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Na fragilidade de Deus a esperança das vítimas. Um estudo da cristologia de Jon Sobrino Ana María Formoso


UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Vice-reitor Aloysio Bohnen, SJ

Instituto Humanitas Unisinos Diretor Inácio Neutzling, SJ

Conselho editorial MS Ana Maria Formoso – Unisinos

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Cadernos Teologia Pública Ano IV – Nº 29 – 2007 ISSN 1807-0590

Responsável técnica Cleusa Maria Andreatta Revisão André Dick Secretaria Camila Padilha da Silva Editoração eletrônica Rafael Tarcísio Forneck Impressão Impressos Portão

Editor Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos

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Cadernos Teologia Pública A publicação dos Cadernos Teologia Pública, sob a responsabilidade do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, quer ser uma contribuição para a relevância pública da teologia na universidade e na sociedade. A teologia pública pretende articular a reflexão teológica em diálogo com as ciências, culturas e religiões de modo interdisciplinar e transdisciplinar. Busca-se, assim, a participação ativa nos

debates que se desdobram na esfera pública da sociedade. Os desafios da vida social, política, econômica e cultural da sociedade, hoje, especialmente, a exclusão socioeconômica de imensas camadas da população, no diálogo com as diferentes concepções de mundo e as religiões, constituem o horizonte da teologia pública. Os Cadernos de Teologia Pública se inscrevem nesta perspectiva.



Na fragilidade de Deus a esperança das vítimas. Um estudo da cristologia de Jon Sobrino

Ana María Formoso

Introdução O contexto cultural apresenta a riqueza da pluralidade das diferentes expressões teológicas. Neste amplo guarda-chuva de teologias, vamos apontar algumas balizas que possibilitem relacionar o Mistério da Vida, da Ressurreição, desde o sofrimento cotidiano de milhões de irmãos e irmãs. Na América Latina, a cruz tem sido tradicionalmente a festa do povo. Sexta-feira Santa é a festa que mais convoca e reúne multidões. Por que a cruz tem tanta atração e a ressurreição parece um anexo, um pouco abstrato, genérico? Esta inquietação pessoal levou-me a encontrar eco na proposta de Jon Sobrino, quando ele

aborda esta realidade da Vida, da Ressurreição de Jesus desde um contexto determinado. O contexto não é uma parte do método nem um lugar categorial e sim um dado substancial. Esta compreensão é importante para evitar um enquadramento reducionista da proposta teológica e para descobrir a passagem do particular para o universal. Aqui não é o espaço para deter-nos no embasamento filosófico que focaliza este método. Esta abordagem parte de um pressuposto: Jesus é O Filho de Deus, e Ele nos desafia a entrar na história que se contextualiza no cotidiano e nos faz refletir sobre a seguinte questão: como se vivencia e como se revela, num contexto de injustiça, a Ressurreição? É uma reflexão profunda que o Autor nos abre, para balbuciar o


Mistério que continua comunicando-se desde o substancial a todos/as. Primeiramente, neste artigo, questiona-se sobre uma afirmação: o ressuscitado é o crucificado. A teologia latino-americana de Sobrino perpassa nossa leitura, ajudando uma contextualização de experiências análogas de Ressurreição desde a situação de injustiça. Logo, com delicadeza, entra-se no Mistério da Cruz, no qual a fragilidade de Deus torna-se central para compreender a ressurreição dos que sofrem a injustiça e, finalmente, mergulhamos na dimensão escatológica-histórica da ressurreição.

O Ressuscitado é o Crucificado Para a maioria das pessoas esta afirmação se converte rapidamente em uma pergunta. O Ressuscitado é o Crucificado, e daí? Podemos simplificar perguntando-nos: que novidade nos traz a Ressurreição de Jesus, e o que 1

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ela tem a ver conosco, com o mundo em que vivo, com o cosmo. A complexidade da Ressurreição de Jesus nos permite apenas balbuciar algo deste Mistério, pois estamos diante de um mistério que continua se revelando, diante de uma ação vivificante e não de um acontecimento fechado. Alguns preferem falar de ressuscitação para indicar esse dinamismo de vida que continua manifestando-se. Por que não utilizar também esta metáfora? Além dos problemas da diversidade de expressões (ressurreição, exaltação, vida, está vivo...) e da manifestação dos diferentes contextos históricos, bem como de uma realidade que não é conhecida diretamente, falar da Ressurreição de Jesus traz consigo o desafio da hermenêutica1 (interpretação). É um acontecimento escatológico, ou seja, é a aparição na história da realidade final, o futuro na história. Por esta razão, é fundamental levantar a questão hermenêutica diante desse acontecimento concreto, que não é só do passado, mas também é escatológico. Esta constatação já é uma forma de introduzir-nos

