significado construído
nesse processo é a sua presença. O intervalo da busca das outras palavras é a sua ausência. Ao olharmos os edifícios de uma cidade, suas ruas e seus passeios, suas praças e seus parques, nos deparamos com estes objetos que produzem os fluxos informacionais, estas “palavras mudas” como escreve Jacques Rancière (O Inconsciente Estético), palavras que em algum momento transfiguram o exercício do olhar e aguçam a experiência urbana redimensionando a memória de suas significações e o valor destas palavras. A força expressiva de um edifício abre a possibilidade de sua significação e a memória a ele aplicada confere a intensidade de sua substancialidade histórica e sua imagem reverbera em nossa mente na construção de seu significado. O lugar é a experiência dessa memória aplicada, é uma presença. O jogo das presenças e das ausências e a intensidade das mudanças de suas expressões é a experiência da velocidade das metrópoles e das expressões de seus grupos e tribos. A AÇÃO DA CONTEMPORANEIDADE O graffiti é compreendido como uma expressão de grupos ou tribos e permite, na sua efemeridade, a inserção de forças de
contemporaneidade nos processos de atualização dos significados dos ambientes urbanos. Por origem o graffiti é o grito particular de um grupo particular. Encontra-se longe dos universais das cidades sendo uma mensagem sempre em transformação tanto pela espontaneidade de suas imagens quanto pela moldura urbana onde está aplicado. Há uma dicotomia explícita entre o significado do ambiente no qual está grafado e o significado da grafia de sua mensagem. Disjunção e contemporaneidade são essências transformadoras do graffiti como meio de expressão. A dissolução da imagem inicial do ambiente urbano é presente na aplicação do graffiti. A velocidade de suas mensagens se associa à velocidade da dissolução das imagens reconfigurando o ambiente em ambientes dicotômicos e sempre em aparente dissolução. O graffiti é uma das marcas da contemporaneidade das cidades. O EXERCÍCIO EM SALA DE AULA Explicamos a seguir a proposta do exercício realizado em sala de aula que resulta na produção de um graffiti. A primeira etapa da disciplina, a mais longa, consiste na leitura e análise de textos. Es-
tes textos não são necessariamente fixos, mas podem ser trocados de acordo com as questões que vão sendo suscitadas, e com os sucessivos aperfeiçoamentos que incorrem. A própria idéia da utilização do graffiti como forma de expressão pode sofrer mudanças, mas sempre de acordo, além da proposta da disciplina, também aos anseios dos alunos e das referências de sua geração. O conjunto de textos que vimos utilizando compreende um espectro de obras escritas entre finais dos anos 1950 e meados da década de 1980. A sequência das aulas é a seguinte: 1a aula: Introdução do livro KRUFT, Hanno Walter. Historia de La Teoría de la Arquitectura. Madri: Alianza, 1990 (publicado originalmente em alemão de 1985). 2a aula: Introdução do livro ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998 (publicado originalmente em italiano em 1966). 3a aula: trecho do livro BARTHES, Roland. Mitologias. São Paulo: Difel, 2003 (publicado originalmente em francês em 1957). 4a aula: TSCHUMI, Bernard. “O prazer da arquitetura”. In: NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. pp. 575-584 (publicado originalmente em inglês em 1977)
5a aula: EISENMAN, Peter. “O fim do clássico: o fim do começo, o fim do fim”. In: NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. pp. 233-252 (publicado originalmente em inglês em 1984). Estes textos procuram dar conta de alguma das inúmeras possibilidades de co nexões entre a multiplicidade de percursos percorridos pela Teoria da Arquitetura, em especial a partir da crítica ao Modernismo, recorte que aqui adotamos. Dos cinco textos, três são especificamente propostas teóricas no campo da arquitetura (Rossi, Tschumi e Eisenman), o primeiro (Kruft) tem o papel de discutir algumas questões gerais sobre Teoria da Arqui tetura, e o texto “Mitologias”, de Barthes, surge como elemento propulsor de uma interpretação da realidade que terá depois grande importância em determinadas correntes na arquitetura, como os casos a que nos atemos de Tschumi e Eisenman. As atividades realizadas com as obras acima citadas são essencialmente duas: a primeira consiste em uma aula expositiva sobre o texto. Trata-se de uma interpretação pessoal (do professor), mas que procura elucidar as entrelinhas do texto, ou seja, suas referências no tempo e no espaço, conexões de idéias e desvendamento de sua estruturação.
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As aulas não seguem necessariamente um mesmo padrão já que cada texto exige abordagens próprias que aproximam e afastam a interpretação do que está propriamente escrito no texto. Por exemplo, no texto de Roland Barthes é necessário transcender questões específicas, como os mitos na França dos anos 1950 ou o deta lhamento da semiologia, visando entender o aporte de seu pensamento em nossa área do conhecimento, como também a contribuição destas bases para a compreensão da realidade contemporânea. Após cada aula são realizados em sala de aula exercícios em grupo que visam trabalhar com maior profundidade aspectos específicos fornecendo base crítica para os trabalhos finais. Portanto, o graffiti é resultado de um cuidadoso e gradual trabalho de polimento e aproximação aos textos, e estas relações é que são avaliadas. Estas atividades desenvolvidas durante o semestre permitem enfrentar os dois trabalhos principais da disciplina, uma prova escrita, e um trabalho de expressão artística através de um objeto, que neste caso é o graffiti. É importante ressaltar que trabalhamos com estas duas possibilidades de expressão, uma lógica e outra analógica, como entendimento da própria arqui tetura e de suas duas dimensões, a teórica e a do fazer, em permanente diálogo. 26
Portanto, seguindo a linha de raciocínio até aqui desenvolvida, para a realização do graffiti é necessária a produção de uma análise crítica. O exercício proposto é uma fita, cunhada de “grafita”, como suporte à expressão de uma leitura da área central da cidade de São Paulo. O primeiro passo é escolher uma área da região central e utilizar conceitos subtraídos dos textos para analisála. Os conceitos escolhidos, e devidamente articulados, produzem uma análise crítica da área. Como se trata de uma área histórica, a memória emerge como um dos aspectos a serem considerados. Ou seja, não é um trabalho produzido para um determinado lugar, mas um objeto produzido pela análise de um lugar. Para enriquecer o exercício, a fita pode ser considerada um objeto tridimensional, podendo ser virada e/ou dobrada. É esta análise crítica que será expressa em linguagem graffiti. UMA EXPRESSÃO EM GRAFFITI Neste exemplo produzido por alunos percebe-se a interferência dos fatores antes mencionados: a memória na escolha e leitura da cidade, a efemeridade na idéia de aplicação da linguagem do graffiti sobre a imagem urbana, o sentido desta du-
pla aparição como um efeito em paralaxe, que tanto não sintetiza os dois elementos em continuidade, quanto não elimina um resultado crítico desta ação na leitura da imagem urbana. Há uma duplicidade na informação. O conjunto tipológico abre a leitura de uma texturização da imagem urbana na visão de portas, janelas e frisos que formam uma expectativa imagética e uma possibilidade de inserir conteúdos, históricos ou de hábito, nesta imagem. Uma primeira instância da memória como conteúdo de agenciamento significador da mensagem urbana está inserida nesta primeira impressão. As figuras aplicadas, à forma de graffiti, estabelecem outra expressão da imagem urbana, descolada sobre a primeira, com outra possibilidade de relação entre a expressão e os conteúdos e um outro estado de memória. A sensação fugidia da imagem em graffiti se propõe no próprio presente enquanto devir. FINALIZANDO O sentido do graffiti se reconstrói, por princípio, no cotidiano das sociedades. Proposto na expressão de grupos politizados ou grupos socialmente periféricos, aposta na sua efemeridade como a possibilidade de estender a existência destes grupos em territórios que não pertencem ao seu mapa de ocupação da cidade. É uma intervenção
de redefinição dos territórios através de outros agenciamentos de valor. Os sinais corporativos são ressignificados pela sua utilização e possibilidade de locação física, pois o pensamento crítico esperado como resultado deste processo não se configura na síntese destas partes, mas aparece como um sentido virtual, como um avatar desta relação imprecisa que se configura no pensamento crítico. As imagens e mensagens, da cidade e do graffiti, dançam uma sobre a outra, expli citando a sua não relação, como mensagens descoladas que indicam, no excesso da sua própria materialidade, a concretude da realidade urbana, uma realidade infinda e de sobreposições de territórios e mensagens, admitindo que a percepção da cidade, como cognição da existência de ser humano na relação com o ser cidade, é o resultado da ação de diversos momentos significativos, de ação de várias linguagens e de vários sistemas sígnicos. A imagem urbana é um valor produzido por uma semiótica, um sistema de signos arranjados a partir da interveniência das ações da memória relativas às expressões encontradas na cidade.
