O Mundo das Religiões em Sapucaia do Sul José Ivo Follmann (Coord.)1 Adevanir Aparecida Pinheiro2 Débora Barbosa Bauermann3 Cleusa Maria Andreatta4 Inácio José Spohr5 Jaime Kronbauer6 Marcelo Pizarro Noronha7
1 Doutor em Sociologia, diretor da Ação Social e Filantropia – UNISINOS, coordenador-geral da Ação Social na área das Religiões e coordenador-geral do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, Instituto Humanitas Unisinos, follmann@poa.unisinos.br 2 Mestre em Ciências Sociais Aplicadas – UNISINOS, coordenadora e pesquisadora dos projetos do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, Instituto Humanitas Unisinos, adevanir@poa.unisinos.br 3 Aluna do Curso de Psicologia – UNISINOS. 4 Doutora em Teologia e Filosofia, professora da UNISINOS. 5 Doutorando em Sociologia. 6 Estagiário, aluno do curso de Ciências Sociais – UNISINOS. 7 Estagiário, mestre em Educação – UFRGS, mnoronha@etcom.rfrgs.br
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Sumário
Apresentação ...................................................................................................................................................
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1 Aspectos da realidade religiosa e social de Sapucaia do Sul ........................................................................... 1.1 O nome e a história do município................................................................................................. 1.2 Locais de culto religioso e templos (panorama atual)................................................................. 1.3 Período de fundação dos locais de culto religioso e templos.................................................... 1.4 Atos e freqüência religiosa ..............................................................................................................
4 4 6 6 7
2 Religiões, sua diversidade e importância na opinião dos fiéis .......................................................................... 2.1 Manifestações sobre a natureza e concepção das religiões ........................................................ 2.2 Manifestações sobre a relação religião e sociedade.....................................................................
9 9 11
3 A questão do diálogo inter-religioso: algumas considerações com base nas constatações feitas em Sapucaia do Sul.. 3.1 Mobilidade religiosa e manifestações sobre a diversidade e a relação entre as religiões ....... 3.2 Algumas considerações teológicas sobre a questão do diálogo inter-religioso em Sapucaia do Sul ...
17 17 20
4 Práticas sociais nos locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul........................................................
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5 Os locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul no contexto do “mundo das religiões” de seis municípios da Região ....................................................................................................................................................
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6 Relação dos locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul ...................................................................
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OBSERVAÇÃO: Trata-se do sexto número de uma “seqüência” de apresentações de resultados de uma pesquisa cadastral sobre “Religiões na Região Metropolitana de Porto Alegre – RS”. É uma produção do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, o qual, entre outras atividades, está organizando, mediante deta-
lhada ficha cadastral dos locais de culto religioso e templos, um banco de dados sobre a presença da diversidade religiosa na Região.
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Apresentação
CADERNOS IHU nº 10, do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, apresenta os resultados de
A equipe envolvida na análise dos dados e redação dos textos é constituída pelos seguintes autores: Adevanir Aparecida Pinheiro (mestre em Ciências Sociais Aplicadas), Cleusa Maria Andreatta (doutora em Teologia), Inácio José Spohr (doutorando em Ciências Sociais), Jaime Kronbauer (estagiário acadêmico de Ciências Sociais), José Ivo Follmann (doutor em Sociologia), Marcelo Pizarro Noronha (estagiário acadêmico de Ciências Sociais e mestre em Antropologia). Tiveram também importante participação Ubirajara Alves (acadêmico de História, bolsista de Extensão) e a secretária do GDIREC, Débora Barbosa Bauermann (acadêmica de Psicologia). Na classificação feita na abordagem e também nos presentes textos de descrição e análise, cada agrupamento religioso é acompanhado de uma sigla (letra): A = Religiões Afro-Brasileiras e Umbanda; K = Espiritismo Kardecista; C = Catolicismo (Igreja Católica, Apostólica, Romana); H = Igrejas Protestantes Históricas; P = Igrejas Evangélicas Pentecostais e Neopentecostais; D = Diversas (Outras).
mais um passo no trabalho de acumulação de dados sobre as religiões e religiosidades na Região Metropolitana de Porto Alegre. Trata-se de um dos projetos do Programa Gestando o Diálogo Inter-religioso e o Ecumenismo – GDIREC. Depois das publicações de O Mundo das Religiões em Cachoeirinha (Nº 14 de Cadernos Cedope), O Mundo das Religiões em Esteio (Nº 15 de Cadernos Cedope), O Mundo das Religiões em São Leopoldo (Nº 16 de Cadernos Cedope), O Mundo das Religiões em Novo Hamburgo (Nº 17 de Cadernos Cedope) e O Mundo das Religiões em Canoas (Nº 2 de Cadernos IHU), temos agora o prazer de apresentar O Mundo das Religiões em Sapucaia do Sul, indicando, assim, a conclusão do cadastramento dos locais de culto religioso e templos em mais um município. Como nos números anteriores, é necessário que chamemos a atenção para o título que é extremamente pretensioso face ao que realmente é possível apresentar nas páginas do Caderno. A verdadeira intenção é despertar a atenção dos leitores para a idéia de “mundo das religiões” que tende a tornar-se sempre mais complexo em nossos meios urbanos. Os estudos e análises aqui apresentados visam a ser “uma contribuição para o estudo do ‘mundo das religiões’ no município de Sapucaia do Sul”. Assim como nos cadernos anteriores, nesta seqüência de publicações sobre os locais de culto religioso e templos na Região Metropolitana de Porto Alegre, esta é efetivamente a intenção do presente Caderno e como tal deve ser lido.
(OBSERVAÇÃO: O cadastro em Sapucaia do Sul iniciou em meados da década de noventa, tendo sido depois interrompido e retomado somente em 2003. Isso não invalida, em termos gerais, a atualidade das informações, pois se buscou, na medida do possível, fazer uma leitura atualizada, sempre que não foi viabilizada a retomada direta do contato para tal.)
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1 Aspectos da realidade religiosa e social de Sapucaia do Sul
1.1 O nome e a história do município
caienses” foram liderados a se posicionaram para não acompanhar o movimento “esteiense”, optando, na ocasião, pela manutenção da pertença a São Leopoldo. O plebiscito emancipacionista deu-se, finalmente, em agosto de 1961, propondo a transformação do Sétimo Distrito de São Leopoldo (sem a parte que fora para o Município do Esteio) no novo município de Sapucaia. Mas donde vem o nome “Sapucaia”? O Sr. Júlio Casado, em sua excelente obra Sapucaia do Sul: contribuição para o estudo de sua história, não consegue responder satisfatoriamente a esta indagação. Além das várias hipóteses que levanta, o autor transcreve (na p.19) interessante passagem de crônica de um amigo seu, o historiador João Palma da Silva (Correio do Povo, 29/set./1966):
Sapucaia do Sul divulga a sua imagem hoje como a “Terra do Zôo”. Trata-se de um município de porte médio, para o qual o Censo de 2000 registrou um total de 127.751 habitantes, dos quais 95,35% são de área urbana. O município integra a Região Metropolitana de Porto Alegre e apresenta uma área total de 65,2 Km2. A cidade dista 25 Km da capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, com acesso via BR116 ou via TRENSURB (metrô de superfície). Chama a atenção o grande número de municípios limítrofes com Sapucaia do Sul: são sete ao todo. Sapucaia do Sul está rodeada por Esteio, Cachoeirinha, Gravataí, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Portão e Nova Santa Rita. Donde vem o nome que hoje identifica o município de Sapucaia do Sul? Diferentes narrativas dão conta disso, mas não existem registros seguros sobre a origem do nome. Em primeiro lugar, o acréscimo “do Sul” é de 1963, dois anos depois da criação do município, quando, por força da Lei Estadual n.º 4541, de 30/08/1963, ficou definido o atual nome de “Sapucaia do Sul”. A proposta inicial veio a público pelo projeto de lei do vereador de Sapucaia, João Colombo Filho, mas devido às grandes resistências da municipalidade à alteração, a proposta não avançou em âmbito local e acabou sendo definida diretamente na esfera do Governo do Estado, por interveniência do então Deputado Nelson Marchezan. Sapucaia fora criada em 14 de novembro de 1961 pela Lei Estadual n.º 4203, após intenso movimento emancipacionista, provocado, sobretudo, pela emancipação do município de Esteio (1954), quando os “sapu-
sobre a origem do nome Sapucaia, que hoje denomina um arroio, um cerro e uma cidade, concluí que tal nome foi dado originariamente a toda uma região dos campos de Viamão, à margem direita do Gravataí. Uma das fazendas que Francisco Pinto Bandeira possuía a leste da cidade de Gravataí que tinha ao norte o morro de Itacolomi e ao sul o rio Gravataí é dada na carta passada por Gomes Freire como localizada na ‘paragem que chamam de Sapucaia, nos campos de Viamão’. O hoje cerro de Sapucaia, bem como o arroio do mesmo nome, absorveram, para si, a designação que antes era dada a toda a região. E por que foi dado tal nome à citada região? Eis o que resta descobrir.
Júlio Casado lamenta não ter podido avançar mais na pesquisa para dar uma resposta completa à indagação do historiador, que é também a nossa. (No site oficial do município, fala-se de uma fazenda de propriedade de Antonio de Souza Fernando, a “Fazenda Sapucaia”, estabelecida em 1737, nas proximidades do morro com este nome...) No site raizesdosul,1 lemos o seguinte:
1 Disponível em: <www.raizesdosul.com.br/muin392.htm> Acesso em: 30 set. 2004.
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Alguns historiadores atribuem a denominação Sapucaia à existência de muitas árvores sapucaias em seu território. Outra hipótese fala da existência de um grande número de aves que a região possuía, face aos frutos silvestres que abundavam no município, o que levou os indígenas a denominarem esta região de Sapucaia.