Hermenêutica (del griego hermeneuein = explicar, interpretar) é a ciência dos princípios que são válidos para a interpretação de uma afirmação. Cf. RANHER, K; VORGRIMLER, H. Diccionario Teológico, 1966, p. 295. O filósofo Gadamer considera a hermenêutica como a “arte de compreender”. Para ele, a hermenêutica interpreta textos e também os relacionamentos humanos. Extrai significado das palavras e das experiências que são textos de vida. Cf. GADAMER, H. L’Art de Comprendre – II. 1991, p. 57. Este filósofo não é citado por Jon Sobrino explicitamente, mas a compreensão hermenêutica do autor se encontra muito próxima da de Sobrino.


na mensagem da Ressurreição, à maneira de teologia negativa: a impossibilidade de encontrar uma linguagem adequada exige também a disponibilidade para um certo não-saber necessário para se saber do mistério último e daquilo que a Ressurreição tem de participação nele.2 A linguagem, para explicitar a Ressurreição de Jesus, formula-se desde um determinado horizonte hermenêutico e, aí, surge a variedade de linguagem. Por exemplo, no Novo Testamento, para expressar o triunfo da vitória final, existem várias expressões, e a Ressurreição é uma delas. Apresentam-se muitos caminhos para uma abordagem da Ressurreição de Jesus. Dentro dessa riqueza cultural, vamos refletir neste artigo sobre o pensamento de Jon Sobrino, que hoje continua falando de um horizonte determinado para captar a Ressurreição e celebrá-la! O Novo Testamento relaciona a Ressurreição com dimensões antropológicas fundamentais. Sobrino, para explicitá-las, segue as perguntas de Kant: “o que posso saber”; “o que devo fazer”; “o que me é lícito esperar”?. No seu último livro, A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir

das vítimas, acrescenta outra pergunta que considera importante nesta abordagem: “O que podemos celebrar na história?”.3 Coloca a celebração como dimensão importante das pessoas e da compreensão da realidade latino-americana, a partir da qual se pergunta pelo significado da Ressurreição. No artigo, sublinham-se alguns tópicos da pergunta “Que podemos esperar?”, que está relacionada com o pressuposto antropológico de uma esperança determinada e que, finalmente, implica anunciar que o Ressuscitado é o Crucificado.

1 Justiça e Ressurreição O lugar privilegiado para compreender a Ressurreição, segundo Jon Sobrino, é a luta pelos injustiçados do mundo. Por isso, ela é uma esperança determinada, situada desde a realidade de injustiça. A Ressurreição é “uma realidade-limite que não se deixa conhecer diretamente, mas só a partir de uma perspectiva concreta”.4

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SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 37.

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“Captar a Ressurreição é algo que transcende ao julgamento histórico. O histórico da Ressurreição de Jesus se capta observando-o sob a categoria de promessa que se abre ao futuro”. In: SOBRINO, J. Cristologia a partir da América Latina, 1983, p. 262-263. Cf. TORRES, S. “El concepto de Historia en Jon Sobrino”. Inter Cambio, Tübingen, n. 91/92, 1991/1992, p. 90-105. SOBRINO, J. Jesus, o Libertador, 1994, p. 72.

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A Ressurreição5 não é a revivificação de um cadáver, como se costuma ver nos filmes, nem meramente um milagre de Deus, mas o acontecimento revelador de Deus. Então, a linguagem sobre a Ressurreição e a hermenêutica (interpretação) da Ressurreição têm, essencialmente, a mesma estrutura problemática que o conhecimento de Deus. Ou seja, não pressupomos já saber quem é Deus para, a partir daí, entender a Ressurreição, mas ao contrário: sabemos quem é Deus a partir da cruz e da Ressurreição de Jesus.6 1.1 Esperança no contexto bíblico: que podemos esperar?

Não parece exagero afirmar que em todo o Antigo Testamento se respira uma atmosfera de esperança, mas é também verdade que o hebreu não parece ter palavra que corresponda exatamente à “esperança”, nem um

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conceito de esperança no sentido de “desejo acompanhado de expectativa”. As palavras que mais freqüentemente expressam esperança são qauah (“esperar”) e batah (“confiar ou ter confiança”). Como conceito religioso, a esperança repousa inteiramente em Iahwev, “esperança de Israel” (Jr 14,8; 17,13).7 Trata-se de uma esperança determinada, não genérica. A esperança na Ressurreição não é, em Israel, um símbolo antropológico, nem apenas soteriológico; não faz referência à vida perpétua nem à felicidade; tem um significado teológico para expressar a fé no triunfo da justiça de Deus no fim da história. Não é o anelo de uma vida perpétua, mas a sede de justiça.8 Desde a origem da formulação da esperança em Israel, existe uma relação entre sede de justiça e ressurreição, uma relação que vai se explicitando ao longo da história desse povo.

