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1 1 D E S E TE M B R O : AN O 2 O mundo recorda, nesta quarta-feira, o primeiro ano depois dos atentados do dia 11 de setembro de 2001. Artigos, fotos e análises sobre este evento pululam nos jornais e revistas. pelo mundo e no Brasil refletem sobre o significado do 11 de setembro. O ciclo de debates, Civilização e Barbárie, cujo ‘promoter’ é Adauto Novaes, é um exemplo brasileiro. O IHU Idéias do dia 10 de outubro, igualmente, debaterá o tema. Entre muitos aspectos interessantes de serem analisados, um que sobressai é a emergência do que Jürgen Habermas denominou a “sociedade póssecular”, pois, segundo o filósofo alemão, num importante discurso proferido na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro de 2001, “em 11 de setembro explodiu, de maneira completamente diferente, a tensão entre sociedade secular e religião”(1). O discurso de J. Habermas desencadeou uma grande discussão no meio acadêmico, da qual participaram R. Rorty, G. Vattimo, J. Derrida, R. Debray, entre outros. No Brasil, quem retomou de maneira pertinente este debate foi Sérgio Paulo Rouanet, no artigo A volta de Deus, publicado na Folha de São Paulo, 19-05-02. Por ocasião deste 11 de setembro, no momento também em que se realiza, na Unisinos, o 1 .- O discurso de J. Habermas, Crer e Saber está publicado na íntegra, em português, no boletim CEPAT Informa, nº . 86, junho de 2002, p. 85-94. Trata-se de um número temático intitulado A Sociedade Póssecular. A religião após a religião.”.


Congresso Internacional de Ensino Religioso, denominado Manifestações Religiosas no Mundo Contemporâneo - Interfaces com a Educação, disponibilizamos este artigo. A VOLTA DE DEUS “Não chega a ser uma novidade que estamos assistindo, desde algum tempo, a um certo "reencantamento do mundo", isto é, a uma inversão daquele processo que Max Weber considerava típico da modernidade e que tínhamos nos habituado a ver como definitivo: a secularização. Essa tendência era exemplificada com a voga do new age, com o esoterismo, com o culto das pirâmides de cristal, com o I-Ching, com o tarô, com o retorno dos anjos e dos duendes e até, mais recentemente, com bestsellers, convertidos em sucessos de bilheteria, sobre meninos bruxos e anéis mágicos. Os atentados de 11 de setembro de 2001, em parte, trouxeram novos e terríveis exemplos para engrossarem essa lista. O fanatismo fundamentalista em todos os campos, e não somente no islâmico, foi visto com razão como uma nova prova dos perigos do novo clima ideológico. Mas em parte, também, os atentados trouxeram uma mudança de perspectiva. Até agora a reespiritualização se concentrava na faixa mais excêntrica da mentalidade moderna, nas seitas orientais, nos grupos pentescostais, nos rituais satânicos. As religiões oficiais continuavam em queda livre. Quanto mais moderna a igreja, quanto mais racionais as suas doutrinas, menos entusiasmo ela parecia despertar no grande público. Quanto aos intelectuais, não havia hostilidade, como na época áurea do anticlericalismo do século 19: era pior que hostilidade, era indiferença. Sim, o ateísmo parecia a última palavra da maturidade intelectual, e a alternativa a isso era a religiosidade lunática. DEUS É UM TEMA ATUAL Pois bem, se os atentados de setembro acentuaram a aversão da opinião pública ocidental ao fundamentalismo, tem-se a impressão de que, em compensação, aumentaram a receptividade para a atitude religiosa como tal. Não se pode mais dizer o que um famoso jornalista do século 19 alegou ao recusar a publicação de um artigo sobre a religião: "Deus não é um tema atual". Surgiu um novo estado de espírito, que não é nem antireligioso, como no Iluminismo e no século 19, nem apologético, como na vaga neotomista do período de entreguerras (Maritain) ou na trilha de Jean Guitton ou Teilhard de Chardin, com suas tentativas de reconciliar a ciência e a fé. Em nenhum momento o secularismo moderno é posto em xeque, mas a idéia de sua incompatibilidade de princípio com a religião entra em declínio. Os primeiros sintomas do que poderíamos chamar, com algum sensacionalismo, a volta de Deus, antecederam, de pouco, os atentados e talvez tenham servido de sismógrafos dos novos tempos.


DERRIDA E VATTIMO Entre os textos mais interessantes que se publicaram a respeito há alguns anos está um livro - A Religião(2) -, contendo as contribuições apresentadas em Capri, em 1994, por um grupo de filósofos, entre os quais Jacques Derrida e Gianni Vattimo. O primeiro contribuiu com um texto em que mostra a relação entre a fé e o saber, e o segundo, com um ensaio em que escreve que o chamado "retorno do religioso" é um aspecto essencial de toda experiência religiosa. FERRY: HUMANIZAÇÃO DO DIVINO E DIVINIZAÇÃO DO HUMANO Em 1996, apareceu um livro particularmente representativo do novo horizonte intelectual, O Homem-Deus ou o Sentido da Vida (França: Ed. Grasset et Fasquelle,), de Luc Ferry. É certo, diz o autor, que a modernidade acarretou uma "perda de sentido", mas ela pode ser compensada graças aos recursos fornecidos pela própria modernidade. A modernidade, com efeito, significa uma humanização do divino, a ascensão irreversível do secularismo. Foi um extraordinário progresso para o espírito humano, porque permitiu ao homem, enfim, pensar por si mesmo. Mas a modernidade também comporta um movimento oposto, que Ferry chama de divinização do humano. A humanização do divino implica o fim das transcendências "verticais", autoritárias, situadas fora e acima do sujeito. Nesse sentido, a modernidade é o reino da imanência. Mas é possível, também, nas entranhas da imanência, pensar algo que a transborda, um estar-fora-dela, um extravasamento em direção a transcendências "horizontais", livremente consentidas, puramente humanas. É a divinização do humano. A força motriz da transcendência horizontal é o amor, que leva os sujeitos a ultrapassarem sua interioridade monádica para alcançarem o Outro. Ora, é a modernidade que permite o advento desse amor. O AMOR ÁGAPE Baseando-se nas análises de Philippe Ariès, Ferry afirma que o amor sentimental, conjugal e parental não existia em épocas pré-modernas, em que o desejo físico reinava sem partilha e a família era uma entidade predominantemente patrimonial. A modernidade engendrou uma forma específica de amor. O amor moderno não deve ser pensado como Eros, pois este pressupõe a falta do objeto amado e se extingue com a gratificação do desejo, e sim como "philia", no sentido de Aristóteles, como uma afeição que exige, ao contrário, a presença viva e constante do ser amado. A "philia", por sua vez, remete a outro tipo de amor, o ágape cristão, sentimento que nos liga mesmo aos que nos são indiferentes, mesmo aos nossos inimigos, e tem como horizonte virtual a humanidade inteira.

2 .- Este livro está traduzido para o português pela Ed. Estação Liberdade, 2000. Neste Seminário, além de Derrida e Vattimo estava presente também o filósofo alemão Hans-Georg Gadamer, falecido recentemente.


O ‘HUMANISMO TRANSCENDENTAL’ Ferry chama de "humanismo transcendental" essa perspectiva que parte da imanência moderna para chegar a uma transcendência cujas condições de possibilidade são dadas pela própria modernidade. Humanismo, porque não é mais possível recuar para posições pré-modernas, em que o homem ocupava um lugar secundário com relação ao divino. Mas humanismo transcendental, porque instaurador de valores que excedem uma definição puramente imanentista do humano. O homem não é o produto cego de uma rede de causalidades que se dão à sua revelia, e é por isso que essa imanência se abre para a liberdade e para a esperança. Mas com isso se põe a questão das relações entre o humanismo transcendental e a religião cristã. Esse homem divinizado que a reflexão imanente encontra no fim do seu percurso, não é um Prometeu que roubou o fogo do Olimpo nem um Lúcifer que usurpou o trono de Deus, e sim, muito cristãmente, um ser capaz de amor e de caridade, que quer completar a "philia" com o ágape e estender a todo o gênero humano o amor que ele tem pelos seus próximos. Ferry não recua diante dessas implicações religiosas. Como o cristianismo, o novo humanismo sustenta a existência de valores transcendentais a partir do amor; acha que esses valores não podem sempre ser explicados pela razão; acredita que esses valores são religiosos no sentido etimológico de "religare", de criarem um vínculo entre todos os homens; afirma que eles constituem um domínio que deve ser visto como sagrado; e pensa que eles fundam um vínculo com a eternidade e com a imortalidade, porque são valores pelos quais vale a pena lutar e morrer, e portanto se situam além da vida terrena. RELIGIÃO A POSTERIORI Somente, não se trata de uma religião a priori, que vem antes do humano para dar-lhe uma legitimidade, mas a posteriori, pois é descoberta pelo homem no interior da imanência. Ela não está na origem, mas no fim. Não está numa tradição, a montante da consciência, mas a jusante, como algo a ser construído e pensado. Não é mais possível aceitar a religião cristã em sua forma, que é a da heteronomia, baseada num magistério ex cathedra, inadmissível desde que a modernidade fundou a liberdade da razão. Mas convém meditá-la em seu conteúdo, enquanto mensagem de amor. As relações sociais da época não permitiram concretizar esse conteúdo, mas, emancipado de sua forma pelo advento dos novos tempos, ele pode finalmente se realizar, como conseqüência paradoxal daquela mesma modernidade que aparentemente deveria tê-lo esvaziado. Desse modo, torna-se de novo possível pensar a questão do sentido, porque o humanismo transcendental, lidando com princípios e valores últimos, pode responder a perguntas que não estão ao alcance do mero saber empírico. O livro de Ferry foi um precursor importante do novo "Zeitgeist", mas foi depois dos atentados que esse espírito adquiriu contornos mais nítidos. Impossível mencionar todas as publicações pós-setembro de 2001 que têm se ocupado com a religião, mas três delas merecem destaque especial.


HABERMAS E A SOCIEDADE PÓS-SECULAR O discurso de Jürgen Habermas ao receber o Prêmio da Paz na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro de 2001 foi dos mais significativos. Seu modelo remoto talvez seja A Religião dentro dos Limites da Simples Razão, de Kant, em que o filósofo tentara traduzir em termos morais, segundo categorias puramente seculares, os principais conceitos do cristianismo, como o mal, o pecado e a expiação. Habermas não faz pura e simplesmente o elogio do laicismo, como seria de esperar num sociólogo de origens marxistas, mas fala numa sociedade pós-secular, em que não há nenhum sinal do desaparecimento da religião, apesar de todas as pressões secularizadoras. Sem dúvida, a religião precisa aprender a conviver com outras igrejas, tem que aceitar a autoridade da ciência e deve aceitar as regras do jogo democrático, que obrigam o Estado a seguir os ditames de uma moral profana. Além disso, os crentes devem "traduzir" suas convicções religiosas numa linguagem leiga, se quiserem que seus argumentos sejam debatidos no espaço público. É o que ocorre, por exemplo, quando católicos e protestantes articulam sua visão religiosa sobre a sacralidade do embrião na linguagem secular dos direitos humanos. Mas o processo de aprendizado não pode ser uma rua de mão única. Os não-crentes devem também fazer um esforço de aproximação, tornando-se sensíveis aos potenciais semânticos da tradição religiosa, que, muitas vezes, se perdem quando transpostos para a linguagem profana. A RELIGIÃO E O RECURSO DE SENTIDO NUMA SOCIEDADE DE MERCADO É o que acontece quando o pecado se converte em culpa, e a transgressão dos mandamentos divinos é transformada em violação das leis humanas. Não há equivalente secular para o conceito de perdão, que envolve a anulação do sofrimento imposto aos outros, e não a mera reparação de uma injustiça. O fim da idéia de ressurreição torna irrealizável aquela esperança desesperada de Walter Benjamin, ele próprio profundamente influenciado pela religião, de salvar os mortos, corrigindo, pela rememoração, todos os massacres da história. Por isso Habermas é a favor, sim, da secularização, mas de uma secularização que preserve os conteúdos da religião, em vez de aniquilálos. Essa forma de secularização nos induz a distanciar-nos da fé, sem nos fecharmos às suas intuições. Uma sociedade civil pós-secular, conclui Habermas, pode haurir na religião, mesmo quando dela se afasta, os recursos de sentido que se tornam cada vez mais escassos numa sociedade dominada pelo mercado. DEBRAY E A NECESSIDADE DA RELIGIÃO O segundo texto é o volumoso Deus, um Itinerário(3) (França: Ed. Odile Jacob), de Régis Debray, publicado em novembro de 2001. Para Debray, a existência da religião é necessária para a fundação e a consolidação de 3

