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ideias
Os Cadernos IHU ideias apresentam artigos produzidos pelos convidados-palestrantes dos eventos promovidos pelo IHU. A diversidade dos temas, abrangendo as mais diferentes áreas do conhecimento, é um dado a ser destacado nesta publicação, além de seu caráter científico e de agradável leitura.
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Entre a Revolução Mexicana e o Movimento de Chiapas: a tese da hegemonia burguesa no México ou “por que voltar ao México 100 anos depois”
Claudia Wasserman ano 9 · nº 152 · 2011 · ISSN 1679-0316
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Vice-reitor José Ivo Follmann, SJ Instituto Humanitas Unisinos Diretor Inácio Neutzling, SJ Gerente administrativo Jacinto Aloisio Schneider Cadernos IHU ideias Ano 9 – Nº 152 – 2011 ISSN: 1679-0316
Editor Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos Conselho editorial Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta – Unisinos Prof. MS Gilberto Antônio Faggion – Unisinos Profa. Dra. Marilene Maia – Unisinos Dra. Susana Rocca – Unisinos Profa. Dra. Vera Regina Schmitz – Unisinos Conselho científico Prof. Dr. Adriano Naves de Brito – Unisinos – Doutor em Filosofia Profa. MS Angélica Massuquetti – Unisinos – Mestre em Economia Rural Prof. Dr. Antônio Flávio Pierucci – USP – Livre-docente em Sociologia Profa. Dra. Berenice Corsetti – Unisinos – Doutora em Educação Prof. Dr. Gentil Corazza – UFRGS – Doutor em Economia Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel – UERGS – Doutora em Medicina Profa. Dra. Suzana Kilpp – Unisinos – Doutora em Comunicação Responsável técnico Marcelo Leandro dos Santos Revisão Isaque Gomes Correa Editoração eletrônica Rafael Tarcísio Forneck Impressão Impressos Portão
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Instituto Humanitas Unisinos Av. Unisinos, 950, 93022-000 São Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.35908223 – Fax: 51.35908467 www.ihu.unisinos.br
ENTRE A REVOLUÇÃO MEXICANA E O MOVIMENTO DE CHIAPAS: A TESE DA HEGEMONIA BURGUESA NO MÉXICO OU “POR QUE VOLTAR AO MÉXICO 100 ANOS DEPOIS”
Claudia Wasserman
O aniversário de 100 anos da Revolução Mexicana é uma excelente oportunidade de refletir sobre este processo que impactou profundamente o país, deixou marcas permanentes nas gerações futuras e que é, até os dias atuais, reivindicado por partidos, movimentos e organizações que pretendem sobressair-se no México. A reflexão é oportuna também para entender minha própria trajetória acadêmica, que iniciou, há duas décadas, com uma dissertação de mestrado sobre a Revolução Mexicana. O percurso de uma carreira de pesquisa histórica e a própria escolha dos temas, bem como os enfoques propostos, também podem ajudar a explicar as preocupações de uma geração, suas expectativas de futuro e suas experiências mais impactantes. Ao redigir a dissertação, em 1989-1990, o socialismo tinha evidenciado o seu fracasso, a redemocratização do Brasil seguia o curso determinado pelos grupos dominantes e as prédicas neoliberais já dominavam o cenário latino-americano, mas o movimento chiapaneco ainda não havia aparecido. Aliás, nem o movimento chiapaneco havia surgido e tampouco se observava qualquer atividade consistente de movimentos ou organizações de esquerda que lembrassem aquelas que tiveram origem nos anos 1960 e 1970, sob inspiração da Revolução Cubana. O cenário era francamente desfavorável à luta armada ou à radicalização e somente na América Central, notadamente na Guatemala e em El Salvador, as guerrilhas ainda tinham atuação, mas com menor intensidade do que em décadas anteriores.1 Nesta conjuntura, a eclosão do movimento chiapaneco, em janeiro de 1994, surpreendeu os estudiosos, historiadores, pesquisadores e jornalistas políticos especializados em América La1 Foi nesta conjuntura, em 1993, que Jorge G. Castañeda (a edição que possuo é de 1994) lançou o livro Utopia Desarmada, um libelo da era pós-moderna, que saudava o fim das lutas inspiradas na Revolução Cubana.
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tina e, particularmente, os interessados na história do México. Recentemente, Carlos Antonio Aguirre Rojas, historiador mexicano, fez uma interpretação do movimento de Chiapas a partir das teses de Emanuel Wallerstein. Entendendo o conflito recente como parte do rechaço dos movimentos populares latino-americanos ao neoliberalismo e aos processos de globalização, impostos pelo predomínio do capitalismo em escala mundial, ele sugere analisar o movimento de Chiapas em toda a sua extensão mundial atual, mas também em uma temporalidade longa (AGUIRRE ROJAS, 2006, p. 25-90). Proponho, com base nas observações de Aguirre e na concepção de história de Braudel (1949), uma análise desta “longa duração”,2 que perceba os vínculos existentes entre a Revolução de 1910, a ausência de uma ditadura de segurança nacional nos anos 1970 no México e o movimento chiapaneco, eclodido em 1994. Em 1994 não foi a primeira vez que o México surpreendeu àqueles que tentavam entender a sua dinâmica histórica e política. Na década de 1970, a ausência de ditadura militar era um indício da singularidade do país em relação às demais regiões da América Latina. A estabilidade política mexicana surpreendia em meio às teses de instabilidade congênita dos coirmãos subcontinentais. Nações latino-americanas, sobretudo do Cone Sul, semelhantes ao México em termos de importância estratégica e de economias emergentes, foram assoladas por ditaduras militares de duração variável, mas com características semelhantes no que se refere aos fatores que propiciaram a sua aparição no cenário latino-americano. Os golpes preventivos, perpetrados por militares, com a colaboração de uma parte da sociedade civil, implantaram “Ditaduras de Segurança Nacional” no Brasil, no Chile, na Argentina e no Uruguai. Mas, o México, país de características semelhantes a esses últimos foi preservado. Suas elites civis permaneceram no poder por mais de 70 anos, sob a hegemonia de um único partido político, o Partido Revolucionário Institucional (PRI). O México, mesmo com todos os problemas econômicos e políticos, acusação de fraudes eleitorais e autoritarismo, não viveu sob a égide de uma ditadura militar naquela época, tendo o Estado mexicano sido palco de um relativo equilíbrio entre a utilização do aparato repressivo e dos instrumentos destinados ao consenso. Em meados dos anos 1980, a preocupação com os processos de redemocratização iniciados no Cone Sul, a inquietação em reconstruir o sistema partidário e as dificuldades encontradas pela esquerda para reerguer suas bandeiras foram fatores suficientes para que os intelectuais sul-americanos procuras2 Estrutura temporal proposta por Fernand Braudel para sua obra O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na época de Felipe II (1995).
