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Nanotecnologia: Alguns Aspectos Éticos e Teológicos Eduardo R. Cruz

ano 7 · nº 121 · 2009 · ISSN 1679-0316


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Nanotecnologia: Alguns Aspectos ร ticos e Teolรณgicos

Eduardo R. Cruz ano 7 - nยบ 121 - 2009 - 1679-0316


UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Vice-reitor José Ivo Follmann, SJ Instituto Humanitas Unisinos Diretor Inácio Neutzling, SJ Gerente administrativo Jacinto Aloisio Schneider Cadernos IHU Ideias Ano 7 – Nº 121 – 2009 ISSN: 1679-0316

Editor Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos Conselho editorial Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta – Unisinos Prof. MS Gilberto Antônio Faggion – Unisinos Prof. Dr. Laurício Neumann – Unisinos Profa. Dra. Marilene Maia – Unisinos Esp. Susana Rocca – Unisinos Profa. Dra. Vera Regina Schmitz – Unisinos Conselho científico Prof. Dr. Adriano Naves de Brito – Unisinos – Doutor em Filosofia Profa. MS Angélica Massuquetti – Unisinos – Mestre em Economia Rural Prof. Dr. Antônio Flávio Pierucci – USP – Livre-docente em Sociologia Profa. Dra. Berenice Corsetti – Unisinos – Doutora em Educação Prof. Dr. Gentil Corazza – UFRGS – Doutor em Economia Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel – UERGS – Doutora em Medicina Profa. Dra. Suzana Kilpp – Unisinos – Doutora em Comunicação Responsável técnico Laurício Neumann Revisão Mardilê Friedrich Fabre Secretaria Camila Padilha da Silva Editoração eletrônica Rafael Tarcísio Forneck Impressão Impressos Portão

Universidade do Vale do Rio dos Sinos Instituto Humanitas Unisinos Av. Unisinos, 950, 93022-000 São Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.35908223 – Fax: 51.35908467 www.ihu.unisinos.br


NANOTECNOLOGIA: ALGUNS ASPECTOS ÉTICOS E TEOLÓGICOS

Eduardo R. Cruz

Introdução Em um número recente da Revista Pesquisa FAPESP (Nº 146 – Abril/2008), duas chamadas de capa se destacam: a primeira tem como título “Perigo Subestimado: Mais potente, a tuberculose se espalha”, e aponta para perigos que surgem na esteira de avanços tecnológicos do passado (remédios contra tuberculose), que não eram previstos na época em que ocorreram. A segunda tem como título “Promessa dos nanocosméticos”, mais pertinente ao objeto do presente argumento, e sugere as promessas de uma tecnologia recente, mas não seus possíveis perigos. De imediato, vemos consequências filosóficas interessantes, que nos lembram do destino de Prometeu: a humanidade assume com entusiasmo algum desenvolvimento tecnológico que efetivamente a emancipa de uma limitação que a aflige (seja ela uma doença ou degradação estética), mas paga um preço por isso. Uma espécie de maldição pesa sobre o progresso humano, tema de inúmeras reflexões de sábios ao longo dos séculos. Vamos ao ponto: as nanotecnologias compartilham o destino de todo avanço tecnológico, dele não podendo escapar: quanto mais ambiciosas as promessas, mais correm o risco de trazer uma nova aflição à humanidade. Agora, no entanto, há algo adicional: a própria humanidade se torna objeto desta tecnologia. Em outras palavras, enquanto as tecnologias do presente e do passado praticamente não alteram a natureza humana, as nanotecnologias (junto com outras tecnologias convergentes) se propõem a muito mais do que fornecer novos cosméticos – é a natureza humana como tal que está em jogo. Importante reiterar que a nanotecnologia não navega sozinha por estes cenários de futuro. Vários autores indicam que estes são compartilhados com outras tecnologias, denominadas “convergentes”: IA, robótica, neurociências, biotecnologia, etc. Junto com estas, o homem-Deus defronta-se, por sua vez, com