público externo a imagem de “Terra do Zôo”, aproveitando-se da presença do Parque Zoológico do Estado. A sua população tem origens étnicas e culturais muito diversificadas, mas observando as listas dos sobrenomes de famílias que constam nos atos oficiais da história do município, e antes, podemos aventar a hipótese da importante presença luso-brasileira. Hoje, mesmo sendo expressiva a presença da população negra, sobretudo em alguns bairros, continua evidente o grande predomínio branco, com descendentes de italianos, portugueses e alemães. Além dessas etnias, outras, como árabes e japoneses, ainda se fazem presentes. Em termos educativos, o município apresenta um quadro adequado de escolas, sendo 43 de Ensino Fundamental, oito de Ensino Médio e duas de Ensino Superior (CEFET – Engenharia de Polímeros; Faculdades EQUIPE, com Administração Geral, Letras e Normal Superior). Destacamos, ainda, a proximidade da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, em São Leopoldo. Para além deste bom quadro em termos de educação, devemos ressaltar também que, apesar das atrações culturais próximas externas, características de municípios que integram perifericamente regiões metropolitanas, Sapucaia do Sul conseguiu desenvolver e manter uma importante e dinâmica agenda cultural própria. O município, cujo aniversário é celebrado dia 20 de agosto, tem como padroeira Nossa Senhora da Conceição. Este simbolismo religioso católico ligado à municipalidade apresenta profundas raízes em sua história. Apesar de hoje ser notável uma grande diversidade religiosa no local, historicamente, – ao menos, em grande parte de seu processo histórico –, Sapucaia do Sul foi constituída com a presença quase exclusiva, em termos religiosos, da Igreja Católica, Apostólica, Romana. As primeiras duas capelas católicas, na área do então distrito de Sapucaia, foram erigidas, ligadas à Paróquia Católica de São Leopoldo, no ano de 1869. Primeiro foi a capela de São Cristóvão, em Três Portos (01/01/1869) e depois foi a capela Nossa Senhora da Conceição, nos Pinheiros de Sapucaia, hoje Centro (07/09/1869). Esta
Desde 1838, ano da criação da Capela Curada de São Leopoldo, Sapucaia a integra como distrito (o Primeiro Distrito de São Leopoldo). Mais tarde, com as mudanças político-administrativas em São Leopoldo, a partir de 1912, Sapucaia passa à condição de Sétimo Distrito, sendo a sua sede elevada à categoria de Vila, em 1938. De dezembro de 1944 até 1951, o então Distrito de Sapucaia, correspondente à área do atual município, foi denominado Distrito de Guianuba. A população nunca chegou a se conformar com a denominação imposta, que estava supostamente relacionada com a histórica figueira que fazia sombra frondosa, onde se situa a atual praça central da cidade. Guianuba significa “campo limpo dentro da mata”. O nome de Sapucaia foi restabelecido em 2 de agosto de 1951, pela Lei Municipal de São Leopoldo n.º 303. Olhando, mesmo que de forma superficial, para a dinâmica estatística de alguns indicadores quantitativos de Sapucaia do Sul, devemos dizer que se trata de um município acima da média do Estado. A sua população, nos quarenta anos de emancipação, mais do que sextuplicou. A indústria e o comércio, nele instalados, com empreendimentos incipientes na época da emancipação, hoje apresentam um quadro de dinâmica e diversificação muito importante. Sapucaia do Sul afirma-se como o 13.º município em arrecadação de impostos do Estado do Rio Grande do Sul. Isso se deve, sobretudo, ao seu importante parque industrial, destacando-se os setores da siderurgia, da metalurgia, das bebidas, dos fios têxteis, da refrigeração e dos artefatos de couro. Como todos os municípios que constituem o entorno suburbano de uma grande Região Metropolitana, Sapucaia também se recente da dificuldade de projetar-se com uma identidade de referência. Depois de uma fracassada tentativa de mostrar-se como “cidade das laranjeiras” (plantio de laranjeiras nas ruas), hoje ostenta para o 5
última foi constituída em 01 de janeiro de 1952, matriz da primeira paróquia de Sapucaia (Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Centro da Vila), da qual, seis anos depois, em 31 de dezembro de 1957, foi desmembrada a segunda paróquia de Sapucaia (Paróquia Nossa Senhora de Fátima, de Três Portos). Ligada à primeira, foi inaugurada, em 01 de setembro de 1957, a Capela São José da Vila Primor e, em 09 de abril de 1961, a capela São João Batista, da Vila dos Prazeres. Segundo Júlio Casado (obra citada), já se registrava, em inícios da década de 1960, além das comunidades católicas, uma relativa presença de seguidores da Igreja Episcopal Anglicana, da Igreja Evangélica Assembléia de Deus e da Igreja Evangélica Betel.
Como nos mostra a tabela 1, e repetindo a configuração já conhecida em outros municípios da Região, existe uma predominância numérica de pontos das religiões afro e umbanda (A) com 58 (38,41%) sobre o total. Em segundo lugar, verificam-se os pontos de culto do meio evangélico pentecostal e neopentecostal (P) que somam 47 (31,13%). O meio católico (C), que teve historicamente o monopólio religioso, até épocas bem recentes, como vemos, ocupa o terceiro lugar em edificações de culto, somando 29 (19,20%) locais. Em quarto, aparecem os do protestantismo histórico (H) com 9 (5,96%), seguidos pelos do kardecismo (K) com 3 (2,00%), e os demais 3,30% constituem os do grupo das diversas (D). Uma das explicações para entender, em parte, esta diferente densidade de locais de culto religioso e templos, segundo os diferentes meios religiosos, está relacionada com a própria organização religiosa. Se para os católicos (C), bem como para os protestantes históricos (H), a decisão de estabelecer um local de culto ou templo pertence, em geral, à comunidade, entre os afros e umbandistas (A), assim como entre os pentecostais e neopentecostais (P), esta decisão é de caráter individual. Nestes, determinada pessoa, por iniciativa própria, pode resolver fundar um local de culto e formar o seu próprio grupo de atendimento religioso ou templo.
1.2 Locais de culto religioso e templos (panorama atual) O cadastro realizado pelo Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC identificou o total de 151 locais de culto religioso e templos, existentes atualmente, em Sapucaia do Sul. O número obtido resultou de um processo cadastral que, como foi observado inicialmente, estendeu-se ao longo de uma década, com diversas interrupções e renovadas tentativas de atualização dos dados. Apesar dos limites manifestos no processo cadastral, não houve prejuízo substancial com relação à atualidade da informação.
1.3 Período de fundação dos locais de culto religioso e templos
Tabela 1 – Número de locais de culto religioso e templos, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Religião
Locais
%
Afro e Umbanda Espiritismo Kardecista Igreja Católica Igrejas Pent. e Neopentecostais Igrejas Protestantes Históricas Diversas Total
58 03 29 47 09 05 151
38,41 2,00 19,20 31,13 5,96 3,30 100
Já referimos anteriormente que os primeiros locais de culto religioso ou templos em Sapucaia do Sul datam do ano de 1869, quando foram erigidas duas capelas católicas, que hoje são as sedes (matriz) de duas importantes paróquias católicas do município.
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
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Tabela 2 – Distribuição dos locais de culto religioso, segundo a década de fundação, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Década Até 1939 Religião Religiões Afro e Umbanda 0 Espiritismo Kardecista 0 Igreja Católica 2 Igrejas Pent. e Neopentecostais 0 Igrejas Protestantes Históricas 0 Diversas 0 Total 2
1940 1949 0 1 0 2 0 0 3
1950 1959 1 1 2 0 0 1 5
1960 1969 5 1 1 4 2 0 13
1970 1979 9 0 0 8 0 0 17
1980 1989 23 0 7 11 5 2 48
1990 e depois 19 0 11 22 2 2 56
NI
Total
1 0 6 0 0 0 7
58 3 29 47 9 5 151
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
Analisando as épocas de fundação dos locais de culto religioso e templos da cidade de Sapucaia do Sul, seguindo as indicações da tabela 2, evidenciamos uma grande concentração fundacional ao longo das duas últimas décadas, ou seja, a maior parte dos locais de culto religioso e templos datam de 1980 para cá. Dos 151 locais, 104 (68,87%) foram estabelecidos após 1980. Notável foi a expansão, neste período, de locais no meio afro e umbanda (A) e também no pentecostal e neopentecostal (P), somando, respectivamente, 42 (72,41%) e 33 (70,21%). Mas também é de notar que a edificação de locais de culto ou templos do âmbito católico (C) foi igualmente expressivo no período em questão. Verificamos, neste meio, um total de 18 (62,07%) novas fundações. O crescimento dos locais de culto religioso e templos, de forma geral, nos últimos 20 anos,
pode ser atribuído a diversos fatores, sendo o primeiro obviamente o próprio crescimento urbano acelerado durante esses anos, portanto as demandas religiosas do próprio aumento populacional. Devemos frisar, no entanto, também a própria dinâmica do campo religioso e as novas condições culturais para uma maior afirmação da diversidade e das diferentes identidades religiosas.
1.4 Atos e freqüência religiosa Em Sapucaia do Sul, ocorrem, semanalmente, em torno de 349 atos religiosos, somando um total de 29.047 freqüências. A média de atos religiosos semanais por local é de 2,3, e a média de freqüências semanais por local é de 192. Essas informações obtidas das fichas cadastrais estão mais detalhadas na tabela 3.