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sem na realidade mexicana explicações para a afamada estabilidade. Realidade mexicana onde, em que pese todas as denúncias de fraude eleitoral perpetradas pelo PRI e o autoritarismo que reprimira as manifestações estudantis em 1968, a democracia sobreviveu, ainda que formalmente. Consoantes com a ideia de história magistra vitae,3 historiadores, sociólogos e politólogos consideraram que a política mexicana podia fornecer pistas para a sobrevivência prolongada dos partidos, para a presença constante das esquerdas e para a consolidação da democracia, ainda que se tratasse de uma “democracia sem adjetivos” (cf. CUEVA, 1988). A minha tese sobre a hegemonia burguesa no México construída a partir do processo revolucionário iniciado em 1910 apareceu nesta conjuntura latino-americana. Na dissertação de mestrado intitulada A Revolução Mexicana (1910-1940): um caso de hegemonia burguesa na América Latina, eu tentava compreender a “constituição da burguesia como classe hegemônica... como resultado do processo revolucionário iniciado em 1910, contrariando a tese da ‘instabilidade política congênita’ dos países latino-americanos” (WASSERMAN, 1990, p. 7). Tratava-se de explicar a situação relativamente privilegiada de um país que, embora tivesse as mesmas características socioeconômicas dos vizinhos sul-americanos, aparecia como uma “ilha de salvação” para os milhares de intelectuais e dirigentes partidários da esquerda latino-americana expulsos de seus países pelas ditaduras de segurança nacional. Sobretudo os intelectuais tiveram uma boa acolhida nas universidades e centros de pesquisa do México. A atividade cultural intensificou-se por estímulo da Revolução de 1910, que permitiu a incorporação de segmentos, temas e motivos da cultura popular, com ênfase também na alfabetização massiva, e uma “difusão muito mais popular de certos elementos da cultura universal” (AGUIRRE ROJAS, 2001, p. 101). Uma aproximação mais minuciosa do contexto mexicano das décadas de 1960 e 1970, no entanto, não revela apenas o predomínio do consenso, da democracia e do diálogo político. Foi uma década de altos e baixos para o partido oficial da revolução, o PRI. A bipolarização do mundo e a latinoamericanização da Guerra Fria, que tiveram como corolário os golpes preventivos na América do Sul, não deixaram de ter efeito no tênue equilíbrio burguês do México. Os governos que se sucederam entre 1950 e 1980 alternaram momentos de maior consenso, determinado pelas singulares relações sociais do México pós-revolucio-
3 Expressão em latim, cunhada pelo filósofo e orador romano Cícero (Marcus Tullius), que significa “história mestre da vida”. Sugere a ideia de que o estudo do passado pode servir de lição para as ações humanas, o presente e o futuro.
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nário, com épocas de intensa repressão, influenciadas pela ideologia de segurança nacional e de defesa do Ocidente. Entre 1958 e 1964, o México foi governado por Adolfo López Mateos, um político de esquerda que havia participado do movimento estudantil e socialista. Em sua gestão, distribuiu enormes quantidades de terras, nacionalizou empresas de telefonia e de energia elétrica e deu apoio à Revolução Cubana, opondo-se a qualquer tentativa de Washington de derrubar Fidel Castro. Há registro, por exemplo, de que no ano do golpe civil-militar brasileiro, durante o governo de López Mateos, grande parte do orçamento do México era destinado à educação, dado suficientemente claro para estabelecer a diferença entre este governo e os governos brasileiros daquela época, por exemplo. O governo seguinte, de Gustavo Díaz Ordaz Bolaños, foi um dos mais autoritários do período, quando ocorreu o triste episódio do massacre estudantil de Tlatelolco, em 1968. Mesmo assim, os reflexos da Revolução Mexicana e do apoio a Cuba ainda se faziam presentes na universidade e favoreciam a acolhida aos exilados políticos provenientes de todas as ditaduras de segurança nacional da América do Sul. Foi nesta época, por exemplo, que um dos exilados brasileiros no México, Ruy Mauro Marini, professor de grande prestígio no Colégio de México, foi forçado a sair do país. Marini escreveu um artigo para o jornal mexicano “El Dia” no qual demonstrava admiração pelas ações de resistência à ditadura, protagonizadas pelo movimento estudantil brasileiro. O artigo foi publicado apenas em agosto, por razões nunca esclarecidas, segundo o próprio Ruy Mauro (MARINI, 1991, p. 13), quando a situação do movimento estudantil mexicano já se tornara particularmente problemática. Depois de outubro de 1968, os acontecimentos de Tlatelolco, somados ao artigo publicado em agosto, e algumas palestras sobre o movimento estudantil, tornaram a situação de Marini insustentável no México. Ele foi ameaçado pelo então subsecretário de governo, encarregado do controle dos asilados políticos, e foi praticamente convidado a se retirar do país. No início de 1969, foi eleito presidente do México o próprio Secretário de Governo que havia ordenado o massacre da Plaza de las Tres Culturas, Luís Echeverría, o que apressou a decisão de Marini de deixar o México e partir para Santiago do Chile. Mesmo assim, alguns anos depois, o mesmo governo mexicano que massacrou estudantes e perseguiu exilados políticos indesejáveis, enviou para Santiago do Chile um avião com o objetivo de resgatar os militantes de esquerda que, imediatamente após o golpe de 1973, se refugiaram na embaixada do México na capital chilena (ROLLEMBERG, 1999, p. 121). Os exilados chilenos foram bem recebidos no México governado por Luís Echeverría, inclusive a mulher do presidente deposto e assassinado, Salvador Allende, a senhora Hortênsia Bussi. Externamente,
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Echeverría apoiou o governo socialista de Allende, repudiou o golpe de Augusto Pinochet e estava decididamente a favor do regime cubano. Internamente, seu governo foi marcado pela perseguição e morte de militantes da esquerda revolucionária mexicana, como o líder da guerrilha Exército Revolucionário do Povo (ERP), Luís Cabañas. O quadro político-institucional do México nos anos 1970 era, portanto, de uma democracia burguesa que se legitimava através do equilíbrio entre os mecanismos de consenso e coerção. Respeitava o sufrágio, atendia parcialmente as reivindicações proletárias, praticava uma política externa independente e soberana, mas também dominava o aparato repressivo do Estado, utilizando mecanismos de violência a qualquer sinal de ameaça à estrutura política que lhe fornecia sustentação. Por isso, pareceu pertinente a tese da “hegemonia burguesa”. Utilizei parte de um conceito, criado por Antônio Gramsci para explicar outras realidades,4 que permitia esclarecer sobre o predomínio de uma classe sobre as demais, não apenas através da força ou de mecanismos formais de alternância política em um sistema democrático, mas buscava na questão cultural a explicação da ascendência de um grupo social. A explicação para a estabilidade política reinante no México nos anos 1970 parecia ter origem no processo revolucionário.5 À revolução da fração burguesa de Francisco Madero somou-se a irrupção violenta das massas camponesas, constituindo uma verdadeira guerra civil. Madero representava as aspirações democráticas da pequena burguesia do México central, mas não foi capaz e não teve o interesse em incorporar estas massas após a vitória sobre Díaz.6 Seu assassinato em 1913 foi uma consequência desta dificuldade da pequena burguesia do centro do 4 Antonio Gramsci elaborou o conceito de hegemonia pensando no caso específico do proletariado italiano no início do século XX e na possibilidade de esta classe social construir um projeto de dominação social, cujo componente cultural fosse suficientemente poderoso para legitimar aquele domínio. Ver por exemplo em GRAMSCI, Antonio. Maquiavel: A Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. 5 Devo dizer que esta ideia era compartilhada por eminentes estudiosos da Revolução Mexicana, dos quais posso destacar Arnaldo Córdova que escreveu um capítulo de livro, publicado em 1979, fruto de um ciclo de palestras realizado na Unam, que propunha a reinterpretação da Revolução Mexicana pelo viés do marxismo. Segundo Córdova, “la irrupción de las masas trabajadoras en la política nacional, a través de la revolución de 1910 a 1917, .... constituyó además el móvil, la causa y la plataforma sobre la que se levantó um Estado cuyo poderio sobre la sociedad y cuya estabilidad siempre han sido reconcidos como sus características más notables” (1994, p. 59). 6 Segundo Gilly (1994), a Revolução de Madero era oficial, a revolução do plano de San Luis de Potosi, que termina em 1911, quando Díaz deixa o país rumo ao exílio. O dinamismo revolucionário se inaugura a partir da adesão de Zapata e desta “brecha” aberta pelo movimento camponês para a precipitação de todos os outros movimentos e lutas de classes (cf. GILLY, 1994).
