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Os Cadernos IHU ideias apresentam artigos produzidos pelos convidados-palestrantes dos eventos promovidos pelo IHU. A diversidade dos temas, abrangendo as mais diferentes áreas do conhecimento, é um dado a ser destacado nesta publicação, além de seu caráter científico e de agradável leitura.


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Jornalismo Infantil: Apropriações e Aprendizagens de Crianças na Recepção da Revista Recreio

Greyce Vargas ano 8 • nº 142 • 2010 • ISSN 1679-0316


UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Vice-reitor José Ivo Follmann, SJ Instituto Humanitas Unisinos Diretor Inácio Neutzling, SJ Gerente administrativo Jacinto Aloisio Schneider Cadernos IHU ideias Ano 8 – Nº 142 – 2010 ISSN: 1679-0316

Editor Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos Conselho editorial Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta – Unisinos Prof. MS Gilberto Antônio Faggion – Unisinos Profa. Dra. Marilene Maia – Unisinos Esp. Susana Rocca – Unisinos Profa. Dra. Vera Regina Schmitz – Unisinos Conselho científico Prof. Dr. Adriano Naves de Brito – Unisinos – Doutor em Filosofia Profa. MS Angélica Massuquetti – Unisinos – Mestre em Economia Rural Prof. Dr. Antônio Flávio Pierucci – USP – Livre-docente em Sociologia Profa. Dra. Berenice Corsetti – Unisinos – Doutora em Educação Prof. Dr. Gentil Corazza – UFRGS – Doutor em Economia Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel – UERGS – Doutora em Medicina Profa. Dra. Suzana Kilpp – Unisinos – Doutora em Comunicação Responsável técnico Antonio Cesar Machado da Silva Revisão Isaque Gomes Correa Secretaria Camila Padilha da Silva Editoração eletrônica Rafael Tarcísio Forneck Impressão Impressos Portão

Universidade do Vale do Rio dos Sinos Instituto Humanitas Unisinos Av. Unisinos, 950, 93022-000 São Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.35908223 – Fax: 51.35908467 www.ihu.unisinos.br


JORNALISMO INFANTIL: APROPRIAÇÕES E APRENDIZAGENS DE CRIANÇAS NA RECEPÇÃO DA REVISTA RECREIO

Greyce Vargas

Haverá um dia – talvez este já seja uma realidade – em que as crianças aprenderão muito mais e muito mais rapidamente em contato com o mundo exterior do que no recinto da escola. Marshall McLuhan

A forma como o jornalismo infantil participa do processo de aprendizagem das crianças é o foco principal desta pesquisa, que buscou investigar as apropriações que este público realiza da Revista Recreio e como as mediações atravessam essa relação. O desenvolvimento e o processo de educação das crianças, analisados nesta pesquisa, estão situados num contexto que envolve questões psicológicas, econômicas, sociais e políticas, pois tais questões têm influências de extrema relevância quando se fala em processo de educação. 1 A Construção metodológica Com o intuito de investigar e compreender a relação que se estabelece entre a criança e o jornalismo infantil, e como isso influencia o processo de ensino e aprendizagem, a construção da pesquisa se deu em torno de alguns conceitos fundamentais para o entendimento desse universo. E, assim, foi importante compreender conceitos como o da midiatização e, mais especificamente, o da midiatização da infância. Com isso, partimos para a contextualização do jornalismo infantil. O trabalho de Arroyo (1990) teve um papel central para o desenvolvimento dessa questão, pois sua investigação acerca da literatura infantil incluiu desde os primeiros jornais feitos para o público infantil até o jornalismo que as crianças e jovens do início do século produziam. Essa tarefa ajudou a entender o desen-


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volvimento do jornalismo para crianças e como ele está ligado com a evolução da comunicação. Com o intuito de organizar as funções do jornalismo infantil, compreendemos o jornalismo e a notícia, e suas funções, dentro do contexto da comunicação social para poder, com isso, partir para uma análise e fundamentação teórica do que vem a ser o jornalismo infantil. Paralelamente, construímos a pesquisa empírica que se dividiu em pesquisa exploratória e pesquisa sistemática. 1.1 A pesquisa exploratória Através de leituras da obra de Piaget, sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças e jovens e das formulações a respeito da teoria da genética, trabalho com o público que tem de nove a doze anos. Este autor explica que, nesta fase, a criança tem condições não apenas de ler um texto, mas de interpretá-lo já de forma mais crítica e questionadora. Nesta idade a criança começa a se libertar da coação adulta, o que traz importantes resultados na sua formação da consciência moral. Definido o público, uma escola pública foi escolhida para a realização das entrevistas da pesquisa exploratória, onde uma entrevista estruturada foi aplicada com 26 meninas e 32 meninos. Através dessas entrevistas consegui identificar os pontos de vista desse público em relação ao que vem a ser o jornalismo e o jornalismo infantil. Também foi possível identificar alguns assuntos que chamam a atenção delas dentro desses conteúdos jornalísticos produzidos pela mídia infantil. O que também ajudou a desenhar um perfil para aquelas crianças que participariam da pesquisa sistemática. De grande relevância foram também as pistas acerca do que as crianças pensam sobre o jornalismo e jornalismo infantil. Na Tabela 1 é possível verificar as respostas dadas pelos alunos da primeira entrevista que optaram responder à pergunta: o que é jornalismo? Tabela 1: Sentidos relativos ao jornalismo O que é jornalismo? Pessoas que trabalham em jornal Informação e notícias Reportagem Explicar as coisas Com relação ao jornalismo infantil, as crianças mostraram suas compreensões sobre o jornalismo infantil. A distribuição das respostas sobre esta questão pode ser visualizada na Tabela 2.


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Tabela 2: Sentidos relativos ao jornalismo infantil O que é jornalismo infantil? Jornalismo específico para crianças Produtos de educação Jornal para criança Programas educativos Diversão Programas de TV para crianças Adultos que transmitem para crianças Livro de histórias Crianças que entrevistam crianças Foi importante ver também a percepção das crianças em relação a esta especificidade do jornalismo. Nas respostas surgiram pistas importantes, pois algumas delas sabem que o jornalismo infantil é um jornalismo específico para crianças. Interessante também foi ver que alguns alunos relacionam com produtos de educação, isto é, essas crianças já unem o significado desta prática com uma forma de educar. Outros dados interessantes apareceram aí, como o fato de elas entenderem que o jornalismo infantil é um tipo de jornalismo que é feito por adultos para crianças. Nestas entrevistas também foi perguntado se as crianças aprendem e o que aprendem quando têm contato com os meios de comunicação. O resultado apareceu da seguinte forma: Tabela 3: Temas sobre os quais a criança aprende através do jornalismo infantil O que as crianças aprendem através dos programas infantis? Sobre o mundo Sobre o meio ambiente Sobre sentimentos Sobre muitas coisas Muitas dicas Sobre português Sobre futebol Sobre higiene Sobre amizades Que as crianças não devem trabalhar


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Neste momento surgiram dados interessantes para a pesquisa. Um menino escreve que aprende muitas coisas e diz que, se não fosse a TV, ele não saberia do terremoto que ocorreu na China1. Estes dados sinalizam a ocorrência de aprendizados relacionados a vários âmbitos: acontecimentos mundiais, meio ambiente, esportes, valores etc. Finalizadas e tabuladas as entrevistas, o próximo passo foi realizar uma análise profunda que relacionava o perfil, o consumo e entendimento das crianças sobre o jornalismo infantil. 1.2 Pesquisa sistemática Apresento aqui as estratégias metodológicas relativas à recepção, assim como os métodos para analisar e compreender a Revista Recreio e inseri-la dentro da metodologia. Com isso busco entender o jornalismo infantil a partir do universo das crianças escolhidas para participar da pesquisa sistemática, que foi realizada com quatro crianças que participaram da pesquisa exploratória. Após análise dos dados obtidos na pesquisa exploratória, foi estabelecido que eu trabalharia com quatro crianças na pesquisa sistemática, duas meninas e dois meninos. Estes foram entrevistados em suas casas ou locais de trabalho de seus pais. Nas entrevistas busquei aprofundar questões acerca do perfil das crianças, identificar o atravessamento midiático, qualificar as formas de consumo de mídia infantil e de jornalismo infantil, além de entender a relação da criança com a Revista Recreio. A partir da compreensão dessa relação, busquei compreender a forma como a criança se apropria das mensagens enviadas pela Recreio e como as mediações interferem no processo de aprendizado estabelecido com essa relação. No segundo momento, foi realizado uma leitura compartilhada de alguns exemplares da Recreio. Com essa leitura da revista, aprofundamos questões acerca dos usos e apropriações que as crianças fazem da publicação e tratamos com mais ênfase da forma como as mediações famílias, escola e amigos participam do processo de aprendizagem. 2 Compreendendo a midiatização Para compreender como se dá a relação do jornalismo com o processo de educação, foi necessário entender o processo de midiatização, tanto da educação, quanto da própria criança. Para Maldonado

1 A criança se refere ao terremoto que alcançou 7,8 graus na escala Richter e atingiu a região de Sichuan, no centro da China, vitimando 85 mil pessoas, em 2008.


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a midiatização é um processo histórico singular que aconteceu de forma expansiva e intensa no século XX, como necessidade sistêmica das formações sociais capitalistas hegemônicas, as quais estruturaram por meio da informatização seus modelos financeiros, industriais e comerciais e suas novas reconfigurações. Essas mudanças precisaram, simultaneamente, da construção de campos sociais e formas de vida simbólica que sejam coerentes com as lógicas produtivas do capitalismo informatizado (MALDONADO, 2002, p. 05).

Conforme observa Mata (1999), a noção de cultura midiática vem sendo desenvolvida para alcançar uma nova compreensão acerca dos fenômenos de produção coletiva de significados nas sociedades atuais. Assim, penso que as formas em que o jornalismo infantil se apresenta foram evoluindo ao longo do último século exatamente dentro desse processo, uma vez que ele foi se atualizando, mudando formatos, sentidos, símbolos, foco, públicos, enfim, conforme o processo de midiatização se consolidava. Isso também é explicado pela autora, quando ela diz que a cultura massiva é um estado do desenvolvimento da modernidade. Maldonado (2002) afirma que as mídias encontram uma forma de configurar um campo social central nas formações sociais contemporâneas de forma que, nesse campo social, passem as definições e divulgação de outros campos. Sobre isso, Mata também afirma que a midiatização da sociedade nos mostra a necessidade de reconhecer que é o processo coletivo de produção de significados através do qual uma ordem social se compreende, se comunica, se reproduz e se transforma, que se redesenhou a partir da existência das tecnologias e meios de produção e transmissão de informação. Assim, penso que a mídia também passa a participar do processo de aprendizado das crianças, visto que elas se relacionam com a os meios de comunicação, atualmente. É dessa relação que a criança pode compreender a história das sociedades, assim como com a sua vinculação aos processos econômicos e políticos. Compreende, obviamente, com uma visão particular, de criança, mesmo que pareça não compreender profundamente um fato, mas sabe que ele existe e muitas vezes sabe por que ele existe. Para Verón (1997), a educação e a formação são processos graduais, progressivos e ordenados. É possível perceber que os processos de educação e formação são também influenciados pela evolução do capitalismo, e, portanto, pela midiatização também. Outro ponto, que acredito ser importante destacar, já que estou falando em interferência do jornalismo infantil na educação, é o fato de que a midiatização, ao estar inserida no cotidiano das crianças, conduz a uma mudança de sentido. Essa mudança se deve ao fato de que a midiatização proporciona o


