Silva M., Cavalcante J. (2021) Aging, food consumption and nutritional status of the elderly: An integrative review, Journal of Aging & Innovation, ARTIGO ORIGINAL: Silva M., Cavalcante J.10 (2021) in museums as strategies to promote (2): 5Interventions - 23 the health of the elderly, Journal of Aging & Innovation, 10 (2): 5- 23
Artigo de Revisão
Envelhecimento, consumo alimentar e estado nutricional do idoso: Uma revisão integrativa Envejecimiento, consumo de alimentos y estado nutricional de las personas mayores: una revisión integradora
Aging, food consumption and nutritional status of the elderly: An integrative review
Milena Gonçalves da Silva1, Jorge Luís Pereira Cavalcante2 1
Nutricionista Residente do Programa Multiprofissional em Saúde da Família, Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia (EFSFVS), Sobral, Ceará, Brasil. 2 Doutorado em Nutrição (em andamento), Docente do Curso de Nutrição, Centro Universitário UNINTA, Sobral, Ceará, Brasil.
Corresponding Author: jorgeluispcavalcante@uninta.edu.br
RESUMO O envelhecimento da população é uma das maiores conquistas culturais de um povo em processo de humanização, pois reflete a melhoria das condições de vida. Porém, os idosos estão sujeitos a situações características do envelhecer que condicionam o seu consumo alimentar e estado nutricional. O objetivo deste estudo foi analisar a influência do processo de envelhecimento sobre o consumo alimentar e estado nutricional do idoso. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica integrativa. Foram utilizados artigos originais em língua portuguesa, publicados e indexados nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Acadêmico, publicados no período de 2000 a 2017. Para seleção desses estudos utilizou-se os seguintes descritores: envelhecimento, consumo alimentar, estado nutricional e idoso. Através desse estudo foram selecionados oito artigos publicados no período de 2006 e 2017, com maior prevalência de estudos qualitativos com delineamento transversal. Os objetivos dos estudos visam estabelecer correlações e associações entre o estado nutricional e os possíveis fatores que possam alterá-lo. A partir da análise dos estudos encontrados na literatura pode se concluir que o envelhecimento é um processo individualizado, acontecendo de forma diferenciada em cada indivíduo. Ao longo desta etapa da vida podem ocorrer alterações próprias do envelhecimento capazes de alterar o consumo alimentar e estado nutricional do idoso. Dentre essas possíveis modificações, as que merecem maior destaque, encontram-se alterações psicossociais, financeiras, fisiológicas, sensoriais. Sendo possível observar que categorias específicas como sexo e idade são características condicionantes da inadequação do estado nutricional. Descritores: Envelhecimento. Consumo alimentar. Estado nutricional. Idoso.
ABSTRACT The aging of the population is one of the greatest cultural achievements of a people in the process of humanization, as it reflects the improvement of living conditions. However, the elderly is subject to situations typical of aging that condition their food consumption and nutritional status. The objective of this study was to analyze the influence of the aging process on the food consumption and nutritional status of the elderly. This is a systematic bibliographical research of a basic character and with a qualitative approach. It can be classified as exploratory according to its purpose. We used original articles in Portuguese language, published and indexed in the databases: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Latin American and Caribbean Literature JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-1
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ARTIGO ORIGINAL: Silva M., Cavalcante J. (2021) Interventions in museums as strategies to promote the health of the elderly, Journal of Aging & Innovation, 10 (2): 5- 23 in Health Sciences (LILACS) and Google Scholar, published between 2000 and 2017. To select these studies the following descriptors were used: aging, food consumption, nutritional status and the elderly. Through this study, eight articles published in the period of 2006 and 2017 were selected, with a higher prevalence of qualitative studies with a cross - sectional design. The objectives of the studies are to establish correlations and associations between nutritional status and possible factors that may change it. From the analysis of studies found in the literature it can be concluded that aging is an individualized process, occurring in a differentiated way in each individual. Throughout this stage of life, there may be aging alterations capable of altering the food consumption and nutritional status of the elderly. Among those possible modifications, those that deserve greater prominence are psychosocial, financial, physiological and sensorial changes. It is possible to observe that specific categories such as sex and age are characteristics that determine the inadequacy of nutritional status. Keywords: Aging; Food Consumption; Nutritional status; Aged.