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país em acomodar simultaneamente os ex-porfiristas, os interesses externos, representados pelos Estados Unidos e as reivindicações populares camponesas. Paradoxalmente, a irrupção violenta e grandiosa das massas – “gigantesca guerra campesina pela terra” (GILLY, 1994, p. 22) – deu origem à estabilidade política no México. As “massas convertidas em um autêntico fator de poder” (CORDOVA, 1994, p. 59) foram se desenvolvendo ao longo do processo, descobriram os pontos de convergência na sua heterogeneidade e se transformaram em grupos de pressão poderosos. O grupo que soube melhor responder a essa maré de reivindicações camponesas e operárias foi a burguesia nortista de Sonora, representada por Carranza nos anos 1920. Venustiano Carranza se apodera do governo, promulga a Constituição e agiliza a modernização institucional do país. O grupo de Sonora representava “un México más nuevo, más ateo, más ilustrado y menos rígido en sus estructuras sociales y civilizatorias en general.”; “… el espacio original del grupo que al final terminará apoderándose de todo el país y de todos los beneficios de dicha revolución, el conocido ‘Grupo Sonora’” (AGUIRRE, 2009, p. 31). Enrique Semo (1994) também compartilha desta interpretação. Para ele, os grupos camponeses, dirigidos por Zapata, bem como os operários inspirados no anarquismo de Flores Magón “jogaram papel fundamental como motores da revolução”, mas “em nenhum momento puderam dirigi-la” (SEMO, 1994, p. 137). A direção da revolução coube a esse grupo de Sonora, que Semo classifica como uma burguesia agrária. Esse grupo evoluiu até o cardenismo e logrou obter a hegemonia do Estado.7 Assim, no período mais crítico do processo de “latino-americanização” da Guerra Fria, a época da Aliança para o Progresso, dos golpes preventivos e da implantação de regimes de terror, o México não apenas conservava a democracia burguesa, mas aprofundava a participação popular. A forma como a Revolução impactou o comportamento ulterior da luta de classes no México é a resposta para explicar a estabilidade política do país. Era difícil para a esquerda mexicana preservar antagonismos políticos contundentes com o governo em um país que não rompeu relações com Cuba, apoiou os movimentos de países não alinhados e tinha uma política externa independente. Além disso, Cárdenas criara canais de participação para camponeses – Confederação Nacional Campesina
7 A hegemonia não foi obtida apenas a partir do atendimento de demandas populares. O “cardenismo” teve papel fundamental na regulamentação e execução da reforma agrária que estava consagrada pela Constituição de 1917, mas também foi responsável pela criação de canais participação política, controlados pelo Estado, pela valorização nacional, pela nacionalização de pontos estratégicos da economia.
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(CNC) – e para os operários – Confederação dos Trabalhadores Mexicanos (CTM) –, ambos vinculados ao Partido Nacional Revolucionário (PNR), criado em 1929 e depois transformado em Partido Revolucionário Institucional (PRI). Esta relação entre a esquerda mexicana e a burguesia que se apoderou da revolução foi o fator diferencial e que permitiu a ascendência da classe dominante no país. Até a eclosão da Revolução Mexicana, no entanto, a evolução histórica do país havia seguido um curso semelhante aos demais países do subcontinente. A partir de meados do século XIX, depois das independências, praticamente todos os países latino-americanos, incluindo o próprio México, consolidaram economias primário-exportadoras que atendiam a demanda por produtos primários e matérias-primas dos países centrais do capitalismo. As oligarquias liberais, herdeiras dos grupos dominantes coloniais, foram responsáveis pela implantação do capitalismo com ênfase no latifúndio e na aliança com o imperialismo. Constituíram Estados excludentes, racistas e autoritários. A modalidade de implantação do capitalismo latino-americano foi chamada de “via prussiana”, mesma designação de Lênin para o capitalismo alemão, em função das características autoritárias do processo, instituído de cima para baixo. A transição do Estado oligárquico para o Estado burguês nos países da América Latina foi diversificada na forma e no tempo: precoce em alguns países como o Uruguai e o México, tardia em outros, como Cuba e Nicarágua; pelas vias democráticas formais como na Argentina e Chile; através de revoluções como no México e na Bolívia. Apesar destas diferenças cronológicas e da diversidade no caráter do processo – pacífico ou revolucionário –, na quase totalidade dos países, os antigos grupos oligárquicos mantiveram uma posição econômica e política privilegiada, ainda que subsumidos pela burguesia urbano-industrial. Os novos grupos dominantes estavam interessados em uma economia mais diversificada, mas não prescindiam da acumulação originada no setor primário-exportador. A verdade é que inclusive os governantes que assumiram os processos de transição, entre os quais, Getúlio Vargas no Brasil, Hipólito Irigoyen na Argentina, Arturo Alessandri no Chile e mesmo Francisco Madero no México, tinham interesses na grande propriedade, ou melhor, no latifúndio. Estes governantes foram responsáveis pela modernização política (sufrágio universal), pela atenção a outras regiões e outros produtos que não fossem aqueles ligados ao setor exportador mais dinâmico e tiveram uma preocupação com a dependência de seus países em relação aos centros hegemônicos do capitalismo. Mas não romperam com o latifúndio e tampouco com o setor mais dinâmico das economias latino-americanas e com maior capacidade de acumulação. Conforme Cueva (1979, p. 11) “en la inmensa mayoria de países latinoamericanos, la bur-
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guesía ha sido históricamente incapaz de constituirse como clase ‘hegemónica’ (en el sentido gramsciano del término)”. No México, o curso revolucionário modificou este aspecto em relação aos demais países. O latifúndio foi desmantelado, as oligarquias primário-exportadoras perderam o poder político e a evolução político-institucional do México seguiu um curso diferente, ainda que alguns aspectos socioeconômicos não tenham sido tão contrastantes, tema que será discutido adiante. Importa enfatizar que, diferentemente da maior parte dos países da América Latina, o México manteve a democracia e a esquerda teve assegurados canais de participação, atuando livremente e participando de eleições, mesmo que as acusações de fraude contra o PRI tenham sido frequentes na história contemporânea do país. Ressalte-se que falar em democracia não é apenas referir-se ao regime formal e ordenado a partir da legislação constitucional, mas diz respeito, sobretudo, ao acesso do povo à cidadania. O que caracteriza a democracia é a criação de direitos sociais, econômicos, políticos e culturais, além da consolidação e da garantia desses direitos. Além disso, os governos democráticos são aqueles que auxiliam a nação a brotar como autônoma, soberana e independente. Mas isso não significa que nos regimes democráticos, a classe dominante não lance mão do aparato repressivo do Estado para impedir a reprodução de seu domínio. Para ampliar esta análise, no México houve repressão contra os movimentos sociais mais radicalizados, como foi o caso do massacre de estudantes em 1968 e a perseguição à guerrilha do ERP nos anos 1960. Apesar de ter abrigado os cubanos, depois de Moncada, e de ter mantido relações diplomáticas com Cuba, mesmo depois da expulsão da OEA, o governo mexicano não admitia a presença de uma guerrilha inspirada em Cuba no seu território e fez tudo para eliminar os vestígios daquele movimento. Por outro lado, a burguesia mexicana não recorreu à ditadura militar para conter as ameaças ao sistema capitalista. Um dos motivos para isso está evidenciado pela relação, ao longo do processo revolucionário, das lideranças da Revolução com as Forças Armadas. A Revolução Mexicana foi responsável pela substituição do antigo Exército Federal. Os altos oficiais do antigo exército, que servira às oligarquias rurais, não foram reintegrados. Na dissertação sobre hegemonia burguesa no México, houve a preocupação em ampliar este aspecto com dados quantitativos do processo de desmilitarização nos anos 1930 (WASSERMAN, 1990, p. 196-197). Ainda sobre este assunto, Gilly observa que El ejército fue destruido. Esto no ocurrió en Argentina con Perón ni en Chile con Allende: el ejército de Pinochet es el mismo que el de Allende y el de Frei. Allí reside el carácter radical del asalto de la revolución mexicana contra el Esta-
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do, aunque luego el Estado reorganizado fuera nuevamente un Estado burgués (GILLY, 1994, p. 44).