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acesso a informações que antes eram praticamente inacessíveis e, agora, complementam uma notícia, por exemplo. Por isso, segundo Maldonado, é preciso que seja feita uma significativa ação por parte “das escolas, universidades, movimentos sociais, ONG’s, mídias alternativas e internet na configuração de cenários e ambientes comunicacionais fora da lógica do capital” (2002. p. 09), pois precisamos saber que cultura midiática adentra o cotidiano dessas crianças. 2.1 Uma breve história do jornalismo infantil É possível visualizar a constituição do jornalismo infantil em dois campos: o jornalismo que é feito por crianças e o que é feito para crianças. O primeiro possui uma ligação muito forte com a área da pedagogia, uma vez que estuda os jornais produzidos por crianças em sala de aula. Freinet, na década de 1960, percebendo os déficits em relação ao modo tradicional de ensinar a ler e escrever às crianças, pesquisou e aplicou um novo método, que chamou de método global. Este diz que a criança aprendia quando conhecia, verdadeiramente, o significado, as formas e outras características de uma palavra. Certo de que seu método global ainda estava longe de ser perfeito, mas que estava a caminho, Freinet aplicava-o utilizando a prática jornalística. O autor explica que “através da imprensa na escola, as crianças começaram a falar na aula, a exprimir-se, pela palavra, pela caneta, pelo lápis, pela mímica. E esta expressão espontânea tornou-se o eixo essencial de toda a nossa pedagogia” (FREINET, 1977, p. 48). Utilizando o jornalismo feito por crianças, ele foi considerado o iniciador desse tipo de jornalismo infantil. A intenção inicial do jornalismo produzido por crianças era, e é até hoje assim pretendido, uma forma de deixar a criança livre para dizer o que pensa, uma forma de expressar suas ideias pessoais. No Brasil do fim do século XXI e início do século XX, diversas escolas seguiram o exemplo de Freinet e produziram seus próprios periódicos. Destacam-se, numa investigação feita por Leonardo Arroyo (1990), os jornais O Pestalozzi (São Paulo, 1884) e O Colegial que, segundo Arroyo, era um órgão escolar e infantil de grande aceitação. Também destaca O Guarani, do Colégio Paulista de Taubaté, por onde passou Monteiro Lobato2. Todos eles, como relata Arroyo, eram jornais muito ativos no sentido de utilizarem muitas ilustrações, poesias, artigos de fundo, anedotas e faziam circular as primeiras manifestações literárias dos alunos. O jornalismo infantil produzido por adultos também tem uma história peculiar. Segundo Ferreira, esse tipo de jornalismo 2 Monteiro Lobato foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. É conhecido pelo conjunto educativo e divertido de seus livros infantis.


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tem a função de informar, educar e entreter seu público alvo. Arroyo e Ferreira apontam, em relação à primeira publicação com certo conteúdo jornalístico – ainda que extremamente focado no entretenimento – para crianças no Brasil, a revista O Tico Tico. Publicada pela primeira vez em 1905, pelo jornalista Luis Bartolomeu de Souza e Silva3, essa revista foi a primeira a reproduzir histórias em quadrinhos. Sem grandes concorrentes até a década de 1930, quando os quadrinhos estadunidenses invadiram as bancas brasileiras, a revista O Tico Tico não trazia exatamente um jornalismo informativo; prezava, porém, pelo lazer. Ela prometia ser o jornal da “classe” infantil, como pode ser percebido em seu texto de apresentação: Eu acho que vocês todos têm razão. Na verdade, chega a ser uma injustiça que no Brasil todas as classes tenham o seu jornal e só vocês não o tenham. Pois bem! Futuros Salvadores da Pátria e mães de família futuras! Daqui em diante, às quartas-feiras, exigi de vossos pais O Tico Tico (O Tico Tico, 1905).

Arroyo (1990) fala da importância da imprensa em todo o processo de formação da literatura infantil brasileira que, mundialmente, iniciou no século XVII, mas no Brasil foi introduzida no século XIX, com a chegada da Família Real, através das obras de Fénelon4. O autor explica que os jornais infantis marcaram um período importante para o desenvolvimento da literatura infantil brasileira, pois contribuíram para a criação de um campo favorável à evolução como pode ser percebido no trecho a seguir: Numa época em que praticamente a literatura oral ainda exercia notável influência e era mesmo o instrumento lúcido e instrutivo por excelência da meninada do Brasil, os primeiros jornais dedicados às crianças não só despertavam o interesse do pequeno leitor, através do instrumento de cultura que representavam, como também se constituíam em veículos galvanizadores de vocação e de discussão de problemas e questões relativas ao aprendizado escolar. (ARROYO, 1990, p. 64)

Arroyo contextualiza as primeiras publicações jornalísticas para o público infantil no Brasil e no mundo. Na Inglaterra há o registro do jornal The Lilliputian Magazine, datado de 1751, que é considerado a primeira manifestação de imprensa infantil em todo o mundo. No Brasil, há manifestações interessantes e importantes da imprensa porque deixavam claro suas intenções com a juventude da época. Entre elas, destacou: O Adolescente, de 1887, considerado um jornal de divertimento e de recreação 3 Luís Bartolomeu de Souza e Silva foi o criador da revista O Tico Tico, a primeira a publicar histórias em quadrinhos no Brasil. 4 François de Salignac de La Mothe-Fénelon foi poeta e escritor. Tinha propostas liberais para a política e educação. Nasceu na França.


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que contava com um autor jovem e popular na época, Paulo de Koch5. Somente em 1898 há o registro de uma publicação própria para meninas: O Álbum de meninas, uma revista literária e educativa editada por Anália Emília Franco6. Um relatório realizado pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) focou nas publicações que atingiam a juventude brasileira: “um dos grupos populacionais que mais sofrem com o impacto do crítico cenário social do nosso país” (2004, p. 03). Tanto o relatório como as pesquisas que encontrei sobre jornalismo infantil revelam que os meios de comunicação exercem hoje uma grande influência na formação da personalidade de cada cidadão e “a emergência (ou a consciência) dessa nova constelação de questões relacionadas à juventude coloca os jornalistas e as empresas de comunicação frente a um grande desafio em termos de compromisso social, qualificação, inteligência e criatividade” (ANDI, 2002, p. 04). Esta organização verificou ainda que faltam linhas editoriais específicas nas publicações jornalísticas infantis e que os suplementos contemporâneos desse gênero estão ainda muito ligados à formatação tradicional baseada em passatempos e sugere que eles sejam repensados e que compreendam sua força pedagógica para o desenvolvimento da cidadania desde os primeiros anos de vida. Essa é uma pista para entendermos porque há poucos veículos que se utilizam do jornalismo para falar com o público infantil. As pautas que preenchem a programação infantil nos meios de comunicação variam, geralmente, entre comportamento e entretenimento, mas pautas relevantes do ponto de vista social são pouco exploradas. 2.2 Os caminhos da midiatização através da educação Compreender que a educação também passa por um processo de midiatização parece óbvio num primeiro momento, pois, como discute antes, a midiatização afeta de forma bastante significativa todos os âmbitos sociais. Para Martín-Barbero las etapas de formación de la inteligencia en el nino son hoy replanteadas desde la reflexión que tematiza e ausculta una experiencia social que pone en cuestión tanto la visión lineal de las secuencias como el “monoteismo de la inteligencia” que se encontra incluso en la propuesta de Piaget. Pues psicólogos y pedagogos constatam hoy en el aprendizaje infantil y adolescente inferencias, “saltos en secuencia”, que resultam a su vez de mayor significación y relieve para los investigadores de las ciencias cognitivas (2003, p. 84)

5 Novelista e escritor brasileiro. 6 Anália Emília Franco nasceu em 1853. Criou a Associação Feminina Beneficente e Institucional do Estado de São Paulo e dedicou sua vida à educação feminina.


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Ou seja, nossas relações e experiências estão cada vez mais envolvidas com os meios de comunicação e com as mídias e, desta forma, podemos perceber que há uma reorganização social a partir da lógica das mídias. O autor afirma que vivemos hoje uma ruptura geracional, o que mostra que há uma mudança no processo de educação e não nos conteúdos, uma vez que agora apareceu uma grande “comunidade mundial” em que as tradições e culturas migram no espaço e no tempo. Ou seja, se a escola e os pais ensinam algo a uma criança, com a disseminação de informação através dessa comunidade mundial, a criança não só aprende o que esses atores ensinaram, como também têm acesso a outros pontos referentes a questão aprendida. “Trata-se dos materiais informativos mais diversos, com diferentes origens, interesses e incidência” (MARTÍN-BARBERO, 2006, p. 52), o que faz com que o sistema educativo como um todo passe a se perguntar, o que significam saber e aprender neste tempo de economia da informação e como esse sistema educativo pode pretender ser hoje um espaço social e cultural de apropriação de conhecimento. E o processo de midiatização, que contribui para difusão de informações acerca de notícias que trabalham com o imaginário das crianças e, assim, relatam informações com as quais elas se relacionam no dia a dia, pensando, antes de tudo, que o entretenimento vem em primeiro lugar para fazer parte da dinâmica social deste público. No entanto, enquanto questões fundamentais como essas são colocadas no debate, a escola reduz moralmente o conflito iniciado a partir da intensa relação que a criança passou a ter com os meios de comunicação e os efeitos dessa divisão de espaço no processo de educação delas, além de traduzi-lo como um “discurso de lamentaciones sobre la manipulación que los médios hacen de la ingenuidad y curiosidad de los niños” (MARTÍN-BARBERO, 1996, p. 13). Há resistência, é claro, em relação à criação de novos cenários e formas de diálogo, mas é neste mesmo espaço que, segundo Martín-Barbero, a comunicação aponta hoje para um novo tipo de sensorium7, criando novos modos de perceber, de sentir e de se relacionar com o tempo e o espaço, assim como novas formas de relação. É visível o quanto alguns espaços de educação se abrem para os meios de comunicação e o quanto outros se fecham e resistem à sua influência. Mas todos eles são importantes para as crianças. Elas precisam de todos esses espaços de aprendizagem para se tornarem cidadãos conscientes e críticos, em relação às formas de desenvolvimento da educação e da comunicação. A esses espaços cabe, hoje, compreender o que significa essa relação da comunicação e da educação e que caminhos tomará essa união, assim como precisamos entender 7 Conceito originalmente desenvolvido por Walter Benjamin.


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que tipo de educação cabe nos espaços abertos pelos meios de comunicação. A lógica da globalização submete a cultura, a educação e a comunicação à lógica do mercado, o que faz com que a concepção individual e coletiva desses três espaços se organizem em função do mercado de trabalho. No entanto, para Martín-Barbero (2003), a comunicação vem cumprindo um significativo papel dentro da lógica do desenvolvimento da infraestrutura tecnológica da globalização, assim como dos ideais neoliberais e na deslegitimação do espaço e dos serviços públicos. Por isso, para o autor, já não mais vivemos numa sociedade com sistema educativo, mas numa sociedade educativa, onde a educação atravessa tudo. Acredito, com base nessa afirmação, que a educação precisa, hoje, se relocalizar na comunicação, ou seja, precisa encontrar o seu lugar, o seu espaço e o seu tempo. Ora, se a educação atravessa tudo, ela cruza com a comunicação que, por consequência, é fortemente midiatizada. É por isso que não basta tentar se afastar dos meios de comunicação, pois atualmente os espaços de educação precisam dividir tanto seu lugar quanto sua função pedagógica com as mídias, que desempenham um papel fundamental nos mecanismos de funcionamento social e são pautadas pela evolução das demandas da sociedade. Mesmo que a escola tome esses outros espaços de aquisição do saber como uma ofensa ao seu poder em relação às crianças, o processo de midiatização da educação é inerente à comunicação, pois ambos nasceram baseados na experiência do outro. Há um novo modo de relação entre o conhecimento e a produção social, e isso não significa que a escola irá desaparecer, mas as suas condições de existência e a forma particular como se envolve hoje na vida das crianças estão vivendo um momento de profunda transformação. O cruzamento entre educação e comunicação é um fato extremamente importante, pois é neste espaço de “mescla” que possibilidades são vislumbradas, a expressão ganha força e onde o futuro toma forma. E, ainda assim, a educação continua sendo “o principal processo social de inserção do ser humano na sociedade” (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 26). 3 Perspectivas teóricas para compreender o jornalismo infantil A relação que se estabelece entre a criança e a mídia não é recente, mas sempre foi algo complexo exatamente por estarmos investigando um ser que está sendo formado, cujo processo de formação é atravessado por diversas mediações. E um desses processos é o jornalismo. Para desenvolver a referida pesquisa, busquei fundamentar o que vem a ser o jornalismo


