Rodrigues, B., Sousa, P. (2017) The comfort of the person at the end of life in a domiciliary context – Nurse’s Perception, Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 11 - 23
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
O CONFORTO DA PESSOA EM FINAL DE VIDA EM CONTEXTO DOMICILIÁRIO – PERCEÇÃO DO ENFERMEIRO THE COMFORT OF THE PERSON AT THE END OF LIFE IN A DOMICILIARY CONTEXT – NURSE´S PERCEPTION EL CONFORT DE LA PERSONA EN EL FINAL DE SU VIDA EN CONTEXTO DOMICILIARIO – LA PERCEPCION DEL ENFERMERO
Autores Bruno Rosa Rodrigues1 , Patricia Pontífice de Sousa 2 1
MHC, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2 PhD, MHC, CNS, RN, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa
Corresponding Author: brunorosa1@hotmail.com
Resumo Introdução: O conforto é um elemento chave na prestação de cuidados de enfermagem ao doente Paliativo. Confortar assume-se como um ato complexo. Promover conforto é estar atento a todas as manifestações de distress, ter em conta todas as dimensões do ser humano e providenciar medidas para alívio do sofrimento (Morse, 2000). Podemos constatar que não existe uma definição clara para o conceito do conforto contudo, é unânime que este emerge como, uma necessidade ao longo da vida, na saúde e na doença pelo que, proporcionar o conforto é uma das principais funções e um desafio para a prática dos cuidados de enfermagem (Ribeiro; Costa 2012). Objetivo: O objetivo deste estudo é compreender a perceção do enfermeiro no que diz respeito ao conforto da Pessoa em final de vida em contexto domiciliário, identificando qual a conceção de conforto para o enfermeiro no que respeita à pessoa em fim de vida. Material e Métodos: Foi realizado um estudo descritivo de abordagem qualitativa, através de entrevistas semi-estruturadas a 8 participantes. A metodologia utilizada para o tratamento de dados foi a análise de conteúdo. (Bardin, 2014) Resultados: Após a análise dos nossos dados em estudo, podemos dizer que no que respeita à Conceção de Conforto (Domínio) foram encontradas quatro categorias (Expressão Física; Expressão Multifocal/multidimensional do Conforto; Expressão Afetiva e Necessidades Básicas Cumpridas). Conclusão: O principal contributo deste estudo é explorar o fenómeno do conforto no que respeita à pessoa em fim de vida em contexto domiciliário, reforçando a importância que o enfermeiro assume na implementação de cuidados confortadores. Assente numa abordagem humanista-afetiva, o processo de conforto é mediado pela interação enfermeiro-doente/família. Palavras-Chave: Conforto; Fim de Vida; Domicílio; Enfermeiro; Cuidados Paliativos.
Abstract Introduction: Comfort is a key element in the provision of nursing care to patients with Palliative Care. Comfort is a complex act. To promote comfort is to be attentive to all manifestations of distress, to take into account all dimensions of the human being and to provide measures for the relief of suffering (Morse, 2000). We can see that there is no clear definition for the concept of comfort, however, it is unanimous that this emerges as a lifelong need in health and illness, therefore, providing comfort is one of the main functions and a challenge for the Practice of nursing care (Ribeiro and Costa 2012). Objective: The objective of this study is to understand the nurses' perception regarding the comfort of the person at the end of life in a home context, identifying the comfort conception for the nurse with respect to the person at the end of life. Material and Methods: A qualitative, descriptive study was carried out through semi-structured interviews with 8 participants. The methodology used for data processing was content analysis. (Bardin, 2014) Results: After analyzing our data, we can say that, in terms of Comfort Design (Domain), four categories were found: Physical Expression, Multifocal / Multidimensional Autores Expression Comfort, Affective Expression and Basic Needs Fulfilled ). Conclusion: The main contribution of this study is to explore the Dados of curriculares phenomenon of comfort with regard to the end-of-life person in a home context, reinforcing the importance that nurses assume in the implementation of comforting care. Based on a humanistic-affective approach, the comfort process is mediated by the nurse-patient / family interaction. Keywords: Comfort; End of life; Residence; Nurse; Palliative care.