A Ressurreição possui o significado de um protesto contra a justiça e o direito pelos quais Cristo foi condenado. É um protesto contra o sentido meramente imanente deste mundo [...], é matriz de esperança libertadora que ultrapassa esse mundo dominado pelo espectro de morte. Cf. BOFF, L. Paixão de Cristo, paixão do mundo, 1997, p. 86. SOBRINO, J. Cristologia a partir da América Latina, 1983, p. 250. Cf. MCKENZIE, J. Esperança. In: Dicionário Bíblico, 1984, p. 301-302. Cf. BROWN, C. Esperança. In: COENEN, L; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, 1998, p. 183-209. Cf. MOLTMANN, J. O caminho de Jesus Cristo: Cristologia em dimensões messiânicas, 1997, p. 306. Cf. KESSLER, H., La resurrección de Jesús: aspecto bíblico, teológico y sistemático, 1989, p. 31-32.


1.2 Esperança a partir da parcialidade libertadora de Deus no Antigo Testamento

1.3 Esperança a partir da parcialidade libertadora de Deus no Novo Testamento11

Na tradição javista, encontramos: “Vi a opressão do meu povo no Egito, e ouvi o clamor contra os opressores, prestei atenção a seus sofrimentos. E desci para libertá-lo da mão dos egípcios, para tirá-los desta terra e levá-los a uma terra fértil e espaçosa...” (Ex 3, 7s). E na tradição eloísta se diz: “A queixa dos israelitas chegou até mim e vi como os egípcios os tiranizam. Agora, vai, pois te envio ao Faraó, para que tires do Egito o meu povo, os israelitas”.9 A constatação principal é que essa ação de Deus é uma reação. Não é que Deus tenha decidido manifestar-se simplesmente nem que tenha usado a opressão do povo como ocasião para sua manifestação. Esta supõe algo prévio: que Deus reage à aflição, aos clamores, aos sofrimentos, à opressão do povo. A revelação de Deus é, então, reação ao sofrimento que algumas pessoas infligem a outras: reação ao sofrimento das vítimas.10

Jon Sobrino considera que o motivo da ação de Deus no relato do Êxodo ajuda a compreender o porquê de sua ação ressuscitadora no Novo Testamento. A Ressurreição de Jesus, como ação fundante do Novo Testamento, é também uma ação libertadora: faz justiça a uma vítima. O certo é que logo se universalizou o acontecido a Jesus, de modo que a cruz e a Ressurreição começaram a operar como símbolos universais e inseparáveis do destino de seus seguidores e, por extensão, de todo ser humano: a cruz como expressão de caducidade humana, e mesmo de escravidão à morte, e a Ressurreição como resposta ao anseio de imortalidade. Assim, o poder ressuscitador de Deus foi apresentado como garantia dessa esperança além da morte. Tudo isso é legítimo, mas a precipitação é também perigosa. Por isso, é preciso voltar ao concreto da ação de Deus para apreender o que ela revela de Deus, e para identifi-

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SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 131.

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Ibidem. p. 131-132. Cf. MCKENZIE, J. Esperança. In: Dicionário Bíblico, 1984, p. 302; Cf. “[...] la visión profunda de San Pablo ha descubierto el núcleo de la esperanza cristiana en la entrega total de la confianza del hombre pecador al Dios del amor y del perdón en Cristo, renunciando radicalmente a toda autosuficiencia”. In: ALFARO, J. Esperanza cristiana y liberación del hombre, 1975, p. 40-41.

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car que é o ser humano que é ressuscitado, sem admiti-lo como suposto.12 O específico da Ressurreição de Jesus não é, pois, aquilo que Deus faz com um cadáver, mas aquilo que faz com uma vítima. A Ressurreição mostra, diretamente, o triunfo da justiça de Deus, não simplesmente sua onipotência. Sobrino faz esta constatação nos Atos dos Apóstolos, nos seis discursos programáticos do livro dos Atos: Vós o matastes pregando-o numa cruz [...] Deus o ressuscitou livrando-o das dores do Hades, pois não era possível que ficasse sob seu domínio” (2, 23s). “Vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que fosse agraciado um assassino, enquanto matastes o Senhor da Vida. Deus, porém, o ressuscitou dos mortos” (3, 14). “Jesus de Nazaré, a quem crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos” (4, 10). “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus que matastes pendurando-o num madeiro” (5, 30s). “Aquele que mataram pendurando-o num madeiro, Deus o ressuscitou ao terceiro dia” (10, 39s). “Pediram a Pilatos que o condenasse à morte [...], mas Deus o ressuscitou dos mortos” (13, 28.30).13