.- Sobre este livro, conferir a entrevista que o autor deu à revista Lire e que está traduzida no boletim CEPAT Informa nº. 86, junho de 2002, p. 76-84.


qualquer comunidade. Para que haja um nós, é preciso sempre um outro transcendente. Desde os hebreus até os gregos e os contemporâneos, o entre si pressupõe um em cima. Cada vez que essa instância vertical desaparece, a comunidade se desagrega. O simbólico (etimologicamente, a junção de elementos separados) e o diabólico (em grego, o princípio da disjunção, da dissociação) se excluem. Sem o simbolismo religioso, que unifica, todos os agrupamentos humanos ficam entregues à dispersão, ao diabólico. Ao contrário de Freud, que achava que a ilusão religiosa desapareceria com o progresso da razão, Debray afirma que a ilusão subjetiva é correlativa da coesão objetiva. Nada disso significa que o secularismo moderno precise ser posto em questão. Mas significa que toda sociedade deve ser bidimensional, estruturada por uma dimensão positiva e por uma dimensão transcendente. Nem significa uma regressão pré-moderna, em que o saber ceda lugar à crença. Significa que fé e ciência não estão em concorrência, que "não ocupam os mesmos hemisférios do cérebro", que cada uma tem sua função própria. RORTY: UM ATEU FALANDO DE RELIGIÃO O terceiro texto, de dezembro de 2001, foi o discurso que Richard Rorty pronunciou ao receber o prêmio Mestre Eckhart(4). Havia um certo humor surrealista na concessão de um prêmio com o nome do místico alemão a um pensador declaradamente ateu. O agraciado não deixou de salientar esse paradoxo, mas isso não o impediu de consagrar a totalidade de sua conferência à religião. Sinal dos tempos? Talvez, porque, em vez de argumentar a favor do ateísmo, Rorty referiu-se, com muita simpatia, a um texto de Gianni Vattimo em que ele fazia uma profissão de fé católica(5). Para Vattimo, o cristianismo não tem nenhuma relação com a verdade, e por isso não pode ser refutado, mas tem uma relação com o amor, nos termos do capítulo 13 da primeira epístola de são Paulo aos Coríntios. No momento de tornar-se homem, Deus abriu mão, por amor, em favor dos homens, de todo o seu poder e de toda a sua autoridade. O cristianismo consiste nessa auto-alienação de Deus, e por isso a secularização é a característica constitutiva da experiência religiosa autêntica. O divino está justamente nessa ausência de Deus. Rorty conclui dizendo que sua principal divergência com Vattimo está em que para o italiano o sagrado está no passado, no ato amoroso pelo qual Deus renuncia à sua dominação sobre os homens, enquanto para ele, Rorty, está numa esperança futura, num estado de coisas em que os homens fossem livres e tanto quanto possível iguais.

4 .- O discurso de R. Rorty, filósofo norte-americano, pronunciado nesta ocasião, se encontra traduzido no boletim CEPAT Informa nº. 86, junho de 2002, p. 65-73. Pelo que sabemos, é a primeira tradução brasileira. 5 .- Nota do IHU On-Line: O autor, Rouanet se refere ao livro VATTIMO, G. Credere di Credere. Milão: Garzanti Editore, 1996. Este livro foi traduzido para o francês com o título Espérer Croire. Paris: Seuil, 1998. A recém lançada edição brasileira tem o estranho título Acreditar em Acreditar. São Paulo: Ed. Relógio d’Água, 1998.


Não sei se Rorty leu A Missa de um Ateu, de Balzac, mas a conclusão do seu discurso poderia ter como título A Profecia de um Ateu. Seu ateísmo soa estranhamente religioso. Sua utopia se parece nos mínimos pormenores com uma utopia messiânica, e, para não deixar dúvida, faz questão de usar, para descrevê-la, o adjetivo "sagrado". Esse estado de espírito, que não é nem religioso nem laico, mas pós-secular, na terminologia de Habermas, traduz a convicção de que a secularização é irreversível. O Estado é necessariamente profano e seu papel é apenas o de garantir a coexistência das diferentes religiões. Mas traduz, por outro lado, a certeza de que nenhuma sociedade pode sobreviver sem a religião, de que a maioria dos homens considera insatisfatórias as respostas dadas pela ciência às perguntas existenciais sobre a vida e a morte. A RELIGIÃO NA ‘SOCIEDADE DO CONHECIMENTO’ Essa visão pós-secular não pode deixar de refletir-se num dos temas mais debatidos atualmente, a questão da chamada "sociedade do conhecimento". Até um ano atrás, talvez seus teóricos se recusassem a incluir a religião entre as formas de conhecimento admissíveis na nova sociedade. Quase todos partiam da tese iluminista da relação contraditória entre saber e religião, pela qual a ciência exige o recuo do universo míticoreligioso e vice-versa. Hoje essa exclusão não é assim tão automática. Não seria o caso de acolher na nova sociedade a religião racional, que aceita o princípio básico da modernidade político-cultural, o respeito aos princípios seculares? Afinal, a dar crédito a Ferry, não é a própria secularização que permite dar corpo a um ideal cristão que até então tinha ficado irrrealizável, o ideal da fraternidade universal? Vattimo não chega a ponto de ver no secularismo a própria marca do divino? Mas é preciso dar um passo além e perguntar se a religião está condenada apenas ao papel negativo de não interferir na sociedade do conhecimento ou se ela teria também um papel positivo nessa sociedade. Em outras palavras, além de não inibir o conhecimento secular, poderia ela também contribuir com um saber específico, que pudesse enriquecer a sociedade do conhecimento? Habermas nos permite entrever uma resposta afirmativa. Sim, a religião pode ser uma voz que vem do sagrado, de um mundo imemorial muito anterior à secularização, trazendo-nos uma mensagem de sabedoria que se perdeu em sua tradução moderna. A CONTRIBUIÇÃO DA RELIGIÃO PARA O CONHECIMENTO Afinal, foi uma filósofa totalmente insuspeita de adesão ao judaísmo religioso, Hannah Arendt, que usou categorias como promessa e perdão em seu pensamento político, e talvez até em sua vida particular, para justificar sua atitude com relação a Heidegger. Podemos compreender Eichmann sem usar a linguagem religiosa do mal, do satânico? Podemos levar a sério o presidente dos Estados Unidos quando ele pede desculpas, apologizes, pela escravidão, em vez de pedir perdão? Podemos abrir mão na política moderna das categorias de remorso e expiação? Se considerarmos que essas e outras categorias são importantes, temos que reconhecer à fé um papel na sociedade de conhecimento. A religião estaria


contribuindo com um conhecimento próprio, com uma antiga fronesis, diferente da mera episteme moderna, com uma sagesse que pode complementar a ciência sem deformá-la. O próprio conceito de sociedade do conhecimento talvez possa ser visto como a secularização de um dos atributos do divino, a onisciência. Essa idéia pode impelir sempre para a frente a sociedade do conhecimento, movida pela miragem de um saber absoluto. Mas o repertório simbólico da religião pode fornecer também um corretivo para o que essa noção tenha de desmedido. Há uma autolimitação que também vem do sagrado, de uma religiosidade pagã expressa no conceito de hubris, orgulho insensato que expõe o homem à punição dos deuses, e de uma religiosidade bíblica expressa na idéia do pecado original, castigo hereditário resultante da pretensão sacrílega de aceder a uma ciência reservada a Deus. Como impulso utópico e como consciência dos limites, a religião tem um lugar assegurado na sociedade do conhecimento. "Com a passagem da nostalgia religiosa para a práxis social consciente", escreveu Horkheimer em 1935, "sobrevive sempre uma ilusão, que pode ser refutada, mas não exorcizada... A humanidade perde a religião ao longo do seu caminho, mas ela não desaparece sem deixar vestígios. Em parte, os impulsos e desejos que a crença religiosa preservou se desprendem da forma que os tolhia e ingressam, como forças produtivas, na prática social".

OS FUNDAMENTALISMOS E A VISÃO DO OUTRO Entrevista com Prof. Dr. Attico Chassot

O Prof. Attico Chassot é Pós-Doutor pela Universidade Complutense de Madri, Doutor em Educação pela UFRGS, com tese intitulada: Para que(m) é útil o ensino de Química?; mestre em Educação pela UFRGS; professor do PPG em Educação da Unisinos. O prof. Attico no seu livro Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Editora Unijui: 2001, dedica um capítulo ao estudo da visão do Islamismo no mundo ocidental, chamado Islamismo: vencendo (pré) conceitos IHU On-Line- Qual a sua abordagem específica dos fatos acontecidos em 11 de setembro? Attico Chassot- Eu não sou especialista nesse assunto. Mas a minha tentativa de entender a educação me levou a compreender que, por trás dela, há imaginários de mundos que são construídos por alguns. Eu tenho uma explicação para os atentados de 11 de setembro. Os fundamentalismos historicamente vividos desde as divergências religiosas dos descendentes dos dois filhos de Abraão: o que ele teve com a escrava Agar, que seriam hoje os árabes, e o que ele teve com Sara, sua esposa, que seriam os judeus e os cristãos. Essa briga é construída em todo um imaginário religioso no qual cada um quer ter a primazia. Hoje, 2002, os judeus reivindicam essa terra, porque seria a terra prometida de onde emana o leite e o mel; mas para os outros, segundo a sua tradição religiosa, aquela também é a terra prometida. Quando o mundo cristão do século XI, XII, fez as cruzadas para reconquistar Jerusalém para pegar "nossos lugares sagrados" e um encontrou um