INTRODUÇÃO O envelhecimento da população é umas das maiores conquistas culturais de um povo em processo de humanização, pois reflete a melhoria das condições de vida. No Brasil, o envelhecer da população se deu a partir do declínio acentuado da taxa de fecundidade associada com a redução da taxa de mortalidade. Sendo definido como idoso aqueles indivíduos que possuem 60 anos ou mais de acordo com o estatuto do idoso, já nos países desenvolvidos são tidos como idosos, pessoas com 65 anos ou mais de acordo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (Brasil, 2013; Falcão, Santos e Fumagalli, 2016). O envelhecimento, mesmo sendo um processo natural, submete o organismo do indivíduo a diversas alterações, tais como anatômicas, funcionais, biológicas, psicológicas e sociais, que repercutem nas condições de saúde e nutrição do idoso. O acontecimento de tais mudanças acontece de forma individualizada, o que dificulta uma definição precisa do que seja o envelhecimento (Tavares et al., 2017). Envelhecer não condiz com um processo patológico, no entanto, apresenta alterações específicas desta etapa. O indivíduo idoso em condições normais está preparado
para
sobreviver
adequadamente,
porém,
quando
submetido
a
circunstâncias que fogem das situações rotineiras proporcionando stress físico e/ou emocional, predispõe o organismo a uma quebra da homeostase. Desta forma, exibe uma sobrecarga das funções orgânicas e induz a processos patológicos, devido ao comprometimento dos diversos sistemas (Silva, 2011; Fechine e Trompieri, 2012; Becker e Falcão, 2016). Os idosos dispõem de características que condicionam o seu estado nutricional. Alguns dessas limitações se devem a alterações fisiológicas próprias do
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processo de envelhecimento, enquanto outras são instigadas por patologias e por fatores ligados a situação socioeconômica e convívio familiar. Dentre as alterações fisiológicas que possuem maior relevância no consumo alimentar do idoso destacamse as alterações do funcionamento do trato gastrointestinal, transformações na percepção sensorial e diminuição da sensibilidade a sede, atenuação da eficiência mastigatória e efeitos secundários de fármacos (Campos, Monteiro e Ornelas, 2000; Tavares et al., 2012).
Devido a essas alterações próprias do processo de
envelhecimento, os métodos de avaliação nutricional possuem restrições. Para isso se faz necessária a análise conjunta de diversos métodos, a fim de obter um diagnóstico global e exame acurado do estado nutricional do idoso (Santos, Machado e Leite, 2010). Diante desse contexto, tal estudo busca orientar tanto profissionais da área da saúde como também pessoas que estão intimamente ligadas aos cuidados de idosos sobre como acontece o processo de envelhecimento, através da exposição sobre as individualidades e possíveis alterações fisiológicas, que podem ser naturais acometendo todos os indivíduos, independentemente de suas características biológicas e funcionais, com intensidades variadas ou as modificações que se dão a partir do desenvolvimento de processos patológicos (Fechine e Trompieri, 2012). Para isso se faz necessária a compreensão de tais processos com o intuito de serem desenvolvidas ações que minimizem as modificações inevitáveis desta etapa do curso da vida. O estímulo para o desenvolvimento do presente tema se deu a partir do convívio constante com pessoas idosas que apresentam características visíveis de depleção do seu estado nutricional e, através da convivência rotineira é possível observar que pessoas nessa fase da vida apresentam um consumo alimentar reduzido e uniformizado. Com base no exposto surge o seguinte questionamento: Quais as principais consequências decorrentes do processo de envelhecimento e como estes refletem no estado nutricional do idoso? Quais métodos podem ser utilizados para avaliar o estado nutricional do idoso? O objetivo deste estudo foi analisar a influência do processo de envelhecimento sobre o consumo alimentar e estado nutricional do idoso no Brasil, em especial, nos seus fatores fisiológicos e socioeconômicos.