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para crianças partindo das ideias e teorias acerca do jornalismo e das perspectivas e desejos desse público. Compreendo a educação como uma das funções principais do jornalismo. A prática do jornalismo nasce da necessidade do capitalismo de registrar os fatos do cotidiano e seus objetivos estão enraizados em conceitos óbvios e praticamente inalcançáveis: objetividade e imparcialidade. Uso o termo inalcançável após uma reflexão acerca do texto de Sousa (2001), que argumenta que apenas o objeto do qual vamos narrar é objetivo; a narração que parte do jornalista, um sujeito do conhecimento, está associada à subjetividade. Portanto, seu discurso não é de alguém que mostra a realidade, mas sim de alguém que reconstrói discursivamente a realidade e isso atinge todas as áreas do conhecimento humano. Isso acontece porque, como observa o autor, o jornalista não tem acesso à realidade em si, assim como qualquer pessoa. Ele só tem acesso às manifestações da realidade. Assim, ao narrar um fato, o jornalista reconstrói a realidade e, desta forma, a notícia adquire também componentes subjetivos. Com as sociedades cada vez mais midiatizadas, o jornalismo foi assumindo um papel central na vida das pessoas e tanto a prática quanto a teoria foram desenhando a posição do jornalismo nas sociedades. Como observa Traquina (2001), foi a teoria democrática quem definiu que o papel do jornalista é social. Karam8 já dizia que “um jornalista lúcido, crítico e competente, que ostenta o título longe de uma possível vergonha, certamente estará a favor do conhecimento, da liberdade e da justiça”. Assim como Traquina (2001), concebo a notícia como o resultado da interação que se dá entre os jornalistas e a sociedade, pois os jornalistas não são observadores passivos, mas participantes ativos na construção da realidade. Esta é a chave da responsabilidade social do jornalista: compreender o papel que temos ao construir a notícia e reconstruir a realidade ali apresentada. Assim, na medida em que a globalização avança e o processo de midiatização vai ficando cada vez mais intenso, o jornalismo é tido como poderoso, pensando o poder como um ato resultante do “trabalho de transformar acontecimentos em notícias” (SOUSA, 2001, p.12). Compreender esse papel e a importância do crescimento da influência do jornalismo é fundamental para que se possa pensar, teoricamente, no jornalismo infantil. Podemos perceber que essa ciência da comunicação nasceu já baseada em práticas pedagógicas, pois é parte de uma parcela do conhecimento humano. Sabemos que a midiatização tornou a informação praticamente universal e que esta informa8 Este texto chama-se A formação de jornalistas, o currículo das escolas e os erros de jovens e antigos jornalistas. Foi obtido na disciplina acadêmica de Ética, Legislação e Crítica da Mídia, no período de 2008/1.


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ção, de certa forma, ensina algo, embora não esteja associada à aprendizagem. Consequência do interesse capitalista, o jornalismo apresentava, já no século XVII, distração, diversão e meios de suprir a curiosidade do leitor. O surgimento do jornalismo pode ter sido, inclusive, “em função das necessidades produzidas pela sociedade na sua dimensão global” (GENRO FILHO, 1987, p. 174), mesmo que possa servir aos interesses do capital. Este autor observa que as principais funções do jornalismo são: informar, interpretar, guiar e divertir. Informar é dar conhecimento de algo a alguém; interpretar é explicar e traduzir uma informação; guiar significa orientar; e, por fim, divertir é sinônimo de distrair e entreter. Logo, uma das funções do jornalismo é, também, ensinar, participar de um processo moldado, mas inseparável de qualquer processo: a educação. Dentro dessa função, portanto, o método para ensinar nada mais é do que a construção da notícia. Estávamos próximos da metade do século XX quando Robert Park afirmou que a notícia é uma forma de conhecimento que, ao se relacionar ao jornalismo, pode ser subdivido em “conhecimento de” e “conhecimento acerca de” (PARK, 1972). As duas formas de conhecimento têm funções diferentes, mas são inerentes ao jornalismo. Para Park, por “falar” do presente é que a notícia toma essa função no processo de educação. Assim, a função da notícia é orientar a sociedade no mundo real e atual. A notícia e a informação jornalística são, na perspectiva que assumo para pensar o jornalismo infantil, um método para ensinar através do jornalismo, porque representam uma expressão material do fazer jornalístico. Park diz que a notícia não apenas informa o receptor, mas, principalmente, o orienta. É próprio do jornalismo, portanto, a função de educar. Ele não seria jornalismo se não proporcionasse meios para educar, interpretar, guiar e, algumas vezes, divertir. E é a partir da presença de todas essas funções que me parece que o jornalismo infantil está fundamentado. Compreender isto me parece importante, principalmente quando viemos de uma fase em que as pesquisas em comunicação colocam a relação entre o jornalismo e a sociedade no centro das discussões. Porém, dentro do jornalismo infantil as teorias não foram organizadas e o público infantil vem sendo pensado principalmente pela visão mercadológica. 3.1 As funções do jornalismo infantil Para conceber um conceito de jornalismo infantil, parti do conceito de midiatização para poder observar as manifestações da mídia ao trabalhar com produtos específicos para crianças e, então, compreender a relação do fenômeno da midiatização com a educação. Aproximei-me um pouco mais deste conceito quando retomei alguns conceitos de jornalismo e suas funções.


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Assim, baseada nas entrevistas da pesquisa exploratória, onde pude ouvir um número maior de crianças dentro de um espaço tradicional de aquisição de conhecimento, e em alguns trabalhos acerca da análise de algumas mídias infantis, é que foi possível trabalhar uma perspectiva teórica para pensar o jornalismo infantil. Existem inúmeras mídias que trabalham com o público infantil e algumas utilizam o jornalismo. Conforme afirma Block, essas mídias “prometem informação e/ou formas saborosas de entretenimento” (2001, p. 52). Ou seja, podemos dizer que o jornalismo infantil pode unir informação e entretenimento como estratégia para levar sua mensagem à criança. É difícil explorar todas as mídias onde o jornalismo infantil se apresenta e produzir uma teoria acerca desta prática específica. No entanto, tratando-se de um público restrito, numa fase peculiar, foi preciso fazer uma avaliação geral do que é apresentando e refletir acerca dos trabalhos desenvolvidos sobre o jornalismo infantil para compreendê-lo como um todo, encontrando, assim, inclusive, funções importantes para ele, independente da mídia em que esteja sendo utilizado. Ferreira pensa que “os jornais infantis, ao possibilitar a participação e expressão das crianças, contribuem para o desconfinamento, uma vez que permitem que seu público conheça o mundo em sua diversidade” (2006, p. 138). Não basta, portanto, criar uma linguagem, textual e visual, para falar com a criança; é preciso permitir que ela também se insira no processo de produção desse programa/publicação que utilize o jornalismo infantil. Há uma necessidade informacional por parte das crianças, e isso pôde ser verificado durante a pesquisa exploratória, uma vez que as crianças citaram assuntos que apreenderam com essas mídias. Ferreira diz que ao fornecer entretenimento, os jornais infantis não deixam de agradar ao público, principalmente com a presença de crianças. As brincadeiras, as piadas e os quadrinhos também são elementos que garantem uma leitura prazerosa. Nos suplementos, a participação das crianças nas fotos e textos é importante porque transmite alegria e representa o leitor (FERREIRA, 2006, p.139).

As crianças, durante a pesquisa exploratória, apontaram ainda saber dos assuntos relevantes e/ou amplamente divulgados pelo “jornalismo adulto”. Isso demonstra que há interesse das crianças pelos temas atuais. Penso que isso não pode ser ignorado pelo jornalismo infantil. Além de prazer, divertimento e representatividade, as crianças querem aprender, e descobrir qual é o seu espaço na sociedade para, de fato, ocupá-lo. Isso as torna leitoras do mundo. Ferreira (2007) reflete que um dos problemas do jornalismo infantil está próximo a um problema


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também do jornalismo tradicional, que é a concentração de informação por parte dos grandes grupos de comunicação, que filtram notícias conforme seus interesses. Por isso os conteúdos preparados especificamente para esse público necessitam de tratamento especial. A criança interpreta, mas pode não ter subsídios suficientes para compreender que uma notícia não é objetiva e imparcial e que pode estar a favor de crenças e interesses daqueles grupos hegemônicos detentores da publicação. O jornalismo infantil trata de um público diferenciado e precisa ainda que as notícias criadas dentro desse contexto tenham o máximo de isenção possível, pois escrever para crianças não é uma missão fácil. Não é satisfatório simplificar a linguagem, o discurso, apelar para diminutivos, abordar os assuntos de forma superficial. Redigir para elas em suplementos infantis publicados periodicamente é uma tarefa complexa, difícil de enfrentar sem cometer equívocos conceituais, de forma ou de linguagem (ANDI, 2002, p. 02).

Pensar na criança não como um cidadão, mas como uma mercadoria, é um erro, pois não dá a ela o direito de acesso às informações. Assim, para escrever para uma criança é preciso ter consciência de que se está formando um cidadão e que, mesmo que tenha pouca idade, ela tem o direito de receber a informação do jornal de forma qualificada. “A questão não é abordar os assuntos do chamado mundo adulto de um jeito infantil” (ALVES, 1993, p. 83), mas o veículo que quer falar com a criança precisa deixar bem claro sobre o que quer tratar e com quem quer falar. Ele pode tratar sim de temáticas mais profundas, mais do mundo adulto, mas de uma forma lúdica, trazendo-as para dentro do universo da criança para que esta possa compreender e ampliar sua visão sobre aquele assunto; porém, se o veículo se propõe a unir informação e entretenimento, tratando especificamente de assuntos do “mundo das crianças”, precisa assumir que a criança não é uma mercadoria. Conforme Girardello, produzir material cultural e jornalístico para o mundo infantil requer alguns conhecimentos, por isso ela defende uma formação diferenciada para estes produtores. Para compreender a produção do jornalismo infantil, penso que o jornalista que o produz precisa se envolver com o tema e pensar nele a partir da sua própria experiência enquanto alguém que um dia foi criança. Assim, o produtor de jornalismo infantil tem uma missão pela frente: contribuir para que a criança saiba o que é um cidadão responsável e encontre o seu papel enquanto membro de uma comunidade, além de mostrar o “mundo” para as crianças, agregando informações a partir daquilo que ela já aprende em outros espaços de educação. Como argumentam Pita e Mota (2002), a proposta do jornalismo infantil é formar um