Tabela 3 – Número semanal de atos religiosos e média semanal de ocorrências (ofertas) e de freqüências, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004
Religião Religiões Afro e Umbanda Espiritismo Kardecista Igreja Católica Igrejas Pent. e Neopentecostais Igrejas Protestantes Históricas Diversas Total
Locais de culto religioso e templos 58 3 29 47 9 5 151
Atos religiosos por semana Freqüência semanal Número Média de atos Número de freqüências Média de frede atos por local por semana qüência por local 94 (27%) 1,6 3974 (13,7%) 69 12 (3%) 4 404 (1,4%) 135 81 (23%) 2,8 13743 (47,3%) 475 126 (36%) 2,7 9225 (31,8%) 196 21 (6%) 2,3 1147 (3,9%) 127 15 (5%) 3,0 554 (1,9%) 110 349 (100%) 2,3 29.047 (100%) 192
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
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Se olharmos o panorama dos atos religiosos oferecidos semanalmente, constatamos facilmente que 126 (36%) ocorrem no ambiente pentecostal e neopentecostal (P) e 94 (27%) no meio afro e umbanda (A), ou seja, estes dois conjuntos religiosos ofertam um total de 63% dos atos religiosos semanais em Sapucaia do Sul. Na seqüência, vem a religião católica (C), com 81 (23%) atos religiosos semanais, e as igrejas protestantes históricas (H), com 21 (6%). Já com menor expressão, devido ao baixo número de locais, estão as do meio espírita kardecista (K), com 12 (3%) e as demais (diversas – D), com 15 atos semanais, em seu total. A par destes dados, chama a atenção a elevada média semanal de atos praticados no meio espírita kardecista (K), com quatro atos semanais em média e na esfera das outras denominações agrupadas sob a designação de diversas (D), com três atos semanais em média. Aliás, em termos de média de atos religiosos praticados semanalmente por local, a igreja católica (C), em Sapucaia do Sul, se equipara, praticamente, com as igrejas pentecostais e neopentecostais (P), ou seja, enquanto, no meio católico (C), há 2,8 atos-semana por local, no pentecostal e neopentecostal (P), são 2,7 os atos-semana por local. O âmbito protestante histórico (H) fica com uma média um pouco abaixo, com 2,3 atos-semana por local. A média de atos-semana por local mais baixa é a dos cultos afro e de umbanda (A): 1,6. Apesar de o grande número de locais de culto religioso no meio afro e de umbanda (A), num total de 58 cadastrados, significar uma relativa compensação face à diminuta média de atos-semana por local, o número total de freqüências neste âmbito é muito inferior ao apresentado pelos outros, especialmente o católico (C) e o pentecostal e neopentecostal (P). Expressiva é a verificação no grupo de religiões católica (C) e pentecostal e neopentecostal (P), quando se avalia o número de freqüências semanais nos locais de culto. De um total de 29.047 freqüências, o meio católico (C) responde por 13.743 (47,3%), e o pentecostal e neopentecostal (P) atinge uma soma de 9.225 (31,8%). Portanto, estes dois meios (C) (P) totali-
zam juntos 79,1% de todas as freqüências aos atos religiosos semanais no município. Considerando que Sapucaia do Sul possui uma população de 127.751 habitantes (conforme o Censo do IBGE referido acima), a repetição semanal de 29.047 freqüências em acontecimentos religiosos nos mostra que menos de 23% da população freqüentam algum tipo de ato religioso no período de uma semana. É necessário dizer “menos de 23%”, uma vez que existe sempre um pequeno percentual de freqüentadores que repete a sua presença em ato religioso mais de uma vez por semana. Quanto ao número médio de freqüências semanais, em cada templo (ou local de culto) da igreja católica (C), a média semanal atinge a 474; nas igrejas pentecostais e neopentecostais (P), este número alcança um total médio de 196; nos locais espíritas kardecistas (K), constatamos uma média de 135; nas igrejas protestantes históricas (H), a freqüência média é 127; nas diversas (D), registra-se, nos cadastros, uma média de 100 por local-semana; e, como já mencionamos acima, nos locais afros e umbandistas (A), a média de freqüência semanal é bem mais baixa: 69. Mesmo que a freqüência no meio afro e umbanda (A) seja significativamente inferior às freqüências sobretudo nas igrejas católicas (C) e pentecostais e neopentecostais (P), devemos assinalar que o fato de existirem muitos locais (pequenos locais de culto) é indicativo revelador da presença de muitas lideranças e um potencial crescimento. Em última análise, diríamos que, na cidade de Sapucaia do Sul, observamos uma formação crescente do pluralismo religioso já verificado em outras cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre. As entrevistas realizadas com informantes fisicamente próximos dos líderes revelaram também um aspecto digno de menção: muitas lideranças religiosas têm uma atuação bastante grande em suas comunidades inclusive em termos políticos, como, por exemplo, junto à Câmara de Vereadores. O próprio processo de preenchimento da ficha cadastral e também as entrevistas complementares ajudaram a verificar este fato muito ilustrativo. 8
2 Religiões, sua diversidade e importância na opinião dos fiéis
2.1 Manifestações sobre a natureza e concepção das religiões
Foram elaboradas, para a presente pesquisa, questões que visam a dar conta da análise de temas que dizem respeito à natureza e à concepção de religião (tabelas 4 a 6), com a inserção da religião na sociedade (tabelas 7 a 10), com a religião e o engajamento político (tabelas 11 a 14). Dividimos este capítulo em dois itens: o primeiro quer dar conta de algumas manifestações dos entrevistados com relação à natureza da religião e às concepções alimentadas a respeito, e o segundo item tem por finalidade reter algumas opiniões sobre a percepção da importância das religiões na sociedade e como é concebida a relação entre religião e sociedade.
Em relação à concepção de religião, a maior incidência, 50 (48%) de informantes, está voltada a entender a sua religião como “boa”, mas é notável o número daqueles que manifestam que a sua é a única “certa”, 28 (27%). Em praticamente todos os meios religiosos, exceto o do protestantismo histórico, encontramos um relativo percentual (15% ou mais) daqueles que dizem serem todas as religiões boas. Temos, nesta perspectiva, 6 entrevistados (16%) nas religiões afro e umbanda (A), 4 (15%) na religião católica (C) e 5 (15%) nas religiões pentecostais e neopentecostais (P). Dos 5 entrevistados de igrejas protestantes históricas (H), 3 (60%) afirmaram que a “minha é a certa”, já 2 (40%), que a “minha é boa”.
Tabela 4 – Distribuição dos informantes segundo a percepção de sua religião em relação às outras, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Percepção da religião
Religião Religiões Afro e Umbanda
Minha certa Minha boa Todas são boas Minha discrimina (%) (%) (%) (%).
Outra (%)
Total
11 (29)
17 (45)
6 (16)
0
4 (10)
38
Espiritismo Kardecista
1 (33)
0 (00)
1 (33)
0
1 (33)
3
Igreja Católica
4 (15)
16 (62)
4 (15)
0
2 (08)
26
Igrejas Pent. e Neopentecostais
9 (27)
15 (46)
5 (15)
1 (03)
3 (09)
33
Igrejas Protestantes Históricas
3 (60)
2 (40)
0 (00)
0 (00)
0 (00)
5
28 (27)
50 (48)
16 (15)
1 (01)
10 (09)
105
Total
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
9
Ao verificar as justificativas (argumentos) que amparam as respostas em relação aos diversos credos, encontramos uma série de variáveis. Divididos por grupos, poderíamos dizer que, de um lado, teríamos as religiões afro e umbanda (A) e as pentecostais e neopentecostais (P), e de outro, a católica (C) e as protestantes históricas (H). Os primeiros grupos denotam, em sua argumentação avaliativa, uma performance mais pessoal. Já para os outros dois grupos, esta argumentação encontra amparo na doutrina e na vida sacramental das igrejas. Nas respostas obtidas no meio afro e umbanda (A) e no pentecostal e neopentecostal (P), evidenciamos um sentimento de bem-estar, amparo e acolhida na comunidade religiosa. Obtivemos respostas do tipo: “A melhor, pois, na hora de angústia e de enfermidade, foi onde me encontrei: amor e Jesus Cristo.” Entre os entrevistados católicos (C), percebemos o sentimento de crença de ser a igreja católica, aquela que foi instituída por Jesus Cristo e desta forma, ser a mais adequada, embora seja reconhecida uma evolução doutrinária, que, por vezes, divide as opiniões. Para alguns, isso é visto como fator positivo e para outros, como elemento negativo. Podemos, também, relacionar respostas para essa assertiva do tipo: “Antigamente parece que ser católico era melhor, era obrigação
ir à missa todos os domingos de manhã, a gente colocava roupas novas e ia para a missa. Hoje pouca gente vai. As outras religiões estão crescendo, e a católica está ficando para trás.” – “Gosto da religião católica, hoje mais que antigamente, porque os padres eram muito ruins.” Na tentativa de identificar a causa da existência de tanta diversidade religiosa, observamos uma grande concentração de respostas, atribuindo isso às diferenças doutrinais, com 28% das respostas de todos os meios religiosos. Também são bastante lembradas concepções de religião elaboradas, focando princípios doutrinários. Estas encontram percentual considerável nas religiões pentecostais e neopentecostais (P), com 31%, na católica (C), com 31% e nas afro e umbanda (A), com 26%. Outro fator apontado é a falta de convicção. A falta de fé, segundo os informantes, ocorre em 16% de todo o universo considerado. Ao lado da falta de convicção, é também observável e marcante, em parte das respostas, a percepção do quesito “interesse” que possui amparo em 30% das opiniões dos entrevistados. Temos assim algumas respostas: “As pessoas, hoje, pensam muito no dinheiro. Por isso que tem muitas religiões”. – “Vou ser sincero: existem muitas religiões só para ganhar dinheiro mesmo.” As expressões liberdade religiosa e ignorância são menos elencadas.
Tabela 5 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a principal causa do grande número de religiões, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Opinião Liberdade religiosa (%)
Diferenças doutrinais (%)
Falta convicção (%)
Religiões Afro e Umbanda
4 (11)
10 (26)
3 (08)
2 (05)
Espiritismo Kardecista
0 (00)
1 (33)
0 (00)
Igreja Católica
0 (00)
8 (31)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
4 (12)
Igrejas Protestantes Históricas Total
Religião
Outros (%)
Total (%)
14 (37)
5 (13)
38 (100)
1 (33)
0 (00)
1 (33)
3 (100)
5 (19)
0 (00)
10 (38)
3 (12)
26 (100)
10 (31)
8 (24)
3 (09)
6 (18)
2 (06)
33 (100)
0 (00)
0 (00)
1 (20)
1 (20)
2 (40)
1 (20)
5 (100)
8 (08)
29 (28)
17 (16)
7 (7)
32 (30) 12 (11) 105 (100)
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
10
Ignorância Interesses (%) (%)
Perguntados sobre a sua concepção de “verdadeira religião”, os entrevistados reagiram de diversas formas, apresentando diferentes concepções religiosas. O elemento considerado de maior predominância foi o do “cultivo da crença e vivência”, perfazendo um índice de 35% num universo de 104 pesquisados. O elemento “doutrina” é destaque, principalmente entre os entrevistados dos meios católico (C) e pentecostal e neopentecostal (P), aparecendo com percentuais de 42% e 36%, respectiva-
mente. Já no meio das religiões afro e umbanda (A), os investigados tendem a dar destaque ao elemento “vivência” (24%). A menção da vivência como critério de “verdadeira religião” sugere a percepção da importância do comprometimento pessoal do crente ou do fiel seguidor. Os dados apresentados pela tabela 6 levam a concluir que “crença e vivência” são, efetivamente, de acordo com a maioria dos participantes, as referências principais para se dizer algo sobre se a religião é verdadeira ou não.
Tabela 6 – Distribuição dos informantes, segundo a concepção de verdadeira religião, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Concepção de verdadeira religião Religião
Crença e vivência Doutrina Vivência Comunidade de fé Outros Religiões Afro e Umbanda 14 (38)u 7 (19) 9 (24) 3 (08) 4 (11) Espiritismo Kardecista 1 (33) 0 (00) 0 (00) 1 (33) 1 (33) Igreja Católica 9 (35) 11 (42) 2 (08) 0 (00) 4 (15) Igrejas Pent. e Neopentecostais 10 (31) 12 (36) 6 (18) 0 (00) 5 (15) Igrejas Protestantes Históricas 2 (40) 2 (40) 0 (00) 1 (20) 0 (00) Total 36 (35) 32 (31) 17 (16) 5 (05) 14 (13)
Total 37 (100) 3 (100) 26 (100) 33 (100) 5 (100) 104 (100)
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
2.2 Manifestações sobre a relação religião e sociedade
postas declaram que a religião “atua bastante”. Esta afirmação positiva varia de meio religioso para meio religioso: nas religiões afro e de umbanda (A), são 71%; no kardecismo (K), 67%; na religião católica (C), 88%; nas protestantes históricas (H), 80%; e nas igrejas pentecostais e neopentecostais (P), 52%.