Nos aspectos socioeconômicos, as oligarquias rurais foram afastadas do poder e foi realizada uma reforma agrária de caráter capitalista, sobretudo no período do cardenismo (1934-1940). Neste período, foram realizadas as principais reformas burguesas no país: transformação das relações de propriedade, sobretudo agrária que é colocada sob o controle do Estado, responsável pela redistribuição da riqueza, nacionalização dos bens naturais energéticos (riqueza do subsolo) e das riquezas estratégicas (ferrovias), organização de um sistema ordenado de participação política sob controle do Estado com poderes extraordinários permanentes (CORDOVA, 1994, p. 71). Segundo dados oficiais, foram distribuídos durante o período Cárdenas (1934-1940) 18.352.000 hectares de terras. Na dissertação, observo que Cárdenas diferenciou-se dos governantes populistas latino-americanos, que estavam intimamente ligados às oligarquias rurais, promovendo a reforma agrária e fixando salários mínimos médios para os trabalhadores rurais – em 1934 foi fixado em 1,09 e em 1940 aumentou para 1,52 pesos mexicanos (WASSERMAN, 1990, p. 212).
A minha preocupação principal era mostrar a diferença entre a transição ao Estado burguês no México e nos demais países da América Latina, corroborando a tese da hegemonia burguesa, no primeiro caso, versus instabilidade política nos demais. Esta preocupação em afirmar o caráter revolucionário do período e a diferença em relação aos demais países me impediu, no entanto, de salientar que a partir de Lázaro Cárdenas registrou-se o último lampejo revolucionário da burguesia mexicana, “... la burguesia mexicana pierde toda reserva revolucionária” (SEMO, 1994, p. 139). A presença do proletariado e sua diferenciação na estrutura social mexicana arrefecem o arroubo revolucionário da burguesia, pois como observou Octávio Ianni (1975, p. 154), “cuando las organizaciones obreras y campesinas demuestran capacidad para avanzar más allá de los cuadros políticos convenientes a las altas capas burguesas del cardenismo, el propio Cárdenas se ve obligado a cambiar el curso de sus relaciones con las masas”. Por isso, mesmo diante das reformas burguesas, diferenciadas em relação ao restante da América Latina, as desigualdades sociais prosseguiam no México, intensas como nos outros países do continente latino-americano, e a dependência em relação aos centros hegemônicos do capitalismo, sobretudo os Estados Unidos, permaneceu como uma marca registrada do país. Estas ambiguidades, entre uma realidade democrático-burguesa e a persistência de políticas repressivas e da fraude eleito-
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ral; entre a presença de um proletariado urbano submetido a níveis de vida bastante achatados e uma rica classe dominante liberal, que evidencia as desigualdades sociais do país; entre uma nação que se autoproclama soberana e politicamente independente e a situação concreta de dependência econômica em relação aos Estados Unidos fazem desabrochar contradições que pareciam adormecidas ao longo dos 84 anos entre a eclosão da Revolução Mexicana e o aparecimento do neozapatismo. Entre os “dois Zapatas”, o Emiliano Zapata e este outro muito recente movimento que buscou inspiração no passado, existe, além da diferença cronológica, uma diferenciação espacial. A região de Emiliano Zapata está localizada no centro do país, no estado de Morelos, entre os estados de Guerrero, México e Puebla, enquanto a região do movimento neozapatista é o sul do México, estado de Chiapas, entre Tabasco, Oaxaca e Veracurz, fronteira com a Guatemala. De acordo com a interpretação de Aguirre Rojas: o sul representa o “México Profundo”, tendo sido esta região menos atingida pelas transformações que o país passou a partir da Revolução. Si la Revolución Mexicana, en la que la macroregión norteña interpela a todo el país para urgirlo a modernizarse, va a lograr desencadenar una serie de profundas transformaciones sociales y generales en la zona o macroregión central de lo que hoy es México, transformaciones que irrumpen desde 1910, en cambio la macroregión del sur va a verse muy poco o nada afectada por las sucesivas olas revolucionarias del movimiento de 1910 (AGUIRRE ROJAS, 2006, p. 31-32).
Partindo basicamente de San Luis de Potosí, centro-norte do país, sob a liderança de Francisco Madero e dos clubes liberais, a Revolução ganhou apoio decisivo dos camponeses liderados por Emiliano Zapata, em 1911, desde Morelos, e a radicalidade da guerrilha liderada por Pancho Villa, nortista de Chihuahua, e de Pascual Orozco. Mas, a Revolução Mexicana terminou sendo absorvida pelas lideranças do norte do país, aquele norte “mais culto, mais ateu e mais rico”, de Álvaro Obregón, do estado de Sonora, e de Venustiano Caranza, governador de Cohauila. Este último foi responsável pela incorporação das demandas camponesas e operárias ao texto constitucional de 1917, mas também foi responsável pelo isolamento das lideranças camponesas e pela morte de Zapata, em 1919. Por isso, Aguirre Rojas (2006) sustenta a tese de que as transformações revolucionárias partiram do norte, atingiram o centro do país para compor com a guerrilha zapatista, mas pouco ou nada fizeram no sul, que ficou esquecido, segundo Aguirre Rojas (2006, p. 33), como uma “área de reserva”.
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O que significa dizer que a hegemonia burguesa, esta ascendência cultural, ou o predomínio do consenso e da legitimidade atingiu apenas duas terças partes do país, a região central e o norte, enquanto o sul permaneceu sem reconhecer a “autoridade” da Revolução e sem ser por ela reconhecido. O sul do México permaneceu sob a égide do latifúndio, marcado por relações sociais arcaicas, pré-capitalistas e hierárquicas; a sobrevivência anacrônica de elites políticas autoritárias, brutais e muito limitadas; e com a manutenção de concepções culturais profundamente discriminatórias e racistas (AGUIRRE ROJAS, 2006). Por isso, depois de compreender a “hegemonia burguesa” no México como fruto do processo revolucionário e como causa da ausência de ditadura de segurança nacional no país, torna-se imprescindível pensar na eclosão do movimento chiapaneco não somente como resultado da ausência de políticas públicas naquela região. A compreensão dos vínculos entre estes três episódios da história do México – Revolução de 1910, hegemonia burguesa e movimento chiapaneco – está relacionada com a análise da modalidade de desenvolvimento do capitalismo na América Latina, bem como com a interpretação acerca das classes sociais dominantes latino-americanas que colocam em movimento este processo. As características da luta de classes no subcontinente latino-americano, e o relacionamento dos países da América Latina com os centros hegemônicos do capitalismo e com a sua própria cultura são outros fatores que explicam o vínculo entre a Revolução Mexicana, a ausência de ditadura militar e a eclosão do movimento chiapaneco. Significa afirmar que não foi apenas a ausência de políticas públicas – reforma agrária, nacionalizações, modernização institucional ou ampliação da participação política – na região sul do país que puseram em movimento a organização de uma guerrilha nos anos 1990, em pleno retorno da democracia e em meio à frustração com o projeto socialista. À manutenção de estruturas socioeconômicas arcaicas e de políticas autoritárias e excludentes correspondeu a permanência de uma rebeldia. O centro-norte do país moderno e capitalista, burguês e “democrata” contrastava com o sul arcaico e semifeudal, oligárquico e autoritário, e por isso mesmo rebelde. Aguirre Rojas (2006, p. 33) refere-se ao sul como “área de reserva”, segundo ele porque funcionou desde o séculos XVI e XVII como “zona de refugio de los actores que son expulsados, por múltiples y muy diversas razones, de las contiendas del centro” ou também porque se constitui um lugar rico em recursos econômicos e políticos, muitas vezes canalizados pela área central para propósitos nacionais (idem, p. 34). Mas também poder-se-ia afirmar que o sul do país constituiu-se em uma “área de
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reserva” de rebeldia. A rebeldia que nas zonas central e norte foi abrandada pela concessão de benefícios sociais. As massas populares nortistas e do centro do México tiveram uma experiência concreta de luta popular-revolucionária e uma consequente ampliação da participação política e dos benefícios econômicos e sociais. A “experiência” modificou substancialmente as suas expectativas em relação ao futuro, tanto no que se refere à modernização, quando no tocante ao relacionamento com o Estado mexicano. Em reflexões mais recentes, Aguirre Rojas (2009, p. 108) observa que a pesar de que la vía campesina popular, más jacobina y radical de esta Revolución fue derrotada al ser vencidos o asesinados Emiliano Zapata y Francisco Villa, sin embargo dicha revolución hizo igualmente sentir algunos de sus benéficos efectos transformadores sobre estas dos macroregiones de México, provocando, pese a tropiezos y recaídas, parte importante de los avances y conquistas que logró la población mexicana.