A expectativa do entendimento não se reproduz numa metáfora posicionada e lógica, mas num pensamento misto, lógico e analógico, que não se fecha, ao contrário, se abre, possibilitando um entendimento que beira o vazio significante e dando, na sua forma aparente, a possibilidade de um grau zero de significação. O sentido buscado neste exercício encontra-se na aproximação do pensamento em arte ao da arquitetura, considerado de grande relevância para se compreender a extensão da arquitetura e sua exposição literal nas formas da cidade. Tal possibilidade de pensar é vista como necessária para os processos de microrrevolução, um pensamento crítico que permita ao aluno, futuro arquiteto e indivíduo com responsabilidade social, o afastamento exigido para sua percepção própria e da ação do seu trabalho. O conhecimento sobre a arquitetura, seus produtos abstratos e sua valoração como ação crítica formam o conjunto de objetivos deste exercício em sala.
A discrepância entre as linguagens apóiase na leitura de uma poética urbana e a relação necessária do pensamento em arte com o pensamento em arquitetura. 27
Concursos
Acreditamos que seja de grande importância a participação em concursos, tanto de alunos como de seus professores, para a perpetuação do nosso potencial arquitetônico em escala nacional e internacional. O que é comum dentro da FAU-MACKENZIE. Belas propostas já foram feitas em concursos e foram ganhas e outras não. Nossa intenção é a de incentivar tal fato dando espaço para a publicação dos bons trabalhos, sejam eles vencedores ou não, mas que como qualquer boa arquitetura, nos provoque e toque nossos sentidos.
4° CONCURSO CBCA PARA ESTUDANTESDE ARQUITETURA - 2011 Centro Brasileiro da Construção em Aço
Edson H. H. Takiichi, Thomas Y. Takeuchi, Homã Alvico, André Suk Hwan Ko, Karin C. Gradiner, Adriano M. Franchini
Localização
A construção de uma estação intermodal tem como aspecto chave a sua concepção como centralidade mais que sua forma ou custo. O ponto mais relevante neste caso é a construção de um espaço público provedor de serviços para a comunidade que justifiquem a criação de um nó metropolitano capaz de viabilizar centralidades. Sendo a es-
tação intermodal um dos equipamentos que melhor responde a uma necessidade vital da metrópole – a eficiência do transporte de massas. Casos internacionais permitem constatar como estações intermodais podem organizar atividades econômicas em escalas diversas. A região de Ermelino Matarazzo
possui 97% de moradores que trabalham fora do distrito (dados: Prefeitura de São Paulo). A região sem estrutura de transporte possui elementos como USP Leste, aeroporto internacional de Cumbica, o futuro estádio em Itaquera além da proximidade com a área da Operação Urbana Rio Verde – Jacu.
Menção Honrosa Situação Atual
Proposta
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Inserção Urbana
Implantação
31
32
Perspectivas Corte
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Estacionamento
Serviços
Localização
A. Verde
Ciclovias
Térreo
Circulações
Croquis
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Perspectivas Cortes
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PRÊMIO SOLUÇÕES PARA CIDADES 2011 CIDADES CICLÁVEIS ABCP + IAB SP Gustavo Morasco Thaila Ver0nezi Orientação: Luis Guilherme Castro
1° Lugar
A proposta elabora uma rede cicloviária integrada ao sistema de transporte coletivo do município de São Sebastião do Paraíso - MG, que visa gerar soluções que abrangem as atuais discussões da mobilidade urbana contemporânea. Separou-se os espaços cicloviários em : a-) compartilhados; b-) parcialmente segregados; c-) totalmente segregados. No primeiro caso destacamos a via pública e o passeio compartilhado; no segundo encontramos a ciclofaixa e o passeio separado; e por fim a ciclovia. Para realizar a proposta foi estudado mapas de uso e ocupação do solo, linhas de transporte público, topografia e levantamento fotográfico. As vias compartilhadas foram implantadas em ruas cujas as dimensões eram insufiicientes para o espaço de uma ciclovia. O Limite máximo de velocidade para [ estratégias e projetos para inserção da bicicleta no modelo de mobilidade urbana ]
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FASE 1
FASE 2
FASE 3
FASE 4
7,57 KM de ciclovias
8,86 KM de ciclovias
Fusão com 35,8km do sistema trans. coletivo
6,6km de vias compartilhadas
automóveis nestas vias é de 30km/h. Estas situações ocorrem em bairros residenciais e de menor fluxo, e com reduzidas dimensões: 6 metros de largura. A ciclofaixa aparece nas laterais das vias. O uso da margem já é possível quando a dimensão alcança os 8 metros. As ciclovias são infra-estruturas privilegiadas à circulação de bicicletas. Necessita de áreas generosas, espaços laterais nas vias existentes, áreas em grandes calçadas, canteiros centrais e parques. Foi proposto pontos de suporte ao ciclista, que se delimitam em raios de 1km de influência. Permitem o aluguel de bicicletas, estacionamento e descanso. Possibilitam a integração com o transporte público. Ônibus em linhas especificas serão adaptados com racks de bicicletas em frente ao veículo.
Vias Compartilhadas - Sinalização horizontal e vertical - 30km/h
Balizadores de trânsito evitando acidentes
Rotatória redirecionando fluxo e evitando acidentes Sinalização de piso e placas
[ Vias compartilhadas -- Ciclofaixas -- Ciclovias ]
Ciclovia + Pedestre - Sinalização
Ciclofaixa - Via Compartilhada
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1° Pavimento
1. Bicicletas de Aluguel 2. Oficina 3. Bicicletaria
4. Estacionamento 5. Guarda-Volumes 6. Bebedouro - Alongamento
7. Sanitário Fem. 8. Sanitário Masc.
Térreo
Corte Longitudinal
Corte Transversal
Pólo Cicloviário
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1.10
4.26
P贸lo Ciclovi谩rio
Detalhe Paraciclos
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AteliĂŞ
O que nossas cabeças estão produzindo e pensando? O Projeto vem expor o que assimilamos como arquitetura por meio de uma resposta a várias questões programáticas, que por meio de saber técnico e crítico é representado através dos desenhos, nossa Identidade enquanto arquitetos. O intuito do Ateliê é mostrar projetos dos diversos semestres do curso e suas complexidades exaltando o senso crítico e a capacidade projetual de cada um(em termos de desenho e de embasamento teórico que sustente sua idéia). Nesse panorama é possível observar pontos que diferem cada semestre. Como o aluno entra e como sai arquiteto. A essência dessa seção é nos tornarmos melhores. Lendo, vendo, adquirindo repertório, expondo, debatendo, influenciando e sendo influenciado, incentivando estudantes a gerarem melhores resultados através da possibilidade de ter seu projeto publicado. Tudo de estudante para estudante.
Tendo como tema a criação de um Centro Comunitário que objetiva ser uma centralidade de caráter a reduzir o deslocamento da população do sítio (bairro do Belém na zona leste de São Paulo), implantando equipamentos de utilidade pública e criando habitação em prol de adensar o lote, tive como partido trabalhar o terreno de maneira tal que se torne conexão entre o pedestre e a cidade que lhe envolve.A região é servida de equipamentos urbanos importantes; Metrô Belém (a oeste) Metrô / Shopping Tatuapé (a leste) e SESC Belenzinho na quadra ao lado da de estudo, criando um eixo propício ao pedestre, mas, que é interrompido por alças, e pelo próprio Viaduto Estaiado do Tatuapé, agindo como barreira e di-
PROJETO 4 - 2012 CENTRO COMUNITÁRIO + HABITAÇÃO rONIELLE LAURENTINO 1990 1 arquiteto: Álvaro Siza 1 obra: Centro Galego de Arte Contemporanea Implantação
A PROPOSTA EM UMA FRASE: Uma arquitetura social, uma arquitetura permeável
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visor entre as centralidades. Existiu a intenção de aguçar no usuário o sentimento de lugar no território. Parti então do princípio de criar uma arquitetura que afirmasse o lugar e o potencial de conexão do lote com o meio em que se insere. Para isso proponho uma quadra aberta com diversos usos abrigados em objetos de grande carga simbólica que se relacionam em implantação, formando um todo complexo de relações entre si e o terreno que lhe abriga de maneira sutil, valendo-se de amplos espaços. Arquitetura se baseou em programas básicos de usos essenciais para uma cidade compacta: habitação, serviços e cultura, tendo em vista a importância do SESC como equipamento cultural e de lazer, não vi a necessidade de inserir
equipamentos que disputassem o uso com o existente (o interesse maior é a união, recriar uma comunidade urbana, nada que dividisse, mas agregasse). Entendi que a melhor forma de implantação seria setorizar os usos em grupos de objetos distintos, mas com uma linguagem comum. Interligando os Grupos proponho uma praça semi-enterrada aberta de uso livre da população. Todos os grupos (ou seja, fora habitação) são estruturados em aço, em suas fachadas são vistas as treliças que as compõem e ajudam a distribuição harmônica dos esforços, elas são revestidas em chapas metálicas perfuradas brancas, presas em tirantes parale-
los a estrutura que se fixam nas vigas e colunas metálicas o que afirma a arquitetura como um marco na paisagem. A utilização de vigas secundárias reduzem o vão e propiciam o uso de lajes stell deck que por vez são mais leves por ter altura e consumo de concreto menor que as demais lajes em concreto armado, fazendo assim uma construção limpa e racional.