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leitor crítico e participativo, considerando que está lidando com um público inteligente e questionador, capaz de assimilar as informações tanto quanto um adulto. Por isso, “falar sobre a realidade é importante, pois localiza o público infantil no tempo e o aproxima do mundo dos adultos” (PITA e MOTA, 2002, p. 37). No entanto, a criança não lê uma publicação jornalística para se informar, mas para se entreter. Portanto, ela necessita que o jornalismo infantil traga informações instigantes que atraiam sua atenção. É possível dizer, então, que uma das regras do jornalismo infantil é a informação de qualidade, com linguagem adequada, pensando nele como instrumento de educação, fonte de entretenimento e aberto à participação dos leitores. Assim sendo, o jornalismo infantil deve considerar a interatividade como um espaço para que a criança possa se manifestar, já que são singulares no seu modo de pensar e sentir, diferente dos adultos. É preciso, portanto, superar a formatação baseada em passatempos, em que alguns periódicos infantis teimam em se fixar, e atentar para a importância do jornalismo infantil como um instrumento pedagógico que pode contribuir muito para a percepção e desenvolvimento da noção de cidadania desde criança. 3.2 Os contratos de leitura no jornalismo infantil Falo aqui de uma geração que nasceu já numa sociedade midiatizada. Por isso, é preciso compreender que há outros fenômenos inseridos neste contexto. Ao transformar notícias do “jornalismo adulto” e enquadrá-las dentro do jornalismo infantil, podemos dizer que o profissional que escreve para crianças sabe, de certo modo, o que esse público quer saber. Captando essa intenção da criança, o jornalismo infantil tenta oferecer aquilo que ela busca. Assim, forma-se um contrato de leitura entre emissor e receptor. Tratando-se de crianças podemos dizer que esses contratos formados têm dimensões diversas e são constantemente reconfigurados para que possam se adaptar a este público. Essa é mais uma estratégia dos processos de midiatização que afeta nossas práticas sociais, a formação da identidade e o funcionamento das mídias, além de repercutirem, como informa Fausto Neto (2007), na produção de sentido do jornalismo. Os contratos de leitura, neste caso, podem ser encarados com uma forma de contato mais direito entre o que o jornalismo infantil quer dizer e a criança. Eles fazem parte de um conjunto de elementos que transitam autonomamente pelas mídias, pelos receptores, pelos emissores etc., ou seja, são elementos midiatizados e, portanto, afetam a prática do jornalismo infantil e a construção do mundo por ele produzido. Afetam também o papel do jornalismo e a sua relação com o receptor. No jornalismo infantil, os contratos de leitura podem ser percebidos pela forma explícita com que os vínculos vão se for-


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mando, para que os seres em formação possam se identificar com essa prática jornalística e, como diz Fausto Neto “estabelecer processos de reconhecimento da sua presença” (2007, p. 03) dentro desta mídia. Midiatizadas e inseridas dentro deste contexto onde a autonomia é defendida, as crianças, como disse antes, querem participar do processo de produção do jornalismo infantil. Ao estabelecer um contrato de leitura com a criança, o veículo a coloca dentro de um espaço que permite que a criança possa, de alguma forma, participar do processo de produção desta mídia. Creio que é possível identificar algumas estratégias das mídias infantis para estabelecer esse contrato com as crianças. A sua participação nos processos de produção das mensagens hoje é feita ainda muito à distância, como se as mídias fizessem o contrato e concordassem com essa interação nos processos de produção, mas não tivessem de acordo com a reciprocidade da divisão da manutenção desse contrato e, portanto, continuassem tendo controle sobre ele. O jornalismo infantil está criando esses contratos, mas ainda está aquém dos parâmetros dos contratos estabelecidos pelo “jornalismo adulto” com o seu público, que já permite que esse não apenas participe dos processos de produção, como possa produzir notícia também. No caso do jornalismo infantil, creio que essa relação mais íntima entre criança e jornalista pudesse criar não apenas um vínculo entre eles, mas também uma espécie de maior compreensão de uma idade pela qual já passamos, mas que, com as evoluções que o tempo nos traz, nunca serão iguais. Escrever para crianças hoje já não é mais apenas uma experiência de transposição, ou seja, eu jornalista penso na minha infância e escrevo para as crianças de hoje. É preciso uma compreensão multidisciplinar para que tanto o jornalismo infantil quanto os contratos que ele pense em estabelecer se desenvolvam para a criança contemporânea. 3.3 O jornalismo infantil na Revista Recreio Durante a pesquisa exploratória, uma mídia que se destacou como um produto jornalístico para crianças foi a Revista Recreio. Desta forma, foi interessante analisar como os conceitos apresentados até aqui estão presentes no que a publicação propõe. A criança que lê a Recreio a adquire com o propósito de aprender mais sobre aqueles temas que têm preferência, mas, principalmente, porque quer se divertir. Assim, a Recreio se apresenta como um novo produto da Indústria Cultural, trazendo temáticas que já fazem parte do conjunto de competências das crianças, mas agregando diversão e desafio a essa informação. Há informação em Recreio, com certeza. E esse é a razão principal da veiculação da revista, uma vez que na capa há manchetes para os temas onde a informação é prioritária, há chamadas para os testes, há destaque para reportagens e há uma imagem que


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traz informações sobre o tema principal daquela edição. Podemos considerar, então, que a Recreio segue a lógica pensada por Block: informação com “formas saborosas de entretenimento” (2001, p. 40). Mantendo-se fiel a essa característica, a criança encontra na Recreio um espaço só seu, onde há informação pensada, organizada, projetada e planejada para ela. Assim, o jornalismo produzido pela Recreio está dentro do que entendi como jornalismo infantil. Suas informações aliadas aos testes e passatempos, ao entretenimento oferecido, garantem uma leitura prazerosa. Ao contar com especialistas de diversas áreas do conhecimento, podemos considerar que a revista tem uma preocupação com o tipo de espaço de aprendizado que fornece às crianças, ou seja, com a qualidade da informação que transmitirá. Isso garante, de certa forma, segurança aos pais das crianças que estão consumindo este produto jornalístico, pois, mesmo que a Recreio não esteja livre de interesses do grupo9 que a produz, ela parte do conhecimento adquirido por pesquisadores importantes para o campo científico brasileiro. Podemos analisar as funções do jornalismo infantil presentes na Recreio também a partir das principais editorias fundamentalmente jornalísticas, ou seja, curiosidades, Fique Ligado, Cinema, Na TV e Bichos. A primeira delas, por exemplo, requer a participação das crianças com questionamentos acerca dos mais diferentes temas. Podemos considerar que o espaço está fornecendo formas de interação com a criança, permitindo que ela tenha voz (mesmo que seja através da voz de outra criança) e está sanando uma questão informacional. Em Na TV e Cinema, vemos a abordagem de temas que, geralmente, também são tratados por outras mídias. Essas editorias são completadas pela editoria Testes, cujos temas partem das reportagens principais e tratam de questionar as crianças sobre seu comportamento, personalidade ou hábito, mas também sobre o seu conhecimento acerca do assunto tratado nas matérias jornalísticas. O jornalismo próprio para crianças, nesse sentido, propõe informações saborosas ao seu público ao unir interesse, informação e diversão. Daí parte também a influência no processo de aprendizado dessas crianças. Ao pensar o jornalismo infantil produzido pela Recreio, precisamos atentar para a linguagem utilizada pelo veículo, pois essa é também uma função importante nesse contexto. O principal destaque que podemos dar à linguagem utilizada pela Recreio é a forma como que a revista trata a criança. Como não usa diminutivos, trata questionamentos das crianças a partir de uma linguagem científica, porém simplificada. Como elas demons-

9 A Editora Abril é a responsável pela produção e distribuição da Recreio.


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tram competência sobre os temas tratados, a revista tem obrigação de tratar as informações de forma responsável. Há, portanto, o cumprimento da função social por parte do jornalismo infantil produzido pela Recreio, mas há, principalmente, uma relação direta com o processo de aprendizagem dessa criança que quer saber sobre determinados temas acerca do meio ambiente e dos seres que nele vivem, dos momentos como nos relacionamos, vivemos, nos formamos, e, também, há necessidade de informação sobre os temas considerados principais, mas que também podem ser obtidos em outras mídias. A Recreio e o jornalismo produzido por ela se constituem, portanto, de espaços onde a criança identifica como seu, embora seja também legitimado pela família e, algumas vezes, pela escola. 4 Perspectivas teóricas para compreender a recepção Ao pesquisar o jornalismo infantil, desde o início, compreendi o quanto era importante não apenas analisar os produtos produzidos a partir deste viés jornalístico, mas interpretá-lo a partir do olhar da própria recepção. Era preciso, portanto, considerar também a realidade daqueles que consomem este tipo de mídia em específico. Precisei, portanto, pensar teoricamente a recepção. Sousa (1994) destaca que estudar a recepção não é algo novo, mas os enfoques são novos, o que gera outros tipos de conhecimentos diante da pluralidade e velocidade das mudanças que caracterizam a sociedade contemporânea. Compreender a recepção no âmbito do jornalismo infantil me fez observar ainda que existe um perigoso caminho muito fácil de adentrar: o da relação de poder dos meios sobre as crianças, como se houvesse uma relação direta do envio das mensagens do emissor para o receptor. A criança, enquanto sujeito receptor é, também, atualmente, parte fundamental no pensar da produção jornalística para sua geração. De acordo com Martín-Barbero (1994), estamos vivendo hoje uma nova relação entre a modernidade e a tradição, pois essas relações que a criança cria, a partir da evolução das novas tecnologias de comunicação, é algo que tende a se desenvolver cada vez mais, o que faz com que ela passe a exigir e conceber de outra forma os meios tradicionais de mídia infantil. A ela já não basta o que nós, enquanto crianças tínhamos nas décadas passadas; elas querem participar e interagir cada vez mais. Aos poucos o receptor foi tomando forma dentro do contexto teórico desta pesquisa. Enquanto não apenas uma “receptora” de mensagens, mas uma participante ativa e uma emissora de mensagens, uma produtora de sentidos, uma mediadora, a criança contemporânea não pode ser vista apenas como um receptor dominado, mas como um sujeito com importância históri-


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ca, que é capaz de articular as mudanças do mundo e retrabalhar a questão do poder social. Pensar, portanto, a criança através do jornalismo infantil é pensar sua cultura e os significados que ela produz na relação com as mídias, que também influenciam seu habitus, ou seja, seus esquemas de concepção de mundo. É pensar também os sentidos produzidos pela criança quando ela se relaciona com o jornalismo infantil. “Nesse processo, as matrizes culturais ativam e moldam os habitus que conformam as diversas competências de recepção” (MARTÍN-BARBERO, 2006, p. 17). Nesse caso, compreendo que o jornalismo infantil pode ajudar a construir o habitus das crianças, pois como jornalismo orienta também o modo como os receptores veem o mundo, vai orientando, portanto, os estilos de vida das crianças, assim como suas interpretações, seus gostos e seus critérios de escolhas ao longo da vida. O habitus, segundo Martín-Barbero, “tiene que ver con la forma en que adquirimos los saberes, las destrezas y las técnicas artísticas: la forma de aquisición se perpetúa en las formas de los usos” (1994, p. 71). Por isso, a importância de compreender as táticas das quais fala Certeau (1994), uma vez que a criança midiatizada, também pelo jornalismo infantil, tem sua vida cotidiana interferida por esta especialidade comunicacional. O jornalismo infantil, portanto, está, nas crianças que o consomem, influenciando seu cotidiano, seu consumo, suas leituras, seus aprendizados. Diz Martín-Barbero que a vida cotidiana não se restringe à casa, ao bairro, na escola, enfim, nos espaços físicos em que as crianças estão inseridas. Enquanto produtora de sentidos e, ao mesmo tempo, tendo sua vida configurada pelos meios de comunicação, a criança é, ainda, sujeito inscrito em outras relações, as quais na perspectiva de Martín-Barbero (1994) podemos denominar de mediações, ou seja, entre o receptor e as mensagens enviadas pelo jornalismo infantil há um espaço importante ocupado por outros cenários e atores na formação da criança: a família, a escola, os amigos, sua comunidade etc. E é importante atentar para o fato de que esses mediadores têm também e relevância na vida cotidiana e no habitus deste público, assim como os próprios meios de comunicação, pois é através deles que os meios adquirem materialidade institucional e densidade cultural. 4.1 Mediações Sousa (1994) argumenta que muitos pesquisadores menosprezam, de certa forma, o receptor exatamente por não compreenderem a influência das mediações nessa relação e atribuem a ele características como fraco, micro, consumidor de supérfluos. Quando, na verdade, esses sujeitos, estão dentro de nichos, de grupos, que têm uma relação com o jornalismo e com a comunicação, o que pode, portanto, influenciar comportamentos e transformações de outros sujeitos em relação às mídias. “É


