Ferrão, S., Henriques, A., Fontes, R. (2011) Elderly fall prevention in nursing home context – Systematic fall risk assessment using Morse Scale, Get Up and Go and Timed Get Up and Go tests. Journal of Aging & Inovation; 1 (1): 14-22
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO, 2011
Prevenção e controlo de quedas na Pessoa idosa institucionalizada em Lar - Avaliação de risco sistematizada através da aplicação da Escala de Avaliação de Risco de Queda de Morse, Teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go Elderly fall prevention in nursing home context – Systematic fall risk assessment using Morse Scale, Get Up and Go and Timed Get Up and Go tests
Autores Sónia Ferrão1, Adriana Henriques2, Rui Fontes3 1 e 2 Professora
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa,3 Enfermeiro, Presidente da AAGI-ID
RESUMO Introdução: O presente artigo apresenta e discute alguns resultados obtidos durante a realização de um projecto de prevenção e controlo de quedas em contexto de lar de idosos, numa instituição com capacidade para 100 residentes, em que se se implementou a avaliação sistematizada de risco de queda através da aplicação da escala adaptada de Morse, e se aplicaram os testes Get Up and Go e Timed Get Up and Go seguidos de intervenção personalizada a 49 residentes. Metodologia: Baseado na metodologia de projecto, implementou-se a aplicação da Escala de Avaliação de Risco de Queda de Morse a todos os residentes pelo seu enfermeiro de referência (n=74). Paralelamente à aplicação da escala de Morse realizou-se uma avaliação e intervenção personalizadas através da aplicação dos testes Get Up and Go e Timed Get Up and Go (n=49). Resultados: Através da implementação do projecto, a avaliação de risco de queda com a aplicação da Escala de Avaliação de Risco de Queda de Morse passou a ser feita a todos os residentes pelo seu enfermeiro de referência. Constatou-se que cerca de um terço dos residentes apresentava elevado risco de queda. Dos 64 residentes avaliados para realização do teste Get Up and Go, 23% não tinham critério para realização do mesmo por estarem acamados ou em cadeira de rodas. Dos 49 residentes que realizaram o teste, 29,9% demoraram mais de 20 segundos a completá-lo tendo indicação para avaliação multidisciplinar posterior. Os residentes de alto risco foram referenciados aos diferentes técnicos da equipa para avaliação e intervenções individualizadas multifactoriais. Foi nomeado um enfermeiro de referência na prevenção e controlo de quedas no contexto, e criada uma comissão interdisciplinar de acompanhamento do projecto. Conclusões: A avaliação de risco de quedas nos residentes, acompanhada de intervenções dirigidas a cada indivíduo e tendo em conta os diferentes tipos de quedas (acidentais, fisiológicas previsíveis e fisiológicas não previsíveis) constitui uma abordagem sistematizada e diferenciada na prevenção e controlo de quedas na Pessoa Idosa institucionalizada em lar. Palavras-chave: Acidentes por quedas; Pessoa idosa; Avaliação de risco; Enfermagem Geriátrica.
ABSTRACT Introduction: This paper presents and discusses some results obtained during the development of a falls prevention project in nursing home context in which it was implemented a systematic assessment of falling risk through the Morse scale, and applied the Get Up and Go test and Timed Get Up and Go in an institution with a capacity of 100 residents. Methodology: Based on project methodology, we implemented the application of the rating Morse scale to all residents by their reference nurse. In parallel to Morse scale application it was held a personalized assessment and intervention by applying the Get Up and Go test and Timed Get Up and Go. Results: Through the implementation of the project, the fall risk assessment the trough Morse Scale began to be made to all residents by their reference nurse. It was found that about a third of residents had high risk of falling. Of the 64 residents evaluated for performing the Get Up and Go test, 23% had no discretion to perform the same because they were bedridden or wheelchair, and from the 49 residents who performed the test 29.9% took more than 20 seconds to complete it, with further indication for multidisciplinary assessment. It was appointed a falls prevention reference nurse in the context, and created an interdisciplinary commission for monitoring the project. Conclusions: A systematic fall risk assessment in residents, followed by interventions targeted to each individual and taking into account the different types of falls is an efficient and differentiated approach in fall prevention and in institutionalized elderly in the home. Keywords: Accidental falls, Elderly, Risk Assessment, Geriatric Nursing. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 15
INTRODUÇÃO
dos indicadores de qualidade sensíveis aos
As quedas são a principal causa de morte
cuidados de enfermagem definidos
por trauma nas pessoas com 65 ou mais anos,
internacionalmente para os lares de idosos
podendo conduzir a outras consequências
(Zimmerman, 2003; Rantz, 2004; Wiener et al,
graves como fracturas de fémur, traumatismos
2007).
