A Magazine #22

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Nº22 JULHO 2013

14 entrevidas

André Jordan

O homem que inventou o Algarve

10 chegadas Estrangeiros escolhem o Algarve para dar o sim 30 ambientes Chocos à algarvia

Novos voos para o turismo algarvio


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editorial

AO SUL

N

um mundo globalizado e interdependente, há sempre e cada vez mais uma correlação estreita entre a vitalidade e projeção internacional de uma área geográfica e as suas infraestruturas aeroportuárias. Em nenhuma região isto é tão evidente como no Algarve. Pela importância que o turismo tem na sua economia, o Algarve é particularmente dependente de boas ligações aéreas aos seus mercados. O Aeroporto de Faro pulsa ao mesmo ritmo da região, partilhando os seus ciclos, o seu dinamismo, mas também os seus dilemas e desafios. Não admira, pois, que entre a ANA e o Algarve se tenha há muito estabelecido uma colaboração próxima, na busca conjunta de novos caminhos que assegurem à região – e ao seu aeroporto – um desenvolvimento progressivo e sustentável. Alguns dos desafios do Algarve de hoje não são novos mas, no contexto económico que atravessamos, tornam-se especialmente atuais e exigentes. Um deles consiste em atenuar o peso da sazonalidade na economia regional. Outro, passa por fazer frente a uma concorrência cada vez mais ativa e diversificada, sem ceder à tentação fácil de baixar preços e diminuir a qualidade. Por fim, e talvez este englobe todos os outros, temos o desafio de definir para a região, sem a descaracterizar, uma vocação estratégica que tire verdadeiro partido dos seus imensos trunfos – desde logo as suas gentes, a natureza, a localização geográfica, a diversidade da oferta e as infraestruturas. Não lhe cabendo o protagonismo na condução de qualquer destes temas, a ANA nem por isso deixa de estar implicada em cada um deles. Seja diretamente, no trabalho permanente de captação de novas rotas, seja no apoio a iniciativas científicas, à proteção do

Alguns dos desafios do Algarve de hoje não são novos mas, no contexto económico que atravessamos, tornam-se especialmente atuais e exigentes. Um deles consiste em atenuar o peso da sazonalidade na economia regional. património natural ou a atividades culturais, seja no simples facto de acompanharmos, e aplaudirmos, o empreendedorismo de quem traz novas ideias, estamos sempre muito próximos de tudo o que faz o Algarve avançar. É uma montra desse Algarve dinâmico, inovador, virado para o futuro, que encontrará neste número da A Magazine. Espero que percorrer as suas páginas lhe saiba tão bem como desfrutar de uma tranquila tarde de verão neste nosso lugar ao sul.

Mário Lobo

Conselho de Administração da ANA

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_sumário

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André Jordan

em foco

Natureza, gastronomia e vinhos e cultura são as três frentes para onde o Algarve se está a virar para trazer turistas à região durante o ano inteiro. Praia e golfe continuam os segmentos fortes mas já não são suficientes. chegadas 10

10 Yes, I do

entrevidas 14 inovação 20

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insights

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FICH A T ÉCNIC A

Ver, ouvir e degustar Portugal PROPRIEDADE: ANA - Aeroportos de Portugal SA Rua D - Edifício 120 - Aeroporto de Lisboa 1700-008 Lisboa - Portugal Tel (+351) 218 413 500 - Fax: (+351) 218 404 231 amagazine@ana.pt DIRECÇÃO: Octávia Carrilho COORDENAÇÃO: Teresa do Vale Magalhães PROJECTO GRÁFICO E EDITORIAL: Hamlet - Comunicação de Marketing entre Empresas Rua Pinheiro Chagas nº17 - 4º 1050-174 Lisboa Tel 213 636 152 hamlet@hamlet.com.pt www.hamlet.com.pt REDACÇÃO: Cláudia Silveira EDIÇÃO: Cláudia Silveira e Jayme Kopke DESIGN: André Remédios e Manuel Caetano FOTOGRAFIA: Um Ponto Quatro Carlos Ramos e Paulo Andrade PUBLICIDADE: Hamlet - Comunicação de Marketing entre Empresas Rua Pinheiro Chagas nº17 - 4º 1050-174 Lisboa Tel 213 636 152 IMPRESSÃO: Projecção, Arte Grafica S.A. Parque Industrial da Abrunheira - Qta. Levi, 1 2710-089 Sintra PERIODICIDADE: Trimestral TIRAGEM: 7500 exemplares DEPÓSITO LEGAL: 273250/08 ISSN: 1646-9097

Que os aeroportos são espaços privilegiados para anunciar não é novidade. Agora um estudo da JCDecaux veio explicar porque os passageiros estão especialmente recetivos à publicidade nos aeroportos e disponíveis para se envolver com as marcas.

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ambientes

Há 6 anos que a ANA é mecenas exclusivo do Serviço Educativo do Teatro Municipal de Faro. O apoio tem permitido optar por novos formatos de programação e em novas formas de levar a experiência artística ao público. follow me 34

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partidas

Por ser tão “europeísta”, Bruxelas é pouco belga e a multiplicidade de culturas vai muito para além das 27 nacionalidades dos países da UE. A capital da Bélgica tem a sua própria vibração, feita de todos os povos que ali encontraram porto. lifestyle 42 aldeia global 46 passageiro frequente 50

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AIRPLAY_

BRINCAR, COMER, LEVANTAR VOO. Enquanto a hora da partida não chega, o Parque Infantil é o espaço ideal para brincar e preparar as refeições infantis. O aeroporto adapta-se a si_

Serviços adaptados a si_ Sala de Estar em Família_ Fraldários_ Carrinhos de bebé_ Parques Infantis_ Cacifos_ Mascote_ Livro Infantil_

Parques infantis disponíveis nos Aeroportos de Lisboa e Porto Novas localizações no Aeroporto de Lisboa: _Área restrita, na direcção das portas de embarque 7 a 14; _Área restrita non schengen, junto à porta de embarque 44. Para mais informações sobre serviços disponíveis para famílias consulte www.ana.pt 5


_em foco

ALGARVE

FORA DE ÉPOCA

O combate à sazonalidade é uma luta que o Algarve tem vindo a travar há já alguns anos. Com o objetivo de cativar os turistas durante todo o ano, a região de turismo aponta forte em três segmentos que complementam a já tradicional oferta de sol, mar e golfe. A natureza, a gastronomia e os vinhos e a cultura compõem o trio com que se espera chamar mais turistas fora da habitual época alta.

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estino turístico firmado e amadurecido, o Algarve sofre no entanto de uma síndrome que afeta outros destinos de sol e praia em todo o mundo: a sazonalidade. Basta analisar o tráfego do Aeroporto de Faro para perceber o acentuado pico que se concentra de junho a outubro. Enquanto no dia mais movimentado de inverno são cerca de seis mil os passageiros do aeroporto, no verão esse número é de 35 mil. Dito de outra forma, em apenas cinco meses processa-se mais de 85% do tráfego anual. Assim, para complementar os principais produtos do destino – com o Golfe a somarse aos já referidos Sol e Mar – atenuando a sazonalidade e oferecendo uma experiência alternativa de férias, o Turismo do Algarve tem apostado em três segmentos: o Turismo de Natureza (em várias vertentes), a Gastronomia e os Vinhos e também o Turismo Cultural,

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um produto ainda em desenvolvimento. Como refere Duarte Padinha, vice-presidente do organismo, “há um Algarve longe das multidões à espera de quem quer aproveitar o tempo quente entre natureza, monumentos, história e mesas com comida tradicional a condizer com paisagens à beira-mar”. O turismo de natureza gera 22 milhões de viagens internacionais por ano na Europa, representando já cerca de 9% das viagens de lazer realizadas pelos europeus. E o Algarve tem já condições para atrair a atenção destes turistas: dois parques naturais (o do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina e o da Ria Formosa), uma reserva natural (do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António) e muitas áreas naturais de interesse turístico (a Mata Nacional do Barão de São João, o Sítio das Fontes de Estômbar, a Rocha da Pena, a Fonte Férrea, a Fonte da Benémola e o Parque Ambiental de Vilamoura). Sobretudo nos últimos anos, o Algarve viu surgir percursos pedestres organizados, como a Via Algarviana ou a Rota Vicentina, e ecovias (a do Litoral, do Guadiana, da Costa Vicentina e do Interior) que permitem explorar dezenas de


© António Belchior

UM PASSE PARA O ALGARVE

quilómetros a pé ou de bicicleta na região, atravessando escarpas, dunas, serra e rio. Para potenciar toda esta oferta, o Turismo do Algarve editou publicações que assinalam os pontos de interesse para os visitantes, como o Guia de Percursos Pedestres ou mais recentemente o Guia de Turismo de Natureza do Algarve. Integrado neste produto está um nicho de relevo que, por isso, tem merecido destaque por parte desta entidade regional: o birdwatching. Estimam-se em cerca de 100 milhões os observadores de pássaros no

Este mês é lançado o Algarve Pass, um cartão dirigido a quem faz férias na região e que dá acesso a uma variedade de experiências, serviços e produtos com descontos especiais. Suportado por uma forte componente tecnológica, este projeto inovador resulta de uma iniciativa do Turismo do Algarve em parceria com a Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve e a empresa Processcard. O cartão dá acesso a roteiros pela região algarvia com oferta turística a preços convidativos, a serviços de saúde e segurança e a um call-center, disponível 24 horas por dia, para apoio em situações de emergência. Adquirido nos postos de turismo ou nos locais de revenda autorizados, o cartão permite que o turista e os parceiros monitorizem as transações feitas pela internet ou nas plataformas móveis. Toda a informação da experiência do turista fica armazenada, incluindo os pontos acumulados com o uso do cartão, que no final da visita podem ser trocados por produtos regionais. Reforçar a marca Algarve e incrementar as transações com as empresas locais são os objetivos do Algarve Pass, que terá três vertentes: lúdica e cultural, de segurança e financeira.

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_em foco

mundo, 2,4 milhões dos quais no Reino Unido. Para os entusiastas de ornitologia existe já uma publicação especializada no Algarve (o Guia de Observação de Aves) e todo um território preparado para a prática de observação de aves a olho nu ou com telescópio. De salientar que, ao nível do valor de biodiversidade, 40% do território algarvio está integrado na Rede Natura 2000, como Zona Especial de Proteção para Aves e como Sítio de Interesse para a Conservação. Além das áreas protegidas, a região dispõe ainda de zonas reconhecidas internacionalmente pela sua importância para aves, designadas “Important Bird Areas” (IBA). O Algarve tem 10 IBA identificadas: rio Guadiana, Castro Marim, ria Formosa, serra do Caldeirão, caniçal de Vilamoura, lagoa dos Salgados, serra de Monchique, costa Sudoeste, leixão da Gaivota e ponta da Piedade. Nestas zonas foram já observadas 386 espécies de aves, o que faz do Algarve a região do país com a maior diversidade de espécies contabilizada. Outro segmento que tem vindo a assumir um grande peso é o da Gastronomia e Vinho, que só na Europa já é motivo para cerca de 600 mil viagens internacionais por ano. A tradição regional na confeção de

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pratos típicos (como a cataplana ou o xarém) e a elevada qualidade dos produtos da região (o peixe, marisco, laranja, amêndoa, flor de sal, etc.) dão a este segmento um alto potencial. Além disto, convém não esquecer que é no Algarve que estão os únicos restaurantes com duas estrelas Michelin do país, o Vila Joya e o Ocean, e outros três com uma estrela. A região conta também com vários vinhos premiados: só no International Wine Challenge 2013 foram sete. Até o cantor Cliff Richard, um amante do Algarve de longa data, investiu na produção de vinho na região há alguns anos com o projeto da Adega do Cantor. Permitir que os turistas conheçam o património enológico e gastronómico do nosso território é um dos objetivos do Turismo do Algarve, que apoiou a candidatura da Dieta Mediterrânica a Património Imaterial da Humanidade e já editou o Livro de Cozinha Regional e o Guia de Vinhos do Algarve. Quanto ao Turismo Cultural, apesar de estar em fase de desenvolvimento no Algarve, muito já foi feito pela sua dinamização. A região de turismo tem boas razões para isso, já que este é um segmento que gera 44 milhões de viagens internacionais por ano

Outro segmento que tem vindo a assumir um grande peso é o da Gastronomia e Vinho, que só na Europa já é motivo para cerca de 600 mil viagens internacionais por ano. A tradição regional na confeção de pratos típicos (como a cataplana ou o xarém) e a elevada qualidade dos produtos da região (o peixe, marisco, laranja, amêndoa, flor de sal, etc.) dão a este segmento um alto potencial.


