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Mancini, R., et al (2014) Cognitive function and functional capacity in women vower 50 years old, Journal of Aging & Inovation, 3 (1): 15-25
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ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2014
FUNÇÃO COGNITIVA E CAPACIDADE FUNCIONAL EM MULHERES ACIMA DE 50 ANOS DE IDADE COGNITIVE FUNCTION AND FUNCTIONAL CAPACITY IN WOMEN OVER 50 YEARS OLD LA FUNCIÓN COGNITIVA Y LA CAPACIDAD FUNCIONAL EN LAS MUJERES MAYORES DE 50 AÑOS Autores Rafael Mancini 1 ,Sandra Matsudo 2 ,Victor Matsudo 3 1,2,3
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Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, CELAFISCS
Corresponding Author: rafael@celafiscs.org.br
Resumo Durante o processo de envelhecimento ocorre diminuição da função cognitiva que pode estar associada com o declínio da capacidade funcional. O objetivo do estudo foi associar a função cognitiva com as variáveis antropométricas, força muscular e capacidade funcional e comparar às mesmas variáveis nas mulheres que apresentaram melhor desempenho cognitivo com aquelas que apresentaram déficit cognitivo. Foram avaliadas mulheres praticantes de atividade física. As variáveis antropométricas analisadas foram o IMC, a adiposidade e a relação cintura-quadril. A força muscular foi medida pelo teste de preensão manual e pelo teste de impulsão horizontal sem o auxilio dos braços e a capacidade funcional pelos testes de equilíbrio estático, velocidade de levantar da cadeira, velocidade de andar, velocidade máxima de andar e a agilidade. Análise estatística: Spearman rho, teste t de Student e o teste Mann-Whitney (p<0,05). Resultados: Foi encontrada associação da função cognitiva com o IMC, IVS, equilíbrio estático e velocidade de andar. Mulheres que apresentaram melhor desempenho cognitivo também mostraram melhores valores de IVS (16,09%) e equilíbrio estático (35,40%). Conclusão: Mulheres que apresentam uma preservação da força muscular de membros inferiores durante o processo de envelhecimento podem ter uma função cognitiva preservada, ressaltando a necessidade de um estilo de vida ativo.
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Palavras chaves: Envelhecimento, Função Cognitiva, Força Muscular, Capacidade Funcional
Abstract During the aging process there is a decrease in cognitive function that may be associated with a decline in functional capacity. The purpose of this study was to measure the association cognitive function with the anthropometric variables, muscle strength and functional capacity and compare the same variables in women who had better cognitive performance with those who had cognitive impairment. We evaluated women who exercise. The anthropometric variables analyzed were BMI, body fat and waist-hip ratio. Muscle strength was measured by a handgrip test and the horizontal thrust without the help of arms and the functional capacity tests of static balance, speed of rising from a chair, walking speed, walking speed and agility. Statistical analysis: Spearman rho, Student's t test and Mann-Whitney test (p <0.05). Results: We found an association of cognitive function with BMI, IVS, static balance and walking speed. Women who had better cognitive performance also showed higher values of IVS (16.09%) and static balance (35.40%). Conclusion: Women who have a preservation of muscle strength of lower limbs during the aging process may have a preserved cognitive function, emphasizing the need for an active lifestyle.
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Keywords: Aging, Cognitive Function, Muscle Strength, Functional Capacity
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Introdução Podemos definir a função cognitiva ou sistema funcional cognitivo como as fases do processo de informação, que envolvem percepção, aprendizagem, memória, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas, sendo que o funcionamento psicomotor (tempo de reação, tempo de movimento, velocidade de desempenho) poderia ser incluído também neste conceito (Antunes et al., 2006). Nesse sentido, estudos mostram que o declínio cognitivo é influenciado pelo processo de envelhecimento. Entretanto, os motivos que levam ao prejuízo cognitivo ao longo dos anos ainda não estão bem claros na literatura. No entanto algumas hipóteses ganham destaque neste cenário, sendo que dentre elas estão o prejuízo na função do lobo frontal e na função neurotransmissora, além da diminuição da circulação sanguínea cerebral (Laurin et al., 2001). Outro achado importante foi o descrito por Colcombe et al. (2003), em que durante o envelhecimento ocorreria uma diminuição de densidade de tecido neural no córtex frontal, parietal e temporal, da mesma forma que ocorre na maiorias dos tecidos havendo um desequilíbrio entre a lesão e reparação neural, estabelecendo-se assim o envelhecimento cerebral.