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Introdução
mais comuns observações feitas pelo doente
Cuidados paliativos são cuidados prestados a
acamado.
doentes em fase avançada da doença incurável
A este propósito, as autoras (Sousa; Marques;
com grande sofrimento. De acordo com a
Costa & Dixe, 2011) defendem que várias
definição da Organização Mundial de Saúde
teóricas de enfermagem contribuíram para o
(2004) é uma “abordagem que visa melhorar a
desenvolvimento da disciplina, estudando o
qualidade de vida dos doentes – e suas famílias
conforto
– que enfrentam problemas decorrentes de uma
perspetivas
doença incurável e/ou grave e com prognóstico
Orlando,
limitado, através da prevenção e alívio do
Madeleine
sofrimento, com recurso à identificação precoce
Loretta Zderad, Meleis, Janice Morse e Katharine
e tratamento rigoroso dos problemas não só
Kolcaba. É de acrescentar que Janice Morse e
físicos,
Kolcaba, deram visibilidade ao conceito de
como
a
dor,
mas
também
dos
e
contribuindo
com
nomeadamente,
Hildegard
Peplau,
Leininger,
diferentes
Callista Jean
Josephine
Roy,
Watson, Paterson,
psicossociais e espirituais”.
conforto
O conforto é um elemento chave na prestação de
Concretamente Kolcaba a partir de 1990,
cuidados de enfermagem ao doente Paliativo.
dedicou-se
Kolcaba
operacionalização (Ribeiro, 2012).
considerou
o
conforto
como
um
através
à
sua
seus
estudos.
conceptualização
Muitas
intervenções
de
estão
literatura, estando de acordo com a perspetiva de
satisfeitas
as
básicas,
cada autor. O conceito surge como relevante em
relativamente aos estados de alívio, tranquilidade
trabalhos de diferentes autores e em várias
e transcendência (Kolcaba, 2003).
teorias de Enfermagem, como por exemplo a
Confortar, do latim confortare, significa restituir
Teoria do Conforto de Kolcaba (2003), sendo
as forças físicas, o vigor e a energia; tornar forte,
considerado um fenómeno de importância básica
fortalecer, revigorar; dar alento (Apóstolo, 2009).
para a enfermagem, contextualizado ora como
O conforto é promovido através das intervenções
um objetivo da enfermagem ora como um estado
de enfermagem. Confortar constitui um fator de
relativo ao doente, destacando a importância de
cuidado (Watson, 2002) e uma competência do
compreendê-lo na sua multidimensionalidade do
enfermeiro. (Benner, 2001).
processo de cuidar (Ribeiro, 2012).
As primeiras referências ao conforto surgiram
Apesar
com Florence Nightingale. Em Notas Sobre
uniforme, desde sempre que o conforto tem sido
Enfermagem de Florence Nightingale (2005),
considerado como um conceito primordial na
apresentam-se várias referências a este conceito
Enfermagem, um imperativo moral, uma vez que
nomeadamente, o alívio e o conforto, sentidos
contribui para a recuperação da pessoa (Melleis,
pelo
2005; Apóstolo, 2009; Ribeiro, 2012).
doente
após
onde
necessidades
a
sua
pele
ter
sido
cuidadosamente lavada e enxaguada, é uma das
da
de conforto surgem
e
resultado dinâmico, um processo resultante das enfermagem,
definições
dos
inexistência
de
uma
na
definição
O conforto confere à pessoa, energia, força, esperança, controlo sobre si mesmo e felicidade (Ribeiro, 2012; Sousa, 2014). Corresponde
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assim ao fortalecimento do doente nas diferentes
Sendo o conforto não só uma necessidade
dimensões (física, psicoespiritual, sociocultural e
desejável bem como um elemento chave na
ambiental). Não é um processo passivo em que
prestação de cuidados de enfermagem ao
os doentes esperam ser confortados, mas sim
doente/família em fim de vida e, não existindo
um processo dinâmico entre a pessoa que cuida
uma definição clara para este conceito, importa
e aquele que é cuidado (Morse et al., 1994;
investigar qual a perceção do enfermeiro no que
Sousa, 2014).
respeita à conceção do conforto à pessoa em
Oliveira (2011), afirma que o doente pode sentir-
final de vida no domicílio.
se confortado, mesmo experimentando algum
Nesta sequência, a questão central foi definida
grau de desconforto, uma vez que a existência
da
prévia de desconforto pode ser uma condição
enfermeiro no que diz respeito ao conforto da
possível mas não necessária para experimentar
Pessoa
conforto. O conceito é mais do que a ausência de
domiciliário?
seguinte forma: Qual
em
final
de
a perceção
vida
em
do
contexto
desconforto - é multidimensional, idiossincrático, dinâmico e depende do contexto em que a
Métodos
pessoa está inserida (Bland, 2007).
