0 capa e editorial agosto

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VOLUME 5 . EDIÇÃO 2


EDITORIAL

AGOSTO 2016

Autocuidado na população em

aumentam a predisposição para outras doenças

envelhecimento ao nível da

2012).

Simultaneamente, em Portugal cerca

funcionalidade

de 41,6% dos idosos consideram que o

O envelhecimento da população coloca um crescente desafio à escala mundial, no sentido de melhor responder as necessidades dos mais idosos, nomeadamente ao nível dos cuidados de saúde. Este processo de envelhecimento responde às tendências demográficas relacionadas com a descida da taxa de fertilidade e natalidade, que contribuem para a redução do número de jovens, diminuição da taxa de mortalidade, com consequente aumento da esperança média de vida e desaceleração da migração. As projeções realizadas por entidades nacionais e internacionais preveem que este fenómeno continuará a aumentar e a ganhar mais expressão no futuro (DGS, 2014). De acordo com a Organização das Nações Unidas (2013), em 2050 as pessoas idosas ascenderão a dois mil milhões (20% da população mundial), deste modo o número de pessoas com mais de 60 anos ultrapassará a população de jovens com menos de 15 anos. Paralelamente

(DGS,

ao

envelhecimento, os estilos de vida menos saudáveis têm contribuído para a prevalência das doenças crónicas, nomeadamente cerebrovasculares, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, que também são fatores de risco e

seu estado de saúde é mau ou muito mau (Barros, Gomes & Pinto, 2013). Com a idade mais avançada há um incremento do risco para contrair doenças crónicas e degenerativas, com profundas implicações na autonomia, na funcionalidade, na utilização dos cuidados e serviços de saúde (DGS, 2014). As doenças crónicas exercem um impacto negativo na realização das atividades de vida diárias, que incluem os comportamentos de autocuidado (ex.: alimentar-se, vestir e despir-se, controlo voluntário de esfíncter vesical e intestinal, caminhar e transferir-se) e no desempenho das atividades instrumentais que garantem a independência (ex.: preparar refeições, tomar medicação, gerir os rendimentos e usar o telefone). Para a pessoa conseguir ser agente de autocuidado necessita de conseguir desenvolver e manter as atividades de vida diárias (Orem, 2001; Fonseca, 2014; OPSS, 2015). Koç (2015) estudou a influência das caraterísticas sociodemográficas que influenciam a capacidade do agente de autocuidado, em 324 idosos hospitalizados, concluindo que, 23,6% sofriam de doença crónica, 65% detinha problemas ao nível da funcionalidade, 33,1% não possuía


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capacidade para realizar por si

comuns e duradouros. O investimento

as atividades de vida diárias, 66,7% já

nos mais idosos não pode ser

tinha estado anteriormente

considerado como um gasto, dado que

hospitalizado, 52,7% tomava

ao contribuir para a melhoria do seu

terapêutica regularmente e apenas

estado de saúde, permite um

32,8% conseguia participar em

envelhecimento ativo e saudável. O

atividades sociais. Mais concretamente,

que significa que o desenvolvimento e

no que concerne à dependência na

a manutenção da capacidade funcional

atividades de vida diárias, 14,6% eram

permite o bem-estar, o autocuidado e a

dependentes, 18,5% semi-

qualidade de vida, em idade avançada

independentes e 66,9% eram

(WHO, 2005; 2015).

independentes. As atividades em que

Ana Ramos

era necessário maior assistência foram

Especialista em Enfermagem MédicoCirúrgica Enfermeira no CHMT, EPE (RN, MsC, PhD student)

a transferência, a continência de esfíncteres, o vestir, a alimentação e os cuidados de higiene. A idade mais avançada foi identificada como uma

Referências bibliográficas:

variável ligada a uma maior

Almeida, S., & Rodrigues, P. (2008). The quality oflife of aged people living in homes for the aged. Revista LatinoAmericana de Enfermagem, 16, 1025—1031.

dependência. Almeida e Rodrigues (2008) na sua investigação sobre as quedas nos idosos realçam que, 59,1% das quedas ocorrem entre os 75 e 84 anos, o nível de dependência nas pessoas entre os 65 e 74 anos era de 29,4% e entre os 85 e 94 era de 57,1%. As intervenções com pessoas com 65 ou mais anos de idade exigem esforços comuns e intersectoriais nos diferentes níveis da comunidade, baseados em princípios de autonomia, participação ativa, autorrealização e dignidade da pessoa idosa, nos vários contextos onde se insere. Como ilustra a pintura da capa desta edição: The Inspiration of Saint Mathew – de Caravaggio (1602) apela-se à união de diferentes sinergias para obter objetivos

Barros, C.; Gomes, A. & Pinto, E. (2013). Estado de saúde e estilos de vida dos idosos português: o que mudou em 7 anos? Arquivos de Medicina, 27(6), 242-247. Direção-Geral da Saúde (DGS). (2014). Portugal IDADE MAIOR em números, 2014: a saúde da população portuguesa com 65 ou mais anos de idade. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Direção-Geral de Saúde (DGS). (2012). Plano nacional de saúde 2012-2016: perfil de saúde em Portugal. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Fonseca, C. (2014). Modelo de autocuidado para pessoas com 65 e mais anos de idade, necessidades de cuidados de enfermagem. Tese de Doutoramento. Universidade de Lisboa, Portugal. Koç, Z. (2015). The investigation of factors that influence self-care agency and daily life activities among the elderly in the northern region of Turkey. Collegian, 22, 251—258. Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS). (2015). Acesso aos cuidados de saúde. Um direito em risco? Relatório Primavera 2015. Portugal: OPSS. Orem, D. (2001). Nursing: Concepts of pratice (6th ed.). St Louis: Mosby. United Nations (ONU). (2013). World population ageing 2013. New York: United Nations. World Health Organization (WHO). (2015). Ageing Report 2015. Geneve: WHO.


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