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Por outro lado, recentes estudos vêm mostrando que a atividade física pode atenuar o prejuízo causado pelo processo de envelhecimento na função cognitiva, tendo em vista que já é classificada como evidência categoria A/B (ACSM, 2009). Dessa forma, atividade física com predomínio do metabolismo aeróbico vem sendo associada com uma melhora da função cognitiva em adultos idosos. Mulheres idosas com um maior nível de atividade física apresentam 50% menos riscos de apresentar demência e declínio cognitivo e 60% de desenvolver doença de Alzheimer quando comparadas com sedentárias (Laurin, 2001). Em outro estudo, quando comparado o nível de atividade física em MET´s, as mulheres mais ativas tinham 20% menos risco de apresentar declínio cognitivo do que as menos ativas (Weuve, 2004).
Nesse sentido, um estudo
retrospectivo analisou a atividade física praticada por idosos de 65 anos durante a adolescência, aos 30 e aos 50 anos, sendo que quando a atividade física era praticada com regularidade em qualquer idade, havia um menor risco de desenvolver debilidades mentais durante a velhice e ainda a proteção era maior quando a atividade física era praticada na adolescência (Middleton, et al.
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Mas o exercício de força muscular
Estudos do Laboratório de Aptidão Física de
também vem sendo associado a uma
São Caetano do Sul (CELAFISCS) realiza,
melhora da performance cognitiva, sendo
desde 1997, o Projeto Longitudinal de
que após um período de treinamento com
Envelhecimento e Aptidão Física de São
pesos de intensidade moderada a alta,
Caetano do Sul. Os critérios de inclusão
idosos obtiveram impacto positivo nas
adotados foram: ser do sexo feminino, fazer
funções cognitivas (Casilhas et al, 2007). Por
parte do programa de exercícios físicos
outro lado, a função cognitiva vem sendo
oferecidos pelo centro há pelo menos seis
associada ao processo neuromuscular que
meses e ter freqüência nas aulas igual ou
pode afetar diretamente a força muscular
superior a 75%. Todas as participantes
(Clark e Manini, 2010) e indiretamente a
assinaram um termo de consentimento livre e
capacidade funcional de pessoas mais
esclarecido, previamente aprovado pelo comitê
velhas (Atkinson et al, 2010).
de ética em número 028/2010-A da Fundação
Assim, o presente estudo teve como
Municipal de Saúde de São Caetano do Sul. As
objetivo associar a função cognitiva com as
aulas eram realizadas duas vezes por semana,
variáveis antropométricas, de força muscular
em dias alternados (terças e quintas-feiras ou
e capacidade funcional de mulheres
quartas e sextas-feiras), no período matutino,
praticantes de atividade física, como também
com duração de 50 minutos por aula, com grupo
comparar as mesmas variáveis entre as
de aproximadamente 30 mulheres e homens por
mulheres que apresentaram um melhor
turma. As atividades realizadas foram
desempenho cognitivo com aquelas com
subdivididas em atividades de aquecimento,
déficit cognitivo.
atividades aeróbicas, de alongamento e
MATERIAIS E MÉTODOS Amostra A amostra do presente estudo foi composta por 154 mulheres de 50 a 88 anos de idade (68,44 +7,63 anos) que freqüentavam o
exercícios de fortalecimento muscular. Estado Cognitivo O estado cognitivo foi analisado através do questionário Mini exame de estado mental (MEEM), desenvolvido por Folstein (1975), mas
centro social e recreacional para a terceira idade
adaptado por Bruck et al (2003) para utilização
“Dr. Moacyr Rodrigues”, onde o Centro de
no Brasil,que foi aplicado individualmente a
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cada participante do estudo. O escore deste
circunferência da cintura e do quadril e a relação
teste varia entre o mínimo de 0 e o máximo de
cintura-quadril (Matsudo S, 2010).