Estudos do térreo
Térreo
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Edifício Habitacional Pavimento tipo
Corte
Garagem
Tipologia
Esquema estrutural
Paginação elevação Térreo
Planta Audit贸rio
Planta Centro Comunit谩rio
Corte
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PROJETO 6 - 2010 EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL VICTOR SARDENBERG 1988 1 arquiteto: Toyo Ito 1 obra: Mediateca de Sendai
A princípio, me incomodava a ideia do edifício multifuncional como o mero empilhamento de programas. no nível do térreo, lojas, logo acima escritório e arremata-se com as residências. Não me parece de fato um edifício que abrigue múltiplas funções, mas sim três edifícios empilhados. Outra inquietação era o simulacro de espaço público criado nas áreas de comércio junto ao solo. Este me parece ser um espaço extremamente seletivo, regrado e fechado a qualquer possibilidade a não ser o consumo. Houve também uma preocupação de interligação com o entorno urbano, não constituindo o edifício uma ferida no tecido da cidade. Todavia, devido ao caráter do semestre, tentei me ater atentamente às exigências programáticas. Logo, encarei uma
série de contradições. Como aproximar as lojas do público passante e ainda assim criar um espaço público no nível do térreo? Nesse ponto, resolvi “dobrar” os níveis horizontais, criando uma topologia que permitisse o acesso à cobertura do mall ao passante, ao mesmo tempo em que ele pode, pelo nível da rua acessar as lojas. Assim, há um espaço de fato público no nível térreo, mantendo ainda a localização ideal para as lojas. Para resolver a construtibilidade dessa laje vasta, desenvolvi uma superfície em aplicativos de ponta e, a partir de códigos que desenvolvi, resolvi a estrutura de maneira otimizada, respeitando o movimento dessa laje e criando uma especialidade interna rica. As fôrmas são geradas por esse código, cortadas em máquinas controladas por computador e montadas na ordem in
Perspectiva Edifício Multifuncional
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situ. As vigas são metálicas e produzidas especialmente para essa edificação a paritir de arquivos muito precisos. As peças são todas diferentes umas das outras. Procurei, logo após, resolver o problema da insolação nos apartamentos e escritórios. Ao constatar que os escritórios necessitam de pouca iluminação natural e sempre necessitam de refrigeração artificial, aproveitei para locá-los nas fachadas que recebem menos luz, enquanto que os apartamentos ocupam as fachadas mais privilegiadas deste ponto de vista. Assim, resolvo também meu incômodo em separar de forma tão patente os usos do edifício. Todavia, me deparei com uma massa construída que destoava do en-
torno. Desejando manter a funcionalidade dos ambientes internos, que em planta estavam muito bem resolvidos, parti para uma exploração da fachada para tentar tornar o edifício mais leve, tornando seus limites menos perceptíveis e mais difusos. Essa pele é extremamente leve, pois é composta por chapas metálicas perfuradas com 1mm. Um algoritmo de computador gerado por mim definiu os pontos onde as aberturas eram mais interessantes e gerou os arquivos que podem ser enviados à fábrica para se produzir as chapas. Também querendo gerar leveza, proponho uma treliça que faz o papel de uma viga de transição, concentrando os pontos de apoio em 8 vigas no subsolo. Todavia, para melhor aproveitamento do subsolo, a treliça não é regular, dando a impressão de que o edifício mal toca no chão.
Rua B. Piracicaba
Av. Rio Branco
Rua Glete
Térreo
Pav. Tipo 17 ao 23
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Relação Lote . Rua
Apartamento
Elevação Oeste . Corte Leste
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Estruturas
Elevação Oeste Corte Leste
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TFG 2009 CENTRO DE CONVENÇOES - CIDADE UNIVERSITÁRIA + CONEXÃO PARQUE VILLA-LOBOS HENRIQUE BALBIN 1987 1 arquiteto: MVRDV 1 obra: Wozoco Indicação Ópera Prima
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'A Desurbanização deve-se ao domínio do movimento, à aceleração dos deslocamentos, lançando as pessoas no não-lugar do transporte contínuo' Nelson Brissac
Implantação
São Paulo é o maior centro financeiro da América Latina, porém ao pesquisar os Centros de Convenções da cidade, observa-se um número reduzido deste equipamento. Pensando nisso, foi desenvolvido um Centro de Convenções na Cidade Universitária (já existe um projeto do arquiteto Paulo Bruna para a área, dando maior força ao objeto de estudo). Conectado a esse objeto foi proposto uma passarela de transposição do Rio Pinheiros, conectando a área de implantação ao Parque VillaLobos. A aglutinação de espaços verdes não é comum na cidade, e através da conexão proposta, gera-se possibilidades maiores de uso para os dois lados da Marginal, e conseqüentemente uma melhora na conservação destas áreas. O projeto localiza-se especificamente na margem da Raia Olímpica da USP, local para prática de esportes aquáticos, que hoje se encontra em um estado de conservação decadente. Atualmente a cidade de São Paulo encontra-se dividida
pelo Rio Pinheiros, e sua única forma de transposição é feita por pontes de automóveis. Essa passarela proposta será a primeira exclusiva para pedestres e ciclistas. Acredita-se que, com um uso mais intensificado da área e sua conexão com outras localidades, a Cidade Universitária possa ter uma melhor conservação das suas edificações e de suas áreas verdes. O desenvolvimento do Centro de Convenções procura seguir o gabarito de altura da Cidade Universitária para manter a “linguagem” da área. O objetivo central do projeto é que com essa passarela de transposição, os usuários da região possam voltar a enxergar o Rio Pinheiros, atentatando para a condição das águas. Seguindo os passos do Rio Tâmisa, através da maior visibilidade, almeja-se que a população da região e cidadetenham maior interesse na conservação da área, fazendo com que o rio possa ser um novo pólo de atração para a sociedade, servindo de ponto de encontro e até uma referência urbana.
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Corte
Marginal Pinheiros
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Acesso Marquise
Estudo de Conexões
Marginal Pinheiros
Edifício.Água
Relação Edifício x Raia
Planta Térreo
Estrutura
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54
Corte
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Passarela (pedestres e ciclistas)
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Relação Edifício x Raia
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Imagem Aérea
TFG 2011 CENTRO CULTURAL NA FAVELA DO MOINHO MARCELO E.M. MACEDO 1987 1 arquiteto: Dominique Perrault 1 obra: Universidade Feminina de Ewha A PROPOSTA EM UMA FRASE: Mais do que um projeto, a várzea necessita de caráter.
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Viário
Adensamento é atualmente uma das premissas das cidades inteligentes, gera alto uso de infra-estruturas e ajuda a ativar a região. O Plano Diretor da cidade de São Paulo tem a intenção clara de adensar as várzeas do Rio Tiête. A região da Barra Funda porém, mesmo com incentivos dessa lei, após quase duas décadas ainda não se consolidou. Será fáctível essa intenção? Quais estratégias arquitetos e urbanistas podem usar que são capazes de dar vida a várzea? Voltando no tempo quase um século, competia as várzeas a função de lazer da cidade de São Paulo. Após sua industrialização, impermeabilização do solo e poluição das águas do rio, a várzea perdeu seu papel. Essa proposta deseja tornar as várzeas do rio atraentes ao uso como uma vez já foram.
TREM:Situação Atual
Zoom
Plano Diretor
O conceito materializa-se na atual favela do Moinho. Na Intersecção da Av. Rio Branco com os trilhos da CPTM. O espaço é uma ilha. Cercada por linhas de trem, seu acesso é restrito. A CPTM tem uma proposta de juntar os trilhos em um eixo só, porém usam o lado que gerará menor impacto urbano (ver imagens abaixo), Assim o trabalho é desenvolvido opondo-se ao plano da Companhia, cedendo o espaço oportuno para o bairro da várzea. A necessidade de vencer alturas para reconectar a cidade alta (centro) e a cidade baixa (várzea), fez arquitetura ser transformada em topografia. As rampas propostas no edifício possibilitam o usos tanto em cima quanto embaixo. O programa é acolhido em baixo das rampas. Em baixo do viaduto, o terreno mantémse permeável, com módulos programáticos que tocam o solo o mínimo possível.
Proposta CPTM 2009
Gabarito
As rampas apenas encostam no viaduto para o pedestre acessa-lo. O fluxo transversal do edifício é essencial para o funcionamento da proposta. De um lado o silo preservado é conectado ao edifício, do outro; um espelho d’água, faz a transição do edifício ao lago, que apoiado por cafés e garagens, transforma-se em um novo cenário do bairro, oferecendo pedalinhos, mirador, parque e serviços junto a água. Com leituras, programas, elementos e paisagens diferentes, a várzea do século XXI talvez tenha caráter forte o bastante para aglutinar pessoas em torno de si, tornando real o adensamento da várzea se transformando em uma região mais utilizada e inteligente.