Na abordagem qualitativa de pesquisa, as
Recentemente,
Ribeiro
(2012)
estudou
a
amostras
são
propositais
(purposeful
idoso crónico em contexto hospitalar, referindo
apreender e entender certos casos selecionados
que o processo de conforto é mediado pela
sem necessidade de generalização para todos os
interação enfermeiro-doente idoso e sua família,
casos possíveis.
integrado numa abordagem humanista-afetiva. O
Conforme
agir integrador e intencional do enfermeiro é um
aspetos a ter em conta com o processo de
ponto
às
amostragem, com a finalidade de refletir a
necessidades de cuidados, especificamente de
totalidade nas suas múltiplas dimensões. No
conforto do doente idoso crónico (Sousa, 2014).
nosso estudo, privilegiou-se os sujeitos que
O
possuíam as informações e experiências que
para
desconhecimento
sob
dar
a
resposta
perceção
do
Minayo
já
que
intencionais
natureza do processo de conforto do doente
essencial
sampling),
ou
(2004),
existem
procura
alguns
Enfermeiro, acerca da dimensão confortadora
desejávamos
ligada à pessoa que necessita de cuidados em
número suficiente para a reincidência das
final de vida no Domicilio é algo que devemos
informações.
considerar.
o
participantes que possibilitaram a apreensão de
enfermeiro é o profissional de saúde que, pelas
semelhanças e diferenças, que no nosso caso
suas
são
Na
verdade,
competências
sabemos
assume
um
que
papel
conhecer,
se
Escolhemos
considerando
um
um
conjunto
de
preponderante e privilegiado no cuidado à
Segundo Willms (1993), a amostra intencional é
pessoa humana que vivencia situações de
composta diferentemente, de acordo com os
sofrimento e desconforto (Sousa, 2014).
objetivos e o propósito da investigação, e por casos que satisfaçam a dimensão em estudo.
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A amostra define-se como o conjunto de
outra. No caso da investigação qualitativa, a
elementos retirados de uma população alvo,
entrevista surge com um formato próprio.
(Fortin, 2003). Corresponde ao subgrupo da
Em todas estas situações, a entrevista é utilizada
população selecionada para obter informações
para recolher dados descritivos na linguagem do
relativas às características dessa população.
próprio
Assim sendo, e como referimos anteriormente, o
desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a
método de amostragem da nossa investigação
maneira como os sujeitos interpretam aspetos do
será a amostra intencional, sendo que os sujeitos
mundo. (Bogdan, 1991).
escolhidos (população alvo) para a investigação
As entrevistas qualitativas variam quanto ao seu
são 8 Enfermeiros do Hospital Nossa Senhora da
grau de estruturação (Bogdan, 1991), sendo que
Arrábida, que prestem cuidados no domicílio a
o seu conteúdo deve ser integralmente transcrito
doentes em fim de vida.
(incluindo hesitações, risos, silêncios, bem como
Para obter os dados que permitissem alcançar os
estímulos do entrevistador). (Bardin, 2014)
objetivos considerou-se como amostra não
A entrevista, enquanto técnica de colheita de
probabilística/intencional todos os Enfermeiros
dados, assume-se como um processo de
com os seguintes critérios de inclusão:
descoberta e sistematização da informação pela
- Possuir Formação Básica em Cuidados
possibilidade de explorar, aprofundar e clarificar
Paliativos;
alguns pontos do discurso dos informantes,
- Possuir experiência com mínimo de um ano em
permitindo uma melhor explicitação das suas
Cuidados Paliativos;
vivências. Permite ter acesso ao sentido que os
- Trabalhar na Equipa Comunitária de Suporte
atores dão aos acontecimentos, confrontando o
em Cuidados Paliativos do Hospital Nossa
que observa com o que ouve, aferindo as
Senhora da Arrábida;
significações
- Consentir de livre vontade participar no estudo;
explorando e clarificando ideias ou opiniões, com
sujeito,
permitindo
atribuídas
ao
ao
que
investigador
observou,
a finalidade de compreender o significado que Considerando que pretendemos compreender a
cada sujeito atribui ao fenómeno que estamos a
perceção do enfermeiro no que diz respeito ao
investigar, através de uma relação de interação
conforto da Pessoa em final de vida em contexto
face a face. (Ribeiro, 2012) Dada a natureza do
domiciliário, e tendo em conta a complexidade e
estudo
especificidade deste processo, o recurso à
informado, deve ser um processo contínuo,
entrevista
exigindo que se faça uma reavaliação e
semi-estruturada
pareceu-nos
fundamental. Uma
entrevista
–
qualitativo
–
o
consentimento
renegociação ao longo do mesmo, por parte dos consiste
numa
conversa
participantes do estudo (Streubert & Carpenter,
intencional, geralmente entre duas pessoas,
2002). Todos os enfermeiros se mostraram
embora por vezes possa envolver mais pessoas
recetivos ao nosso pedido, aceitando de imediato
(Morgan, 1988), dirigida por uma das pessoas,
participar no nosso estudo.