RENOVAR UM PASSE O PARA CORPO O ALGARVE PELA FORÇA DA MENTE

na Europa. Um projeto que merece destaque é o Descubriter – Rota Europeia dos Descobrimentos, que junta o Algarve à Andaluzia com o intuito de levar os turistas a navegar pela epopeia que envolveu as duas regiões entre os séculos XV e XVII. A iniciativa prevê a criação de um museu virtual dos Descobrimentos, jornadas sobre o papel dos portugueses e andaluzes nas expedições marítimas da época e passeios a bordo de uma réplica de embarcação histórica, a espanhola Nao Victoria. Com um investimento de cerca de 450 mil euros (cofinanciados a 75% pelo Programa Operativo de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013), esta rota turística pretende promover a cultura, a história e o património das navegações do território de onde partiram as expedições marítimas ibéricas.

Outros nichos de interesse turístico são os retiros de relaxamento e meditação, que estão disponíveis por toda a região algarvia e convidam ao repouso da mente e do espírito. Em Lagos, o spa de saúde natural Moinhos Velhos promove um método supervisionado de dieta líquida e um programa de desintoxicação que ajuda a renovar e a rejuvenescer o corpo. Na outra ponta, localizado na Fonte do Bispo, em Tavira, o Monte Mariposa define-se como um espaço comunitário de meditação. No coração da natureza, em plena serra algarvia, este centro é um local ideal para férias alternativas. Entre as muitas atividades que propõe destacam-se o reiki, meditação, yoga, tai chi e os workshops para crianças. Junto ao Parque Natural da Ria Formosa, em Almancil, a Quinta da Calma é um centro de yoga e terapia holística que invoca o puro relaxamento, oferece um variado leque de atividades para aqueles que procuram um espaço tranquilo, longe do stress. A quinta apresenta sugestões que vão do yoga integral e tai chi às terapias e tratamentos alternativos, incluindo acupuntura, leitura e harmonização dos chacras e da aura, hipnoterapia, entre outros.

O Sun Room do Monte da Mariposa, em Tavira. Em plena serra algarvia, este centro é um local de eleição para férias alternativas.

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Š Algarve Events

_chegadas


YES, I DO

São cada vez mais os casais estrangeiros que escolhem o Algarve para cenário do seu casamento. Bom clima, proximidade das principais capitais europeias, baixo custo na deslocação e qualidade nos serviços prestados são os principais trunfos que têm trazido estes casais a dar o sim a sul. Depois de ingleses e irlandeses, os russos e espanhóis podem ser os próximos a subir ao altar.

© YesIdo wedding photography

“V

ocês tratam dos voos, nós tratamos do resto”. É com esta promessa de simplicidade que a Algarve Events seduz os casais estrangeiros que sonham com um casamento fora de casa, ao sol se puder ser, e de preferência que não os obrigue a gastar o que têm e o que não têm. E o “resto”, sabe quem já passou por estas lides do casamento, não é pouco: igreja, papelada, fotógrafo, cabeleireiro, flores, música, catering, o bolo e mais uma série de coisas que não é preciso detalhar. A Algarve Events nasceu em 2005 depois da constatação de que havia poucas empresas de eventos sediadas no Algarve e que a maior parte dos eventos organizados ali eram feitos por empresas de outras partes de Portugal ou mesmo estrangeiras. Jorge Santos, diretor de Food & Beverage da Algarve Events, conta que já nessa altura começava a existir uma forte procura por parte de casais estrangeiros, que desejavam casar em Portugal e especialmente no Algarve. “A organização de um casamento é muitas vezes mais complicada que a organização de um evento corporativo, exigindo da parte do Event ou Wedding Planner uma grande dedicação e capacidade organizativa”, nota. Havia poucas opções de empresas que tivessem know how para ajudar estes casais a encontrar as soluções adequadas, ainda mais que era a primeira vez que muitos deles visitavam Portugal. A Algarve Events viu aí um nicho e resolveu investir. Atualmente os casamentos já representam cerca de 60% do negócio. O restante vem de festas privadas e eventos corporativos.

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Os cenários são variados, com praias de Tavira a Lagos, mas também montanhas e com diversos tipos de alojamento por onde escolher: de hotéis de 5 estrelas, a pequenos hotéis boutique ou quintas ao estilo do Mediterrâneo. diversos tipos de alojamento por onde escolher: de hotéis de 5 estrelas a pequenos hotéis boutique ou quintas ao estilo do Mediterrâneo. Esta oferta tem preenchido os requisitos de muitos casais que têm escolhido o sul de Portugal para dar o nó e que, nota Jorge Santos, procuram essencialmente uma experiência diferente da que teriam no seu país. “Naturalmente que o sol e o mar são importantes na escolha do nosso país mas também a relação preço/qualidade dos serviços que prestamos. A maior parte vem por uma semana trazendo consigo família e amigos, o que torna o casamento numa verdadeira festa”. Desde 2005 já realizaram centenas de casamentos e, apesar de todos serem especiais, alguns são mais memoráveis devido à organização que implicam. Jorge Santos recorda o de um casal irlandês com 200 convidados na Igreja de Estoi. “Durante a cerimónia tivemos de transformar a Praça da Igreja numa área de cocktail, para

© YesIdo wedding photography

© Algarve Events

Os noivos vêm sobretudo do Reino Unido e da Irlanda, onde a empresa se desloca regularmente para se encontrar com potenciais clientes. A publicidade online e em revistas e jornais tem sido outra forma encontrada para divulgar os serviços. “Tal como outras empresas nesta área, a Algarve Events faz um constante trabalho de promoção de Portugal, e em especial do Algarve, suportando inteiramente os custos destas ações”. E o que tem o Algarve para oferecer que não exista noutros locais? As vantagens são de várias ordens a começar desde logo na proximidade, a menos de três horas de voo do Reino Unido e da Irlanda, asseguradas por uma série de companhias low cost com ligações também a outros pontos da Europa. O clima é outro trunfo importante: se considerarmos que o Algarve tem três mil horas de sol por ano, as probabilidades de se ter um dia de festa luminoso são grandes. Os cenários são variados, com praias de Tavira a Lagos, mas também montanhas, e com

LEVAR O SONHO AO RESTO DO MUNDO O nome “Sonho a Dois” cai como uma luva nesta empresa que além de organizar casamentos é a materialização do sonho de duas mulheres que ficaram desempregadas mas não baixaram os braços. Noélia Jacinto e Carla Valentim trabalhavam numa agência de viagens em Faro que entretanto fechou. Pegando no que já sabiam e gostavam de fazer, que é organizar viagens para outros, decidiram arriscar num negócio próprio. A Sonho a Dois Algarve Weddings & Events está a funcionar há três anos e durante esse

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período já organizou cerca de 150 casamentos. Só para este ano a estimativa é de 75. Bom tempo, um dia menos formal, boa comida, uma boa relação qualidade/preço é o que, na opinião de Carla Valentim, leva estes casais a escolher o Algarve. Em muitos casos o evento é aproveitado e conciliado também com um período de férias. Embora a maior parte dos casais tenham vindo do Reino Unido e da Irlanda, as duas empreendedoras buscam negócio em toda a Europa através da presença em fóruns, na internet, revistas e do seu próprio site e página no Facebook. Quanto a novos mercados, as duas sonham alto: “o resto do mundo”.


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© Algarve Events

© Algarve Events

surpresa de todos os convidados. As restantes partes do casamento foram realizadas numa vila na Quinta do Lago, tendo sido usado o espaço de jardim e piscina para criar diferentes espaços para o cocktail, jantar e festa”. Muitos dias de trabalho por parte da equipa e de todos os fornecedores permitiu que os noivos e os seus convidados tivessem um dia de sonho. Depois dos ingleses e irlandeses, a empresa está agora de olho no amor dos russos e espanhóis. A tradução do site para os dois idiomas já está tratada mas sempre surgem entraves que é preciso resolver, sobretudo no caso dos russos. “A dificuldade deste mercado neste momento é a inexistência de voos diretos para o Algarve e a dificuldade na obtenção de vistos. Segundo informação de clientes, na Rússia é bastante mais fácil conseguir vistos para ir a Espanha do que a Portugal”.

Com o calendário deste ano bastante preenchido – semelhante aos dos últimos 3, 4 anos – Jorge Santos espera que o próximo ano seja melhor. E espera também continuar a fazer casais felizes, como até aqui. E basta consultar o guest book no site da empresa para constatar que já são muitos os noivos que tiveram no Algarve o seu casamento de sonho. Foi o caso de Jo e Mick, de Cork, na Irlanda: “Muito obrigado mais uma vez pela vossa ajuda com o nosso casamento. Não poderíamos tê-lo feito sem vocês. Todos os nossos convidados ficaram deslumbrados com todos os aspetos, que era exatamente o que nós queríamos. Foi definitivamente o melhor dia de nossas vidas :)”.

Todos os anos centenas de estrangeiros escolhem o Algarve para casar. Um nicho turístico que movimenta muitos fornecedores e já tem um peso relevante na economia da região.

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_entrevidas

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O HOMEM QUE INVENTOU

O ALGARVE Nasceu polaco, cresceu brasileiro e amadureceu português. Pelo caminho André Jordan viveu noutras partes do mundo. A chegar aos 80 anos, o empresário que inventou o Algarve de cinco estrelas diz que a região vive uma situação vil em termos de preços da hotelaria e corre o risco de perder a clientela de qualidade. Continua a trabalhar e, sobretudo, a pensar. Nos últimos tempos reaproximou-se das origens e em breve poderá fazer as pazes com a Polónia.

O

seu nome surge invariavelmente associado à Quinta do Lago, a Vilamoura, ao golfe no Algarve. Foi, no entanto, no Country Club do Belas Clube de Campo, de que também é promotor, que nos recebeu e que falou connosco durante cerca de duas horas, com uma água tónica para refrescar a boca entre uma história e outra. Cidadão do mundo e conversador nato, André Jordan discorreu, no cantado sotaque brasileiro pontuado de termos portugueses de Portugal, por episódios que envolvem Salazar, Otelo Saraiva de Carvalho, o presidente americano John Kennedy, o ex-presidente polaco Lech Walesa e os meandros da política internacional no tempo da Cortina de Ferro. Mas a sua história começou muito antes, quando o mundo não estava ainda dividido em dois blocos. A família paterna era oriunda do leste da Polónia e o avô estava ligado à indústria do petróleo. O outro avô era um respeitado comerciante de tecidos ingleses em Varsóvia. Andrzej Franciszek Siptman Jordan nasceu na cidade polaca de Lwow – que hoje é Ucrânia e se chama Lviv –, no mesmo ano em que Hitler subiu ao poder, 1933. Quando o exército alemão invadiu a Polónia, em 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial, a família judaica pôs-se em fuga (até hoje André não voltou à Polónia). Roménia, Veneza, Roma, passam por Paris até que chegam a Lisboa. Daí, o Brasil pareceu o destino mais certo, onde chegam em 1940. Depois do divórcio dos pais foi viver com a mãe em Nova Iorque, onde estudou num colégio interno, e regressa ao Brasil para ingressar no jornalismo e na boémia da época. Sobre esse período fez um livro – “O Rio que passou na minha vida” – uma espécie de memória dos anos 50, os anos de ouro do Rio de Janeiro. “O Brasil era o Rio de Janeiro e a elite brasileira eram 10 mil pessoas. Do Amazonas ao Rio Grande do Sul todos os empresários e políticos tinham casa no Rio, era ali que estava o dinheiro. Em 6 ou 7 quadras, entre o Hotel Copacabana Palace e a Praça Mauá, o Brasil se encontrava. Achei que essa visão que eu vivi íntima e intensamente, apesar de ser muito jovem, merecia ser contada”.

Apesar de muito novo, André Jordan viveu intensamente os anos da boémia do Rio de Janeiro. Na altura trabalhava como jornalista.