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outras “imagens e semelhanças” dele: ciborgues1, robôs e seres virtuais (ou seja, mentes que só existem na memória dos servidores e no ciberespaço), que, por sua vez, tendem a ocupar o espaço de seu criador. O que era antes objeto da ficção científica, como em Blade-Runner e Matrix, agora é proposto como consequência natural de avanços científicos e tecnológicos. Nas páginas que se seguem, vamos procurar expor o que é proposto pelos principais “gurus” destas fantásticas visões futuristas, para, em seguida, explorar seus aspectos teológicos. Isso se dará em dois momentos: primeiro, apresentamos relações (sugeridas na literatura) entre as doutrinas cristãs e as propostas iluministas associadas a tais tecnologias. Em seguida, sugerimos que tal secularismo não resiste a uma análise de seu pano de fundo religioso, e fornecemos alguns elementos de análise. Depois, então, indicamos brevemente a situação no Brasil destes desafios ao humanismo contemporâneo. Ao sugerir a adoção de uma teologia pública da cultura, procuramos ressaltar a importância da preservação do humano em sua finitude e de sua condição de “pó” no aguardo da (já realizada prolepticamente) vivificação do Espírito. 1 Ideólogos das novas tecnologias: os transumanistas As apostas de cientistas, indústrias e governos são altas e otimistas nestes avanços tecnológicos. Faz lembrar o clima de antecipação que se encontrava no muito citado relatório de Vannevar Bush ao governo norte-americano, Science, the Endless Frontier (1945). De fato, um novo relatório a este governo surge com o título Small Wonders, Endless Frontiers: A Review of the National Nanotechnology Initiative2 (“Pequenas maravilhas, fronteiras sem fim: Uma revisão da Iniciativa Nacional de Nanotecnologia”), que indica o entusiasmo em face de uma nova era (o milênio!?) para a humanidade3. O simples percorrer dos números do Journal of Evolution and Technology (www.jetpress.org; mais sobre este periódico abaixo) pode mostrar o amplo espectro de possibilidades para o futuro humano, que preocupa engenheiros visionários e seu subconjunto, os transumanistas. Há até um número especial deste periódico sobre Religião e Transumanismo (v. 14, n. 2, ago. 2005), do qual alguns artigos são utilizados aqui. Neste percurso comum, quais são os atores em jogo? Segundo Joachim Schummer (2004, p. 81), são os seguintes:

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Para definições e descrição, ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyborg. Small Wonders, Endless Frontiers: A Review of the National Nanotechnology Initiative, US Government Printing Office/National Academies Press, Washington, DC. 2002. Para uma descrição mais detalhada deste novo espírito, ver COENEN (2007).


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Figura 1: Traduzindo: “A aliança visionária no debate sobre as implicações sociais e éticas da nanotecnologia: Interesses de empresas, autores de ficção científica, transumanistas e engenheiros visionários”.

Vamos focalizar estes dois últimos grupos, transumanistas e engenheiros visionários, mas antes devemos destacar a cultura dentro da qual eles operam. Segundo a organização Edge, nossa época e sociedade são marcadas por uma terceira cultura que foi se estabelecendo em nossos dias (lembrando do conflito entre as “duas culturas” de C.P.Snow). Nas palavras de John Brockman, mentor da organização: A terceira Cultura assenta no trabalho experimental e nas especulações teóricas de cientistas e outros pensadores do mundo empírico que têm vindo ocupar o espaço dos intelectuais tradicionais no esclarecimento do sentido mais profundo da vida, redefinindo quem somos e o que somos (1998, p. 13).

Frequentemente, a organização pergunta a dezenas de especialistas de várias áreas, em geral, da área inglesa de influência, sobre os rumos da ciência e da humanidade – as “grandes questões” que antes preocupavam filósofos e teólogos. Geralmente, são pessoas conhecidas do grande público, e portanto formadoras de opinião. A maioria está ligada às ciências e tecnologias mencionadas anteriormente. Dentro desse conjunto, há um subgrupo de pessoas que lideram a reflexão sobre o futuro da humanidade, ou o que quer que vá substituí-la. São os transumanistas (e simpatizantes). James J. Hughes (2007), editor do


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Journal of Evolution and Technology, um dos porta-vozes deles, assim sugere como se pode conhecer indivíduos que compartilham deste ideário: s O desejo de promover o aprimoramento humano – atitudes sobre a extensão da vida, aumento da inteligência, criogenia e uploading da mente; s Humanismo – atitudes a respeito da autoconfiança humana e sobre os limites divinos para a razão humana; s Otimismo tecnológico – atitudes sobre o acolher ou banir novas tecnologias, como a nanotecnologia, engenharia genética e tecnologias de aprimoramento humano; s Ética personalista – atitudes sobre o bem-estar de todos os seres sentientes e inteligentes, inclusive sobre direitos aos primatas e aos robôs, e, ao contrário, não concedendo direitos a animais inferiores, fetos ou que nasçam sem cérebro; s Direitos reprodutivos – atitudes liberais em relação ao aborto, clonagem humana e ao aprimoramento genético de crianças.4. Apenas uma observação sobre esta Ética personalista. Segundo muitos autores, um de seus pontos mais controversos é a atitude dos transumanistas diante do sofrimento e da morte. Como diz George Dvorski, um devoto: acho pouco nobre ou apropriado o reter-se nossas imperfeições, particularmente quando dizem respeito a doenças e aos efeitos da idade. Os eticistas deveriam se preocupar sobre estas ações, que são humanitárias e boas, ao invés daquelas ações que dizem respeito a alguma noção abstrata e inviolável do que significa ser humano (DVORSKI, 2008)5.