30 pontos. O MEEM é um teste composto por
Para medir a massa corporal total foi
diversos quesitos, agrupados em sete
utilizada uma balança com capacidade de 200
categorias, cada um com o objetivo de avaliar
quilogramas e com precisão de 100 gramas. As
funções cognitivas específicas como: orientação
mulheres participantes do estudo foram
temporal (5 pontos), orientação espacial (5
orientadas a ficar descalças, em pé, sobre a
pontos), memória imediata (3 pontos), atenção e
plataforma da balança com o peso do corpo
cálculo (5 pontos), memória de evocação (3
distribuído igualmente entre os pés, usando o
pontos), linguagem geral (9 pontos). Para o
mínimo de roupa possível. A estatura foi medida
presente estudo foi utilizado apenas a somatória
com uma fita métrica graduada em centímetros
dos pontos do instrumento e utilizando o escore
fixada na parede e um cursor antropométrico. A
geral para a análise dos dados.
participante foi orientada a ficar descalça na
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posição ortostática com o calcanhar, cintura
Avaliação da Aptidão Física e Capacidade
pélvica, cintura escapular e região occipital
Funcional
encostados na parede. A medida foi realizada
Os dados de aptidão física e capacidade
com o individuo em apnéia inspiratória e com a
funcional foram coletados durante as avaliações
cabeça paralela ao solo orientada no plano de
realizadas pela equipe do CELAFISCS, que
Frankfurt. O IMC foi estimado a partir do cálculo
aconteciam periodicamente duas vezes ao ano,
dado pela divisão da massa corporal, em
uma a cada semestre seguindo a padronização
quilogramas, pelo quadrado da estatura em
de baterias de testes e medidas propostos pelo
metros. A adiposidade foi determinada
CELAFISCS (Matsudo, S. 2010).
indiretamente com mensurações de três dobras
Variáveis Antropométricas, Força Muscular e
cutâneas que representavam as regiões dos
Capacidade Funcional
membros superiores (dobra cutânea tricipital -
As variáveis antropométricas analisadas
TR) e tronco (dobra cutânea subescapular – SE
foram a massa corporal total, a estatura, o
e dobra cutânea supraílica – SI); utilizando para
índice de massa corporal (IMC), a adiposidade
calcular a média de três medidas de cada dobra
através da média de três dobras cutâneas
cutânea.
(tríceps, subescapular e suprailíaca), a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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As circunferências foram obtidas com
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ANÁLISE ESTATÍSTICA
uma fita métrica metálica, aplicada na parte
Para testar a normalidade da distribuição
mais estreita do tronco para circunferência da
dos dados foi utilizado o teste de Kolmogorov
cintura (CC) e no maior volume dos glúteos para
Smirnov. Para correlacionar a função cognitiva
circunferência do quadril (CQ). A relação da
dado pelo escore geral do MEEM, com as
cintura em relação ao quadril (RCQ) foi
variáveis antropométricas, força muscular e com
calculada dividindo a CC pela CQ, ambas
a capacidade funcional foi usada a correlação
medidas em cm. A força muscular de membros
de Spearman’rho. Para fazer a comparação foi
superiores foi determinada pelo teste de
utilizado o seguinte critério - A amostra foi
preensão manual (dinamometria) do lado direito.
dividida em dois grupos: Grupo Melhor
Já a força muscular de membros inferiores foi
Desempenho Cognitivo: aquelas que obtiveram
medida pelo teste de impulsão vertical sem o
mais de 28 pontos no teste
auxílio dos braços (IVS). A capacidade funcional
Déficit Cognitivo: aquelas que apresentaram
foi analisada pelos testes de:
menos que 24 pontos no teste de MEEM. Para
MEEM; e Grupo
a. Equilíbrio estático: medido através do
comparar as variáveis antropométricas, força
teste de 30 segundos com controle
muscular e a capacidade funcional entre os
visual.
grupos foi utilizado o teste t de Student para
b. Velocidade de levantar da cadeira: dada
amostras independentes nos dados
pelo tempo do individuo se movimentar
paramétricos e o teste de Mann-Whitney nos
da posição sentada à posição em pé o
dados não paramétricos, sendo o nível de
mais rápido possível.
significância adotado de p<0,05.
c. Velocidade normal de andar: dada pelo tempo do individuo percorrer 3,33 metros.