Sobrino faz referência a uma esperança que precisa ser refeita, que não é qualquer esperança,14 mas a esperança no poder de Deus contra a injustiça que produz vítimas. A novidade, o escândalo da mensagem cristã da Páscoa, não é que Deus tenha ressuscitado a seu Filho antes de todos os demais, mas que tenha ressuscitado a quem sofreu injustiça e confiou em Deus! Deus o ressuscitou! Sobrino considera este o lugar universal da esperança. Ele toma uma posição de compromisso ativo contra o mysterium iniquitatis que atua no mundo porque acredita que, na história, é preciso que existam experiências de triunfo, de vitória a celebrar. Insiste em viver com esta esperança para poder hoje viver já como ressuscitados.15 Pode-se afirmar que esta esperança é condição, pressuposto para poder viver por analogia uma experiência de Ressurreição. Sobrino sublinha que o ressuscitado não é um fantasma, uma alma, ou um puro espírito que já não tivesse mais nada a ver com este mundo. Vai contra uma possí-

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SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 133.

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Ibidem, p. 135. “A esperança transcendental do ser humano é condição necessária, não porém suficiente, para compreender a Ressurreição de Jesus”. Cf. SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 74. Ibidem, p. 70-71. 119.

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vel concepção abstrata,16 aistórica, de uma Ressurreição arbitrária e afirma: “Ainda que a fé em Cristo surja logicamente e cronologicamente com sua Ressurreição, o ponto de partida para compreendê-la reside na cruz de Jesus, o que nos remete ao Jesus histórico”.17

2 O Espírito da vida e da cruz de Jesus Toda a vida de Jesus precisa ser vista na sua totalidade e na estreita relação de atividade e espírito, os quais precisam andar juntos, para evitar tanto o puro ativismo quanto o puro espiritualismo. Um risco que se apresenta é olhar o valor salvífico da cruz desconectado da história pessoal do homem Jesus, dos fatos que ocasionaram a morte, pois com isto se criaria uma paixão supra-histórica de atores e uma Ressurreição mágica que não tem incidência na história. 16 17

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2.1 O silêncio de Deus

Qual é a relação entre Jesus e Deus na cruz? Qual Deus se revela na cruz? “Se o Filho inocente morre, quem é Deus”? Na cruz de Jesus apareceu, num primeiro momento, a impotência de Deus. Essa impotência, por si mesma, não causa esperança, mas torna crível o poder de Deus que se mostrará na Ressurreição. “Se Deus esteve na cruz de Jesus, se compartilhou desse modo os horrores da história, então sua ação na Ressurreição é crível, ao menos para os crucificados.”18 Na cruz, Jesus sente o abandono daquele Deus a quem Ele se dizia unido.19 “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?” Não é aparente o grito de abandono; onde antes houvera louvor e confiança, agora há somente silêncio. A impotência específica de Deus é expressão da sua absoluta proximidade das vítimas e de querer compartilhar até o fim o destino delas. Se Deus esteve na cruz

Cf. SOBRINO, J. Jesus, o Libertador, 1994, p. 31-34. “O histórico de Jesus não significa, então, dum ponto de vista formal, aquilo que é simplesmente datável no espaço e no tempo, mas o que nos é transmitido como encargo para continuar a ser transmitido. Isto supõe considerar os textos do Novo Testamento em geral e dos evangelhos em particular como relatos publicados para manter viva ao longo da história uma realidade desencadeada por Jesus”. Cf. SOBRINO, J. Jesus, o Libertador, 1994, p. 83-84. SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 140. SOBRINO, J. Cristologia a partir da América Latina, 1983, p. 200.