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MÉTODOS O presente estudo tratou-se de uma pesquisa bibliográfica integrativa com abordagem qualitativa realizada nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), PubMed e Periódico CAPES. Foram incluídos artigos originais, estudos de caso, estudos experimentais com animais de laboratório ou células incubadas (in vivo e in vitro), artigos de revisão, anais de congresso, relatos de experiência, disponíveis na íntegra em livre acesso, nos idiomas português, inglês e espanhol e que tenham sido publicados nos últimos vinte anos (2000 – 2020). As obras excluídas foram todas aquelas que não se adequavam ao perfil da pesquisa e artigos repetidos de diferentes bases de dados. O levantamento bibliográfico nas bases de dados foi realizado no período de setembro
de
2019
a
janeiro
de
2020.
Os
descritores
utilizados
foram
“envelhecimento”, “consumo alimentar”, “estado nutricional”, “idoso” e “Brasil”, de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e seus correlatos em inglês presentes nos Medical Subject Headings (MeSH). Foram utilizados os operadores booleanos AND e OR nas combinações entre os unitermos, resultando na seguinte arranjo: ([envelhecimento OR idoso] AND [consumo alimentar OR estado nutricional] AND Brasil). Com isso, foram identificadas 1105 obras. O quantitativo de mais de mil trabalhos foi filtrado ao serem inseridos os critérios de inclusão e exclusão. Depois, outros limitadores foram introduzidos a afunilar mais as investigações a serem eleitas. Por fim, aconteceu uma leitura mais intensa, completa, de forma interpretativa para que assim fosse possível relacionar os artigos à temática proposta. Portanto, chegou-se aos artigos eleitos para a revisão integrativa, onde foi feita a leitura na íntegra dos trabalhos. A análise qualitativa dos artigos iniciou com fichamentos. Depois, eles foram categorizados de acordo com os assuntos catalogados. Posteriormente, principais as informações foram apresentadas em forma de um quadro sintético. A quantidade de obras encontradas nas bases de dados encontra-se descrita no fluxograma 1.
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Fluxograma 1 – Caminho implementado na seleção dos artigos elegíveis do estudo. Estudos identificáveis (n = 1105)
Obras excluídas por não serem
artigos
originais (n = 872)
Artigos originais (n = 233)
Artigos excluídos: duplicação nas bases de dados; sem relação com o tema (n = 201)
Artigos elegíveis (n = 32)
Artigos excluídos: após leitura geral sem detalhes e observada não relação com o tema (n = 25)
Artigos selecionados para a revisão integrativa (n = 7)
Fonte: autoria própria.
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RESULTADOS Dos sete artigos selecionados para a revisão constatou-se que as publicações se concentraram entre 2006 e 2017. Desses estudos, o método qualitativo de pesquisa, de delineamento transversal foi predominante, havendo ainda estudos longitudinais. Quanto aos objetivos, constatou-se que as pesquisas visam estabelecer correlações e associações entre o estado nutricional e os possíveis fatores que possam alterá-lo. Os presentes artigos encontram-se distribuídos, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste do país. O Quadro 1 apresenta uma síntese das principais informações contidas nos artigos eleitos.
Quadro 1 – Síntese dos principais resultados dos artigos pesquisados.