Vamos voltar à questão do sofrimento e da morte abaixo. Estes futuristas entendem como sua a tarefa de dar continuidade à evolução humana. Não mais a biológica, darwiniana e cega. Nem tampouco a cultural, que também busca progresso e perfeição, mas ainda está muito tolhida pela animalidade humana. Este limite é bem apontado pelo futurista George B. Dyson: A maior parte do tempo, apesar da percepção de sermos inundados com informação, permaneceremos fora do círculo [de entidades que se comunicam]. Os seres humanos têm pouco tempo e habilidade disponíveis para se comunicar: Você pode assistir à TV, checar seu e-mail, falar em seu 4 5

Para uma história do Transumanismo e seus predecessores, ver RÜDIGER (2007). Curioso eles destacarem uma ética tão baseada no humano, mas ao mesmo tempo, defenderem tecnologias que privilegiam os aspectos mecânicos do comportamento molecular, inclusive dos seres vivos. Mas não temos como explorar aqui esta contradição, para além da menção ao humano como gargalo (também abaixo).


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celular ao mesmo tempo, mas este é o limite. Somos agora o gargalo – capazes de absorver apenas uma quantidade limitada de informação, enquanto produzimos ainda menos, do ponto de vista da máquina (1998, p. 209).

O humano (com o corpo que conhecemos) é o obstáculo. Daí que o próximo passo além das tecnologias reparadoras (por exemplo, com nanorrobôs percorrendo o corpo, reparando células e atacando aquelas malignas), são as tecnologias de desenvolvimento humano. Como dito antes, estas caminham em três direções com objetivos da evolução: ciborgues ou seres biônicos, robôs e seres que habitam o espaço virtual. O primeiro certamente está mais próximo das expectativas humanas de curto prazo, e é o mais afetado pela nanotecnologia. Próteses não nanos de todos os tipos já estão sendo utilizadas, mas a última fronteira, a mente, a alma, esta ainda espera para ser alcançada.

Figura 2: Evoluções, Ciborgue, robô, e cibernética.

Tradução: da cabeça do ciborgue, no sentido horário: Metacérebro; dispositivo de correção de erro – replay instantâneo de dados e retroalimentação; sensores de sonar em rede mapeiam os dados no campo visual; monitoração de fluxo e circulação cardíacos; pele protegida do sol, com mudança de tom e textura; flexibilidade de suspensão turbo carregada; pele inteligente; órgãos de reposição; biossensores estimulam externamente tensões atmosféricas; grades navegacionais internas de corpo inteiro; backbone de comunicações com fibra ótica “in vivo”; audição parabólica, com espectro de frequência aumentado; sistema de memória nanotecnológico para armazenamento de dados.


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A questão propriamente ética ocupará menos espaços em nossas reflexões, na medida em que ela é mais conhecida e delimitada. A bioética atual, já bastante madura, incorpora agora reflexões sobre estas novas tecnologias. Já há vários centros ao redor do mundo dedicados somente a isso, e interesse dos governos em regulamentar os procedimentos tecnológicos, com base em aspectos éticos e jurídicos. O Center for the Study of Ethics in the Professions, do Instituto Illinois de Tecnologia (www.iit.edu/~csep), por exemplo, possui um grande banco de dados específico para ética e nanotecnologia. Esses dados são classificados de acordo com trinta e nove temas, a maioria deles de cunho regulatório. O subconjunto de temas mais polêmico e de maior interesse público ainda é formidável, contemplando dez deles: nanotecnologias e nações em desenvolvimento; tecnologias emergentes – paralelos históricos; discurso ético; aprimoramento humano/ nanobiotecnologia; princípio precaucionário; engajamento público; entendimento público da ciência; implicações sociais; desenvolvimento sustentável. Note-se que as questões ligadas à religião não são tematizadas, o que indica a necessidade de maior aprofundamento dos aspectos teológicos e religiosos em geral. Isso é sobremaneira importante, na medida em que muitos autores destacam que estas questões éticas repousam sobre pressupostos religiosos e teológicos (Dupuy, 2005; Lecourt, 2005), mas não os analisam adequadamente. Nossa atenção, portanto, voltar-se-á para estes aspectos. 2 Aspectos religiosos: as relações com o Cristianismo e o Judaísmo De 24 artigos e materiais selecionados recentemente na Internet, de cunho mais acadêmico e que percorrem temas ligados à nanotecnologia e religião, pudemos inferir a seguinte tipologia: 1) Estudos mais sociológicos referentes à reação de norte-americanos ante as tecnologias emergentes: quatro. Um deles merece maior destaque: o de William Sims Bainbridge, The Transhuman Heresy (BAINBRIDGE, 2005). Sociólogo da Religião de alguma fama, nos últimos anos ele tem se dedicado ao estudo e apoio político destas novas tecnologias (é um dos líderes na promoção de políticas ligadas a elas) e vê a religião tradicional como sua inimiga. 2) Estudos, de transhumanistas e/ou simpatizantes, que procuram mostrar a compatibilidade do transumanismo e da religião tradicional (de cunho liberal), por exemplo, Hughes (2007): seis. As pesquisas deste grupo seguem algo como a tipologia proposta por Burghard Bock (2005). Ele as divide, relativamente às atitudes religiosas, em três classes: a) Pesquisa científica com objetivos teológicos ou religiosos explícitos (ela faz menção ao criacionismo);