Perguntados sobre a atuação da religião ou das religiões na sociedade, é notável o fato da forte estima positiva, notando-se que 70% das res-
Tabela 7 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a atuação de sua religião na sociedade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Religião Religiões Afro e Umbanda Espiritismo Kardecista Igreja Católica Igrejas Pent. e Neopentecostais Igrejas Protestantes Históricas Total
Atua na sociedade Atua bastante Não atua bastante Poderia ser mais 27 (71) 5 (13) 6 (16) 2 (67) 1 (33) 0 (00) 23 (88) 2 (08) 1 (04) 17 (52) 7 (21) 5 (15) 4 (80) 1 (20) 0 (00) 73 (70) 16 (15) 12 (11)
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
11
Outros 0 (00) 0 (00) 0 (00) 4 (12) 0 (00) 4 (04)
Total 38 (100) 3 (100) 26 (100) 33 (100) 5 (100) 105 (100)
A percepção positiva com relação à atuação das religiões na sociedade se repete entre as pessoas que responderam ao questionário, quando instadas sobre o papel da religião na sociedade.
Percebemos que 85 (81%) dos informantes, sobre um total de 105, se inclinam a entender isso como sendo “muito importante” para a sociedade.
Tabela 8 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o papel de sua religião na sociedade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Papel de sua religião na sociedade Não
Em parte
Outra
Total
31 (82)
1 (03)
5 (12)
1 (03)
38 (100)
2 (67)
0 (00)
1 (33)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
23 (88)
1 (04)
2 (08)
0 (00)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
25 (76)
0 (00)
5 (15)
3 (09)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
4 (80)
1 (20)
0 (00)
0 (00)
5 (100)
85 (81)
3 (03)
13 (12)
4 (04)
105 (100)
Religião
Sim
Religiões Afro e Umbanda Espiritismo Kardecista
Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
Perguntados sobre o que falta na atuação das religiões na sociedade, de um total de 105 entrevistados, 41 (39%) referem-se à “falta de união” e “compreensão”; 18 (17%) abordam a falta de solidariedade; 9 (9%) esperam maior “participação” e “compromisso” dos membros da religião com a sociedade, e outros 13 (12%) desejam melhor
“formação”. Há pesquisados que destacam a falta de “união e compreensão”, sobressaindo-se os dos meios das religiões afro e de umbanda (A), 50%; das pentecostais e neopentecostais (P), 45%; e das igrejas do protestantismo histórico (H), 40%. Já entre os católicos (C), as respostas tendem a mostrar mais a falta de “solidariedade”, 35%.
Tabela 9 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o que falta para atuar mais na sociedade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Falta para atuar mais na sociedade
Religião Religiões Afro e Umbanda
União e Solidariedade Participação/ compreensão compromisso
Formação
Outros
Total
19 (50)
3 (08)
2 (05)
3 (08)
11 (29)
38 (100)
Espiritismo Kardecista
1 (33)
1 (33)
0 (00)
1 (33)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
4 (15)
9 (35)
5 (19)
2 (8)
6 (23)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
15 (45)
5 (15)
0 (00)
7 (21)
6 (19)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
2 (40)
0 (00)
2 (40)
0 (00)
1 (20)
5 (100)
41 (39)
18 (17)
9 (09)
13 (12)
24 (23)
105 (100)
Total
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
12
A afirmação de que falta “união”, “compreensão”, “solidariedade”, “participação” e “compromisso” são comuns em todos os ambientes religiosos contemplados pela pesquisa. Embora, conforme já foi dito, estes termos sejam bastante recorrentes, verificamos, também, outros elementos apontados como relevantes pelo grupo pesquisado, por exemplo, a falta de “fé”, “credibilidade”, “sinceridade”, “reconhecimento político”, além da “formação”.
No que diz respeito à “concepção de ideal de sociedade”, mais da metade do público investigado, 55 (52%), sobre 105 informantes, aponta que sua religião busca uma sociedade fundamentada em valores, como “igualdade” e “fraternidade”. Esta concepção alinha 55% do meio afro e umbanda (A); 67%, do espírita kardecista (K); 61%, do católico (C); 45%, do pentecostal e neopentecostal (P); e 20%, do protestante histórico (H). Dessa forma, podemos concluir que esta concepção permeia todos os ambientes religiosos com significativa expressão.
Tabela 10 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o ideal de sociedade e de pessoa humana de sua religião, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Sociedade e pessoa humana construídas sobre os princípios de:
Religião
Igualdade Honestidade Religiosos (fé) fraternidade
Religiões Afro e Umbanda
Pluralidade
Outros
Total
21 (55)
4 (11)
5 (13)
1 (03)
7 (18)
38 (100)
2 (67)
1 (33)
0 (00)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
16 (61)
2 (08)
4 (15)
2 (08)
2 (08)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
15 (45)
1 (03)
9 (27)
1 (03)
7 (22)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
1 (20)
1 (20)
2 (40)
1 (20)
0 (00)
5 (100)
55 (52)
9 (09)
20 (19)
5 (05)
16 (15)
105 (100)
Espiritismo Kardecista
Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
A acepção de uma sociedade orientada por ensinamentos bíblicos, também se faz presente nas respostas dos integrantes da pesquisa. Por ordem de importância, ela aparece mais significativamente no meio protestante histórico (H), 2 (40%); em seguida, no pentecostal e neopentecostal (P), com 9 (27%); no católico (C), 4 (15%); e no afro e umbanda (A), 5 (13%). Outros elementos que também foram mencionados pelos entrevistados, não tabulados nesta
pesquisa, dizem respeito a considerações sobre uma sociedade mais humilde, solidária, que valorize mais a vida, seja livre de patologias sociais, como a droga, a violência e a fome. Na pergunta aos informantes sobre “divergências” em relação ao “ideal de sociedade” em sua religião ou igreja, encontramos um percentual equivalente a 22 (21%), de um total de 104 informantes, que destacam não haver divergências quanto ao ideal de sociedade entre os adeptos.
13
Tabela 11 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a existência de divergências entre os fiéis em relação ao ideal de sociedade, por religião, em Sapucaia do Sul, RS, 2004 Existem divergências
Religião
Sim
Não
Em outros níveis
Outros
Total
15 (39)
11 (29)
8 (21)
4 (11)
38 (100)
1 (33)
1 (33)
1 (33)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
10 (39)
4 (15)
11 (42)
1 (04)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
13 (41)
6 (19)
11 (34)
2 (06)
32 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
2 (40)
0 (00)
2 (40)
1 (20)
5 (100)
41 (39)
22 (21)
33 (32)
8 (08)
104 (100)
Religiões Afro e Umbanda Espiritismo Kardecista
Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
A grande maioria dos entrevistados acredita haver divergências quanto ao entendimento desta questão. Embora não sejam encontradas posturas antagônicas nas respostas a esta indagação, identificam-se as divergências retratadas em respostas do tipo: “Tem divergências, um pensa uma coisa e o outro pensa outra coisa, mas uma sociedade igual é bom para todos” (A). – “Existem divergências até com os padres, pois quando
questionados entram em discussão sobre o assunto até porque nem todos pensam da mesma forma” (C). – “A gente aprendeu que todos são iguais, mas respeitamos a opinião de cada um” (H). – “Olha, mesmo que o pastor prega e fala, mas cada um tem seu seguimento, uns pensam numa sociedade melhor, outros já acham que assim está bom” (P).
Tabela 12 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o envolvimento político-partidário da religião, por religião, em Sapucaia do Sul, RS, 2004 Envolvimento político da religião – no (%)
Sim
Não
Só dos fiéis
Questão pessoal
Outra
Total
Religiões Afro e Umbanda
4 (11)
25 (68)
0 (00)
3 (08)
5 (13)
37 (100)
Espiritismo Kardecista
0 (00)
3 (100)
0 (00)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
8 (31)
10 (38)
4 (15)
1 (04)
3 (12)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
4 (12)
23 (70)
0 (00)
3 (09)
3 (09)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
2 (40)
2 (40)
0 (00)
1 (20)
0 (00)
5 (100)
18 (17)
63 (61)
4 (04)
8 (08)
11 (10)
104 (100)
Religião
Total
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
No que diz respeito ao engajamento político-partidário nas religiões, ficou evidente que a grande maioria dos entrevistados não compactua com esta idéia, ou seja, 63 (61%), de um grupo de 104 informantes, posicionaram-se desfavoravelmente a esta proposição.
Obtivemos o maior percentual desfavorável no ambiente espírita e kardecista (K) 100%. No meio pentecostal e neopentecostal (P), este percentual chega a 70%, seguindo-se os pesquisados do meio afro e de umbanda (A), com 68%. Já os entrevistados protestantes históricos (H) e católi-
14
cos (C) apresentam uma discordância, em (H), 40% e em (C), 38% dos casos, respectivamente. Cabe aqui salientar que, na esfera católica (C), embora seja a de menor índice desfavorável ao
envolvimento político-partidário, é onde se encontra o percentual de 15% que estabelece a participação somente dos fiéis, e não da igreja como um todo.
Tabela 13 – Distribuição dos informantes, segundo a satisfação em relação à atuação da religião na sociedade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Satisfação em relação à atuação na sociedade – no (%)
Religião
Satisfeito
Não satisfeito
Em parte
Outros
Total
Religiões Afro e Umbanda
29 (78)
5 (14)
3 (08)
0 (00)
37 (100)
2 (67)
1 (33)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
19 (72)
3 (12)
3 (12)
1 (04)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
26 (79)
3 (09)
3 (09)
1 (03)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
5 (100)
0 (00)
0 (00)
0 (00)
5 (100)
Total
81 (78)
12 (11)
9 (09)
2 (02)
104 (100)
Espiritismo Kardecista
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
Frente à indagação que contempla a “satisfação com a sua religião na sociedade”, a grande maioria, 81 (78%), de 104 informantes, mostrou-se satisfeita com a atuação de sua igreja na sociedade. O nível de insatisfação chega a um número de 12 (11%) do total dos entrevistados. Os que se dizem parcialmente satisfeitos perfazem um total de 9 (9%).
O maior índice de satisfação é encontrado no meio dos entrevistados (5 ao todo) das igrejas protestantes históricas (H), atingindo um percentual de 100%. Este índice é seguido pelos do meio pentecostal e neopentecostal (P), com 79% e do afro e de umbanda (A), com 78%, do católico (C), com 72% e, finalmente, do espiritismo kardecista (K), com 67%.