Título
Autores/
Objetivos
Resultados
Conclusão
Ano Avaliação do
estado Benneman
nutricional de
Navarro e Avaliar o estado Verificou-se que Conclui-se que a
idosos
n, 2006.
nutricional
de a maioria dos antropometria é
idosos asilados.
idosos
um
importante
apresentou
instrumento
residentes
peso adequado metodológico
em
quando
uma
para auxiliar na
instituição
avaliados
pelo avaliação
asilar
da
IMC
CB. diagnóstico
cidade
de
Quanto a PCT, nutricional.
e
Marialva,
apenas
Estado do
idosos do grupo
Paraná.
etário
e
os
60-69
anos apresentou excesso
de
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peso.
Em
relação à CMB, a maioria dos idosos
exibiu
massa muscular adequada.
Perfil
Dobner,
Avaliar
nutricional
Blasi,
consumo
de
idosos Kirsten,
residentes
2012.
o Constatou-se
que a maioria alta prevalência
alimentar
e
o dos
estado
idosos de baixo peso,
encontrava-se
em
nutricional
instituição
idosos
nutricional
geriátrica
institucionalizado
alterado.
no
s no interior do maior
interior
do RS.
estado
do
de com
Fares
associados
al., 2012.
ao
estado
et Verificar associação
porém
tal
estado percentual se
não
justifica
Com quando comparado
Rio prevalência
Grande do Sul. Fatores
Percebe-se uma
à
de ingestão calórica
baixo peso.
e proteica.
a O baixo peso foi Contata-se que do mais frequente a
estado
inadequação
nos idosos de nutricional com LC-BA
e
o prevalente
é
nutricional
nutricional
de
idosos
fatores
excesso
de
duas
sociodemográfic
peso entre os idosos das duas
de diferenciada nos
regiões do
os, estilo de vida indivíduos
Brasil.
e condições de AC-SC. O baixo saúde em idosos peso de municípios
de localidades.
foi
dois associado de positivamente a
regiões distintas grupos do Brasil.
e
etários
mais velhos e o excesso
de
peso
as
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doenças crônicas
não-
transmissíveis.
Perfil
Monteiro e Avaliar
alimentar
Maia,
consumo
idosos 2015.
alimentar
de em
uma
o Baixo consumo Reflete de
instituição
de
longa
longa
hortaliças, desequilíbrio no
de leite e derivados consumo
idosos de uma e
instituição
frutas.
de contrapondo
Se alimentar
alto consumo de institucionalizad
permanência do açúcares/ doces os,
ia de Belo
município
Horizonte,
Belo
MG.
Minas Gerais. Tavares et Refletir
nutricional
al., 2015.
dos
a idosos
permanênc
Avaliação
um
de e
podendo
Horizonte, óleos/gorduras.
métodos
sobre Destaca
a Embora
e importância da sinalizem
indicadores
utilização
desafios da
propostos
diferentes
atualidade.
para avaliação e métodos acompanhament
indicadores
o nutricional de para
atualidade.
seu estado de saúde.
de idosos:
idosos
afetar
na acompanhar estado nutricional idoso.
de importância se
a de
levantar
e marcadores
de
consumo alimentar, o acabam destacando
o
do uso de medidas antropométricas.
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Baixa
Gomes,
Identificar
qualidade
Soares,
fatores
os Foram
Constata-se
associados
a necessidade de
da dieta de Gonçalves,
associados
idosos:
baixa qualidade baixa qualidade públicas
estudo
2016. de
da
dieta
à uma
de os
dieta
de políticas e
seguintes educativas
base
idosos da cidade fatores:
populacion
de Pelotas, RS.
a
que
sexo favoreçam
masculino,
o
consumo
al no sul do
idade inferior a alimentar
Brasil.
80 anos, baixa saudável. escolaridade,
Priorizando
os
condições
grupos de risco.
financeiras insuficiente, baixo
peso,
problemas boca
na
ou
nos
dentes e realizar menos
de
quatro refeições por dia. Avaliação
Nogueira
qualitativa
et
da
2016.