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b) Objetivos religiosos não são explicitados. Ele recorre a um modo de análise popularizado por David Noble, que, em sua obra The Religion of Technology (NOBLE, 1999), percorre os últimos séculos e aponta o discurso e as atitudes religiosas que cercaram o aparecimento de tecnologias marcantes; c) Aquelas em que não há objetivos religiosos aparentes, como as ligadas ao transumanismo, pois aqui o objetivo declarado é o aperfeiçoamento do humano. Discordamos um pouco do autor, pois muitos dos transumanistas traduzem seus anseios espirituais explícitos, ainda que não necessariamente ligados às tradições religiosas (por exemplo, Latorra, 2005). Mas continuaremos esta análise na próxima seção. 3) Estudos de pesquisadores cristãos ou judeus, que analisam o transumanismo e o avaliam com base na religião tradicional: quatorze. Estes estudos variam desde ponderações sobre os prós e contras desses avanços tecnológicos a críticas que colocam Cristianismo e transumanismo em posições antagônicas6. Eles lembram (corretamente) que o Cristianismo surge como uma reserva de sentido diante das pretensões soteriológicas da tecnologia, apontando nelas a tentação da idolatria e da redução do humano. Esta avaliação, que parte da religião tradicional e se dirige ao transumanismo, se dá em duas vertentes principais: a primeira retoma as doutrinas tradicionais da religião e compara-as com as equivalentes do transumanismo. Até o momento, quase não há estudos mais específicos, destacando esta ou aquela doutrina. Eles partem de uma delas e terminam por tratar todas as outras (por exemplo, partindo da escatologia: PETERS, 2005)7. Já a segunda representa o que muitos chamam de teologia da cultura (Paul Tillich) ou “Teologia do Cotidiano” (Vanhoozer, 2007), e analisa as pretensões religiosas (implícitas ou explícitas) do discurso deste movimento (EPPINETTE, 2007). Destaquemos agora, rapidamente, como a literatura desenvolve a primeira vertente da comparação de doutrinas tradicionais cristãs com as propostas do transumanismo. O primeiro destaque, como se pode esperar, diz respeito às doutrinas da Criação, do imago dei e da Providência. Muitos autores de língua inglesa (mas também Adolphe Gesché) utilizam a equação criador – cocriador para falar do humano. Mas a pergunta costuma surgir: deve a ênfase ser coloca6

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O primeiro extremo, desnecessário dizer, é constituído de cristãos e judeus liberais, sejam otimistas em relação a estas tecnologias (p.ex., GARNER, 2006), ou moderadamente críticos (p. ex., PETERS, 2005; TIROSH-SAMUELSON, 2008). O segundo é representado por pensadores (teólogos, cientistas e filósofos) mais conservadores (p.ex., MITCHELL et al. 2007; IHDE 2008). Para um estudo mais extenso e considerado, ver WATERS (2006).


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da na primeira parte ou na segunda (cf. EDGAR, 2004)? Não há neutralidade possível, ainda mais nestes tempos em que a mesma equação pode ser transferida para a relação homem – suas criaturas. O que o Dr. Frankenstein representou como metáfora da hybris humana no terreno da ficção, hoje pode ser tomado como algo literal. No que diz respeito à Imago Dei, como conceber as criações humanas, especialmente os eventuais seres “aprimorados” que formariam uma classe alfa, à semelhança do Admirável Mundo Novo, de Huxley (ver Garner, 2006)? Com respeito à Providência, lembramos a análise, muito comum no séc. XX, que associa a ideia de Progresso com uma versão secularizada da Providência. Com estas novas tecnologias, a secularização chega a seus extremos, sendo então suprassumida. Também podemos acrescentar as reflexões sobre a perfeição humana, e daí caminharmos em direção à antropologia teológica, por exemplo, no caso de ciborgues e seres virtuais, a relação entre corpo e alma (PETERS, 2008; HERZFELD, 2005). O passo seguinte, de suma importância, diz respeito à doutrina da encarnação: ainda se poderá falar que Deus se encarnou através de seu Filho em tais seres modificados/criados pelo homem? Essas questões têm sido tratadas com mais detalhe no caso dos robôs e seres virtuais (Foerst, 2007), e sofrem uma inflexão no caso de ciborgues. Diretamente ligada à questão da encarnação, encontra-se aquela do sofrimento e da morte, como já mencionado acima. Guiados por um “imperativo hedonista”, os transumanistas se colocam como proposta básica a eliminação do sofrimento e da morte com alterações neste “corpo de morte”, para parafrasear São Paulo. Todo sofrimento pretérito surge como apenas isto, pretérito, e como um reflexo invertido do que não vamos ter no futuro. Temos então as várias propostas de ciberimortalidade, sendo a mais ligada à nanotecnologia a do ciborgue. Suas relações com a noção cristã de “vida eterna” e a doutrina da escatologia têm sido muito debatidas, e voltaremos a este ponto na seção abaixo. De qualquer modo, temos o seguinte paradoxo: de um lado, seres virtuais e robôs chancelam o dualismo corpo-alma e uma visão racionalista do homem. De outro lado, seres humanos que tendem ao ciborgue, com próteses e mecanismos regeneradores, chancelam o hedonismo e o narcisismo. Qualquer que seja a alternativa, os desafios teológicos à tradição cristã são óbvios, e precisam ser enfrentados8. 8