cranianos e lesões de tecidos moles (NICE,
Para além de tentar prevenir a ocorrência
2004; NCPS, 2004; Rubenstein, 2006; Morse,
da queda, é da responsabilidade dos
2009).
enfermeiros reduzir a taxa de lesão o máximo
Em Portugal, estima-se que as quedas
possível, sendo um importante indicador de
sejam responsáveis por cerca de 70% dos
monitorização de quedas a nível institucional
acidentes em pessoas idosas, ocorrendo
(Morse, 2009).
maioritariamente no domicílio, quer seja privado
Embora a responsabilidade da prevenção
ou instituição, considerando-se uma causa
de quedas não seja exclusiva dos enfermeiros,
importante de internamento hospitalar e
os programas de prevenção e controlo de
mortalidade nesta população (DGS, 2010).
quedas são habitualmente liderados por estes.
Frequentemente as quedas constituem um
As instituições devem ter uma enfermeira
dos motivos de institucionalização da pessoa
especialista como supervisora da
idosa em lar, quer pelas suas consequências,
implementação do programa de prevenção e
recorrência, ou mesmo pelo medo de cair.
controlo de quedas, com responsabilidades que
Apesar disso, a sua incidência não é menor
incluem: preparação de estruturas de registo e
neste contexto, sendo considerado que os lares
monitorização de queda, compra e distribuição
são as instituições onde ocorrem mais quedas
de equipamento de protecção para quedas,
(Morse, 2009). Ainda que se estime que apenas
formação do pessoal (e treino de pessoal
5% do total das pessoas idosas residam em
recentemente contratado), avaliação dos
lares, cerca de 20% da totalidade de quedas
utentes com elevado risco ou que sofreram de
ocorre em idosos institucionalizados em lar
queda para identificação de intervenções
(Rubbenstein, 1997; NCPS, 2004).
apropriadas, coordenar a avaliação de risco e
As quedas nas pessoas idosas
reuniões multidisciplinares de intervenção,
institucionalizadas em lares para além de mais
articulação com os serviços de limpeza e
frequentes, têm habitualmente consequências
manutenção, monitorização contínua do
mais graves quando comparadas às que
projecto, incluindo a preparação de relatórios e
ocorrem nas pessoas idosas a viver em casa,
feedback à administração e equipa (Morse,
pelas características dos residentes em lares,
2009).
habitualmente mais velhos, com maior número
Um dos componentes dos programas de
de co-morbilidades e pior estado funcional
prevenção e controlo de quedas é a avaliação
(Sorensen et al, 2006).
de risco e intervenção concordante com a
A prevalência de quedas constitui assim
mesma. Classicamente, dividem-se os factores
um problema significativo nesta população,
de risco de queda em intrínsecos e extrínsecos
tendo sido inclusivamente apontada como um
e antecipáveis ou não antecipáveis existindo
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 16
diferentes abordagens para cada um deles
Outras formas de avaliação de risco de
(NCPS, 2004; NICE, 2004; Morse, 2009). Os
queda são propostas na literatura, como o caso
factores de risco intrínsecos incluem a história
teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go,
recente de quedas, incontinência, alteração
recomendadas para a identificação dos factores
cognitiva, alterações de mobilidade, força e
de risco intrínsecos e extrínsecos para quedas
equilíbrio, tonturas, hipotensão postural, idade
(Wall et al, 2000; Kimbell, 2001), consistindo
acima de 65 anos, osteoporose e estado de
numa avaliação mais detalhada do indivíduo
saúde globalmente deficitário (NCPS, 2004;
permitindo avaliar a marcha equilíbrio, calçado e
Nice, 2004). Os factores de risco extrínsecos
vestuário, visão, entre outros.