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esse nicho e essa transformação que precisam ser entendidas” (SOUSA, 1994, p. 54). Assim, considerar as mediações é fundamental para compreender como o jornalismo infantil atinge a criança e adentra outros espaços na vida delas, como a sua aprendizagem adquirida dentro dos movimentos de socialidade, “gerada na trama das relações cotidianas”, aportada na prática comunicativa, resultando dos modos e usos coletivos de comunicação. Martín-Barbero (2006) considera as mediações como constituidoras de novas fragmentações sociais e culturais que se estabelecem a partir da geração de novas sensibilidades a partir das dimensões da vida, do imaginário e outras representações do social, do cultural etc. E novas fragmentações vão surgindo uma vez que os receptores não estão apenas se incorporando à modernidade e o que ela gera a partir do desenvolvimento tecnológico, mas estão também, e principalmente, se apropriando da modernidade e o que ela produz. Quando falamos em criança, precisamos ainda atentar para outros problemas a partir da relação que ela estabelece, enquanto receptora, com o jornalismo infantil. Se diz que as crianças e os jovens leem cada vez menos, que não se interessam pela leitura. Martín-Barbero nos coloca que a escola primária ainda não captou a nova cultura que está se criando com o avanço dos meios tecnológicos de comunicação, uma nova sensibilidade está sendo gerada a partir do novo tipo de envolvimento que as mídias conduzem os receptores. Há conformismo por parte das crianças também, argumenta Martín-Barbero, “mas há também outras dimensões nessa cultura visual e sonora dos jovens, que não estamos entendendo e que pensamos simplesmente acusando, denunciando, desvalorizando” (1994, p. 12). O que estamos desvalorizando são as possibilidades de relação criativa da produção e da recepção. E para isso servem os estudos de recepção. Daí já é possível perceber que é preciso investir também numa investigação acerca das mediações dentro dessa relação estabelecida entre o jornalismo infantil e a criança e, então, perceber não apenas o que os meios fazem com as crianças, mas o que as crianças fazem com elas mesmas e o que estão fazendo com o jornalismo infantil. Certeau (1994) destacou que é importante também detectar a produção a partir da recepção, ou seja, compreender o que as crianças – enquanto receptoras – fazem com os produtos. Maldonado propõe um esquema de como analisar as mediações que são bastante importantes para a investigação desta pesquisa que relaciona o jornalismo infantil e o processo de educação de seus receptores. Segundo este autor, para compreendermos as mediações dentro dessa relação que está sendo investigada, é preciso observar a cotidianidade das crianças. Para isso é preciso, então, superar conceitos pré-pron-


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tos sobre, por exemplo, a família, que geralmente é vista como uma organização social conservadora, porém representa muito mais um papel de espaço de conflito do que o de desempenha um papel de transmissora de valores morais e concepções ultrapassadas. É importante salientar que as mediações estão em constante transformação. Porém, as novas tecnologias constituem um cenário de mudança dos mais significativos exatamente porque passaram a desempenhar uma função fundamental e primordial no campo da comunicação. Elas permitiram que as mediações tivessem as representações multiplicadas em relação às crianças que já nascem inseridas no contexto digital, enquanto os adultos têm que se adaptar a elas. Assim, o horizonte do conhecimento das crianças vai ficando cada vez mais ilimitado. Martín-Barbero (2006) explica que, com o avanço dessa realidade, surgem fragmentações sociais e culturais obrigando a sociedade a reorganizar-se. As novas tecnologias permitiram que o jornalismo pudesse, cada vez mais, ser menos massivo e, no entanto, não extinguiu os jornais de massa. O jornalismo, portanto, pôde informar de várias formas. Com o avanço das tecnologias de comunicação a criança não só tem essa possibilidade de ser receptora daquilo que realmente quer saber, como construir novas relações. A partir desse novo contexto, Martín-Barbero reconhece o surgimento de um modo próprio de perceber e narrar, contar e dar conta, construída pelos novos indivíduos sociais que possibilitaram a interação entre as múltiplas identidades. Assim sendo, a recepção passa a ser percebida como um espaço de interação. Contrariando a noção de poder, que se tinha em relação aos meios sobre os receptores, deixou de existir da forma como era concebida. A forma de escrever hoje é flexível, conforme afirma o autor, diante da reação dos leitores. A realidade contemporânea do jornalismo infantil, e dos meios de comunicação em geral, nos mostra que é preciso fazer com que a criança se reconheça naquela mídia trazendo o mundo narrado para dentro do seu próprio mundo para que ela possa se apropriar daquelas mensagens veiculadas pelo produto. 4.2 Apropriações É a partir desse mundo da criança, constituído no jornalismo infantil, que começa outro fenômeno: o das apropriações que a criança faz daquela produção. O receptor, ainda que receba um produto a partir das mídias de massa, aquelas que são tidas como dominantes, manipula essas informações sem, necessariamente, usá-las da forma como o jornalismo infantil, neste caso, determina. É importante, além de entender a recepção, compreender as mediações que influenciam suas apropriações e a forma sob as quais essas apropriações são feitas. É


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fundamental, portanto, descobrir, segundo a perspectiva de Certeau (1994), o que a criança fabrica a partir do jornalismo infantil e durante o tempo que passa o consumindo, ou seja, entender o que cada criança recebe, apropria-se e dissemina. Martín-Barbero nos diz que a “verdadeira proposta do meio não está nas mensagens, mas nos modos de interação que o próprio meio transmite ao receptor” (2002, p. 55). A criança que consome o jornalismo infantil se apropria daquilo que é adaptável ao seu mundo, que pode disseminar e gerar conversas nos espaços de mediação. As apropriações vão criando valores nas vidas desses receptores e, portanto, se inserindo na construção do seu habitus. Por maior que seja essa imensuração em relação aos sentidos que a criança dá àquilo que se apropria, é preciso se ater a esse fato. Isto se dá devido ao fato de que, se a criança consome determinada mídia que se utiliza do jornalismo infantil, é porque aquela produção, de alguma forma, conseguiu adentrar o mundo daquele cidadão. Assim, é preciso entender consumo aqui não na forma capitalista que geralmente é atribuída a esta palavra, mas é preciso entendê-la como acesso, uso e expressão de prazer. Entendendo esses conceitos, Martín-Barbero propõe, então, uma forma de compreender esse consumo e os usos que o receptor faz de determinado produto. É necessário, desta maneira, pensar o problema a partir das mediações e dos sujeitos e, assim, visualizar as apropriações que as crianças fazem do jornalismo infantil a partir da sua cotidianidade, seu consumo e sua leitura. 4.3 Cultura da infância Essa pesquisa trata de uma fase peculiar na infância. Muitas delas estão consumindo o que é “próprio” para jovens e adultos, ao mesmo tempo em que assistem desenhos animados e compram bonecas e carrinhos. Uma idade em que são consideradas crianças, mas que diversas vezes têm cobranças não muito infantis. As crianças que entrevistei, em sua maioria, têm computador, acesso à internet, assistem televisão diariamente, acessam com mais facilidade as revistas que falam a sua linguagem, escutam músicas, mas não escutam rádio. Assim posso resumir, de forma grosseira, a cultura de acesso às mídias desse grupo que fez parte desta pesquisa. Hoje, aquelas crianças que fizeram parte do processo da pesquisa têm sua vida atravessada pelas mídias, não apenas de massa, mas a mídias cada vez mais especializadas em seu mundo. Assim, a cultura da criança do último século já era “atravessada” pela mídia, no entanto, a cultura da criança deste início dos anos 2000 é mais fortemente midiatizada e também dependente das mídias. Já não bastam, para esses pequenos cidadãos, o que os tradicionais espaços de educação lhes ensinam.


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“Novos tempos prenunciam uma nova era da infância”, argumentam Steinberg e Kincheloe (2001, p. 34) ao analisarem a cultura da infância moderna. Essas crianças de hoje, como percebi nas entrevistas, estão vivendo a era da informação com os mesmos tipos de mídias que tínhamos em décadas passadas, próprios para crianças. Poucos produtores de informação atentaram para esse problema e, por isso, no Brasil, há hoje, em comparação com as mídias com conteúdo informativo para adultos, uma quantidade pequena de produtos jornalísticos para crianças. A infância não é apenas uma idade biológica, ela é, mais do que nunca, um artefato social e histórico, moldada por aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos que atuam diretamente sobre ela. Segundo os autores, “a infância é uma criação da sociedade sujeita a mudar sempre que surgem transformações sociais mais amplas” (2004, p. 12). Assim, foi entre 1850 e 1950 em que elas passaram a ser protegidas dos perigos do mundo adulto, sendo, portanto, colocadas no papel de cidadãos em formação, foram retiradas do trabalho e inseridas em escolas. Com isso, a família moderna foi se consolidando e construindo um papel próprio dos pais para com os filhos. A partir da década de 1950, a infância começa a mudar novamente. Nessa época, nos Estados Unidos, cerca de 80% delas ainda viviam em lares onde os pais biológicos eram casados um com o outro. Trinta anos depois, esse percentual caiu para 12%. Assim, podemos afirmar que as transformações econômicas, juntamente com o maior e mais fácil acesso das crianças às diferentes informações, modificaram o sentido de infância no mundo contemporâneo. E mais, associadas a essas relevantes mudanças que influenciaram a cultura das crianças, surge a pedagogia cultural corporativa, onde o jornalismo infantil está, por certo, presente, que produz formas educacionais que fazem sucesso entre os cidadãos em formação com uma intenção fortemente capitalista. Foi essa pedagogia cultural corporativa que substituiu, não tradicionalmente, mas no consciente infantil, a aprendizagem obtida nas salas de aula e com a família, por bonecos com uma história, reinos mágicos, fantasias animadas, vídeos interativos, realidades virtuais heróis de TV kick-boxers, livros de terror que arrepiam a espinha e uma gama completa de formas de diversão produzidas ostensivamente para adultos, mas avidamente consumidas por crianças (STEINBERG e KINCHELOE, 2001, p. 15).

E assim tem-se criado uma nova cultura da infância baseada na fantasia e no de sejo. Para os au to res, isso mi nou das crianças a inocência e, por isso, cada vez mais vemos elas como pequenos adultos, mais autônomas, mais independentes, formando uma opinião sobre tudo, pois a mídia infantil corporativa, que tem enorme participação sobre sua educação, lhe dá


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essa permissão, lhe diz que esse é um dever dela. E como diz isso? Apresentando a criança como entendida do mundo dos adultos, precoce, instruída, que aprende sobre a vida através das mídias. No entanto, pensar a cultura da infância hoje, é pensar também na criança excluída midiaticamente falando. Não que esse grupo se configure como sujeito não-midiatizado; ele tem, restrições ao acesso às diferentes mídias. E falando em jornalismo infantil, podemos dizer que elas não apenas são excluídas, como são inexistentes praticamente. Porque o jornalismo infantil não mostra a realidade, ele trata de questões não problemáticas para as crianças. Ali não se vê problemas que essa idade tem que enfrentar, como abuso sexual, drogas ou dificuldades financeiras. E aquele que vive essa dura realidade tende a não compreender esse mundo “tão bonito” retratado pelo jornalismo infantil. Assim, os mediadores, em especial pais e professores, precisam compreender o tipo de influência que o jornalismo infantil tem através das mídias para crianças sobre o seu processo de educação e aprendizagem e, portanto, sobre a formação da sua educação. Assim, os mediadores, em especial pais e professores, precisam compreender o tipo de influência que o jornalismo infantil tem através das mídias para crianças sobre o seu processo de educação e aprendizagem e, portanto, sobre a formação da sua educação. É a partir da proliferação de informações e aumento da autonomia das crianças que podemos explicar a diminuição da fronteira entre a infância e a idade adulta. Muitas vezes, as crianças inclusive experimentam a mesma pressão que as mães solteiras, ou seja, sofrem para administrar os problemas da escola, das tarefas de casa e da dinâmica familiar. Crianças que vivenciam esta nova configuração da infância que estou trabalhando nesta pesquisa e essa realidade social, além da econômica (que muitas vezes explica certos aspectos do social), precisam ser levadas em conta ao tratar a questão dos significados que o jornalismo infantil está trazendo para a sua vida. Isso porque, enquanto as crianças que vivem sob estruturas familiares com melhores condições financeiras “experimentam a hiperestrutura do desenvolvimento da habilidade” (KINCHELOE, 2001, p. 79), as crianças menos favorecidas economicamente são consideradas parte de um grupo de risco e, portanto, são tratadas com esforço “para reduzir o caos e a desordem em suas vidas” (KINCHELOE, 2001, p. 79), por isso, a experiência dessas crianças consideradas pobres é burocratizada. A cultura da infância contemporânea é, entendo assim, bastante complexa. Por isso, talvez, dentre aquelas com as quais conversei durante a pesquisa exploratória, algumas me dissessem não serem mais crianças, pois suas responsabilidades são de jovens, mesmo que seus desejos e anseios sejam próprios para a sua idade.