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Foi jornalista até 1967 e, nesse mesmo ano, a morte inesperada do pai (aos 61 anos) levou-o a interessar-se mais a sério pelos negócios paternos, empreendimentos imobiliários no Brasil, Argentina, Venezuela, França e Portugal. Foi surpreendido no Brasil por um cartão de condolências vindo de Portugal cujo remetente era nada menos que o próprio presidente do Conselho, Oliveira Salazar. “Era um cartão daqueles grandes, escrito dos dois lados, com uma letra quase impossível de ler. Mesmo com lente de aumento, aquilo levou muito tempo para decifrar”. A mensagem tinha uma razão de ser. O pai era um homem de direita, ligado aos movimentos da libertação da Cortina de Ferro, e tinha um sócio, um príncipe polaco (Stanislaw Albrecht Radziwi), que era cunhado do presidente Kennedy (casado com a irmã mais nova de Jacqueline). “Eles fizeram um trabalho junto da Casa Branca no sentido de atenuar a pressão americana sobre a libertação de África. Veio cá um subsecretário de Estado em missão secreta e visitou Angola, Moçambique, etc. E, apesar de os americanos manterem oficialmente uma posição muito severa em relação às colónias, na prática, aquilo atenuou um pouco. O Dr. Salazar ficou muito agradecido ao meu pai por essa colaboração muito difícil”. Mais tarde André veio a Portugal para liquidar os interesses do pai e foi recebido em audiência por Salazar, que resumidamente lhe disse que “o seu pai foi um grande amigo de Portugal e nós estamos aqui à sua disposição, conte com o nosso apoio”. André Jordan, no entanto, tinha dúvidas quanto à longevidade do regime. “Mas um dia estava em Paris, a trabalhar como consultor, quando vi no Figaro um anúncio do Concurso para o Casino de Vilamoura. Eu pensei, hum, Portugal está a mexer”. Ligou para João Caetano, filho de Marcelo Caetano e arquiteto, que tinha colaborado com um empreendimento do seu pai e de quem tinha ficado amigo. Este desafiou-o a vir e ele veio. Reunia-se regularmente com um grupo de rapazes das famílias ligadas ao regime para almoçar. E aos seus argumentos sobre a eminente queda do regime, o outro descansava-o: “’Não, o meu pai vai fazer a independência de África, aqui vai haver abertura, vai haver eleições’… Foi dessa maneira que eu decidi vir, tinha a ideia de fazer um projeto…”. O resto é história conhecida. Comprou o terreno, começou o empreendimento e, entretanto, o regime caiu mesmo. “Eu estava sempre à espera que isso acontecesse. Vivi no Brasil e na Argentina situações desse género, de revoluções, revoltas militares, golpes de estado”. Os efeitos da revolução não foram imediatos. O Algarve era naquela altura longe de Lisboa e o que lá chegou foram apenas uns ecos e uns jovens que apareceram uma vez no golfe da Quinta do Lago com enxadas e a intenção de transformar aquilo num campo de cultivo.

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“O Rio que passou na minha vida” é um dos 6 livros que já publicou. É uma espécie de memória dos anos 50, os anos de ouro do Rio de Janeiro.

A 1 de novembro ainda conta com Otelo Saraiva de Carvalho para a inauguração do campo de golfe – “uma história em que fiquei mal com a esquerda e com a direita” – mas a empresa, a Planal, que detinha a Quinta do Lago, acabou por ficar sob intervenção estatal entre 1975 e 1980. “Fomos desalojados da administração de uma maneira muito curiosa. A Comissão de Trabalhadores assumiu a administração mas os bancos – cujas comissões de trabalhadores tinham forçado isso – não reconheciam as assinaturas e eu (e a administração) passei uma procuração à comissão de trabalhadores para poder pagar os ordenados”. Foi para o Brasil e só voltou em 1981. Em 1987 vendeu a empresa a um consórcio inglês. Quase a fazer 80 anos, e apesar de há já meia dúzia de anos ter deixado a presidência do Conselho de Administração da Planbelas – a empresa que desenvolve o Belas Clube de Campo – para o filho mais velho, Gilberto Jordan, nem por isso trabalha menos. Neste momento o que lhe consome mais energia são os contactos com potenciais investidores para a chamada segunda fase de Belas, que obteve luz verde exatamente quando a crise assomou. “Nós não temos produto acabado, neste momento, para vender. Quem vem conversar connosco são aqueles promotores que estão a estudar fazer empreendimentos para os seus mercados”. Pensar em estratégias para as dificuldades que surgem é algo


_entrevidas que sempre se habituou a fazer. “Se você faz isso, dá resultado”, garante. Tendo em conta o sucesso dos projetos que promoveu, não há como duvidar. Conotado com o turismo de luxo no Algarve, André Jordan diz, no entanto, que esse é um termo que tem evitado. “É uma palavra muito abusada porque toda a gente acha que o seu produto é um produto de luxo”. Prefere, por isso, falar em qualidade e gosta do exemplo das torneiras douradas, que não significam necessariamente qualidade ou luxo. “Há até uma coisa muito curiosa, quanto mais sofisticado é o cliente, menos exigente é: ele quer bom ambiente, boa comida, tranquilidade, conforto, não está preocupado com muita diversão, animação, muito luxo. Ele prefere conforto e qualidade ao luxo”. Esse foi o mote da Quinta do Lago onde, ainda hoje, a sobriedade e a discrição se sobrepõem ao tamanho das casas ou aos modelos dos carros estacionados à porta. “Houve um cliente inglês que resolveu trazer o seu Rolls Royce, achou que ia causar impacto. Só conduziu um dia, percebeu logo que não caía bem, guardou o carro na garagem e levou de volta para Inglaterra”. Uma discrição que agrada a presidentes de bancos, detentores de cargos públicos e atletas famosos, que ali têm casa.

A interpretação internacional que deram ao estilo português é o que, na sua opinião, garantiu o sucesso da Quinta do Lago ao longo dos anos. “Eu acho que o que nós temos é extremamente vendável a um determinado segmento. Não nos podemos querer transformar no Dubai ou em Las Vegas, ou mesmo em Ibiza. As tentativas que houve aí de um ministro da Economia de querer transformar o Algarve numa Ibiza foram uma coisa patética. Esse não é o nosso estilo”. O perigo agora, diz André Jordan, é perder a clientela de maior poder aquisitivo, em todas as áreas, incluindo no golfe. “Há um rebaixamento de categoria do Algarve. Há preços vis do ponto de vista económico ou até financeiro: os hotéis de 4 estrelas novos vendem a noite a 30 euros com pequeno-almoço incluído e os de 5 estrelas vendem a 80, 100, 120. Há uns que conseguem preços mais altos, que têm uma política de manter os preços mais altos ainda que tenham menos ocupação, porque assim têm menos prejuízo”.

Neste momento o que lhe consome mais energia são os contactos com potenciais investidores para a chamada segunda fase de Belas, que obteve luz verde exatamente quando a crise assomou. “Nós não temos produto acabado, neste momento, para vender. Quem vem conversar connosco são promotores que estão a estudar fazer empreendimentos para os seus mercados”.

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Apesar de a situação poder ser atribuída à crise, não descarta a falta de uma estratégia, seja da parte do Estado seja dos privados, para defender a situação. E as medidas que vão surgindo não o convencem: “Cada vez que vem um Secretário de Estado novo diz ‘agora temos que diversificar: o turismo religioso, o turismo dos pássaros, o turismo da pesca e mergulho…’. Não tenho nada contra tudo isso mas não vai ter volumes que compensem os investimentos, são atividades complementares. Porque é que nós não temos uma rota de vinhos do Douro, do Dão, do Alentejo? As pessoas vão, ficam nas pousadas, ficam nas adegas… Isso existe mas de uma maneira pouco estruturada e não há uma oferta no exterior”. Acusa também a falta de uma pesquisa para saber como abordar determinados mercados numa altura em que o país precisa de se libertar de milhares de fogos construídos. “Se por um lado os empresários se habituaram a depender do Estado, por outro o Estado sempre preferiu que os empresários não tivessem iniciativas. Porque assim eles mandam, têm poder, ou têm a ilusão do poder...”. Sobre a velha questão de os apartamentos fazerem concorrência aos hotéis, diz que é uma falsa questão que resulta da falta de cultura empresarial do setor hoteleiro algarvio. “Vale do Lobo, Pine Cliffs, Quinta do Lago, esses empreendimentos que combinam os dois elementos foram os mais bem sucedidos no passado e são os que têm mais possibilidade no futuro. Mas eu não quero ser apenas mais um a dar palpite. As minhas opiniões são fruto de um contacto longo e profundo com os mercados”, diz.

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A visão e o carácter inovador dos seus projetos têm sido unanimemente reconhecidos. Quando abriu o golfe na Quinta do Lago não existia propriamente um turismo de golfe, os campos que já existiam – Penina, Vilamoura e Vale de Lobo – foram feitos para servir o imobiliário e a hotelaria. Os preços eram baixos e recorda que, em Londres, quando respondia a um motorista de táxi que era de Portugal, obteve como resposta um surpreendente “I’ve just played golf at Vilamoura”. Foi a sua decisão de dobrar o preço cobrado na Quinta do Lago, por entender que o golfe não deveria subsidiar os hotéis mas o inverso, que criou o negócio do golfe. “Ninguém tinha pensado no golfe como um negócio”. Passados mais de 30 anos reconhece que o golfe passou a ser rentável operacionalmente, entre despesa e receita, mas se for amortizar o investimento do terreno, “nenhum golfe jamais deu dinheiro em Portugal nem em lugar nenhum do mundo”. A mesma visão que já tinha tido quando adquiriu (com condições muito favoráveis) a propriedade de 550 hectares onde ergueu a Quinta do Lago. O terreno, do empresário Pinto Magalhães, estava à venda há muitos anos mas não era atraente para os empresários da altura, que entendiam o

Quando abriu o golfe na Quinta do Lago não existia propriamente um turismo de golfe, os campos que já existiam – Penina, Vilamoura e Vale de Lobo – foram feitos para servir o imobiliário e a hotelaria. Os preços eram baixos e recorda que, em Londres, quando respondia a um motorista de táxi que era de Portugal, obteve como resposta um surpreendente “I’ve just played golf at Vilamoura”.


_entrevidas

negócio imobiliário baseado na densidade da construção. “Eu queria era metros para vender e não metros para construir. Se eu tenho um lote de 2500m2 e só tenho uma casa de 300 ou 400 esse é que é melhor negócio porque eu vendo terreno sem ter que o construir”. André Jordan convive bem com o que à primeira vista podem parecer dualidades. É assim com a cidadania brasileira e portuguesa (tornou-se português há 16 anos quando o Brasil passou a reconhecer a dupla nacionalidade) e com a religião católica, onde foi criado, e a judaica. “Só vim a descobrir a minha ligação emocional e cultural com o judaísmo com a Guerra dos 6 Dias. Estava a viver em Buenos Aires e estava numa sala de espera de um escritório e havia ali uns empregados a ouvir rádio quando uma funcionária diz: ‘Israel está a ser dizimado’. Eu comecei a chorar convulsivamente. A minha origem judaica, reprimida durante tantos anos, veio à tona assim de repente”. No currículo André Jordan leva inúmeras distinções e condecorações, em Portugal e no

As condecorações e distinções que recebeu são já muitas. Em 2011 foi distinguido pela Universidade do Algarve com um doutoramento honoris causa, pela sua originalidade como agente de inovação e como empreendedor.

Brasil, e uma comprida lista de cargos que ainda ocupa, como a presidência do Comité de Governance do World Travel Tourism Council. Homem de cultura (é membro do Conselho do Museu de Serralves e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e sócio honorário do Museu de Arte São Paulo) elege as cidades pelo número de orquestras sinfónicas que têm (ganha Londres com 5 embora Amsterdão, com apenas 2, tenha a que considera a melhor do mundo, a Concertgebouw). “É um paradoxo que esses povos frios tenham tão boa música. Acho que eles superam as suas limitações emocionais através da música”. Nas andanças pelo mundo sempre passou ao lado da Polónia. Porque estava ligada ao Holocausto e ao desaparecimento da família (à exceção da família direta e mais meia dúzia que sobreviveram e que o pai resgatou para o Brasil depois da Guerra, morreram todos). Mas já este ano, estava no Gigi, na Quinta do Lago, a saborear o primeiro robalo da temporada, quando aparece o Lech Walesa, que, estando em Portugal para as Conferências do Estoril, resolveu ir até ao Algarve. Jordan dirigiuse-lhe em polaco (uma das 6 línguas que fala) e conversaram. Depois disso foi convidado pelo embaixador para um espetáculo de celebração do Dia Nacional da Polónia no CCB e aos poucos está a reaproximar-se das raízes. “De repente, a Polónia apareceu na minha vida”. Quando as viagens já são reduzidas ao estritamente necessário, essa é uma que ainda lhe falta fazer.

A ponte de madeira sobre a Ria que leva à praia da Quinta do Lago, também conhecida como praia do Gigi.