são aqueles que estão presentes no ambiente,
Devido à etiologia multifactorial das
como sejam obstáculos ou desníveis difíceis de
quedas e à complexidade da Pessoa Idosa
transpor, iluminação inadequada, espaços de
institucionalizada em lar, considera-se que as
transição mal assinalados, piso escorregadio,
melhores práticas neste contexto são a correcta
entre outros (CDC, 2002; NICE, 2004; NCPS,
identificação de risco de queda e
2004; Morse, 2009).
implementação de estratégias de intervenção
Morse (2009) classificou as quedas em
individualizadas, multifactoriais e
acidentais, fisiológicas antecipáveis e
multidisciplinares (NICE, 2004; Gillespie et al.,
fisiológicas não antecipáveis. Segundo a mesma
2008; ACSQHC, 2009; AGS, 2010).
autora, as quedas fisiológicas antecipáveis constituem 78% do total das quedas, ocorrendo
METODOLOGIA
em pessoas que são identificadas pela escala
Adoptou-se a metodologia de projecto,
de avaliação de risco que concebeu como em
sendo fases de execução, monitorização e
risco de queda por apresentarem factores como
encerramento baseadas no que Morse (2009)
história prévia de quedas, alteração na marcha,
recomenda para o sucesso da implementação
terapêutica intravenosa, e necessidade de
de um programa de prevenção e controlo de
utilização de dispositivos auxiliares de marcha
quedas.
(Morse, 2009). Entidades como o National Center for
Avaliação de risco de queda através da escala de Morse
Patient Safety (NCPS; 2004) recomendam a
Não tendo sido encontrada nenhuma
escala de Morse como instrumento de avaliação
publicação relativa à tradução, adaptação e
de risco adequado para os lares de idosos. Esta
validação da referida escala para português, e
escala consiste num instrumento que visa triar
não constar nenhuma versão portuguesa na
de forma rápida (entre 1 a 3 minutos) as
última publicação da autora (Morse; 2009), foi
pessoas que estão em risco de cair, e assim
iniciado um processo de adaptação da escala
permitir a implementação imediata de
para utilização no contexto clínico do projecto. A
estratégias de intervenção preventivas e
autora foi contactada, autorizando a utilização
protectoras, bem como a monitorização do risco
da escala e enviando recomendações para a
de queda durante a institucionalização.
sua utilização que foram seguidas no projecto.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 17
De seguida procedeu-se ao processo de tradução com recurso a dois peritos e
feitas algumas avaliações em conjunto com discussão de dúvidas e dificuldades.
posteriormente a escala foi apresentada aos
Todos os enfermeiros realizaram a
enfermeiros da equipa, sendo discutidas as
avaliação de risco dos residentes que lhes
possíveis dúvidas que alguns itens pudessem
estavam atribuídos. Essa informação foi
suscitar e obtido consenso acerca do significado
recolhida, e depois de tratada foi discutida na
dos termos a utilizar.
reunião de equipa divulgando-se os resultados
Tal como a autora recomenda, foram fornecidas instruções escritas de preenchimento
obtidos e confrontando-os com o que literatura descreve.
a todos os elementos da equipa de enfermagem. Ficou um exemplar do seu livro
Teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go
disponível para consulta no lar, num local
Condições de realização do teste:
conhecido por todos os elementos e
Espaço físico: O teste foi realizado no
consideraram-se os scores 0-24 baixo risco,
gabinete médico e no ginásio quando estes se
25-44 médio risco e 45 ou mais risco elevado.
encontravam disponíveis, de forma a garantir as
A primeira fase de aplicação da escala de avaliação de risco de queda na população
condições de realização do teste e intervenção posterior.
residente permitiu a familiarização da equipa
Equipamento utilizado: Cadeira (altura
com a escala, para que se identificassem
aproximadamente 46cm e braços 65cm); Fita
dificuldades de aplicação, exequibilidade da
métrica; Cronómetro; Pino de ginásio; Folhas de
implementação da mesma, entre outros. Assim
avaliação.
