Inicia no dia de hoje, 26 de agosto, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, na cidade de Johannesburgo, África do Sul. Ela se estenderá até o dia 4 de setembro. O Instituto Humanitas Unisinos tem promovido vários eventos para discutir os temas em debate nesta 3ª Cúpula da Terra. O IHU Online, igualmente, publicou vários artigos sobre este importante evento. Ressaltamos, de maneira especial, os artigos de M. Gorbachev e de Edgar Morin(1). Durante estes próximos dias, governos de 189 países estarão reunidos para tentar, mais uma vez, salvar o planeta terra do colapso sócioambiental. Este encontro, também batizado de Rio+10, marca os dez anos da Eco-92, no Rio de Janeiro, primeiro grande esforço das Nações Unidas para tentar conciliar duas necessidades antagônicas: o futuro da Terra e o desenvolvimento econômico. A Rio +10, também apelidada de "Cúpula da Pobreza" por ter eleito a miséria como prioridade, tem a missão de aparar todas as arestas do Rio. A conferência deverá definir meios, prazos e metas de implementação da Agenda 21, a ambiciosa carta de intenções produzida na Eco-92 para pôr o planeta no rumo do tal desenvolvimento sustentável. Estudo publicado no boletim Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) nos Estados Unidos revela que, em 1961, os humanos usavam 70% da capacidade da biosfera global. Em 1999, a utilização pulou para 120%. A regeneração do que os humanos usaram em 1999 exigiria 1,2 Terra ou uma Terra para 1,2 ano. ''A opção que temos pela frente é entre dois futuros. Se não fizermos nada para mudar os atuais modelos indiscriminados de desenvolvimento, vamos comprometer, a longo prazo, a segurança da Terra e de seu povo'', afirma Nitin Desai, indiano, secretário-geral da Cúpula da Terra.
1 O artigo M. Gorbachev, Pouco tempo para salvar a terra foi publicado na 26ª edição de IHU On-Line, p. 2. O artigo de Edgar Morin, Romper com o desenvolvimento foi publicado no IHU On-Line nº 32, p. 24.
No entanto, desde a Eco-92, houve, pelo menos, dois retrocessos graves. O primeiro, e mais grave, foi a retirada unilateral dos EUA do Protocolo de Kyoto, o acordo que estabelece limites para as emissões de gases-estufa. Embora o tratado deva permanecer em vigor, ele se torna muito menos significativo sem a presença dos EUA, país que, sozinho, responde por 36,1% das emissões de CO2 das nações industrializadas. Outro revés importante se deu no âmbito do Fundo Global para o Ambiente, o GEF. Os países ricos não contribuíram como acordado para a constituição desse fundo, concebido para ajudar nações emergentes a financiar projetos ecológicos, aí incluídas certas iniciativas de combate à pobreza. Acompanhar o debate do que acontece na 3ª Cúpula da Terra é um desafio para todos e todas nós que constituímos a comunidade acadêmica da Unisinos. TRINTA ANOS DE DEBATE A HISTÓRIA DAS CONFERÊNCIAS AMBIENTAIS DA ONU 1ª Conferência: Estocolmo, 1972 - Nome oficial: Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano - Participantes: Dois chefes de Estado presentes, representantes oficiais de 70 países - Resultados: Criação do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) e declaração de 26 princípios forma primeira legislação ambiental mundial - Ações concretas: moratória de dez anos para caça às baleias e um relatório sobre o uso da energia no planeta. 2ª Conferência: Rio de Janeiro, 1992 - Nome oficial: Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento ou Cúpula da Terra (Eco-92) - Participantes: 176 países, mais de cem chefes de Estado, 10.000 delegados, 1.400 ONGs, 9.000 jornalistas - Resultados: Criação de convenções sobre diversidade biológica e mudança climática, - Declaração de Princípios sobre Florestas e Agenda 21. 3ª Conferência: Johannesburgo, 2002 - Nome oficial: Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável ou Cúpula da Terra 2 (Rio +10) - Participantes: Espera-se a presença de 65 mil pessoas de 189 países diferentes, incluindo mais de cem chefes de Estado e 5.000 jornalistas - Resultados esperados: definição de metas, datas e meios de implementação da Agenda 21 e reafirmação política de compromissos de combate à pobreza e ajuda ao desenvolvimento adotados em reuniões anteriores no México e no Qatar ANFITRIÃO EM COLAPSO A África, continente-sede da Rio +10, morre de fome, Aids e degradação ambiental - 40% da população urbana da África vive com menos de US$ 1 por dia - Um terço da população africana é subnutrida
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Vinte e cinco milhões de pessoas na África Subsaariana têm o vírus da Aids. Doze milhões já morreram com a doença no continente O consumo de bens e serviços por famílias africanas caiu 20% nos últimos 25 anos A ajuda oficial dos países desenvolvidos ao continente caiu 25% na última década 65% das terras cultiváveis estão degradadas 500 milhões de pessoas dependem da lenha como fonte energética
A DÉCADA PERDIDA A Folha de São Paulo, 24-8-02, descreveu os 10 pontos que caracterizam os dez anos após a Eco-92. 1. Clima/Efeito estufa Em 1990, a humanidade lançava 5,827 trilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, acentuando o aquecimento global.Em 1999, as emissões tinham subido para 6,097 bilhões de toneladas; só 77 países ratificaram o Protocolo de Kyoto até hoje. 2. Energia Em 1992, o consumo de energia no planeta era equivalente a 8,171 trilhões de toneladas de petróleo por ano. O consumo subiu para o correspondente a 9,124 trilhões de toneladas de petróleo. 3. Biodiversidade Até 1992, estimava-se que cerca de 180 espécies de animais haviam sido extintas e outras mil estavam ameaçadas de extinção. 24 espécies (contando só os vertebrados) foram extintas desde 1992; 1.780 espécies de animais e 2.297 de plantas estão ameaçadas. 4. Florestas Em 1990, havia 3,960 trilhões de hectares de florestas nas diversas regiões do planeta Em 2000, esse número havia caído para 3,866 trilhões. A área devastada equivale a todo o Sudeste brasileiro (SP, MG, RJ, ES). 5. Água Em 1990, a população do planeta usava cerca de 3.500 km3 de água doce por ano Em 2000, o consumo total anual chegou a 4.000 km3 (crescimento de 12,5%). 6. Agricultura Em 1987, a área da Terra usada na agricultura era de 14,9 milhão de km2 (297 hectares para cada grupo de mil pessoas). Em 1997, essa área subiu para 15,1 milhão de km2 (cada grupo de mil pessoas passou a contar com apenas 259 hectares). 7. Pobreza Em 1992, o número de pessoas vivendo com até US$ 1 por dia (a chamada pobreza absoluta) era de 1,3 bilhão. Em 2002, a situação melhorou ligeiramente: 1,2 bilhão vive hoje com essa quantia diária (um quinto da população do planeta). 8. População Em 1992, o planeta tinha 5,44 bilhões de habitantes. A estimativa para 2002 é de 6,24 bilhões (mais 13%). 9. Dívida externa Em 1990, os países subdesenvolvidos deviam US$ 1,456 trilhões a credores externos. Esse número havia subido US$ 2,569 trilhões em 1999 (o equivalente a 5 PIBs do Brasil).
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10. Ajuda ao desenvolvimento Os países desenvolvidos destinavam, em 1992, 0,36% de seu PIB (produto interno bruto) à ajuda aos países pobres. Hoje, esse investimento caiu para 0,22%, embora em 1992 o compromisso tenha sido de aumentá-lo para 0,7%
ÁGUA: RUMO À ESCASSEZ
Reproduzimos reportagem sobre a escassez de água publicada na Folha de São Paulo, 24-08-02. Nos dias 20 a 22 de maio de 2003 realizar-se-á na UNISINOS o Simpósio Internacional Água: Bem Público Universal. O IHU Idéias desta quinta-feira abordará o tema A Crise da Água. O expositor será o prof. Dr. Leonardo Maltchick Garcia.
