Editorial:
Rui Fontes, RN, Associação dos Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento
Piero della Francesca (Italian, c. 1420-1492) Resurrection (1463)
JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2019, 8 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/
VOLUME 8 . EDIÇÃO11
Editorial:
Rui Fontes, RN, Associação dos Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento
EDITORIAL: PRESSÃO SOBRE OS SERVIÇOS DE SAÚDE
A actual pressão sobre os serviços de saúde tem razões conceptuais profundas raramente tidas em conta quando da abordagem deste problema, tornado em alguns meses do ano, um drama social. Como o Professor Sakellarides diz o sistema de saúde foi e continua a ser centralizado na mulher e na criança, tendo evoluído de forma exemplar e sendo reconhecido por todo o mundo, tanto a qualidade da saúde materno-infantil como a pediatria. Fomos o País do mundo que mais baixámos a mortalidade infantil num espaço de tempo reduzido. Mas estas foram conquistas do SNS de outros tempos que ainda hoje fazem com que todos o respeitem, mesmo aqueles que o querem reestruturar. Contudo surgiu nas últimas décadas um fenómeno conhecido mas que não tem sido preocupação dos decisores e da sociedade em geral: a revolução demográfica causada pela longevidade. Um milhão de pessoas com mais de 75 anos e 350 mil destas com mais de 85 anos são a verdadeira causa da pressão sobre os serviços de saúde que não se prepararam para este fenómeno, continuando a estar centrados na doença e não investindo na prevenção do envelhecimento. A razão que me parece mais realista para esta situação tem a ver simplesmente com a concepção do nosso sistema de saúde que coloca de lado o envelhecimento entregando-o aos cuidados exclusivos da área social, continuando a desconhecer que é o envelhecimento a causa de profundas rupturas nos serviço de saúde na medida em que uma pessoa idosa tende a ser doente e é, em Portugal, um doente. Ora os doentes e as doenças são tratadas no âmbito da saúde e não no âmbito social. Muitos subsídios e apoios podem ser implementados para o envelhecimento mas a principal necessidade é cuidar da doença e das doenças que o envelhecimento implica. Não prevenindo essas doenças não temos um país de velhos mas temos um país de doentes, que são velhos. Não é por atribuir subsídio de dependência que se resolvem problemas. Mais importante é criar um sistema que lute contra a dependência e esse sistema tem que estar directamente enquadrado no SNS e não no Ministério do Trabalho e da Solidariedade. Este é o paradigma do século para esta área em Portugal. Poder-se-á insistir em resolver os problemas sociais das pessoas idosas, o isolamento, a incapacidade financeira, as más condições habitacionais mas tudo isso implica uma acção profunda dos serviços de saúde porque pessoas saudáveis ou com menos doenças são mais
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capazes de, elas próprias, resolverem os seus problemas. No fundo a nossa aposta mantémse no apoio a AVC´s, enfartes, demências e Alzheimers, investindo recursos nos cuidados a pessoas nessa situação sem que tenha havido qualquer preocupação antes de patologias desse género se imporem na vida das pessoas. O que implica esta alteração de concepção? Implica antes de mais colocar o envelhecimento nos cuidados e na dependência da saúde, retirando-a da área social que só deve tratar de apoios decididos pelo Estado e não de cuidados directos. Ou seja, Lares, centros de dia, cuidados domiciliários tem que ser liderados pela área da saúde e por técnicos de saúde. A legislação tem que ficar na dependência do Ministério da Saúde e não dos gabinetes do Ministro do trabalho. É óbvio que, do ponto de vista filosófico, podemos discutir o interesse da sociedade em investir na longevidade em termos puramente financeiros, desviando recursos que todos defendem que devem ser utilizados na criança, na mulher, no jovem adolescente e no jovem adulto activo e produtor. O certo é que se mantivermos esta situação de envelhecimento doente teremos menos pessoas nesses escalões etários porque num País onde se envelhece mal não é motivador reproduzir-se população. E acabamos por gastar mais recursos na medida em que não temos leis que impliquem o desaparecimento das pessoas quando atingem idades muito elevadas como já alguém referiu. É um caminho que, à luz dos poderes actuais, parece impossível de fazer. Mas a história dará razão a esta alteração, fundamental para conseguirmos manter a sustentabilidade social e respondermos a um fenómeno que não tem final previsível de evolução: o envelhecimento e a longevidade da população. Rui Fontes, Presidente da Associação dos Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento
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