0 Capa e editorial Abril 2022

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Editorial: Vítor António Soares Santos, RN, MsC, Centro Hospitalar do Oeste, Centro Especializado de Tratamento de Feridas, São Peregrino

Jacques-Louis David, “Cupid and Psyche”, 1817

VOLUME 11 . EDIÇÃO 1

JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, Abril, 2022, 11 (1)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/

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DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1


Editorial: Vítor António Soares Santos, RN, MsC, Centro Hospitalar do Oeste, Centro Especializado de Tratamento de Feridas, São Peregrino

O impacto da guerra sobre os idosos nunca foi mais visível do que no conflito na Ucrânia. Imagens de pessoas idosas incapazes de alcançar a segurança de caves, sendo transportadas por pontes improvisadas ou andando por ruas repletas de corpos assombram o nosso dia-a-dia, através dos noticiários. Alguns não conseguiram fugir. Outros optaram por não deixar suas casas, onde viveram a maior parte da sua vida. À medida que os combates se intensificam em Donbass, a evacuação de lá se torna mais difícil e viver sob ocupação russa mais perigoso. Existem relatos de forças russas que ameaçaram idosos com execução sumária e os detiveram arbitrariamente. O Gabinete do Procurador-Geral da Ucrânia está a investigar supostos crimes de guerra contra idosos, incluindo soldados russos que mataram uma mulher idosa e feriram seu marido enquanto iam de bicicleta para um hospital local. Numa vila ao sul de Chernihiv, soldados russos trancaram mais de 350 pessoas na cave de uma escola por 28 dias, em que dez morreram de asfixia ou das duras condições de confinamento. Todos os que morreram eram pessoas mais velhas. A interrupção de alimentos, energia, água e suprimentos médicos também ameaçou a sobrevivência dos idosos. Em Bucha, um homem afirma que enterrou seu vizinho idoso, que dependia de um concentrador de oxigênio e morreu quando a energia na área foi desligada. Por outro lado que tem sido menos visível é o impacto sobre os idosos que vivem institucionalizados em todo o país.O diretor de um asilo para idosos na região de Kiev disse que tentou proteger os idosos das realidades da guerra para evitar que traumas do passado voltassem. Em Bucha, os corpos de seis idosos foram encontrados numa casa de repouso no início de abril. Os trabalhadores do cemitério que os encontraram disseram que tinham eventualmente morrido de fome. Um membro da equipe de uma instalação psiquiátrica em Borodyank disse à Human Rights Watch que os moradores mais velhos passaram uma semana sob ocupação russa antes de serem evacuados. O membro da equipe disse que as forças russas ocuparam o prédio após sua evacuação, saquearam propriedades, incluindo computadores, alimentos e outras provisões. O direito internacional humanitário, ou as “leis da guerra”, e o direito dos direitos humanos protegem os civis idosos e suas propriedades contra danos durante conflitos armados. Todas as partes em conflito devem respeitar o direito internacional e garantir a proteção civil. A assistência humanitária deve ser facilitada para os idosos, incluindo aqueles com deficiência ou doentes ou feridos, e pode exigir atenção especial. Desde o ataque da Rússia, eles foram deixados para trás, indefesos. Não está claro exatamente quantas pessoas estão nesta situação.

JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, Abril, 2022, 11 (1)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/

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Editorial: Vítor António Soares Santos, RN, MsC, Centro Hospitalar do Oeste, Centro Especializado de Tratamento de Feridas, São Peregrino

De acordo com dados de 2020, cerca de 16% dos residentes da Ucrânia tinham mais de 65 anos. Falando de uma população de 44 milhões, isso equivale a mais de 7 milhões de idosos. No entanto, de acordo com a organização de ajuda humanitária Cap Anamur, são principalmente mulheres mais jovens com filhos que estão chegando à fronteira perto da cidade ucraniana de Chernivtsi. Existem apenas alguns idosos, disse o gerente do Cap Anamur, Bernd Göken: "Nos anos em que apoiamos vários pequenos projetos no leste da Ucrânia, nossa equipe cuidou de muitos idosos, alguns dos quais viviam em condições muito precárias”. Na Ucrânia, os idosos costumam ficar sozinhos. Quase não há casas de repouso adequadas, e as que existem são caras. Nas grandes cidades, como a capital Kiev, os voluntários estão tentando aliviar as dificuldades e fornecer assistência. A igreja também é um primeiro porto de escala para os idosos e outros necessitados, por exemplo, o mosteiro ortodoxo de São Miguel em Odesa. A instituição cristã tem sido um centro de acolhimento para muitos idosos que não teriam para onde ir, informou a agência de notícias AFP no início de março. Apesar desta assistência, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk, da Igreja Católica de rito bizantino da Ucrânia, deixou claro num recente discurso quão grave a situação permanece: "Penso em muitos deles que estão sendo abandonados hoje, que são deixados à própria sorte, deixados sozinho em apartamentos frios, que foram os mais atingidos pelo bombardeio russo." A maioria das pessoas mais velhas só vem às igrejas para ir buscar um pedaço de pão. Ele pediu a todas as pessoas que se lembrem e orem pelos idosos na Ucrânia. No meio destes relatos uma “lógica” impera: a lei da selva! Perdoem-me a franqueza, mas resume-se a isto, o mais forte prevalece e o mais fraco definha. Sabemos que não é fácil evacuar em condições dignas uma população idosa, com muitas necessidades. Sabemos que muitas vezes as pessoas apenas conseguem fugir com a roupa que tem no corpo e pouco mais. No entanto é doloroso imaginar que isto esteja a acontecer e possa ser possível, restanos a indignação e manter a esperança, que receio, seja vã de que um dia os perpetradores de taius actos de violação do direito internacional e dos direitos humanos sejam levados à justiça, pois mesmo na selva, nem sempre as coisas correm de feição ao “leão”. Só podemos continuar à espera de uma paz que permita repor alguma justiça e equilíbrio na vidas destas pessoas. Uma coisa é certa, vivemos tempos difíceis e o mundo como um todo tem de ser muito forte para o poder ultrapassar.

Vítor Santos

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