sendo, solicitou-se a cada enfermeiro que
Sequência da avaliação: Inicialmente foi
preenchesse a avaliação de risco de queda de
divulgada a avaliação e intervenção com a ajuda
todos os residentes por quem estivesse
da equipa de enfermagem, solicitando a
responsável, tendo-se acompanhado este
participação dos residentes. Posteriormente, os
processo. Durante esta fase questionaram-se
residentes eram abordados individualmente
quais as principais dificuldades de
fornecendo-se informação breve acerca da
preenchimento, da avaliação dos itens
avaliação e intervenção a realizar, e combinava-
necessários e o que pensavam os enfermeiros
se com os interessados a hora e local das
sobre o tempo de preenchimento da escala.
mesmas.
No que concerne ao instrumento, os
As avaliações eram feitas individualmente
enfermeiros, de uma maneira geral,
ou em grupo, designadamente no caso de
consideraram-no de rápido e fácil
casais, de acordo com a preferência dos
preenchimento, sendo as principais dificuldades
residentes.
referentes à diferenciação entre marcha
Inicialmente era recolhida alguma
comprometida e frágil e o significado de estado
informação que permitia conhecer melhor cada
mental no instrumento. Para que essas
residente, nomeadamente a idade, estado civil,
dificuldades fossem ultrapassadas e não
com quem reside no lar, história de quedas,
comprometessem a avaliação efectuada, foram
problemas urinários, hipotensão ortostática, tipo
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 18
de antecedentes pessoais e terapêutica
mesmo local, permanecer em pé enquanto se
habitual. O tempo que demorava esta fase
empurra ligeiramente o tórax, andar até ao
dependia da interacção com cada residente.
marcador no chão e parar completamente, rodar
Muitos residentes colocavam de imediato
e voltar à cadeira, sentando-se sem utilizar os
questões, ou o tipo de informação que
apoios dos braços. À medida que se observava
partilhavam servia de base para o início da
o residente fazer cada passo eram preenchidos
intervenção, nomeadamente a história de
os tópicos que constavam na folha de avaliação.
quedas anteriores, onde se exploravam as
As avaliações realizadas foram discutidas
circunstâncias, local, factores precipitantes,
posteriormente com a equipa de cuidados
entre outros.
quanto ao processo e resultados.
De seguida era fornecida uma explicação mais detalhada do teste com demonstração da
RESULTADOS
sua realização, incentivando-se a colocação de
Escala de Avaliação de Risco de Quedas de
dúvidas.
Morse
Após a explicação e demonstração, cada
Avaliaram-se um total de 74 residentes
residente realizava dois testes, um primeiro com
com idades compreendidas entre 67 e 99 anos,
tempo (timed get up and go) e outro sem tempo
sendo a média de 83,69 ± 6,958 (dp). A maioria
para permitir uma avaliação mais detalhada.
dos residentes tinha 75 ou mais anos (87,8%) e
No timed get up and go cronometrava-se o
7 0 , 3 % d o s re s id e n t e s e ra m mu lh e re s .
tempo despendido na tarefa de levantar-se da
Relativamente ao estado civil, 56,9% dos
cadeira (a partir da posição encostada) sem
residentes eram viúvos, 34,7% casados, 5,5%
apoio das mãos se possível, andar três metros
divorciados/separados e 2,8% solteiros. Quanto
até ao pino colocado no solo, girar e voltar no
à partilha de quarto ou apartamento no lar,
mesmo percurso, sentando-se novamente com
32,4% dos residentes estavam em quartos
as costas apoiadas no encosto da cadeira. A
individuais, 31% acompanhados do cônjuge e
instrução dada aos idosos foi que executassem
36,6% partilhavam o quarto com outro residente.
a tarefa de forma segura de acordo com o seu
A distribuição dos residentes pelo tempo
ritmo habitual. Considerou-se até 10 segundos o
de residência no lar encontra-se na tabela 1.
tempo normal para a realização da tarefa por
Através da aplicação da escala de
adultos saudáveis; de 10,1 a 20 segundos os
avaliação de risco de Morse verificou-se que
limites normais de tempo para idosos frágeis ou
44,3% dos residentes foram classificados de
pessoa com deficiência e mais de 20 segundos
baixo risco, 21,4% de médio risco e 34,3% de
um valor indicativo da necessidade de avaliação
alto risco.
e intervenção mais aprofundadas.