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5 As crianças e a recepção da Revista Recreio Quatro crianças fizeram parte da pesquisa sistemática, todos entre nove e doze anos, estudantes de escola pública e vivem na região metropolitana de Porto Alegre: a primeira é Maria que cursa o quarto ano do Ensino Fundamental, vive com sua mãe, seu irmão mais velho e seus avós maternos. Os pais, que são separados, são advogados, o irmão é estudante, o avô é biólogo e a avó é pedagoga. Para ver o pai, a menina viaja duas vezes por ano até Alagoas. A segunda é Eleonora, está na quarta série do Ensino Fundamental, filha única e vive com os pais. A mãe é assessora política e o pai trabalha como vendedor. O garoto Peter vive com a mãe, o pai e seus dois irmãos. Seu pai é fotografo e a mãe é empresária. E a quarta criança é Lucas que cursa a quinta série do Ensino Fundamental, vive com o pai, a mãe e a irmã, fruto do primeiro casamento da mãe. O pai é motorista de ônibus e a mãe vendedora. A análise apresentada aqui, de forma resumida em função do espaço, foi feita a partir de duas entrevistas realizadas com cada uma dessas crianças de onde surgiram pistas para entender o consumo, os usos e apropriações, a compreensão do jornalismo infantil e a participação deste gênero jornalístico no processo de aprendizagem. 5.1 Consumo de jornalismo infantil As quatro crianças que participam da amostra desta pesquisa entendem que o jornalismo infantil é um meio de informar as crianças; suas falas apresentam elementos importantes para pensar como essa prática pode interagir melhor com o público da sua faixa etária. É possível perceber dados importantes. O primeiro que ressalto é o fato de as crianças saberem o que é jornalismo, relacionarem essa prática com o ato de informar e trabalhar com notícias. Assim, para elas é fácil fazer a relação do jornalismo para crianças. Elas compreendem que esta é uma prática de informar esse público. Isto significa também que elas dominam o gênero jornalismo, o que é outra pista de como a midiatização tem incidido sobre as crianças, instaurando competências midiáticas neste público. Quando tratam de dizer o que deveria ter no jornalismo infantil, aparecem informações interessantes, como a busca por entretenimento. Maria quer as piadinhas e as fofoquinhas, Eleonora as histórias e Lucas os jogos, as coisas para brincar e os desenhos. Isto aponta para a importância que a dimensão lúdica tem para este público. Mas eles também querem informação: Maria diz que gosta de saber sobre animais, Eleonora sobre futebol, Lucas sobre coisas que acontecem com as crianças e sobre anime e Peter quer algo como o Jornal Nacional para crianças. Há um anseio por informação e diversão num mesmo espaço.


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Mas há também diferenças significativas entre elas que estão voltadas à sua personalidade. O avô de Maria é biólogo e a avó professora de ciências; a criança está numa fase de mudanças, tanto que já procura saber mais para compreender o que acontece quando “crescemos”. Isso pode explicar a preferência dela por reportagens sobre animais, assim ela pode aprender sobre um assunto e inclusive debater sobre ele com os familiares. Eleonora e Lucas indicam assuntos diferentes, mas podemos perceber que são temas relacionados ao seu universo, ou seja, ainda exploram sua infância. Lucas também indica um tema que demonstra que a expectativa depositada nele gera resultados, pois ele quer uma versão infantil de algo relacionado ao universo adulto. Além de demonstrarem que o jornalismo infantil deveria abordar assuntos que fazem parte do seu cotidiano as crianças, ao indicarem o que pensam que deveria ser o jornalismo infantil, não imaginam algo muito diferente do que é oferecido pelas mídias, o que pode demonstrar que a midiatização está moldando também o horizonte de expectativas das crianças em relação aos produtos que lhes poderiam ser ofertados. 5.2 Apropriações e aprendizagens Foi interessante ver como, entre essas crianças, é unânime o gosto e aprendizado relativo às matérias sobre animais, principalmente aqueles considerados exóticos ou em extinção. A Recreio produz reportagens sobre esse tipo de bicho, alertando para o fato de estarem sendo extintos e da importância de serem preservados, ao mesmo tempo em que saciam a curiosidade das crianças acerca dos animais que não são comuns em seu cotidiano. Por isso, podemos dizer que a revista tem colaborado para aprendizagem das crianças em relação ao meio ambiente, em particular sobre os animais. Mas há outros aprendizados que os relatos das crianças sinalizam, e que estão ligados a própria cultura midiática infantil, como, por exemplo, sobre personagens de desenhos animados, filmes, personagens de eventos importantes etc. Além disso, dentro ainda da cultura midiática da infância, podemos perceber que há aprendizagens relacionadas ao comportamento das crianças que sinalizam os modelos e padrões sociais que a revista reforça. Através dos testes, a revista transpõe suas ideias corporativas acerca do modelo de comportamento, aparência e padrões sociais. A partir das aprendizagens que as crianças demonstram obter através da relação que mantém com a Recreio, podemos perceber que a revista procura reforçar certos padrões de consumo, principalmente aqueles relativos ao universo da cultura midiática infantil. Outra questão relevante nessa análise acerca do processo de aprendizado a partir da Recreio é o caráter lúdico que a revista dá às suas reportagens, o que sinaliza uma importante diferença nos modos de aprender, quando se compara ao aprendizado ad-


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quirido através da escola. Na escola, o saber é institucionalizado. Ela é um espaço para aprender, seja aprender a se socializar, seja aprender questões relativas à matemática, ao português, a ciências, enfim. Na revista, o aprender está relacionado à diversão. O interesse primordial é o entretenimento e, a partir disso, se aprende. Ao relacionar os aprendizados, ao se apropriarem do que aprenderam com a revista, há uma espécie de inserção efetiva do conhecimento do cotidiano das crianças. As mediações analisadas nesta pesquisa – escola, família e amigos – apresentam-se como relevantes na relação de Maria, Eleonora, Peter e Lucas com a Revista Recreio. Podemos dizer que esta participa de processos de aprendizagem das crianças entrevistadas porque se incide sobre as competências e capacidades deles e atravessa seu conhecimento e motivação, assim como as negociações que eles mantêm na relação com as mediações, principalmente aquelas representadas pela escola, pela família e pelos amigos. A aprendizagem se dá em todos esses ambientes (meios e mediações). No entanto a família e a escola aparecem como espaços formais de aprendizagem, onde ela está ligada institucionalmente à educação. Segundo Braga, com o desenvolvimento qualitativo e ampliação quantitativa dos processo mediáticos, mas também com a complexificação crescente dos processos produtivos e sociais outros, as interações sociais presenciais vão sendo ladeadas, em todas as atividades humanas, por outras interações, intermediadas, de modos variados, por processos que dispensam a co-presença dos propositores e dos usuários de materiais simbólicos diversos (2002, p. 04).

Assim, podemos dizer que, entre essas quatro crianças, há uma participação grande da mídia no processo de aprendizagem; porém, esse processo conta também com a interferência das mediações. Assim, os sentidos adquiridos para a formação do aprendizado sobre alguma coisa são construídos com a participação do que é compreendido através dos meios. Podemos considerar que a família aparece como um espaço de socialização que viabiliza valores e hábitos e coloca o aprendizado vivido através da Recreio como algo que pode ser questionado. Já a escola pode ser percebida como um espaço institucionalizado de formação, trazendo responsabilidades individuais e coletivas. Penso que o aprendizado adquirido nessa relação entre esta instituição e a Recreio é usado como complementador pela criança. Ou seja, ela usa a Recreio para complementar informações adquiridas através da escola e o mesmo acontece no processo inverso. O processo de aprendizado é atravessado também pela relação criança/amigos/Recreio. Assim, é estabelecido uma hierarquia relacional, onde a criança e seus amigos, através do conhecimento adquirido, anunciam e consolidam lideranças, propõem atividades e aparecem como líderes de seu próprio


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processo de aprendizagem e, portanto, do seu desenvolvimento. Então, é possível visualizar através dessa experiência o que Martín-Barbero (2006) disse sobre que a natureza comunicativa da cultura produz significações partilhadas. Através dessa experiência com as crianças, foi possível também perceber as principais temáticas que se instituem como elementos de socialização para elas. Autoconhecimento, moda, relacionamento com amigos, desenhos animados, celebridades, música, piadas, animais, meio ambiente, novos meios de comunicação, história do mundo, ciência biológica e esportes foram identificados como temáticas que interessam a essas quatro crianças na revista. São esses assuntos, por exemplo, que ficaram na memória dessas crianças e são identificados como elementos de aprendizagem através do jornalismo praticado pela Recreio. É verdade que alguns temas, que estão de acordo com o interesse destas crianças, já são oferecidos pela indústria cultural. É verdade também que alguns temas já são abordados pela escola e pela família. Porém, concordo com Braga no que diz respeito à assimilação entre o aprender nos processos midiáticos e as aprendizagens adquiridas através das mediações, ou seja, “aprende-se de outro modo, outras coisas” (BRAGA, 2002, p. 05). O jornalismo praticado pela Recreio está, portanto, sendo feito de acordo com expectativas informacionais das crianças. Elas estão aprendendo sobre coisas que lhe interessam de forma que “nem se percebe ou se explicita isto como ‘aprender’ justamente porque estamos habituados com o sentido escolar-educacional desta palavra” (BRAGA, 2002, p. 05). Mais uma vez a midiatização está presente no processo, uma vez que aprendem sobre algo que é de seu interesse e que é abordado pelo jornalismo infantil praticado pela revista, a comunicação amplia as informações disponíveis oferecendo imagens diversas e diferentes, criam contato entre outros temas aprendidos pelas crianças (nos diferentes espaços, meios e mediações). As crianças não estão, portanto, apenas absorvendo as informações, mas interagindo com elas, levando-as para outros espaços, compartilhando com os sujeitos que representam as mediações, sofrem com as interpelações feitas pela informação dada, reagem a elas e interpretam os dados. O aprender, portanto, a partir dessa função do jornalismo infantil, se torna autônomo, porque se subtrai do campo educacional e oferece reações por parte das crianças, possibilidades transformadoras, diálogo e a oportunidade de transcender, de participar do seu cotidiano e interferir no seu habitus. 6 Considerações finais Eu aprendo sobre várias coisas. Essa foi a frase mais dita durante as entrevistas realizadas para compreender como o jor-