Proposta TFG
A várzea de volta a cidade: Vegetação Lagos Rio Tiête Praias Séc XX - linha do tempo - XXI
Adensamento contrutivo
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Decks para o lago
Trem
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Garagem de pedalinhos
lago: afloramento do lençol freático
Novo arruamento
Quiosque de lanches
Mirador
Acesso de serviço
espelho d’água
Centro Cultural
Acesso de serviço
Centro Cultural
Substituição de edifícios fabriis por habitacionais
Auditório ao ar livre
Silos Restaurados
Subsituição de edifícios fabriis por Habitacionais
Implantação . Corte
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Escalas Urbanas
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M贸dulos program谩ticos
FLuxos + Programas
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Elevação Norte
Elevação Oeste
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Ensaios tridimensionais
Sistema estrutural das coberturas
1. Viga metálica 2. Perfil de Contraventamento 3. Forro 4. Calha em perfil metálico 5. Perfil metálico C 6. Perfil metálico L 7. Suporte de Madeira 8. Estrutura do brise 9. Chapa em Alumínio 10. Perfil metálico treliçado 11. Mastique 12. Compriband 13. Cantoneira 14. Caixilho telescópico 15. Guardacorpo
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Vista de dentro do trem
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TFG 2011 BIBLIOTECA PÚBLICA TATIANA K. KAHVEGIAN 1987 1 arquiteto: Lina Bo Bardi 1 obra: SESC POMPÉIA A PROPOSTA EM UMA FRASE: A rua como dispositivo do olhar
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O estudo apresentado apoiou-se em algumas teorias (os aspectos apresentados pelo grupo Internacional Situacionista e os conceitos da deriva, por exemplo) para discorrer sobre como o objeto arquitetônico inserido na cidade contemporânea – neste caso, uma biblioteca pública situada na cidade de São Paulo – pode possibilitar novas percepções do espaço urbano e propor novos diálogos com o usuário, tendo a questão do percurso como fundamental para tal apropriação. O programa de uma biblioteca pública possibilita não só a proposição de espaços que supram as questões mais funcionais, como também aqueles que desejam extravasá-los, entendendo que a experiência da arquitetura vai muito além da fruição de um programa pré-determinado. A escolha de (tentar) colocar em prática tal exercício em um pedaço de uma grande metrópole como São Paulo vem de encontro à vontade de observar e discutir as próprias dinâmicas da vida urbana e de como os espaços públicos (sejam eles externos ou internos) estão sendo usados e por
quem estão sendo usados. Tendo em vista tais indagações, no caso deste projeto de graduação apresentou-se, além do edifício em si, uma nova passarela – em substituição à outra –, ilustrando a idéia da reação ao existente, da leitura da área de estudo e de uma resposta para tal. Levando em consideração a cidade na qual se insere o edifício e, mais que isso, considerando que um elemento tal qual uma passarela de fluxo relativamente grande estaria articulada ao seu programa, não se pôde deixar de levantar a seguinte questão: e se a biblioteca funcionasse ininterruptamente, permanecendo aberta durante a noite? A resposta – afirmativa –, vai de encontro à realidade urbana vivida hoje. No
que diz respeito ao cotidiano dos habitantes de uma das maiores metrópoles do mundo, é evidente que alguns limites entre dia e noite se dissolvam: há quem prefira usar do – relativo – silêncio que a madrugada permite para trabalhar, ler, estudar, criar, sair. Porque não, então, uma biblioteca aberta vinte e quatro horas, disponível também para que se possa encontrar abrigo para estudar, trabalhar, produzir ou apenas para escapar de suas próprias casas - usar a cidade? A caixa suspensa sempre acessa, a funcionar como uma lanterna para quem passa pela Avenida Rebouças na parte da noite; se a rua é transformada em parte do programa, pensar o edifício como parte da cidade em “tempo integral”, com vida constante em seu interior.
Partido
Modelo Esquemático da área de estudo EXISTENTE
Passarela
Modelo Esquemático da área de estudo PROPOSTO
Passarela dentro do edifício
Vista da passarela
69
Implantação . Corte
70
Elevações laterais
Implantação em maquete
71
Vistas da passarela
Elevação frontal
72
Cobertura
2° pavimento
1° pavimento
Térreo
Acesso a biblioteca
73
Térreo
74
1°Pavimento
2°Pavimento
Lançamento Estrutural
75
Corte
76
SequĂŞncia Estrutural
77
78
79
TFG 2010
HABITAÇÃO EM ÁREAS DE VÁRZEA MARCELA RIANI 1986 1 arquiteto: Diller Scofidio + Renfro 1 obra: High Line Park, Ny A PROPOSTA EM UMA FRASE: A cidade e o caminho das águas. INDICADO AO ÓPERA PRIMA
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O projeto foi fundamentado no trabalho ”Vazio de água”, dos arquitetos: Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga, ganhador do premio “best entry” da III Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã no ano de 2007, que teve como temática: “Power: producing the comtemporary city” “Vazios de águas” tem como ideia principal discutir as enchentes na cidade de São Paulo. A partir disso são propostas algumas diretrizes como: 1. Disponibilizar o correto caminho para as águas e o adequado espaço para as casas. 2. Redefinir as fronteiras que permitam a aproximação da cidade às águas. 3. Reprogramar os vazios e as margens que os conformam, conferindo-lhes valor de centralidade. 4. Anotar uma escritura de água na paisagem. A área estudada se localiza na zona norte de São Paulo ao longo do córrego Guaraú. Essa área sofre com as inundações nas épocas de forte chuva na cidade. Para amenizar essa situação, o governo construiu um piscinão no final do córrego a fim de amenizar as enchentes. Mas, essa solução não foi muito eficiente. As diretrizes de projeto do trabalho vazios de água foram aplicadas na área escolhida, assim as pessoas que antes habitavam as várzeas do córrego Guaraú, agora moram no terreno que antes era o piscinão. A configuração física do piscinão Guaraú é bastante irregular, a ideia é inserir um objeto sem mexer no solo existente, mas que ao mesmo tempo de à população que vai utilizar esse espaço, a sensação de segurança que o piscinão antes não passava. A forma quadrada é escolhida como desenho dessas lajes, pois representa algo rígido, conciso, seguro, contrapondo com o desenho e a função original do terreno. As lajes feitas acima do piscinão são criadas na tentativa de reproduzir o solo urbano, tentam dar a população serviços públicos no sentido mais amplo. A depressão do piscinão é mantida, mas agora a função é outra, ai acontece a continuação do parque urbano. A arquitetura além de fornecer habitação, e infraestrutura pra a população, traz vida e função para um terreno na cidade que se tornou residual, ocioso. Ela se torna uma célula de habitação como estrutura urbana.
Implantação
81
Viário Viário Verde
Proposto Água
Marquise
Habitação
Habitação
Existente
Equipamentos
Verde Água
82
Existente .. Proposto
Elevação
Térreo
Térreo + 1
Térreo + 2
83
84
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Croqui da Sess達o
86
87
Iniciação Científica
A iniciação científica é algo curioso e louvável, torna-se um meio para a fuga do funcionalismo existencial que a grade semestral propõe. Algo a mais. O mundo de hoje é feito de superficialidades, de flashs, a muitos não interessa a íntegra, a resenha basta, o repertório de cada um acaba se formando (muitas vezes) só de imagens tendenciosas é como pegar um catálogo e em instantes passar por todas as páginas e fixamos os volumes e quando muito paramos; olhamos as plantas, que nada são além da abstração do espaço afim de setorizar funções de um programa imposto / eleito... Não há curiosidade de se aprofundar na vida, não dá tempo. Se alongar, pesquisar, questionar, gerar conhecimento deve ser praticado. Dedicamos a esses trabalhos algumas páginas onde o estudante expõe seu produto compartilhando seu processo e bibliografia.