“Seria irônico se não fosse trágico. Em pleno "planeta água", mais de 2 bilhões de pessoas sofrem com a escassez do líquido essencial para a vida. Em 2025, o número deve saltar para 4 bilhões, o equivalente a 50% da população mundial. Os dados fazem parte de um relatório divulgado pelas Nações Unidas no início do mês e mostram o tamanho do desafio que aguarda a humanidade num futuro próximo. Para Aldo Rebouças, especialista em recursos hídricos do Instituto de Estudos Avançados da USP, os pessimistas hoje são os que acham que o pior já passou. Os otimistas seriam aqueles que dizem que o pior ainda está por vir -e portanto pode ser evitado. Num planeta em que três quartos da superfície estão cobertos por água, dizer que falta água parece absurdo. Mas é a pura verdade. De toda a água na Terra, 97,5% estão no oceano. E 70% da água doce está congelada na Antártida e na Groenlândia. O que sobra para consumo humano está ameaçado pelo uso excessivo, pelo desperdício e pela poluição. "A gestão da água é muito importante, tanto que estamos levando à Rio +10 um projeto brasileiro para treinamento de gerentes de recursos hídricos", diz José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia. Mas, para ele, a solução não passa só pelo controle do uso, mas pela busca de alternativas no uso e na captação dos recursos. Uma opção que seria impensável à época da Eco-92 era a dessalinização. O processo que envolve o tratamento da água do mar para extrair o sal ainda é muito caro para ser usado em larga escala. "É coisa de um dólar para cada metro cúbico de água, que ainda é um valor bem alto", diz Tundisi. "Mas esse valor hoje tende a cair. Há dez anos, o mesmo metro cúbico custava cerca de dez vezes mais para ser dessalinizado." Em princípio, o problema da água parece ser só de alguns países. O Brasil, por exemplo, se solucionar seus problemas de desperdício, tem potencial para abastecer toda a população com o terceiro maior volume de água doce do mundo (atrás de Canadá e EUA). "Claro, isso se o problema for combatido. Se ninguém fizer nada, já teremos séria escassez de água na cidade de São Paulo em 2010", diz Rebouças. Segundo Tundisi, no entanto, a questão é global -como é o caso de tantos problemas ambientais. Afinal, secas na África significam mais imigrantes na Europa. Daí ser esse um tema importante a ser debatido na Rio +10. Apesar disso, nem Tundisi nem Rebouças parecem otimistas com relação à conferência.
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"Tenho a impressão de que a Rio +10 vai ser um fiasco. O tema da conferência é a pobreza na África -e ninguém quer saber de pobre", diz Rebouças”.
POLUENTES AMEAÇAM MEGARRESERVA DE ÁGUA No momento em que se realiza a 3ª Cúpula da Terra, a Folha de São Paulo, 21-08-02, denuncia que o Aquífero Guarani, capaz de abastecer o Brasil por 2.500 anos, tem áreas com alto risco de contaminação por agrotóxico. Leia a reportagem: “Ao contrário da maior parte do planeta, a América do Sul esbanja reservas de água doce e abriga um verdadeiro mar subterrâneo, com capacidade para abastecer o Brasil inteiro por 2.500 anos. O problema, aponta um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), é que o megarreservatório vem sendo contaminado por agrotóxicos nas áreas em que está perto da superfície. Quem dá o alerta é o geólogo Marco Antonio Ferreira Gomes, da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (interior de São Paulo). Gomes coordena um projeto que avalia a contaminação do chamado aquífero Guarani, um reservatório subterrâneo que abrange trechos de oito Estados brasileiros e de três países vizinhos (veja o quadro à direita). A pesquisa encontrou níveis de agrotóxico próximos ao limite considerado perigoso para a saúde humana num dos trechos paulistas do aquífero e definiu outras quatro áreas no país onde o risco de contaminação pode ser sério. AMOSTRAS CONTAMINADAS A maior ameaça, diz o cientista, é o avanço da monocultura intensiva sobre as chamadas área de recarga, onde a proximidade do aquífero com a superfície o expõe à água da chuva ou dos rios (e aos agrotóxicos trazidos por ambas). "As áreas de recarga estão a uns 40 m ou 50 m da superfície, em geral nas bordas da área do aquífero", afirma Gomes. "Outras áreas dele estão confinadas [separadas da superfície por rochas". Em São José do Rio Preto [interior de São Paulo", por exemplo, o recobrimento do aquífero chega a ter 1.200 m de rocha", afirma. O trabalho da equipe começou em 1995, avaliando o estado da área de recarga em Ribeirão Preto (314 km ao norte da capital paulista). A região combina dois fatores interessantes para os pesquisadores: é dominada pelas plantações de cana-de-açúcar, o que significa muito agrotóxico, e seu abastecimento de água vem quase exclusivamente do subsolo. "A análise que a gente faz, chamada fisiográfica, envolve principalmente o uso agrícola da região, junto com os dados do solo, vegetação e clima", afirma Gomes. Em São Paulo, os pesquisadores combinaram esses dados com amostras da água do aquífero, constatando a contaminação com agrotóxicos usados na lavoura de cana, como herbicidas (diuron e tebutiuron, por exemplo). "O nível encontrado é 80% do máximo permitido para o consumo humano", diz o pesquisador. No mapa elaborado pela pesquisa, as
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áreas de recarga do interior paulista foram consideradas como de alto risco de contaminação. Situação semelhante ocorre nas nascentes do rio Araguaia, área do Brasil Central que engloba trechos dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. "Eu diria que o cenário nessa região pode ser considerado crítico", afirma Gomes. Embora amostras do próprio aquífero não tenham sido obtidas nesse caso, o geólogo diz que a agricultura intensiva de soja, milho e algodão já coloca o megarreservatório em risco. "O milho e a soja já ocupam as áreas de recarga e o algodão deve descer em breve para essas zonas também. E essa cultura exige de 10 a 15 aplicações anuais de agrotóxico", diz Gomes. MAÇÃ E ARROZ A situação é menos perigosa, mas ainda assim preocupante, em áreas do interior do Paraná (com cultivo de milho), na região de Lajes, em Santa Catarina (com cultivo de maçã) e na área de Alegrete, no Rio Grande do Sul (com lavouras de arroz irrigado). Para evitar que o problema se agrave ou se espalhe, a equipe da Embrapa está desenvolvendo um zoneamento ambiental, com a meta de tirar a pressão poluente de cima das áreas de recarga. "Nessas áreas, é preciso um manejo diferente da monocultura intensiva", afirma Gomes. "Por exemplo, adaptar as culturas mais próximas dos rios de forma gradativa: primeiro a mata ciliar, depois árvores frutíferas, pecuária e, nas áreas distantes, liberar o uso agrícola mais intensivo", propõe. A idéia da equipe, que apresentou um projeto reunindo pesquisadores de outros Estados e dos países do Mercosul ao Banco Mundial, é ampliar os dados já conseguidos sobre a situação do aquífero e propor novas medidas de sustentabilidade. "O problema do futuro vai ser a água, e, por isso, nós estamos buscando medidas preventivas, com efeitos de longo prazo."
Fábio Wanderley dos Reis, cientista político, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos mais respeitados analistas políticos, em entrevista ao jornal Valor, 15-08-02, faz uma análise do processo eleitoral e das candidaturas à Presidência da República. Autor de um documento discutido por lideranças empresariais que, no início da campanha, alertava para o risco do PT no poder. Agora, teme 'ameaça institucional' com Ciro "Ciro traz um risco maior do que Lula". Eis a entrevista que traz importantes elementos para o debate do atual processo eleitoral. “Valor: Por que o governo não está conseguindo sustentar uma candidatura competitiva? O problema é o esgotamento depois de dois mandatos? Fábio Wanderley dos Reis: Parte do problema é, claro, o desgaste do governo depois de dois mandatos. Por melhor que seja, qualquer governo enfrentaria essa tendência de desgaste. No caso do Fernando Henrique há problemas