pedacinho da cruz, outro um pedacinho da coroa de espinhos, os muçulmanos, que estavam lá, também estavam nos seus lugares sagrados. Como serão as cruzadas vistas pelo Islã? Foi se construindo tradicionalmente uma dicotomia ocidenteoriente. IHU On-Line- Hoje o mundo estaria dividido entre muçulmanos por um lado e judeu-cristãos por outro, como alguma vez esteve entre americanos e russos? Attico Chassot- Quando termina a guerra fria, termina a polaridade mundo comunista- mundo americano. A queda do muro de Berlim, em 1989, é um momento que tem muito mais significado que a queda de uma barreira: o comunismo não é mais o inimigo. O inimigo passa a ser de novo o árabe. Digo de novo, porque entre os séculos VII a XV, os árabes foram os nossos grandes inimigos (nossos seria do mundo cristão, branco, do mundo europeu). O Bush, quando decreta essa cruzada do bem e do mal, para onde ele está olhando? Por que o mocinho e o bandido da história? O 11/9 é uma história de marcas construídas entre orientais e ocidentais. Por que imediatamente, a primeira suspeita caiu sobre os islâmicos? A primeira interpretação foi que os árabes estavam indo contra o mundo ocidental-cristão. E veio a resposta: "Nós vamos ter que ir agora contra os afegãos, porque eles são o mundo árabe. E, se os que fizeram o atentado, fossem árabes que estivessem na Alemanha ou na Espanha...Não é lá que vamos pegá-los, mas na casa deles". IHU On-Line- Há, como constante, uma visão dualista do mundo, os bons e os maus? Attico Chassot- Quanto menos fundamentalista se faça a leitura religiosa por parte de cada um deles e cada um de nós, mais acesso teremos a uma compreensão de mundo mais plural. Não adianta, por exemplo, se basear no livro Sagrado para essas coisas. Esse livro foi escrito por judeus. É necessária uma leitura menos fundamentalista. Dentro da cultura judaico-cristã, já houve outras situações nas quais tivemos que abrir mão de leituras fundamentalistas bíblicas. Por exemplo, com Copérnico se abandonou o geocentrismo anterior ao século XVI, mesmo que custasse brigas e que Giordano Bruno tivesse que ir para a fogueira. Nós não somos assim por acaso, todas as nossas maneiras de construir nossos imaginários têm uma razão histórica. A tradição judaico-cristã, por exemplo, tem uma leitura de mundo com um Deus masculino, que criou o homem, a mulher, etc, etc. Há construções de mundo que são diferentes, em vez de um deus masculino, é uma deusa. Essa concepção de mundo, somada às nossas concepções gregas, traz suas conseqüências, como por exemplo, uma Igreja na qual as mulheres não são admitidas para o sacerdócio, entre outras coisas. IHU On-Line- Hoje o poder de estabelecer esses mocinhos e bandidos está em outras mãos? Attico Chassot- Durante muito tempo, foi o mundo cristão. Hoje são os Estados Unidos. Aliás, hoje, nós somos marcados pelas relações de mercado. Assim como uma vez a Igreja foi poderosa, hoje é o mercado. E aí há injunções muito fortes, porque os fabricantes de armas sempre vão alimentar a guerra. É só ver todo o apoio que Bush teve para bombardear o Afeganistão. Agora está tentando bombardear o Iraque. O 11 de setembro não é um fato isolado na história. É


diferente pelas características tecnológicas da guerra. Se tivesse acontecido em 11 de setembro de 1500, talvez fossem caravelas. IHU On-Line- Como o Sr. entrou na discussão destas questões e especialmente no estudo dos preconceitos contra o Islamismo? Attico Chassot- Depois que eu me formei em Química, me perguntava muito sobre a história das ciências e por que, nessa história, há ausência de mulheres como produtoras de ciência e por que temos uma ciência apenas masculina e branca. Queria saber o que havia por trás de tudo isso. Percebi que para isso teria que estudar história das ciências e, mais ainda, história das religiões. Devia entender as formas como se constroem as visões de mundo, porque as relações de poder se estabelecem aí.

FINANCIAMENTO EXTERNO NÃO AJUDA O DESENVOLVIMENTO Gilson Schwartz, economista, escreve semanalmente na Folha de S. Paulo. Reproduzimos o instigador artigo “Financiamento externo não ajuda o desenvolvimento” publicado na Folha de S. Paulo, 8-9-02. É mais um mito do receituário neoliberal que desmorona. “Muitas toneladas de papel foram impressas nas últimas décadas repetindo que o desenvolvimento econômico pode dar saltos se os países mais pobres abrirem suas economias ao financiamento externo. Para atraí-lo, teriam de abrir-se às importações, oferecer oportunidades para empresas estrangeiras investirem em seu território e, coroando o processo, desnacionalizar o próprio sistema bancário. Embora os países que seguiram mais de perto esse roteiro estejam agora em estado de putrefação, como se vê na Argentina, é impressionante o silêncio que paira sobre a questão. No momento atual, predominam os muxoxos, na campanha presidencial ninguém chega nem sequer perto dessa questão. Para entender o tema é bom recorrer a estudos técnicos. É o caso de um relatório publicado em junho pelo BIS (Bank of International Settlements), uma câmara de compensações internacionais. Em "Determinants of international bank lending to emerging market countries" (Determinantes dos empréstimos bancários internacionais aos países com mercados emergentes), Serge Jeanneau e Marian Micu examinam detalhada e exaustivamente as estatísticas mais recentes sobre fluxos financeiros dirigidos a países em desenvolvimento (http:// www. bis.org/publ/work112.pdf).


Algumas evidências já são conhecidas, mas os dados atualizados ajudam a refrescar a memória com relação ao período entre 1989 e 1997, por exemplo. Esse período foi uma espécie de era dourada dos fluxos de financiamento para os mais pobres, pós-Muro de Berlim. Os empréstimos internacionais saíram de zero para quase US$ 150 bilhões por ano. Sarney, Collor, Itamar e FHC abriram o que puderam, venderam quase tudo, tomaram empréstimos com euforia. O roteiro foi seguido na maior parte da América Latina e do Leste Europeu e, em menor grau, na Ásia. Esse estudo mostra que nesse período os empréstimos foram assumindo um perfil cada vez mais de curto prazo. Na América Latina, no começo do processo pouco mais de 30% dos empréstimos tomados no mercado internacional eram de curto prazo (até um ano). No auge da farra (e da taxa de câmbio ancorada), os empréstimos de curto prazo passavam de 50% do total. Na Ásia, passaram de 60% do total de empréstimos. Ora, não é preciso entender muito de economia para concluir que processos de desenvolvimento, ou seja, mudanças que levam muito tempo para amadurecer (são transformações de longo prazo), tornam-se frágeis se o seu financiamento repousa cada vez mais sobre instrumentos de curto prazo. A afirmação chocante de que o financiamento externo não contribui para o desenvolvimento ganha, portanto, pleno sentido. O que ocorreu nas últimas décadas foi a montagem de modelos de desenvolvimento cujo padrão de financiamento era insustentável. Quem mais faturou foram os intermediários desse jogo perverso, os bancos e os investidores com agilidade suficiente para correr de um mercado "emergente" a outro. Há muitas outras informações relevantes no estudo publicado pelo BIS. Ele mostra também que os fluxos de empréstimos acompanham os ciclos de crescimento dos países mais ricos. Isso contraria outra hipótese muito comum, a de que os investidores e banqueiros veriam nos mercados dos países em desenvolvimento uma alternativa de valorização de seus capitais para os momentos em que a rentabilidade cai no centro do sistema capitalista”. O SOCIAL NO GOVERNO FHC Antonio Delfim Netto, economista, ex-Ministro da ditadura militar, Deputado Federal, analisa a política social do governo Fernando Henrique Cardoso, no artigo O Social, publicado pela Folha de S. Paulo, 4-9-02. O SOCIAL “O presidente Fernando Henrique Cardoso tem justificada vaidade de sua obra intelectual e de seu desempenho no comando da nação. Sempre atento e muito sensível às críticas (que nunca economizou quando foi oposição), ele parece enfurecer-se, quando dizem que não cuidou especialmente do social na sua octaetéride. Usando o restinho da paixão pelo debate que sobrou ao professor e o formidável poder que a mídia confere às suas palavras, abusa, com freqüência, dos seus opositores, metendo-lhes qualificativos ferozes. Quem ousasse dizer que a


política cambial de 1995 e de 1998 nos levava para o desastre, era apenas catastrofista, neobobo ou ignorante... Tudo isso é irrelevante, porque os fatos estão aí e, por mais que sejam torturados, eles não depõem com entusiasmo a favor do governo. A disputa sobre o avanço social, por exemplo, pode ser resumida na observação de um indicador, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que sintetiza o aumento da renda per capita, o aperfeiçoamento na área da educação e o progresso na área da saúde. Entre 1995 e 2000, o Brasil avançou: o índice passou de 0,734 para 0,757, mas ainda ficou abaixo do IDH médio da América Latina e do Caribe (0,767). Justifica isso o acendimento do governo? Claramente, não. O IDH do Brasil vem aumentando desde sempre, como se vê no gráfico. Pode-se afirmar que houve uma aceleração no avanço do IDH? Também não! O governo FHC não fez, nesse particular, nada significativamente diferente do que fizeram os seus antecessores desde 1985, cada um a partir da base encontrada. A diferença entre a classificação da renda per capita (60º) e a do IDH (73º) em 2000 continua a revelar menor ênfase no social, bastando lembrar que o brasileiro ocupa o 103º lugar no mundo em expectativa de vida ao nascer... Houve uma contestação governamental dos dados, mas nada se disse sobre o suspeito avanço do PIB per capita (em "poder de compra"), ao qual se deve, basicamente, a melhoria do IDH. O governo insiste que o "cartão do cidadão" é o símbolo da mais efetiva rede de proteção social já construída, que transfere R$ 30 bilhões para mais de 30 milhões de pessoas por ano. Descontados, entretanto, os programas que já existiam, as transferências de renda do governo federal atingem 14 milhões de beneficiários (75% recebem o bolsa-escola e o bolsa-alimentação), com um dispêndio de menos de R$ 3 bilhões, qualquer coisa como R$ 17 por mês para cada cidadão. Há de ser pelo menos permitido duvidar dos benefícios de longo prazo dessa política assistencialista. Ela substituiu o emprego que se destruiu por um óbolo que escraviza o cidadão ao poder incumbente. E ainda tem sido utilizada para assustar o eleitor com a ameaça de que o "seu cartão-cidadão será cancelado se não votar no governo na próxima eleição", o que deveria, aliás, ser objeto da atenção da Justiça Eleitoral”.

Tendo como um dos promotores o Instituto Humanitas Unisinos, em cooperação com o Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (Fonaper) acontece, de 11 a 13 de setembro, o Congresso Internacional de Ensino Religioso, denominado


Manifestações Religiosas no Mundo Contemporâneo - Interfaces com a Educação, no Anfiteatro Pe. Werner. O objetivo é promover a discussão interdisciplinar, envolvendo a Educação e as Ciências da Religião, além de levantar subsídios teóricos e práticos para o Ensino Religioso nas escolas. A promoção conta com conferencistas de renome, como James Fowler, da Emory University (EUA) e Hans-Jürgen Fraas, da Universidade de Munique. IHU On-Line conversou com o professor Danilo Romeu Streck, membro da coordenação do evento e um dos conferencistas. Danilo Streck é coordenador executivo do PPG em Educação do Centro de Ciências Humanas e é doutor em Fundamentos Filosóficos da Educação pela Rutgers - The State University of New Jersey, R.U., Estados Unidos, com a tese intitulada John Deweys and Paulo Freire view of the educational function of education, with special emphasis on the problem of method. IHU On-Line - Qual a importância de realizar este evento na Universidade? Danilo Streck - É uma parceria com o Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (Fonaper), e eu integro este fórum como membro da Comissão de Capacitação. O Fonaper é composto por professores de Ensino Religioso de todo o Brasil, e houve uma preocupação em situar o tema da disciplina no meio acadêmico. Consideramos que trazer o evento para a Unisinos seria um desafio e resolvemos aceitá-lo. Temos aqui várias pessoas que trabalham nessa área. Contamos com um grupo de pesquisadores que trabalha justamente com esse tema, no Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo, e há, na casa, professores na área, com envolvimento nacional e internacional. Por isso achamos oportuno fazer o evento aqui e reunir palestrantes de alta qualidade. Pessoas com uma produção em pesquisa e bibliográfica de ponta na área e que possuem um comprometimento social e político intenso. São professores universitários com um bom currículo, representantes de diversas instituições religiosas, educadores, membros de instituições de educação popular, movimentos sociais e de abordagem das questões indígenas. IHU On-Line - Quais as expectativas do PPG de Educação sobre o evento? Danilo Streck - O objetivo não é chegar a conclusões. Para isso já existe o Fonaper. A finalidade é de mobilização da temática, torná-la pública, mostrar alternativas. O que mais produz resultado talvez nem sejam tanto as palestras em si, mas a repercussão nos corredores e as comunicações de experiências, que serão em torno de trinta. É no meio religioso que se manifesta, da melhor forma, a diversidade cultural. É onde ela melhor se revela. Confira a seguir a programação completa do evento: Dia 11.09 - quarta-feira 9h15min - Conferência: Religião e Religiosidade hoje, com Antônio Flávio de Oliveira Pierucci - USP e coordenação de José Ivo Follmann – Unisinos. 11h15min - Debate Das 13h30min às 17h - Painéis