Tabela 14 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre as opções político-partidárias dos fiéis, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Religião Política
Opções político-partidárias – no (%)
Diversificadas Alinhadas
Religiões Afro e Umbanda
Liberdade política
Não discute política
Outras
Total
17 (53)
1 (03)
12 (38)
1 (03)
1 (03)
32 (100)
1 (33)
0 (00)
2 (67)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
13 (50)
3 (11)
9 (35)
1 (04)
0 (00)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
25 (76)
1 (03)
5 (15)
0 (00)
2 (06)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
2 (40)
0 (00)
3 (60)
0 (00)
0 (00)
5 (100)
58 (59)
5 (05)
31 (31)
2 (02)
3 (03)
99 (100)
Espiritismo Kardecista
Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
15
Os informantes, perguntados se estariam dispostos a seguir sugestões partidárias emanadas de sua religião, sinalizam preferências “diversificadas”. Precisamente, de um universo de 99 informantes, 58 (59%) são dessa opinião. Somente 5 (5%) entendem haver um alinhamento de idéias e opções, enquanto 31 (31%) defendem que esta questão diz respeito unicamente ao plano pessoal, na medida em que apontam a “liberdade política”
como opção. O maior percentual que aderiu ao alinhamento político-partidário foi expresso no meio católico (C), mas, mesmo neste meio, trata-se de um índice muito baixo, ou seja, somente 3 (11%) dos entrevistados. Os informantes se posicionam desfavoravelmente a discussões políticas no ambiente religioso, como, por exemplo, no meio afro e umbanda (A) com 1 (3%) e no católico, também com 1 (4%).
16
3 A questão do diálogo inter-religioso: algumas considerações com base nas constatações feitas em Sapucaia do Sul
Este capítulo está dividido em duas partes: a primeira nos ajudará a introduzir a reflexão sobre a diversidade religiosa em Sapucaia do Sul, a mobilidade religiosa ali existente e o modo como os entrevistados se manifestam quanto à diversidade religiosa. Apontaremos e comentaremos algumas manifestações dos pesquisados no que diz respeito à mobilidade religiosa e ao permanente trânsito entre as diferentes adesões religiosas. Na segunda parte, levantaremos algumas idéias e hipóteses para reflexão sobre a questão do diálogo inter-religioso, sob uma perspectiva teológica, com base nas constatações feitas neste município.
este deve ter para ser considerado pela igreja como um bom fiel, encontramos posicionamentos diversificados. Porém, quase a metade do público entrevistado 45 (45%), de um universo de 99 pessoas, optou pela definição “cumpridor de deveres”, enquanto 19 (20%) preferiram “uma pessoa íntegra”; 14 (14%), “um indivíduo participativo”; e 10 (10%) apontaram a alternativa “ser solidário”. O indicativo “fiel solidário” aparece com mais ênfase no meio do espiritismo kardecista (K) com 2 (67%) das proposições, de um total de 3 entrevistados. Para a grande maioria dos grupos religiosos aqui estudados, o tema “fiel solidário” é pouco significativo como bem mostra a tabela 15.
3.1 Mobilidade religiosa e manifestações sobre a diversidade e a relação entre as religiões A abordagem a respeito da expectativa do que vem a ser um “bom fiel”, das características que Tabela 15 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião em relação às características de um bom fiel, por religião, em Sapucaia do Sul, RS, 2004 Características de um bom fiel – no (%)
Cumpridor de deveres
Pessoa íntegra
Solidário
Participativo
Outras
Total
16 (50)
7 (22)
4 (13)
3 (09)
2 (06)
32 (100)
0 (00)
0 (00)
2 (67)
1 (33)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
11 (42)
5 (19)
1 (04)
5 (19)
4 (16)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
15 (45)
7 (21)
2 (06)
4 (13)
5 (15)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
3 (60)
0 (00)
1 (20)
1 (20)
0 (00)
5 (100)
45 (45)
19 (20)
10 (10)
14 (14)
11 (11)
99 (100)
Religião Religiões Afro e Umbanda Espiritismo Kardecista
Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
17
Quando nos reportamos à “migração interreligiosa”, os resultados alcançados apontam que este fato ocorre de maneira mais acentuada em algumas religiões do que em outras. Em um universo de 98 pesquisados, 53 (54%) já trocaram de religião pelo menos uma vez em suas vidas. O maior percentual, nesta ordem, encontramos no meio do espiritismo kardecista (K), em que a totalidade dos 3 (100%) entrevistados já trocou de religião; seguido do afro e umbanda (A), 24 (77%); do pentecostal e neopentecostal, 22 (67%); e do protestante histórico, (H) 4 (80%). É notável que nenhum dos entrevistados católicos (C) já foi de outra religião. (Tabela 16). Segundo as respostas dos entrevistados, e analogamente a outros mu-
nicípios da Região Metropolitana, em Sapucaia do Sul, verificamos que este fenômeno ocorre de formas variadas de religião para religião. Evidenciamos, por exemplo, também, que a igreja católica (C) é a que mais cede fiéis para as outras religiões. Respostas que demonstram a falta de amparo na religião anterior são comuns, não encontravam o “apoio” necessário para suas dificuldades, sentindo-se melhor na religião que ora professam, ou seja, “teriam se encontrado, alcançado a paz”. Finalmente, observamos que a explicação de relação entre “conversão” e solução de “problemas pessoais”, principalmente de saúde, é encontrada com maior clareza, nos meios pentecostais e neopentecostais (P) e afro e umbanda (A).
Tabela 16 – Distribuição dos informantes, segundo a troca de religião, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Troca de religião – no (%)
Religião
Trocou
Não trocou
Outra
Total
Religiões Afro e Umbanda
24 (77)
7 (23)
0 (00)
31 (100)
Espiritismo Kardecista
3 (100)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
0 (00)
26 (100)
0 (00)
26 (100)
22 (67)
11 (33)
0 (00)
33 (100)
4 (80)
1 (20)
0 (00)
5 (100)
53 (54)
45 (46)
0 (00)
98 (100)
Igreja Católica Igrejas Pent. e Neopentecostais Igrejas Protestantes Históricas Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
Ainda em relação ao intercâmbio religioso, foi abordada a questão da freqüência a “atos religiosos de outras religiões”. De um universo de 99 respondentes, encontramos um percentual pouco considerável de pessoas que afirmam freqüentarem atos fora de seu ambiente religioso: 14 (15%). A grande maioria 70 (71%) confirma sua não-freqüência a atos religiosos alheios à sua religião. O maior índice de fidelidade encontramos nos entrevistados da igreja católica (C), com 88%, seguido pelos protestantes históricos (H), com 80%, pelos pentecostais e neopentecostais,
com 79%, pelos espíritas kardecistas (K), com 67% e, finalmente, pelos afros e umbandistas (A), com 47%. (Tabela 17). O meio afro e umbanda (A) demonstra, segundo dados coletados, uma receptividade acentuada ao intercâmbio religioso. Trinta e um por cento dos informantes deste meio disseram que aceitam esta prática com regularidade, embora a freqüência eventual tenha ficado marcada pelas respostas obtidas como sendo estes eventos somente para a presença em batismos, festas, primeira comunhão, etc.
18
Tabela 17 – Freqüência a atos religiosos de outras religiões, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Freqüência a atos religiosos de outras religiões – no (%) Eventual Não freqüenta Atos ecumênicos
Outros
Total
0 (00)
2 (06)
32 (100)
2 (67)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
1 (04)
23 (88)
0 (00)
0 (00)
26 (100)
2 (06)
4 (12)
26 (79)
1 (03)
0 (00)
33 (100)
0 (00)
1 (20)
4 (80)
0 (00)
0 (00)
5 (100)
14 (14)
12 (12)
70 (71)
1 (01)
2 (02)
99 (100)
Religião
Regular
Religiões Afro e Umbanda
10 (31)
5 (16)
15 (47)
Espiritismo Kardecista
0 (00)
1 (33)
Igreja Católica
2 (08)
Igrejas Pent. e Neopentecostais Igrejas Protestantes Históricas Total
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
Em outra proposição do questionário aplicado, foi abordada a questão que diz respeito ao “diálogo inter-religioso” e à possibilidade de haver “atividades em conjunto”, como é o caso dos trabalhos interconfessionais. A maioria das respostas obtidas mostra boa receptividade, pois, 59 (60%) de um grupo de 98 entrevistados a vêem como “positiva”. Somente 15% dos entrevistados se pronunciaram desfavoravelmente à possi-
bilidade de trabalhos em conjunto, enquanto 18% a aceitam com “restrições”. O maior número dos que se mostraram favoráveis a esta possibilidade são católicos (C), com 73%. Logo após estão os espíritas kardecistas (K), com 67%, depois os afros e umbandistas (A), com 61%, seguidos pelos protestantes históricos (H), com 60% e, finalmente, pelos pentecostais e neopentecostais (P), com 48%. (Tabela 18)
Tabela 18 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a possibilidade de realizar trabalhos conjuntos das religiões, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004 Possibilidade de realizar trabalhos conjuntos – no (%)
Religião
Existem
Não existem
Com restrições
Outra
Total
Religiões Afro e Umbanda
19 (61)
3 (10)
8 (26)
1 (03)
31 (100)
2 (67)
1 (33)
0 (00)
0 (00)
3 (100)
Igreja Católica
19 (73)
7 (27)
0 (00)
0 (00)
26 (100)
Igrejas Pent. e Neopentecostais
16 (48)
4 (13)
8 (24)
5 (15)
33 (100)
Igrejas Protestantes Históricas
3 (60)
0 (00)
1 (20)
1 (20)
5 (100)
59 (60)
15 (15)
17 (18)
7 (07)
98 (100)
Espiritismo Kardecista
Total Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
Os respondentes, em sua maioria, como já vimos, inclinam-se à possibilidade de contatos inter-religiosos. Os argumentos contrários giram em torno da perda identitária e no que se refere
aos rituais de cada ambiente religioso. Existe uma preocupação em termos rituais e doutrinais, ou seja, de estes serem conservados na sua originalidade, sem aculturação.