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especiais. É um governo que teve êxito em vários aspectos, especialmente na estabilização, certa ação na faixa da educação e saúde, mas ficou devendo no aspecto social, no crescimento que está comprometido há muito tempo e tem a inserção problemática do país na dinâmica transacional. O governo Fernando Henrique mostrou-se deficiente neste aspecto, o que é surpreendente porque era de se esperar do Fernando Henrique, com as credenciais que tem, um governo mais criativo sob este ponto de vista da dinâmica da globalização. Ele está claramente vulnerável diante da dinâmica internacional e corre o risco de chegar ao fim do seu mandato numa crise total, na tal argentinização da qual ele mesmo acabou falando como arma eleitoral mas se deu conta de que era uma estratégia imprópria. Essa retórica só fez aumentar a percepção negativa do país. Foi um erro clamoroso. Valor: É só o peso do governo que está prejudicando a campanha do Serra? Reis: Não, é o problema do candidato também. Houve um erro de parte do governo e do PSDB, que envolve uma certa arrogância paulista, que foi a fixação precoce no nome do Serra colocando de lado, por exemplo, o Tasso Jereissati, um governador bem sucedido, com dois mandatos, empresário e que bloquearia a candidatura do Ciro. Serra é um candidato difícil. Valor: Quais são as principais deficiências de Serra? Reis: Há problemas do ponto de vista do apelo eleitoral, da atração que ele pode exercer especialmente no eleitorado popular. Por competente que ele seja, inclusive com um bom desempenho no Ministério da Saúde, ele não agrada, não tem chispa, não tem carisma. É percebido como antipático. E não é só percepção popular. Na maneira como age, ele tende a criar indisposição e resistências inclusive no próprio partido. Tem havido várias defecções além da do Tasso, que era perfeitamente previsível. Valor: O sr. acredita que o início do horário eleitoral gratuito, quando o Serra terá a maior parte do tempo, poderá reverter o quadro? Reis: Não dá para ser categórico a respeito disso. Mas acho muito difícil, ele está saindo de um patamar muito baixo. Em outras eleições, a essa altura, as coisas já estavam caminhando para o rumo final. E a coisa do horário eleitoral maior pode ser uma faca de dois gumes. Se você por definição não é um comunicador, o fato de ficar longos 20 minutos na televisão pode ser pior. Valor: Os boatos de uma possível renúncia do Serra ganharam fôlego nesta semana. O sr. acredita nesta possibilidade? Reis: Eu duvido, ficaria surpreso. Não consta na biografia do Serra este tipo de atitude. Provavelmente vai haver pressões neste sentido. Mas não é viável. Leve a surra que levar, o Serra vai até o fim. Valor: Como o sr. avalia o crescimento de Ciro Gomes? Reis: Era um crescimento previsível num certo sentido. Eu me lembro de falar disso numa entrevista em novembro do ano passado. Há certas características, que o tornam candidato com potencial eleitoral, que estão claras desde a outra candidatura dele. Ele é uma pessoa, ao contrário do Serra, de chispa, de retórica extraordinária, com uma técnica fantástica, afirmativa, com uma crítica vigorosa ao governo. Coisas que podem cair bem. E, a medida que o Serra não decola, ele é beneficiado. As pessoas que rejeitam o Lula tendem a se deslocar para ele. Ele atrai não só um eleitorado popular mas também um eleitorado governista
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que fica sem alternativa na medida em que tem rejeição ao Lula. O que pode provocar um recuo neste eleitorado mais informado é o ponto que o Serra destacou no debate, sobre as mentiras desnecessárias do Ciro, as inconsistências. Tem também essas denúncias que a 'Veja' está revelando nesta semana sobre a atuação dele na campanha de 1982, no Ceará, dando calote em fornecedor. Tem o episódio recente com o rapaz da Universidade de Brasília, um problema relacionado com uma questão extremamente delicada que é o racismo. Ele destempera, transforma qualquer coisa em briga num momento da campanha. Valor: Este componente de inconstância do Ciro Gomes poderá ficar mais evidente com o horário eleitoral gratuito? Reis: Não no horário dele, que será um monólogo feito pelos marqueteiros. Eles farão tudo para controlá-lo. Será como no debate; ele foi surpreendentemente controlado, até exageradamente porque nem sequer respondeu quando foi interpelado pelo Serra sobre as mentiras. O que poderá fazer diferença é a atuação dos outros. O Serra, por exemplo, está mostrando ânimo de bater no Ciro. Mas não estou certo de que uma campanha agressiva poderá desfazer o ímpeto de crescimento que o Ciro adquiriu contando com a ajuda também de uma Patrícia Pillar, que tem o drama do câncer. Uma pesquisa do Datafolha revelou que 20% dos eleitores que têm intenção de votar no Ciro admitem a influência da Patrícia Pillar. Se você acrescentar os outros que não admitem, por vergonha, é um negócio importante. Valor: O sr. chegou a escrever em seus artigos que o Ciro é um risco institucional para o país. Por que? Reis: Um presidente capaz de se destemperar e perder as estribeiras é perigoso. O Ciro é assessorado por uma pessoa extremamente inteligente, o Mangabeira Unger, mas que claramente não tem muito pé na realidade. Isso fica claro com essa proposta esquisita de presidencialismo parlamentarizado, onde - está lá no site dele - se asseguraria ao presidente da República a possibilidade de convocar eleições, de dissolver o Congresso. O que evidentemente se ajusta muito bem à retórica de mobilização popular que o Ciro vem desenvolvendo, uma imagem de cezarismo e de suposto encastelamento institucional das oligarquias no congresso. Há boas razões para ficar preocupado. Se o Ciro Gomes ganha, conquista respaldo popular, vai ter condições propícias para colocar em prática essa estratégia que é claramente anti-institucional, envolve uma relação direta do chefe do governo com a massa e uma disposição de peitar o congresso. É uma coisa que pode tomar um rumo Chávez. Durante o regime autoritário, na década de 70, o Edmar Bacha e o Mangabeira Unger, que estavam nos Estados Unidos, lançaram um diagnóstico do país que mostrava o irrealismo da perspectiva deles. Eles simplesmente desconsideravam o fato de que o Brasil vivia uma ditadura militar, em nenhum momento havia indicação de como se resolveria isso, como se tiraria os militares da frente. No meio acadêmico até havia a brincadeira de que tratava-se de uma fantasia do Reino do MangaBacha. De repente estamos diante de um Reino Beira-Gomes. Valor: Então o sr. acha hoje que o Lula é hoje um risco menor que o Ciro? O sr. já disse também que o Lula era um risco. Reis: O Lula tem um risco que é clássico, que a gente conhece há muito tempo, é diferente. É a resistência do status à suposta ameaça que o Lula, como candidato de um partido de esquerda, com um programa socialista, de origem radical, representaria. O partido tem feito um esforço grande no sentido de
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moderação, tem havido um aprendizado, um amadurecimento como o próprio Lula diz. E, por outro lado, o mundo que a gente vive não é mais aquele. O socialismo não existe mais como alternativa real e ninguém acredita mais que o Lula, se eleito, vai fazer socialismo no país. Se o Lula tivesse sido eleito em 1989 poderia ter pensado a sério em fazer a social democracia, isso não era uma coisa que estava proscrita naquela época. Atualmente a social democracia é vista como uma impropriedade, um arcaísmo impróprio em função da dinâmica mundial. Estamos vivendo uma situação curiosa. A dinâmica que se criou com a fuga de capitais, o aumento do risco Brasil, a disparada do dólar, pode vir a representar algo que favorece o desarmamento dos espíritos internamente. O PT atuou articulado com o Fernando Henrique nas negociações com o FMI, se manifestou prontamente em apoio a isso, e deu chance ao partido e ao Lula de apresentar mais credibilidade, uma imagem de moderação. Digo com todas as letras: o Ciro é um risco maior. É como alguém já disse, o Ciro pode virar o bode do Lula. Quando você tira o bode dá um alívio. Valor: Se o quadro continuar como apontam as pesquisas, a eleição será a escolha entre um risco ou outro. Isso não tem um componente antidemocrático, até de desrespeito à vontade do eleitor? Reis: Para uma boa parte do eleitorado, o empresariado por exemplo, será isso sim. O Antônio Ermírio de Moraes já disse numa entrevista que será difícil escolher entre Lula e Ciro. Se o Ciro pode ser percebido por uma faixa como um risco grande, ainda há um veto ao Lula muito intenso. Um dilema para este eleitorado. Mas estamos falando de um certo eleitor que quer a continuidade das políticas. É natural que a maioria esteja do outro lado e, se essa maioria elege seu candidato, isso é democrático. O problema não é de desrespeito à vontade do eleitor. O problema é que mesmo a maioria está assustadíssima com o seu direito de votar por causa da fragilidade do país no contexto transacional. Estamos vivendo algo de inédito nesta eleição. O processo eleitoral em si, o funcionamento da democracia, é suspeito aos olhos dos meios financeiros internacionais e gera uma crise econômica. É claramente a tensão entre a democracia e o capitalismo, um tema clássico no meio acadêmico. A história do século 20 mostrou que era possível a convivência do capitalismo com a democracia. Mas agora, com a globalização, a questão se recoloca. É possível a convivência do capitalismo transacionalizado e a democracia na periferia? A crise que estamos vivendo leva a uma resposta negativa para essa pergunta, sugere um convivência muito problemática. Estamos vivendo uma situação inédita que é o condicionamento singularmente duro que as circunstâncias internacionais fazem sobre o processo eleitoral interno. Valor: O sr. arriscaria prever neste momento para onde a maior parte do eleitorado governista vai acabar migrando, para Ciro ou para Lula? Reis: A minha impressão é de que migrará para o Ciro. Não tenho dado nenhum específico sobre isso e não há mesmo pesquisa que mostre isso, as pesquisas avaliam mal esse eleitorado. São pessoas suficientemente sofisticadas para dizer o que lhes parece mais conveniente mesmo que não seja o verdadeiro. A minha impressão é de que o Ciro é percebido como uma variação. O eleitorado não apostou no Collor com tudo o que havia de incerto nele, de aventureiro? A campanha do Ciro é um ajuntamento de coisas que não tem a consistência das candidaturas nem do Lula nem do Serra. Se o Lula ganha, ganha um partido que bem ou mal tem uma linha, um projeto institucional. O Ciro é um amontoado de coisas e umas tantas idéias assustadoras e atrevidas na cabeça. Valor: E essas idéias não assustam os governistas?