Painel: Experiências da Religiosidade hoje, com Danilo Romeu Streck Unisinos. 01 - Islamismo, com Ahmad Ali – Centro Cultural Islâmico/RS. 02 - Umbanda, com Suely Farias da Silva - Vila Maria da Conceição - Porto Alegre. 03 - Religiões Indígenas¸ com Lúcio Flores - Grupo de Trabalho Missionário Evangélico. 04 - Cristianismo, com Antônio Cecchin – Congregação dos Irmãos Maristas. 05 – Santo Daime, com Enio Staub - Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal. Das 17h30min às 18h30min - Comunicações Das 19h30min às 21h30min - Círculos de Debate 01– Desafios e Perspectivas do Fonaper, com Lisete Viesser – Membro da Coordenação do Fonaper e gerente pedagógica da Ed. III Milênio e coordenação de Remi Klein - Unisinos. 02 : A Universidade em Pastoral e as Religiões, com Rosa Maria Serra Bavaresco e Hilário Dick - Unisinos e coordenação de José Roque Junges Unisinos. 03 - O Papel da Universidade no Contexto do Ensino Religioso: Pesquisa, com Sérgio Rogério Azevedo Junqueira – PUC/Paraná e coordenação de Castor Mari Martin Bartolomé Ruiz - Unisinos. Dia 12/09/2002 - quinta-feira 9h - Tema: O Ser e o Fazer Religioso Conferência 1 - Desenvolvimento Humano e Religioso, com James Fowler Emory University - USA. Conferência 2 - Teorias da Religiosidade Humana, com Hans-Jürgen Fraas – Universidade de Munique e coordenação de José Jacinto da Fonseca Lara e Valburga Schmiedt Streck - Unisinos. 14h – Conferência: A Dimensão do Religioso no Fazer Escolar, com Danilo Romeu Streck - Unisinos, e coordenação de Beatriz Daudt Fischer - Unisinos. 15h30min - Mesas-redondas simultâneas 01 - O lugar dos Mitos, Ritos e seus Símbolos na Escola, com José Lima Júnior Unimep e Martin Norberto Dreher - Unisinos e coordenação de Cleide Cristina Scarlatelli Rohden. 02 - Formação de Professores de Ensino Religioso: Realizações e Desafios, com Lilian Blanck de Oliveira - FURB - SC e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira PUC/PR e coordenação de Janira Aparecida da Silva - Unisinos. 03 - O Ensino Religioso no Projeto Pedagógico da Escola, com Remi Klein Unisinos e Ernesto Jacob Keim – FURB e Uninove e coordenação de Denise Galeazzi - Unisinos. 04 - Fé e o Conhecimento na Escola: Limites e Possibilidades no Ensino Religioso, com Therezinha Motta Lima da Cruz - Membro da Comissão de Comunicação do CONIC e Eduardo Gross – UFJF e coordenação de Aldino Luiz Segala - Unisinos. Das 19h30min às 21h30min - Círculo de debates com palestrantes Dia 13/09/2002 - sexta-feira


8h30min –Tema: Educar para a Diversidade Conferência 01 - Pedagogias e Culturas, com Mario Peresson – Dimensión Educativa - Colômbia. Conferência 02 - Diálogo Inter-religioso, com Faustino Luiz Couto Teixeira UFJF Debatedores: Rosa Gitana Krob Meneghetti - Unimep; Paulo Botas Secretaria de Estado da Cultura do Paraná; José Ivo Follmann – Unisinos. Coordenação de Edla Eggert - Unisinos.

LIMITES E POSSIBILIDADES NO ENSINO RELIGIOSO Entrevista com prof. Dr. Eduardo Gross UFJF

Eduardo Gross é professor na Universidade Federal de Juiz de Fora, Doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia - EST, São Leopoldo, com tese intitulada: A concepção de fé de Juan Luis Segundo, publicada pela Editora Sinodal, IEPG, 2000, v.1. p.294. Eduardo Gross abordará o assunto Fé e o conhecimento na escola: limites e possibilidades no ensino religioso. IHU On-Line- Qual a diferença entre fé e o conhecimento da fé? Eduardo Gross- Eu vejo uma necessidade de distinção entre o aspecto objetivo da fé (mitos, crenças, dogmas) e o seu aspecto subjetivo (a atitude pessoal, o elemento psicológico, a forma da fé). Isso porque o elemento objetivo é "ensinável", enquanto o elemento subjetivo não se transmite por ensino formal, mas é apreendido por meio da experiência da atitude alheia. Para fortalecer ainda mais essa concepção, farei uma distinção entre "conhecimento" e "sabedoria". O conhecimento é o tipo de elemento privilegiado na educação ocidental, e a sabedoria não tem nela o devido espaço. Mas também vou falar sobre dificuldades para se modificar isso. Partindo dessa situação, falarei sobre propostas para o papel do ensino religioso diante dela e de propostas que acho mais ou menos viáveis. Apontarei possibilidades e problemas dessas propostas de compreensão do ensino religioso. IHU On-Line- O ensino religioso nas escolas está passando por uma crise? Eduardo Gross- Se há crise, esta é muito positiva. Há crise de um modelo superado, o de que se sabe a verdade, e essa tem de ser posta na cabeça de quem aprende. A crise é o momento oportuno para reconhecermos que, em matéria de religião, não há quem já saiba. Podemos é aprender uns dos outros, principalmente a partir do diálogo fraterno e aberto, num clima de respeito e abertura para as verdades que ainda não conhecemos. Outra crise é a dos lobbies e interesses escusos de grupos que não querem aprender, mas dominar. O ensino religioso tem de ser espaço para a aprendizagem das experiências religiosas do povo, e não para a formação de rebanhos que sigam lideranças. IHU On-Line- Como trabalhar a fé nas escolas, de maneira que seja compreensível para a vida de crianças, adolescentes e jovens e responda às dificuldades sociais próprias de nosso tempo? Eduardo Gross- Bem, aqui se trata de uma tarefa pedagógica, no que não sou especialista. Mas acredito firmemente que é preciso partir da confiança de que as experiências religiosas que as pessoas têm são uma primeira sabedoria. A escola


não pode mudar essas experiências nem propor outras. Ela pode alargar horizontes de sentido, pode, talvez, problematizar visões por demais limitadas, mas não pode julgar a verdade ou não dessas experiências. Em todo o caso, se há algo que as dificuldades econômicas não atingem, é a possibilidade de a pessoa ter uma experiência religiosa. Certamente a situação econômica modifica o tipo de experiência e ajuda a configurá-la. Mas a liberdade humana não se anula de todo, e a experiência religiosa é demonstração disso. IHU On-Line- Que características diferentes apresenta a fé na vivência das novas gerações? Eduardo Gross- A religiosidade é parte da vida, ela expressa os anseios, as esperanças e os temores humanos, de modo que sempre se transforma. Além disso, ela se vive de modos específicos, de acordo com nosso desenvolvimento emocional e cognitivo, no decorrer da vida. Certamente as crianças e adolescentes de hoje, num mundo com internet, video game, vivem a fé de um modo diverso de seus avós; por outro lado, também é evidente que uma criança abandonada ou uma criança que vive num barraco ou um adolescente que vende bugigangas num semáforo, vive sua fé de uma forma distinta de quem tem internet ou video game em casa. Descobrir essa variedade de experiências religiosas, talvez seja justamente a tarefa do ensino e da pesquisa sobre religião.

De 1º a 7 de setembro, aconteceu o Plebiscito sobre a ALCA. Ao longo da semana, cinco urnas no Campus da Unisinos receberam a manifestação da comunidade universitária sobre três assuntos: O governo brasileiro deve assinar o tratado da ALCA? O governo brasileiro deve continuar participando das negociações da ALCA? O governo brasileiro deve entregar uma parte de nosso território – a Base de Alcântara – para controle militar dos Estados Unidos?. O Plebiscito aconteceu após o Ciclo de Estudos sobre A ALCA, uma série de palestras que abordou o assunto sob diversos ângulos. O objetivo da programação, segundo o professor Laurício Neumann, coordenador do Setor Ética, Cultura e Cidadania do IHU, foi que as pessoas pudessem formar opinião com bases sólidas de valores. "Nunca se falou contra a ALCA, mas sobre ela. Procuramos esclarecer as dúvidas, orientar, oferecer subsídios para a reflexão e o questionamento, proporcionando ao estudante uma tomada de decisão madura e consciente", disse. Também no dia 5 de setembro o IHU Idéias teve como tema a ALCA. O tema foi exposto pelo prof. Dr. Renato Saul, do PPGCSA. Igualmente o programa Fórum 4 do Centro de Ciências Jurídicas na TV Unisinos realizou um debate sobre a ALCA com a participação do prof. Dr Paulo Antônio Caliendo Velloso da Silveira do PPG de Direito, do Prof. Dr. Fernando Caputo Zanella, do Centro de Ciências Econômicas, e do prof. Dr. Inácio Neutzling, coordenador do Instituto Humanitas Unisinos.


O Plebiscito, aqui na Universidade, foi de segunda-feira, dia 2, até sexta-feira, dia 6. Em todo país, encerrou no sábado, dia da Independência. Para Alexandre Belló, do Diretório Central dos Estudantes da Unisinos (DCE), a idéia de se manifestar a respeito da ALCA surgiu desde que se ouviu falar na proposta pela primeira vez. Para o DCE, é função dos movimentos estudantis tomar a frente nesse tipo de luta. O aluno também declinou a sua insatisfação com a desinformação da mídia pela escassez de informações sobre o assunto. "Isso apresenta uma série de dificuldades na hora de mobilizar os estudantes", afirmou. Segundo ele, houve uma mudança notória nas informações dos estudantes sobre a ALCA. "Pelo menos já chegam dizendo 'eu já ouvi falar, mas ainda não sei o que é', o que antes da campanha não acontecia", completou. Entre as urnas da universidade, as que tiveram maior número de votantes foram: a da frente do Espaço Cultural, junto ao Instituto Humanitas Unisinos, no Centro de Ciências Humanas, a da frente dos Restaurantes Universitário e Alternativo e a da frente do DCE. O número total de votos obtidos na Universidade, segundo o DCE foi de 3.804. Confira a opinião dos votantes sobre cada uma das questões. 1- O governo brasileiro deve assinar o tratado da ALCA 3.604 não 178 sim 21 brancos 2- O governo brasileiro deve continuar participando das negociações da ALCA? 3049 não 732 sim 37 brancos 3- O governo brasileiro deve entregar uma parte de nosso território – a Base de Alcântara – para controle militar dos Estados Unidos?" 3702 não 66sim 31 brancos Vale salientar a participação de demais órgãos na realização da Campanha, como a Associação dos Docentes da Unisinos (Adunisinos) Sindicato dos Professores de São Leopoldo (Sinpro) e Associação dos Funcionários da Unisinos - AFU. Perguntados sobre a posição tomada diante das urnas, alguns membros da comunidade acadêmica deram sua opinião ao IHU On-Line. Confira: "Votei contra a ALCA, porque acredito que as desvantagens para o Brasil, como a tirada das riquezas naturais, serão maiores que as vantagens, como a abertura do mercado, por exemplo. Formei minha opinião por meio dos jornais que li. Até fiquei sabendo das palestras sobre a ALCA na Unisinos, mas não pude participar de nenhuma". Henrique Bleil, aluno de Direito