Avaliar
e Maior
al., comparar, qualitativamente,
Considera-se
quantidade
de necessário
indivíduos
do atenção especial
alimentaçã
o
o de idosos
alimentar
e
idosos
etário de 60-93 dado
percepções
institucionalizado
anos,
de hábitos
s
alimentares
institucionalizado
saudáveis.
s,
suas
consumo sexo
e
feminino, à
de viúva,
a
alimentação
grupo desse
grupo, que
um
Ensino adequado
não fundamental
estado
completo.
nutricional reduz
classificar o Prevalência de complicações de
estado
sobrepeso
nutricional
e percepção
identificar
a sobre
e saúde promove
e um
hábitos
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percepção sobre alimentares
envelhecimento
hábitos
regulares.
Os bem-sucedido.
alimentares
idosos
saudáveis.
institucionalizad os apresentaram alimentação mais adequada.
Fonte: autoria própria.
DISCUSSÃO Após a análise dos artigos selecionados para a revisão, eles foram subdivididos em três categorias conforme a temática principal abordada, sendo assim designadas: categoria 1 – Fatores que interferem no estado nutricional do idoso; categoria 2 – Perfil alimentar e nutricional dos idosos; e categoria 3 – Avaliação nutricional do idoso. Essas categorias são discutidas a seguir. Fatores que interferem no estado nutricional do idoso O principal achado desta revisão aponta diversos fatores, relacionados ao envelhecimento, que são capazes de comprometer o consumo alimentar e, como consequência de tais fatos relaciona-se com alterações no estado nutricional do idoso. Alguns desses elementos são consequências de transformações fisiológicas próprias desta etapa da vida, entretanto outros surgem em decorrência de processos patológicos e por condicionantes relacionados à situação socioeconômica e familiar (CAMPOS, MONTEIRO, ORNELAS, 2000). Fares et al. (2012) evidenciam as variáveis sociodemográficas, estilos de vida e condições de saúde como sendo fatores associados ao estado nutricional e que duas regiões diferentes de um mesmo país podem apresentar um cenário diferenciado quanto as inadequações nutricionais. O estudo avalia idosos de dois municípios localizados nas regiões Sul e Nordeste do Brasil, apresentando diferenças na prevalência de baixo peso e excesso de peso que podem ser explicadas pelas características ambientais, culturais e socioeconômicas dos municípios. Tais atributos podem refletir no estilo de vida e, inclusive, no acesso aos alimentos, afetando as escolhas e padrões alimentares. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-1
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Em outro estudo, Gomes, Soares, Gonçalves (2016) identificam fatores relacionados à maior vulnerabilidade a baixa qualidade da dieta do idoso. Eles destacam como grupo de risco os homens, pessoas de baixa escolaridade, condições financeiras insuficientes para a aquisição dos alimentos, problemas bucais como perca da dentição ou mesmo uso de próteses mal ajustadas. Os autores mostram que há nos idosos um menor consumo de alimentos essenciais ao organismo, fontes de energia, fibras, vitaminas e minerais, podendo refletir numa ingestão calórica insuficiente para essa população proporcionando-lhes perda de peso. Campos et al. (2006) descrevem o perfil nutricional e os fatores associados de idosos brasileiros através do uso do Índice de Massa Corporal (IMC). Os autores apontam que as variáveis gênero, faixa etária, área de domicílio, região demográfica, anos de estudo, exercício físico, dias de exercício físico por semana, estado de saúde, doença crônica, convênio de saúde, renda domiciliar, renda individual e renda de aposentadoria apresentam significância estatística em pelo menos uma classificação nutricional. Eles observam ainda que usando o sexo masculino e estado nutricional eutrófico como padrões, as mulheres apresentaram maiores chances de obesidade e sobrepeso, e por outro lado, o aumento da idade diminui à chance de obesidade e sobrepeso e aumenta a chance de baixo peso. Melo, Oliveira, Cavalcanti (2015) analisam os fatores físicos que podem afetar o consumo alimentar e agravar a desnutrição nos idosos, uma vez que desempenham importância no fato de ingerir ou não o alimento. A perda gustativa e a perda de apetite em idades mais avançadas, muitas vezes, se devem à