19
3.2 Algumas considerações teológicas sobre a questão do diálogo interreligioso em Sapucaia do Sul
relevante do que o número das afirmações de que a “minha religião é certa” (27%). A pertença e vinculação a uma determinada religião, geralmente, pressupõem a adesão pessoal à fé que lhe é característica. Por isso, é lógico esperar que as pessoas afirmem que a própria tradição religiosa é boa e melhor que as demais. Mas, além disso, observamos que as afirmações de que a própria religião é melhor, comumente, se apóiam na experiência pessoal, indicando que as pessoas encontram respostas e sentido para suas questões existenciais na religião à qual pertencem. Isso transparece em respostas do tipo já destacado antes: “a minha é melhor, pois na hora de angústia e enfermidade foi onde me encontrei” ou como a seguinte: “a minha (é) melhor, pois nela tenho atuado com trabalhos e acredito que nela sou importante para as pessoas e para Deus”. Por si só, essas observações permitem supor que predomina entre os informantes um olhar positivo sobre as demais religiões, na medida em que implicam o reconhecimento de que as pessoas necessitam “encontrar-se” ou encontrar respostas existenciais satisfatórias na sua religião. A indicação desta postura, numa perspectiva positiva, ganha maior consistência com a constatação de que várias respostas são acompanhadas por ressalvas respeitosas ou pelo cuidado de não fazer comentários valorativos em relação às outras religiões. Este modo de proceder aparece em expressões recorrentes, como “gosto da minha religião e não opino sobre as outras”, “não devemos criticar a religião dos outros”, “minha religião é boa, é muito importante. Não desejo comparar com as outras”. Tomadas no contexto dos questionários, as afirmações de que “todas as religiões são boas” (15%) se baseiam no pressuposto teológico de que as diversas religiões se referem a um único Deus, na função social das religiões e naquilo que elas são capazes de trazer de benefícios para as pessoas individualmente. Se as afirmações de que a “minha religião é melhor” (para mim) forem consideradas juntamente com as afirmações de que “todas são boas”, inferimos que predomina, entre os infor-
A leitura teológica aqui proposta não tem a pretensão de considerar do ponto de vista teológico todos os aspectos presentes nos dados acumulados sobre religiões e religiosidade em Sapucaia do Sul. Em vista disso, dá atenção a alguns aspectos particulares relevantes no contexto da diversidade religiosa que caracteriza o contexto sociogeográfico da pesquisa. Um aspecto relevante a ser considerado é o que os dados indicam, tendo em vista o diálogo inter-religioso tão necessário num contexto sociocultural urbano em que pessoas de tradições religiosas e espirituais distintas convivem cotidianamente em grande proximidade. O conceito de diálogo inter-religioso aqui usado integra diversos sentidos. Ele abrange as disposições das pessoas para uma apreciação positiva das outras religiões, para uma atitude respeitosa diante das suas opções religiosas até as condições para uma convivência pacífica e interação entre os membros de diferentes religiões no sentido de dizer e fazer algo juntos, tendo por base suas motivações religiosas. Para esta leitura, focalizamos nossa atenção especialmente sobre alguns dados recolhidos da pesquisa de opinião já diversas vezes referida nos itens anteriores: a percepção da própria religião em relação às outras, as opiniões sobre a causa da diversidade religiosa, a concepção de verdadeira religião e as opiniões sobre as possibilidades de trabalhos em conjunto. São considerados os números apresentados em cada um desses aspectos juntamente com as respostas apresentadas nos questionários de opinião. Não serão feitas aqui considerações valorativas no sentido de abordagens recorrentes em nossos dias sobre tendências ao indiferentismo e/ou relativismo religioso. Voltando aos dados já comentados anteriormente, no que concerne à “percepção de sua religião em relação às outras” (tabela 4), o número de afirmações no sentido de que a “minha religião é melhor” (48%) que as demais é bem mais 20
mantes, uma disposição de abertura e acolhida frente à pluralidade religiosa (63%), a qual contrasta com a postura de fechamento que deduzimos da afirmação de que “a minha religião é certa”(28%). As opiniões a respeito das “causas da diversidade religiosa”, à primeira vista, parecem evidenciar uma apreciação predominantemente negativa deste fato. (Tabela 5). Dados que apontam causas de caráter negativo, como “falta de convicção”, “ignorância” e “interesses” (econômicos), correspondem à opinião de 53% das pessoas entrevistadas, enquanto as indicações “liberdade religiosa” e “diferenças doutrinais”, que têm um teor mais positivo, correspondem apenas a 36 % das opiniões. A falta de convicção integra expressões, como “falta de fé em Deus”, “temor de Deus” ou “perda da visão de Deus”. Já a categoria de “ignorância”, articula idéias como “desvio dos mandamentos” e não “seguimento da Bíblia”. Chama a atenção o significativo número de opiniões que relacionam a diversidade religiosa a interesses econômicos (30%), as quais se traduzem em afirmações diretas, como a já citada, de que “existem muitas religiões só para ganhar dinheiro” ou de que o resultado da ganância ou do egoísmo que leva a “se aproveitar das pessoas”. Entre os dados que colocam, na origem da diversidade religiosa, as informações computadas nas categorias de “liberdade religiosa” e “diferenças doutrinais”, se entrelaçam várias expressões que apontam para o desejo humano de proximidade e conhecimento de Deus, o qual se dá de diferentes modos, devido às diferenças humanas. Esta busca de Deus é motivada pela busca de ser feliz e pela busca de solução para problemas e situações diversas de sofrimento, como a doença, o desemprego e a miséria, entre outros. Se, à primeira vista, os dados computados, nesta questão, parecem indicar o predomínio de um olhar negativo sobre a diversidade religiosa em contraste com os dados relativos à atitude de tolerância e aceitação, um olhar mais atento sobre as entrevistas permite uma outra constatação. Em vez de acenar para uma intolerância frente às
outras religiões, as respostas que indicam causas de cunho negativo para a diversidade religiosa mostram que, no acolhimento positivo da pluralidade religiosa expresso na questão anterior, não se trata simplesmente de uma tolerância banal, que admite tudo de maneira acrítica. Em vez disso, circula entre os informantes uma atitude crítica diante do que observam como desvios que circulam entre as religiões, distorcendo o sentido mais originário de sua existência. O predomínio das opiniões que fundamentam a “concepção de verdadeira religião” (tabela 6) na articulação entre “crença e vivência” (35%) sobre as opiniões que fundamentam esta concepção na “doutrina” (31%) também constitui fator significativo, que reforça a abertura inter-religiosa, para pensarmos a abertura, quando associada às opiniões centradas apenas na vivência (16%). Os informantes que integram o primeiro grupo articulam, em suas respostas, a relação pessoal com Deus, na compreensão de que a verdadeira religião se caracteriza pelo “encontro entre Deus e o ser humano”, é “ligação com Deus”, “uma forma de estar com Deus”, “crer em Deus”, “amor a Deus”, “gostar de Deus”, é “busca de Deus no respeito ao próximo”, “é aquela em que se acredita, que traz conforto e respeita nosso anseio”, paz ao coração, espiritualidade, bem-estar. Nas respostas relacionadas ao terceiro grupo, destacam-se afirmações relacionadas com a ética e a prática decorrente da religião como critério, enfatizando a ajuda ao próximo, a coerência entre o que prega e pratica, o cuidado do pobre, um ato de amor, a prática da caridade e a ajuda aos outros. Já no grupo que defende a doutrina como elemento distintivo da verdadeira religião, os argumentos põem em relevo a fidelidade no uso, ensino da Palavra de Deus, do evangelho e da verdade, a obediência aos mandamentos e à pregação de Jesus Cristo. As opiniões que embasam a concepção de verdadeira religião na “crença e vivência” e na “vivência” perfazem um total de 51% das respostas em contraste com 31% de opiniões apoiadas na doutrina. Esses dados fazem crer que a credibilidade inter-religiosa, a construção de relações de respeito mútuo e de 21
apreciação positiva entre as religiões depende predominantemente do testemunho de vida dos membros e grupos das religiões, numa coerência entre crença e vivência. Por outro lado, a leitura sobre a opinião dos informantes quanto à “possibilidade das religiões realizarem trabalhos em conjunto” (tabela 18) permite indicar lugares privilegiados para o diálogo inter-religioso. Constatamos que 60% das respostas admitem a possibilidade de trabalhos conjuntos. Entre estas, destacamos que o trabalho em conjunto não só é possível, mas também importante e necessário “se é para o bem, para melhorar a sociedade” e, especialmente, “ajudar os pobres”. Em função disso, observamos pelas opiniões dos informantes que as questões sociais mais urgentes que preocupam as pessoas, configuram-se como lugares privilegiados nos quais ganha especial sentido e possibilidade o diálogo inter-religioso como aproximação e ação em comum. Os dados relativos à “fidelidade ou pertença e migração religiosa” são significativos para analisar a relação das pessoas e religiões, especialmente no que se refere ao que buscam nas religiões e como se dá esta busca. Tanto do ponto de vista teológico quanto antropológico, as religiões são consideradas “caminhos de salvação”. O conceito de “salvação” é essencialmente contextualizado, adquirindo uma configuração própria de um contexto geográfico, histórico e sociocultural para outro. As repostas dos entrevistados às questões relativas à diversidade religiosa e à concepção de verdadeira religião, juntamente com a “análise das práticas sociais”, indicam que as pessoas procuram nas religiões, principalmente respostas e sentido para questões existenciais e a solução para problemas pessoais concretos. O acento não está principalmente na noção de fidelidade à doutrina, à norma, e sim na relação pessoal e existencial com a religião e com suas crenças e nos
efeitos da religião sobre a vida pessoal. Compreendemos, assim, a significativa incidência de respostas positivas à questão relativa à troca de religião (tabela 16) ou de expressões de uma segunda pertença religiosa (54%), normalmente ocasionada pela insatisfação com a religião anterior. Como já foi visto antes, destacam-se, nesta situação, os afros e umbandistas (A) e os pentecostais e neopentecostais (P). Desse modo, a importância das opiniões de membros dessas mesmas religiões de que um “bom fiel” (tabela 15) se caracteriza pelo “cumprimento dos deveres religiosos” não significa, necessariamente, fidelidade à primeira pertença religiosa. A relevância do caráter pessoal e existencial frente a uma certa fragilidade do aspecto doutrinal na relação das pessoas com as religiões suscita a pergunta pela capacidade de elas responderem e corresponderem às demandas de seus adeptos. Conforme a análise apresentada, as práticas sociais desempenhadas pelas diversas religiões são diversificadas em cada uma delas e cobrem diversos campos das demandas de seus adeptos. Considerando comentário anterior relativo à tabela 16, a religião da qual mais migram fiéis para outras religiões é a religião católica (C), cujos membros se dirigem prioritariamente para o meio religioso afro e umbanda (A) e para as igrejas pentecostais e neopentecostais (P). Podemos inferir deste fato uma dificuldade da igreja católica (C): sintonizar com as demandas pessoais e existenciais de seus adeptos, enquanto esta capacidade parece estar mais presente nas religiões e igrejas que recebem os fiéis que dela se afastam. Considerando que práticas semelhantes são realizadas nas diversas religiões, surge a pergunta pela qualificação e caracterização destas práticas nos diferentes contextos religiosos, as quais tornam-se mais adequadas a expectativas das pessoas em determinados contextos e menos em outros. Essa questão mereceria uma análise para a qual as entrevistas não oferecem elementos.