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Reis: Apesar disso, o Ciro pode ser percebido por este eleitorado governista como um certo tipo de..., afinal de contas, ele tem o apoio do PFL, que certamente estará com ele no Congresso, e tem um PTB. De uma certa forma, é como se fosse um pouco mais do mesmo. Com o Lula existe uma imagem de que ele é uma outra coisa, existe o veto ao Lula. Inclusive o veto que envolve o preconceito social pura e simplesmente, o fato de ele ser um operário que não estudou, essas coisas que fazem parte da rejeição ao Lula. A minha impressão é que este eleitorado do qual estamos falando acabará tendendo na direção ao Ciro. Valor: Então, a estratégia dos candidatos de associar o Ciro ao Collor não funcionará... Reis: Para esse eleitorado, pelo menos para boa parte dele, isso não fará diferença na hipótese de termos um segundo turno entre Ciro e Lula. A menos que aconteça uma coisa muito dramática na campanha eleitoral, a minha impressão é de que o Ciro vai para o segundo turno e ganha a eleição. Valor: Um processo eleitoral que ocorre durante a negociação de um novo acordo com o FMI tem quais peculiaridades? De que forma isso afetará as eleições? Reis: É uma ambigüidade. A negociação do acordo em termos favoráveis, com volumes de dinheiro surpreendentes, desarma o ambiente. O presidente está chamando os candidatos para conversar. As pessoas são forçadas a se dar conta de que é preciso criar consenso. Esse convite do presidente, do ponto de vista do candidato oficial, não é conveniente. É um reconhecimento de que provavelmente o Serra perderá a eleição. Se o Serra estivesse disparado ninguém ia chamar candidato para conversar. Se eleitoralmente não é conveniente, do ponto de vista da dinâmica democrática é positivo. Há outros candidatos que podem ganhar e há um problema nacional premente, então vamos sentar e conversar. Isso poderá desanuviar a percepção de risco em relação ao Lula, por exemplo. Ele foi o que agiu mais prontamente com relação a isso. Por outro lado, essa situação deixa muito claro a camisa de força na qual estamos metidos. A conseqüência da camisa de força é o presidente chamar para conversar. Por isso digo que é ambíguo. O acordo com o FMI e seu impacto no processo eleitoral mostra mais uma face dessa dinâmica esquisita e inédita que estamos vivendo. Valor: O próximo governo será provavelmente um governo de oposição ao FHC. É possível ser um governo de oposição, assumindo já comprometido com essa regras já estabelecidas pelo FMI? Reis: Isso diminui o espaço de manobra, claro. A menos que tenhamos aventureiros irresponsáveis - hipótese que não estou eliminando, pelo contrário - vamos ter, pelo menos por boa parte do mandato, um governo de oposição fazendo mais do mesmo. Ou seja, uma política de acomodação, de controle da inflação, uma política sadia aos olhos do FMI. O que compromete a possibilidade de políticas de desenvolvimento mais agressivas. Mas não é uma experiência inédita nesse mundo transacionalizado. Já tivemos coisa parecida com o Mitterrand, na França, com o González, na Espanha. Candidatos socialistas que se elegeram mas acabaram realizando políticas bastante próximas da visão liberal. Haverá imposições do contexto das quais não será possível escapar. Será preciso muita criatividade para que, digamos, um governo do PT não seja uma simples repetição do governo FHC. Mas fica a possibilidade, quero reiterar, do aventureirismo, do aceno plebiscitário ao povo
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e da política à la Chávez, como na Venezuela, que é representada inequivocamente pelo Ciro”.
Nos dias 15 e 16 de agosto, aconteceu, em Recife-PE o Encontro das Universidades da Regional Brasileira da Rede das Américas em Estudos Cooperativos. Pela Unisinos, participaram a profª Vera Regina Schmitz, coordenadora adjunta do IHU e o prof. Paulo Albuquerque, professor do PPGSCA. Além da Unisinos, estiveram presentes também a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Um dos objetivos foi explorar as possibilidades de dar organicidade à Rede de Universidades Brasileira que fazem parte do projeto levado à frente pela Universidade de Sheerbrook /Canadá. O Grupo de trabalho, durante os dois dias, buscou elementos que viabilizassem a realização de um projeto de Ensino/Pesquisa/Extensão interuniversidades brasileiras e que pudesse ser vinculado ao projeto maior da Rede das Américas. Constatou-se que a possibilidade de uma ação conjunta entre as Universidades do Brasil e sua inscrição em uma projeto maior latino-americano será possível, desde que a perspectiva das universidades brasileiras seja explicitada e legitimada no próximo encontro a ser realizado no Chile. O Trabalho realizado pelos presentes ao encontro permitiu: 1. identificar que, nas diferentes universidades, os projetos de pesquisa, relativos ao cooperativismo e associativismo são complementares; 2. identificar que as áreas de convergência possibilitam intercâmbios docente e discente. Como resultado do encontro, elaborou-se um plano de ação preliminar cujo propósito maior foi dar um maior impulso e dinamismo à Rede das Américas em Estudos Cooperativos.
O Programa de Ação Social na Zona Sul de São Leopoldo iniciou, nesta semana, 14 turmas de Cursos de Informática, tanto para a comunidade abrangida pelo Programa quanto para os funcionários da Universidade. Completaram-se assim 15 turmas. No momento, 15 voluntários, entre alunos, funcionários e ex-alunos da Unisinos, atendem 180 pessoas, desde crianças até adultos.
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Para o desenvolvimento deste trabalho, foram estabelecidas parcerias com as Escolas General João Borges Fortes, Helena Câmara, Amadeo Rossi e Paul Harris, Kely Meise Machado (de Novo Hamburgo) e Padre Reus (de Esteio), sendo estas duas especializadas no atendimento de surdos. Também foi estabelecida uma parceria com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, de Novo Hamburgo. Os objetivos desses cursos são instrumentalizar a comunidade com as ferramentas da informática, para que possam se utilizar desses conhecimentos em sua inserção no mundo do trabalho e propiciar mais um espaço de reflexão, onde as pessoas possam pensar sobre sua história e a de sua comunidade, agindo, cada vez mais, como autores e não apenas como atores no contexto em que estão inseridos. O Programa busca, também, fazer uma reflexão constante sobre o papel do voluntariado, que propicie a autonomia dos beneficiados, deixando de lado a cultura do assistencialismo.
No Setor 2 do Instituto Humanitas Unisinos, Trabalho, Solidariedade e Sustentabilidade, está organizado o grupo temático Trabalho, que articula o núcleo local da Unitrabalho, com a participação de professores, alunos bolsistas e monitores, coordenado pelo Prof. Dárnis Corbellilni. Eles vão participar do VI Encontro Regional Sul da Unitrabalho em Curitiba, na UFPR, de 29 a 31/08. Para isso, estão se movimentando para contratar um ônibus que sairá dia 28, às 18 h, da Unisinos e às 19h, de Porto Alegre. A volta acontecerá no sábado, à tarde. Os interessados devem falar com a coordenação. No encontro, todos os professores e bolsistas vão apresentar trabalhos de pesquisas sobre os temas: Emprego e relações de trabalho, Economia solidária, Trabalho e Educação.
No dia 15 de agosto, aconteceu a primeira reunião do grupo temático de Estudantes da Comunidade Afro na Unisinos (ECAU) com a coordenação do Setor de Ética, Cultura e Cidadania. O grupo, formado por vinte estudantes de ascendência afro da Universidade, apresentou para o prof. Laurício Neumann sua caminhada e inquietações. O encontro foi avaliado muito positivamente pelos membros do grupo, salientando o esclarecimento que lhes proporcionou o compreender mais o funcionamento do setor e o lugar do grupo no Instituto Humanitas Unisinos. A próxima atividade do ECAU é um ciclo de palestras, que será desenvolvido em alguns sábados, a partir das 8h30min, na Unisinos. 24/8- Negro e ancestralidade. 14/09 - Formação de lideranças. 28/09 O negro e a ciência. 05/10 O negro e sua espiritualidade. Todas essas atividades serão desenvolvidas por membros do ECAU e são abertas a todos os interessados. Semanalmente, às quintas-feiras, às 18h30min, ocorrem as reuniões do grupo, que também estão abertas a novos integrantes.
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IHU IDÉIAS CELEBROU O CENTENÁRIO DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA No dia 22 de agosto, tendo como motivo o centenário do nascimento do historiador Sérgio Buarque de Holanda, o evento IHU Idéias abordou o tema “O homem cordial: Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda”, com Profª. Drª. Eliane Cristina Deckmann Fleck, Doutora em História pela PUCRS. "Foi fantástico. Impressionou-me o domínio de conteúdo da profa. Eliane. Impactou-me como ela em uma hora expôs as idéias mais importantes de Sérgio Buarque de Holanda e soube atualizar tão bem isso para nossos dias. Gostei de compreender mais essa questão do homem cordial , esse jeitinho brasileiro, essa cordialidade é vista aqui como forma de levar vantagem e assim funciona toda a estrutura brasileira. Eu já tinha participado outras vezes do evento IHU Idéias. Lembro especialmente o dia que foi apresentado o Aqüífero Guarani. Gostei muito também dessa apresentação. A partir deste semestre, eu procuro me matricular em alguma disciplina nas quintas-feiras para poder participar sempre." Valdecir Toreti/ Estudante de história. "Adorei. O tempo ficou curto demais. O debate estava tão bom que podia ter continuado. Gostei de refletir sobre o homem cordial. É verdade que nós copiamos muito, somos apegados a ‘estrangeirismos’ e pela nossa cordialidade não impomos nossa cultura e aceitamos mais a de fora." Cátia Andressa da Silva/ estudante de história
CRISE DA ÁGUA
No dia 29 de agosto, o tema do IHU Idéias será A crise da água, com o Prof. Dr. Leonardo Maltchik Garcia. Leonardo é Pós-Doutor pela Universidad Autonoma de Madrid, U.A.M., Espanha e pela Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Brasil É Doutor em Ciências pela Universidad Autonoma de Madrid, U.A.M., Espanha, com tese intitulada Dinâmica de nutrientes en un arroyo temporal mediterráneo (Arroyo de la Montesina, SW, Cordoba, Espana). Graduado em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, PUCCAMPINAS.
