Messuras S. et al ; (2021) Skin tears incidence in 3 long-term care facilities in the Alentejo Region - Portugal, Journal of Aging & Innovation, 10 (2): 24ARTIGO ORIGINAL: Messuras S. et al ; (2021) 30 Skin tears incidence in 3 long-term care facilities in the Alentejo Region - Portugal, Journal of Aging & Innovation, 10 (2): 24- 30
Artigo Original
Incidência de Quebras Cutâneas em 3 Unidades de Cuidados Continuados Integrados na Região do Alentejo – Portugal Incidencia de roturas cutáneas en 3 unidades de cuidados Integrado continúa en la región de Alentejo - Portugal Skin tears incidence in 3 long-term care facilities in the Alentejo Region - Portugal
Soraia Mesuras1, Ana Loupa2, Serafim Silva3, Rosa Domingues4, Fernando Vicente5, Daniela Parreira6, Isabel Taveira7, Armindo Ribeiro8 1
RN, Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano/Serviço de Medicina Interna; RN, Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano/Serviço de Urgência Básica de Alcácer do Sal; 3 RN, CNS, Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano/Serviço de Medicina Interna; 4 Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém/Unidade de Cuidados Continuados; 5 Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém/Unidade de Cuidados Continuados; 2
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RN, CNS, Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano/Serviço de Medicina Interna; MD, Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano/Serviço de Medicina Interna; 8 PHD, MD, Universidade de Extremadura, Assistente Hospitalar Medicina Interna na Unidade Local de Saúde Litoral Alentejano. Corresponding Author: ana.loupa@gmail.com 7
Resumo Enquadramento: O aumento da longevidade e o incremento das doenças crónicas progressivas das pessoas internadas nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados aumenta a vulnerabilidade de ocorrência de eventos adversos como as quebras cutâneas. Objetivo: Saber a incidência de quebras cutâneas em 3 Unidades de Cuidados Continuados Integrados na Região Alentejo – Portugal. Método: Estudo longitudinal, incidindo sobre as Unidades de Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, num período limitado de tempo de 5 anos, compreendido entre 1 de Janeiro de 2015 e 31 de Dezembro de 2019. Conclusão: A incidência de quebras cutâneas obtida no presente estudo apresentou o seu valor máximo de 2,20‰ e mínimo de 0,73‰ na tipologia de média duração e reabilitação enquanto na tipologia e longa duração o máximo e mínimo de 2,01‰ e 0,67‰ respetivamente. Palavras-Chave: Quebras Cutâneas; Unidades de Cuidados Continuados Integrados.
Abstract Background: Increasing longevity and increasing of the progressive chronic disease conditions of people admitted to long-term care facilities (LTCFs) increases the vulnerability of adverse events such as skin tears. Objective: Knowing the incidence of skin tears in 3 LTCFs in the Alentejo Region - Portugal. Method: Longitudinal study, focusing on the LTCFs of Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, in a limited period of 5 years, from January 1, 2015 to December 31, 2019. Results: The incidence of skin tears obtained in the present study presented is maximum value of 2.20 ‰ and a minimum of 0.73 ‰ in the medium and rehabilitation typologies, while in the typology of long duration, the maximum and minimum of 2.01‰ and 0.67‰ respectively. Key-words: Skin Tear; long-term care facilities
JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-2
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INTRODUÇÃO
O aumento da esperança média de vida no último século originou um aumento exponencial das populações envelhecidas com o consequente aumento da incidência de doença crónicas (World Health Organization, 2011), pelo que cuidar desta população pode ser um desafio para os profissionais de saúde devido à panóplia de vicissitudes associadas ao envelhecimento. As quebras cutâneas são feridas agudas que são desvalorizadas na pela envelhecida (LeBlanc & Baranoski, 2018). É frequente a confusão na terminologia das quebras cutâneas, pelo que é necessário estandardizar os conceitos e definições. Na prática, são muitas vezes confundidas com lacerações ou lacerações cutâneas, contudo a quebra cutânea é uma lesão específica diferente das lacerações (LeBlanc et al, 2018). LeBlanc e Baranoski (2011) definem Quebras Cutâneas como o resultado de cisalhamento, fricção ou trauma, que provocam a separação das camadas da pele. Consequentemente, as feridas são parciais ou totais, dependendo da espessura e do grau do dano tecidual. No entanto, são habitualmente superficiais, limitadas à derme e têm como característica principal a presença de um retalho de pele O International Skin Tear Advisory Panel (ISTAP), em 2018, actualizou a definição de quebra cutânea, considerando “uma ferida traumática causada por forças mecânicas, incluindo a remoção de adesivos. A gravidade pode variar em profundidade (não se estendendo pela camada subcutânea)”. São feridas agudas com o potencial de cicatrização por primeira intenção (LeBlanc et al, 2018). Podem ocorrer em qualquer região anatómica, mas são mais frequentes nas extremidades, em particular nos membros superiores, onde 70 a 80% ocorre nas mãos e antebraços (Hawk & Shannon, 2018; Idensohn et al, 2019; Vernon et al, 2019), com maior incidência nas pessoas com imobilidade presente, e nos membros inferiores é maior a incidência nas pessoas com mobilidade reduzida, 36 a 45% na tíbia (Vernon et al, 2019). A ISTAP (2018) classifica as quebras cutâneas em 3 categorias: 1 quando não ocorre perda de pele; 2 quando ocorre perda parcial da pele; 3 quando ocorre perda total da pele.