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nalismo infantil produzido pela Recreio participa do processo de aprendizado das crianças que fazem parte desta pesquisa. A partir dela e de todas as reflexões feitas em relação à compreensão da midiatização, da participação das mediações e das funções do jornalismo infantil, foi possível considerar, por fim, que o jornalismo infantil está participando dos processos de aprendizagem das crianças pesquisadas. Esta é a principal evidencia. Porém, o jornalismo infantil está inserido dentro de um contexto maior, pois é apenas uma especificidade da prática jornalística, e, com isso, podemos dizer que, ao registrar informações acerca de temáticas cidadãs, está contribuindo para a formação de cidadãos. A realidade é construída, ao abordar assuntos ligados à natureza, de forma positiva. Não podemos considerar isso como algo ruim, uma vez que está dentro do conceito de jornalismo infantil o fato de produzir narrativas com linguagem simples e lúdica. Isso não significa que o mundo real está sendo escondido da criança, mas sim que os veículos infantis precisam tratá-la como um cidadão em formação e, assim, precisam trabalhar a partir da cultura da infância e não construindo uma versão do “jornalismo adulto”. Porém, ao abordar filmes e desenhos animados próprios para crianças que estão sendo lançados, a revista está oferecendo, fundamentalmente, consumo deste universo para as crianças. Um consumo de produtos (ir ao cinema assistir ao filme, por exemplo), um consumo de outras mídias, mas também um consumo de valores, de ideias e de desejos. Essa temática é própria da cultura da infância midiatizada. Não é possível ser atrativo jornalisticamente sem abordá-las hoje. Mas a revista se apropria desses temas que publica para, além de divulgá-los, aproveitá-los para que a criança se reconheça no seu espaço. As estratégias da Recreio e seus modos de produção de jornalismo infantil explicitam as maneiras que a publicação encontra para participar do processo de educação das crianças e, com isso, da constituição da cultura infantil. A revista está trazendo as temáticas que estão dentro dessa cultura e também participando da formação da consciência cidadã. Desta forma, é possível concluir que há jornalismo infantil sendo construído pela Recreio e, principalmente, há tentativas de inserção no cotidiano, na cultura e no processo de aprendizagem das crianças. No âmbito da recepção, foi fundamental perceber como se dão esses fenômenos em relação à prática do jornalismo infantil. Nesse sentido, a primeira conclusão em relação à questão de como a mídia infantil participa do processo de aprendizagem das crianças é que, através do jornalismo infantil, as mídias, em especial a Revista Recreio, estão se inserindo no processo de aprendizagem das crianças (um eixo de um contexto maior, que é a educação) de maneira a trazer elementos importantes tanto para o cotidiano – e, portanto para a cultura – dessa criança


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quanto para aprendizagens adquiridas em outros espaços, principalmente entre a família e a escola. No entanto, perceber a partir da recepção, como a Recreio participa desse processo foi algo ainda mais interessante. Isso porque foi possível compreender o modo como as crianças se apropriam do conteúdo publicado. Assim como afirmou Martín-Barbero (2006), a criança se apropria das temáticas abordadas pela revista para falar por si mesma. Ela, então usa e conhecimento na escola, na família e entre os amigos. Há uma sensação de autonomia, pois a criança passa a controlar, de certo modo, esse aprendizado e o que aprende através dele. Como isso acontece, nós percebemos quando descobrimos as temáticas que se instituem como elementos de socialização das crianças, ou seja, temáticas cidadãs (voltadas às questões do meio ambiente e dos animais) e temáticas da cultura midiática da infância. Portanto, concluímos, diante deste cenário de análise da recepção e reflexão sobre o produto, que há aprendizado a partir das apropriações que as crianças fazem dos produtos e dos modos que os utilizam. Esse aprendizado se expressa, primeiramente, por uma preocupação que as crianças demonstram ter em relação ao mundo em que vive. Quando elas se manifestam em relação às aprendizagens em torno da natureza, indicam que devemos atentar para os problemas que o meio ambiente vem enfrentando. O aprendizado também se caracteriza pela importância que elas dão ao fato de se conhecerem, ou seja, de aprenderem sobre si mesmas. Este é um tema que as quatro crianças indicam como algo que obtém através do jornalismo infantil, ou seja, que não é construída uma discussão sobre este assunto entre os amigos, a escola e a família. Assim, podemos dizer que o jornalismo infantil também pode cumprir a função de contribuir para que a criança se situe no mundo a partir de reflexões sobre si e sobre as etapas de sua vida. Assim, esta especificidade do jornalismo pode contribuir para que a criança simule situações, mesmo que de forma lúdica. A Recreio utiliza testes para trazer esse momento de “autoconhecimento”, mas o jornalismo infantil tem elementos para fazer isso também de outras formas também. O jornalismo infantil tem um grande espaço para trabalhar, uma vez que percebemos o quanto as crianças estão midiatizadas e têm competências para usar diferentes tipos de meios de comunicação. Compreendemos também, com a pesquisa, que a midiatização faz parte, de maneira muito marcante, da cultura da infância e que cada vez mais os meios de comunicação constituem esta cultura. Midiatizadas, as crianças passaram a assumir controle sobre o que desejam consumir e as mídias foram se especializando para oferecer conteúdo interessante, cada uma a seu modo. Se pensarmos no panorama atual dos programas infantis, podemos pensar que, mesmo trazendo valores capitalistas, a Recreio aparece como uma publicação com uma proposta mais


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qualificada, no sentido de não apenas oferecer um aprendizado a partir da diversão, mas sim de contribuir socialmente. De certa forma, isso também é uma maneira de se aproveitar do fato de que a cultura da infância atual apresenta uma criança menos inocente e mais independente, dando-lhes subsídios para terem cada vez mais opinião sobre as coisas. Com isso, é preciso considerar também que o aprendizado oportunizado pela Recreio e, em geral, pelo jornalismo infantil, é restrito. Tratamos, nesta pesquisa, não com crianças pobres, mas com crianças que têm ao menos uma estrutura familiar e econômica que permite que ela tenha acesso à revista. Mas precisamos considerar que o jornalismo infantil pode não estar atingindo as crianças de classe popular, que precisam tanto quanto as outras de informação, diversão e subsídios para não apenas terem opinião, mas para terem oportunidades diante das diferentes dificuldades que enfrentam. Pensar que existe um jornalismo para crianças e que este participa do processo de educação do seu público me parecia uma relação provável. Mas durante o desenvolvimento da pesquisa, descobrir como isso acontece, fundamentalmente, foi a questão mais importante e, ao mesmo tempo, a mais complexa. Isso porque o processo de aprendizagem é complexo, intrincado e é atravessado por mediações. Nesta pesquisa, investiguei a atuação de três cenários de mediação que são importantes para as crianças: a escola, a família e os amigos. Os três espaços influenciam na forma como a criança se apropria e usa o que aprende através da Recreio. Elas legitimam o conteúdo da revista, transformam e compartilham sentidos, e isso influencia diretamente sobre o processo de aprendizagem das crianças. E fazem isso atuando a partir dos seus valores, de disposição de troca e de abertura de espaços para atuação da criança. Podemos diferenciar suas atuações a partir da legitimidade que a criança dá às mediações. Deste modo, a escola aparece como aquela que semeia conhecimento, que dá oportunidade para que a criança partilhe o que aprende fora dela, permite que ela use esse conhecimento, mas não parte desse novo espaço de aprendizagem para propor um método novo, uma abordagem nova em relação a algum tema. Já a família aparece como aquela que ensina valores, o que é certo e o que é errado e que estabelece os preceitos primordiais para o interesse sobre um tema, a compreensão dele e a interpretação dos elementos abordados pela Recreio. Os amigos surgem como mediações onde se constituem as lideranças a partir do conhecimento. Assumindo essas posições, essas três mediações atravessam os sentidos produzidos pela criança através da Recreio. Para compreender o processo de aprendizagem com todas essas especificidades no universo infantil, as metodologias utilizadas foram importantes. Fui adentrando no mundo das crianças partindo de uma experiência pessoal, depois tivemos dois


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momentos de exploração que foram fundamentais para refletir sobre diferenças comportamentais e posturas diante do tema desta pesquisa. No entanto, foi a partir da pesquisa sistemática que pude compreender um pouco mais da cultura da infância. Nesse sentido, a primeira entrevista foi importante para compreender como funciona a relação entre a criança e a Recreio e que tipo de perspectivas ela tem em relação ao jornalismo infantil. Contudo, a leitura compartilhada foi a oportunidade para aprofundar ângulos em relação à revista, às aprendizagens e às questões que surgem dessa relação. A principal conclusão, certamente, é o fato de compreendermos que há um importante processo de aprendizagem ocorrendo na relação das crianças com o jornalismo infantil e que isso não ocorre simplesmente, mas sofre a atuação das instituições consideradas fundamentais nesta etapa da vida. Há um fenômeno ocorrendo que nem a principal instituição no contexto da educação e nem o jornalismo, no geral, estão dando uma atenção diferenciada. O processo de aprendizagem a partir do jornalismo infantil está acontecendo e necessita de compreensões. Aqui, trago algumas funções que definimos, a partir dos poucos trabalhos sobre este tema, pois o jornalismo infantil carece ainda de legitimações de conceitos. Estudar a relação do jornalismo e da criança, a partir das transformações que os dois vêm sofrendo é crucial para pensarmos a cultura da infância e o desenvolvimento da comunicação. Muito se pode avançar no tema do jornalismo infantil em si e da sua participação no processo de educação das crianças. Mas a Recreio se apresenta como um espaço onde o jornalismo infantil é importante, ainda que avançar sem deixar de oferecer diversão e informação. As temáticas da cultura midiática da infância são importantes para seu público tanto quanto as temáticas cidadãs, porém esta segunda abordagem precisa avançar. O lúdico, concluo, jamais deve ser deixado de lado. Mas situações mais próximas do cotidiano das crianças podem ser abordadas para que elas reflitam sobre os problemas que estão próximos, como a violência, por exemplo. Atentar para esse tema, e tantos outros com os quais as crianças convivem, não é apenas uma função dos pais e da escola, mas de todos aqueles que têm a pretensão de participar do processo de educação de sujeitos em formação. Referências ALVES, Januária. Jornalismo infantil: expressão e participação. Dissertação apresentada na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1993. ANDI. Instituto Airton Senna. A mídia dos jovens: Esqueceram de mim – jornais brasileiros ignoram o potencial pedagógico dos cadernos infantis. Ano 6, n° 10, 2002.


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TEMAS DOS CADERNOS IHU IDEIAS N. 01 N. 02

N. 03 N. 04 N. 05 N. 06 N. 07 N. 08 N. 09 N. 10 N. 11 N. 12 N. 13 N. 14 N. 15 N. 16 N. 17 N. 18 N. 19 N. 20 N. 21 N. 22 N. 23 N. 24 N. 25 N. 26 N. 27 N. 28 N. 29 N. 30 N. 31 N. 32 N. 33 N. 34 N. 35 N. 36 N. 37 N. 38 N. 39 N. 40 N. 41 N. 42 N. 43 N. 44 N. 45 N. 46 N. 47 N. 48 N. 49