"Não faço idéia do que seja a ALCA. Vi algo na página da Unisinos e resolvi vir votar para ver o que era. A propósito, tem aí algum material informativo sobre o assunto?" Priscila Armbrust, aluna Biologia "Sou contra a ALCA. Por quê? Não acho certo o Leão Grande vir devorar os pequenininhos. Pertenço e trabalho na Paróquia de Caxias o Sul e lá também estamos envolvidos nesta Campanha, com urna e tudo. Não podemos ser a favor de uma medida que entrega o Brasil (não é nem venda!) para os EUA". Mônica Konzen, aluna de Administração Hospitalar "Sou contra a ALCA de cara, porque detesto "americanismos". A soberania americana quer dominar o mercado e não podemos deixar que isso aconteça. Estive bem informado nos últimos tempos mais pelo rádio do que pela mídia televisiva". André Pedrozo, aluno de Direito das Faculdades Integradas Ritter dos Reis "Imagine colocar o "Mercado do Seu João" ao lado do Hipermercado Big para competir? Isso é o que vai acontecer se o Brasil aderir à ALCA. Vão privatizar o que ainda nos resta e passaremos a ter que pagar caro por produtos fabricados com matéria-prima nossa". Eduardo Souza, aluno de Direito "Penso que o Brasil não deve aderir à ALCA, mas não pode deixar de participar das negociações. É preciso estar presente para dizer não, justificar, senão serem omissos à situação. A ALCA inviabiliza economicamente a América Latina, especialmente o Brasil, favorecendo apenas os EUA". Maria Regina Moraes, aluna de Psicologia "Sou contra a ALCA, porque ela é desfavorável, é algo imposto ao Brasil, uma proposta que só tende a aumentar a dependência do país. Devemos participar das negociações, debates, palestras, ler folhetins de entidades sobre o tema e assistir a programas de televisão que debatem a questão. A escola onde leciono está engajada na Campanha Nacional Contra a ALCA. Criamos um comitê em Montenegro e distribuímos 16 urnas pela cidade, em parcerias com Igrejas, sindicatos e escolas. Entregamos aos nossos alunos bilhetes para os pais votarem no Plebiscito. Fizemos uma boa campanha, distribuindo material nas saídas das missas e nas portas das fábricas". Ricardo Agadio Kraemer, professor de História e Geografia do Ensino Médio e aluno de História da Unisinos "Sou a favor da ALCA. Não pense que estou desinformado. Sei bem o que é a ALCA. O Brasil precisa enxergar a possibilidade de melhorar com a proposta. Num mundo globalizado, é importante colocar o mercado na disputa. É claro que precisamos ter certeza de que o acordo será de igualdade e será sempre respeitado. As barreiras alfandegárias dos EUA devem ser derrubadas. Um país não pode se fechar, tem que se unir a outros. Vejamos o exemplo da União Européia. Se deve


haver um "chefe" à frente, que haja! E que o chefe da ALCA sejam os EUA. Só que isso não pode nos desmotivar a participar. Chega de nos fazermos de coitados! Vamos entrar nessa e exigir direitos iguais. A ALCA pode ser uma forma de recuperação para o Brasil". Cristiano Bervian, aluno de Direito

De 1º a 5 deste mês, aconteceu o primeiro Congresso Brasileiro de Psicologia, Ciência e Profissão, na Universidade de São Paulo(USP). A professora Olga Heredia Collinet do Setor 1, Ética, Cultura e Cidadania, participou como conferencista na mesa-redonda Feminino e Masculino, com a exposição Avanços demográficos da mulher brasileira, segundo o censo de 2000. O Congresso reuniu 10 mil participantes de todo o País.

De 29 a 31 de agosto, aconteceu o VI Encontro Regional Sul da Unitrabalho em Curitiba, na UFPR. O evento contou com a presença de 85 participantes entre professores, pesquisadores e alunos bolsistas, bem como parceiros. Foram apresentados 85 trabalhos em forma de comunicações. Os professores e bolsistas da Unisinos apresentaram trabalhos nos seguintes grupos: Mercado de Trabalho: formal e informal (Prof. Ms.DárnisCorbellini e bolsista Márcio Hoff), Economia Solidária (Prof. Dr. Luiz Inácio Gaiger, Profª.Ms. Ana Mercedes Icaza, Prof. Dr. Hans Benno Asseburg e bolsista Marcelo Freitas), Trabalho e Educação: (Profª. Drª.Maria Clara Bueno Fischer, Profª. Mestranda Magda Tyska Rodrigues e Prof. Dr. Lauro Dick). Dando continuidade ao VI Encontro, os professores e alunos terão reuniões quinzenais (Quartas-feiras às 17 horas) para refletir sobre os trabalhos apresentados em Curitiba.

No dia 21 de agosto, aconteceu a primeira reunião do núcleo interdisciplinar de estudo sobre relações de gênero e história das mulheres na América Latina do IHU. O encontro contou com a presença da Profª Drª Beatriz Vitar (Universidade Autônoma de Madrid e Universidade Cadiz - Espanha), que veio à Universidade pelo Projeto Intercampus, além de 25 professores e professaras da Unisinos, convidados para participar do grupo. Na reunião, discutiu-se a implementação do grupo de trabalho intitulado Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Relações de


Gênero e História das Mulheres na América Latina – NUIEG. O núcleo está voltado para o estudo da condição das mulheres nas sociedades contemporâneas, especialmente na América Latina, com vistas a estabelecer uma vertente de pesquisa, para que professores e alunos dos cursos de graduação e pós-graduação, nos diferentes Centros e nas mais diferentes áreas do conhecimento, desenvolvam trabalhos à luz de uma temática inovadora e ainda pouco explorada. Além disso, pretende incrementar a produção científica sobre a temática das relações de gênero e história das mulheres, cujos resultados (papers, monografias, dissertações, teses) poderão constituir-se em verdadeira renovação, no que se refere à reconstrução histórica do processo de formação da sociedade e da cultura contemporâneas, em especial a do Rio Grande do Sul, e mais especificamente, da região onde a Unisinos está inserida. O núcleo também tem outros objetivos: - viabilizar a formação e ampliação de redes de pesquisa, incrementando o processo de intercâmbio cultural já em curso entre as Instituições de Ensino e Pesquisa da Região e outros órgãos voltados para o estudo e conhecimento das sociedades que integram os chamados Países do Cone-Sul da América e mesmo de outros países e continentes; - favorecer a aproximação e o intercâmbio institucional com grupos, órgãos e entidades congêneres, tanto no Brasil, como no Exterior; - fornecer subsídios bibliográficos e documentais a todos os cursos de graduação e pós-graduação na modalidade de banco de dados; - contribuir como suporte teórico-metodológico para o desenvolvimento de projetos de pesquisa institucionais que tenham por objeto de estudo a questão das mulheres e relações de gênero nas sociedades contemporâneas; - realizar encontros, cursos, debates, simpósios e sessões de estudos entre pesquisadores e estudiosos do tema, não apenas em âmbito institucional, mas com pesquisadores vinculados a outras instituições do País e do Exterior. A próxima reunião do núcleo será no dia 18 às 17h, na sala de reuniões do Instituto Humanitas Unisinos. "Eu vejo este trabalho muito positivamente, com muito entusiasmo. O grupo é bem variado. Há pessoas da área de Direito, Saúde, Ciências Sociais, História, Filosofia, Educação, etc. Vai ser um verdadeiro trabalho multidisciplinar. Ainda não há um programa estabelecido. Vamos discutindo nossas temáticas e estabelecendo contatos com outras organizações, do Brasil e de outros países e continentes." Profª. Cleci Eulalia Favaro Doutora em História do Brasil e mestre em História da Cultura Brasileira. O encontro com profissionais de várias áreas do conhecimento da Unisinos


mostrou o quanto estamos próximas de podermos pensar projetos que possibilitem a troca e a construção de novas experiências. Profª. Edla Eggert Doutora em Teologia e Mestre em Educação.

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A LIÇÃO DO SÉCULO. UM DIÁLOGO FILOSÓFICO COM RICARSO DOTTORI HANS-GEORG GADAMER Hans-Georg Gadamer, Die Lektion des Jahrhunderts. Ein philosophischer Dialog mit Riccardo Dottor. Münster: LIT Verlag, 2002.(A Lição do Século. Um diálogo filosófico com Riccardo Dottori). Traduzimos e reproduzimos, na íntegra, o artigo de Rolf Spinnler, comentando o livro-entrevista de Hans-Georg Gadamer. O comentário foi publicado no Stuttgarter Zeitung, 7-5-02. O autor de Verdade e Método faleceu no dia 13 de março de 2002, aos 102 anos. Na ocasião, o IHU On-Line nº 9, de 18/3/2002, dedicou amplo espaço à vida e obra do autor A tradução do artigo foi feita pelo CEPAT Informa, no. 88, agosto de 2002, p. 81-84. “Nos elogios póstumos a Hans-Georg Gadamer, falecido recentemente, sempre de novo se mencionou um livro, em que o filósofo de Heidelberg teria registrado, pouco antes de morrer, seu legado intelectual para a posteridade. As referências tinham em mente uma série de diálogos que Gadamer conduziu nos anos de 1999 e 2000 com seu aluno italiano Riccardo Dottori sobre sua trajetória e seu desenvolvimento filosófico. Sob o título A Lição do Século, esses diálogos foram publicados há pouco pela editora LIT de Münster - Alemanha. Não é por acaso que o filósofo tenha optado pela forma do diálogo para esboçar um resumo de sua vida e do século passado, mas isso constitui um programa. "O que no fundo conserva a sociedade unida é o diálogo", expressa Gadamer perante Dottori, verbalizando, assim, a idéia fundamental da hermenêutica filosófica defendida por ele. Ela propugna por um conceito de verdade que se volta tanto contra um dogmatismo filosófico quanto contra um ceticismo filosófico. Não pode mais haver um ‘saber absoluto’ segundo a acepção de Hegel e, portanto, segundo a tradição metafísica da velha Europa, porque os humanos não são deuses. "A metafísica que acreditava possuir a verdade que resiste a tudo, essa não existe mais, essa ninguém de nós possui".