inexistência de dentição aliado ao uso de próteses. Sendo assim, os idosos tendem ao consumo diminuído de carnes, frutas e vegetais frescos e passam a ingerir alimentos de fácil mastigação, macios, pobres em fibras, vitaminas e minerais, podendo levar à obtenção inadequada de energia. A pesquisa mostra também que os idosos possuem dificuldade para preparar e comprar os alimentos devido a problemas de locomoção que predispõem a uma má ingestão de alimentos podendo levar ao quadro de desnutrição. Entretanto, no estudo realizado por Felix, Silva, Machado (2017), indivíduos completamente edêntulos que usaram próteses removíveis em ambos os arcos e tiveram suas próteses mandibulares substituídas por próteses com implante foram submetidos à avaliação nutricional, nos aspectos antropométricos, análise bioquímica do sangue e avaliação dietética antes da cirurgia, três e seis meses após o JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-1
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procedimento cirúrgico. Eles constatam que a avaliação antropométrica não apresentou diferença significativa entre os períodos de estudo. A avaliação bioquímica mostrou aumento significativo da albumina nos três meses após o tratamento odontológico, voltando a níveis inferiores após seis meses. A avaliação dietética demonstrou que a ingestão calórica, e de macronutrientes (proteínas e carboidratos) não foram alterados após o tratamento. Porém, o consumo de lipídios foi menor após seis meses do procedimento cirúrgico. Ainda segundo Melo, Oliveira, Cavalcanti (2015), outros fatores como o uso de fármacos podem afetar a nutrição do idoso, pois aumentam a necessidade de nutrientes como também é capaz de reduzir o apetite, alterando o paladar e o olfato. O uso prolongado de medicamentos pode acarretar desnutrição em decorrência de prejuízos na digestão, absorção e metabolismo dos nutrientes. Da mesma forma, os fatores sociais e psicológicos se mostram impactantes de forma negativa para a ingestão de alimentos, em virtude de se sentirem sozinhos e distantes dos filhos.
Perfil alimentar e nutricional dos idosos Quanto ao perfil nutricional, Dobner, Blasi, Kirsten (2012) demostram que a maioria dos idosos estudados encontravam-se com o estado nutricional alterado, sendo que a diferença entres os grupos foi pequena, contudo houve predomínio de indivíduos com baixo peso. Os autores apresentam que tais alterações podem relacionar-se a mudança corporal que acompanha o envelhecimento, à diminuição de massa magra e ao aumento de massa gorda. O estudo revela que os idosos com maior comprometimento nutricional eram aqueles que consumiam o menor valor calórico, mas, mesmo assim, acima das necessidades estimadas. Indicando que a desnutrição pode estar relacionada ao aumento do metabolismo em decorrências de patologias crônicas ou condições infecciosas. A dieta consumida pelo grupo avaliado apresenta boa distribuição de macronutrientes, porém, verificou-se excesso no consumo de colesterol e baixa ingestão de fibras. Em outro estudo, Silva et al. (2010), traçam o perfil nutricional de idosos institucionalizados na cidade de Natal – RN, utilizando a Mini-Avaliação Nutricional (MAN) associada a dados antropométricos, como peso e altura. Para a análise da composição nutricional das refeições oferecidas foi levada em consideração a quantidade de cada nutriente presente nas fichas técnicas da instituição. Após a JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-1
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análise dos resultados, constatou-se uma grande prevalência de risco de desnutrição e desnutrição declarada entre os idosos. Os cardápios examinados contêm inadequações tanto de macro como de micronutrientes. No estudo de Fiore et al. (2006), foi avaliado o perfil nutricional de idosos frequentadores da Unidade Básica de Saúde localizada em uma área de alta vulnerabilidade do município de São Paulo. As variáveis estudadas foram gênero, idade, peso, altura, IMC, circunferência do braço (CB), circunferência muscular do braço (CMB), circunferência da cintura (CC) e dobra cutânea tricipital (DCT). Em relação ao IMC, constatou-se maior prevalência de risco nutricional em comparação ao peso