INICIAÇÃO CIENTÍFICA RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS DE MANANCIAIS EM SÃO PAULO: UM ESTUDO SOBRE PROJETOS REFERENCIAIS MARIA ISABEL S. E. BARREIROS 1988 ORIENTADOR (A) Angélica A. T. Benatti Alvim
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Este artigo é resultado final da pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC - CNPq) e insere-se em uma pesquisa maior , a qual aborda a relação entre a urbanização e o meio ambiente, por meio da análise da legislação ambiental específica que incide sobre as áreas de proteção de mananciais na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e seus possíveis desdobramentos com as políticas regionais, urbanas e intervenções localizadas. O levantamento, sistematização e análise dos casos escolhidos fizeram parte do quadro comparativo que vem sendo realizado naquela pesquisa e, portanto, contribuiu de forma significativa para o seu desenvolvimento. A situação das bacias hidrográficas da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) envolve duas questões aparentemente contraditórias: o habitar e o preservar. É claro que essas bacias devem ser analisadas sob o aspecto da importância da água como recurso natural, exigindo a preservação desta, mas, não se pode descartar a então pre-
sença humana que habita desordenadamente esses territórios. A Legislação de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo – LPM – que vigorava desde a década de 1970 (Leis Estaduais 898/1975, 1.172/1976, Decreto Estadual n° 9.714/1977), em decorrência de seu caráter restritivo e severo, não foi capaz de incorporar as particularidades de cada área e, acabou por acentuar ainda mais a ocupação desordenada, além de comprometer a qualidade da água das bacias, prejudicando o abastecimento de parte da RMSP. A partir da queda considerável da qualidade da água do reservatório do Guarapiranga no final da década de 1980, iniciou-se a busca de soluções mais efetivas de recuperação e proteção das áreas de mananciais, minimizando os conflitos entre urbanização e meio ambiente. Neste contexto, insere-se a reformulação da legislação de 1970, resultando na elaboração da Lei N° 9866/1997 – a nova Lei de Proteção e Recuperação dos Mananciais. Esta lei permite um olhar mais atento
aos problemas de cada área, estabelecendo as diretrizes e as normas de uso e ocupação das áreas de proteção dos mananciais de todo o estado por meio da indicação de Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais – as APRMs (unidades de intervenção que coincidem com uma bacia hidrográfica) associadas à necessidade de instituir leis específicas para cada uma (MARTINS, 2006). Como importante instrumento de subsídio a este novo quadro legal, destaca-se durante os anos 1990 a implementação do Programa de Saneamento Ambiental e Recuperação Urbana da Bacia do Guarapiranga – Programa Guarapiranga –, com o propósito de recuperar a qualidade da água deste reservatório, a partir da implementação de infraestrutura de saneamento básico, drenagem, equipamentos sociais, acessibilidade e novas moradias . A partir de 2008, em sua segunda fase, o Programa passou a ser denominado Programa de Saneamento Ambiental dos Mananciais do Alto Tietê, estendendo a sua área de atuação para todas as sub-bacias de
mananciais da RMSP. O fato de atualmente estas sub-bacias possuírem novas legislações que buscam recuperar suas áreas degradadas coloca um importante desafio para este Programa: a implementação de intervenções que vão além das ações previstas em sua primeira fase, ligadas basicamente a infraestrutura e saneamento básico. Dessa forma, elas possibilitam ao arquiteto conceber projetos que envolvam, não somente medidas que visem à melhoria da qualidade ambiental, mas também que considerem a melhoria do espaço público. No entanto, como parte de um processo, não está explícito se os projetos de urbanização decorrentes deste Programa estão sendo elaborados a partir das novas diretrizes definidas pela nova legislação. Esta pesquisa pretende responder as seguintes perguntas: Quais as diretrizes definidas pelas legislações específicas que de fato são incorporadas nos projetos em curso? Quais os seus entraves e perspectivas que estas ações sinalizam para as duas sub-bacias? A partir deste contexto, a pesquisa busca
entender a relação entre os novos projetos e as legislações em curso, a fim de identificar as principais diretrizes de intervenção nas áreas de mananciais da Bacia do Alto Tietê, especificamente no município de São Paulo. O principal objetivo é discutir um conjunto de projetos que vêm sendo implementados nas sub-bacias Guarapiranga e Billings, procurando apontar as principais diretrizes urbanísticas que podem contribuir para a melhoria da qualidade urbana – ambiental destas regiões. Para isso, têm-se como objetivos específicos: levantar, identificar e mapear os principais projetos que estão em curso nessas subbacias, particularmente aqueles que estão sendo previstos para o município de São Paulo, no âmbito do Programa Mananciais; e identificar dentre o conjunto de projetos mapeados dois casos de sucesso, um em cada bacia, a fim de discutir os critérios considerados nos projetos de urbanização e em que medida tais projetos vão ao encontro das diretrizes definidas nas diretrizes da nova legislação.
http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2010/04/ocupacao-irregular-lixo-esgoto-sem.html
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No final da década de 1980, as áreas da Represa Guarapiranga já estavam tomadas por favelas e loteamentos populares sem qualquer tipo de infraestrutura. No entanto, a legislação vigente não permitia a ampliação das áreas da Bacia passíveis de serem atendidas por rede pública de abastecimento de água e coleta de esgotos, estimulando a população residente a lançar seus esgotos diretamente nas águas da represa. Em 1991, a degradação da Bacia atingiu seu nível máximo e uma extraordinária floração de algas chamou atenção da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP). A partir desse ocorrido, o Programa Guarapiranga foi idealizado (ANCONA e LAREU, 2002). O Programa propunha um conjunto de obras de saneamento e de infraestrutura urbana, visando uma redução drástica das cargas poluidoras afluentes ao reservatório, além de também destinar recursos para estudos, visando um novo modelo de proteção da Bacia (Ibidem). Aprovado em 1993, após a
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assinatura do contrato entre o Estado e o Banco Mundial, sua execução pela PMSP veio a ocorrer somente dois anos depois, sendo necessário um licenciamento especial, emitido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, para que ocorressem as intervenções na área, pois, até então, essas eram impossibilitadas pela legislação vigente (LPM). Em decorrência disso, acabou por influenciar a revisão da LPM em meados da década de 1990, resultando na instituição da nova Legislação de Proteção e Recuperação dos Mananciais (Lei nº 9.866/1997) (ALVIM, BRUNA e KATO, op. cit.). A fim de garantir seus objetivos, estabeleceu cinco subprogramas, a saber: Subprograma I - Serviços de água e esgotos: ampliação do sistema de coleta e afastamento de esgotos, e melhorias operacionais nos sistemas de coleta existentes; Subprograma II – Coleta e disposição final de lixo; Subprograma III – Recuperação Urbana: urbanização de núcleos de favelas; Subprograma IV – Proteção Ambiental; Subprograma V – Gestão da Bacia: elaboração de estudos visando organização da gestão da bacia (JORGE, 2007).
A urbanização de favelas (parte do subprograma III) é um bom exemplo da complexidade das ações, assunto foco desta pesquisa. Em São Paulo, os projetos ficam sob a responsabilidade da SEHAB, que capitaneou a implementação de um conjunto de planos de urbanização e projetos localizados nas bacias hidrográficas, em parceria com o CDHU e a Sabesp, e em concordância com licenças ambientais da Secretaria do Meio Ambiente. Assim, consegue-se implantar uma forma de atuação integrada, que resultou numa nova condição exemplar para a condução de políticas públicas (FRANÇA, 2009). De um total de 141 intervenções propostas no município de São Paulo durante a primeira fase (subprefeitura de M´Boi Mirim, Capela do Socorro e Parelheiros), 76 foram completamente urbanizadas, 8 foram urbanizadas parcialmente, 4 envolveram apenas remoções e 53 tiveram suas ações transferidas para a segunda fase. Merece destaque a subprefeitura de M´Boi Mirim que somou 82 áreas previstas com intervenções, sendo que, destas, 43 foram urbanizadas. O número de famílias beneficiadas nas três subprefeituras
foi de 23.714, envolvendo 1.118 remoções, com destaque para Jardim Iporanga/Esmeralda, em sua 2ª fase, com 118 remoções e Parque São José III, V e Vila Santa Edna, com 119 remoções, ambas intervenções localizadas na subprefeitura de Capela do Socorro. Já na subprefeitura de M´Boi Mirim, pode-se destacar a área Parque Amélia/Santa Margarida, na qual foram realizadas 170 remoções (quadro 1). A segunda fase, a partir de 2008, concentra 83 áreas de intervenções, dividas em 8 lotes, correspondentes às subprefeituras de Cidade Ademar (3), M´Boi Mirim (43), Capela do Socorro (34) e Parelheiros (3)(quadro 2). Ela prevê, além das obras de saneamento básico e pavimentação do viário, a construção de conjuntos habitacionais para reassentamentos como, por exemplo, o Mata Virgem que abrigará 174 famílias removidas das áreas da Cidade Júlia; 175 da Nova Pantanal; 176 do Jardim Eldorado/Mata Virgem e 177 do Cantinho do Céu/Gaivota; e o Parque Europa que abrigará famílias provenientes dos remanejamentos previstos e pulverizados no Programa (ALVIM, BRUNA e KATO, op. cit). As áreas remanescentes das obras da primeira fase do Programa Mananciais têm prioridade de execução na segunda fase, assim como algumas áreas de risco indicadas no Plano Emergencial de Recuperação dos Mananciais de 1998 e áreas objeto de Ações Civis Públicas. A figura 01 situa todas as intervenções previstas pelo Programa no município de São Paulo, considerando sua situação, isto é, as áreas urbanizadas pela primeira fase, as novas áreas previstas pela segunda fase e as áreas remanescentes. Do conjunto analisado, os casos Parque Novo Santo Amaro V , na Guarapiranga, e o Cantinho do Céu , na Billings, foram considerados exemplares e serão discutidos a seguir. Localização das intervenções segundo sua situação Elaborado pela autora, a partir da fonte //mapab.habisp.inf.br/?lat=7378644.22&lon=317970.41&zoom=13&l=NPOST&.