A região sul do México, ao contrário das demais, não foi atingida pelos efeitos benéficos da revolução e, por isso mesmo, “sofreu não somente das contradições e males produzidos pelo desenvolvimento do capitalismo em áreas dependentes do planeta, mas também, simultaneamente, dos problemas que derivam de sua falta de desenvolvimento” (MARX, 1975, p. 5). Ainda poder-se-ia distinguir esta zona sul do país como o “elo fraco” da cadeia capitalista imperialista (LÊNIN, 2002), fator que poderia explicar o profundo desgaste desta região a partir da crise dos anos 1980. As crises do capitalismo são vivenciadas com maior intensidade nas zonas de menor desenvolvimento, ao passo que as transformações do sistema que visam solucionar o colapso beneficiam prioritariamente os países e regiões de maior desenvolvimento, sendo que as zonas mais pobres pagam, em geral, o custo mais elevado das crises. Esta regra vale para países inteiros latino-americanos, africanos e asiáticos, que foram alvo prioritário das políticas de reestruturação do sistema financeiro internacional, mas também poderia ser aplicada a regiões mais pobres como o sul mexicano, a serra peruana, as regiões norte e nordeste do Brasil, o norte da Argentina, por exemplo. Nos anos 1980, o México governado por Miguel de la Madrid Hurtado, sofreu uma crise econômica de grande proporção; o desequilíbrio orçamentário dos sucessivos governantes do PRI e a queda dos preços do petróleo no decênio anterior levaram a uma inflação de quase 100% ao ano, ao desemprego entre 20 e 25 % e à desvalorização do peso em relação ao dólar. Somado ao desfavorável ambiente econômico, um terremoto de enormes proporções atingiu o país em 1985, causando milhares de mor-
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tes – as estimativas giram em torno de 10 mil e 20 mil mortes –, e danos materiais incalculáveis. A atitude do governo mexicano neste episódio foi lamentável: não permitiu que o exército federal colaborasse com a população mobilizada nas primeiras horas após o terremoto, declarou que o país não necessitava ajuda internacional e foi vagaroso e ineficiente nas ações de resgate às vítimas. O governo, marcado por este triste episódio e pela crise econômica, ainda ficou conhecido por iniciar medidas de ajuste preconizadas por agências financeiras internacionais, tais como privatização de empresas estatais e abertura comercial do México ao exterior. As medidas preconizadas pelo Consenso de Washington, formuladas a partir de 1989, por instituições como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), para reverter a crise do capitalismo dos anos 1980, recomendavam aos países latino-americanos a adoção de disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, abertura comercial; absorção de investimento estrangeiro direto e eliminação de restrições; privatização de empresas estatais e desregulamentação da economia, sobretudo, no que se referia ao afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas. Carlos Salinas de Gotari, o presidente mexicano responsável pela implementação das medidas aconselhadas por Washington, foi eleito em 1988, em um dos pleitos mais contestados na história recente do país. Seu oponente, Cuauhtémoc Cárdenas, sobrinho do legendário Lázaro Cárdenas – responsável por nacionalizações e pelo avanço da reforma agrária – conseguiu reunir as oposições em uma coligação chamada Frente Democrática Nacional e ameaçou seriamente, pela primeira vez, o predomínio do PRI, em quase 60 anos. Mesmo sob protestos, Salinas de Gotari foi empossado presidente do México e seu mandato foi marcado pelo cancelamento de várias conquistas revolucionárias. O descontrole econômico provocado pela inflação e pelos equívocos na política cambial e de crédito, resultou no empobrecimento ainda maior de populações desatendidas. Além disso, Carlos Salinas ainda foi responsável pela privatização de empresas estatais, deterioração de serviços públicos essenciais e pela assinatura de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos (Nafta). Uma das principais conquistas da Revolução Mexicana – além da reforma agrária, da legislação trabalhista e da nacionalização de pontos estratégicos da economia – havia sido a promoção da soberania nacional como um dos pilares da nação que emergiu dos escombros da luta revolucionária. A valorização da nacionalidade mexicana tornou-se modelar para vários países da América Latina, não apenas como decorrência dos processos de desapropriação de empresas estrangeiras, mas, sobretudo, pela reviravolta nas relações étnicas no país e pelo reconhecimento dos povos indígenas como cidadãos componentes da identidade nacional.
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A Revolução Mexicana representava também uma vitória contra o histórico e sistemático domínio dos Estados Unidos sobre o país. A anedota sobre o poderio norte-americano que circulava antes da revolução – “pobre México, tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos” – foi se transformando em axioma do passado, à medida que as intervenções norte-americanas e o domínio econômico foram sendo combatidos pelo processo revolucionário: primeiro com a deposição de Victoriano Huerta, em 1914; e depois, com a criação da Pemex, em 1938, que pôs fim à exploração do petróleo mexicano por empresas estrangeiras, notadamente norte-americanas. A obliteração das conquistas obtidas pela Revolução Mexicana a partir de meados dos anos 1980, evidenciada pela desregulamentação das leis trabalhistas, pela privatização de empresas estatais e, sobretudo, pelo retorno a uma situação de livre comércio e predomínio norte-americano, com a assinatura do Nafta, foi o estopim para a eclosão do movimento chiapaneco. Como região mais pobre do país, o sul, notadamente a região de Chiapas, sofreu com maior intensidade a crise dos anos 1980 e foi a zona mais afetada pelas medidas neoliberais. Entre o governo de Lázaro Cárdenas (1934-1940), que representou o último lampejo revolucionário da burguesia mexicana, e o governo Carlos Salinas de Gotari, consagrou-se a vitória de setores dominantes ligados ao capital transnacional e que não hesitaram em cancelar as conquistas revolucionárias e, por consequência, a própria hegemonia burguesa. Por isso, os chiapanecos, concentrados nesta “área de reserva”, apareceram reivindicando não apenas a extensão dos efeitos progressistas da Revolução Mexicana à zona sulina – que não havia sido atingida pelo processo de modernização –, mas também a reversão das políticas neoliberais que desgastaram a imagem da Revolução como símbolo da nacionalidade. Na Primeira Declaração da Selva Lacandona, em janeiro de 1994, os camponeses de Chiapas anunciavam: “Hoje decidimos. Basta!”. Suas reivindicações diziam respeito a “um teto digno, terra, trabalho, saúde, alimentação, educação, direito de eleger livre e democraticamente as autoridades, independência dos estrangeiros, paz e justiça”. Consideram-se “herdeiros dos verdadeiros forjadores da nacionalidade, os despossuídos,... ante a ambição insaciável de uma ditadura de mais de 70 anos, encabeçada por uma camarilha de traidores que representam os grupos mais conservadores e vende-pátrias”.8 De acordo com o marxista irlandês John Holloway (2000, p. 45), o neozapatismo representa o “intento de rescatar la revolución de los escombros de la história, pero el concepto de revolu8 Primeira Declaração da Selva Lacandona Disponível em: http://enlacezapatista.ezln.org.mx/. Acesso em: 25 jan. 2011.