A teoria da justiça de John Rawls – Dr. José Nedel O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produções teóricas – Dra. Edla Eggert O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São Leopoldo – MS Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo – Jornalista Sonia Montaño Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – Prof. Dr. Luiz Gilberto Kronbauer O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Dr. Manfred Zeuch BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo – Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Profa. Dra. Suzana Kilpp Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Profa. Dra. Márcia Lopes Duarte Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e as barreiras à entrada – Prof. Dr. Valério Cruz Brittos Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir de um jogo – Prof. Dr. Édison Luis Gastaldo Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz – Profa. Dra. Márcia Tiburi A domesticação do exótico – Profa. Dra. Paula Caleffi Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educação Popular – Profa. Dra. Edla Eggert Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS – Prof. Dr. Gunter Axt Medicina social: um instrumento para denúncia – Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel Mudanças de significado da tatuagem contemporânea – Profa. Dra. Débora Krischke Leitão As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história e trivialidade – Prof. Dr. Mário Maestri Um itinenário do pensamento de Edgar Morin – Profa. Dra. Maria da Conceição de Almeida Os donos do Poder, de Raymundo Faoro – Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf Piccolo Sobre técnica e humanismo – Prof. Dr. Oswaldo Giacóia Junior Construindo novos caminhos para a intervenção societária – Profa. Dra. Lucilda Selli Física Quântica: da sua pré-história à discussão sobre o seu conteúdo essencial – Prof. Dr. Paulo Henrique Dionísio Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crítica a um solipsismo prático – Prof. Dr. Valério Rohden Imagens da exclusão no cinema nacional – Profa. Dra. Miriam Rossini A estética discursiva da tevê e a (des)configuração da informação – Profa. Dra. Nísia Martins do Rosário O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – MS Rosa Maria Serra Bavaresco O modo de objetivação jornalística – Profa. Dra. Beatriz Alcaraz Marocco A cidade afetada pela cultura digital – Prof. Dr. Paulo Edison Belo Reyes Prevalência de violência de gênero perpetrada por companheiro: Estudo em um serviço de atenção primária à saúde – Porto Alegre, RS – Prof. MS José Fernando Dresch Kronbauer Getúlio, romance ou biografia? – Prof. Dr. Juremir Machado da Silva A crise e o êxodo da sociedade salarial – Prof. Dr. André Gorz À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay – Seus dilemas e possibilidades – Prof. Dr. André Sidnei Musskopf O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas considerações – Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e seus impactos – Prof. Dr. Marco Aurélio Santana Adam Smith: filósofo e economista – Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Araújo dos Santos Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: uma análise antropológica – Prof. Dr. Airton Luiz Jungblut As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes – Prof. Dr. Fernando Ferrari Filho Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial – Prof. Dr. Luiz Mott. Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de capitalismo – Prof. Dr. Gentil Corazza Corpo e Agenda na Revista Feminina – MS Adriana Braga A (anti)filosofia de Karl Marx – Profa. Dra. Leda Maria Paulani Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliação após um século de “A Teoria da Classe Ociosa” – Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monasterio Futebol, Mídia e Sociabilidade. Uma experiência etnográfica – Édison Luis Gastaldo, Rodrigo Marques Leistner, Ronei Teodoro da Silva & Samuel McGinity Genealogia da religião. Ensaio de leitura sistêmica de Marcel Gauchet. Aplicação à situação atual do mundo – Prof. Dr. Gérard Donnadieu A realidade quântica como base da visão de Teilhard de Chardin e uma nova concepção da evolução biológica – Prof. Dr. Lothar Schäfer “Esta terra tem dono”. Disputas de representação sobre o passado missioneiro no Rio Grande do Sul: a figura de Sepé Tiaraju – Profa. Dra. Ceres Karam Brum O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter – Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa Religião e elo social. O caso do cristianismo – Prof. Dr. Gérard Donnadieu Copérnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo – Prof. Dr. Geraldo Monteiro Sigaud


N. 50 N. 51 N. 52 N. 53 N. 54 N. 55 N. 56 N. 57 N. 58 N. 59 N. 60 N. 61 N. 62 N. 63 N. 64 N. 65 N. 66 N. 67 N. 68 N. 69 N. 70 N. 71 N. 72 N. 73 N. 74 N. 75 N. 76 N. 77 N. 78 N. 79 N. 80 N. 81 N. 82 N. 83 N. 84 N. 85 N. 86 N. 87 N. 88 N. 89 N. 90 N. 91 N. 92 N. 93 N. 94 N. 95 N. 96 N. 97 N. 98 N. 99 N. 100 N. 101 N. 102 N. 103 N. 104 N. 105

Modernidade e pós-modernidade – luzes e sombras – Prof. Dr. Evilázio Teixeira Violências: O olhar da saúde coletiva – Élida Azevedo Hennington & Stela Nazareth Meneghel Ética e emoções morais – Prof. Dr. Thomas Kesselring Juízos ou emoções: de quem é a primazia na moral? – Prof. Dr. Adriano Naves de Brito Computação Quântica. Desafios para o Século XXI – Prof. Dr. Fernando Haas Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil – Profa. Dra. An Vranckx Terra habitável: o grande desafio para a humanidade – Prof. Dr. Gilberto Dupas O decrescimento como condição de uma sociedade convivial – Prof. Dr. Serge Latouche A natureza da natureza: auto-organização e caos – Prof. Dr. Günter Küppers Sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável: limites e possibilidades – Dra. Hazel Henderson Globalização – mas como? – Profa. Dra. Karen Gloy A emergência da nova subjetividade operária: a sociabilidade invertida – MS Cesar Sanson Incidente em Antares e a Trajetória de Ficção de Erico Veríssimo – Profa. Dra. Regina Zilberman Três episódios de descoberta científica: da caricatura empirista a uma outra história – Prof. Dr. Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. Peduzzi Negações e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude – Cátia Andressa da Silva Getúlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo – Prof. Dr. Artur Cesar Isaia Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical – Profa. Dra. Léa Freitas Perez Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexões sobre a cura e a não cura nas reduções jesuítico-guaranis (1609-1675) – Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann Fleck Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimarães Rosa – Prof. Dr. João Guilherme Barone Contingência nas ciências físicas – Prof. Dr. Fernando Haas A cosmologia de Newton – Prof. Dr. Ney Lemke Física Moderna e o paradoxo de Zenon – Prof. Dr. Fernando Haas O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade – Profa. Dra. Miriam de Souza Rossini Da religião e de juventude: modulações e articulações – Profa. Dra. Léa Freitas Perez Tradição e ruptura na obra de Guimarães Rosa – Prof. Dr. Eduardo F. Coutinho Raça, nação e classe na historiografia de Moysés Vellinho – Prof. Dr. Mário Maestri A Geologia Arqueológica na Unisinos – Prof. MS Carlos Henrique Nowatzki Campesinato negro no período pós-abolição: repensando Coronelismo, enxada e voto – Profa. Dra. Ana Maria Lugão Rios Progresso: como mito ou ideologia – Prof. Dr. Gilberto Dupas Michael Aglietta: da Teoria da Regulação à Violência da Moeda – Prof. Dr. Octavio A. C. Conceição Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul – Prof. Dr. Moacyr Flores Do pré-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu território – Prof. Dr. Arno Alvarez Kern Entre Canções e versos: alguns caminhos para a leitura e a produção de poemas na sala de aula – Profa. Dra. Gláucia de Souza Trabalhadores e política nos anos 1950: a ideia de “sindicalismo populista” em questão – Prof. Dr. Marco Aurélio Santana Dimensões normativas da Bioética – Prof. Dr. Alfredo Culleton & Prof. Dr. Vicente de Paulo Barretto A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza – Prof. Dr. Attico Chassot Demanda por empresas responsáveis e Ética Concorrencial: desafios e uma proposta para a gestão da ação organizada do varejo – Profa. Dra. Patrícia Almeida Ashley Autonomia na pós-modernidade: um delírio? – Prof. Dr. Mario Fleig Gauchismo, tradição e Tradicionalismo – Profa. Dra. Maria Eunice Maciel A ética e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz – Prof. Dr. Marcelo Perine Limites, possibilidades e contradições da formação humana na Universidade – Prof. Dr. Laurício Neumann Os índios e a História Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida – Profa. Dra. Maria Cristina Bohn Martins Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo – Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na perspectiva da Etnomatemática – Daiane Martins Bocasanta A religião na sociedade dos indivíduos: transformações no campo religioso brasileiro – Prof. Dr. Carlos Alberto Steil Movimento sindical: desafios e perspectivas para os próximos anos – MS Cesar Sanson De volta para o futuro: os precursores da nanotecnociência – Prof. Dr. Peter A. Schulz Vianna Moog como intérprete do Brasil – MS Enildo de Moura Carvalho A paixão de Jacobina: uma leitura cinematográfica – Profa. Dra. Marinês Andrea Kunz Resiliência: um novo paradigma que desafia as religiões – MS Susana María Rocca Larrosa Sociabilidades contemporâneas: os jovens na lan house – Dra. Vanessa Andrade Pereira Autonomia do sujeito moral em Kant – Prof. Dr. Valerio Rohden As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 1 – Prof. Dr. Roberto Camps Moraes Uma leitura das inovações bio(nano)tecnológicas a partir da sociologia da ciência – MS Adriano Premebida ECODI – A criação de espaços de convivência digital virtual no contexto dos processos de ensino e aprendizagem em metaverso – Profa. Dra. Eliane Schlemmer As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 2 – Prof. Dr. Roberto Camps Moraes Futebol e identidade feminina: um estudo etnográfico sobre o núcleo de mulheres gremistas – Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha


N. 106 Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Humanas: Igualdade e Liberdade nos discur-

sos educacionais contemporâneos – Profa. Dra. Paula Corrêa Henning N. 107 Da civilização do segredo à civilização da exibição: a família na vitrine – Profa. Dra. Maria Isabel Bar-

ros Bellini N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidário, terno e democrático? – Prof. Dr.

Telmo Adams N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular – Prof. Dr. Celso Candido de Azambuja N. 110 Formação e trabalho em narrativas – Prof. Dr. Leandro R. Pinheiro N. 111 Autonomia e submissão: o sentido histórico da administração – Yeda Crusius no Rio Grande do Sul

– Prof. Dr. Mário Maestri N. 112 A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São Paulo e o contexto da publicidade e propa-

ganda – Denis Gerson Simões N. 113 Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra – Esp. Yentl Delanhesi N. 114 SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – MS Sonia Montaño N. 115. Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – Prof. MS Carlos Daniel Baioto N. 116 Humanizar o humano – Roberto Carlos Fávero N. 117 Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião – Róber Freitas Bachinski N. 118 Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo Dascal N. 119 A espiritualidade como fator de proteção na adolescência – Luciana F. Marques & Débora D. Dell’Aglio N. 120 A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fagundes Cabral & Nedio Seminotti N. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos éticos e teológicos – Eduardo R. Cruz N. 122 Direito das minorias e Direito à diferenciação – José Rogério Lopes N. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de marcos regulatórios – Wilson Engelmann N. 124 Desejo e violência – Rosane de Abreu e Silva N. 125 As nanotecnologias no ensino – Solange Binotto Fagan N. 126 Câmara Cascudo: um historiador católico – Bruna Rafaela de Lima N. 127 O que o câncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura universal: Leo Tolstoi – Thomas Mann –

Alexander Soljenítsin – Philip Roth – Karl-Josef Kuschel N. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à identidade genética – Ingo Wolfgang Sarlet N. 129 N. 130 N. 131 N. 132 N. 133 N. 134 N. 135 N. 136 N. 137 N. 138 N. 139 N. 140 N. 141

& Selma Rodrigues Petterle Aplicações de caos e complexidade em ciências da vida – Ivan Amaral Guerrini Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentável – Paulo Roberto Martins A philía como critério de inteligibilidade da mediação comunitária – Rosa Maria Zaia Borges Abrão Linguagem, singularidade e atividade de trabalho – Marlene Teixeira & Éderson de Oliveira Cabral A busca pela segurança jurídica na jurisdição e no processo sob a ótica da teoria dos sistemas sociais de Niklass Luhmann – Leonardo Grison Motores Biomoleculares – Ney Lemke & Luciano Hennemann As redes e a construção de espaços sociais na digitalização – Ana Maria Oliveira Rosa De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para o estudo das religiões afro-brasileiras – Rodrigo Marques Leistner Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psíquico: sobre como as pessoas reconstroem suas vidas – Breno Augusto Souto Maior Fontes As sociedades indígenas e a economia do dom: O caso dos guaranis – Maria Cristina Bohn Martins Nanotecnologia e a criação de novos espaços e novas identidades – Marise Borba da Silva Platão e os Guarani – Beatriz Helena Domingues Direitos humanos na mídia brasileira – Diego Airoso da Motta


Greyce Vargas é bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Atualmente, é jornalista do Instituto Humanitas Unisinos – IHU (www.ihu.unisinos.br). Integra o grupo de pesquisa Processos Comunicacionais – Processocom e é professora da Oficina de Práticas Jornalísticas na Agência da Boa Notícia – Guajuviras.


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