Alguns transumanistas argumentam que suas propostas não são religiosas, pois estão mais ligadas ao utilitarismo e individualismo norte-americanos. Mas, novamente, estas duas características são versões secularizadas de tendências religiosas (no caso aqui, o evangelicalismo britânico-norteamericano do séc. XVIII), que emergem em momentos de transição como o nosso. Por outro lado, a valorização do indivíduo e do útil é a face positiva de contravalores como o hedonismo e narcisismo. Como conciliar uma ética protestante rígida


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Sendo assim, além da reflexão mais sistemática, temos que recorrer a abordagens que enfatizem a importância de uma Teologia Pública, que tenha alguma relevância (e talvez até um papel crucial) no debate sobre os rumos futuros da humanidade (ver, por exemplo, Barns, 2005). Como propõe Burghard Borg em relação à nanotecnologia: Assim é isto que a teologia e especialmente a ética social são capazes de oferecer: elas podem ajudar a revelar imagens ou conceitos de homem cripto-normativas, assim como oferecer consultoria em critérios para decisões – em ciência, economia e sociedade (BORG, 2005, p.10).

Trata-se de uma “guerra de deuses” que se passa na esfera pública, e a teologia tem muito a oferecer nesse sentido, alerta que é, em relação a pretensões idolátricas na esteira da tradição judaico-cristã. Para melhor enfrentar esta guerra (para alguns, trata-se mais de diplomacia), a teologia procura reconhecer os traços da religiosidade que caracterizam tal pós-humanismo. A seção que se segue trata especificamente destes traços. Ela será mais curta, pois muito do que diz respeito a ela já foi delineado acima. 3 Aspectos religiosos: a escatologia transumanista Muitos transumanistas, como já mencionado, propõem uma religião (ou espiritualidade) prometeica, que segue os princípios delineados por James Hughes e torna as religiões tradicionais obsoletas (por exemplo, Latorra, 2005; Bainbridge, 2005; Jordan, 2006). Elas resgatam valores típicos do Iluminismo e, no confronto natural-supernatural, fazem uma opção resoluta pelo primeiro. Esses pensadores acreditam ser os novos portadores de antigos sonhos de salvação da humanidade: o desejo de transcendência, a superação da doença, do sofrimento e da guerra, e até da morte, com a possibilidade de uma espiritualidade “pós-religiosa” (JORDAN, 2006). O próprio título do livro mais importante de Eric Drexler, Os motores da Criação, indica a inclinação religiosa destas tendências9. Esta nova espiritualidade, como já sugerido na seção anterior, pode ou não entrar em conflito com as religiões tradicionais. Na melhor das hipóteses, a primeira está fadada a transcender e realizar as atuais formas religiosas, pelo menos no que diz respeito ao cumprimento de promessas no aqui e no agora. Como diz Gregory Jordan, citando outros: “o sucesso mesmo da ciência tem proporcionado ao homem moderno afirmar que aquilo

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com o hedonismo (cuja expressão maior é o consumismo), é algo para outra oportunidade. Não que Drexler faça parte do movimento transumanista, mas certamente compartilha de muitos de seus ideais, como exposto por James Hughesacima.


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que nenhum deus proporcionou aos seus seguidores em milhares de anos, ele agora obteve pelos seus próprios esforços”, acentuando o caráter promeico da tecnologia na modernidade (Ibid., 55). Mais adiante, ele cita Nick Bostrom, um dos “papas” do transumanismo: Ao contrário da maioria das pessoas religiosas, os transumanistas procuram fazer com que seus sonhos se cumpram neste mundo, por confiar não em forças sobrenaturais ou intervenção divina, mas sim no pensamento racional e atitudes empiristas, através do contínuo desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e humano (Ibid., 58),