O DIÁLOGO COMO CAPACIDADE DE ABRIR-SE PARA A VERDADE DO OUTRO Hoje a filosofia é uma filosofia da finitude: "um saber que é limitado e cercado de limitações". Contudo, também, a posição cética que rejeita todas as verdades e tão somente aceita ‘opiniões’ individuais sem compromisso, não pode mais ser sustentada. Ela se porta como se um ponto de vista neutro fosse viável, enquanto, na realidade, cada projeto de vida individual, para ter o êxito, precisa se apresentar com uma reivindicação de verdade, que obviamente precisa prevalecer no diálogo e abrir-se para a verdade dos outros: "A única maneira de não sucumbirmos à nossa finitude é abrir-nos ao outro, ao tu, é prestar atenção ao que está diante de nós". A forma do diálogo que Gadamer e Dottori escolheram para fazer o balanço do século XX, torna a leitura simultaneamente simples e difícil, porque, ao lado das trocas bem-sucedidas da ‘bola’, nas quais os parceiros com destreza passam um ao outro as palavras-chave e os argumentos, todo diálogo sempre também apresenta malentendidos e uma dessintonia que dificultam a orientação. Pela circunstância de os dois parceiros já se conhecerem de longa data – Dottori estudou no fim dos anos sessenta com Gadamer em Heidelberg – sua conversa muitas vezes se assemelha a um diálogo de iniciados que se esqueceram de que ainda há alguém prestando atenção. Embora o próprio Dottori há tempo já seja professor de filosofia em Roma, ele continua perante seu ex-professor na posição do aluno crédulo que não ousa contradizê-lo em questões decisivas. UMA CRÍTICA AO PRAGMATISMO POLÍTICO Dottori tenta definir em conjunto com seu mestre a posição deste no contexto da tradição filosófica e das correntezas intelectuais do século XX. Como avalia ele os gregos, Heidegger e Habermas, o pragmatismo norte-americano e a religião? Deixaremos de lado as extensas elaborações sobre Platão e Aristóteles, porque são algo para especialistas. O diálogo se torna mais interessante, quando se volta às posições filosóficas atuais. Dottori quer saber se ainda haveria uma proximidade da hermenêutica para com o pragmatismo norte-americano. Ambos os interlocutores se despediram da metafísica tradicional do verdadeiro e do bem e, ao invés, perguntam pelo agir no seio de uma situação dada que não é capaz de transpor seu horizonte histórico limitado. É por essa razão que o pragmatismo de Richard Rorty pleiteia para que se abra mão da idéia do ‘bem em si’. Na política, seria possível no máximo visar o que é ‘melhor’. Gadamer não está plenamente de acordo com isso e pondera "que nunca buscaremos nem encontraremos o que é melhor para nós sem buscar o bem em si ou pelo menos mantê-lo no campo de visão". Gadamer admite que aprendeu algo de Habermas, mas, em última análise, o colega não seria um filósofo, mas um político. Esse, porém, não é o propósito de Gadamer. "Não faz sentido adentrar a política a fim de transformar o mundo. Passou o tempo em que alguém como Péricles é capaz de chegar ao poder. Podemos dar conselhos, podemos nos empenhar por algo concreto, porém como cidadão, como membro da sociedade, como filósofo também se poderia afirmar: Existo para contemplar as estrelas". Como para os antigos gregos, também para Gadamer a atitude ideal do filósofo é a da contemplação.


O QUE AINDA PODE NOS SALVAR? O DIÁLOGO ENTRE AS RELIGIÕES! As estrelas, o além, a transcendência, Deus... Hans-Georg, como, afinal, te posicionas diante da religião? O tema ocupa um lugar central nesse diálogo, como já se depreende de títulos de capítulos como ‘Metafísica e Transcendência’ ou ‘O último Deus’. Foram precisamente as afirmações de Gadamer acerca dessas perguntas que, nas manifestações em sua memória, eram veiculadas como seu legado. Eram frases como: "O que ainda nos poderia salvar, pelo fato de que não temos outra coisa, seria um diálogo com as grandes religiões". Isso soa como o suspiro de Heidegger, professor de Gadamer, em sua entrevista à revista Spiegel, publicada postumamente: "Unicamente um Deus poderá nos salvar!" Como Heidegger ou Adorno, Gadamer faz um diagnóstico sombrio da atualidade. Para Heidegger toda a desgraça foi fruto da técnica, para Adorno, da razão instrumental. Também Gadamer constata uma "situação sem saída" como "decorrência da unilateralidade de um saber meramente científico: ‘Podemos fazer um excelente uso das ciências naturais, mas não é possível que solucionemos, com esse conceito de verdade, todos os nossos problemas, como nascimento e morte, história e finalidade da vida... Após termos conseguido por meio da ciência que nós próprios ameacemos a vida neste planeta, temos de nos perguntar: Existe algo que impede que algo tão terrível aconteça?’ Resposta: "Sim, a religião". UMA CRÍTICA A GADAMER Contudo, que religião? Porventura não é precisamente a concorrência entre as diversas religiões mundiais que causa novos conflitos violentos, em lugar de propiciar uma orientação comum? Gadamer visa a superar esses conflitos por intermédio de um diálogo inter-religioso, no qual as religiões chegam a um entendimento ‘reconhecendo a transcendência como a grande incógnita’. Isso soa como o ‘projeto ética mundial’ do teólogo de Tübingen, Hans Küng – apenas que é algo muito mais vago, pois o empreendimento de Küng já claudica pela circunstância de que na convergência para princípios comuns são deixadas de lado todas as questões controversas: aborto, controle de natalidade, eutanásia, homossexualismo, pesquisa com embriões. Será possível chegar à paz, colocandose entre parênteses as contradições e os problemas? Aqui cabe expressar dúvidas. No parlamento mundial das religiões de Küng, pelo menos se chegou a definir alguns conteúdos comuns, como, p. ex., a igualdade de direitos para os sexos, a proteção da natureza ou a justiça social. Em contrapartida, o conceito de transcendência em Gadamer permanece vazio. Paira na névoa de uma mística em que "todos os gatos são pardos" e "todas as vacas pretas", como Hegel outrora observou polemicamente contra o misticismo de seu ex-companheiro Schelling. Permanece enigmático como alguém seria capaz de discutir com religiões alheias que pessoalmente não possui religião alguma e que teme qualquer asserção teológica. Hans-Georg Gadamer pleiteia por um cristianismo sem teologia. No entanto, que restaria nele de especificamente cristão? A SUA CONTRIBUIÇÃO É incontestável que está na ordem do dia um diálogo das religiões. Porém o caminho de Gadamer e Küng, de entendimento mediante a eliminação de diferenças, leva à direção errada. Em contraposição, a tese de Hölderlin acerca da ‘reconciliação no meio da briga’ e a ‘luta por reconhecimento’ de Hegel,


demonstram como é possível respeitar os outros sem privá-los de sua peculiaridade e de sua característica estranha. Somente no conflito, descobrimos aquilo de que o outro não quer abrir mão de forma alguma – e no que nós próprios nos agarramos incondicionalmente. Somente, então, será possível chegar a um entendimento que não abusa da pessoa estranha como de uma superfície para projeções narcisistas, mas que respeita sua incompreensível alteridade”.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL DEVE SER LEVADA A SÉRIO, POR ODED GRAJEW. O IMPASSE GLOBAL, POR WASHINGTN NOVAES

RESPONSABILIDADE SOCIAL DEVE SER LEVADA A SÉRIO OD E D GR A J E W

Oded Grajew é diretor-presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, presidente do Conselho Administrativo da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente, e idealizador do Fórum Social Mundial. O artigo foi publicado no jornal Valor Econômico, 3 de setembro de 2002, página A12, tendo como subtítulo O movimento da responsabilidade social está diante de um momento decisivo. “Os recentes escândalos envolvendo grandes empresas multinacionais, especialmente norte-americanas, acusadas de fraudar balanços, estão colocando em xeque a credibilidade do movimento da responsabilidade social empresarial. Nos últimos anos, vários fatores determinaram o surgimento de uma ampla mobilização empresarial que busca atingir outros objetivos além das tradicionais metas de lucro e liderança de mercado. A democracia representativa deu lugar à democracia participativa, e cada cidadão, cada organização e cada empresa, passou a enfrentar o desafio de assumir uma responsabilidade pelos interesses públicos. Uma pesquisa feita pelo Instituto Ethos/Indicator Pesquisa de Mercado mostra que 39% dos consumidores brasileiros apontam que as grandes empresas devem, além de concentrar-se em gerar lucro, pagar os impostos, criar empregos e cumprir as leis, também fazer tudo isso de forma a estabelecer padrões éticos mais elevados, ajudando ativamente a construir uma sociedade melhor para todos. Nos Estados Unidos e em vários países da Europa, mais de 40% dos entrevistados afirmaram que, no último ano, prestigiaram uma empresa, porque a consideravam socialmente responsável, comprando seus produtos ou falando bem dela. Outras pesquisas apontam que a boa imagem das empresas facilita a contratação e retenção de talentos, além de propiciar o maior engajamento de seus funcionários com os objetivos da organização. As empresas perceberam que a responsabilidade social poderia alavancar sua imagem junto à comunidade, aos consumidores e aos funcionários, passando a representar um grande diferencial competitivo. Foi assim que o movimento da


responsabilidade social empresarial cresceu pelo mundo inteiro. No Brasil, o Instituto Ethos, com quatro anos de vida, reúne atualmente cerca de 640 empresas somando algo em torno de 30% do PIB brasileiro - interessadas em aprender e aprofundar suas práticas empresariais, para que se tornem socialmente responsáveis. Hoje, porém, enormes riscos se levantam contra o trabalho de vários anos de empresários, dirigentes empresariais, organizações empresariais e instituições que, cheios de boas intenções e reais compromissos com a ética, tentam dar um sentido público às atividades empresariais. O primeiro risco é de as empresas confundirem, o que é ainda freqüente, especialmente no Brasil, a diferença entre responsabilidade social e projeto social. Por mais importante que seja investir na comunidade, num país com tantas carências como o nosso, não adianta apenas ajudar uma obra social se a empresa trata mal seus funcionários, sonega impostos, joga lixo no rio, se mete em corrupção ou engana o consumidor. Todas as empresas denunciadas nos escândalos da bolsa tinham projetos sociais. O outro grande risco é não adotar a responsabilidade social como cultura de gestão, abordando igualmente todas as atividades da empresa e todas as suas relações (funcionários, consumidores, comunidade, fornecedores, investidores, acionistas, concorrentes, meio ambiente e governo). A Enron ficou por três anos, na lista das melhores empresas para se trabalhar. Em 2000, recebeu seis prêmios ambientais, tinha políticas sobre mudanças climáticas e direitos humanos. Suas ações estavam no estoque de vários fundos socialmente responsáveis. Há dois anos, participei de uma reunião de conselheiros e diretores de uma grande empresa multinacional que queria aperfeiçoar sua gestão socialmente responsável. No seu planejamento estratégico, foi definido que os acionistas seriam o público preferencial. Argumentei que todos os públicos deveriam ter a mesma preferência. O presidente de um grande fundo de investimentos em Wall Street se opôs energicamente, alegando que os acionistas se sentiriam preteridos, e as ações perderiam valor. Dois dias após, foi revelado um descaso da empresa com seus clientes que resultou em grandes danos à sua imagem, grandes prejuízos e grande queda nos preços das ações. Um outro risco é não transformar o discurso em práticas de gestão. O CEO da Enron dava discursos em conferências sobre ética e elaborou uma declaração de valores enfatizando "comunicação, respeito e integridade". Colocar em prática não significa apenas executar, mas se comprometer com a transparência e se dispor a ser controlado e auditado especialmente pelos públicos afetados pela gestão. Se os acionistas e funcionários da Enron (e não apenas a empresa de auditoria que estava comprometida) tivessem acesso à contabilidade da empresa, teriam detectado ainda no início os problemas da empresa. Estes acontecimentos recolocam o debate entre aqueles que acreditam que a responsabilidade social empresarial deve resultar da conscientização e da ação voluntária da empresa e aqueles que pregam a regulamentação governamental com penalidades para os infratores. Há ainda aqueles que defendem que a conscientização preceda durante um determinado período a regulamentação governamental, conviva com ela e assuma um papel vanguardista de aprofundar determinados assuntos e propor novos desafios. Não há dúvidas de que o movimento da responsabilidade social está diante de um momento decisivo. Caso a gestão socialmente responsável não for levada a


sério por todos aqueles que têm responsabilidades nas empresas, nas organizações empresariais, na mídia, nas universidades e nos governos, corremos o risco da desmoralização de um movimento tão importante para a sociedade. O setor empresarial possui imenso poder (financeiro, econômico, tecnológico, cultural, de informação e comunicação, político e eleitoral). Quanto maior o poder, maior deve ser a responsabilidade, especialmente neste momento histórico de enormes desafios sociais e ambientais. Ao adotar, de fato e de forma séria e consistente, a gestão socialmente responsável, as empresas podem se transformar em poderosas parceiras na construção de uma sociedade mais justa, próspera e sustentável”.