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A área do Parque Novo Santo Amaro V/Luz Soriano, localizado no distrito Jardim Ângela, já havia participado da 1ª Fase do Programa Mananciais, a partir do qual havia recebido algumas intervenções como abastecimento de água, esgoto sanitário, pavimentação de vias e coleta de lixo (JNS/HAGA PLAN, 2009). No entanto, essas não foram suficientes para reverter o estado de precariedade em que se encontrava a área. Levando-se em conta esse quadro, foi solicitado em 2009, ao arquiteto Hector Vigliecca, um projeto para adequação dessa área, que se enquadraria na 2ª Fase do programa. Dessa forma, o projeto já poderia considerar a flexibilidade da lei específica, aprovada três anos antes, permitindo assim, por exemplo, o reassentamento dentro da própria área. A passagem do projeto básico para o projeto executivo procurou englobar toda a área de risco e eliminar uma quadra cuja urbanização estava consolidada, resultando na alteração dos limites da área de intervenção, em um total de 5,17 ha (SOARES, 2010). A expansão da ocupação urbana no distrito Jardim Ângela ocorreu na década de 1960, mas é a partir dos anos 70 que se intensificou, paralelamente ao crescimento metropolitano da cidade de São Paulo. Assim, a partir desse processo, algumas regiões passaram a ser ocupadas irregularmente como alternativa à população pobre que havia sido excluída do mercado formal (LAB94
HAB, 2003a apud SOARES, op. cit.). A área se caracterizava predominantemente por moradias de alvenaria de vários pavimentos, sem revestimento externo, ocupadas por 389 famílias de baixo nível de renda Não contava com rede de distribuição de energia, rede de esgoto e sistema de drenagem, contrastando com o entorno que possuía toda infraestrutura (JNS-HAGA PLAN, 2007). Dentre os principais problemas apontados: 1. a dificuldade ao trânsito de pedestres, devido a trajetos longos e íngremes, à inexistência de calçadas, rampas e escadarias adequadas; 2. inexistência de áreas públicas de lazer e esportes; 3. inexistência de áreas de sombra; 4. lançamento de águas servidas na via pública e de esgotos no sistema de drenagem; 5. assoreamento do sistema de drenagem; 6. carregamento de sólidos e detritos para as galerias por ocasião da ocorrência de enxurradas (JNS-HAGA PLAN, 2007). Partido urbanístico O partido inicial do arquiteto foi criar um eixo central de áreas verdes ao longo do curso d´água existente, criando-se assim um parque linear que estrutura todo o conjunto de intervenções. Esse se caracterizaria por qualificar a área, através da recomposição das antigas áreas verdes junto ao curso d´água, resgatando o valor desta como elemento paisagístico e de manutenção de espécies animais e vegetais (SOARES, 2010). A área também seria estruturada longitudinalmente a partir de uma via de serviço
ao longo do fundo do vale (via projetada 1) que serviria prioritariamente como passeio dentro do parque. As propostas de intervenções no sistema viário foram pensadas a fim de viabilizar os serviços de infraestrutura a serem implantados. Considerando a necessidade de acesso dos pedestres, previu-se a abertura de algumas vielas, resultando na diminuição do isolamento interior em relação ao seu entorno. Como a área apresenta alta declividade, foram também projetadas escadarias de pedestres em concreto, com largura média de 1,20m e passarelas que conectam os dois lados da encosta, passando acima do parque no fundo do vale (SOARES, op. cit.). Em seguida, as ações visaram qualificar e estruturar as áreas remanescentes a partir da locação de equipamentos para ginástica, brinquedos para crianças, bancos, mesas e arborização, além da reurbanização do campo de futebol existente. Este já representava uma centralidade própria, no entanto, única da área, consolidada pela presença da Associação de Moradores e da Escola Estadual José Porphyrio da Paz. Dessa forma, havia a necessidade de se criar outra, oposta a esta, estimulando-se assim a circulação dentro da área pelo eixo do parque. Nesse outro pólo, foi proposta a implantação de uma quadra poliesportiva e uma quadra de bocha coberta. Em decorrência da alta declividade do terreno, algumas moradias situadas em áreas de risco tiveram que ser removidas, assim como as situadas sobre o córrego,
a fim de permitir a execução da canalização. No total, serão 195 remoções previstas pelo projeto, resultando em uma porcentagem de 50,12%. As famílias retiradas serão acomodadas dentro da própria área, em 198 unidades habitacionais propostas em conjuntos verticais com até 4 pavimentos, localizados de forma a permitir o acesso de habitantes tanto pelas ruas oficiais do entorno, quanto pela área interna do parque. Dessa maneira, o arquiteto estimula ainda mais a circulação através do eixo do parque.
Delimitação das zonas da APRM - Guarapiranga FONTE: Secretaria do Meio Ambiente, editado pela autora.
Legislação A legislação incidente na área corresponde a Lei Específica da Guarapiranga de 2006, segundo a qual, a área se encontra em uma AOD – Área de Ocupação Dirigida, definida como “...aquelas de interesse para a consolidação ou implantação de usos urbanos ou rurais, desde que atendidos os requisitos que assegurem a manutenção das condições ambientais necessárias à produção de água em quantidade e qualidade para o abastecimento público” (Lei nº12.233/2006, Capitulo V, Seção II, artigo 13). As AOD, para melhor efeito da Lei, são divididas em subáreas, das quais, o Parque Novo Santo Amaro V pertence a SUC – Subárea de Urbanização Controlada, definida como “...aquelas urbanizadas onde já existe ou deve ser implantado sistema público de saneamento ambiental” (Lei nº12.233/2006, Capitulo V, Seção II, artigo 16) (Figura 02). No entanto, de acordo com a lei de 1997, dentro das ARO – Áreas de Restrição a Ocupação – e das AOD, as ocorrências de uso e ocupação que estiverem comprometendo o índice de qualidade das águas, exigindo intervenções urgentes de caráter corretivo, serão consideradas ARA – Área de Recuperação Ambiental. Ainda que não tenham sido demarcadas em nenhum mapa das APRMs, por possuírem caráter considerado transitório, a presença destas acaba coincidindo com a demarcação das ZEIS. 95
Tanto a lei específica da Guarapiranga, quanto a da Billings, subdividem as ARA em dois tipos: a) ARA 1, as que têm ocorrência de assentamentos habitacionais de interesse social, desprovidos de infraestrutura de saneamento ambiental, onde o Poder Público deve promover programas de recuperação urbana e ambiental; b) ARA 2, que são ocorrências degradacionais previamente identificadas pelo Poder Público, que deve exigir, dos responsáveis, ações de recuperação imediata do dano ambiental, sendo estas objeto de Programas de Recuperação Ambiental – PRAM (ALVIM, BRUNA e KATO, op. cit.). Segundo essa autora, a “ARA I é objeto de Programas de Recuperação de Interesse Social – PRIS em ambas as legislações, indicando parâmetros mais flexíveis e permitindo ao Poder Público municipal atuar em áreas degradadas a fim de recuperá-las. Os PRIS devem corresponder às ZEIS, instrumento urbanístico definido pelo Plano Diretor municipal para intervenção em áreas de interesse social”. Como essa área se encontra em ZEIS-1, pode enquadrar-se como ARA e, logo, ser objeto de PRIS. No entanto, a partir de sua reurbanização, ela seguirá as diretrizes previstas pela lei específica para as áreas de SUC. Assim, devemos discutir o projeto a partir das diretrizes previstas para essas, a fim de analisar as respostas que o projeto fornece a elas, visando compreender se este vai de encontro à lei na tentativa de garantir os objetivos que esta determina, isto é, “compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a proteção e recuperação do manancial” (Lei nº 12.233/2006, Capítulo II, Artigo 3º).
