Editorial:
Rui Fontes
Josse Lieferinxe, “Saint Sebastian Interceding for the Plague Stricken”, 1497-1499
VOLUME 9 . EDIÇÃO 2
JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2020, 9 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/
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DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2
Editorial:
Rui Fontes
A pandemia COVID 19 veio colocar a nu a dramática e desconhecida realidade dos lares de idosos em Portugal. Assente num modelo caritativo e assistencialista os lares de idosos não encontraram até hoje capacidade para responder ao envelhecimento da classe média e média-alta, continuando a manter as condições quando as necessidades eram apenas de “matar a fome” e “cobrir com um farrapo” os desvalidos da sorte, os abandonados, carenciados e incapacitados. Mas o aumento ad esperança de vida – a grande conquista da humanidade nos últimos anos – trouxe mais idosos e idosos mais exigentes. Contudo a sociedade não modificou o seu modelo para responder a estes milhares de pessoas idosas que vivem mais 20 anos do que viviam há 50 ou 60 anos atrás. Esses vinte anos a mais de vida não encontram qualquer acompanhamento e qualquer intervenção positiva. Pergunta-se hoje se os lares estavam preparados para o COVID. Para quem trabalha há anos nesta área parece uma pergunta completamente desajustada porque os lares mal estão preparados para fazer higienes correctas a pessoas idosas, para alimentarem com alguma qualidade essas pessoas e para assegurarem vigilância aos residentes d elares. Não sendo capazes de fazer o que consideramos cuidados e de oferecer serviço mínimos como poderiam estar preparados para uma pandemia que tem como principal alvo as pessoas idosas. Não, os lares não estavam preparados para a pandemia e não estão preparados para responder a qualquer situação de saúde por que assim determinou o modelo que a legislação defende, feita essencialmente para manter as grandes corporações e quase produzir pessoas com incapacidade e disfuncionais. É evidente que dizendo que os lares não são respostas de saúde faz com que muitos, pouco cautelosos, logo partam para a ideia de que temos que transformar os lares em entidades de saúde. Nada mais errado. Os lares devem ser exclusivamente entidades de resposta social que é cada vez mais necessária para o tal aumento de população idosa em consequência do aumento da esperança de vida. Lares de resposta social devidamente preparados para novas intervenções, para a prevenção, para a funcionalidade, para continuar a manter a utilidade dos seus clientes. Os lares devem deixar, isso sim, de ter pessoas fortemente doentes. Essas têm que ser tratadas em unidades de saúde, dotadas de profissionais de suade e condições de trabalho. É pois uma questão de alterar completamente a resposta às pessoas idosas e ao envelhecimento. Alteração que passa de imediato pela criação de diversas tipologias
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diferenciadas: unidades de vida apoiada, unidades de Alzheimer e demência, unidades de reabilitação social e funcional, unidades de fase terminal de vida. Ora se repararmos pouco falta na nossa legislação porque já temos os cuidados continuados com tipologias diferenciadas. Será simplesmente uma questão de atribuir as pessoas idosas à unidade correcta na ao permitindo este leilão de pessoas idosas pelos lares todos iguais e diferenciados exclusivamente pelo valor da mensalidade. É evidente que esta alteração da legislação e a introdução de tipologias para responder ao envelhecimento e à necessidade de institucionalização, implica de imediato alteração do modelo de financiamento tornando-o mais transparente e mais rigoroso. É provável que a transparência e o rigor evitem que sejam aumentados significativamente os custos. A situação não pode manter-se igual. Os portugueses reconheceram finalmente que as pessoas idosas têm sido deixadas ao abandono nos lares e compreendeu que todos somos responsáveis por isso. Infelizmente para esta compreensão tiveram que faleceram algumas centenas de pessoas idosas. Desejamos que de uma vez por todas a sociedade compreenda que só cuidando bem dos mais velhos consegue viver com dignidade, só respeitando os que vão tendi-o maior idade é que todos podemos viver tranquilos, esperando calmamente o nosso próprio Envelhecimento.
Rui Fontes Presidente da Associação Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento
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