com o objetivo de obter informações sobre a
As entrevistas aos 8 enfermeiros decorreram
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num espaço destinado a esse fim (na sala de VOLUME 6. EDIÇÃO 1
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num espaço destinado a esse fim (na sala de
inferência e a interpretação, as quais foram
realização
seguidas no nosso estudo. (Bogdan, 1991)
de
Conferências
Familiares
do
Hospital Nossa Senhora da Arrábida), em hora
Os resultados transcritos em bruto são tratados
marcada pelos informantes. No momento da
de maneira a serem significativos e válidos.
entrevista
o
Operações estatísticas simples (percentagens),
entrevistador e o entrevistado, sendo que antes
ou mais complexas (análise fatorial), permitem
de se iniciar a entrevista explicávamos o objetivo
estabelecer quadros de resultados, diagramas,
da
de
figuras e modelos, os quais condensam e
consentimento livre e esclarecido. O tempo gasto
colocam em destaque as informações fornecidas
com cada uma das entrevistas oscilou entre os
pela análise. Assim sendo, com resultados
20/30 minutos.
significativos e fiéis pode propor-se inferências e
O recurso à análise de conteúdo, para retirar
adiantar interpretações a propósito dos objetivos
partido de um material dito «qualitativo», é
previstos, ou que digam respeito a descobertas
indispensável:
de
inesperadas. Por outro lado, os resultados
recrutamento, de psicoterapia…que fornecem
obtidos, a confrontação sistemática com o
um material verbal rico e complexo (Bardin,
material e o tipo de inferências, podem servir de
2014). Assim sendo, o tratamento de dados que
base a uma outra análise disposta em torno de
utilizámos no nosso estudo através da entrevista
novas dimensões teóricas, ou praticada devido a
foi a análise de conteúdo.
técnicas diferentes. (Bardin, 2014)
À medida que se vai lendo os dados, repetem-se
Para tratar o material foi necessário codificá-lo,
ou destacam-se certas palavras, frases, padrões
correspondendo a uma transformação segundo
de
sujeitos
regras precisas, transformando o texto transcrito
pensarem e acontecimentos. O desenvolvimento
em bruto das entrevistas, em unidades de registo
de um sistema de codificação envolve vários
e unidades de contexto.
passos: percorre os dados na procura de
Inicialmente lemos e relemos várias vezes os
regularidades e padrões bem como de tópicos
dados obtidos em cada uma das entrevistas a fim
presentes nos dados e, em seguida palavras e
de se obter uma compreensão do conteúdo geral
frases que representam esses mesmos tópicos e
das mesmas, excluindo todo o verbatim que se
padrões. Estas palavras ou frases são categorias
apresentava mais distante do nosso estudo.
de codificação. As categorias constituem um
Assim, aos segmentos do texto que não
meio de classificar os dados descritivos que se
interessavam foi atribuído o código “ (…) ”, e as
recolheu. As diferentes fases de análise de
palavras utilizadas para clarificar algum aspeto
conteúdo, organizam-se em torno de várias
foram colocadas entre “[
etapas cronológicas: pré-análise (transcrição da
pausas que surgiram ao longo da entrevista
entrevista realizada); exploração do material
atribuiu-se o código “…”
(através da codificação); tratamento de dados, a
Em seguida, cada entrevista à qual foi atribuída
estavam
mesma,
presentes
assinando-se
entrevistas
comportamento,
de
formas
o
apenas
termo
inquérito,
dos
]”. Aos silêncios e
a “letra de código” (E), foi dividida em unidades de significação (também chamadas unidades de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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de significação (também chamadas unidades de
apresentação dos guiões das entrevistas aos
registo ou declarações significativas), de acordo
enfermeiros,
com o que foi referido pelo sujeito. As unidades
consentimento livre e esclarecido.
de significação são frases ou proposições que se
O consentimento informado aos participantes do
relacionam com o fenómeno em estudo, deste
estudo (Enfermeiros) foi assinado, após terem
modo, e de forma a organizarmo-nos no futuro, a
sido informados dos objetivos do trabalho, da sua
cada unidade de significação foi atribuído um
finalidade, do tipo de participação solicitada, dos
número que em conjunto com o código já
meios a usar – como a áudio gravação –
atribuído (E), possibilitava a localização dessa
esclarecendo o direito de não-aceitação e de
unidade de significação (E1 1, E1 2, …).