normal. Ao confrontar os pesos por gêneros, houve maior número de mulheres com sobrepeso em contraposição com maior número de homens com baixo peso. Com base na CC, verificou-se elevada prevalência de risco de doenças cardiovasculares e para distúrbios metabólicos, em destaque para sexo feminino. Monteiro e Maia (2015) avaliaram o consumo alimentar de idosos de uma Instituição de Longa Permanência (ILP) em Belo Horizonte – MG através da aplicação de inquérito alimentar 24 horas, por um período de 3 dias consecutivos. A partir da avaliação da adequação nutricional dos cardápios oferecidos, observou-se que o grupo de alimentos das hortaliças apresentou mais inadequação no consumo, seguido de leite e derivados e de frutas. Com base nos dados, sugere-se que a dieta oferecida aos gerontes é pobre em fibras, o que consequentemente causaria uma irregularidade das funções intestinais. Como também em vitaminas, proteínas e cálcio, muito importantes para prevenção de problemas ósseos. Os cereais, massas e pães não atingiram os valores recomendados pressupondo que há uma baixa ingestão calórica. O consumo insuficiente de leite e derivados e de carnes evidencia um carência de proteínas, contribuindo para o catabolismo muscular, já aumentado nessa faixa etária. Em estudo semelhante ao anterior, Nogueira et al. (2016) avaliam e comparam, qualitativamente, o consumo alimentar de idosos institucionalizados e não institucionalizados, classificando o estado nutricional e identificando a percepção sobre os hábitos alimentares saudáveis. Em relação ao estado nutricional avaliado através do IMC, apontaram que a maioria dos indivíduos se encontram com sobrepeso. Percebe-se que maior parte do grupo apresenta percepção regular acerca dos hábitos alimentares saudáveis. Os idosos institucionalizados apresentaram alimentação mais adequada, pois realizaram mais refeições ao dia e possuíam maior JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-1
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consumo de cereais, verduras, legumes, carnes, leguminosas e peixe, e menor consumo de álcool. A ingestão de frutas, alimentos fritos, embutidos, doces e refrigerantes foi semelhante para os dois grupos.
Avaliação nutricional do idoso Navarro e Bennemann (2006) avaliam o estado nutricional de idosos residentes em uma instituição asilar da cidade de Marialva – PR, através da antropometria. As variáveis analisadas foram DCT, CB, IMC e área muscular do braço (AMB). Constatou-se que a maioria dos idosos, em todos os grupos etários, apresentou peso adequado conforme o IMC e a CB. Isso foi verificado em relação à DCT, com exceção do grupo etário de 60-69 anos, da qual a maioria apresentou excesso de peso. Quanto a CMB, a maioria mostrou massa muscular adequada, apresentando baixo risco nutricional. Tavares et al. (2015) refletem a respeito dos métodos e indicadores propostos para avaliação e acompanhamento nutricional dos idosos, tendo como principal método, a antropometria. Porém a utilização de tal ferramenta nessa faixa etária deve tomar cuidados específicos para realizar diagnósticos falsos devido as alterações físicas próprias do envelhecimento. Essas modificações podem estar presentes com a idade, redução da estatura, problemas posturais ou de mobilidade, presença de edema, redução da massa muscular, dentre outros. Em meio as dificuldades de obtenção de medidas fidedignas para avaliar o estado nutricional surge a aplicação de fórmulas capazes de fazer estimativas similares a esses parâmetros, como o uso das medidas da altura do joelho, circunferências e dobras para estabelecer valores de peso e altura. Os estudos encontrados buscaram evidenciar os fatores que interferem no consumo alimentar e estado nutricional do idoso, destacando as condições sociodemográficas, psicológicas, físicas, dentre outras. Apresentando prevalência de inadequação do estado nutricional e da alimentação consumida pelos gerontes. Enfatizou-se que as mulheres possuem maior tendência ao sobrepeso e obesidade e os homens ao baixo peso, assim como, pessoas com idade mais avançada. Portanto, os idosos se mostram um grupo com predomínio de risco nutricional condicionado por inúmeros motivos, sejam eles inevitáveis ou evitáveis.