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ción que emerge de estos escombros sólo puede tener sentido si es un concepto nuevo”. Holloway publicou em 2002 o livro Cambiar el mundo sin tomar el poder, consigna atribuída aos Novos Movimentos Sociais (NMS) surgidos a partir dos anos 1990, e que foram basicamente movimentos antiglobalização e contrários às práticas neoliberais. O volume teve várias edições e gerou intensa polêmica entre marxistas e não marxistas.9 De fato, entre os dois Zapatas – o Emiliano e o “novo” – a concepção sobre revolução se modificou profundamente. Modificaram-se a reivindicação da esfera revolucionária (nacional, continental, terceiro-munidsta ou internacional), as estratégias (guerra revolucionária, pacifista, golpe, etc.), o caráter da revolução (socialista, nacional-democrática, etc.), os agentes do processo (camponeses, operários, pequena-burguesia), como também à própria possibilidade de sua ocorrência. Holloway (2000, p. 43) descreve ironicamente o mundo dos neozapatistas para explicar a surpresa de sua aparição em 1994 e a dificuldade de entender esse novo movimento sem compreender também a mudança na concepção de revolução entre os anos 1910 e 1990. Em 1994, os neozapatistas “llegaron como gente prehistórica saliendo de sus cuevas, hablando de dignidad y humanidad. ¿Acaso no veían qué ridículos eran? ¿Acaso no habían aprendido del la amargura de la historia? ¿Acaso no sabían que la época de las revoluciones había terminado, que las grandes narrativas eran cosas del pasado? ¿Acaso no sabían lo que había pasado con todas las revoluciones latinoamericanas? ¿Acaso no habían oído de la caída de la Unión Soviética? ¿Acaso nunca habían oído hablar de Pol Pot?”. Os neozapatistas compreendiam, entretanto, perfeitamente, que tudo havia mudado. Sabiam que as reivindicações de Emiliano Zapata emitidas no célebre Plano de Ayala – Tierra y Libertad – não faziam mais sentido em um mundo cada vez mais internacionalizado, onde a esfera do Estado nacional já não podia responder aos apelos daqueles que haviam sido esquecidos pela Revolução de 1910. E foi justamente porque compreenderam o “fracasso histórico do conceito estadocêntrico da revolução” (HOLLOWAY, 2000, p. 47) que suas reivindicações têm um sentido mais amplo, não relacionado com a liberdade de uma classe, mas com a emancipação humana; não relacionado com a questão da terra especificamente falando, mas com toda a distribuição da riqueza mexicana; não relacionado com a retomada de um modo de vida anterior à colonização, mas sim com a dignidade de todos neste México globalizado. Evidentemente, o tipo de Revolução que proporcionou à burguesia mexicana a oportunidade de constituir-se como clas9 Cf. o debate no sítio argentino Debate e Crítica Marxista no endereço: http://www.herramienta.com.ar.
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se hegemônica e estabelecer uma estabilidade política inédita na história contemporânea do subcontinente tinha desaparecido como possibilidade plausível nos anos 1990. As conquistas da Revolução de 1910 que criaram políticas sociais para a pequena burguesia urbana e rural extensivas aos operários e camponeses, destinadas ao controle político das classes dominadas; que construíram um país soberano e menos dependente dos Estados Unidos, através das políticas de nacionalização de ramos estratégicos da economia; que estabeleceram canais de participação para as classes menos favorecidas, evitando assim a eclosão de movimentos sociais de mais drásticas consequências, desapareceram sob a égide da nova configuração internacional do capitalismo em sua versão neoliberal. Com o cancelamento das conquistas revolucionárias, a “hegemonia burguesa” também se desfez, comprovando a hipótese de sua impossibilidade histórica em países economicamente dependentes, cujas riquezas não poderão ser compartidas internamente por longos períodos de tempo para desempenhar suas funções no padrão de acumulação capitalista definido pelas classes dominantes metropolitanas. A democracia mexicana, tantas vezes admirada e que serviu de inspiração para trabalhos como a minha própria dissertação de mestrado, foi conspurcada sistematicamente por processos eleitorais fraudulentos que se tornaram mais evidentes no final do século XX. As suspeitas que recaíram sobre as últimas vitórias eleitorais do PRI, de Carlos Salinas de Gotari e de Vicent Fox, evidenciaram a fragilidade do sistema político mexicano que estava anteriormente baseado na estabilidade e no consenso. Seus governos, responsáveis pela implantação das medidas neoliberais e pela abertura comercial do país ao poderoso vizinho do norte, representaram o sepultamento dos últimos vestígios das políticas sociais emanadas do processo revolucionário e o movimento chiapaneco é a prova contundente da não aceitação da continuidade do poder do PRI. Por isso, é compreensível esta análise de “longa duração” que estabelece os vínculos entre a Revolução Mexicana e seus resultados, compreendidos como parte do processo de consolidação do capitalismo de Estado; a constituição da burguesia mexicana como classe hegemônica; a construção da democracia e da estabilidade como componentes da participação política das classes menos favorecidas no processo revolucionário; e o aparecimento do movimento chiapaneco como uma revolta contra a não extensão dessas políticas sociais e de participação e, ao mesmo tempo, como a contrariedade em relação ao fim do capitalismo de Estado e contra a adesão do México e de seus governantes ao capitalismo de mercado, preconizado pelas metrópoles.
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Referências AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Chiapas, Planeta Tierra. México: Editorial Contrahistorias, 2006. BRAUDEL, Fernand. O mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Felipe II. 2. ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. CASTAÑEDA, Jorge G. Utopia desarmada. Intrigas, Dilemas e Pormessas da Esquerda latino-americana. São Paulo: Cia das Letras, 1994. CUEVA, Agustín. Ideologia y Sociedad em América Latina. Montevideo: La Banda Oriental, 1988. CUEVA, Agustín. Teoria Social y Processos Politicos en America Latina. México: Edicol. 1979. CORDOVA, Arnaldo. México: Revolución Burguesa y política de masas. In: GILLY, Adolfo et all. Interpretaciones de la Revolución Mexicana. México: Nueva Imagen, 17. ed., 1994. GILLY, Adolfo. La guerra de clases em la revolución mexicana (revolución permanente y auto-organización de las masas). In: GILLY, Adolfo et all. Interpretaciones de la Revolución Mexicana. México: Nueva Imagen, 17. ed., 1994. GRAMSCI, Antonio. Maquiavel: A Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 1968. HOLLOWAY, John. El Zapatismo y las ciências sociales en América Latina. In: Chiapas. Cidade do México: Ediciones Era/Instituto de Investigaciones Económicas UNAM, 2000, n. 10. IANNI, Octavio. La Formación del Estado Populista en América Latina. México: Era, 1975. LENIN, V. I. Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Centauro, 2002. MARX, Karl. O Capital (Critica da Economia Política) Livro1: O Processo de Produção do Capital. Volume 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. ROLLEMBERG, Dense. Exílio. Entre raízes e radares. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1999. SEMO, Enrique. Reflexiones sobre la Revolución Mexicana. In: GILLY, Adolfo et all. Interpretaciones de la Revolución Mexicana. México: Nueva Imagen, 17. ed., 1994. WASSERMAN, Claudia. A Revolução Mexicana: um caso de hegemonia burguesa na América Latina (1910-1940). Porto Alegre: Programa de Pós Graduação em História, Dissertação de Mestrado, 1990.
Documentos e sítios Primeira Declaração da Selva Lacandona Disponível em: http://enlacezapatista.ezln.org.mx/. Acesso em: 25 jan. 2011. Debate e Crítica Marxista. Disponível em: http://www.herramienta.com.ar/. Acesso em: 20 jan. 2011. Memória. Ruy Mauro Marini. Disponível em: http://migre.me/58Cdk. Acesso em 25 de janeiro de 2011.