O IMPASSE GLOBAL

WASHINGTON NOVAES

Reproduzimos na íntegra o artigo ‘O novo patamar’ de Washington Novaes publicado n’ O Estado de São Paulo, 6-7-02. W. Novaes é jornalista e acompanha os debates sobre as questões ambientais globais há décadas. Neste artigo ele faz uma avaliação da Rio+10, diretamente de Johannesburgo. É um dos mais respeitados em sua área. Os subtítulos e grifados são nossos. RIO MENOS 10? Parece claro, com o fim da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburgo, que o deslocamento das chamadas questões ambientais para o centro das discussões sobre o desenvolvimento coloca novas, complexas e urgentes questões na agenda mundial. Crises até - ainda sem definição clara de rumo. Na aparência, divergem muito as avaliações sobre a cúpula. Ambientalistas e representantes de organizações não-governamentais não hesitam em qualificá-la de ‘retrocesso’, ‘fracasso’, ‘Rio menos 10’ ou até de ‘Cúpula Mundial dos Acordos Vergonhosos’, como disse uma das maiores ONGs do mundo, o WWF, em seu comunicado, referindo-se ao Plano de Implementação (das conferências de mudanças climáticas e da biodiversidade, assim como da Agenda 21 mundial, aprovadas na Rio-92), discutido durante vários dias. E que resultou em escassos consensos, noticiados nos últimos dias. Diplomatas e chefes de Estado preferem dizer que houve avanços e foram importantes, ainda que muito mais modestos do que se esperava. Longe dos microfones, câmeras e blocos de anotações dos jornalistas, entretanto, admitem o impasse. DISCURSOS DRAMÁTICOS QUE CONVERGEM Já em discussões paralelas, o que mais vem à tona é o que tem sido qualificado de ‘crise do sistema multilateral de negociações’, ou ‘crise do sistema ONU’, ou ‘crise do modelo de conferência (como esta) que exige consenso para qualquer decisão’. Sempre com a pergunta: que modelo poderá levar a soluções de problemas tão sérios e intrincados como os que estão sobre a mesa? Quem ouviu os discursos de chefes de Estado - palavras que não representam compromissos formais - nas sessões plenárias se impressionou com o quadro dramático por eles exposto, tanto na área ambiental como na social. O chefe do governo alemão, Gerard Schroeder, por exemplo, não hesitou em iniciar suas palavras dizendo que mudanças climáticas


não são mais um prognóstico, uma possibilidade; já são uma realidade. Pregou o desmantelamento dos subsídios à agricultura nos países mais ricos (US$ 1 bilhão por dia), que dificultam o acesso dos produtos primários de países em desenvolvimento (inclusive do Brasil) a seus mercados. Verberou a pobreza e prometeu aumentar a ajuda aos países mais pobres. O primeiro-ministro Rassmunsen, da Dinamarca, disse ser insustentável um mundo em que os países mais ricos, ‘com 15% da população, concentram 80% da produção, do consumo e da renda’. O presidente Jacques Chirac foi ainda mais dramático, ao lembrar que precisaríamos ‘de dois planetas como o nosso’ se todas as pessoas consumissem como norte-americanos, europeus ou japoneses. Mencionou a nuvem de poluentes de milhões de quilômetros quadrados que ‘envenena o continente asiático’. As mudanças climáticas já afetando muitas partes do mundo e ameaçando eliminar do mapa dezenas de países insulares. ‘Não podemos dizer que não sabíamos.’ O primeiro-ministro Tony Blair lembrou que ‘a guerra de um país atinge outro’, assim como ‘a contaminação produzida por um atinge outros’. O que é inaceitável, pois ‘valemos todos a mesma coisa’, não podemos concordar que ‘a África continue sendo uma cicatriz na consciência do mundo’. AS CONSTATAÇÕES A QUE JÁ CHEGAMOS Não é preciso relembrar outros pronunciamentos. Estes bastam para evidenciar alguns pontos fundamentais: Nossos modos de viver, nossos padrões insustentáveis de consumo geram problemas - ditos ambientais - que não respeitam fronteiras administrativas nem geopolíticas e colocam a questão num patamar novo: o dos limites planetários insuperáveis; o simples crescimento econômico não terá como superar o problema, já que não haverá recursos físicos (ou recursos naturais) suficientes para manter ao longo do tempo um crescimento capaz de elevar toda a população mundial a padrões de renda e consumo mais altos desejados, como têm afirmado numerosos cientistas; não dispomos de instituições em âmbito planetário capazes de criar, para todos os países, regras que enfrentem a insustentabilidade dos padrões de produção e consumo - e instituições com poder ainda para exigir a mudança. NOVO PADRÃO CIVILIZATÓRIO: O IMPASSE Algumas conseqüências desse quadro começam a evidenciar-se. Primeiro, a de que, na verdade, não está claro ainda o que deve ser feito nesse âmbito planetário para instituir esse novo padrão civilizatório - que é do que se trata, ao fim e ao cabo. Segundo, que começa um novo debate, em que alguns pensadores dos países mais ricos contestam o conceito do ‘desenvolvimento sustentável’, alegando que não tem sentido pensar em garantir os direitos das futuras gerações se não somos capazes de suprir as necessidades de uma grande parcela dos atuais habitantes da Terra. A tarefa indispensável e urgente seria promover o máximo de desenvolvimento econômico - já - para suprir essas necessidades. E esquecer a sustentabilidade. Mas sem responder como se fará para enfrentar as conseqüências de limites já superados e que geram questões como a das mudanças climáticas. Ou, como constou do texto da declaração política desta cúpula mundial, com o ‘apartheid’ mundial levando a maioria pobre do planeta a ‘descrer dos regimes democráticos’. Complicado. Mas inarredável. Por isso, parece muito provável que seja essa a discussão central dos próximos tempos. Se for, o impasse de hoje será extremamente útil. Não só exigirá


a presença dessas questões na base de todas as políticas públicas e planejamentos privados, como abrirá caminho para cogitações e debates que possam conduzir a novos patamares. Melhor o impasse do que a caminhada cega em direção ao indesejável.

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André Glucksmann, filósofo francês, em entrevista concedida ao jornal espanhol El País, 8-9-02, reflete sobre o 11 de setembro. O título da entrevista é: ‘Agora a responsabilidade do fim do mundo se democratizou: é imediata’. O jornal o entrevistou por ocasião da tradução espanhola do seu livro Dostoievski en Manhattan, Madrid: Taurus, 2002. Neste livro Andre Glucksmann defende que “os atentados do 11-S são fruto do nihilismo, uma ideologia que nasceu na Europa há dois século e que teve diversas mutações, uma das quais é o terrorrismo global da Al Qaeda”. Segundo Glucksmann, “o segredo está no nihilismo, que é a forma de socialização da hybris. É o reino da confusão, em que a suspensão da diferença entre os deuses e os homens conduz à negação do mal. E, com isto, à impunidade para destruir o mundo num ato que os homens-bomba levam ao paroxismo ao destruírem-se a si mesmos, num gesto orgiástico. O nihilista encontra o seu prazer na intensidade mais do que nos resultados porque lhe move uma finalidade sem fim: a destruição”. A Editora Unisinos está preparando a publicação do livro A lógica do nihilismo de Franca d’Agostini. Traduzimos dois trechos da entrevista. Ela pode ser acessada integralmente no sítio do jornal espanhol. El País: O senhor escreveu que o ‘11-S é um momento de verdade, de aletheia cruel’. O que é que a filosofia não tem sabido ver? Resposta: O que viu a gente normal: que se tratava de uma mudança decisiva na história. Os cidadãos de Nova York, de um modo espontâneo, começaram a chamar a zona do ataque das Torres Gêmeas como ‘ground zero’. É uma referência muito precisa à bomba atômica. ‘Ground zero’ é o nome que se dava ao perímetro de provas do projeto Manhattan que produziu as bombas que depois seriam atiradas sobre Hiroshima. A cidadania, de um modo provavelmente inconsciente, quis relacionar o 11-S com outro acontecimento que partiu a história. As elites européias se sentem obrigadas a minimizar o incidente, o sentimento popular é que ocorreu algo decisivo. E interrogar este sentimento é, definitivamente, o papel do filósofo. El País: O que o senhor está postulando é o desaparecimento da idéia de futuro. Resposta: Ou a imediatez do fim do mundo. O Ocidente nasce da afirmação de que o fim do mundo é possível. A caída de Troia é o símbolo da capacidade da humanidade de se suicidar. E esta possibilidade, hoje, é mais ‘quente’ do que nunca. El País: O senhor rechaça as explicações de corte sociológico, econômico ou geopolítico. Resposta: Eu somente peço que os sociólogos reflitam sobre o fenômeno nihilista. Faz dois séculos que ele dura. Se manifestou através das mais cruéis experiências


ideológicas no século XX. O furor da morte que culmina nas bombas humanas recorreu todo o mundo. Desde o populismo russo até o fascismo – recordemos o “viva a morte” de certo general franquista – e o comunismo – Mao dizia que se a bomba matase 2/3 dos chineses ainda restaria 1/3-. Agora aparecem novas formas de nihilismo. É isto que é preciso estudar. O problema da sociologia, da geopolítica e outras disciplinas é que parecem crer que uma guerra que durou 75 anos pode acabar sem deixar conseqüências. Entre 1914 e 1989 houve uma guerra que colocou o mundo de pernas para o ar, com duas guerras mundiais, com as revoluções, com a guerra fria que foi especialmente cruel para a África e a Ásia. Como pensar que estes 75 anos podem se terminar como um parêntese sem que tenha mudado nada? Se produziram modificações nas relações homem-homem, homem-entorno e homem-destino. E Fukuyama passa a página e anuncia ao fim da história e Huntington nos anuncia uma regressão religiosa. A realidade é que as religiões não foram capazes de domesticar o mundo nihilista. E por isso a Europa, que iluminou o nihilismo, é o continente menos crente. E o problema do islã é que ele não é capaz de resistir aos furores terroristas.

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"Estou morto de vergonha. Enquanto o mundo inteiro discute como salvar o planeta, o meu país discute a guerra contra o Iraque" - Jeffrey Sachs, economista americano da Universidade de Columbia – Folha de S. Paulo, 6-9-02.

"#$ Hoje à noite, das 19h30min às 22h, acontece a palestra "O que quer o pedófilo", com o psicanalista Dr. Contardo Calligaris, no Anfiteatro Pe. Werner. Como debatedores estarão os professores Charles Elias Lang e Mário Fleig (psicanalistas) e Denise Oliveira Cezar (juíza de Direito). O evento é uma parceria do IHU com o Laboratório de Filosofia e Psicanálise do PPG de Filosofia, do Centro de Ciências Humanas e do Centro de Ciências da Saúde. A entrada é franca. QUEM É CONTARDO CALLIGARIS? Contardo Calligaris (54) é psicanalista e doutor em Psicopatologia clínica. Formouse em Epistemologia na Universidade de Genebra (Suiça), quando Jean Piaget ainda ensinava. Em Paris, fez sua primeira pós-graduação (“Diplôme d’Études Approfondies”) em Semiologia, com Roland Barthes, na “École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales”. Completou seu doutorado em 1993, com uma tese sobre a perversão como laço social. Logo passou no concurso francês de habilitação para o ensino de Psicopatologia e Psicologia Social.