o que nos remete ao positivismo10. Na outra hipótese, as religiões tradicionais são colocadas no campo oposto, obstáculos que sempre teriam sido ao progresso científico, ainda mais fortes que o “gargalo” de Dyson citado acima. É William Bainbridge, de novo, o mais radical proponente desta visão (ver Bainbridge, 2005; 2006). O tom geral é de inexorabilidade – há um dever de promover o progresso tecnológico em termos de evolução do humano, e tais previsões certamente hão de se realizar, de uma forma ou de outra, quer grupos minoritários e conservadores queiram ou não11. Como sugere Eric Drexler: “Temos um longo caminho pela frente para alcançarmos os nanossistemas produtivos, mas os próximos passos são claros e não há obstáculos” (DREXLER, 2008). Tal determinismo histórico, já registrado em outras inovações tecnológicas, será mencionado mais adiante. De interesse especial, que cruza temas profundos das lealdades acima, é a análise que se faz do transumanismo como religião gnóstica (FELINTO, 2005; AUPER e HOUTMAN, 2005; KRUEGER, 2005). A principal controvérsia gira em torno da necessidade do corpo para a definição humano, e do ponto de vista mais teológico, o significado da encarnação de Cristo. O pendor gnóstico desvaloriza o estado presente do mundo em que vivemos, como se os tormentos que sofremos não contivessem algo do que se possa chamar “Graça divina”, e nossa carne não fosse digna o suficiente para ser capaz do próprio Deus. A solução final viria de outro estágio da evolução humana, em um futuro que finalmente se desgarra dos condicionamentos da corporeidade. Nas palavras do teólogo Michael Delashmutt, “Para este fim [a aquisição de vida plena pela tecnologia], o pós-humanismo como anti-humanismo argumenta que os seres humanos po-

10 Poderíamos também discorrer sobre a “falácia naturalista” (G.E.Moore) neste raciocínio, mas não há espaço para tanto aqui. 11 Ironicamente, todos eles defendem o direito de livre escolha, por parte dos clientes, dos benefícios das tecnologias, como modificar os filhos ou não, ou cessar a existência ou não.


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dem ser entendidos apenas em termos de hibridização, mais do que em termos de ‘puramente’ humano” (DELASHMUTT, 2006, p. 6). E mais adiante: “Se a humanidade é nada mais do que o potencial latente que ao final vai se tornar atual em um contexto futuro, então o estado presente da humanidade recebe seu valor apenas como um ponto de transição no caminho do futuro” (Ibid., 15). Ainda segundo Delashmutt, tal pós-humanismo parte de “três premissas principais: 1) Uma certeza positivista nas habilidades futuras da tecnologia de informação para facilitar uma escatologia tecnoteológica; 2) uma aceitação ingênua do mito da tecnologia e do progresso tecnológico; 3) a visão de que a tecnologia é, como mito, um foco apropriado para o empenho último [Tillich]” (Ibid., 2006, p. 13). Sobre a segunda premissa, parte da ingenuidade repousa no criticar-se a religião por denegrir o natural em favor do sobrenatural, substituindo-a ao mesmo tempo por outro dualismo, estado presente versus perfeição futura. A contracrítica vem da religião como reserva de sentido, que nos remete à terceira premissa e à noção de “empenho último” (ou “preocupação última”) de Tillich. Tal reserva de sentido baseia-se na práxis, na doutrina, no ritual, e principalmente no mito. A crítica do mito, portanto, é base fundamental da teologia da cultura. Apesar de não termos como explorar mais isso aqui, a cultura sendo criticada é a “terceira cultura” de Brock e dos transumanistas, com sua pretensão de assumir hoje “o esclarecimento do sentido mais profundo da vida, redefinindo quem somos e o que somos” (citação de Brockman, acima), ou seja, de produzir mitos que nos respondam a questão do sentido. A religião apresenta-se como o último bastião da defesa do humano, como se viu na recente controvérsia em torno das pesquisas com células-tronco embrionárias. Da teologia da cultura volta-se finalmente à teologia sistemática. Como diz Delashmutt a respeito da tarefa: “Isto indica uma transição que se distancia da tecnoteologia e vai em direção a uma teologia da tecnologia, que embasa a tecnologia nos símbolos da fé, com um aguda percepção do estado decaído do homem” (DELASHMUTT, 2006, p. 17) 4 Observações sobre o panorama brasileiro No caso brasileiro, não havendo muito a acrescentar, faremos apenas rápidas observações. Encontramos aqui discussões de cunho mais filosófico e ético, mas em que não se dá nenhum destaque à religião. É o caso do 1º Seminário sobre Biotecnologia e Ciência: Realidade e Ficção, de 2005 (http://www.inca.gov.br/eventos/eventos_view.asp?ID=453) e de vários outros artigos e iniciativas, que delimitam os problemas de modo semelhante ao do IIT, descrito acima.