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de Jesus e compartilhou, deste modo, os horrores da história, é sinal de que se consumou sua proximidade conosco, iniciada na encarnação, anunciada e feita presente por Jesus durante sua vida terrena. Essa solidariedade profunda nos fala de proximidade, de um silêncio que acolhe até a última gota de sofrimento, de extrema compaixão. O que se debate, no fundo, é uma concepção de Deus: a morte de Jesus afetou o próprio Deus? Mas esta pergunta ficou muitas vezes diluída pela ênfase que o Novo Testamento confere à sotereologia da cruz (por exemplo: 2 Cor 5, 19), desviando a atenção do próprio Deus. Afirma-se que Deus nos amou, mas não se diz como o próprio Deus nos amou e libertou. Esta distinção não é supérflua, pois o que aqui está em jogo é o tipo de solidariedade que Deus possui com as pessoas; se esta solidariedade de Deus deve passar pela cruz em presença das cruzes históricas, ou se, no fundo, Deus mesmo per20 21 22

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manece intocado pela cruz histórica, por ser ele, por essência, intocável.20 Sobrino diz que “Deus sofre na cruz de Jesus e nas vítimas deste mundo ao ser testemunha in-ativa e silenciosa destas”.21 Pensar no sofrimento de Deus é loucura para gregos e judeus. É uma loucura para nossa mentalidade, tão influenciada pela filosofia grega,22 pensar no sofrimento de Deus. O sofrimento parece próprio da natureza das criaturas finitas, mortais, efêmeras, mas não da divindade. Diante da dor, o Filho, sentindo-se abandonado pelo Pai, doa-se novamente a Ele com um ato de amor infinito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). E Deus está com Jesus no sofrimento; Deus não é impassível; misteriosamente, ele sofre pelo homem e com o homem. “Deus Pai sofre uma paixão de amor.”23 Sobrino, utilizando a expressão de Moltmann, lembra que “o Deus crucificado não é uma realidade que pode abordar-se com um conceito teórico, mas com um

Cf. Ibidem, p. 201-202. “Na cruz de Jesus apareceu num primeiro momento a impotência de Deus”. Cf. SOBRINO, J. Jesús en América Latina, 1982, p. 222. Muitas vezes se apresenta um Deus “impassível” sem lágrimas, que não se deixa tocar pelo sofrimento. Um Deus todo-poderoso, imortal, forte, mais estável e inamovível que as montanhas. “Há sofrimento da compaixão: do amor do amante que sofre o sofrimento do amado, que assume para si o sofrimento do outro, que, de certa forma, absorve, encarrega-se do amado que está sofrendo. É o sofrimento que se solidariza, que não deixa a outro naquilo que o sofrimento tem de pior, a solidão. E, dessa forma, transfere para si a carga do outro, transferindo para o outro a sua energia, a sua vida”. SUSIN, L. C. Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, 2003, p. 67. Cf. Encíclica Dominum et Vivificantem, n. 39.

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conceito práxico. Indagamos a nós mesmos: como falar ainda de Deus depois de injustiças como, por exemplo, as de Auschwitz?”.24 2.2 Justiça de Deus

O Pai ressuscita seu Filho desde dentro, desde a escuta do grito, desde a dor da solidão, sofrendo o sofrimento do outro,25 e o amor se abre para abraçar e curar o sofrimento de todo o mundo. É próprio de Deus o sofrimento de compaixão que se manifesta no dom do amor fazendo justiça: ressuscitando ao Crucificado, e comunicando-nos seu Espírito. Abriu-se a possibilidade26 da justiça para os injustiçados, os crucificados. Quem ressuscita Jesus dentre os mortos é o Pai (cf. Rm 4, 24), que, na cruz, “assumiu os abismos da iniqüidade da história”, e o Deus próximo aos homens e mulheres em Jesus “se faz interior a eles, pessoal e social-

mente, no Espírito”, dando nova vida e reunindo “um novo povo de seguidores de Jesus”. Assim, o Deus que estava na cruz está na Ressurreição, não apenas passivamente, mas também agindo na Ressurreição do Filho. O mesmo Filho que se encarnou teve uma história, foi crucificado e morto. Este mesmo Filho ressuscita. Tal afirmação tem relevância: afirma que o Crucificado foi ressuscitado e fala da permanência de relação entre Pai, Filho e Espírito em Jesus. É o que está ao menos implícito na afirmação do querigma primitivo, lembrado por Sobrino, de que o Pai aprovou Jesus. Aprovar, neste caso, mais do que um ato jurídico, é fidelidade e permanência. Deus ressuscitou a Jesus, e Jesus comunica o Espírito: “Recebei o Espírito Santo”. Sem a Ressurreição, a fé na presença de Deus na cruz seria impossível. Ainda que, para Sobrino, a cruz não seja o todo da revelação de Deus, mas “um momen-

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SOBRINO, J. Jesus, o Libertador, 1994, p. 287.