Sua formação psicanalítica aconteceu em Paris, onde ele se tornou membro da “École Freudienne de Paris” (escola fundada por Jacques Lacan) em 1974. Desde a dissolução dessa escola, ele é membro da direção da “Association Freudienne Internationale” e da Fundação Européia para a Psicanálise. Em 1989, no Brasil, foi presidente da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, da qual ele é membro. Nos EUA, ele é membro do conselho de administração da “Boston Graduate School of Psychoanalysis”. Calligaris foi professor no departamento de psicanálise da Universidade de Paris VIII (o departamento fundado e dirigido por Jacques Lacan), de 1975 a 1980. Palestrou em várias universidades na Europa, na América do Sul e nos EUA. Seus últimos cargos: em 1996, foi professor visitante de Antropologia Médica na Universidade da Califórnia em Berkeley (administrando seminários de doutorado sobre a psicopatologia das migrações e cursos sobre o individualismo contemporâneo); em 2002, é professor visitante no “Institute for the Study of Violence” da “Boston Graduate School of Psychoanalysis”, em Boston. Desde o fim dos anos 80, tanto em seus escritos quanto no seu trabalho clínico, Calligaris tenta redefinir o culturalismo numa perspectiva freudiana e lacaniana. Por isso seu interesse pela questão da violência (ele foi Fellow do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), pela adolescência e pelo aconselhamento de pais de adolescentes ( seu último livro é Adolescência), pelos efeitos psicológicos das migrações e pela obediência nos regimes totalitários (uma larga parte de sua tese de doutorado trata da complacência genocida do homem comum). Calligaris escreveu sete livros e mais de 80 artigos (sem contar as contribuições à grande imprensa). Assinalamos: Hipótese sobre o Fantasma na Cura Psicanalítica (Artes Médicas); Introdução a uma Clínica Diferencial das Psicoses (Artes Médicas); Hello Brasil, Notas de um Psicanalista Europeu viajando ao Brasil (Escuta), Crônicas do Individualismo Cotidiano (Ática); Adolescência (PubliFolha). Desde 1998, Calligaris escreve uma coluna semanal no caderno “Ilustrada” da Folha de São Paulo, em que trata de temas sociais e culturais do ponto de vista de um psicanalista.

IHU Idéias acontece todas as quintas-feiras, das 17h30min às 19h, na sala 1C103. AL CA E O RS No dia 05/09/02, aconteceu, no IHU Idéias, a apresentação do tema: ALCA: impactos positivos e negativos sobre o RS, com o Prof. Dr. Renato Saul. Renato é professor do PPGSCA da Unisinos. Na sua exposição, o Prof. Renato fez uma percorrida histórica das teorias de desenvolvimento e chamou a atenção para aquilo que acha o maior perigo da ALCA: a hegemonia dos Estados Unidos sobre a propriedade intelectual. "Gostei da abordagem. Especialmente sobre as questões de propriedade intelectual. Seria como a apropriação do


desenvolvimento do pensamento por parte dos líderes da ALCA. Isso nunca é abordado, inclusive nos discursos contra ALCA. Eu pretendo fazer mestrado e me dedicar à pesquisa e me preocuparia bastante, se meu país não tivesse autonomia nesse assunto". Vanessa Curvello/ estudante de Comunicação na Unisinos "Foi muito interessante que este evento acontecesse na semana do plebiscito. O Renato Saul expôs dados importantes que trazem novos elementos e maior clareza à discussão. Os meios de comunicação social têm mostrado carência para falar claramente sobre o assunto. Por isso, realmente esta discussão, tão bem fundamentada, resultou muito oportuna. Fica claro onde estão os verdadeiros interesses". Telmo Adams/ Coordenador Estadual da Cáritas.

CONFIRA OS PRÓXIMOS IHU IDÉIAS 19/09/02- Apresentação do livro: A função social da propriedade, o papel do Judiciário diante das invasões coletivas, por Ivan Ramon Chemeris. 26/09/02- Apresentação do livro: Biografia de uma árvore - Editora Escrituras, com Fabrício Carpinejar.

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%' Parcerias No dia 2 de setembro a coordenação do IHU esteve reunida com o prof. Dr. Ermílio Santos, da PUC-RS e Andréa Drapier, do British Consel, juntamente com a Profª. Drª. Ione Ghislene Bentz, Diretora do Centro das Ciências da Comunicação, convidados pelo prof. Dr. Pedro Gilberto Gomes, Pró-Reitor de Ensino e Pesquisa da Unisinos para discutir a possibilidade de parceria no Projeto Brasil-Reino Unido Comunidades Locais e Comunicação, evento a ser realizado em dezembro de 2002 e no Simpósio Internacional Brasil-Alemanha-Reino Unido Políticas Públicas e Sociedade, com possibilidades de realização em 2004. Simpósio Água No dia 3 de setembro, a coordenação do IHU esteve reunida com a comissão organizadora do Simpósio Internacional Água: Bem Público Universal.


Voluntariado No dia 5 de setembro, a coordenação do IHU reuniu-se com o Grupo de Trabalho sobre o Voluntariado que acaba de concluir o texto intitulado "Uma concepção de Voluntariado para a Unisinos". Este texto será entregue nesta semana à Reitoria da Unisinos. Participaram do GT as seguintes pessoas: Prof. Dr. Inácio Neutzling, SJ, Prof. Dr. José Roque Junges, SJ, Profa. Dra. Lucilda Selli, Profa. Dra. Jacqueline Oliveira Silva, Prof. Doutorando Laurício Neumann, Profa. Doutoranda Marilene Maia Batastini, Doutoranda Haide Maria Huppfer, Profa. Mestre Vera Regina Schmitz, Mestre Vera Lúcia Schneider Benvenuti, Mestranda Rosa Maria Serra Bavaresco e Especialista Fernando Altair Pocahy. .

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O entrevistado relâmpago desta edição é...

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Egon Roque Fröhlich é coordenador do PPG em Ciências Sociais Aplicadas, do Centro de Ciências Humanas. Bacharel e licenciado em Filosofia, Egon é mestre em Sociologia Rural e doutor em Comunicação e Informação, pela University of Wisconsin - Madison, U.W., Estados Unidos. Inícios- Nasci na Vila Santo Antônio, no município de Cerro Largo, região das Missões. Meus pais eram agricultores. Saí cedo de casa. Aos doze anos, ingressei no Seminário, no Colégio Santo Inácio, em Salvador do Sul, onde fiquei durante oito anos, concluindo o colegial clássico. Professor- Fui professor na UFRGS por muitos anos, onde me aposentei, em 1995. Aqui leciono a disciplina de Metodologia Científica, na graduação e na pósgraduação. Dar aula é, além de uma profissão, uma atividade recompensadora em todos os sentidos. Sinto-me muito bem dando aula. O aluno nos obriga a estarmos sempre atualizados. Gosto de dosar a amizade e a exigência com eles. Vida profissional- Depois de concluir o bacharelado na Unisinos e a licenciatura em São Paulo, comecei a trabalhar como datilógrafo no Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da UFRGS, em Porto Alegre. E foi lá que comecei a dar aulas, descobrindo a satisfação em minha profissão. Entrei como professor na Unisinos, em 1996.


Música- Sou integrante do Coral 25 de Julho, em Porto Alegre. Sou barítono. Esse é um dos meus maiores prazeres. Estamos gravando o terceiro CD. O coral fez várias viagens à Europa, das quais pude acompanhar duas, além de outras viagens internacionais e nacionais. Cantar é uma experiência fascinante, é terapia. Estou sempre cantarolando comigo mesmo. Autor- Manuel Castells. Livro- Ciência e dialética em Aristóteles, de Oswaldo Porchart Pereira. Filme- E o Vento Levou, de Victor Fleming. Nas horas livres- Caminhar, passear com os amigos, ir para a serra. Sou muito viajante, fã da natureza. Conheço todas as veredas da Unisinos, de tanto passear por aí. Também adoro ler. Leio uma média de 100 páginas por dia. Um presente- Vinhos e roupas. Tenho coleção de vinhos. Momentos felizes- Encontros com amigos e com a família, principalmente nas datas festivas, como Natal e Páscoa. Rever alunos que não vejo há tempo também é um momento feliz. Estar em contato com a natureza é igualmente ótimo. Fico imerso em todas as coisas. Unisinos- Portal fantástico de oportunidades, de crescimento humano, social, espiritual e cultural. Lugar privilegiado para a formação humana. As direções oferecem oportunidades de adequação às novas tecnologias. IHU- Veio para ser como uma mola propulsora de levar para dentro dos Centros de Ensino toda a orientação de Universidade Jesuíta, tendo o espírito inaciano como pano de fundo. Ele é um fórum externo de discussão de idéias, novos paradigmas, fonte de dinamismo. Um grande sonho- Consolidar o PPG de Ciências Sociais Aplicadas, que foi recentemente reconhecido, e ajudar, dentro da equipe de professores, a construir o doutorado também


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10/9 – Ana Mercedes Icaza Setor 2, Trabalho, Solidariedade e Sustentabilidade 11/9 – Adevanir Pinheiro GDIREC

ana@poa.unisinos.br

Aniversários

adevanir@poa unisinos.br

Ramal 1141

Ramal 4130

Cartas do leitor

Aos queridos amigos do IHU, deixo meu abraço afetuoso de até breve. A partir de quinta estarei já rumando para o Amazonas , onde pretendo encontrar novos amigos e trilhar novas caminhadas. De lá , no mesmo email , estarei acompanhando os passos de vocês. Desejo-lhes força e ânimo na trajetória de consolidação do nosso IHU. Sônia Maria Haas

Sala de leitura Confira o que nossos colegas da Universidade estão lendo atualmente: "Estou lendo SENGE, P. et alii. Schools that learn; a fifth discipline fieldbook for educators, parents and everyone that cares about education. New York: Doubleday Dell Publishing Book, Inc., 2.000, 591p. O livro trata do aprendizado organizacional da escola, como instituição fulcral da mudança do ensino e da sociedade, a partir da experiência e do conhecimento de 113 educadores. Organiza-se sobre a base das cinco disciplinas consideradas necessárias: autoconhecimento, compartilhamento de visões, identificação e compreensão dos modelos mentais, aprendizagem cooperativa e pensamento sistêmico. De forma clara, discute os desafios a serem assumidos pelos criadores e gestores das políticas e dos estabelecimentos, pelos alunos e suas famílias, pelos professores e pela comunidade como um todo". Profa. Emi Maria Santini Saft / Pró-Reitora de Desenvolvimento; mestre em Letras, área de concentração em Teoria Literária, pela PUC/RS; especialista em Língua Portuguesa pela PUC/RS.


"Meu atual momento de leitura é o livro As fontes do Self, cujo autor é Charles Taylor. Edições Loyola, 1997, 664 p. "Charles Taylor é um filósofo canadense, que trata das questões éticas, a partir de uma perspectiva comunitária. Ele busca redimensionar as polarizações indivíduo e sociedade, reiterando a necessidade de repensarmos as vinculações do sujeito com a moralidade, além de uma atitude individualista redutora. O autor faz sua análise no território da modernidade, analisando os conceitos de natureza e as simbolizações da vida cotidiana, com a intenção de espelhar a identidade do sujeito. É uma leitura muito saborosa e inquietante para todos os que se interessam pela subjetividade e intersubjetividade, como compreensões necessárias do humano". Profa. Cecília Pires/ Pós-Doutora pela Université Paris I, UFR, França; doutora em Filosofia; mestre em Filosofia; especialista em Orientação Educacional; e graduada em Filosofia.

"Atualmente estou lendo o livro A ferro e fogo : a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira, de Warren Dean. A tradução é de Cid Knipel Moreira. Editora Companhia das Letras, 484 páginas mais os mapas, ano de publicação: 1996-2000. A obra descreve de forma muito envolvente a história da devastação de um dos maiores patrimônios biológicos do Brasil e do mundo. Com farta documentação histórica e grande riqueza de detalhes, o autor registra, de forma magistral, este infeliz episódio ambiental. Uma leitura imprescindível para os interessados na questão ambiental e suas conseqüências sociais e econômicas ou (talvez mais apropriadamente) vice-versa". Prof. João Felisberto Larocca e Silva / Mestre em Botânica

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