desistência caso assim o entendessem, sem
Posteriormente procurámos questionar a relação
qualquer repercussão negativa para os próprios.
que existia entre cada unidade de significação e
Uma outra preocupação ética, por respeito aos
o
assim
como
o
termo
de
estudo,
procedendo
à
participantes e à boa prática científica, foi garantir
significados
através
da
o seu anonimato, bem como a confidencialidade
descoberta do significado de cada unidade de
dos dados. Assim, todos os nomes dos
significação
O
participantes (enfermeiros) foram ocultados e
significado permitiu evidenciar o sentido presente
substituídos por códigos, não constando nos
nas descrições originais, não devendo cortar a
anexos de caracterização dos mesmos. Em todo
ligação com a descrição original. A cada um dos
o
significados formulados foi também atribuído um
preocupação constante a procura consciente da
código, letra “S” que se agrupou ao código já
fidelidade aos dados, e a observância do
existente ficando: E1 S1, E1 S2, etc.
princípio da honestidade, assumida como um
fenómeno
formulação
Na
em dos
(unidades
realização
do
de
nosso
contexto).
estudo
foram
percurso
do
estudo,
revelou-se
uma
requisito de integridade científica (Holzemer,
considerados sistematicamente os princípios
2010).
éticos do consentimento informado, da não
No nosso trabalho não foi necessário a avaliação
maleficência, da beneficência, da autonomia e da
de uma comissão de ética, uma vez que os
justiça; as regras morais da fidelidade, de
participantes em estudo são enfermeiros e não
veracidade e de confidencialidade, e ainda o
doentes.
direito
dos
participantes
à
informação,
à
privacidade e à autodeterminação (Holzemer,
Resultados e Discussão
2010). De forma a garantir os princípios éticos inerentes
A análise dos dados permite-nos obter um
ao processo de investigação foi, inicialmente,
esquema compreensivo da relação entre os
realizado o pedido formal de autorização à
diferentes temas encontrados no decorrer da
Direção Clinica e Direção de Enfermagem do
análise da informação. A distribuição das ideias
HNSA, tendo sido dado um parecer favorável à
por temas permite reunir a informação em
realização do mesmo. Para tal, foi solicitada a
unidades estruturais, ajudando o investigador a
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descobrir
o
seu
significado
(Streubert
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&
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descobrir
o
seu
significado
(Streubert
&
Carpenter, 2002). Os
significados
Os conceitos desenvolvem-se a partir da experiência e assumem um papel fundamental
sendo
na clareza do fenómeno. Compreender o
agrupados dando origem às Categorias e
processo de construção e de resposta do
Subcategorias, as quais vamos referir ao longo
conforto
deste ponto, de forma a explicitar o fenómeno em
significação das conceções de conforto e não
estudo. Na discussão dos resultados seguiremos
conforto dos atores intervenientes. (Ribeiro,
essa ordem de apresentação, desenvolvendo e
2012)
analisando
subcategorias,
Após a análise dos nossos dados em estudo,
procurando deste modo descrever a estrutura
podemos dizer que no que respeita à Conceção
essencial da Conceção do Conforto da pessoa
de Conforto (Domínio) foram encontradas
em final de vida em contexto domiciliário, para os
quatro categorias (Expressão Física; Expressão
oito participantes (Enfermeiros). Para tal faremos
Multifocal/multidimensional
referência quer às unidades de significação quer
Expressão Afetiva e Necessidades Básicas
aos significados atribuídos ou até mesmos
Cumpridas)
ambos, visando a clareza na análise dos dados.
subcategorias, as quais vamos explicar com
As conceções de “Conforto”, que no nosso
detalhe em seguida.
estudo estão relacionadas com as conceções
Verificamos
dos enfermeiros incluem as formas como os
(categoria), o enfermeiro atribui importância ao
sujeitos
conceitos,
alívio/controlo da dor (Subcategoria) assim
considerando a perceção que deles é feita na
como o controlo de outros sintomas físicos, como
relação com os elementos relacionados com o
consta nas asserções: “ (…) [conforto é estar]
ideal ou com o verdadeiro significado (Carpenter,
sem dor ou sem outro descontrolo de sintomas…
2002).