As avaliações foram inicialmente
No segundo teste, pedia-se à pessoa para
realizadas em papel, e posteriormente
sentar-se na cadeira com as costas apoiadas,
introduziu-se a escala nos processos
levantar-se sem utilizar os braços como apoio
informatizados dos residentes, tendo sido criado
(se possível), fechar os olhos durante uns
um sistema de alerta para os residentes de alto
segundos enquanto se mantém em pé no
risco.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 19
Tabela 1: Distribuição dos residentes pelo tempo de residência no lar N
%
Menos de um ano
16
21,9
Entre um e cinco anos
19
26,0
25
34,2
6
8,2
7
9,6
74
100,0
Mais de cinco e menos de dez anos Entre dez e quinze anos Mais de quinze anos Total
Definiu-se em equipa a avaliação de todos os residentes aquando a admissão,
(quarto ou apartamento) eram também abordados nesta interacção.
transferência, ocorrência de queda, alteração do
Esta intervenção com os residentes
estado de saúde e reavaliações periódicas
permitiu a promoção de respostas adaptáveis de
tendo em conta a avaliação anterior.
cada indivíduo ao ambiente, e promovendo a
Os residentes de alto risco foram
sua acção sobre o mesmo. Neste contexto, nos
sinalizados aos elementos da equipa
residentes que participaram na aplicação do
multidisciplinar, nomeadamente fisioterapeuta
teste Get Up and Go, e consequente
de referência e terapeuta ocupacional para
intervenção dirigida à prevenção de quedas, foi
avaliação e intervenção multifactoriais.
possível trabalhar alguns estímulos contextuais visando respostas adaptáveis, que pela
Teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go.
constante mudança no ambiente, não são
A aplicação do teste Get Up and Go
focais, mas que podem ter um papel importante
permitiu a observação da pessoa a interagir com
na ocorrência de quedas, como os obstáculos
o ambiente, sendo possível identificar a
no quarto, tipo de roupa e calçado, entre outros.
utilização de vestuário e calçado (in)adequados,
Os resultados do teste Get Up and Go e
défices de visão e a presença de alterações da
respectivas orientações foram discutidos com a
marcha, possibilitando identificar áreas de
equipa de cuidados. No total foram avaliados 64
possível intervenção nas respostas não
residentes. Na tabela 2 encontram-se os
adaptáveis. Efectivamente, para além dos
resultados do Timed Get Up and Go.
aspectos relacionados com a marcha, força de
Nos residentes avaliados com critério para
membros, equilíbrio, era igualmente observado
realizar os testes, 29,9% demoraram mais de 20
e discutido o tipo de calçado e vestuário
segundos a realizar o Timed Get Up and Go.
utilizados habitualmente pelos residentes,
Dentre os residentes que demoraram mais de
alterações visuais e forma de correcção,
20 segundos a completar o teste (n=16), 62,5%
hipotensão ortostática, entre outros. Estes
destes foram sinalizados como alto risco
aspectos eram alvo de discussão visando a
aquando a aplicação da escala de Morse, 25%
promoção de respostas adaptáveis. Os
avaliados em médio risco e 12,5% em baixo
obstáculos existentes nas áreas privadas
risco.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 20
Tabela 2: Distribuição dos residentes segundo o teste Timed Get Up and Go Percentagem Sem critério para realizar o teste (cadeira de rodas, ou acamados) Até 10 segundos
23,0% 10,8%
Entre 10,1 e 20 segundos Mais de 20 segundos
29,7% Total
23,0% 100,0
Ao contrário da escala de Morse que é um
sentidas e formas de as contornar, dinamizar
instrumento simples e rápido de preencher, a
actividades em equipa como a discussão de
realização deste teste implica maior consumo de
casos e avaliação de resultados ao fim de um
tempo e algumas condições em termos de
ano após o início do projecto.