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_inovação

CONTROLAR PARA PREVENIR A ANA faz parte da equipa que está a desenvolver uma solução tecnológica que permita aos gestores de espaços públicos, como aeroportos, hospitais ou centros comerciais conhecer o estado de ocupação e utilização das instalações a cada momento. O Smart_ER deverá permitir prever e atuar proativamente de modo a evitar situações críticas.

A etiqueta RFID contém chips de silício e antenas que lhe permite responder aos sinais de rádio enviados por uma base transmissora.

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G

arantir a segurança de pessoas e bens continua a ser um dos grandes desafios dos nossos dias, em todo o mundo. Apesar dos grandes avanços da tecnologia, as soluções que existem ainda não são plenamente satisfatórias por exigirem um grande esforço na leitura e perceção do que está a ocorrer no espaço vigiado e também na articulação entre as diferentes equipas de segurança. A procura de soluções que permitam a monitorização e o alerta automáticos com um nível de fiabilidade elevado, bem como a monitorização e análise contínua de movimentos suspeitos em zonas específicas, continua a estimular os investigadores. O desafio é criar mecanismos inteligentes e automáticos que alertem os utilizadores destes sistemas (os gestores de segurança) sobre quando e para onde olhar e, principalmente, que os levem a intervir antes de os eventos se tornarem críticos ou mesmo antes de acontecerem. A vigilância e monitorização de padrões de movimento tem especial interesse (e utilidade) em infraestruturas com grande densidade de pessoas em trânsito, como é o caso de aeroportos, estações ferroviárias, hospitais, centros comerciais, etc. Ao detetar nesta área um potencial de inovação ainda pouco explorado, a ANA juntouse a três outras entidades – a Thales Portugal, o INOV e o ISEL – para juntas desenvolverem uma nova solução de monitorização que, agregando um conjunto diversificado mas complementar de sensores, tecnologias e funcionalidades, disponibilizará uma solução inteligente para apoiar o processo de decisão face a situações anómalas ou de emergência. Assim surgiu o projeto Smart_ER -Sistema de Gestão e Monitorização com Orquestração, Aprendizagem e Registo de Eventos em Tempo Real, que foi submetido com sucesso a financiamento no âmbito do QREN. O projeto teve início em setembro 2011, tem uma duração de 33 meses e, dado o seu carácter inovador, é candidato ao Programa Europeu de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico EUREKA.


Tendo como ponto de partida o espaço de um aeroporto, os parceiros do projeto propuseram-se a desenvolver um conceito inovador em que, através de um conjunto heterogéneo de sensores (câmaras, leitores RFID ou leitores Bluetooth), se consegue saber (ou estimar) em tempo real a localização dos diversos ocupantes desse local. Esta informação é extremamente útil para atividades de gestão, operação e segurança de espaços ou infraestruturas, uma vez que com base nessa informação é não só

possível localizar alguém em caso de necessidade como também pesquisar percursos individuais, identificar padrões de movimentação ou ocupação do espaço ou ainda, em casos extremos, identificar desvios ao que é considerado normal. A solução poderá tanto aplicar-se a situações de segurança como à gestão de áreas comerciais para fins de marketing. Este conceito não permite a identificação dos ocupantes dos espaços, apenas a sua localização individual, não estando por isso em causa os direitos de privacidade do indivíduo.

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_insights

PORQUE AS MARCAS GOSTAM DE AEROPORTOS Um estudo global feito pela JCDecaux mostra que os passageiros estão especialmente recetivos à publicidade e esperam encontrar novas tecnologias nos aeroportos. Em Portugal, a exemplo do que tem sido feito noutros países, a nova estratégia comercial passa por uma maior segmentação da oferta e de uma crescente integração de suportes digitais nos aeroportos.

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e um modo universal o aeroporto é uma experiência única para os passageiros, representando um local de descoberta, lazer, compras, que respira modernidade, cosmopolitismo e inovação. Estes são alguns dos factos constatados pelo “Airport Stories World”, um estudo feito a nível mundial pela JCDecaux. A JCDecaux Airport é hoje o parceiro publicitário escolhido por 152 aeroportos em 18 países de todo o mundo e conta com mais de 38.000 equipamentos publicitários. Em Portugal tem a concessão da exploração publicitária em 8 aeroportos. O estudo teve como objetivo perceber como os passageiros vivem a “experiência aeroporto” e compreender o papel da publicidade na criação de valor para as marcas num contexto aeroportuário, onde os canais de comunicação são múltiplos, desde os grandes formatos aos dispositivos digitais.

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Globalmente os aeroportos tendem a provocar fortes emoções e a produzir experiências. É um local único, onde os passageiros estão excecionalmente recetivos a mensagens publicitárias e disponíveis para se envolver e interagir com as marcas. É, por isso, uma localização privilegiada para os anunciantes, como comprova o estudo da JCDecaux. A publicidade é vista como parte integrante dos aeroportos, sendo que 85% dos passageiros frequentes gostam da publicidade em aeroportos e esperam

de formatos, a flexibilidade das mensagens e a possibilidade de interação são os pontos fortes dos formatos digitais, reconhecidos por 65% dos passageiros. O estudo revelou que 78% dos inquiridos gostam de passear pelas lojas, 65% estão disponíveis para comprar, 48% exploram

A utilização de suportes de publicidade nos aeroportos é um aceler ador das estr atégias de comunic ação de diferentes marc as. E existir á melhor momento par a comunic ar do que em momentos de tr anquilidade e felicidade? ver e contatar com novas tecnologias, até porque cerca de 80% permanecem no aeroporto entre 2 a 3 horas até embarcarem. Em Portugal, a nova estratégia comercial passa por uma maior segmentação da oferta e por uma crescente integração de suportes digitais nos aeroportos, a exemplo do que tem sido desenvolvido com sucesso noutros países. O grande impacto visual, a variedade

exposições e stands e 68% gostam de relaxar. Para a grande maioria dos passageiros, o aeroporto é gerador de sentimentos positivos e muitos revelaram que “as férias começam no momento em que entram no aeroporto” e “fico feliz, estou no aeroporto para partir para um novo local”. A utilização de suportes de publicidade nos aeroportos é um acelerador das estratégias de comunicação de diferentes marcas. E existirá melhor momento para comunicar do que em momentos de tranquilidade e felicidade? As marcas sabem disso e por todo o mundo marcas globais comunicam nos aeroportos, associando-se a momentos de emoções positivas, compras e experiências.

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TAP USA AEROPORTO DE BEJA PARA MANUTENÇÃO O Aeroporto de Beja já recebeu aviões da TAP Manutenção e Engenharia que ali vão realizando operações de manutenção. Este poderá vir a ser um dos grandes vetores de desenvolvimento do aeroporto alentejano, aproveitando a falta de espaço que existe em Lisboa.

A

TAP Manutenção e Engenharia já está a utilizar o Aeroporto de Beja para estacionar aviões de clientes seus e aí proceder a intervenções de preservação ou manutenção. Esta operação vai decorrer ao abrigo do acordo celebrado em 2011 entre a ANA e a unidade de manutenção e engenharia da transportadora aérea nacional, que tem a sua base principal em Lisboa e emprega cerca de 4000 técnicos. O primeiro avião, um Airbus 330 de um cliente da TAP, aterrou em finais de abril para receber trabalhos de manutenção durante um prazo que não será inferior a 2 meses. Outros aviões são esperados. O acordo entre a ANA e a TAP prevê o aluguer, pela TAP Manutenção e Engenharia, de espaços para parqueamento de aeronaves no aeroporto de Beja, onde serão alvo de preservação ou manutenção. Enquanto a manutenção engloba as atividades de inspeção, revisão, reparação, limpeza, conservação ou substituição de partes de uma aeronave e dos seus componentes, já a

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preservação prevê intervenções mais simples, tal como a substituição de pequenas partes padronizadas que não envolvam operações complexas de montagem e desmontagem. O estacionamento das aeronaves em Beja acontecerá sempre que não haja espaço disponível na base operacional da TAP em Lisboa. “A falta de espaço ocorre em todos os aeroportos a nível mundial”, disse Pedro Beja Neves, diretor do Aeroporto de Beja, referindo que “a ANA tem que otimizar a rede de aeroportos que tem em Portugal na procura das melhores soluções para os seus clientes”. De acordo com Pedro Beja Neves, os espaços irão “funcionar como áreas de apoio nas ações de manutenção de linha similares às efetuadas em escala, à chegada e antes da partida dos voos e nos trabalhos de preservação, necessários sempre que uma aeronave esteja sujeita a uma imobilização prolongada”. O diretor do aeroporto disse também estar convicto de que a indústria aeronáutica “pode vir a ser um grande vetor de desenvolvimento” do Aeroporto de Beja, sendo o início destas operações da TAP Manutenção e Engenharia prova disso mesmo.


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_insights

MEDIR PARA

POUPAR ÁGUA 0,800 0,700 0,600 0,500 0,400 0,300 0,200 0,100 0,000 ALS

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AFR

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ANA

A Pegada Hídrica por aeroporto em 2011, medida em m3

O

s Aeroportos de Lisboa e Porto juntos são responsáveis por quase 85% da Pegada Hídrica global da ANA. Esta foi uma das conclusões do relatório sobre a Pegada Hídrica da ANA em 2011. O standard definido para o cálculo foi o do Water Footprint Network, que foi adaptado para a realidade aeroportuária pela primeira vez, a nível mundial, pela ANA. A quantificação da Pegada Hídrica implicou um exaustivo levantamento e tratamento de dados quer dos aeroportos e direções centrais, quer das bacias hidrográficas afetadas. O estudo permitiu concluir que a pegada hídrica operacional direta da ANA (não incluindo terceiros) se cifrou, em 2011, em 13 672 80 m3 Analisada a Pegada Hídrica de cada aeroporto por Unidade de Tráfego, conclui-se que em 2011

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Porque a água é um bem escasso, o novo projeto da ANA na área do ambiente tem como objetivo a eficiência e redução do seu consumo. Trata-se da medição da Pegada Hídrica dos aeroportos de acordo com o standard do Water Footprint Network. É a primeira vez que este levantamento é feito no sector aeroportuário em todo o mundo. a menor eficiência no uso da água se verificou no aeroporto de Santa Maria e no Terminal Civil de Beja. Esta prestação explicase, no caso de Santa Maria, porque até meados desse ano o aeroporto abasteceu o conjunto habitacional contíguo, sem que estivesse ainda instalado um contador para separar esse consumo do da ANA. Já em Beja, que abriu à aviação civil em Abril, verificou-se uma rutura no sistema de abastecimento de água que apenas foi corrigida mais tarde. A ANA decidiu implementar o projeto da Pegada Hídrica – cujo funcionamento é muito semelhante ao da Gestão Voluntária de Carbono e de Eficiência Energética, que mede a pegada de carbono e o consumo energético – por considerar que tem uma responsabilidade empresarial em relação à crescente escassez deste recurso. Medir a Pegada Hídrica é mais um passo para assegurar que as atividades da empresa fazem um uso eficiente da água. Entre os objetivos do projeto contam-se a criação de metas mensuráveis de consumo e a implementação de um Plano de Eficiência e Redução dos Consumos de Água. O objetivo último é a melhoria contínua deste impacte ambiental, através da monitorização dos resultados e de ajustes às estratégias definidas. Coordenado pela Direção dos Serviços Técnicos, o projeto conta com um grupo de trabalho alargado com representantes dos aeroportos e das direções consumidoras de água.


_insights

SEM INTERRUPÇÕES O Plano de Continuidade de Negócio do Aeroporto de Faro é um plano de resposta a um evento que possa interromper a atividade ou o negócio. O seu objetivo é garantir o recomeço atempado das atividades críticas, assegurando os recursos chave no decurso da situação de crise e na normalização da operação aeroportuária.