TEMAS DOS CADERNOS IHU IDEIAS N. 01 N. 02
N. 03 N. 04 N. 05 N. 06 N. 07 N. 08 N. 09 N. 10 N. 11 N. 12 N. 13 N. 14 N. 15 N. 16 N. 17 N. 18 N. 19 N. 20 N. 21 N. 22 N. 23 N. 24 N. 25 N. 26 N. 27 N. 28 N. 29 N. 30 N. 31 N. 32 N. 33 N. 34 N. 35 N. 36 N. 37 N. 38 N. 39 N. 40 N. 41 N. 42 N. 43 N. 44 N. 45 N. 46 N. 47 N. 48 N. 49
A teoria da justiça de John Rawls – Dr. José Nedel O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produções teóricas – Dra. Edla Eggert O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São Leopoldo – MS Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo – Jornalista Sonia Montaño Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – Prof. Dr. Luiz Gilberto Kronbauer O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Dr. Manfred Zeuch BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo – Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Profa. Dra. Suzana Kilpp Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Profa. Dra. Márcia Lopes Duarte Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e as barreiras à entrada – Prof. Dr. Valério Cruz Brittos Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir de um jogo – Prof. Dr. Édison Luis Gastaldo Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz – Profa. Dra. Márcia Tiburi A domesticação do exótico – Profa. Dra. Paula Caleffi Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educação Popular – Profa. Dra. Edla Eggert Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS – Prof. Dr. Gunter Axt Medicina social: um instrumento para denúncia – Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel Mudanças de significado da tatuagem contemporânea – Profa. Dra. Débora Krischke Leitão As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história e trivialidade – Prof. Dr. Mário Maestri Um itinenário do pensamento de Edgar Morin – Profa. Dra. Maria da Conceição de Almeida Os donos do Poder, de Raymundo Faoro – Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf Piccolo Sobre técnica e humanismo – Prof. Dr. Oswaldo Giacóia Junior Construindo novos caminhos para a intervenção societária – Profa. Dra. Lucilda Selli Física Quântica: da sua pré-história à discussão sobre o seu conteúdo essencial – Prof. Dr. Paulo Henrique Dionísio Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crítica a um solipsismo prático – Prof. Dr. Valério Rohden Imagens da exclusão no cinema nacional – Profa. Dra. Miriam Rossini A estética discursiva da tevê e a (des)configuração da informação – Profa. Dra. Nísia Martins do Rosário O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – MS Rosa Maria Serra Bavaresco O modo de objetivação jornalística – Profa. Dra. Beatriz Alcaraz Marocco A cidade afetada pela cultura digital – Prof. Dr. Paulo Edison Belo Reyes Prevalência de violência de gênero perpetrada por companheiro: Estudo em um serviço de atenção primária à saúde – Porto Alegre, RS – Prof. MS José Fernando Dresch Kronbauer Getúlio, romance ou biografia? – Prof. Dr. Juremir Machado da Silva A crise e o êxodo da sociedade salarial – Prof. Dr. André Gorz À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay – Seus dilemas e possibilidades – Prof. Dr. André Sidnei Musskopf O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas considerações – Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e seus impactos – Prof. Dr. Marco Aurélio Santana Adam Smith: filósofo e economista – Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Araújo dos Santos Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: uma análise antropológica – Prof. Dr. Airton Luiz Jungblut As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes – Prof. Dr. Fernando Ferrari Filho Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial – Prof. Dr. Luiz Mott. Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de capitalismo – Prof. Dr. Gentil Corazza Corpo e Agenda na Revista Feminina – MS Adriana Braga A (anti)filosofia de Karl Marx – Profa. Dra. Leda Maria Paulani Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliação após um século de “A Teoria da Classe Ociosa” – Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monasterio Futebol, Mídia e Sociabilidade. Uma experiência etnográfica – Édison Luis Gastaldo, Rodrigo Marques Leistner, Ronei Teodoro da Silva & Samuel McGinity Genealogia da religião. Ensaio de leitura sistêmica de Marcel Gauchet. Aplicação à situação atual do mundo – Prof. Dr. Gérard Donnadieu A realidade quântica como base da visão de Teilhard de Chardin e uma nova concepção da evolução biológica – Prof. Dr. Lothar Schäfer “Esta terra tem dono”. Disputas de representação sobre o passado missioneiro no Rio Grande do Sul: a figura de Sepé Tiaraju – Profa. Dra. Ceres Karam Brum O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter – Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa Religião e elo social. O caso do cristianismo – Prof. Dr. Gérard Donnadieu Copérnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo – Prof. Dr. Geraldo Monteiro Sigaud
N. 50 N. 51 N. 52 N. 53 N. 54 N. 55 N. 56 N. 57 N. 58 N. 59 N. 60 N. 61 N. 62 N. 63 N. 64 N. 65 N. 66 N. 67 N. 68 N. 69 N. 70 N. 71 N. 72 N. 73 N. 74 N. 75 N. 76 N. 77 N. 78 N. 79 N. 80 N. 81 N. 82 N. 83 N. 84 N. 85 N. 86 N. 87 N. 88 N. 89 N. 90 N. 91 N. 92 N. 93 N. 94 N. 95 N. 96 N. 97 N. 98 N. 99 N. 100 N. 101 N. 102 N. 103 N. 104 N. 105
Modernidade e pós-modernidade – luzes e sombras – Prof. Dr. Evilázio Teixeira Violências: O olhar da saúde coletiva – Élida Azevedo Hennington & Stela Nazareth Meneghel Ética e emoções morais – Prof. Dr. Thomas Kesselring Juízos ou emoções: de quem é a primazia na moral? – Prof. Dr. Adriano Naves de Brito Computação Quântica. Desafios para o Século XXI – Prof. Dr. Fernando Haas Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil – Profa. Dra. An Vranckx Terra habitável: o grande desafio para a humanidade – Prof. Dr. Gilberto Dupas O decrescimento como condição de uma sociedade convivial – Prof. Dr. Serge Latouche A natureza da natureza: auto-organização e caos – Prof. Dr. Günter Küppers Sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável: limites e possibilidades – Dra. Hazel Henderson Globalização – mas como? – Profa. Dra. Karen Gloy A emergência da nova subjetividade operária: a sociabilidade invertida – MS Cesar Sanson Incidente em Antares e a Trajetória de Ficção de Erico Veríssimo – Profa. Dra. Regina Zilberman Três episódios de descoberta científica: da caricatura empirista a uma outra história – Prof. Dr. Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. Peduzzi Negações e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude – Cátia Andressa da Silva Getúlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo – Prof. Dr. Artur Cesar Isaia Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical – Profa. Dra. Léa Freitas Perez Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexões sobre a cura e a não cura nas reduções jesuítico-guaranis (1609-1675) – Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann Fleck Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimarães Rosa – Prof. Dr. João Guilherme Barone Contingência nas ciências físicas – Prof. Dr. Fernando Haas A cosmologia de Newton – Prof. Dr. Ney Lemke Física Moderna e o paradoxo de Zenon – Prof. Dr. Fernando Haas O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade – Profa. Dra. Miriam de Souza Rossini Da religião e de juventude: modulações e articulações – Profa. Dra. Léa Freitas Perez Tradição e ruptura na obra de Guimarães Rosa – Prof. Dr. Eduardo F. Coutinho Raça, nação e classe na historiografia de Moysés Vellinho – Prof. Dr. Mário Maestri A Geologia Arqueológica na Unisinos – Prof. MS Carlos Henrique Nowatzki Campesinato negro no período pós-abolição: repensando Coronelismo, enxada e voto – Profa. Dra. Ana Maria Lugão Rios Progresso: como mito ou ideologia – Prof. Dr. Gilberto Dupas Michael Aglietta: da Teoria da Regulação à Violência da Moeda – Prof. Dr. Octavio A. C. Conceição Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul – Prof. Dr. Moacyr Flores Do pré-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu território – Prof. Dr. Arno Alvarez Kern Entre Canções e versos: alguns caminhos para a leitura e a produção de poemas na sala de aula – Profa. Dra. Gláucia de Souza Trabalhadores e política nos anos 1950: a ideia de “sindicalismo populista” em questão – Prof. Dr. Marco Aurélio Santana Dimensões normativas da Bioética – Prof. Dr. Alfredo Culleton & Prof. Dr. Vicente de Paulo Barretto A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza – Prof. Dr. Attico Chassot Demanda por empresas responsáveis e Ética Concorrencial: desafios e uma proposta para a gestão da ação organizada do varejo – Profa. Dra. Patrícia Almeida Ashley Autonomia na pós-modernidade: um delírio? – Prof. Dr. Mario Fleig Gauchismo, tradição e Tradicionalismo – Profa. Dra. Maria Eunice Maciel A ética e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz – Prof. Dr. Marcelo Perine Limites, possibilidades e contradições da formação humana na Universidade – Prof. Dr. Laurício Neumann Os índios e a História Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida – Profa. Dra. Maria Cristina Bohn Martins Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo – Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na perspectiva da Etnomatemática – Daiane Martins Bocasanta A religião na sociedade dos indivíduos: transformações no campo religioso brasileiro – Prof. Dr. Carlos Alberto Steil Movimento sindical: desafios e perspectivas para os próximos anos – MS Cesar Sanson De volta para o futuro: os precursores da nanotecnociência – Prof. Dr. Peter A. Schulz Vianna Moog como intérprete do Brasil – MS Enildo de Moura Carvalho A paixão de Jacobina: uma leitura cinematográfica – Profa. Dra. Marinês Andrea Kunz Resiliência: um novo paradigma que desafia as religiões – MS Susana María Rocca Larrosa Sociabilidades contemporâneas: os jovens na lan house – Dra. Vanessa Andrade Pereira Autonomia do sujeito moral em Kant – Prof. Dr. Valerio Rohden As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 1 – Prof. Dr. Roberto Camps Moraes Uma leitura das inovações bio(nano)tecnológicas a partir da sociologia da ciência – MS Adriano Premebida ECODI – A criação de espaços de convivência digital virtual no contexto dos processos de ensino e aprendizagem em metaverso – Profa. Dra. Eliane Schlemmer As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 2 – Prof. Dr. Roberto Camps Moraes Futebol e identidade feminina: um estudo etnográfico sobre o núcleo de mulheres gremistas – Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha
N. 106 Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Humanas: Igualdade e Liberdade nos discur-
sos educacionais contemporâneos – Profa. Dra. Paula Corrêa Henning N. 107 Da civilização do segredo à civilização da exibição: a família na vitrine – Profa. Dra. Maria Isabel Bar-
ros Bellini N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidário, terno e democrático? – Prof. Dr.