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Muitas vezes, os cristãos fazem aquilo que Gutiérrez qualifica como “a linguagem dos amigos de Jó: ‘Consoladores inoportunos’ que preferem ‘defender’ a Deus a solidarizar-se com os irmãos sofredores, mas que, no fim das contas, acabam defendendo ou justificando a si mesmos e a seus sistemas culturais, políticos, religiosos...” In: GUTIÉRREZ, G. Hablar de Dios desde el sufrimiento del inocente: una reflexión sobre el libro de Job, 1986. Jon Sobrino se refere à possibilidade, deixando claro que a nova criação não está acabada e, dito teologicamente, a criação de Deus está ameaçada pela violência, pobreza, injustiça etc. Reconhecer a realidade do pecado é uma forma correta de abordagem da realidade, pois esta não é simplesmente natural, mas histórica por causa da ação de alguns homens contra outros. Ter esta orientação em conta na leitura da realidade é importante para que a Ressurreição de Jesus não seja vista como espiritualizada ou dada como um fato fechado, uma redenção “acabada”. Cf. SOBRINO, J. Espiritualidade da Libertação, 1992, p. 23-34.

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to” e um momento fundamental, cujo significado maior vem aclarado, na experiência histórica de Sobrino, pela realidade latino-americana,27 fica claro que a fé na presença de Deus na cruz, o crer que o Crucificado seja o Filho de Deus, concede à Ressurreição um caráter diferente: não se trata de qualquer Ressurreição, mas da Ressurreição de um crucificado. O Deus atuante na Ressurreição não deve fazer que se esqueça o Deus inativo e calado na cruz.28 O Ressuscitado aparece com as chagas do Crucificado. O Novo Testamento, nem mesmo depois da Ressurreição de Jesus, elimina, por assim dizer, “a fraqueza” de Deus. Os evangelhos escritos à luz da Ressurreição de Jesus nos levam a Jesus de Nazaré e dedicam um bom espaço aos acontecimentos da Paixão. Sobrino insiste na dialética de alteridade e afinidade, própria do mistério de Deus, pois não se pode eliminar um dos pólos e sim procurar complementá-los em sua realidade reveladora e salvífica. 27 28

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Estamos apontando a um Deus solidário com as vítimas, a um Deus que se mantém em silêncio para escutar o grito de seu Filho, para assumir sua dor e a nossa. Jesus Ressuscitado mostra suas chagas, mas Jon Sobrino chama a atenção para outro reducionismo da cruz: “é também necessário superar o reducionismo da cruz como se aquilo que Deus revelasse fosse apenas a sua solidariedade com as vítimas e não também a boa notícia da libertação. Esse duplo perigo só é superado se se tomam – a um só tempo – a ação libertadora de Deus na Ressurreição e a passividade29 solidária na cruz. Manter esta dialética é que permite, sem trivializá-lo, dar a Deus o novo e definitivo nome: ‘Deus é amor’ (1Jo 4,8.16). Os humanos não anseiam por um amor que não seja eficaz para transformar o mal em bem, mas tampouco entendem um amor – enquanto amor – que não se (lhes) aproxime deles e seja solidário com eles”.30

Jon Sobrino parte da constatação de que, nos autores do Novo Testamento, não é o sofrimento em si que

Cf. SOBRINO, J. Jesus, o Libertador, 1994, p. 320. A Ressurreição de Jesus não é então apenas símbolo da onipotência de Deus – mas é apresentada como defesa de Deus, como justiça. Existe uma correlação transcendental entre o Deus ressuscitador e o Jesus ressuscitado. O que seja a realidade de Deus se esclarece também a partir da realidade de vítima daquele que ressuscita. E este não é outro senão a vítima Jesus de Nazaré. Cf. SOBRINO J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 134-135. A palavra passividade não tem o sentido comum da linguagem portuguesa, mas o sentido de “entrega” e de “com-paixão solidária”. SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 142.

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produz a salvação. Desvinculada do sofrimento, a salvação é conseqüência do fato de que Jesus, na totalidade de sua vida, foi agradável a Deus e por isso foi aceito por ele. O sofrimento adquire importância não em si mesmo, mas na historização do amor, verdadeira origem da salvação.31 Captar a presença amorosa de Deus na cruz de Jesus revela a proximidade de Deus, e a Ressurreição deixa de ser puro poder sem amor, alteridade sem proximidade. Agora, podemos vislumbrar o conteúdo e as conseqüências da afirmação de que o Ressuscitado é o Crucificado. Um Deus que luta contra a morte não permanece na solidariedade com a morte; Deus se apresenta também como boa notícia de libertação.32 A Ressurreição, portanto, não é uma ação meramente transitiva de Deus para fora de si mesmo (um milagre ou uma revivificação), mas é um evento comunicativo e interativo entre Deus e Jesus, entre o Pai e o Filho encarnado, e que, pelo Filho, envolve todos os seres humanos e o cosmo no Espírito. Aconteceu e continua acontecendo este movimento de Ressurreição. 31 32

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Conhecer a Ressurreição de Jesus, como conhecer a Deus, não é algo que é dado uma vez por todas; deve-se criar continuamente o horizonte de compreensão; deve-se manter sempre viva a esperança e a práxis do amor, diz Jon Sobrino.