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ownburst. É este o nome atribuído ao fenómeno meteorológico (ventos fortes superiores a 150 km) que na madrugada de 24 outubro de 2011 atingiu o Aeroporto de Faro, destruindo cerca de 30% da cobertura do terminal de passageiros e danificando edifícios, equipamentos e infraestruturas. Os aeroportos estão bastante bem preparados para emergências relacionadas com aeronaves. O Plano de Emergência do Aeroporto elenca um conjunto de procedimentos, de acordo com o acidente ou incidente tipificados, que constituem a resposta inicial, de proteção de pessoas e bens. Mas não são só emergências com aeronaves que podem originar uma interrupção na operação aeroportuária. Existem muitas outras ameaças – ocasionadas por pessoas, desastres naturais, sistemas TIC, prestadores de serviços internos e externos, fornecimentos – que podem ter a mesma consequência. O Plano de Continuidade de Negócio constituiu o plano de resposta a uma interrupção originada por qualquer uma destas ameaças. O conceito de disrupção tem assim associado uma dimensão de tempo, bem como uma dimensão de impacto no negócio, explica Pedro Bettencourt, Chefe da Divisão Operacional do Aeroporto de Faro. “A continuidade acrescenta valor ao ter preparada uma resposta imediata e a recuperação, minimizando o tempo de interrupção e o impacto no negócio aeroportuário”. Naquele dia de 2011, as medidas tomadas permitiram que, passadas apenas quatro horas, descolasse o primeiro avião. No entanto, foram medidas que não estavam previamente determinadas para garantir a continuidade e a recuperação do negócio. Um bom exemplo será questionarmo-nos: o que é preciso para efetuar o check-in? E se houver uma inundação ou um incêndio que impossibilite a utilização dos balcões de check-in? Qual a alternativa? E as bagagens, como chegam ao Sistema de Tratamento de Bagagem? Um plano de continuidade deve dar respostas a estas interrogações e ter pensadas e programadas as tarefas que conduzirão a alternativas, num período de tempo máximo. Um exemplo de resposta será poder instalar 10 balcões, ainda que com processamento manual. Em 2011 Pedro Bettencourt obteve no Business Continuity Institute, em Inglaterra, a certificação em continuidade, que lhe conferiu o know how para (em conjunto com o grupo de continuidade de negócio formado em 2007) delinear um Plano de Continuidade de Negócio para o Aeroporto de Faro. Identificadas as ameaças (vulcões, greves, pandemias, falhas de sistemas, hackers, ameaças variadas, etc.) e feita a análise de risco e o impacto no negócio, estipularam-se os procedimentos necessários para operar em situação de crise, com vista à reposição da normalidade.

O Plano de Continuidade do Negócio do Aeroporto de Faro prevê cenários alternativos para uma série de situações de emergência.

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_ambientes

CARTA BRANCA

À COMUNIDADE A comunidade é a ideia que agrega as propostas de programação do Teatro Municipal de Faro, de cujo Serviço Educativo a ANA é mecenas há quase 6 anos. Durante este período foi desenvolvida uma atividade bastante abrangente e heterogénea, ao nível quer dos projetos, quer do público a quem se dirigem.

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metros cúbicos, ou um cubo de 3 metros x 3 metros x 3 metros, é o espaço disponibilizado no foyer do Teatro das Figuras, a sala do Teatro Municipal de Faro, para ser ocupado - sem qualquer restrição - pela criatividade de jovens artistas visuais da região. Este é um dos projetos âncora delineados pelo Serviço Educativo do Teatro Municipal de Faro (TMF), que nos últimos anos tem apostado em novos formatos de programar e em novas formas de levar a experiência artística ao público. Como explica João Carrolo, do departamento de Programação do TMF, desde 2011 que se tem procurado ligar a programação do Serviço Educativo com a restante programação do teatro de “uma forma mais orgânica, mais cúmplice com o público e mais próxima da comunidade que os rodeia”. Foi deste modo que a ideia de “comunidade” surgiu como o conceito agregador das propostas de programação. Face a esta nova orientação, o Serviço Educativo, pivô da atividade destinada à comunidade e do qual a ANA é mecenas exclusivo, tem optado por propostas que abordem diretamente o tema da comunidade ou que reflitam questões associadas à partilha dum território ou espaço. Outras propostas podem também extrapolar as paredes do teatro, indo ao encontro das comunidades que o rodeiam e propondo desafios. “É um exercício de exploração e

reflexão sobre ‘nós’ e os ‘outros’, um olhar ao espelho e uma mão estendida que convida à descoberta”, diz João Carrolo. É essa a filosofia por trás do projeto Vaivém, que leva a programação do TMF a diferentes espaços da cidade e do concelho onde as artes de palco normalmente não chegam. “É um formato que esperamos de continuidade e que permitirá um esbatimento cada vez maior das fronteiras físicas do Teatro Municipal de Faro e uma contaminação, no melhor sentido da palavra, da cidade e região pelas artes e o que gravita em seu redor”. Outro projeto do Serviço Educativo que vale a pena destacar é o Carta Branca, que aposta na abertura à comunidade, abrindo a conceção da sua própria atividade a habitantes de Faro com quem colabora de forma muito estreita. Na prática, a cada quadrimestre um profissional ligado à programação cultural da cidade é chamado para apresentar um projeto na programação do TMF, para o qual tem carta branca. O Teatro Municipal de Faro foi criado em 2005 e desde a fase de projeto que contemplava a existência de um departamento que focasse a sua atividade na relação das artes performativas com a educação e formação. Entre 2008 e 2010, o primeiro triénio em que o departamento de Serviço Educativo recebeu o apoio da ANA, o número de sessões oferecidas ao público situou-se entre as 60-70, ascendendo a um total de 42 mil espetadores. As atividades promovidas abrangem não apenas o público escolar (com apresentações dirigidas às diferentes faixas etárias, 0-3, 3-6, 6-10 e 10-16), como também as famílias e o público sénior (que participa através de instituições de apoio à terceira idade). Com três principais eixos de atividade (espetáculos, promoção de atividades formativas e projetos de participação comunitária), o Serviço Educativo contempla uma variedade de disciplinas artísticas que passam pelo teatro, música, dança, artes visuais, literatura e artes circenses. “Temos uma atividade bastante abrangente e heterogénea, quer ao nível do tipo de projetos, quer do seu público-alvo”, nota João Carrolo.

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_ambientes

CHOCOS

À ALGARVIA

Há mais de 15 anos que investigadores da Universidade do Algarve procuram reproduzir chocos em cativeiro, uma experiência que é pioneira no mundo. Os pequenos chocos são um produto com grande valor comercial, tanto na região como em Espanha, e, por outro lado, a sua produção irÁ evitar a captura em meio natural e libertar os recursos da natureza.

A funcionar desde 1998, a Estação Experimental do Ramalhete está entre os locais mais procurados pelos investigadores europeus para a realização de projetos.

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á-os de vários tamanhos, pequeninos, eclodidos há poucas semanas, já com meses e adultos, com um palmo de comprimento. Os chocos em diversas etapas de crescimento estão divididos em vários tanques e todos acorrem quando lhes atiram punhados de camarinha, uma espécie de camarão miniatura que é apanhado ali mesmo, na Ria Formosa. O projeto de criação de choco em condições controladas (ou em cativeiro) na Estação do Ramalhete, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), da Universidade do Algarve, já conta com mais de 15 anos e os investigadores alcançaram o feito de conseguir seis gerações consecutivas. Foi um longo processo para chegar à fase onde se encontram hoje, em que procuram desenvolver uma dieta artificial que faça o choco crescer e que torne viável a sua criação em aquacultura para fins comerciais. José Pedro Andrade, professor na Universidade do Algarve e investigador, é o homem que iniciou este trabalho. Em 1993 colaborou num projeto europeu sobre a pesca de cefalópodes (chocos, lulas, polvos e afins) e foi na sequência desse trabalho que se apercebeu que o choco “poderia ser interessante para

fazer algum trabalho em condições controladas. O choco tem algumas características que permitem trabalhá-lo mais facilmente: tem resistência à manipulação, é relativamente fácil alimentar os indivíduos da fase juvenil até à fase adulta e os juvenis quando nascem são já miniaturas do adulto, não havendo, portanto, metamorfoses que impliquem alterações dos hábitos alimentares”. Mais tarde houve um estagiário, Pedro Domingues, que se interessou pelo regime alimentar dos chocos e foi fazer um doutoramento em Galveston, no Texas, para aprender algumas técnicas de produção de alimento que pudessem ser utilizadas na alimentação da espécie. O National Resource Center for Cephalopods, na altura uma instituição de referência que fornecia todos os laboratórios nos EUA que precisavam de cefalópodes para fins experimentais, foi destruído em 2005 pelo furacão Katrina.

Os investigadores já conseguiram adaptar o alimento a todo o ciclo de vida dos chocos. O desafio agora é encontrar uma dieta artificial.

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_ambientes “Quando ele regressou começámos aqui esta linha de trabalho: primeiro analisando as condições mais técnicas do cultivo: tanques, densidades, que tipo de fundo, cor, luz, água, proporção de sexos, alimentos, (natural, congelado, vivo, morto, recém-morto), etc.”, explica José Pedro Andrade. A investigação foi-se consolidando e agora encontra-se já numa fase mais específica, o desenvolvimento de uma dieta artificial que o choco aceite e que o faça crescer em termos aceitáveis, algo que ainda não foi conseguido em nenhuma parte do mundo.

Atualmente todo o alimento que é utilizado é natural, os tais camarões pequeninos que existem na Ria (sejam vivos ou congelados), e que já se conseguiu adaptar a todo o ciclo de vida. “Desenvolver a dieta artificial permitiria chegar às empresas e propor este produto, não para as empresas basearem exclusivamente a sua atividade nele mas como um complemento à produção de outras espécies como a dourada, o robalo ou o linguado, porque começa a haver uma certa saturação das espécies tradicionais”. José Pedro Andrade defende que este é um produto com alto valor de mercado e que pode ser produzido muito rapidamente. Porque, ao contrário de outras espécies, é tanto mais valioso quanto menor for. “Nós, em dois, três meses, podemos produzir

António Sykes, João Dias, responsável técnico da Estação, e José Pedro Andrade, investigadores do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve.

A ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DO RAMALHETE Além de uma localização realmente privilegiada, a Estação Experimental do Ramalhete, onde decorrem estes trabalhos, tem toda a infraestrutura necessária. Situada a sul do Aeroporto de Faro, em plena Ria Formosa, era um armazém utilizado pelas armações de atum. Ao abrigo do Programa Ciência, da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, foi em 1998 transformado num centro de investigação que neste momento está entre os mais procurados pelos investigadores da Europa para ali realizarem os seus projetos. Um ciclo de água de boa qualidade é, desde logo, apontado como a principal vantagem. “A água captada no Canal do Ramalhete – ligado ao Canal de Faro, que entra na

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Ria Formosa – passa por 2 filtros de areia para remover macromoléculas e depois é bombeada até ao topo da estação. A partir daí toda a água é fornecida aos tanques das diversas salas por gravidade. Basicamente só gastamos energia em captação”, explica António Sykes. No final do ciclo sai para uma lagoa e é devolvida à Ria. “Se não é o ideal do ponto de vista ambiental, é preciso notar que a pegada do centro não é a de uma aquacultura industrial”, nota o investigador. Quando precisam de água doce, seja para as lavagens ou para reduzir a salinidade da água da ria (que no verão é de quase 40 partes por mil quando os valores normais são de 35), recorrem à água da nora do Aeroporto de Faro, que fica a pouca distância do centro. Outras das vantagens que fazem com que o Ramalhete seja um centro muito procurado – tem mais de 100 investigadores entre doutorados, doutorandos e pós-doutorandos – é o clima ameno, favorável a quem tenha que fazer saídas de mar, o baixo custo de vida e a existência de vários espécimes (peixes, plantas, invertebrados, etc.).


_ambientes o tal choquinho pequeno que é um produto muito apreciado pela gastronomia algarvia e do sul de Espanha. Além do mais, a produção em cativeiro aliviará a pressão que é colocada sobre os recursos naturais com a captura de chocos pequenos, que nunca chegarão a reproduzir-se”. A reprodução dos chocos é outra vertente deste trabalho. António Sykes, investigador do projeto desde 2000, explica que “uma coisa que notamos é que se tivemos uns tanques mais pequenos há uma tendência para haver um macho dominante dentro do tanque, e quando temos uns tanques

Entre outros factores, a existência de vários espécimes fazem da Ria Formosa um destino procurado pelos investigadores estrangeiros.

um bocadinho maiores há um emparelhamento macho/fêmea normal. O que queremos ver é se o que está por trás das melhorias que vemos na quantidade e na qualidade que obtemos é esse aspeto de terem mais espaço”. Para que novas conclusões possam surgir é necessário que continue a haver financiamento. Desde o início da década de 2000 o Centro tem recebido financiamentos variados, da Agência de Inovação, da Fundação para a Ciência e Tecnologia, da Necton, uma empresa local de biotecnologia. Para já, estão garantidos até ao final do ano que vem.