! RESULTADOS Convencionando o valor máximo em 30
d. Velocidade máxima de andar: medida
pontos, os resultados do MEEM obtidos foram
pela velocidade máxima do individuo
expressivos, com uma média de 25,25 (+ 3,57).
percorrer 3,33 metros.
O nível de escolaridade apurou que 75% das
e. Agilidade: medida pelo teste de “shuttle run”.
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mulheres tinham o ensino fundamental completo ou incompleto, 16% o ensino médio, 7% o
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ensino superior e apenas 2% eram analfabetas.
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A Tabela 2 mostra os valores da
Quando se analisou o desempenho do
associação do MEEM entre as variáveis de
M E E M ( Ta b e l a 1 ) c o m a s v a r i á v e i s
força muscular. Ao analisar o MEEM com a
antropométricas, encontrou-se associação
dinamometria não foi encontrada associação
negativa de baixa magnitude e estatisticamente
estatisticamente significante, mas houve
significante apenas com o IMC, enquanto que
associação significante entre o MEEM e a
nas variáveis adiposidade e RCQ foram
impulsão vertical, que foi positiva, porém de
encontradas associações não significantes.
baixa magnitude.
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Ao analisar o MEEM quanto ao desempenho
velocidade de andar, porém a relação foi de
nos testes da capacidade funcional (Tabela 3),
baixa magnitude. Não foi encontrada associação
foram encontradas associações significantes
significante entre o MEEM com a velocidade de
entre o MEEM e o equilíbrio estático e a
levantar da cadeira, velocidade máxima de
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andar e agilidade.
Considerando-se a comparação do grupo de
dados não paramétricos. Não foram
melhor desempenho cognitivo e de déficit
encontradas diferenças estatísticamente
cognitivo, os dados paramétricos estão descritos
significantes no IMC, dinamometria, agilidade e
na Tabela 4, enquanto que na Tabela 5 estão os
velocidade máxima de andar (Tabela 4).
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Verificou-se que as participantes
equilíbrio (35,40%), ambas estatisticamente
incluídas no grupo de melhor desempenho
significantes (Tabela 5). Na comparação das
cognitivo a apresentaram melhor desempenho
variáveis adiposidade, RCQ, velocidade de
nos testes de impulsão vertical (16,09%) e
levantar da cadeira e velocidade de andar, não
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se encontraram diferenças significantes.
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DISCUSSÃO
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Gustafson et al.(2004), que postularam que o
De um modo geral as variáveis
excesso de peso e obesidade durante a vida
antropométricas analisadas no presente estudo,
adulta poderiam contribuir para a atrofia do lobo
não pareceram se associar com prejuízo à
temporal em mulheres após a menopausa e
função cognitiva avaliada pelo MEEM, com
ainda Jagust et al. (2005) que relataram que a
exceção do IMC. O resultado apresentado foi
obesidade visceral estava associada a
inversamente associado com o desempenho
processos neurodegenerativos vasculares e
cognitivo, onde mulheres com um IMC maior
metabólicos que afetam estruturas cerebrais,
apresentaram menores resultados do escore
contribuindo para o declínio cognitivo e a
geral do MEEM. Quando comparamos as
demência.
variáveis antropométricas de acordo com a
No que se refere à força muscular
função cognitiva, o grupo que apresentou déficit
relacionada com a função cognitiva, nesta
cognitivo obteve piores resultados nas variáveis
amostra mulheres que apresentaram melhor
antropométricas (IMC, Adiposidade e RCQ).
função cognitiva tenderam a apresentar maior
Resultados semelhantes foram encontrados por
força muscular de membros inferiores. A
Romeira (2006), que ao analisar a relação entre
comparação dos grupos revelou que o grupo
função cognitiva e as variáveis antropométricas
com melhor desempenho cognitivo apresentou
(IMC, % de gordura, RCQ e circunferência da
força muscular de membros inferiores 16,09%
cintura) não encontrou associações
maior do que o grupo com déficit cognitivo. Já a
significantes. Outro estudo mais recente
força muscular de membros superiores não se
mostrou que mulheres acima de 50 anos de
associou com o MEEM, com o grupo de melhor
idade, com a RCQ abaixo de 0,78,
desempenho cognitivo apresentando maiores
apresentaram piores resultados da função
valores (6,19%) de dinamometria, porém a
cognitiva avaliada pelo MEEM em mulheres com
diferença não foi significante.
altos valores de IMC; e quando a RCQ era
Em um estudo realizado por Atkinson et
maior que 0,90 o grupo que tinha maiores
al. (2010) encontrou-se fraca correlação entre a
valores do IMC, teve melhores resultados do
função cognitiva e o teste de preensão manual.