3 Ressurreição: uma ação escatológica que afeta a história: o que posso saber? A pergunta sobre o que podemos saber está relacionada com o problema histórico e com a função do conhecimento “histórico” para compreender a ressurreição de Jesus. Pergunta amplamente discutida, tanto no pensamento racionalista quanto na exegese crítica e existencialista. Como pretender afirmar a historicidade de um acontecimento que é, por essência, objeto de fé? Temos diferentes posições; lembremos o conceito de história de Pannemberg33 e sua importância para a fé na ressurrei-

SOBRINO, J. Jesus, o Libertador, 1994, p. 331-332. SOBRINO, J. Jesús como buena noticia. Repercusiones para un talante evangélico. Sal Terrae, n. 76, 1988, p. 715-726. Ver também Revista Latino-

americana de Teología, n. 30, 1993, p. 293-304; e Una buena noticia a los pobres. Sal Terrae, n. 73, 1985, p. 161-168. O conceito moderno de história é diferente do mencionado por Pannenberg. Para uma melhor compreensão da história, aconselha-se a leitura de ZURMOND, R. Procurais ao Jesus Histórico?, 1998, p. 1.

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ção, ou a posição de Bultmann,34 na qual a fundamentação histórica impossibilita a fé. Partimos da constatação de que os evangelhos não descrevem a ressurreição de Jesus e necessitamos da experiência dos discípulos, hoje conhecida como “experiência pascal”. É possível descrever essa experiência. Podemos dizer que “a realidade escatológica tocou tangencialmente a existência histórica dos discípulos” de forma precisa e à maneira de encontro com Jesus. Conseqüentemente, a realidade dessa experiência é, ao mesmo tempo, histórica e aistórica.35 Em que sentido pode-se, então, falar em historicidade da ressurreição? Em primeiro lugar, afirmando a historicidade do real, isto é, sua abertura à promessa, e não simplesmente 34 35 36 37

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um futuro ou uma simples diferença. E, “nesse sentido, captar a ressurreição como histórica é captá-la como promessa definitiva de Deus”, a partir do testemunho dos discípulos.36 Em segundo lugar, a partir da história desencadeada pela ressurreição, trata-se de um círculo hermenêutico entre a história desencadeada e a ressurreição que está na sua origem. “Mas a realidade da ressurreição em si mesma escapa a toda comprovação histórica.” Trata-se, em última análise, de “captar a missão que desencadeia”.37 A Ressurreição de Jesus irrompe na história e afeta a história, mas não é um fato intra-histórico.38 Uma ação que vai além da história39 é uma ação escatológica. A ressurreição de Jesus é um acontecimento “escatológico”,

Cf. BULTMANN, R. Demitologização, 1999, p. 63.95-103. Ibidem, p. 105. SOBRINO, J. Cristologia a partir da América Latina, 1983, p. 262. Idem. Cristologia a partir de América Latina, 1983, p. 190-191. Sobrino reafirma a posição moltmanniana, segundo a qual a ressurreição é histórica por fundar história, “porque abre um futuro escatológico”. (Cf. Evangelizar y seguimiento. La importância de “seguir a Jesús para proseguir” su causa. Sal Terrae, n. 71, p. 23-53) SOBRINO, J. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas, 2000, p. 31. A história no sentido moderno é uma preocupação dos últimos séculos, marcados profundamente pela Ilustração-Iluminismo. A comunidade primitiva não tinha esse interesse. Nos relatos sobre a ressurreição, encontram-se contradições notáveis. “A única explicação honesta é que os quatro evangelistas, cada um à sua maneira, quiseram deixar claro que a história de Jesus, apesar de sua morte, não havia acabado, e que ele, pelo contrário, está mais realmente presente do que nunca.” Cf. ZURMOND, R. Procurais o Jesus Histórico?, 1998, p. 112.