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CONCLUSÃO O processo de envelhecimento se mostra de maneira uniforme para cada indivíduo a poder a ocorrer alterações de caráter socioeconômico ou fisiológico, capazes de interferir no consumo alimentar e estado nutricional do idoso. Os fatores psicossociais e financeiros exprimem bastante influência na alimentação dos idosos e a renda mensal é distribuída entre medicamentos, despesas da casa e alimentação, insuficiente para tornar a dieta uma prioridade. Os fatores psicossociais, como a falta de integração social, perda do companheiro, depressão, incapacidade de realizar atividades cotidianas fazem com que o hábito do idoso de preparar e consumir alimentos de qualidade seja menosprezado pela falta de estímulo. As
alterações
fisiológicas
gastrointestinais
são
responsáveis
pelo
comprometimento do consumo alimentar e da integridade do processo de digestão dos alimentos pelos idosos. A perda dentária ou uso de próteses faz com que os idosos consumam alimentos mais macios, mais gordurosos e açucarados, com menos frutas e vegetais frescos, e possível desenvolvimento de carências nutricionais. Há alterações sensoriais parciais ou totais com diminuição da percepção por gostos primários, maior acréscimo de sal e açúcar nas preparações, e possível agravamento ou desenvolvimento de enfermidades hipertensivas e diabéticas. As mulheres possuem maior probabilidade de desenvolverem sobrepeso e obesidade, sendo mais vulneráveis às enfermidades cardiovasculares. Os homens apresentam maior predisposição ao baixo peso, em especial, os indivíduos acima de oitenta anos. O estado nutricional do idoso pode ser avaliado por antropometria, exames bioquímica e subjetiva, todos com limitações devido ao envelhecimento. Sendo assim, as técnicas utilizadas devem ser aplicadas em conjunto a reduzir a possibilidade de diagnóstico equivocado. Logo, o método mais preciso de avaliação corporal é a densitometria por fornecer valores de massa óssea, magra e de gordura do corpo inteiro, apesar de pouco utilizado por apresentar custo mais elevado. A grande maioria dos estudos foram realizados com idosos institucionalizados, o que torna necessário para estudos posteriores a buscar por mais dados referentes aos idosos que morem em residência próprias e que não recebem cuidados especiais. Dessa forma, será possível uma maior observação das consequências próprias do
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processo de envelhecimento nos idosos que moram sozinhos e não recebem cuidados específicos. Sugere-se a implementação de políticas públicas que proporcionem conhecimento a respeito de uma alimentação saudável e quais os benefícios em longo prazo que esse hábito pode trazer aos idosos. Elas devem ser estendidas aos adultos jovens e de meia-idade, uma vez que quanto mais cedo a alimentação seja posta como uma prioridade poderá conduzir a um envelhecimento normal, saudável. Uma efetuação mais intensa das políticas públicas para idosos poderia acontecer através do desenvolvimento de mais grupos de idosos a fim de instrui-los sobre uma alimentação adequada e saudável, conforme suas realidades, a prevenir e minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento. Outra forma de aperfeiçoar o conhecimento sobre os alimentos para os idosos seria a capacitação das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) em educação alimentar e nutricional, pois elas realizam diariamente visitas domiciliares e possuem maior conhecimento acerca das necessidades da comunidade de sua abrangência. Assim, as ACS poderiam repassar à comunidade orientações básicas de suma importância para uma vida mais saudável.
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