PROGRAMAÇÃO IHU IDÉAS - SETEMBRO Confira a seguir a programação do IHU idéias durante o mês de setembro 05/09/02 – Apresentação do tema: ALCA: impactos positivos e negativos sobre o RS, com o Vice-Governador Miguel Rosseto.
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19/09/02 – Apresentação do livro: A Função Social da Propriedade, o papel do Poder Judiciário diante das invasões coletivasEditora Unisinos, por Ivan Ramon Chemeris. 26/09/02 - Apresentação do livro: Biografia de uma árvore - Editora Escrituras, com Fabrício Carpinejar.
Na tentativa de dar novos elementos para aprofundar a discussão sobre a ALCA, na última edição do IHU On-Line, antes do início do Plebiscito, mais dois professores da Unisinos são entrevistados nesta edição. São eles a historiadora Profa. Dra. Heloisa Reichel e o economista prof. Ms. Álvaro Garcia. A ALCA É UMA FACA DE DOIS GUMES ENTREVISTA COM HELOISA REICHEL
Heloisa Reichel é professora do PPG em História da Unisinos. Pós-Doutora pela Universidade Pompeu Fabra, UPF, Espanha. Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS, Brasil. Licenciada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil . IHU On-Line- Quais seriam os dois principais argumentos contra a ALCA? Heloisa Reichel- Em primeiro lugar, porque intensificaria o desequilíbrio na balança comercial, ou seja, a desigualdade social e econômica que existe entre Estados Unidos e o resto dos países, porque eles têm maiores condições de explorar o comércio. Hoje a América Latina tem pouco a oferecer. Antes tinha mão-de-obra, mas hoje essa mão-de-obra está se tornando dispensável na era dos chips e dos transgênicos. O segundo argumento contra a ALCA é que, com o livre comércio, vamos desmobilizar o nosso parque produtivo industrial ou agrícola, porque não temos condições de competir e vamos diminuir a produção interna. Haverá desemprego e agravamento da pobreza. IHU On-Line- E os dois principais argumentos a favor da ALCA? Heloisa Reichel- Posso dar esses argumentos, embora ache que os dois argumentos contra e os dois a favor não têm o mesmo peso. O primeiro seria que teremos maior facilidades de utilizar, seja no bom, seja no mau sentido, a tecnologia. Teremos acesso à tecnologia mais avançada, e até poderemos usá-la na produção interna. A pergunta é: A que custo? A segunda vantagem é que vamos estar efetivamente inseridos na economia globalizada. Do ponto de vista do capital, a produção poderá ser segmentada: aqui pode se produzir um componente de um produto que se termine em outro país. De alguma forma, poderá atrair investimentos. Mas a desvantagem é maior, porque muitos empregos se perderão, e apenas alguns se ganharão, porque quanto mais tecnologia menos mão-de-obra, ou mais mão-de-obra qualificada. E, no Brasil, existe ainda muita oferta de mão-de-obra não qualificada. IHU On-Line- A ALCA acabaria com o Mercosul? Heloisa Reichel- Se a ALCA sair agora, a situação estaria bem complicada. Pode ser que, com os problemas internos dos EUA, se atrase um pouco. Mas se isso acontecer, será porque eles mesmos decidiram. Os países do Mercosul
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precisariam de tempo para se fortalecer. Ainda assim, o Uruguai, por exemplo, já está fazendo acordos bilaterais com os Estados Unidos. A Argentina hoje nem produz nem consome, não sei onde ficaria o Brasil com essa situação, e o Paraguai vive do contrabando, ele mais atrapalhou do que ajudou. IHU On-Line- Na sua visão, o Brasil deveria dizer não à ALCA? Deveria entrar sob algumas condições? O que deveria fazer? Heloisa Reichel- É muito difícil não entrar. Seria mais interessante pensar como entrar. Se perdemos alguma coisa, poderemos ganhar outras. Os nossos problemas não são só em relação às relações com os outros. Não adianta ter vantagens com a ALCA e não resolver os nossos problemas internos. A não ser que queiramos virar uma Cuba. Devemos pensar em distribuição de renda, investir na qualificação de mão-de-obra, conhecimento, pesquisas. Eu acho que devemos ter uma política positiva e crítica em relação à ALCA. Isso é mais importante do que não entrar. IHU On-Line- De que forma a ALCA favoreceria ou não a formação dos profissionais nas Universidades? Heloisa Reichel- Se entrarmos sem crítica, com certeza nos dirigimos à mercantilização do ensino. Isso já está acontecendo. Não há um controle do Governo na qualidade do ensino. Há um controle tipo provão, no final do sistema. Mas ele não avalia o número de vagas que se abrem nos cursos. Muitas vezes, as universidades aumentam essas vagas sem saber se há mercado para os formados trabalharem. A avaliação deve ser no início, também no final, mas está faltando no início. A ALCA poderia também ser benéfica, porque poderá mostrar que tipo de qualificação precisamos. IHU On-Line- A mercantilização do ensino está levando a uma oferta de cursos dissociada, então, do mercado de trabalho e, portanto, cada vez mais desqualificada? Heloisa Reichel- Sim. Não é o caso da Unisinos, que se mostra bastante sábia nisso, mas há universidades que abrem Campus, abrem vagas, 120 alunos de Farmácia por ano; em 5 anos quantos teremos e para quê? Quantos psicólogos vamos ter em 5 anos e para quê? Que bibliotecas oferecem as universidades a essa quantidade de alunos que entram? Que qualificação de professores? Quantos alunos há em cada sala de aula? O Governo deve orientar esse processo. É dessa forma que a universidade não seria só um negócio, e sim um elemento importante para colocar o Brasil com uma disposição política na ALCA . A ALCA é uma faca de dois gumes. A ALCA trará déficit para o Brasil
O BRASIL TEM A PERDER
ENTREVISTA COM ÁLVARO GARCIA
O prof. Ms. Álvaro Garcia é docente da disciplina de economia internacional no Curso de Ciências Econômicas da Unisinos e trabalha, desde 1977, no núcleo de relações internacionais da Fundação de Economia e Estatística, Centro de Estudos Econômicos e Sociais FEE. Autor dos livros: GARCIA, Álvaro Antônio; LEITÃO, I. F.; SILVA, R. I.. Avaliação da Eficiência da Política de Garantia de Preços Mínimos para o Pequeno Produtor Rural: uma investigação em áreas selecionadas do Sul do Brasil. Brasília: Ministério da Agricultura Companhia de Financiamento da Produção, 1986. v. 1. 100 p. GARCIA, Álvaro Antônio; GRANDO, M. Z.; FAUTH, E. M.;
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SANTAGADA, S. Análise da Política de Preços Mínimos para o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 1982. v. 1. 128 p. GARCIA, Álvaro Antônio; TARGA, L. R.; SANTAGADA, S.; FAUTH, E. M.. 25 ANOS DA ECONOMIA GAÚCHA- vol.3 - A Agricultura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 1978. v. 1. 116 p. IHU On-Line- O sr. já afirmou, em alguns artigos, que a ALCA trará déficit e desemprego. Como chegou a essa conclusão? Álvaro Garcia- A pergunta que eu me fiz (olhando a ALCA exclusivamente sob o aspecto econômico, haveria outros aspectos) é como iria ocorrer o fluxo comercial de bens (também haveria serviços). Com a ALCA vão aumentar as exportações e importações. Pesquisando diversos trabalhos, cheguei à conclusão que em termos de fluxo comercial, o Brasil tem a perder, porque haverá mais importações que exportações e haverá déficit. Os produtos que nós temos para exportar seriam os agroindustriais, mas existem barreiras não tarifadas muito fortes nos países desenvolvidos (Estados Unidos, a União Européia e Japão) para esses produtos. E essas barreiras os EUA não vão querer negociar na ALCA, justamente para não entrar em desvantagem com o Japão e a Europa. Eles vão querer negociar isso na Organização Mundial do Comércio (OMC). As exportações agrícolas vão aumentar, mas não compensa, porque vamos importar em maior dimensão os produtos de valor agregado deles. IHU On-Line- Qual seriam as perspectivas de emprego no Brasil da ALCA? Álvaro Garcia- Nos setores industriais, nós somos menos competitivos, por isso a questão do emprego é preocupante. Os setores da química, petroquímica, eletro-eletrônicos vão perder. Os dos automóveis, é discutível. Temos uma indústria competitiva, mas pouco aceita nos EUA. O mercado será muito pequeno. O calçado pode se beneficiar porque, por exemplo, 70% do calçado produzido no Vale dos Sinos vai para os Estados Unidos. Outro setor complexo é a soja. Enfim, acho que o Brasil não deve fazer acordo sem que as barreiras não tarifadas sejam removidas ou flexibilizadas. IHU On-Line- Podemos supor a hipótese de o Brasil não entrar na ALCA? Alvaro Garcia- Eu acho complicado não aderir à ALCA e tenho uma divergência com as pessoas que defendem essa postura aqui no Brasil. Eles argumentam que o Brasil não deixará de exportar para os EUA, mesmo que não entre na entre na ALCA. Isso é verdade, porque não temos concorrente na América Latina. Em troca disso, protegeríamos a indústria brasileira. Também concordo com isso. Só que o argumento está incompleto (repito que falo do ponto de vista estritamente comercial). Há os produtos de valor agregado ou médio que nós exportamos para os países do Mercosul e o pacto andino. Se o Brasil não entrar na Área, eles vão importar esses produtos dos Estados Unidos. Na