22
4 Práticas sociais nos locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul
O trabalho de análise de Sapucaia do Sul, em seus princípios religiosos, demonstra uma centralidade em algumas categorias mais freqüentes em relação às práticas sociais levantadas, por meio dos cadastramentos dos locais de cultos religiosos e templos. Constatamos neste município que as práticas sociais mais enfatizadas estão centradas na formação na “doutrina”, na “promoção social” e na categoria “ajuda solidária.” Estes princípios mostram a grande diferença dos demais municípios, alinhando-se a formação religiosa na linha da doutrina e na promoção social da religião. A tendência das práticas sociais, em algumas das religiões, em Sapucaia do Sul, é trazer presente a formação baseada na prática da doutrina. A religião católica (C) resgata, sobretudo, a memória da doutrina social e sacramental da igreja, uma expressão muito marcante nesta realidade pela dedicação e expansão da renovação carismática. Nas religiões afro e de umbanda (A), chama a atenção a ênfase que os seus membros dão à “prática da caridade”. A orientação espiritual também se apresenta mais ressaltada neste meio religioso como expressão de “solidariedade”. Já no meio pentecostal e neopentecostal (P), a orientação espiritual segue os princípios bíblicos. Em geral, no meio religioso de Sapucaia do Sul, aparece, como unanimidade, a prática da “assistência” e da “promoção social”, que são mais enfatizadas no meio religioso católico (C) e no meio pentecostal e neopentecostal (P). Nas religiões afras e de umbanda (A), a tendência é seguir as orientações espirituais e a cura. Assim como as práticas de assistência e promoção social acontecem em todas as religiões, a “ajuda solidária”
também se encontra presente em todos os locais de cultos religiosos e templos. Essa prática também é explicitada no meio pentecostal e neopentecostal (P) e no católico (C). Nas entrevistas complementares, que já foram amplamente comentadas acima, notamos que, acerca da possibilidade sobre a realização de trabalhos conjuntos na sociedade, existe uma certa predisposição, haja vista que buscam uma sociedade mais humana e igualitária, onde seja possível promover ações que induzam ao ideal desejado. Em relação às posturas dadas sobre a “atuação na sociedade” percebemos, nas mesmas entrevistas, algumas variações, interessantes de serem anotadas, entre as religiões. Na religião católica (C), o eixo principal refere-se a “ações coletivas” e de “promoção humana”, que, por sua vez, procuram atingir grupos necessitados da comunidade. Aparecem ações junto a creches, grupos de risco, drogados, etc. O atendimento pessoal é pouco referido, inclusive, observado como uma lacuna dentro desse ambiente religioso. No meio afro e umbanda (A), a atuação refere-se principalmente ao “atendimento pessoal”, conduzido pelas mães-de-santo e líderes da comunidade. Geralmente, este atendimento é de caráter “espiritual” ou de “saúde”. Nas igrejas pentecostais e neopentecostais (P), também, evidencia-se o atendimento de caráter “espiritual” e de “saúde”, fazendo-se um aparte aos programas de atendimento a viciados, drogados e alcoólatras. Indagados sobre o papel da religião na sociedade, os entrevistados reagiram de formas também diferenciadas: no ambiente católico (C), o papel da religião na sociedade encontra respaldo frente às demandas sociais, tais como pobreza,
23
grupos apoio e também, neste aspecto, encontramos indicadores referentes a auxílio individual (espiritual). O meio afro e umbandista (A) aborda o papel de sua religião como relevante, uma vez consubstanciado à ajuda que oferece às pessoas “o encontro destas”, “a espiritualidade”, “a cura”, o “amparo”. Entre os pentecostais e neopentecostais (P), a observação gira, predominantemente, em torno da “obra espiritual e da pregação da palavra de Deus”; esta última é observada como carência do homem. A cura pela palavra, também é recorrente nas observações deste meio. No ambiente do protestantismo histórico (H), a tendência de que a religião exerce um papel importante também é evidente, porém não há um encaminhamento de tendências frente ao número pequeno de informantes. As 151 fichas cadastrais mostram que, entre os diferentes grupos religiosos de Sapucaia do Sul, encontramos citadas 249 práticas sociais, das quais 79, 31,7%, mencionam a formação na prática da doutrina. Em segundo lugar, comparece a assistência e a promoção social, com 71, 28,5%, das práticas, sendo grande parte delas relacionadas aos clubes de mães e aos grupos de jovens. Quanto à categoria “ajuda solidária”, embora esteja mais enfatizada no âmbito afro e umbanda (A), se encontra presente também nas outras religiões, totalizando 36 práticas, ou seja, 14,5% do total identificado. Já a caridade e o atendimento médico, como já foi mencionado, se concentram no meio afro e umbanda (A), com 23 práticas, ou seja, 9,2%. No meio religioso católico (C), apenas algumas dessas práticas são informadas. As de atendimento médico e saúde totalizam 22 práticas, ou seja, 8,8% do total. As orientações espirituais apresentam 18 práticas, o que significa 7,2% do total informado O quadro religioso de Sapucaia do Sul mostra que, mesmo diante de uma prática mais centrada na questão doutrinária, aparece, de forma tímida, uma certa preocupação com as práticas sociais. A expressão “doutrina” se apresenta de maneira mais elevada, sobretudo nos meios pentecostal e neopentecostal (P) e protestante histórico (H), que focam suas energias na categoria “salvar al-
mas para Jesus” ou “ganhar almas para Jesus.” No âmbito religioso católico (C), embora haja uma forte tendência ao carismatismo tradicional da igreja, existe uma significativa responsabilidade com as práticas sociais. De modo geral, percebemos quase uma unanimidade entre as religiões, no que diz respeito à prática da “assistência” e “promoção social”, a formação na “doutrina” e na “ajuda solidária”. Já as práticas sociais voltadas para a dimensão da cura de males físicos, entendida como uma prática dos antepassados, aparecem mais freqüentes no meio afro e umbanda (A). Em média, ocorrem, no município de Sapucaia do Sul, aproximadamente 1,6 práticas sociais por locais de culto e templo, mais precisamente, 1,8. O meio religioso afro e umbanda (A), com 58 locais e 74 práticas sociais, apresenta uma média de 1,3 práticas por local. Seguem os meios religiosos pentecostais e neopentecostais (P), com 46 locais e 81 práticas sociais, com média igual a 1,8, o religioso católico (C), com 29 locais, informando 51 práticas, com uma média de 1,8 e o protestantismo histórico (H), com 9 locais e 26 práticas sociais, e a média igual a 2,6. Já o espiritismo kardecista (K), com 3 locais, apresenta 12 práticas sociais com média igual a 4 por local e as diversas (D), com 5 locais, apresentam 5 práticas sociais e média igual a 1. Notamos que a média de práticas por local de culto, de certa forma, inverte a ordem anterior, ou seja, neste caso, aparece, em primeiro lugar, o meio kardecista, com média de 4 práticas por local e, em segundo lugar, o protestantismo histórico (H), com 2,6 práticas por local. Chama a atenção a similitude do número de práticas sociais existente no meio religioso afro e umbanda (A) e no pentecostal e neopentecostal (P), apesar da grande diferença de atuação religiosa registrada por ambos os grupos. Enquanto os africanistas e os umbandistas buscam acolher a todos sem distinção de credo, os pentecostais e neopentecostais demonstram sua acolhida mediante a conversão. Já o meio religioso católico (C), em Sapucaia do Sul, se diferencia das demais cidades da região por 24
apresentar tão somente três paróquias: duas se localizam nas periferias do município e uma, no centro. As paróquias da periferia estão, de certa forma, mais envolvidas nas problemáticas da questão social, enquanto a central se direciona para uma prática religiosa mais baseada na doutrina sacramental da Igreja, onde aparece, sobretudo, um maior de número de práticas sociais relacionadas à bênção da saúde. A religião afro e umbanda (A) diferencia-se no enfoque fortemente centrado na “prática da caridade”, algo que já se apresenta conceitualmente modificado em algumas religiões.
Outro aspecto que se destaca nos levantamentos dos cadastros deste município, são os números de locais de cultos religiosos afros e de umbanda (A) bastante abrangentes, o que não expressa uma maior freqüência. Embora haja um número menor de locais católicos (C), o número de freqüência aparece de maneira significativa. Isso se deve, ainda, à forma de estrutura organizacional bem avantajada em relação às estruturas dos locais de cultos afros e de umbanda (A), que se apresentam de forma muito precária. Contudo, constatamos um certo equilíbrio existente em ambas as religiões em relação às práticas de “assistência” e “promoção social”, à prática na formação da “doutrina” e à da “ajuda solidária”. (Tabela 20).
Tabela 20 – Práticas sociais vinculadas a locais de culto religioso e templos em Sapucaia do Sul Número de práticas por religiões Prática social
A
K
C
P
H
D
Total
Assistência e promoção social
11
08
25
21
06
-
71
Doutrina
08
02
06
39
19
05
79
-
-
07
11
-
-
18
Ajuda
15
02
08
10
01
-
36
Caridade
23
-
-
-
-
-
23
Saúde e atendimento médico
17
-
05
-
-
-
22
Total de práticas
74
12
51
81
26
05
249
Orientação espiritual
Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.
25
5. Os locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul no contexto do “mundo das religiões” de seis municípios da Região
O objetivo das tabelas que seguem é o de disponibilizar, de forma agregada, as informações sobre o número de locais de culto religioso e templos, período de fundação e freqüências semanais a atos religiosos em municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, à medida que elas são geradas. Essas tabelas passam a ser atualizadas com a inclusão de mais um município que acabamos de analisar, Sapucaia do Sul. Normalmente, levantamos um município por ano. O de Sapucaia foi contemplado com a reelaboração dos cadastramentos, já que foi um dos primeiros em que se iniciou o cadastro, já em meados dos anos 90. Há, em termos gerais, uma variação na época da coleta de dados nos municípios aqui em estudo, por isso as comparações devem levar em conta os pequenos descompassos diferenciais nos anos de registro dos dados, que se estendem basicamente de meados da década de 1990 até hoje. As informações coletadas em algumas cidades são recentes, enquanto as de outras foram reunidas já há mais tempo. A variação nos anos dos levantamentos tende a comprometer, particularmente, o número de locais e a comparação das informações entre as cidades, devido ao movimen-
to entre os locais que sugiram posteriormente e os locais que devem ter sido fechados neste meio de tempo. Contudo, em termos comparativos e as tendências que se explicitam neste sentido, nos quadros resultantes, permitem novas elaborações de hipóteses sobre a realidade religiosa dos municípios investigados, apontando, inclusive, para interessantes extrapolações possíveis para outros contextos semelhantes. A distribuição do número de locais de culto religioso e templos por religião mostra que, numericamente, predominam as religiões pentecostais e neopentecostais (P), com 435 locais, e as afro e de umbanda (A), com 442 locais. Em seguida, vem a religião católica (C), com 251 locais. Logo após, temos a protestante histórica (H), com 102 locais, e a kardecista (K), apresentando-se com 47 locais. Por fim, as diversas (D), somando um total de 50 locais ao todo. Os cadastramentos realizados nos seis municípios, ao longo dos últimos dez anos, somam um total de 1327 locais de culto religioso e templos. Trata-se dos municípios de Cachoeirinha, Esteio, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Canoas e Sapucaia do Sul, nesta ordem.