PORQUE HÁ MENOS Hippocampus guttulatus Desde que há cinco anos começaram um trabalho para dominar a reprodução e o crescimento dos cavalos-marinhos em cativeiro, os investigadores do CCMAR já conseguiram passar de uma taxa de mortalidade de 100% para uma de sobrevivência de 65%. Isso tem permitido inclusivamente doar alguns exemplares a instituições como o Oceanário de Lisboa e outras nos EUA e na Europa. Este projeto de criar os Hippocampus guttulatus – o nome científico do cavalo-marinho de focinho comprido que é a

espécie dominante no Algarve – surgiu paralelamente aos trabalhos que estão a desenvolver no meio natural para identificar os factores que levaram a que desde o início da década de 2000 a população destes pequenos animais se tenha reduzido em 90%. José Pedro Andrade adianta que há várias explicações. Desde logo razões naturais, uma vez que a Ria Formosa é um sistema muito dinâmico com alterações frequentes e inesperadas das correntes e dos resíduos de sedimentação, que provocam alterações no habitat e que impactam diretamente os cavalos-marinhos. Há também, diz o investigador, factores antropogénicos, como alguma pesca ilegal. “É uma espécie com muito pouca mobilidade e uma arte de arrasto que passe no sítio onde estão, para além de destruir o habitat, faz diminuir a população”. Por ser uma espécie muito vulnerável e também por, ao que tudo indica, serem monogâmicos, pelo menos durante a mesma época de reprodução, retirar mesmo um só é altamente desaconselhável porque “o que fica pode não conseguir encontrar um parceiro e a partir daí deixar de se reproduzir”. José Pedro Andrade esclarece, no entanto, que a espécie não está ameaçada de extinção. Apesar de uma grande regressão, continuam a existir.

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_follow me

“G

osto muito do que faço. Desde o início. Porque apesar de haver processos que são rotineiros há sempre qualquer coisa diferente”. O início foi já há quase 25 anos no Aeroporto de Ponta Delgada, em S. Miguel, de onde é natural. Neste momento o maior desafio à criatividade de Pedro Bettencourt, Chefe de Divisão Operacional do Aeroporto de Faro, e da sua equipa, é a operação da Ryanair durante o verão. A low cost irlandesa, que tem uma base com 8 aviões no aeroporto algarvio desde 2009, passou agora a sediar 10 aviões em Faro, o que faz com que não existam salas de embarque suficientes. “A grande

entram na aerogare. “É a única forma de conseguirmos processar aqueles passageiros durante o verão”, justifica Pedro Bettencourt. Terminado o Verão, terminada a necessidade, desmonta-se a tenda e o contentor. O desafio em Faro é combinar, num terminal que não é muito grande (construído para 6 milhões de passageiros e quase a atingi-los), a operação de companhias com necessidades e exigências tão diversas. Há as companhias de bandeira, como a TAP e a British Airways, as low cost e, como diz Pedro Bettencourt, “a ultra low cost Ryanair, com embarques a pé, rotações de 25 minutos, extremamente exigentes porque obrigam a que enquanto ainda houver passageiros a sair pela porta da frente, já estejam outros a entrar pela de trás. Tudo tem de ser feito com bastante celeridade e eficácia”. Ocupa a maior parte do dia a gerir e a verificar como se podem melhorar estes processos. Apesar de a sua função implicar números, gestão e eficiência de processos (e, reconhece, disso não se livra), Pedro Bettencourt é mais um homem do terreno, gosta de agarrar no colete, no rádio e ver com os seus olhos como estão as coisas nas filas de segurança,

NO TERRENO DA

OPERAÇÃO Começou pelo pacato Aeroporto de Ponta Delgada, passou por Díli, em Timor-Leste, onde faltava tudo, e agora gere a intensa operação de verão da Ryanair em Faro. Pedro Bettencourt é chefe de Divisão Operacional e um homem do terreno. No escritório, só para ver os emails. exigência deste aeroporto é que o terminal tem uma capacidade que é completamente tomada só algumas horas do dia: de segunda a domingo, entre as 7h e o meio-dia processa-se 65% do tráfego. Temos aviões e faltam-nos 3 salas de embarque. São 600 passageiros que não têm como embarcar”. Isso não quer dizer que não se embarquem os passageiros. Como se sabe, a necessidade aguça o engenho. Os passageiros da Ryanair desembarcam a pé – é uma marca da companhia, que não quer que seja de outra forma – e já há 3 anos que foi criado um corredor de 2 vias pedonais junto à plataforma. Este ano, para responder ao aumento da procura, acrescentouse uma tenda e um contentor-escada, através do qual os passageiros

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nas filas da emigração, no check-in, na placa. “E não há vez nenhuma em que não saia do gabinete e não encontre alguma coisa que podia estar melhor”. Embora haja desafios diários no Algarve, nada se compara, no entanto, à experiência que teve em 2000, quando fez parte da equipa da ANA que integrou o consórcio que foi gerir o Aeroporto de Díli, em Timor-Leste. A comitiva, de 35 pessoas, era constituída pelas várias carreiras necessárias para gerir um aeroporto: socorros, oficiais de operações, controladores de tráfego aéreo e outros técnicos. Como chefe de divisão operacional, o seu trabalho consistia em pôr


em prática todos os procedimentos que pudessem ser implementados no aeroporto de forma a aproximá-lo minimamente das regras internacionais e também dar formação aos timorenses. O desafio começou logo à partida: foi necessário levar vacinas que só eram dadas no Hospital Militar, contra a febre tifoide e a encefalite japonesa. À chegada encontrou um país destruído, sem infraestruturas, sem água, sem luz, onde corriam quatro moedas (escudo, rupia, dólar americano e dólar australiano) e todos os preços estavam inflacionados. “Uma caixa de cerveja Sagres custava 7800 escudos”, lembra. O aeroporto era um local onde se movimentavam aviões, bicicletas, motas, carros, helicópteros, tudo no mesmo sítio. “Antes de aterrar um avião fazíamos sempre uma passagem com um carro para ver se a pista estava desimpedida. Não existia rede, estava toda destruída, os indonésios destruíram tudo antes de se irem embora, não havia luzes na pista… Nunca sabíamos o que encontraríamos, uma vez encontrámos várias cobras e, noutra, um sujeito a rezar no meio da pista”. Dos 6 meses que passou em Timor diz que foram a sua “melhor e pior experiência. Nunca trabalhei tanto na minha vida, era das 7h à meia-noite. Mas foi uma oportunidade única. Geralmente quando chegamos a um aeroporto os processos já estão implementados e limitamo-nos a segui-los ou melhorá-los. Ali pude implementar qualquer processo inerente à gestão do aeroporto da forma que eu entendia que devia ser”.

O contacto internacional foi outro factor positivo, enquanto do lado das más experiências destaca alguns problemas internos e a dificuldade em lidar com os funcionários das Nações Unidas que na altura administrava o país. “O acordo de Portugal com as Nações Unidas era nós dávamos o staff e o know-how e eles davam tudo o que fosse equipamentos, desde o papel higiénico até um carro de bombeiros. Mas depois, na prática, não foi assim tão simples…”.

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_follow me

“AQUI DAMOS ATENÇÃO

ÀS PESSOAS”

A preocupação com as pessoas está inerente à sua função de coordenadora da área de Recursos Humanos do Aeroporto de Faro mas Susana Roque vai mais além e estende a sua atenção também à comunidade. Quem a procura no gabinete sabe que, no mínimo, vai ser ouvido.

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a sala há um espaço agradável entre as duas secretárias, com uma pequena mesa e quatro poltronas ladeadas por duas plantas altas e verdes. Faz lembrar um consultório e Susana Roque confirma a inspiração. “Aqui damos atenção às pessoas”. “Aqui” é o gabinete de recursos humanos do Aeroporto de Faro e, desde que alguns serviços do aeroporto foram reorganizados, é ocupado apenas por duas pessoas, Susana Roque, coordenadora da área, e Ana Paula Pires. Susana acredita que a redução da equipa – antes eram 8 – e o espaço mais acolhedor contribuíram para colocar as pessoas mais à vontade. “Mesmo que estejamos ocupadas tentamos sempre ouvi-las e ajudar, salvaguardando sempre a empresa, é claro. Mas não mandamos ninguém embora sem as ouvir. E às vezes só querem mesmo desabafar, até sobre questões pessoais”. Os temas versam geralmente dúvidas relacionadas com salários, seguros e questões laborais. “Se for da nossa competência e se conseguirmos, resolvemos. Caso contrário, como, por exemplo, quando é necessário algum parecer jurídico, encaminhamos para a Direção de Recursos Humanos, em Lisboa”. Desde que desapareceram os contratos a termo no aeroporto, o trabalho relacionado com vínculos diminuiu. Mesmo

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o universo de efetivos também tem vindo a decrescer: quando Susana Roque entrou para a ANA, em 2001, eram 248 colaboradores, agora são apenas 154. Os chamados macroprocessos, como o Sistema de Avaliações de Desempenho, são conduzidos pelos serviços centrais, de modo que aqui o que se faz é a ligação com a Direção de Recursos Humanos e o apoio ao diretor do aeroporto nos assuntos que têm a ver com esta área. O que lhes continua a ocupar boa parte do tempo é a concretização do Plano de Formação, que exige uma grande logística. “Por cada ação que é feita temos que pedir uma validação à sede, fazer inscrição, requisição, um pedido de compra. Depois, quando a formação termina, temos que fazer um relatório pedagógico, carregar dados, mapas, etc. Cada ação de formação ocupa-nos muito tempo”. Para facilitar o acesso dos colaboradores ao seu historial de formação e à evolução da carreira, Susana e Ana Paula tiveram a ideia de criar uma ferramenta muito simples mas muito útil. “Trata-se basicamente de um ficheiro em Excel com a história de cada trabalhador desde que entrou na empresa. Depois pedimos a ajuda aos informáticos para criar um link para cada um, que lhes foi enviado por email e lhes dá acesso a essa informação. Não podem modificar nada, só consultar e imprimir”. A documentação

relativa aos processos dos trabalhadores, como os certificados, por exemplo, tem também vindo a ser digitalizada e é disponibilizada no mesmo link. Por inerência da função ou por feitio, Susana Roque está muito atenta à situação dos colaboradores e das suas famílias na atual conjuntura. Isso levou-a a aprofundar contactos com empresas da região que se mostraram interessadas em estabelecer parcerias com o aeroporto, oferecendo descontos aos colaboradores. Neste momento já foram negociadas parcerias com um oculista, um dentista e um infantário, e estão em vias de se finalizar contactos com entidades para férias desportivas na praia de Faro. “São áreas que levam boa fatia dos rendimentos das famílias. Da forma que as coisas estão, tudo o que possa vir é bom, não é muito, é qualquer coisa e ajuda.” A responsabilidade social é uma área a que também tem dedicado alguma atenção, colaborando com o colega responsável por estas atividades no Aeroporto de Faro, Nuno Gonçalves, na organização de atividades além das realizadas pela empresa. No Natal organizaram uma recolha de roupas e produtos para crianças, que foram entregues ao departamento de pediatria do Hospital de Faro para serem distribuídas por famílias referenciadas como carenciadas. Outras iniciativas que se podem fazer em Faro estão neste momento a ser analisadas. Faz parte da equipa de futsal feminino do Clube ANA de Faro, que se reúne todas as sextas-feiras das 18h às 19h para uma hora de treino na Escola do Montenegro, ali ao lado. São poucas e de vez em quando há um rapaz ou outro que faz o favor de ir ao treino para fazer número. Adepta da boa forma física, pratica também pump (uma espécie de ginástica feita com pesos) e cycling num ginásio. Sobre a secretária Susana exibe uma boa quantidade de objetos, bibelôs, fotografias, brindes, desenhos do filho. “Sou muito agarrada às recordações. Tudo o que me oferecem, eu ponho em exposição”.


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_partidas

BRUXE CIDADE ABERTA

Bruxelas pode ser a capital da União Europeia e de todas as coisas de política e negócios internacionais deste lado do mundo, mas isso não faz dela uma cidade aborrecida. Por ser tão “europeísta”, Bruxelas é pouco belga e a multiplicidade de culturas vai muito para além das 27 nacionalidades dos países da EU. Bastará andar um pouco pelas ruas - encontrar o caminho de volta é simples e nada é muito longe de qualquer outra coisa – para constatar que Bruxelas tem a sua própria vibração, feita de todos os povos que ali encontraram porto. Das suas boutiques de moda avant-garde à arte surrealista de René Magritte, aqui estão 10 propostas do que não pode deixar de fazer em Bruxelas.