Implantação Parque Novo Santo Amaro V - Polaridades Elevação . Corte FONTE: SOARES, Izabela C.; KATO, Volia R.C. Políticas Urbanas de Habitação Social em Área de Preservação de Mananciais: O Caso do Distrito Jardim Ângela na Sub-Bacia Guarapiranga -
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DA LEGISLAÇÃO AO PROJETO Quadro elaborado pela autora, a partir da Lei nº 12.233/ 2006 e Relatório JNS-HAGA PLAN
Diretrizes definidas pela Lei nº 12.233 para áreas de SUC I - garantir a progressiva melhoria do sistema público de saneamento ambiental
II - prevenir e corrigir os processos erosivos
III - recuperar o sistema de áreas públicas considerando os aspectos paisagísticos e urbanísticos IV - melhorar o sistema viário existente mediante pavimentação adequada, priorizando a pavimentação das vias de circulação do transporte público
V - promover a implantação de equipamentos comunitários
VI - priorizar a adaptação das ocupações irregulares em relação às disposições desta lei, mediante ações combinadas entre o setor público, empreendedores privados e moradores locais
Diretrizes previstas pelo projeto de urbanização Parque Novo Santo Amaro V - Ligações de água sempre perpendiculares à rede secundária de abastecimento; - Redes coletoras e condominiais conduzidas para o vale ao longo da favela; - Esgoto coletado no interior da favela encaminhado até pontos de lançamentos estabelecidos na rede coletora existente; - Remoção das moradias situadas imediatamente acima dos pontos de declividades mais acentuadas. - Remoção de moradias próximas ao córrego, de forma a permitir a execução da canalização. - Contenção do trecho junto à rua Paulo Porpora, no qual as casas estão executadas em platôs situados 3,0m abaixo da cota das ruas, em cortes verticais. - Parque linear ao longo do curso d´água existente - Espelho d´água, no qual circula apenas água limpa proveniente do curso d´água existente no local - Galeria de águas pluviais
- Via de serviço, criada no fundo do vale (via projetada 1) - Abertura de vielas de pedestres - Passarela de conexão entre os dois lados da encosta
- Novas unidades comerciais - Nova sede para a Associação de Moradores - Junto ao campo de futebol e sob a laje da praça do centro comunitário, foi concebida a sede do clube de futebol
- Implantadas de forma a marcar volumetricamente o espaço - Acesso de moradores permitido tanto pelas ruas oficiais do entorno, quanto pela área interna do parque
Propostas do projeto de urbanização Parque Novo Santo Amaro V - 100% da população da favela - Recobrimentos mínimos das tubulações: Ruas principais (largura ≥ 4,00 m): 0,90 m; Ruas secundárias (4,00 m < 2,00 m): 0,65 m; Vielas com largura até 2,00 m sem tráfego de veículos de qualquer natureza, o recobrimento do coletor poderá ser no mínimo 0,45 m
- Retaludamento destes trechos (solução tipo A). - Contenções do tipo C-3. - Tubulões em balanço (tipo E-2)
- Área non edificanti de 8 metros ao longo da galeria de águas pluviais, sendo 4 metros de cada lado a partir do seu eixo 1. Vias de pedestres: Largura - variável, mínima de 1,20m Declividade das rampas - máxima de 8% Material de pavimentação - blocos intertravados de concreto ou cimentado 2. Via projetada 1: Largura do leito carroçável - 4,00m Declividade da rua - máxima 6% Material de pavimentação - blocos intertravados de concreto - Unidades comerciais de 25m² - 400m² - Programa: Administração, 2 sanitários públicos, 1 copa, 1 sala para cursos, 1 sala para dança, 1 sala para internet, 1 biblioteca, 1 consultório dentário e 1 salão para reuniões - Aproximadamente 150m² - Programa: 2 vestiários, 1 sala para administração, 1 sanitário, 1 copa - 198 unidades habitacionais - Conjuntos verticais de até 4 pavimentos (contados a partir dos acessos pelas vias do entorno ou pela via interna do parque) - Apartamentos de 50m² de área útil - 2 dormitórios (possibilidades de reversão para 3 dormitórios, em alguns casos)
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A diretriz que diz respeito às ações que envolvem a progressiva melhoria do sistema público de saneamento ambiental considera o lançamento dos dejetos da população diretamente nas águas da represa, comprometendo tanto a qualidade destas, quanto a qualidade de vida dos habitantes. Essa preocupação está bem colocada como primeira diretriz, afinal, o principal interesse dessa legislação é recuperar e proteger os mananciais da Bacia Guarapiranga. Assim, como resposta a essa diretriz, o projeto previu ligações de água e esgoto capazes de atender toda a população e que sejam conduzidos para pontos de lançamentos já estabelecidos na rede coletora existente no entorno da favela. Todas as ligações obedecem aos dados e padronizações da SABESP. Já a questão da prevenção e correção dos processos erosivos, causados principalmente pela retirada da vegetação nativa pela ocupação irregular envolveu a remoção das moradias situadas em áreas de risco, como as situadas em declividades mais acentuadas
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e também das situadas próximas ao córrego, realizando contenções no terreno de forma a prevenir qualquer tipo de escorregamento de terra. As diretrizes que tratam a questão da recuperação das áreas públicas e sistema viário, de forma a diminuir as características da área de favela e aproximá-la da condição de bairro urbano, são respondidas pela demarcação da área pública a partir do parque linear. Este é aberto de forma a permitir a entrada de todos e, dessa forma, caracterizar-se ainda mais como público. Em relação ao sistema viário, o projeto previu a pavimentação das vias, considerando larguras mínimas em decorrência da passagem de pedestres ou de veículos, e a criação de uma passarela de conexão entre os dois lados da encosta, passando acima do parque, no fundo do vale. Já a questão dos equipamentos comunitários e das ocupações irregulares é tratada pelas duas últimas diretrizes, isto é, a questão da adaptação dos usos urbanos é discutida somente após serem tratadas as questões de melhoria da qualidade ambiental. Como o projeto já foi pensado
a partir da nova legislação, houve a possibilidade de serem construídas unidades habitacionais a fim de receber as famílias removidas no próprio local. Esse talvez seja o grande diferencial da nova legislação, isto é, reconhecer a grande ocupação do local e a dificuldade de se remover todas as famílias, considerando, inclusive, a falta de espaço na RMSP para abrigá-las e, a partir desse reconhecimento, tentar conciliar a ocupação humana e a qualidade ambiental.
Até a década de 1950, a área do Cantinho do Céu era totalmente coberta pela Mata Atlântica, até que, em 1987, um empreendedor particular, juntamente com a empresa imobiliária Cipramar, subdividiram ilegalmente a península, derrubando as árvores e vendendo lotes de 125 m² para a população de baixa renda (WERTHMANN; FRANÇA e DINIZ, 2009 apud ALVIM, BRUNA e KATO, op. cit.). Localizado no distrito do Grajaú, subprefeitura de Capela do Socorro, o projeto no âmbito da 2ª Fase do Programa Mananciais, iniciada em 2008, é anterior à aprovação da Lei Específica da Billings, de 2009. De acordo com Ricardo Sampaio , ele recebeu prioridade na implantação das obras do programa em função da ação civil pública impetrada pelo Ministério Público, em meados de 2006. Por meio de um acordo firmado pela Sehab entre este e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, foi definido um conjunto de ações que buscava a recuperação da área, em seus aspectos urbanos e ambientais, mas que se evitasse a remoção de parte significativa da
população. Assim, um projeto básico foi elaborado pelo Consórcio JNS-HagaPlan, responsável pelo gerenciamento do Programa Mananciais, à luz das diretrizes estabelecidas pela Sehab. Em meados de 2008, o escritório Boldarini Arquitetura e Urbanismo foi contratado pelas empresas responsáveis pela execução das obras, Consórcio Schahin-Carioca Christiani Nielsen, para desenvolver o detalhamento do projeto executivo (ALVIM, BRUNA e KATO, op. cit). A área, segundo o arquiteto Marcos Boldarini , possuía alguns trechos em condições mais precárias, mais próximos das características de favela, e outros em condições melhores, revelando traços mais organizados e equacionados. No entanto, não havia ruas pavimentadas, ainda que já houvesse estabelecimento formal de seus nomes. A rede de água havia sido instalada em 1995, pela SABESP, mas tinha fornecimento intermitente. Nesse mesmo ano, os domicílios foram ligados às linhas telefônicas. Já o sistema de esgoto havia sido parcialmente instalado em 1992, juntamente à conexão das casas à rede elétrica e à im-
plantação de alguma iluminação pública (SEHAB, 2010). Em relação aos equipamentos e instituições públicas, existiam apenas duas escolas públicas, uma ao norte da comunidade e outra ao sul, o Centro Educacional Unificado (CEU) Navegantes. Já o acesso aos serviços de saúde era fornecido pelos médicos da Prefeitura, mas era considerado insuficiente pela população (ALVIM, BRUNA e KATO, op. cit.). Dentre as principais medidas/intervenções necessárias, destacam-se: implementação da infraestrutura de saneamento ambiental, remoção das famílias em áreas de risco, pavimentação do sistema viário, estabelecimento do parque e de áreas de lazer, iluminação pública e obras que resultassem na melhoria da acessibilidade e mobilidade. 3.3.2. Partido Urbanístico Apesar das condições de precariedade de infraestrutura e acessibilidade, a proximidade do Cantinho do Céu às margens da Represa Billings concedelhe inúmeras vantagens, principalmente sob o ponto de vista ambiental
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e de qualidade de vida. Foram essas que conduziram o arquiteto Marcos Boldarini durante o detalhamento do projeto. Ele afirma que sua preocupação principal era articular a ocupação existente com o processo urbanístico, trabalhando os grandes espaços. Logo, o projeto do parque é o grande elemento estruturador, entendido como espaço público articulador dos grupos, responsável por uma nova frente para a represa. O arquiteto também se aproveitou de outros conceitos possíveis e interessantes para a intervenção, como a integração do bairro com o entorno, através da criação de novos acessos e a reconquista da margem da represa, através da criação de deques de madeira. O projeto está orientado por uma visão global, a partir da qual foi possível dividir o parque em 6 trechos a serem detalhados à medida que as obras vão ocorrendo. Dessa maneira, são evitadas algumas dificuldades que impossibilitam o processo de se conceber todo o projeto para, em seguida, construí-lo, como: diferenças entre o levantamento
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planialtimétrico e a situação dos terrenos após a remoção das moradias; ajustes do cronograma financeiro; as aprovações por etapas junto a Sehab. Também se torna possível perceber e incorporar as demandas da população que, aos poucos, vem-se inserindo na nova estrutura e usufruindo a mesma. Como estratégia junto à comunidade, o projeto começou a ser implantado em apenas um trecho do parque, aonde foi definido um conjunto de equipamentos de esporte e lazer, com o intuito de demonstrar para a população residente a importância e as possibilidades de melhorias que o projeto traria à área e aos moradores. Dentre esses equipamentos, Boldarini cita pistas de skate, espaços de estar, deques, pisos variados - ora com grama, ora de madeira ou coloridos - buscando demarcar as diversas atividades e contribuir para a permeabilidade do solo. Nesse trecho, destaca-se também a participação do artista plástico, Maurício Adinolfi, que realizou um estudo cromático das empenas voltadas para o Parque, constituindo um grande mural que permite controlar os avanços da ocupação às
margens da represa. Estava prevista, inicialmente, a remoção de 2.483 famílias, segundo dados da Sehab, mas, devido à resistência de muitas famílias, apenas 1.700 foram retiradas (cerca de 17%), concentradas principalmente às margens da represa. O projeto não prevê a construção de unidades habitacionais no local. Logo, parte das famílias optou pela locação social e outra parte pela compra de imóvel na região. Posteriormente, as famílias serão relocadas para os conjuntos habitacionais Chácara do Conde e Residencial Mata Virgem, ambos parte do Programa Mananciais, situados na subprefeitura Cidade Ademar, zona sul de São Paulo. 3.3.3 Legislação O caso do Cantinho do Céu é muito específico e, por isso, interessante de ser analisado. O projeto e parte da obra iniciamse antes da aprovação da Lei Específica da APRM-Billings, mas tem seu desenvolvimento após esta. Ainda que o projeto básico tenha sido concebido antes, já se visualizava um possível enquadramento com a nova lei. Assim, muitas de suas diretrizes não correspondem exatamente
à lei anterior, mas também não abrangem todas as possibilidades da nova. Não há concepção de áreas destinadas a moradias, por exemplo, pois a antiga Legislação não permitia. No entanto, o tamanho dos lotes existente não se enquadra na Lei Anterior. A faixa do parque que permeia as margens da represa também não atende exatamente às exigências da antiga Lei, pois esta demandava que a largura da faixa de margem sem ocupação deveria estar relacionada à largura da represa, o que, no caso, resultaria em faixas non aedificanti de no mínimo 30 m . No entanto, houve áreas em que não foi possível a remoção das famílias, pois estavam muito consolidadas e descaracterizariam completamente o bairro. Dessa forma, trabalhou- se com compensações ambientais, ampliando, onde possível, a largura da faixa do parque para além do exigido, para compensar onde não se conseguisse atender a esse valor. De acordo com a Lei Específica da APRM-Billings, o Cantinho do Céu encontra-se em Área de Ocupação Dirigida – AOD, definidas como: “áreas de interesse para a consolidação ou implantação de uso urbano ou rural, desde que atendidos os requisitos que assegurem a manutenção das condições ambientais necessárias à produção de água em quantidade e qualidade para o abastecimento público” (Lei nº 13.579/2009, Capítulo VII, Seção II, Artigo 20). Para melhor efeito da Lei, as AOD são subdivididas, sendo que, destas, o Cantinho do Céu encontra-se em sua maior parte em SOE – Sub-área de Ocupação Especial, definidas como: “área definida como prioritária para implantação de habitação de interesse social e de equipamentos urbanos e sociais” (Lei nº13.579/2009, Capítulo VII, Seção II, Artigo 21).