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disputa, o Brasil perderia deles a exportação de produtos industriais de alto valor agregado. IHU On-Line- E como ficaria a ALCA sem o Brasil? Alvaro Garcia- Somos a maior economia da América Latina. Se o Brasil não entrar na ALCA, será não somente uma perda econômica mas também geopolítica para os Estados Unidos. Só que deveríamos usar mais essa possibilidade para exigir as condições da ALCA. IHU On-Line- Há um argumento favorável à ALCA, baseado na atração de investidores que trariam suas empresas aqui, para ter mão-de-obra barata, o que geraria empregos. O que o sr. acha disso? Alvaro Garcia- Já aconteceu no NAFTA, com o México. Muitas empresas foram para o México. Se as empresas quisessem mão-de-obra barata, tão barata quanto a do Brasil, haveria a mexicana, que é de um país vizinho. Eu não acredito que venham. Esse aspecto é o que está levantando muita resistência à ALCA por parte dos sindicatos norteamericanos. Eles reclamam das pressões. As empresas ameaçam, quando fazem greve, que irão para México, inclusive baixam os salários dos seus trabalhadores e algumas foram mesmo. COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA PODERÁ SE MANIFESTAR SOBRE A ALCA De 1º a 7 de setembro, como já foi informado nas últimas edições do IHU-On Line, será realizado o plebiscito sobre a ALCA. Na Universidade, quem organizando o plebiscito é o Diretório Central dos Estudantes DCE. Para saber sobre os preparativos, nesta última semana, antes do plebiscito, conversamos, mais uma vez, com um dos seus dirigentes: Alexandre Carboni Belló, aluno de Ciências Sociais e conselheiro universitário. IHU On-Line- Tudo preparado para o plebiscito da próxima semana? Alexandre Belló- Estamos na fase final da preparação. Nos debates, os alunos tiveram uma grande participação. Acho que, de alguma maneira, a comunidade universitária foi ficando por dentro do evento com a Semana de Estudos sobre a ALCA. Estamos também abordando o assunto na rádio do DCE e nos reuniremos com os diretórios acadêmicos para organizar bem a semana do plebiscito. IHU On-Line- Na campanha Tô na luta contra a ALCA, que aspecto o DCE salientou? Alexandre Belló- Nós somos contra a ALCA, porque é um projeto que está pronto e não foi discutido. E nós queremos discutir. Uma das coisas que mais queremos discutir é a qualidade do ensino. O provão do MEC, de certa forma, está tratando o ensino como mercadoria, porque não discute o desenvolvimento e a qualificação da Universidade, e sim um modo tecnicista da educação. A ALCA poderia agravar essa visão da Universidade. No RS, há duas universidades só que promovem este debate: a UFRGS e a Unisinos. Para nós, foi de muita força a parceria com o IHU. IHU On-Line- Qual é a previsão sobre a resposta dos alunos?
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Alexandre Belló- No plebiscito da dívida externa, chegamos a 7 mil votantes. Queremos conseguir 15 mil agora. Também sabemos que é difícil conscientizar as pessoas aqui dentro. As coisas, às vezes, se tornam muito frias, a relação professor-aluno gira em torno da matéria no quadro e ponto final. Não são todos os que, no seu cotidiano político, conseguem ver as conseqüências políticas das decisões que se tomam ou se deixam de tomar. A nossa gestão quer criar uma cultura diferente. Uma percepção da pessoa como aluno, como ator do desenvolvimento, profissional e cidadão, construtor de uma sociedade. IHU On-Line- E como será a infra-estrutura nos dias do plebiscito? Alexandre Belló- Haverá seis urnas, uma em cada centro da universidade. Durante toda a semana, estaremos em diversos pontos com megafones e material de esclarecimento. Queremos que os estudantes entendam que a ALCA vai mexer nas suas vidas como estudantes e depois como profissionais.
O Q U E Q U ER O P ED Ó FI L O ? No dia 9 de setembro, das 19h30min às 22h, acontecerá o evento O que quer o pedófilo? A discussão desse tema é uma proposta do IHU e está sendo organizado e promovido em parceria com o Laboratório de Filosofia e Psicanálise do PPG de Filosofia, o Centro de Ciências Humanas e o Centro de Ciências da Saúde. O conferencista será Contardo Luigi Calligaris.
CRISTOVAM BUARQUE, OS INSTRANGEIROS. A AVENTURA DA OPINIÃO NA FRONTEIRA DOS SÉCULOS, PETRÓPOLIS: GARAMOND, 2002.
O AUTOR
Cristovam Buarque, pernambucano, é economista. Foi o primeiro reitor eleito da Universidade Nacional de Brasília. Foi governador de Brasília, DF. É autor de inúmeros livros dentre os quais destacamos o livro A desordem do progresso. O fim da era dos economistas e a construção do futuro, São Paulo: Paz e Terra, 1990. Este livro foi várias reeditado e traduzido para o inglês. Outro livro que se destaca na sua criativa produção cultural é A revolução nas prioridades. Da modernidade-técnica à modernidade-ética, São Paulo: Paz e Terra, 1994.
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O TÍTULO DO LIVRO:
O que significa ‘instrangeiros’. Cristovam Buarque explica: “Estranha globalização, que une e desagrega: une estrangeiros internacionalmente e desagrega nacionais internamente. Uma globalização que, aos poucos, vai abolindo o conceito de estrangeiro e colocando no lugar o conceito de instrangeiro: estrangeiros dentro do próprio país, excluídos dos benefícios da modernização”(2).
APRESENTAÇÃO DO LIVRO: Reproduzimos a apresentação do livro feita por Ari Roitman “O título deste livro sintetiza seu tema e, ao mesmo tempo, retrata seu personagem central: a imensa massa de excluídos que a chamada globalização cria e multiplica planeta afora. Derrubadas as fronteiras entre as nações, erguem-se hoje novas e cruéis fronteiras no interior de cada uma delas: enquanto os ricos estão em casa em qualquer parte do mundo, cada vez mais integrados, informados e bem alimentados, os pobres tornam-se estrangeiros em seus próprios países, apartados e sem acesso ao mínimo indispensável para uma existência digna. Os instrangeiros, em poucas palavras, são as nossas multidões de homens e mulheres sistematicamente deixados à margem (até pelos bem-pensantes cheios de ótimos sentimentos) das benesses da modernidade, como espectadores frustrados ou serviçais quase invisíveis da festa de desperdício que se desenrola ao seu redor. A tal ponto, que corremos o risco de transformar os semelhantes em dessemelhantes, criando, lado a lado com a nossa pós-moderníssima humanidade de “cidadãos do mundo”, uma espécie de sub-humanidade enferma, alienada, miserável em todos os sentidos. Dessa exclusão das maiorias decorre a fieira de tragédias que o Brasil produz: fome, desemprego, violência inaudita, escravidão, prostituição infantil, desastres ecológicos e outros horrores, que são o reverso macabro de um modelo de concentração de riqueza que só faz multiplicar a pobreza. E não apenas a pobreza em termos de renda – como é para a maioria -, mas a pobreza moral, a pobreza de solidariedade, de cidadania, de humanidade. Uma questão, no fundo, essencialmente de ética. Ou de falta de ética, como sublinha certeiramente Cristovan Buarque, cumprindo mais uma vez o papel do menino que vê o que vê e diz, com toda simplicidade, aquilo que vê: “O rei está nu!”, para espanto dos seus concidadãos cheios de sim. Mais uma vez, neste livro – que dedica aos jovens, ao futuro do Brasil -, Cristovan Buarque põe o dedo em nossas chagas e proclama, em seu peculiar estilo direto e direito: “A abolição da pobreza, cem anos depois da abolição da escravatura, não pode esperar por soluções demoradas. (...) É uma revolução nas prioridades que o Brasil precisa, para em poucos anos nos orgulharmos de ter um país decente.” Parece um sonho, e é mesmo. Mas não um sonho irrealizável. Sem apelar para o jargão técnico, mas tampouco sem esquecer das condições materiais concretas, Cristovan Buarque – com toda justiça chamado por Marcel Bursztyn de “semeador de utopias” – expõe aqui com clareza as medidas possíveis para a erradicação da pobreza em prazo visível no horizonte, a partir de recursos humanos e financeiros já disponíveis no país.