26
Tabela 21 – Número de locais de culto religioso e templos, segundo a religião, em seis municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, 2004 Município Cachoeirinha
Canoas
Esteio
São Leopoldo
Novo Hamburgo
Sapucaia do Sul
Total
Religião Afro e Umbanda (A)
56
131
55
101
41
58
442
Esp. Kardecista (K)
6
8
9
17
4
3
47
Católica (ICAR) (C)
14
54
44
65
45
29
251
Pent. e Neopent.(P)
73
65
18
136
97
46
435
Prot.Históricas (H)
12
13
4
28
35
10
102
4
4
4
17
16
5
50
165
275
134
364
238
151
1.327
Diversas (D) Total
Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados no período de 1994-2004).
No que se refere ao período de fundação dos locais de culto religioso e templos, Sapucaia do Sul segue a tendência já manifestada pelos demais municípios até este momento analisados. A gran-
de parte desses locais foi criada nos anos 1980 e depois, com exceção da Igreja Católica, cuja maioria foi fundada antes de 1990. (Tabela 22).
Tabela 22 – Distribuição dos locais de culto religioso e templos, segundo o ano de fundação, por religião, em seis municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, 2004 Municípios
Relig.
Cachoeirinha (Ano)
Canoas (Ano)
Esteio (Ano)
N.Hamb. (Ano)
S. Leopoldo (Ano)
Sapucaia do Sul (Ano)
Total (ano)
1980 a 1990 e 1980 a 1990 e 1980 a 1990 e 1980 a 1990 e 1980 e 1990 e 1980 a 1990 e 1980 a 1990 e 1989 dep. 1989 dep. 1989 dep. 1989 dep. 1989 dep. 1989 dep. 1989 dep.
A
7
32
36
63
11
21
5
25
36
28
23
19
118
188
K
1
3
0
2
1
1
2
1
5
2
0
0
9
9
C
7
2
24
11
9
4
12
11
22
21
7
11
81
60
P
13
45
15
37
11
37
23
67
36
71
11
22
109
279
H
3
5
3
3
2
0
3
8
7
13
5
2
23
31
D
1
1
1
2
0
1
2
10
5
6
2
2
11
22
Total 32 88 79 118 34 64 47 122 111 141 48 56 351 589 Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados no período de 1994-2004).
Quanto à freqüência a cultos e atos religiosos, Sapucaia do Sul também segue a tendência geral dos demais municípios da região já cadastrados. Em Sapucaia do Sul, existe um número expressivo de locais de culto religioso e templos afro e de
umbanda (A). Já o meio religioso católico (C) destaca-se pelo maior número de freqüências semanais, comparativamente ao movimento das demais religiões no município. A exemplo do que acontece com o Santuário Sagrado Coração, jun27
to ao túmulo do Padre Reus, em São Leopoldo, em Sapucaia do Sul, existe uma relativa concentração das freqüências católicas na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada no centro, onde, normalmente, são realizadas duas celebrações especiais que contam com uma participação muito significativa de adeptos, que se deslocam de várias paróquias e municípios vizinhos. Essas celebrações são mobilizadas pelas bênçãos da saúde e outras práticas muito procuradas, com forte conteúdo e metodologia pastoral, orientada
pela renovação carismática da Igreja. Em Sapucaia do Sul, assim como em São Leopoldo, mesmo que existam esses pólos atrativos especiais, as freqüências católicas ficam em termos relativos muito aquém das de Canoas, que, neste particular, lidera os demais municípios com um maior índice de freqüências católicas semanais em atos religiosos, 48%. O índice de Sapucaia do Sul, onde 47% do total de freqüências religiosas semanais são do meio católico, é próximo. (Tabela 23).
Tabela 23 – Freqüência semanal a atos religiosos (cultos, missas, sessões...), segundo religiões, em municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, 2004 Municípios Cachoeirinha Canoas Esteio São Leopoldo Novo Hamburgo Sapucaia do Sul Religião Afro e Umbanda (A)
4%
13%
11%
12%
4%
14%
Esp. Kardecista (K)
3%
2%
5%
6%
1%
1%
Católica (ICAR) (C)
32%
48%
30%
26%
26%
47%
Pent. e Neopentec.(P)
48%
30%
45%
45%
51%
32%
Protest. Históricas (H)
10%
6%
7%
5%
13%
4%
2%
1%
3%
6%
4%
2%
53.413
68.802
29.047
Diversas (D) Total de freqüências semanais
36.162
88.212 31.031
Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados no período de 1994 a 2004).
Por outro lado, observamos também que o meio religioso pentecostal e neopentecostal (P), aparece com freqüência elevada em todos os municípios até agora estudados. Na cidade de Novo Hamburgo, por exemplo, onde se localiza o centro da diocese católica, nos meios religiosos pentecostais e neopentecostais (P), o número de fre-
qüências chega a 51,6%, distanciando-se das freqüências do meio religioso católico (C), com 26,2%. Em números absolutos no que diz respeito às freqüências semanais, temos um quadro comparativo (tabela 24) muito estimulante em termos de questionamentos e hipóteses possíveis.
28
Tabela 24 – Distribuição da freqüência semanal a atos religiosos, segundo a religião, em seis municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, 2004 Município Cachoeirinha Canoas
Esteio
Nº
Nº
Nº
Nº
N°
Nº
Afro e Umbanda (A)
1.519
11.444
3.534
2.682
6.262
3.974
Esp. Kardecista (K)
1.230
1.737
1.457
588
2.944
404
Católica (ICAR) (C)
11.536
42.509
9.331
18.036
14.129
1.3743
Pent. e Neopentec.(P)
17.502
26.342
13.857
35.501
23.870
9.225
Protest. Históricas (H)
3.688
5.320
2.046
9.228
2.890
1.147
687
860
806
2.767
3.318
554
36.162
88.212
31.031
68.802
53.413
29.047
Religião
Diversas (D) Total de freqüências semanais
Novo Hamburgo São Leopoldo Sapucaia do Sul
Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados no período de 1994 a 2004).
A freqüência semanal a atos religiosos (cultos, missas, sessões...), conforme o número de população existente em cada município, apresenta uma distribuição bastante repetida entre os seis municípios analisados. Sapucaia do Sul não é exceção e, apesar de colocar-se um pouco abaixo
(tabela 25) dos demais municípios em termos de percentual de freqüência semanal, aproxima-se, no perfil geral de distribuição interna entre as religiões, deles, em especial do município de Canoas. (Tabela 23).
Tabela 25 – Percentual total de freqüências semanais a atos religiosos (cultos, missas, sessões...), segundo religiões, em relação à população existente em seis municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, 2004 Município Cachoeirinha Canoas
Esteio São Leopoldo Novo Hamburgo Sapucaia do Sul
Total
População População Total
107.000
306.000 80.000
193.403
236.193
127.751
1.050347
Freqüências semanais
36.162
88.212 31.031
53.413
68.802
29.047
306.667
Percentual de freqüência
34 %
29 %
28 %
29 %
23%
29%
39 %
Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004.
Se voltarmos o nosso olhar para as freqüências semanais nos municípios analisados, temos o quadro descrito a seguir. Iniciando pelo município de menor número de habitantes, Esteio, que, com uma população de 80.000 habitantes, conta com 31.031 freqüências semanais, ou seja, um número correspondente a 39% da população. Esteio diferencia-se, nesse sentido, dos demais municípios estudados. O outro município que mais se aproxima dessa performance é Cachoeiri-
nha, que tem uma população de 107.000 habitantes e apresenta um número de 36.162, correspondente a 34%. Já Novo Hamburgo, com 236.193 habitantes, somando um total de 68.802 freqüências semanais, se alinha com o percentual médio das freqüências nos municípios estudados, isto é, 29%. Este percentual é também seguido de perto por Canoas e São Leopoldo. Já comentamos acima como Sapucaia do Sul, onde o número de freqüências semanais corresponde a 23 % da popu-
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lação, se destaca negativamente, quanto a este percentual. Em linhas gerais, observamos que as religiões estão fortemente presentes em todos os seis municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre até aqui estudados. Como vimos, as freqüências tendem a ser mais elevadas em alguns municípios e menos elevadas em outros, mas isso pode ser relativizado em parte. O que, no entanto, não pode ser descurado é o fato de que, em torno de 25 a 35% da população, freqüenta alguma atividade de celebração coletiva da fé ao longo de uma semana. Numa visão geral, evidenciamos a predominância de presença da religião católica (C), com um alto índice de freqüências marcantes em todos os seis municípios aqui apresentados. Embora haja um número limitado de locais, esta religião cultiva forte presença, de uma forma destacada, em dois municípios: Canoas, com 48% do total de freqüências e Sapucaia do Sul, com 47% do total de freqüências. Há quem avente a hipótese de que este bom desempenho católico nos dois municípios se deva, de um lado, à forte tradição das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base
em Canoas e, de outro lado, o forte movimento da Renovação Carismática, e, sobretudo, as celebrações especiais na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Sapucaia do Sul. Ao lado do impacto das freqüências católicas (C), observamos, fortemente, o grande número, repetido em todos os municípios, da freqüência pentecostal e neopentecostal (P). Destaca-se aqui, Novo Hamburgo, com 51% da presença e freqüência deste meio religioso (P) e também Cachoeirinha, com 48% de freqüências e de locais de culto religioso cadastrados. Por fim, não podemos deixar de sinalizar algo que chamou a atenção na tabela 23, em relação à freqüência e presença do meio afro e umbanda (A), registrando 14% do total das freqüências semanais em Sapucaia do Sul. É um pequeno diferencial em relação aos demais municípios estudados. Também neste aspecto, o campo religioso de Sapucaia do Sul está mais próximo do de Canoas do que dos outros municípios em questão. É bastante curioso que os dois municípios que têm a maior freqüência relativa católica (C), também apresentem uma destacada freqüência relativa afro e umbandista (A).
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