Delimitação das zonas da APRM - Billings FONTE: Secretaria do Meio Ambiente, editado pela autora.
Assim como o Parque Novo Santo Amaro V, o Cantinho do Céu também se encontra em área de ZEIS-1, podendo ser enquadrado como ARA 1 e, logo, desenvolver um modelo de PRIS. No entanto, a partir de sua reurbanização, a área seguirá as diretrizes previstas pela lei específica para a SOE. Dessa forma, o projeto foi analisado a partir das diretrizes previstas para essa, a fim de analisar as respostas que ele fornece, visando compreender se este vai de encontro à lei na tentativa de garantir os objetivos que esta determina, isto é, “integrar os programas e políticas regionais e setoriais, especialmente aqueles referentes a habitação, uso do solo, transportes, saneamento ambiental, infraestrutura, educação ambiental, manejo de recursos naturais e geração de renda, necessários à preservação do meio ambiente” (Lei nº 13.579/2009, Capítulo II, Artigo 3º). 101
DA LEGISLAÇÃO AO PROJETO Quadro elaborado pela autora, a partir da Lei nº 12.233/ 2006 e Relatório JNS-HAGA PLAN
Diretrizes definidas pela Lei nº 13.579 para áreas de SOE
II - promover a recuperação ambiental e urbana, priorizando a implantação de infraestrutura sanitária e reurbanização de favelas;
- Instalação de rede de coleta de esgotos e abastecimento de água; - Iluminação pública; - Acesso dos moradores aos serviços de saúde, educação e emprego; - Realização de obras de contenção de encostas; - Drenagem de águas pluviais; - Melhoria do sistema viário para pedestres e veículos;
III - priorizar a adaptação das ocupações irregulares em relação às disposições desta lei, mediante ações combinadas entre o setor público, empreendedores privados e moradores locais.
- Remoções em áreas de risco geotécnico; - Remoções em áreas com impossibilidades de conexão com a rede de infraestrutura de saneamento, principalmente rede de esgoto;
I - priorizar a implantação de programas de interesse social e equipamentos urbanos e sociais a eles vinculados;
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Diretrizes previstas pelo projeto de urbanização Cantinho do Céu
- Parque linear - Sistema de espaços públicos.
Propostas do projeto de urbanização Cantinho do Céu
- Diâmetros da rede de água projetada = 32, 75 e 100 mm, de acordo com a disposição e largura do viário e necessidade de atendimento; - 100% de atendimento; - Construção de uma via de acesso, ligando à infra-estrutura de comércio, escolas e transporte público coletivo; - Retaludamento com aterro compactado; - Revegetação do talude; - Execução de canaletas de drenagem ao longo da crista e base; - 5.327,90 m de galerias, com diâmetros que variam 0,60m a 1,50m; - Bocas de lobo e bocas de leão; - Criação de 3 binários - Escadarias;
- 1.700 domicílios removidos; - Remoção de 17,36%; - As famílias removidas ocuparão futuramente os conjuntos habitacionais Chácara do Conde e Residencial Mata Virgem, ambos parte do Programa Mananciais, situados na subprefeitura Cidade Ademar, zona sul de São Paulo
- Playground para os mais novos; - Aparelhos de ginástica para os jovens e adultos; - Mesas de jogos para os mais velhos; - Espaço público com aproximadamente 235.000m2; - Arborização - Quadras poliesportivas, campos de futebol society, vôlei de praia;
As diretrizes previstas pela legislação da Billings para áreas de SOE são amplas e agregam todas as ações propostas para o projeto do Cantinho do Céu. No quadro, para facilitar a análise, a ordem das diretrizes foi invertida de forma a priorizar as que tratam a respeito das melhorias na infraestrutura de saneamento básico e no sistema viário, pois estas devem ser pontos de partida em qualquer intervenção em áreas de mananciais. Assim, considerando primeiramente a recuperação ambiental e urbana, podemos entender como resposta à segunda diretriz quase todas as ações previstas no projeto, pois estas são indispensáveis para reurbanizar uma área degradada. Em relação à adaptação das ocupações irregulares, tratada na terceira diretriz, como o projeto foi concebido antes da elaboração da nova legislação, não estava permitida a construção de unidades habitacionais, pois a área encontrava-se em faixas não edificáveis. Em decorrência disso, procurou-se ao máximo evitar remoções, realizando-as somente em casos de risco geotécnico ou de impossibilidade de conexão com a rede de saneamento básico, isto é, no caso de risco à qualidade de vida dos moradores e à qualidade ambiental.
Já a primeira diretriz trata a questão da implantação de programas de interesse social e equipamentos urbanos e sociais a eles vinculados. A resposta fornecida envolve, assim como no caso do Parque Novo Santo Amaro V, a criação de um parque linear. No entanto, ao contrário deste cujo parque serve de conexão para dois pólos de espaços públicos, no Cantinho do Céu estes estão distribuídos ao longo do próprio eixo. Conclusão Após os estudos apresentados nesse artigo, os principais objetivos colocados como meta para essa pesquisa foram alcançados e alguns resultados serão destacados a seguir. 1.Inicialmente, cabe destacar que a possibilidade da construção de unidades habitacionais, tratada em ambas as legislações específicas, revela que estas reconhecem a realidade das áreas de mananciais e consideram a impossibilidade de se retirar toda a população residente. A construção das unidades habitacionais, assim sendo, é uma alternativa, a partir desse reconhecimento, para conciliar a presença humana e a qualidade ambiental. 2. Destaca-se também a porcentagem de remoções do Parque Novo Santo Amaro
V ter sido superior a do Cantinho do Céu, 50,12% contra 17,36%, respectivamente, em decorrência da nova legislação, não havendo, assim, a preocupação em reduzir esse número, pois a população poderia ser abrigada no próprio local. No caso do Cantinho do Céu, como não foi possível a construção de unidades habitacionais em decorrência da antiga legislação, tentou-se evitar ao máximo a retirada da população, considerando as dificuldades que essa acarreta. 3. Outro aspecto importante, priorizado por ambas as legislações e ambos os projetos, é a provisão de infraestrutura, particularmente saneamento básico e adequação do sistema viário, demonstrando a preocupação com a qualidade urbana e ambiental das áreas. 4. Nos dois casos estudados, o aspecto inovador é a concepção do espaço público, demarcado pela criação do parque linear. A ênfase na definição de um sistema de espaços públicos articulados permite concluir que, a partir dessa, os projetos conseguem relacionar a sustentabilidade dessas áreas a atividades como lazer e, conseqüentemente, a um novo olhar para as áreas da represa, para além do abastecimento.
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Implantação dos programas
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