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XELAS

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NCONTRAR TESOUROS ESCONDIDOS Todas as manhãs, cobertores e lençóis velhos são estendidos sobre os paralelepípedos da Place du Jeu de Balle, no Quartier Marolles. Pilhas de pratos vintage, talheres com cabos de madeira, muitas canecas de cerveja, bijuterias e tudo o mais que se possa imaginar é desembrulhado para o mercado de pulgas, ou feira da ladra, que ocorre todos os dias, faça chuva ou faça sol, desde 1640. O ambiente é um pouco como uma ida ao sótão da avó, o que só torna a expedição ainda mais emocionante. Para caçadores de quinquilharias a sério este é um programa a não perder e quanto mais tarde for (por volta do meio dia, uma hora antes do fecho do mercado) menores são os preços. E a praça está rodeada de cafés simpáticos que convidam a sentar e olhar. Todos os dias, faça sol ou chuva, a Place du Jeu de Balle recebe o mercado de velharias de Bruxelas. Desde 1640.

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_partidas

FAZER COMPRAS LOCAIS O que no século XIX foi um mercado de cereais, gado e peixe, o Vieux Marché au Grain, é agora uma seleta zona comercial. A rua Antoine Dansaert e a Praça de St. Catherine agrupam o top das lojas belgas mais chiques: a flagship store n.d.c. Made by Hand, abastecida com botas artesanais de acordo com as últimas tendências para homens e mulheres; a boutique de ponta de Sonja Noel, a Stijl, com os trabalhos dos designers belgas Ann Demeulemeester, Dries Van Noten e Raf Simons, juntamente com a nova guarda (Cathy Pill, Haider Ackermann, Tim Van Steenbergen); a mais recente loja de Noel, Haleluja, abastecida apenas com moda orgânica e sustentável​​; Martin Margiela, para todas as coisas assimétricas; e os belos tecidos e estampas originais para homens e mulheres de Olivier Strelli.

O bar À La Morte Subite é um bom sítio para provar a lambic.

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VER TARTARUGAS VOADORAS, CACHIMBOS E MAÇÃS O mais novo museu de Bruxelas, dedicado a René Magritte, faz as delícias dos fãs do mais famoso pintor belga. Situado no restaurado neoclássico Hotel Altenloh, na Place Royale, e espalhado por três pisos compactos, permite acompanhar cronologicamente a vida de Magritte, através de peças e objetos que não se podem encontrar em nenhum outro lugar: esboços e desenhos em pedaços de papel, cartas e fotografias pessoais e os filmes que ele fez de si mesmo. Vá cedo para evitar as multidões, há uma abundância de bancos para sentar e refletir. Um cachimbo não é um cachimbo? A discussão está lançada. FAZER FILA PARA AS BATATAS FRITAS Ir à Bélgica e não comer batatas fritas é assim como vir a Lisboa e não provar os pastéis de Belém. Por isso, ponha-se na fila para pedir o seu “cornet de frites”. O Fritland é um negócio familiar que serve batatas fritas desde 1978. Para acompanhar há uma escolha de 10 molhos diferentes, desde o andaluz, que é levemente picante, ao ketchup de caril, que faz lembrar um pouco o molho barbecue. Os molhos não estão incluídos e aos 3 euros do preço do cone acresce qualquer coisa como 80 cêntimos pelo molho. Pegue num garfinho de plástico e coma sem culpa. BEBER LAMBIC Num país com mais de 800 variedades de cerveja, não é de admirar que alguns dos bares de Bruxelas não tenham hora para fechar. A mais famosa das cervejas belgas (e a única que não pode deixar de provar enquanto aqui estiver) é a lambic. É produzida através da fermentação espontânea que consiste em expor a própria cerveja a leveduras selvagens e consequentemente a bactérias. É envelhecida em barris até 5 anos e em seguida engarrafada. Um bom lugar para experimentar esta especialidade é o café e bar À La Mort Subite, que fica na Rue Montagne-aux-Herbes Potagères 7. Não deixe que o nome o assuste e lembre-se que há formas piores de ir desta para melhor.

Na abertura do Museu Magritte o surrealismo tomou conta da Place Royale.

A Rua Dansaert junta as lojas dos principais designers belgas.


Os chocolates de Pierre Marcolini

OUVIR JAZZ Basta atravessar a pesada porta de ferro forjado do L’Archiduc para recuar a 1930. Miles Davis e Charlie Parker tocaram neste clube art deco, que todas as semanas continua a apresentar jazz ao vivo. É um espaço com vários níveis dispostos em círculo e um piano de cauda no centro. Fica na Rue A. Dansaert e a fachada azul com letreiro luminoso é fácil de localizar. Entre, sente-se e desfrute.

As esferas do Atomium guardam exposições sobre os anos 50. O ambiente intimista do L’Archiduc continua a atrair fãs de jazz a este clube art déco onde já tocaram Miles Davis e Charlie Parker.

PROVAR COZINHA COM CERVEJA Muito perto da Place St. Catherine, a cozinha belga do La Villette mostra que aqui a cerveja não é apenas para beber. Neste restaurante a mais famosa bebida belga é misturada em molhos de bifes e adicionada ao “carbonnades flamandes”, o tradicional guisado de carne flamengo. O ambiente é o de uma aconchegante taberna, com toalhas de mesa xadrez vermelho e branco, e cadeiras de madeira que rangem e que provavelmente já viram passar um século. DESCOBRIR O JARDIM SECRETO DE BRUXELAS É o facto de ser relativamente pequeno (cerca de 2 hectares) e estar oculto atrás das paredes das ruas em redor que faz do Parc Tenbosch o jardim mais secreto de Bruxelas. Muito bonito e bem cuidado, é muito popular entre os locais e oferece um inesperado oásis de calma num bairro movimentado. Existe um parque infantil para as crianças, campos de ténis e pequenos campos para outras práticas. E caminhos e bancos por todo o lado. SABOREAR OS CHOCOLATES DE PIERRE MARCOLINI Pierre Marcolini é um dos melhores chocolatiers do mundo. Desde que abriu sua primeira loja em 1995 (o mesmo ano em que ganhou o título de World Champion Pastry na World Pastry Cup, que se realiza em Lyon a cada dois anos), tem provocado um grande burburinho com os produtos inovadores que coloca nos seus chocolates: casca de carvalho, patchouli, melão, pimenta, açafrão, entre outros. Estes chocolates são como jóias e devem ser degustados lentamente. Na loja do centro de Bruxelas podem-se ver os confeiteiros a trabalhar e pode-se conversar com eles. É uma experiência completa para quem é um verdadeiro amante de chocolate. SUBIR AO ATOMIUM O Atomium foi construído quando Bruxelas acolheu a Expo 58. Com 103 metros de altura, é um cruzamento entre a escultura e a arquitetura, representando um cristal elementar de ferro ampliado 165 mil milhões de vezes, com tubos que ligam as 9 esferas. Nas esferas (exceto as 3 que estão fechadas ao público por razões de segurança) existem exposições sobre os anos 50 às quais os visitantes são conduzidos através de escadas rolantes. Na esfera superior, que tem janelas panorâmicas, fica o Chez Adrienne, um restaurante buffet.

COMO IR

O Parc Tenbosch oferece 2 hectares de pura tranquilidade no centro da cidade.

A TUIFly voa para Bruxelas a partir de Ponta Delgada duas vezes por semana: aos domingos às 16h45 e às sextas-feiras às 18h50. O Aeroporto de Bruxelas está situado em Zaventem, 12 quilómetros a nordeste da capital belga. No terminal existe uma estação de comboios de onde sai o Airport City Express quatro vezes por hora para as estações Brussel-Zuid, Brussel-Centrum e Brussel-Noord. Um bilhete de uma viagem custa € 2,60. Outra opção são os autocarros, cuja estação fica sob o hall das Chegadas. Os autocarros da empresa De Lijn vão para o centro de Bruxelas. Os autocarros da STIB/MIVB vão para a sede da NATO e da União Europeia e terminam na estação de comboio Bruxelas-Luxemburgo. 41


_lifestyle

VER, OUVIR E DEGUSTAR PORTUGAL

Eventos de música, gastronomia e exposições têm animado a aerogare do Aeroporto de Lisboa. 42

Afinal de que é feito Portugal e como cabe um país num aeroporto? É este desafio que todos os meses o programa Ver, Ouvir e Degustar tenta cumprir: mostrar Portugal através das suas indústrias culturais e criativas, partilhando um país feito de múltiplas identidades e tradições. Do fado ao folclore, passando pelo rap, jazz, pela arte e design, pela moda e dança e, claro, pela gastronomia, muitos têm sido os momentos especiais vividos no Aeroporto de Lisboa nos últimos meses. A iniciativa prolonga-se até ao fim do ano, com uma agenda recheada. Boa Viagem!


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_lifestyle

À ESPERA

DOS MAIS PEQUENOS

A Aerolândia é um espaço simpático e didático onde entre livros, jogos e brinquedos os mais pequenos podem passar um bom bocado no Aeroporto do Porto. Vários outros serviços estão disponíveis para que as famílias tenham uma viagem descansada e sem stress.

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á biblioteca, videoteca e ludoteca, entre outras atividades e materiais para entreter os mais pequenos no Aeroporto do Porto. Tudo isto está disponível na Aerolândia, um espaço que funciona no piso 0, no topo norte da área pública de Chegadas. Se passar pelo aeroporto não se esqueça de deixar as crianças divertirem-se aqui. Mas este não é o único serviço dirigido às crianças e às suas famílias. O Family Airport agrupa um conjunto de serviços para os passageiros mais pequenos e que permitem aos pais fazer uma viagem mais descansada. No Aeroporto do Porto existem quatro parques infantis que oferecem momentos de diversão para as crianças (dos 2 aos 7 anos de idade) e de algum descanso para os pais. No entanto, os parques não são supervisionados pelo que as crianças deverão ser sempre vigiadas por um adulto. Também a pensar no conforto das famílias, melhorando significativamente a experiência dos passageiros, existe um serviço de carrinhos para bebés até aos 3 anos de idade ou 15 kg de peso. Esta é uma forma de ajudar os pais com crianças pequenas a circular no aeroporto e, ao mesmo tempo, de tornar mais eficazes e céleres as operações de check-in e embarque. Os carrinhos de bebé estão disponíveis gratuitamente logo após o raio X, do lado esquerdo, e estão devidamente identificados com a marca ANA. Os fraldários, localizados em todas instalações sanitárias, estão equipados de forma a permitir cuidar do bebé com todo o conforto. Todos os serviços são gratuitos, salvo indicação em contrário, e estão disponíveis diariamente, as 24 horas do dia (à exceção da Aerolândia, que funciona das 9h às 17h30), para os passageiros de todas as companhias aéreas.

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A Aerolândia é um dos serviços Familiy Airport destinados aos passageiros mais pequenos e que permitem que os pais tenham uma viagem mais descansada.


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_aldeia global Trintões, bem vestidos e solteiros, os preferidos para o “upgrade”

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omens solteiros, bem vestidos e com cerca de 30 anos são os melhores candidatos para conseguir uma transferência para a classe business ou mesmo para a primeira classe dos aviões durante um voo. Esta foi a conclusão de uma pesquisa feita pelo site de busca de passagens aéreas Skyscanner junto de 700 comissários de bordo de 83 países. A ideia era saber que tipo de passageiro tem mais hipótese de conquistar, gratuitamente, um assento melhor do que aquele que comprou. Já as mulheres jovens que usem roupas provocantes e que viajem em grupo são as que têm menos chance de beneficiarem de um “upgrade”. Para os comissários entrevistados (dos quais 61% já concederam a dádiva das cadeiras espaçosas e do serviço diferenciado a alguém), um passageiro educado, que faça parte do programa de viajantes frequentes da companhia aérea e que viaje sozinho ou na época baixa está em boas condições para ser beneficiado, caso existam assentos disponíveis nas classes superiores. Se o viajante tiver uma doença ou lesão, ou se estiver em lua-de-mel, também vale a pena dar a dica aos funcionários do avião: segundo a pesquisa, mais da metade estaria disposta a fazer a alteração num caso desses. Outra pesquisa da Skyscanner mostrou que 75% dos 600 turistas entrevistados estariam dispostos a mentir para obter a mudança de assento. Vale a pena lembrar que nenhum comissário de bordo ou empresa aérea tem obrigação de oferecer “upgrade” gratuito aos passageiros mesmo que existam vagas.