É mais ao nível da dor…” E2 15; “ (…) [conforto
Atribuir significado será pois dar sentido à sua
é estar] sem agitação… (…) " (E2 17)
as
encontrados
categorias
foram
e
compreendem
os
implica
perceber
das
que
quais
na
o
sentido
do
a
Conforto;
emergiram
Expressão
e
várias
Física
forma “autêntica”, procurando compreender um determinado fenómeno (Watson, 2002).
Relativamente às subcategorias Estado de
As conceções são as unidades fundamentais, de
alívio/controlo de dor; Controlo Sintomático e
sentido ou da compreensão do fenómeno, de
Ausência de agitação, refletem os seguintes
acordo com a intenção dos atores em contexto e
significados encontrados:
apresentam-se
como
parte
integrante
da
descrição do mesmo (Ribeiro, 2012). Revelam o pensamento e a ação dos atores de cuidados em coletivo e, dos enfermeiros de forma individual, considerando a particularidade dos seus pontos
Relacionado com dor controlada (S8) Relacionado com controlo do sintoma agitação (S9) Relacionado
com
sintomas
físicos
controlados (S19)
de vista (Honoré, 2004).
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Sabe-se que os enfermeiros têm um papel
liberdade de escolha e de autonomia. O
fundamental no alívio/controlo da dor uma vez
enfermeiro atribui importância à autonomia,
que lidam com os desconfortos dos doentes e o
como sendo algo fortemente ligado ao conforto,
que eles referem. O conceito é identificado numa
no sentido de poder ser autónomo nas suas
relação estreita com o controlo e com a ausência
rotinas o que leva a um estado confortador.
de dor, considerados, desta forma, como
A
sinónimos.
comprovada por diferentes autores ao afirmarem
A
experiência
dolorosa
é
um
multidimensionalidade
que a conceção de conforto pode adquirir
sociocultural, psicoespiritual e ambiental (Wilson,
significado de um estado de alívio ou de
2002; Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004;
encorajamento
sentido
Wilby, 2005, Yoursefi, H. et al. 2009; Oliveira,
positivo (Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2003;
2011; Ribeiro, 2012), o que corrobora os achados
Oliveira, 2011; Ribeiro, 2012)
do nosso estudo.
" (…) [conforto é] quando, acima de tudo, não tem
O estudo do significado e dos atributos de
dor visível, não tem dor descompensada (…)
conforto reconhece assim a seguinte categoria:
advém da ausência ou da diminuição da dor.” (E2
Expressão
14)
Conforto, assumindo diferentes características
“ (…) [conforto é] é o alívio dos sintomas (...) dos
definidoras
sintomas físicos, quaisquer que sejam (…) se
Subcategorias: Espiritualidade; Serenidade;
estiverem controlados (…) ” (E8 13)
Individualidade/Subjetividade; “Estar-Bem”;
Tal como refere a autora Ribeiro (2012) no seu
“Bem-estar
estudo, e que também se evidencia no nosso, a
Tranquilidade.
um
de
natureza
é
que
com
aspetos
conceito
fenómeno individual. A investigação evidencia
conotado
envolve
do
física,
Multifocal/multidimensional
das
quais
global”;
emergem
do
as
Dignidade
e
experiência e o significado de conforto, são referidos como uma sensação de comodidade e
O Conforto é caracterizado por ser um conceito
de alívio da dor, o que conduz ao reconhecimento
muito subjetivo e por isso individual, por questões
da individualidade da experiência humana do
relacionadas com o sentido da vida ou por uma
sofrimento, pelo ator de cuidado, numa ação
sensação de “Bem-Estar” interligadas com a
orientada pela possibilidade de ajudar o doente a
serenidade e tranquilidade desejáveis a estado
alcançar um estado de alívio/ausência de dor.
pleno de Dignidade.
Aspetos relacionados com a autonomia física
Os enfermeiros referem que o conceito é algo
(Subcategoria) são referidos pelos enfermeiros
difícil de definir por se alterar consoante as
como algo a considerar no conceito de conforto:“
circunstancias: “ (…) conforto para mim, que
(…) [conforto
num
também é uma situação que pode mudar.