espaço físico e equipamento, tendo sido considerado que não seria viável integrá-lo na
DISCUSSÃO
prática habitual de cuidados pela equipa a todos
As características sociodemográficas dos
os residentes. Ficou então acordado na equipa
residentes do estudo, nomeadamente o facto de
que seria útil fazer essa avaliação em caso de
a maioria ser do género feminino e com idade
ocorrência de queda e aos residentes
igual ou superior a 75 anos é compatível com o
considerados de alto risco, como auxilio na
que é encontrado na literatura referente aos
avaliação mais detalhada de factores de risco
idosos residentes em lares (Ministério do
intrínsecos e extrínsecos.
Trabalho e Solidariedade Social, 2005;
Para dar continuidade ao projecto e
Rodrigues, 2006).
assegurar a articulação entre os diferentes
A implementação da avaliação de risco de
técnicos da equipa, foi nomeado um enfermeiro
queda sistematizada a todos os residentes pela
de referência na prevenção e controlo de
Escala de Morse obedece ao que é
quedas no contexto. Este elemento ficou
recomendado na literatura por ser o instrumento
responsável por supervisionar a continuação da
mais utilizado internacionalmente e ser
avaliação de risco a todos os residentes,
considerada válida para avaliação de risco de
encaminhar os residentes de alto risco aos
queda (NCPS, 2004). Pode ser utilizada em
diferentes técnicos de referência, monitorizar o
qualquer contexto porque não tem variáveis de
registo de ocorrência de quedas, realizar a
contexto, tendo uma sensibilidade de 84%
avaliação do ambiente anualmente e
(Morse, 2009).
supervisionar a manutenção de equipamento feita pelo auxiliar responsável.
Os momentos estabelecidos para a aplicação da escala no projecto coincidem com
Foi ainda criada uma comissão
o que é preconizado pelo NCPS (2004) que
multidisciplinar de acompanhamento do projecto
afirma que a avaliaçãodeve ser efectuada não
para fazer a actualização das actividades
só aquando a admissão à instituição, mas
relacionadas com o projecto, das dificuldades
também na transferência de uma unidade para
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 21
outra na instituição, em situação de alteração no
O envolvimento de toda a equipa, a
estado de saúde, após uma queda e em
nomeação de um enfermeiro de referência e a
intervalos regulares.
criação de uma comissão multidisciplinar
Os resultados obtidos na avaliação de
permitiu obedecer a uma das premissas comuns
risco neste estudo revelaram valores mais
aos diferentes autores no que respeita à
baixos de risco de queda comparativamente aos
prevenção e controlo de quedas, a necessidade
resultados apresentados por Morse (2009) para
de envolver toda a equipa multidisciplinar,
as instituições de longa duração (tabela 3).
devendo a tomada de decisão acerca das
As escalas preditivas de risco de queda,
estratégias adoptadas ser feita em conjunto e
como a escala de Morse, indicam o risco de
articulação pelos diferentes elementos (NICE,
queda, mas não as causas ou o que fazer para
2004; NCPS, 2004; ACSQHC, 2009; Morse,
as prevenir (Morse, 2009). A Pessoa Idosa
2009).
Tabela 3: Percentagem de residentes distribuídos por grau de risco de queda Baixo risco
Médio risco
20,1% 44,3&
34,7% 21,4%
Morse (2009) Presente estudo (2011)
Alto risco 45,1% 34,3%
identificada como estando em risco de cair, deve ser alvo de estratégias de intervenção
CONCLUSÃO
individualizadas, multifactoriais e
Concluiu-se que as características
multidisciplinares (NICE, 2004; Gillespie et al.,
sociodemográficas dos residentes foram
2008; ACSQHC, 2009; AGS, 2010).
concordantes com o que é descrito na literatura.