CE processa Alemanha por rotas no aeroporto de Berlim

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Comissão Europeia abriu no final de Maio um processo contra a Alemanha por causa das rotas de voo do novo aeroporto da capital alemã, o Berlim-Brandenburgo. As autoridades europeias acusam o país de não cumprir normas ambientais e o governo alemão tem dois meses para se pronunciar sobre o assunto. Há suspeitas de que as rotas tenham sido modificadas sem que fossem realizados novos estudos sobre danos ambientais. O último laudo seria de 2004. “As rotas atuais são bem diferentes das planeadas há quase dez anos”, disse Janez Potocnik, portavoz do comissário europeu do Meio Ambiente. Segundo a CE, a Alemanha transgrediu duas normas europeias. “Da forma como as coisas estão não respeitam a legislação ambiental europeia”, afirmou um comissário. Ralf Kunkel, porta-voz do Ministério dos Transportes alemão, afirmou que o processo trata apenas das rotas. “Isso não interfere na conclusão das obras no aeroporto”, afirmou Kunkel. O aeroporto

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em Berlim começou a ser construído em 2006. Diversos problemas na obra adiaram a sua inauguração e ainda não há uma data prevista para a entrada em funcionamento. O Ministério de Transportes declarou que parte do aeroporto ficará pronta até o final de 2013.


_aldeia global Meio milhão de abelhas colonizam Aeroporto de Seattle

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Aeroporto Internacional de Seattle-Tacoma lançou um programa ambiental para ajudar a salvar as abelhas, que em todo o mundo estão a morrer em taxas alarmantes devido ao colapso das suas colónias. O programa é realizado em parceria com uma organização sem fins lucrativos de defesa da agricultura sustentável, The Common Acre. Bob Redmond, que dirige o programa denominado Flight Path, alertou para o impacto que a morte das abelhas em todo o mundo terá na cadeia alimentar: sem abelhas não há polinização, logo não haverá comida. “Cerca de 70 ou 80% da variedade de alimentos que comemos é polinizada por abelhas”, disse Redmond. Foram seis as colmeias, com cerca de meio milhão de abelhas no total, que foram colocadas em locais desocupados nas extremidades das pistas do aeroporto. O programa vai ao encontro dos objetivos de crescimento sustentável e do aumento da contribuição económica do aeroporto, ao mesmo tempo que contribui para a redução da sua pegada ambiental, disse Bill Bryant, da Port of Seattle, responsável pela administração do aeroporto.

Tanto os apicultores como a administração do aeroporto esperam contribuir para a diversidade genética das abelhas ao lhes fornecerem um vasto terreno aberto e um habitat adequado. “É um lugar perfeito para criar abelhas geneticamente saudáveis”, disse Redmond, acrescentando que estas não apresentam ameaças para os motores a jato. Com mais de 850 voos diários, o Seattle-Tacoma está entre os aeroportos mais movimentados dos Estados Unidos.

Aeroporto de Manchester cria “Guias Amigáveis”

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O Aeroporto de Manchester está prestes a lançar um serviço de acompanhamento pessoal dirigido aos passageiros que necessitam de assistência para fazer o seu percurso através do aeroporto. Chamado de “Friendly Guides”, o serviço tem um custo de £50 (cerca de €58). Assim que foi anunciado o serviço recebeu logo numerosas críticas mas os responsáveis do aeroporto já esclareceram que os serviços que já existem e são fornecidos aos passageiros com mobilidade reduzida vão permanecer iguais e sem qualquer custo adicional. Os “guias amigáveis” são sobretudo dirigidos aos passageiros com mais idade ou aos que não estão familiarizados com o ambiente e organização dos aeroportos. Quem optar por este serviço pago será

recebido à chegada ao aeroporto e acompanhado durante todo o percurso, desde o check-in, passando pela segurança e até à porta de embarque. O mesmo processo será repetido no percurso inverso, à chegada, e entre os dois momentos os passageiros vão ter consigo um cartão de contacto para usarem no caso de necessitarem de ajuda adicional.

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_aldeia global Istambul vai ter o maior aeroporto do mundo

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Governo da Turquia assinou em Maio um acordo com cinco construtoras turcas para construir o maior aeroporto do mundo em Istambul, o terceiro da cidade, num projeto avaliado em 10 mil milhões de euros. Na apresentação do projeto, em Ankara, o ministro dos Transportes, Binali Yildrim, adiantou que as obras começarão já em 2014 e vão durar quatro anos numa primeira etapa. Prevê que sejam criados 100 mil postos de trabalho. A capacidade do novo aeroporto será de cerca de 150 milhões de passageiros por ano - a capacidade do Aeroporto de Lisboa em 2012 foi de 15,3 milhões de passageiros. Terá a capacidade ainda para 500 aviões com seis pistas de aterragem.

As empresas vão pagar ao Estado mais de 22 mil milhões de euros para operar no aeroporto durante 25 anos a partir de 2017. Recorde-se que a Turquia está em processo de adesão à União Europeia.

Cães tranquilizam passageiros nos EUA

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ão já três os aeroportos nos Estados Unidos que recorrem a cães para desempenharem uma missão diferente das tradicionais. Os aeroportos estão a utilizar os cães como forma de aliviar o stress e atenuar os medos dos passageiros antes dos voos. O recurso de usar cães com habilidades “especiais” começou há mais de dez anos, mais precisamente nos dias que se seguiram aos ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, quando um voluntário do Mineta San José International Airport pediu autorização para levar o cão para o trabalho com o objetivo de tranquilizar os viajantes, ansiosos e assustados devido aos voos atrasados e à dificuldade em contatar a família. O impacto da presença do animal foi tão positivo que o aeroporto decidiu formalizar o programa e tem, agora, nove cães que todos os dias fazem as delícias dos passageiros e contribuem para ajudar a enfrentar as longas filas, as multidões, os receios e as preocupações com questões que estão sempre no pensamento, como o terrorismo. Entretanto, dois outros aeroportos seguiram este exemplo pioneiro, o de Miami e o de Los Angeles. Neste último há já uma equipa de 30 cães no programa Pets Unstressing Passengers, que são conduzidos por voluntários através dos terminais.


A A Magazine agradece a colaboração das seguintes pessoas e entidades na elaboração desta edição:

Ursinho centenário perdido no Aeroporto de Bristol

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pessoal do Aeroporto de Bristol anda à procura do dono (ou dona) de um ursinho de peluche, com cerca de 100 anos de idade, que no ano passado ficou esquecido numa sala de embarque daquele aeroporto. O urso ancião, ao qual falta um olho e que tem uma orelha solta, foi encontrado num saco juntamente com uma foto a preto e branco dele com duas crianças. Na parte de trás da foto, datada de março de 1918, há uma mensagem em tinta desbotada que diz: “Com muito amor e beijos para o nosso querido papá, da sua amada filha e Sonia”. A anotação está assinada por Dora, que seria uma das crianças, e Glyn, que, segundo o pessoal do aeroporto, seria o nome do urso. Nos últimos meses os funcionários do Aeroporto de Bristol passaram em revista os registos de voo para ver se conseguiam encontrar dois passageiros com os mesmos nomes. Mas não encontraram nada e agora estão a apelar ao público para que os ajude a devolver o ursinho, a qual chamaram Bristol, ao seu legítimo proprietário. “Ele é de certeza muito amado. Está um pouco maltratado mas julgo que é por ter dado tantos abraços ao longo dos anos”, disse a porta-voz do aeroporto, Jacqui Mills. “Ele estava nos perdidos e achados e tínhamos a certeza de que alguém o iria reclamar. Mas quando isso não aconteceu, foi passado para a polícia do aeroporto, que cuidou muito bem dele e tentou por todos os meios possíveis encontrar a sua família.” Agora estão a recorrer ao público e às redes sociais para encontrar a família do ursinho. Entretanto o Urso Bristol está alojado num canto da secretária de Jacqui Mills.

André Jordan Belas Clube de Campo António Sykes Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve Carla Valentim Sonho a Dois Duarte Padinha Vice-presidente do Turismo do Algarve João Carrolo Teatro Municipal de Faro Jorge Santos Algarve Events José Pedro Andrade Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve Maria José Empis Belas Clube de Campo Martha Meeze Visit Bruxels Noélia Jacinto Sonho a Dois Patrícia Oliveira Turismo do Algarve Pedro Choy Presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais de Acupunctura Teresa Correia Turismo do Algarve NA ANA: Alberto Mota Borges Chefe de Divisão de Planeamento, Gestão e Controle dos Aeroportos dos Açores Iolanda Campelo Direção Comercial Não Aviação Isabel Rebelo Ana Consulting Lúcia Machado Área de Ambiente do Aeroporto de Faro Pedro Almeida Operações Aeroportuárias, Terminal Civil de Beja Pedro Beja Neves Assessor do Conselho de Administração/Responsável pelo Terminal Civil de Beja Pedro Bettencourt Chefe de Divisão Operacional do Aeroporto de Faro Susana Cortez Direção dos Serviços Técnicos Susana Roque Área Funcional de Recursos Humanos e de Formação do Aeroporto de Faro

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_passageiro frequente

LYON, SETEMBRO DE 1995 S

er meio chinês, meio português faz com que reparem em mim e me tratem como estrangeiro em qualquer lado do mundo. Em Portugal, numa esplanada, falam-me em inglês, na China sou considerado europeu. Durante 15 anos usei cabelo comprido, regra geral apanhado num rabo-de-cavalo. Nesse período quem não me conhecia olhava-me com desconfiança. Quando viajo visto-me bastante casual: t-shirt, casaco polar, jeans ou calças de bolsos laterais tipo militar, botas no inverno, Crocs no verão, chapéu de abas, mochila. O cabelo comprido acentuava este ar casual. Era então invariavelmente parado nos aeroportos e chamado para abrir a mala e mostrar o conteúdo, farejado por cães a ver se não trazia drogas ou bombas, enfim... Eis uma das ocorrências à chegada a Lyon, em setembro de 1995. A França atravessava uma fase de terrorismo com bombas artesanais e os aeroportos estavam reforçados por CRS, uma unidade especial de polícia anti-motim, tudo homens altos e espadaúdos, pouco habituados a falar delicadamente. Pois bem, sou o único do “meu” avião a ser parado. Um polícia (um CRS, não habituado a fazer este trabalho) começa logo por tratar-me indelicadamente: “Tu, anda para aqui...”. Ora eu não gosto de maus tratos… CRS: O que vens fazer a França? Vens de férias ou em trabalho? Eu: Venho de férias para trabalhar...(tom irónico) CRS: Em França trabalhas onde? Eu: Em França trabalho em Lisboa? (sorriso aberto) CRS: O que é isso, é uma empresa de que tipo? Eu: É uma cidade situada no golfo do rio Tejo. CRS: Mas isso é Espanha... Eu: Não, não, é Portugal…O golfo, claro, o rio nasce em Espanha mas Lisboa e o golfo do Tejo é Portugal... CRS: Estás a gozar comigo? Eu: Estou a responder de forma adequada ao interrogatório de vossa excelência.

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Pedro Choy

Presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais de Acupunctura CRS: Abre lá a mala... Eu: Não abro... Se quiser ver o conteúdo abra vossa excelência (eu sabia que tinha a obrigação de abrir mas já estava farto de abuso de autoridade e falta de educação, esta recusa não era um crime grave e depois logo se via...), e se vai abrir depois arruma tudinho tal e qual como está... O CRS abre a mala, revista minuciosamente e eis que encontra uma garrafa de vinho do Porto envelhecido. É uma garrafa preta escura. Tenta ver para dentro, chocalha e finalmente pergunta: Posso abrir? Eu: Claro que vossa excelência pode abrir, na condição de a deixar exatamente no mesmo estado em que estava antes de a abrir... Entretanto aproxima-se um chefe do sector que já estranhava tanta demora, olha para o meu passaporte pousado ao lado da mala e comenta: Não vês que é português? Deixa o homem ir embora. CRS: Ok, pode ir embora, até à próxima. Eu: Claro senhor agente, se me vir à partida escolha-me outra vez, nessa altura já terei roupa interior suja para lhe mostrar, e se desejar trago-lhe a garrafa aberta para observar... Quem não me conhecer vai imaginar que sou de trato difícil, mas bem pelo contrário, tudo faço para ser amável com todas as pessoas e tenho grande respeito e amizade pela autoridade. Aquele agente é que não devia ter-me tratado por tu e não tinha o direito de inquirir os motivos da minha viagem. Como cidadão europeu usufruo do direito de livre circulação na Europa e os meus motivos são privados. Quanto ao diálogo, para pergunta estúpida resposta ridícula. Se dermos a cada um aquilo que merece o mundo melhora e as pessoas evoluem.


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