processo que era normal, era uma rotina anterior
Portanto, a definição de conforto mudará
(…) ” (E3 33)
consoante a nossa situação.” (E5 9)
Na perspetiva de Watson (2002), cuidar implica
São vários os autores que defendem a perspetiva
consideração e respeito pela pessoa com vista à
de que o conforto é subjetivo, na medida em que
é]
sentir-se autónoma
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há ter em conta qual o significado que cada VOLUME 6. EDIÇÃO 1
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há ter em conta qual o significado que cada
estudo, como é justificado pelas unidades de
pessoa, família ou comunidade lhe atribui
significação: “ (…) [o conforto] permite-nos o
(Leininger, 1995; Malinowski & Stamler, 2002;
bem-estar necessário à qualidade de vida." (E1
Oliveira, 2011; Ribeiro, 2012). Assim sendo, é
26); “ (…) o conforto é… está ligado com um bem-
importante atender à individualidade da pessoa,
estar (…) ” (E3 46); “ (…) [conforto é] momento
de forma a poder intervir de acordo com as
em que se diz, eu estou bem no sítio em que
necessidades de conforto, tal como se evidencia
estou.” (E3 50); “ (…) [conforto é] estarmos bem
nos relatos dos idosos e dos enfermeiros:“ (…) [o
connosco próprios (…) ” (E4 13). A literatura
conforto] percecionado por cada um de nós de
aponta o conforto como um estado de prazer e
forma muito pessoal.” (E1 21); “ (…) o conforto é
de bem-estar. (Ribeiro, 2012)
(…) uma dimensão mais subjetiva (…) para percebermos se realmente está confortável ou
Assim sendo, e segundo o que descrevemos
desconfortável. “ (E1 25); “ (…) o conforto é uma
anteriormente, podemos dizer que no nosso
coisa, para si, como enfermeiro e como pessoa,
estudo encontrámos os seguintes significados,
deve ser outra, e cada um tem a sua definição de
após a análise dos dados:
conforto, e é aí que temos de ir de encontro…”
Conforto
(E3 44); “ (…) de encontro às minhas expetativas,
está
relacionado
com
a
individualidade (S4)
Conforto varia de pessoa para pessoa
às minhas necessidades enquanto pessoa, e não tanto de encontro a regras, padrões…” (E5 6)
(S5) O conforto está relacionado com o bem-
Watson (2002) refere na sua teoria, que o
estar (S6) Refere-se ao conceito de conforto como
conforto é contextualizado como uma condição que interfere no desenvolvimento interno e
algo difícil de definir (S15)
externo de cada pessoa, tendo em conta os seus valores, desejos, crenças e perspetivas, estando
Ainda
relacionado com a sensação de bem-estar, e
Multifocal/multidimensional do conforto, surgem
assumindo, desta forma, um carácter singular e
as
único.
na
[conforto é] toda a parte espiritual: saber que não
(Ribeiro, 2012), a
estamos sozinhos, saber que há alguém que
conceito
cuida de nós e que gosta de nós, e que está lá
sentido
mesmo só para nos dar a mão, e que, mesmo
quando se reporta a um estado desejável para
que não esteja presencial (…) ” (E8 14);
viver a vida, quando é relacionado com o “Bem-
Dignidade: “ (…) [conforto é] promover a
estar global” e o “Estar bem”, expressões
dignidade da pessoa (…) em fim de vida.” (E1 1);
próximas e similares, do conceito, de acordo com
Tranquilidade: “ (…) [doente] foi ficando mais
os
na
tranquilo.” (E1 8); Serenidade: “ (…) [conforto é]
perspetiva dos enfermeiros intervenientes do
Quando a pessoa (…) consegue alcançar algum
No
investigação
nosso
estudo,
da autora
expressão
também
do
multifocal/multidimensional
resultados,
e
bastante
ganha
expressivas
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na
categoria
subcategorias
da
Expressão
Espiritualidade:
“
(…)
tipo de serenidade (…)” (E7 13). Encontraram-se VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 20
tipo de serenidade (…)” (E7 13). Encontraram-se
estar com a família, com os entes queridos (…) ”
os seguintes significados no nosso estudo:
(E3 22); “ (…) [conforto é] termos uma boa
Existe preocupação em promover a dignidade (S1) O
conforto
ter a minha família perto, poderem permanecer está
relacionado
com
tranquilidade (S2) O
conforto
estrutura familiar (…) ” (E4 14), “ (…) [conforto é] comigo (…) ” (E6 12); “ (…) o maior conforto tanto para o doente como para a família, eram as
está
relacionado
com
relações [entre pessoas].” (E3 24), assim como ao afeto; sorriso e felicidade: “ (…) [conforto]
serenidade (S3)
Relacionado com espiritualidade (S20)
estava muito ligado ao afeto (…) ” (E3 31); “ (…) [conforto é] sentir um sorriso todos os dias (…) ”
O facto de uma pessoa ter um sentimento de
(E3 45); “ (…) [conforto é] é sorrir (…) ” (E3 48); “
ligação a um ser superior, à natureza ou a algo
(…) [conforto é] estar feliz (…) ” (E3 49). Pode-se
superior a si mesmo e senti-los ainda como uma
dizer que os atores atribuem significado à forma
força e um apoio, poderá ter benefícios para a
como se relacionam entre as pessoas assim
mesma (Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004;
como a estrutura familiar que possuem, ou à
Ribeiro, 2008; Ribeiro; 2012). É reconhecido a
oportunidade de a família partilhar momentos
importância em promover a dignidade, numa
importantes, o que lhes leva a um estado de
ação humana sustentada pelos princípios éticos
felicidade, a um sorrir inerente com base na
do respeito da autonomia, da beneficência e da
relação de afeto. É ainda ter oportunidade de
não maleficência, no reconhecimento do Outro e
deixar recordações/memórias para as pessoas
da sua dignidade (Vieira, 2007; Nunes, 2011;
que permanecem vivas após a morte do próprio,
Ribeiro,
estrutura
como reflete a asserção: “ Mesmo que seja em
confortadora, o cuidado que conforta emerge
fim de vida. E saber que, após a nossa partida,
como um processo que é construído e que
que alguém nos há-de recordar.” (E8 15)
2012).