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A nanotecnologia, tecnologias convergentes, e seus aspectos religiosos têm sido objeto principalmente de trabalhos nas áreas de comunicação e semiótica, destacando-se entre eles os do grupo de Erick Felinto (UERJ), com um grande número de publicações relevantes, em especial o livro A Religião das Máquinas (FELINTO, 2005). Alguns trabalhos na Universidade Federal de Santa Catarina também merecem menção, como, por exemplo, o de Marise Borba da Silva (2006). Entre os tecnólogos ligados ao universo nano, destaque-se Paulo Roberto Martins (IPT-SP), que pesquisa também os impactos sociopolítico-econômicos de tais tecnologias. Do ponto de vista institucional, e de alguma forma ligado ao transumanismo, é importante destacar o estabelecimento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (www.cgee.org.br), ligado ao MCT e entidades futuristas mundiais. Coordenado pelo Prof. Esper Abrão Cavalheiro (UNIFESP), o centro parte do princípio de que as tecnologias convergentes definirão o perfil humano no futuro. Apesar de se distanciar de quaisquer conotações religiosas explícitas, pode-se ler nas entrelinhas de seus discursos uma ressonância com as tendências que descrevemos acima12. Enfim, no que se refere a apreciações teológicas, há pouco o que mencionar. Há o trabalho de Wilmar Luiz Barth, Há Muito Espaço lá Embaixo (2006), mas o artigo consiste mais em um apanhado do desenvolvimento da nanotecnologia, com uma breve menção a aspectos teológicos. Talvez os brasileiros ainda estejam por demais fascinados com a pós-modernidade para não perceberem o enorme impacto desta nova “grande narrativa”... Defrontamo-nos, assim, com um desafio para a geração presente e futura de teólogos e cientistas da religião brasileiros, tanto no que se refere ao ramo sistemático como ao cultural, descritos acima. Considerações finais Começamos este capítulo com o destaque à maldição de Prometeu que recai sobre toda tecnologia – esta traz de fato um benefício à humanidade, mas há sempre um preço a pagar pela hybris em cada avanço. Falamos das novas tecnologias que marcam o século XXI, que realizam muitos sonhos (pesadelos) da ficção científica – a própria alteração do humano. O entusiasmo milenarista fala do próximo e definitivo passo da evolução humana, pois o ser atual surge, pela sua ineficiência, como obstáculo ao desenvolvimento científico-tecnológico. 12 Para um apanhado dos objetivos e trabalhos desenvolvidos, ver entrevista com Esper Abrão em http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3533&bd=1&pg=1&lg=.


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Como o ético funda-se sobre o religioso, nossa atenção se dirige mais ao conteúdo religioso deste novo milenarismo. A religião (verdadeira!?) se coloca como uma reserva de sentido, como uma crítica à idolatria e suas propostas soteriológicas. Mas o trabalho teológico nem sempre entende esta espiritualidade como antagônica ao Cristianismo e, mutatis mutandis, a outras religiões estabelecidas também. Passamos, pois, a apresentar tipologias que nos elucidem o panorama atual. De um lado, há a abordagem sistemática, que envolve comparação entre as doutrinas tradicionais e as crenças transumanistas, e apontamos duas “extensões do humano” contraditórias: no caso de robôs e humanos virtuais, ocorre o dualismo corpo-alma e enfatiza-se o racional no homem; no caso de ciborgues, o dualismo é entre presente/futuro, e enfatiza-se o hedonismo e o narcisismo. De outro lado, há uma abordagem particular da cultura moderna (Tillich, Vanhoozer), que facilita o desenvolvimento de uma teologia efetivamente pública. Ao analisar-se com mais detalhe as propostas desta nova espiritualidade, nota-se que, reconhecendo-se contra ou a favor das religiões tradicionais, o seu desejo de transcendência é nitidamente assumido. Entre outros tantos traços, destacamos as tendências gnósticas que vários já apontaram nestas ideologias, o que solicita uma teologia da cultura madura e ciente das batalhas na história pelas mentes e corações dos homens. Nossa postura, portanto, apresenta-se como crítica à nanotecnologia e às demais tecnologias de aperfeiçoamento do humano. Este esforço teológico pode questionar o determinismo e a inexorabilidade presentes no discurso transumanista (MODY, 2004; KLERKX, 2008). Todos sabemos a dificuldade que o ser humano tem de se perceber sujeito a defeitos, contingente e detentor de uma historicidade. O preço a pagar pela técnica é a supressão da história, como muitos filósofos já apontaram. Agora que o alvo tecnológico é o próprio ser humano, é a liberdade que está em jogo. Estaremos dispostos a pagar este preço? Marcuse falava do “Homem Unidimensional”. Ei-lo aqui, livre das ambiguidades e das contradições que nos marcam. Se refletirmos sobre as sete virtudes e os sete pecados capitais (como em Galimberti, 2004), por exemplo, vemos que, apesar do apelo ao exercício das primeiras, partimos do fato que elas todas são aspectos característicos do humano na história. Por isso ninguém é justo, ninguém pode se intitular detentor da história e do futuro. A democracia e a política, por exemplo, requerem para o seu exercício a existência de interesses contraditórios. É usual que um grupo julgue o outro como marcado por ideias e atitudes irracionais. Muitos dos ideais iluministas, expressos pelos transumanistas, privilegiam o aspecto da racionalidade. Correm o risco de se esquecer do humano que se deixa arrastar


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pelas paixões. Evadir-se da ambiguidade deste é lançar o grupo detentor do poder para o totalitarismo. O ser humano é fraco, oportunista e trapaceiro. Talvez estes sonhos tecnológicos não se realizem por conta desses “vícios”. Temos hoje, por exemplo, o problema dos “hackers” e piratas cibernéticos, que frustram muitas das promessas da tecnologia de informação. De um lado, portanto, o fato de sermos simultaneamente miseráveis e pouco menores do que anjos mostra-se como o único caminho para o recebimento da salvação como graça.