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.- BUARQUE, Cristovam, Os instrangeiros. A aventura da opinião na fronteira dos séculos, op. cit., p. 19.
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Cabe a nós ler e refletir. E alegrar-nos por existir no Brasil um sonhador deste quilate, tomado por uma santa indignação – feita de ética e sensibilidade social – nestes tempos tão carentes de utopias”. PERGUNTAS BRASILEIRAS Perguntas brasileiras é o título de um capítulo do livro, nas páginas 179-182. As perguntas são:
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1- Quanto custa não fazer uma escola? 2- Por que no Brasil reservaram as prisões para os negros e as universidades para os brancos? 3- Por que começamos a exportar aviões antes de interrompermos a exportação de crianças para adoção? 4- Como foi possível inventar churrasco de rodízio antes de acabar com a fome? 5- Como fomos tão hipócritas ao ponto de criticar o apartheid na África do Sul? 6- Como explicar que preferimos ficar duas horas por dia presos no trânsito em vez de construirmos um transporte público de qualidade para todos? 7- Como é possível que tenhamos médicos fazendo cirurgias que provocam a admiração do mundo e não tenhamos acabado com doenças que pedreiros podem resolver? 8- Como é possível chegar a dois milhões de universitários e continuarmos com vinte milhões de analfabetos? 9- Qual o segredo que permite aos ricos brasileiros terem a paz dos indiferentes? 10- Por que os brasileiros preferem gastar tanto dinheiro para viver cercados, em condomínios, em vez de investirem na construção de um mundo pacífico? 11- Por que a bolsa de estudos para formados continuarem estudando é considerada investimento e a Bolsa Escola para uma criança começar a estudar é considerada assistencialismo? 12- Como foi possível fazer a concentração da renda para aumentar a venda das indústrias e continuar criticando a maldade dos nazistas? 13- Como é possível que a ciência brasileira consiga esconder as rugas dos velhos mas não consiga impedir que meninos morram antes dos cinco anos de idade? 14- Como explicar que uma das competências de nossos arquitetos é fazer quartos de empregadas do tamanho de armários? 15- Por que deixamos que o Nordeste, onde o Brasil nasceu, fosse vítima do nosso desenvolvimento? 16- Por que, achando pouco abandoná-las, os brasileiros de vez em quando matam crianças dormindo nas ruas? 17- Por que os brasileiros odeiam suas florestas e rios? 18- Como explicar que somos uma potência econômica e uma falência social? 19- Por que, no lugar de aumentarmos a venda de produtos baratos, distribuindo melhor a renda, preferimos concentrá-la para aumentar a venda dos produtos caros? 20- Como explicar que um país tão grande e populoso não seja incapaz de inventar sua modernidade e construir seu próprio destino? 21- Como é que a elite dirigente brasileira consegue enganar por tanto tempo, prometendo atender às necessidades dos pobres, enquanto concentra os recursos nacionais para atender à demanda dos ricos? 22- Quantos erros teria evitado o presidente Fernando Henrique, se de vez em quando perdesse a arrogância e imaginasse que a oposição poderia estar certa? 23- Quantos acertos teria feito a oposição se de vez em quando se perguntasse se o presidente estaria certo?
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24- Como explicar que o quinto país em extensão do mundo tenha tanta gente lutando e morrendo por um pequeno pedaço de terra? 25- Como foi possível inventar a urna eletrônica nos país do rouba-mas-faz, das falsas promessas, das mentiras do marketing, da compra de votos e das mudanças extemporâneas nas regras eleitorais? 26- Por que os eleitores odeiam a corrupção e terminam votando naturalmente no corrupto mais próximo? 27- Por que os pobres votam nos exploradores dos pobres? 28- Como foi que deixamos o Brasil se transformar em um arquipélago de corporações? 29- Como explicar que a cidade mais moderna do mundo seja administrada com os métodos políticos dos antigos grotões? 30- Como é possível o Brasil ser um dos maiores exportadores de sapatos e ter tanta gente de pés descalços? 31- Por que nunca falta dinheiro para salvar os bancos e nunca há dinheiro para pagar melhor os médicos e professores? 32- Como pode um governo comemorar a matrícula de 93% das crianças, no lugar de pedir desculpas por deixar 7% delas fora da escola? 33- Por que foi presa a mãe pobre que roubou remédio para o filho doente e está solto o senador que roubou milhões para aumentar sua fortuna? 34- Como explicar que um taxista vote para prefeito em um político que ele não deixaria cuidar de sua casa por um único dia? 35- Por que o político brasileiro é mais admirado quando fala aos ouvidos estrangeiros do que ao coração de seu povo? 36- Por que tanta pressa para aumentar a riqueza e tanta calma para diminuir a pobreza? 37- Como se explica o complexo de inferioridade de cento e setenta milhões de pessoas, donas de oito e meio milhões de quilômetros quadrados? 38- Como pode o Brasil se orgulhar de ter levado sete anos para alfabetizar um milhão de seus vinte milhões de analfabetos adultos, esperando assim concluir o trabalho nos próximos 133 anos? 39- Como um país com tantos recursos deixou-se endividar tanto? 40- E se Pelé não tivesse nascido, que fama restaria ao Brasil? 41- Por que no lugar de abraçar e dar as mãos aos pobres, nossa elite prefere empurrá-los, formando uma sociedade com apartação? 42- Como é possível votar em políticos que consideram arcaico o sentimento nacionalista? 43- Por que os dono dos jornais preferem disputar leitores com seus concorrentes em vez de apoiar o aumento de leitores pela educação de todo o povo? 44- Se os meninos não param de crescer, por que há políticos da oposição querendo esperar as próximas eleições para defender suas propostas? 45- Por que os culpados ricos ficam do lado de fora das grades? 46- Como seria o Brasil, se em 1889 tivéssemos distribuído terra para os exescravos e colocado seus filhos em boas escolas? 47- Por que nas telenovelas brasileiras as crianças não vão às escolas e as casas não têm livros? 48- Por que os parlamentares gostam tanto de falar e raramente fazem perguntas? 49- O que escreveria Caminha se chegasse agora, outra vez, no começo do século XXI? 50- A quem pediria desculpas Cabral se visse o que os brasileiros fizeram com a terra que ele descobriu? 51- Como é possível ler o jornal, ouvir o rádio e ver a televisão sem chorar de culpa?
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# Brasil: refém dos fluxos de capital? “Um país das dimensões do Brasil não pode tornar-se um mero e impotente refém dos fluxos internacionais de capital” - editorial da Folha de São Paulo, 21-08-02, intitulado ‘Maturidade sob pressão’. FHC: um crítico tardio do mercado “O velho sociólogo redescobriu, tardiamente, que o povo e a nação valem mais do que o mercado. Ele sempre soube disso, mas esqueceu no governo...” Delfim Netto, Folha de São Paulo, 21-8-02, no artigo “Um crítico tardio do mercado”. Quando a ALCA se torna irrelevante "A Alca somente será atraente se assegurar benefícios equilibrados a todo o hemisfério, o que implica maior acesso aos mercados mais afluentes. Sem isso, a Alca torna-se irrelevante ou perde sua razão de ser" - Fernando Henrique Cardoso, Folha de São Paulo 21-08-02, em pronunciamento feito em Montevidéu. Lula e o plebiscito sobre a ALCA "O PT é um partido que está prestes a ganhar uma eleição nacional e não pode ficar brincando de plebiscito" – Luiz Inácio Lula da Silva, justificando a ausência do PT no plebiscito sobre a ALCA - Folha de São Paulo, 25-8-02. Argentina: uma multidão de pobres “Já são 18.500.000 os pobres e quase 9.000.000 os indigentes. A cada 4 segundos se gera um novo pobre. Sete de cada 10 crianças são pobres e quase quatro vivem na miséria. Os dados são de maio e desde então só se agravaram” – manchete principal do jornal diário argentino Página 12, 22-08-02 Scheinkman e Ciro "Em termos de rigor fiscal, horror à inflação e à interferência do Estado na vida alheia, Scheinkman faz de Pedro Malan um petista ligth” – Elio Gaspari, jornalista, citado na revista IstoÉ, 16-08-02, sobre a entrada de José Alexandre Scheinkman, ex-diretor da faculdade de economia da Universidade de Chicago, um ícone da visão pró-mercado e monetarista, na campanha de Ciro Gomes. “Nossos críticos, quem diria, vão sentir saudades de nós” – de um economista da PUC-RJ, que não quis se identificar, sobre a entrada de Alexandre Scheinkman, na equipe de Ciro Gomes – revista Veja, 28-08-02. Os economistas da PUC-RJ detêm há dez anos a hegemonia da condução econômica do país. Fora da globalização, não há salvação “Não há alternativa de desenvolvimento fora do modelo global”- Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central no tempo da ditadura militar, em entrevista à revisa Época 26-08-02, respondendo à seguinte pergunta: “Não há a menor hipótese de um país pensar num modelo econômico próprio? A globalização é uma prisão de segurança máxima?”