Ainda
nesta
resulta no aumento do conforto (Kolcaba, 2003). Parece fazer sentido olhar o conforto como a
A família apresenta-se como uma entidade
experiência de alívio ou consolo ou, ainda, como
dinâmica, onde as relações de socialização,
sensação de paz, serenidade/ tranquilidade ou
proteção
aconchego, face à vivência de um incómodo ou
dimensão importante (Silva, 2006). As funções
perturbação considerada como desconfortadora.
familiares são inúmeras, nelas pode-se incluir: o
(Ribeiro, 2012)
gerar afeto, entre os membros da família; o
e
apoio
constituem
assim
uma
proporcionar a satisfação, a aceitação pessoal, a A
Expressão
assume
segurança, a estabilidade e ainda o dar apoio e
também um papel relevante no que respeita à
resposta às necessidades básicas, em situação
conceção do conforto, com grande enfoque no
de doença (Ribeiro, 2012). O sorriso é um dos
nosso
relações
sinais de comunicação com sentido universal,
interpessoais: “ (…) o maior conforto (…) era
constitui-se como a expressão facial que melhor
estudo
afetiva
à
(Categoria)
família
e
às
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
rompe
barreiras
e
aproxima
as
pessoas,
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 21
pessoas,
de significação: “ (…) [conforto é] quando está
permitindo por isso estabelecer um mecanismo
(…) bem hidratado (…) " (E2 13); “ (…) um
de vinculação entre as mesmas. Os estudos
padrão de eliminação regular…” (E2 18). Pode-
sobre o sorriso demonstram que o sorriso tem
se dizer que só se consegue atingir um estado
efeito na interação social. Pode considerar-se a
desejável de conforto quando a hidratação ou o
influência
pelo
padrão de eliminação estiver satisfatoriamente
emissor na manifestação do mesmo pelo recetor,
cumprido. Kolcaba (2003) considera o conforto
promovendo um efeito terapêutico, em pessoas
como um estado em que estão satisfeitas as
que se sentem deprimidas ou pessimistas, ou
necessidades humanas básicas. O alívio é o
ainda como uma forma de um maior relaxamento
estado em que uma necessidade foi satisfeita,
(Ribeiro, 2012).
sendo necessário para que a pessoa restabeleça
Honoré (2002) refere que a saúde está no centro
o seu funcionamento habitual. As necessidades
da vida e é condição fundamental para a nossa
evidenciam-se como algo positivo que se pode
existência, estando associada à felicidade e à
relacionar com os desejos e as expectativas
autonomia. Assim, quando os atores referem o
particulares do doente, imprescindível para que a
conforto como um estado de felicidade podemos
pessoa assegure o seu bem-estar e se preserve
dizer que está associado a um estado de
física e mentalmente (Phaneuf, 2010).
autonomia, a um estado de bem-estar, presentes
No Diagrama seguinte podemos observar, de
quer na expressão física quer na expressão
forma resumida, as ideias centrais da Conceção
multifocal/multidimensional do conforto.
de Conforto na perceção do Enfermeiro
rompe
barreiras
do
e
aproxima
comportamento
as
sorriso
Surge ainda a referência pelos atores do nosso estudo, às Necessidades Básicas Cumpridas (Categoria) tal como exemplificam as unidades
Diagrama 1 - Conceção de Conforto: Categorias e Subcategorias JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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