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isto é, não é só ação de Deus, mas uma realidade na qual acontece “o último”. Mas isso implica também que a ressurreição não deve nem pode ser compreendida como um “milagre” que apontaria automaticamente para Deus. O eschaton, na sua característica de “último”, é o que produz crises nas pessoas e na história. Precisa-se investigar o que é realmente último. Aqui existem diferentes posições. Sobrino segue de perto o pensamento de Moltmann, que afirma que o reino ainda não chegou, existindo, no entanto, como promessa definitiva. Faz-se presente no modo concreto de existir das pessoas, segundo uma práxis concreta, a do seguimento a Jesus. Se o paradigma do reino é a “ressurreição universal”, o reino se faz presente na medida em que o homem vive como ressuscitado, mas dentro da história. A história é conflitiva e não garante, nem a priori nem a posteriori, que se realize dentro da história a plenitude do Reino. A presença do Reino se realiza na busca de tornar o Reino definitivo correspondendo na existência do amor, na entrega a Deus e as pessoas. A escatologia apresenta Deus em relação com o futuro. O que se afirma é que a revelação definitiva de Deus ainda não terminou e que o processo temporal é importante para sua revelação.

Para conhecer a ressurreição de Jesus, deve-se aceitar que a realidade é mistério que se vai mostrando gratuitamente dentro da complexidade cultural e que a compreensão da realidade leva em si mesma um futuro escatológico e o aponta.

Conclusão Ao tratar o tema da teologia da ressurreição, Sobrino abre-nos seu próprio horizonte desde as perspectivas das vítimas, levando-nos ao centro de seu pensamento teológico: 1) O Ressuscitado é o Crucificado e o Crucificado é o Ressuscitado. Ao refletir sobre esta afirmação cristológica, ele parte de perguntas antropológicas, se apóia nas perguntas kantianas e coloca a dimensão da celebração como dimensão importante da antropologia. 2) A Teologia da Ressurreição é apresentada como uma realidade última, escatológica, que afeta a história. Como uma promessa que está se realizando, principalmente através do amor, da entrega das pessoas que fazem crescer a vida no meio das injustiças. Enfatiza o nexo da escatologia na história e de uma história escatológica, que

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aponta para um futuro ainda por realizar-se. Manter esta dialética nos possibilita caminhar no Espírito do Ressuscitado. Muitas vezes, esta tensão não é respeitada, o que gera conseqüências graves. A escatologia não é só um futuro, o que um dia virá, como se o fim já fosse todo dado e só faltasse um tempo, um “parêntese”, mas está vindo e, por isso, a Ressurreição de Jesus é também um “julgamento de vida” para as vítimas. 3) Este “julgamento de vida” se inverte: quem é julgado, insultado e crucificado agora é o Juiz da Vida e defensor de seus irmãos e de suas irmãs. Os crucificados não estão sozinhos. Abriu-se uma nova esperança para as vítimas: as chagas estão transfiguradas e o fim ainda não chegou. Antropologicamente, parece uma contradição o Ressuscitado estar ao lado dos crucificados, daqueles que quase não têm esperanças, porque a via os leva a um futuro sem muitas possibilidades de sobrevivência. Em nosso imaginário, vemos a Deus com facilidade nos grupos cheios de vitalidade, no pôr-do-sol, no diálogo familiar, nas conquistas da vida, no meio cultural... Mas dificilmente acreditamos que Deus se manifesta também nas vítimas, e que elas são uma boa notícia de Deus para nós.

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4) A ressurreição de Jesus é consolo, esperança, e também inquietação. A dialética é própria de um amor encarnado. 5) Trata-se de uma ação trinitária que se comunica e, ao mesmo tempo, continua o Mistério. Distancia-se, não podemos aprisioná-la, uniformizá-la. É uma ação que se revela, que se deixa conhecer e se esconde. É como o amado que se esconde para novamente aparecer. Temos que buscá-lo, e muitas vezes sua voz está longe... está escondida sob a tristeza, a injustiça, a violência, a resignação. Sobrino nos convida a buscá-lo com insistência onde estão nossos irmãos e irmãs mais injustiçados, mais fracos. Não diz que é o único lugar. Diz que é seguro que o Ressuscitado se mostra, e nos aponta, com precisão, uma esperança dinâmica, criativa e práxica. Como foi a esperança do Povo de Israel e do Servo, das mulheres que não se resignaram a que a última palavra fosse a morte. Por isso, até no túmulo foram expressar seu amor a Jesus, que já não estava lá, pois “se escondeu para manifestar-se na novidade da ressurreição”.


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Ana María Formoso é mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Sua dissertação de mestrado intitula-se A teologia da ressurreição em Jon Sobrino. Ana Formoso é consagrada da Comunidade Missionária de Cristo Ressuscitado e trabalha na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, onde integra a Equipe de Coordenação do Programa de Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos e é professora no curso de Teologia Popular na Escola Superior de Teologia Franciscana (ESTEF).


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