Na avaliação multifactorial deve incluir-se:
O grau de risco de queda nos residentes
história de quedas, avaliação da marcha e
avaliados foi globalmente mais baixo que o
equilíbrio, mobilidade e fraqueza muscular, risco
descrito por Morse (2009) para as instituições
de osteoporose, capacidade funcional percebida
de longa duração.
e medo relacionado com quedas, avaliação de
Através da realização do projecto
défice visual, défice cognitivo e avaliação
concluiu-se que a avaliação de risco de quedas
neurológica, incontinência urinária, riscos no
nos residentes, acompanhada de intervenções
ambiente, avaliação cardiovascular e revisão
dirigidas a cada indivíduo e tendo em conta os
terapêutica (NICE, 2004; Morse, 2009).
diferentes tipos de quedas, constitui uma
Um dos instrumentos que pode contribuir
abordagem sistematizada e diferenciada na
para a avaliação mais detalhada do indivíduo
prevenção e controlo de quedas na Pessoa
considerado de alto risco de queda e
Idosa institucionalizada em lar.
planeamento de áreas de intervenção é o teste Get Up and Go, na medida em que permite a
REFERENCIAS
avaliação da marcha, equilíbrio, despistar
•
American Geriatrics Society. AGS/BGS
hipotensão ortostática, alterações visuais entre
Clinical Practice Guideline: Prevention of
outros (Wall et al, 2000; Kimbell, 2001).
Falls in Older Persons; 2010.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1
Página 22
•
Australian Commission on Safety and
Journal Nurse Care Qual 2004; 19(2):
Quality of Healthcare. Preventing Falls and
92-94.
Harm From Falls in Older People. Best
•
motivos de internamentos de idosos em
Residential Aged Care Facilities; 2009.
lares: Público; 08.05.2005. Disponível em:
Direcção-Geral da Saúde. Plano Nacional
www.publico.pt.
•
Gillespie L D, Gillespie W J, Robertson M
Medical Association 1997; 278: 6p.
•
Rubenstein R Falls in older people: epidemiology, risk factors and strategies
Library, Issue 4; 2008.
for prevention. Age and Ageing 2006; 37-4.
Kimbell S. Before the fall. Keeping your
•
Sorenson S, Lissovoy D, Kunaprayoon D,
patient on His feet. Nursing 2001; volume
Resnick B, Rupnow M, Studenski S. A
31, number 8: pp 44-47.
taxonomy and Economic Consequences of
Ministério do Trabalho e da Solidariedade.
Nursing Home Falls. Drugs Aging 2006; 23
Carta Social – Rede de serviços e
(3): 251-262. •
Wall J, Bell C, Campbell S, Davis J. The
Prospectiva e Planeamento; 2000.
timed Get-up-and-go Test Revisited:
Ministério do Trabalho e Solidariedade.
Measurement of the Component Tasks.
Intervenção do Secretário de Estado na
Journal of Rehabilitation Research and
abertura do I Congresso em Avaliação e
Development 2000; Vol.37 No.1: 109-114. •
Wiener JM, Freiman MP, Brown D. Nursing
Inovação e Futuro dos Lares de Idosos:
Home Care Quality: Twenty Years After
Porto; 2005. Disponível em:
The Omnibus Budget Reconciliation Act of
www.mtss.gov.pt.
1987. Washington, DC:Headquarters,
Morse J. Preventing Patient Falls –
2007.
Establishing a Fall Intervention Program.
•
•
in Elderly People (Review). The Cochrane
Intervenção em Gerontologia Social,
•
Rubenstein LZ. Preventing falls in the nursing home. Journal of the American
Equipamentos. Departamento de Estudos, •
•
www.dgsaude.min-saude.pt/pns. C, et al. Interventions for Preventing Falls
•
Rodrigues S. Solidão é um dos principais
Practice Guidelines for Australian
de Saúde 2004-2010. Disponível em •
•
•
Zimmerman DR. Improving Nursing Home
Second edition. New York: Springer
Quality of Care Through Outcomes Data:
Publishing Company; 2009.
the MDS quality indicators. International
National Center Patient Safety. VHA NCPS
Journal of Geriatric Psychiatry 2003; 18:
Falls Toolkit; 2004.
250–257.
National Institute for Clinical Excellence. Clinical practice guideline for the assessment and prevention of falls in older people. Royal College of Nursing; 2004.
•
Rantz MJ, Zwygart-Tauffacher M. Back to the Fundamentals of Care: A Roadmap to Improve Nursing Home Care Quality.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 1. Edição 1