Figura 3: O Humano

De outro lado, há uma tarefa prática: a de situar o limite das próteses e outros artifícios de imortalidade, como sendo o da alteração da personalidade do indivíduo. É a manutenção da integridade do homem como criatura “vista como boa”, e da completa indeterminação do futuro, para que este venha como “advento”, e não como simples extensão do presente (MOLTMANN). Há sempre uma ironia na condição humana, cheia de vitórias de Pirro e de boas intenções que se revelam infernais. E aqui o Cristianismo surge como uma reserva de sentido diante das pretensões soteriológicas da tecnologia, como já indicado acima. Por isso a injunção de Gênesis é mais válida do que nunca: “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”. O pó é nosso legado, nossa pré-condição para o acolhimento do Espírito13. Concluo, finalmente, com um poema retirado da Internet, que vem bem a calhar para nossas reflexões. É intitulado Curse you, Eric Drexler. It is hard to be a Zombie (Amaldiçoado sejas,

13 Sobre o tema do pó na tradição cristã, relativo às novas tecnologias, ver HEWLETT (2008).


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Eric Drexler. É difícil ser um zumbi), de Eliezer S. Yudkowsky (www.aleph.se/Trans/Cultural/Fun/zombie.html): It’s hard to be a zombie in the age of nanotech. My arms have reattached themselves, my head’s back on my neck. So maybe I’ll retire, and maybe I’ll take five; Curse you K. Eric Drexler, I might as well be alive14.

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14 “É difícil ser um zumbi na idade da nanotecnologia. Meus braços se religaram, minha cabeça está de volta sobre meu pescoço. Assim talvez eu me aposente, ou talvez só dê um tempo. Maldito sejas, Dr. Drexler, eu poderia até estar vivo”.


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Eduardo Rodrigues da Cruz é natural de Brusque, SC. É físico e teólogo, graduado pela USP e pela Fac. Teologia N. Sa. Assunção. Doutor em Teologia Sistemática (especialização ReligiãoCiência) pela Lutheran School of Theology/The University of Chicago, é professor titular na PUC/SP. Trabalha com ênfase nos temas história e filosofia da ciência; ciência-religião/teologia; fundamentos epistemológicos da teologia e da ciência da religião; religiões implícitas, em especial o discurso religioso de cientistas e tecnólogos; filosofia/teologia de Paul Tillich. Algumas publicações do autor CRUZ, Eduardo. R. The Sacred, Nature, and Technology. Zygon (Chicago), v. 41, 2006, p. 793-9. _______. Origens, Míticas e Científicas. Ciência e Cultura (SBPC), v. 60, p. 68-72, 2008. _______. A Dupla Face. Paul Tillich e a Ciência Moderna, Ambivalência e salvação. São Paulo: Loyola, 2007a. _______. Diálogos e Construções Mútuas: Igreja Católica e Teoria da Evolução. In: SOARES, Afonso Maria L.; PASSOS, João Décio (org.). Teologia e Ciência. Diálogos acadêmicos em busca do saber. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 65-85. _______. Cientistas como Teólogos e Teólogos como Cientistas. In: SOARES, Afonso Maria L.; PASSOS, João Décio (org.). Teologia e Ciência. Diálogos acadêmicos em busca do saber. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 175-211.

N. 106 N. 107 N. 108 N. 109 N. 110 N. 111 N. 112 N. 113 N. 114 N. 115 N. 116 N. 117 N. 118 N. 118 N. 119 N. 120

Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Humanas: Igualdade e Liberdade nos discursos educacionais contemporâneos – Profa. Dra. Paula Corrêa Henning Da civilização do segredo à civilização da exibição: a família na vitrine – Profa. Dra. Maria Isabel Barros Bellini Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidário, terno e democrático? – Prof. Dr. Telmo Adams Transumanismo e nanotecnologia molecular – Prof. Dr. Celso Candido de Azambuja Formação e trabalho em narrativas – Prof. Dr. Leandro R. Pinheiro Autonomia e submissão: o sentido histórico da administração – Yeda Crusius no Rio Grande do Sul – Prof. Dr. Mário Maestri A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São Paulo e o contexto da publicidade e propaganda – Denis Gerson Simões Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra – Yentl Delanhesi SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – Sonia Montaño Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – Prof. MS Carlos Daniel Baioto Humanizar o humano – Roberto Carlos Fávero Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião – Róber Freitas Bachinski Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo Dascal Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo Dascal A espiritualidade como fator de proteção na adolescência – Luciana F. Marques & Débora D. Dell’Aglio A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fagundes Cabral & Nedio Seminotti


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