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“Nem sempre o sim é positivo e o não, negativo. Ocasiões há na vida dos indivíduos e das nações em que é preciso dizer não” – Rubens Ricupero, secretário-geral da UNCTAD, no artigo “Não”, Folha de São Paulo, 25-08-02.
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" Água: Bem Público Universal No dia 20 de agosto reuniu-se a comissão organizadora do Simpósio Internacional Água: Bem Público Universal, a ser realizado de 20 a 23 de maio de 2003. Participaram da reunião, além da coordenação do IHU, o prof. Dr. Heraldo Campos, o prof. Dr. Leonardo Maltchik Garcia, o Prof. Alfredo Santiago Culleton e a Diretora de Extensão Haide Maria Hupffer. União Faz a Vida No dia 21 de agosto, a coordenação do IHU esteve reunida com a Direção do Sicredi Central para discutir encaminhamentos relativos ao Programa União faz a Vida. Participaram também da reunião o Pró-Reitor Comunitário e de Extensão, prof. Vicente de Paulo Oliveira Sant Anna, a Diretora de Extensão Haide Maria Hupffer, Prof. José Odelso Schneider e o coordenador do Programa no IHU, o prof. Virgílio Perius. O Programa União faz a Vida integra o Setor Trabalho, Solidariedade e Sustentabilidade do IHU e, até então, era coordenado pelo Prof. Dr. José Odelso Schneider. A profa. Vilma Pafiadache Rocha Dantas deixa a secretaria do Programa e, em seu lugar, assume Maria Aparecida de Jesus Valadão. Sociedade e Ambiente No dia 22 de agosto, reuniu-se a comissão organizadora do Ciclo de Estudos sobre Sociedade e Ambiente a ser realizado de 4 a 6 de novembro de 2002. Participam da comissão, além da coordenação do IHU, o prof. Henrique Carlos Fensterseifer e prof. João F. Larocca e Silva. Teologia Pública No dia 22 de agosto, reuniu-se pela primeira o grupo temático Teologia que integra o Setor Teologia Pública do IHU. Ginástica Laboral No dia 21 de agosto último, realizou-se reunião sobre Ginástica Laboral no IHU, com a participação do Dr. Eduardo Lousada, Prof. Ana Maria Steffens Pressi e coordenação e funcionários do IHU. Definiu-se que, a partir de hoje, 26/08, das 17h15min às 17h30min, serão realizadas nas dependências do Instituto, aulas de Ginástica Laboral.
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Pe. Pedro Gomes é jesuíta. Natural de Blumenau, SC. Doutor em Comunicação e Pró-Reitor de Ensino e Pesquisa da Unisinos. Pe. Pedro tem uma longa trajetória de reflexão e aporte à Comunicação na Igreja: duas vezes presidente e uma vez vice- presidente da União Cristã Brasileira de Comunicação (UCBC), entidade que estabeleceu uma nova visão da Comunicação da Igreja no Brasil. Também foi presidente e vicepresidente da Associação Católica Internacional de Professores e Pesquisadores de Comunicação (Aciesti). Pelo desenvolvimento de pesquisa em Comunicação, Pedro Gomes recebeu, em 1998, o prêmio Luiz Beltrão - Categoria: Liderança Emergente, INTERCOM. Inícios- Aos 12 anos, vim com meus pais e meus irmãos (11 irmãos) morar em Canoas. Depois que terminei o primário, fui trabalhar numa gráfica, em Porto Alegre. Aos 19 anos, fui para o Seminário, em Salvador do Sul. Em 68, fui fazer o noviciado em Pareci Novo. A seguir, cursei Filosofia em São Paulo, Teologia no Cristo Rei, aqui em São Leopoldo, e comecei o curso de Jornalismo. Em 2 de dezembro de 78, fui ordenado sacerdote. Logo após, estudei Teologia no Chile, durante dois anos. Formação- Em 84, comecei o Mestrado de Comunicação em São Paulo (USP) e três anos depois, defendi a dissertação o Jornalismo nas Comunidades Eclesiais de Base no Brasil, que foi publicada pela Editora Paulinas. Em 91, defendi a tese de Doutorado em Comunicação na USP, sobre a História da União Cristã Brasileira de Comunicação (UCBC), que foi publicada pela Editora Unisinos. Em 1989, enquanto fazia o doutorado, vim para Unisinos, onde trabalho até hoje. Autores- Marshall Mac Luhan e Érico Veríssimo Livro- O tempo e o vento, de Érico Veríssimo. Filme- 2001: uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick. Nas horas livres- Leio, vejo TV e vou ao cinema. Um presente- Livros. Pró-Reitor de Ensino e Pesquisa- Uma missão, um compromisso e uma honra.
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Sacerdócio- Uma opção e uma graça. Referenciais- Como jesuíta, o Pe. Quirino Weber, SJ e o Pe. Paulo Englert e, na vida intelectual, José Marques de Melo. Comunicação- Um modo de realizar a minha missão como jesuíta na Unisinos. Momentos felizes- Minha ordenação sacerdotal, a defesa de minha tese de doutorado e a primeira defesa de tese do doutorado em Comunicação, aqui na Unisinos. Um grande sonho- Ver a Unisinos reconhecida como uma grande Universidade e, ao mesmo tempo, que seja uma referência da Missão da Companhia para os jovens jesuítas. Unisinos- Uma missão, um lugar de atuação social e um projeto muito bonito da Companhia de Jesus no Sul. IHU- Uma boa idéia com grande futuro.
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Aniversários 27/8 – Luís Carlos Silva de Medeiros Banco de dados
Luiscar@poa
Ramal 1194
Cartas do Leitor Ao Editor de IHU On-Line, Agradeço a remessa do IHU On-Line, que traduz a vitalidade excepcional do Instituto Humanitas. Quero cumprimentá-lo pela oportunidade com que "trabalhou" a polêmica entrevista de Peter Singer, publicada no Jornal do Brasil, trazendo análises críticas de abalizados colegas de nossa UNISINOS. Informo que o referido material será usado na manhã desta terça-feira, 20 de agosto, em sessão do Seminário A alfabetização científica como resposta a desafios curriculares para fazer inclusão social, no qual doutorandos e mestrandos do Programa de Pós Graduação em Educação trabalharão o excerto do IHU OnLine. Com admiração, Attico Chassot UNISINOS - Centro de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Educação
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Sala de Leitura Inauguramos hoje uma nova seção na editoria interativo. Um espaço para socializar as nossas leituras. Em cada edição, diversos integrantes da comunidade universitária responderão à pergunta: "O que tu estás lendo?" Estou lendo, no momento: MELUCCI, Alberto. A Invenção do Presente; movimentos sociais nas sociedades complexas. Petrópolis: Vozes, 2001. 199p. O "livro busca compreender a nova forma de emergência das lutas sociais, expressas nas redes de movimentos que alternam momentos de latência e de visibilidade". Sociólogo e psicólogo clínico foi um autor que se destacou, ao longo das décadas de oitenta e noventa, com diversos textos sérios e originais, na abordagem da questão da complexidade e dos processos comuns que atingem o planeta. Uma frase que ele utiliza em uma de suas obras, traduz, de certa forma, a sua visão de mundo: "Aquilo que para a larva é o fim do mundo, para o sábio é uma borboleta!". José Ivo Follmann - Diretor do Centro de Ciências Humanas
Eu estou lendo sobre a felicidade. CONTE-SPONVILLE, André. A felicidade, desesperadamente. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 139 p. O autor é um filósofo francês contemporâneo que trata da busca da felicidade pelo homem. Essa busca é a essência do homem que o faz percorrer diferentes caminhos, abordados no livro. Carlos Alberto Gianotti - Diretor da Editora Unisinos
Atualmente estou lendo MARCUSE, Herbert. Tecnologia, Guerra e Fascismo. São Paulo: Unesp, 1999. 371 p. É uma coletânea de artigos dos quais destacaria três: Algumas implicações sociais da tecnologia moderna, Uma história da doutrina da mudança social e Teorias da mudança social. Além dos artigos, há uma série de cartas enviadas a Horkheimer e Heidegger. Carlos Alberto Jahn - Professor do Curso de Jornalismo da Unisinos
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