MEEM (Kervin et al, 2010)
A perda da força muscular decorrente da idade
A hipótese sobre o mecanismo envolvido
tem características importantes na diminuição
na relação dessas variáveis está baseada em JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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da força muscular de membros superiores
espinhal que inerva um menor número de
quando comparadas com membros inferiores.
motoneurônios em membros inferiores quando
Matsudo, et al., (2003) mostraram que de
comparado com os membros superiores a
acordo com a idade cronológica não houve
medida que se envelhece (Aagaard, et al. 2010).
diferença na força de preensão manual entre
Esse aspecto de diminuição da força
mulheres ativas de 70 à 79 anos comparadas
muscular se relaciona com o desempenho nos
com mulheres de 50 à 59 anos. Um estudo de
testes de capacidade funcional, onde o melhor
“tracking” mostrou que após 4 anos houve a
resultado no MEEM se relacionou com melhores
manutenção da força muscular de membros
resultados nos testes de equilíbrio estático e
superiores e queda na força muscular de
velocidade de andar (teste que tem
membros inferiores em idosas praticantes de
característica de equilíbrio dinâmico), sendo que
atividade física (Matsudo, et al., 2004). Os
estes dois testes dependem da força muscular
resultados sugerem que a força exercida no
exercida. Reforçando a hipótese, cita-se o fato
teste pode ser explicada pela participação das
do grupo com melhor desempenho cognitivo foi
mãos e dos punhos em outras atividades da
35,40% melhor no teste de equilíbrio estático do
vida diária e a diminuição de força exercida por
que o grupo com déficit cognitivo.
membros inferiores foi explicado pelo estilo de
Atkinson, et al. (2010) encontraram fraca
vida inativo que acompanha o envelhecimento,
associação entre a velocidade de andar e a
fato que favorece as incapacidades e a
velocidade de levantar da cadeira. Por outro
dependência física (Mazo et al. 2005).
lado, Watson et al. (2010) demonstraram que
Mas ainda existe outro mecanismo que
quanto menor a velocidade de andar pior foi a
envolve as questões aqui citadas. Clark e
função executiva e a memória, resultados
Manini (2010) sugerem que a função cognitiva
semelhantes aos do presente estudo.
esteja relacionada com o processo
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neuromuscular sendo fatores como a
LIMITAÇÕES
excitabilidade espinhal, a taxa de descarga e o recrutamento de unidades motoras entre aqueles que poderiam comprometer assim a força muscular. Outro fator que poderia explicar
O presente estudo apresentou algumas limitações, como o fato de serem utilizados testes indiretos, uma ampla faixa etária e não terem sido controladas algumas variáveis que
tal fenômeno seria a diminuição do circuito JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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pudessem interferir nos resultados, como a presença de doenças e o início do consumo de medicamentos. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos no presente estudo podemos concluir que nesta amostra houve associação entre a função cognitiva com o IMC, com a força muscular de membros inferiores e com a capacidade funcional através dos testes de equilíbrio estático e velocidade de andar, porém associações de baixa e fraca magnitude. Por outro lado, mulheres que apresentaram melhor desempenho cognitivo também mostraram melhores valores de força muscular de membros inferiores e equilíbrio estático. Assim sendo, mulheres que apresentam uma preservação da força muscular de membros inferiores durante o processo de envelhecimento também podem ter uma função cognitiva preservada ressaltando a necessidade de um estilo de vida ativo.
! Agradecimentos Parte deste artigo foi apresentada no 33º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte em 2010, com o titulo de Associação entre Função Cognitiva e Capacidade Funcional em mulheres acima de 50 anos de idade praticantes de atividade física.
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