Telmo Adams N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular – Prof. Dr. Celso Candido de Azambuja N. 110 Formação e trabalho em narrativas – Prof. Dr. Leandro R. Pinheiro N. 111 Autonomia e submissão: o sentido histórico da administração – Yeda Crusius no Rio Grande do Sul
– Prof. Dr. Mário Maestri N. 112 A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São Paulo e o contexto da publicidade e propa-
ganda – Denis Gerson Simões N. 113 Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra – Esp. Yentl Delanhesi N. 114 SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – MS Sonia Montaño N. 115. Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – Prof. MS Carlos Daniel Baioto N. 116 Humanizar o humano – Roberto Carlos Fávero N. 117 Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião – Róber Freitas Bachinski N. 118 Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo Dascal N. 119 A espiritualidade como fator de proteção na adolescência – Luciana F. Marques & Débora D. Dell’Aglio N. 120 A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fagundes Cabral & Nedio Seminotti N. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos éticos e teológicos – Eduardo R. Cruz N. 122 Direito das minorias e Direito à diferenciação – José Rogério Lopes N. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de marcos regulatórios – Wilson Engelmann N. 124 Desejo e violência – Rosane de Abreu e Silva N. 125 As nanotecnologias no ensino – Solange Binotto Fagan N. 126 Câmara Cascudo: um historiador católico – Bruna Rafaela de Lima N. 127 O que o câncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura universal: Leo Tolstoi – Thomas Mann –
Alexander Soljenítsin – Philip Roth – Karl-Josef Kuschel N. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à identidade genética – Ingo Wolfgang Sarlet
& Selma Rodrigues Petterle Aplicações de caos e complexidade em ciências da vida – Ivan Amaral Guerrini Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentável – Paulo Roberto Martins A philía como critério de inteligibilidade da mediação comunitária – Rosa Maria Zaia Borges Abrão Linguagem, singularidade e atividade de trabalho – Marlene Teixeira & Éderson de Oliveira Cabral A busca pela segurança jurídica na jurisdição e no processo sob a ótica da teoria dos sistemas sociais de Niklass Luhmann – Leonardo Grison N. 134 Motores Biomoleculares – Ney Lemke & Luciano Hennemann N. 135 As redes e a construção de espaços sociais na digitalização – Ana Maria Oliveira Rosa N. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para o estudo das religiões afro-brasileiras – Rodrigo Marques Leistner N. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psíquico: sobre como as pessoas reconstroem suas vidas – Breno Augusto Souto Maior Fontes N. 138 As sociedades indígenas e a economia do dom: O caso dos guaranis – Maria Cristina Bohn Martins N. 139 Nanotecnologia e a criação de novos espaços e novas identidades – Marise Borba da Silva N. 140 Platão e os Guarani – Beatriz Helena Domingues N. 141 Direitos humanos na mídia brasileira – Diego Airoso da Motta N. 142 Jornalismo Infantil: Apropriações e Aprendizagens de Crianças na Recepção da Revista Recreio – Greyce Vargas N. 143 Der ri da e o pen sa men to da des cons tru ção: o re di men si o na men to do su je i to – Pa u lo Ce sar Duque-Estrada N. 144 Inclusão e Biopolítica – Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domênica Hattge & Viviane Klaus N. 145 Os povos indígenas e a política de saúde mental no Brasil: composição simétrica de saberes para a construção do presente – Bianca Sordi Stock N. 146 Reflexões estruturais sobre o mecanismo de REDD – Camila Moreno N. 147 O animal como próximo: por uma antropologia dos movimentos de defesa dos direitos animais – Caetano Sordi N. 148 Avaliação econômica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitário em Canoas-RS – Fernanda Schutz N. 149 Cidadania, autonomia e renda básica – Josué Pereira da Silva N. 150 Imagética e formações religiosas contemporâneas: entre a performance e a ética – José Rogério Lopes N. 151 As reformas político-econômicas pombalinas para a Amazônia: e a expulsão dos jesuítas do Grão-Pará e Maranhão – Luiz Fernando Medeiros Rodrigues N. 129 N. 130 N. 131 N. 132 N. 133
Claudia Wasserman possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1981), mestrado em História pela mesma instituição (1991) e doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 1998). Atualmente é professora associada da UFRGS. Tem experiência na área de História Latino-americana e Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: história contemporânea do Brasil e da América Latina, identidade nacional, historiografia latino-americana, questão nacional, história intelectual latino-americana e brasileira e movimentos sociais. Coordena o Grupo de Pesquisa do CNPq – Grupo de Estudos Americanos e é bolsista da mesma agência. Algumas publicações da autora WASSERMAN, C. História da América Latina: do descobrimento a 1900. Porto Alegre: EDUFRGS, 1996. _______. (Org.); SCHMIDT, B. B. (Org.); OSÓRIO, H. (Org.); SOUZA, S. B. (Org.). História da América Latina: cinco séculos. Porto Alegre: EDUFRGS, 1996. _______. História Contemporânea da América Latina (1900-1930). Porto Alegre: EDUFRGS, 1992. _______. Palavra de Presidente. Porto Alegre: EDUFRGS, 2002. _______; GUAZZELLI, C. A. B. Ditaduras Militares na América Latina. Porto Alegre: EDUFRGS, 2004. _______. A Revolução Cubana: 50 anos de imprensa e história no Brasil. Porto Alegre: Edições EST, 2009. _______ (Org.); WEBER, R. (Org.). Dossiê de História Intelectual Latino-Americana (Revista Anos 90). Porto Alegre: EDUFRGS, 2009. _______; VALDEZ, E. D. Pensamento latino-americano: Além das fronteiras nacionais. Porto Alegre: EDUFRGS, 2010.