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Os últimos estudos de incidência e prevalência indicam que as quebras cutâneas são um crescente problema nos cuidados de saúde e com o envelhecimento da população pode-se assumir que a prevalência de quebras cutâneas irá continuar a aumentar proporcionalmente ao envelhecimento (Vanzi & LeBlanc, 2018). São consideradas um problema significativo para pessoas alvo de cuidados e para os profissionais de saúde. Podem ser dolorosas, afectar a qualidade de vida e ser fonte de stress para a pessoa (Vanzi & LeBlanc, 2018). Prolongam o tempo de internamento e aumentam o risco de morbilidades (Carville et al, 2014; Idensohn et al, 2019). É um evento adverso que deve ser reportado, pois compromete a segurança da pessoa (LeBlanc, 2017), contudo o seu diagnóstico incorrecto e consequente não reporte não permite ter conhecimento do impacto financeiro nos sistemas de saúde (LeBlanc et al, 2018; Vanzi & LeBlanc, 2018). Os estudos de incidência são limitados e a prevalência reportada é variada, diferindo nas diferentes regiões do mundo e dos diferentes níveis de cuidados, contudo a literatura evidência que a sua prevalência é maior que nas úlceras por pressão (LeBlanc et al, 2018). Segundo LeBlanc et al (2018), a prevalência nas unidades de internamento de longa duração varia entre 2,23 a 92%, na comunidade entre 4,5 a 19,5%, nas unidades de internamentos de agudos entre 6,2 a 11,1% e nos cuidados paliativos entre 3,3 a 14,3%. Não existem dados disponíveis nas unidades de cuidados intensivos. Van Tiggelen et al (2019), num estudo observacional e transversal em unidade de internamento de longa duração na Bélgica, obteve uma prevalência de 3,0% de quebras cutâneas. A maioria das quebras cutâneas foi de categoria 3 e 75% foram adquiridas nos antebraços e nos membros inferiores. As pessoas internadas em unidades de cuidados continuados integrados (UCCI) devido à sua dependência, à presença de múltiplas doenças crónicas e fragilidade inerente ao envelhecimento encontram-se em risco de desenvolver eventos adversos, como as quebras cutâneas (Decreto-Lei n.º 101/2006; Silva et al, 2020). A Santa Casa da Misericórdia de Santiago, apresenta nas suas múltiplas valências 3 UCCI, no total de 66 camas de internamento. A UCCI Conde Bracial, com 2 tipologias de internamento, Média Duração e Reabilitação e Longa Duração e Manutenção, cada com 20 camas, e a UCCI São João Deus, na tipologia de Longa Duração e Reabilitação, com 26 camas de internamento (Silva et al, 2020). JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-2
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A inexistência de estudos de incidência de quebras cutâneas em Portugal, nomeadamente em unidades de cuidados continuados integrados, demonstra a pertinência da realização do presente trabalho.
MÉTODO Estudo longitudinal, incidindo sobre as UCCI da Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, num período limitado de tempo de 5 anos, compreendido entre 1 de janeiro de 2015 e 31 de Dezembro de 2019. Os dados foram recolhidos por enfermeiros, devidamente formados na definição de quebras cutâneas. A definição de quebra cutânea utilizada foi a do ISTAP. Através da taxa de ocupação de cada unidade foi possível obter o número total de utentes dia no período em análise. A incidência de quebras cutâneas foi obtida através da seguinte fórmula – número de quebras cutâneas/número total de utentes dia no período em análise x 1000, obtendo-se assim uma taxa permilagem. O tratamento dos dados foi realizado com a separação da tipologia de Média Duração e Reabilitação e a tipologia de Longa Duração e Manutenção.
RESULTADOS A incidência de quebras cutânea (gráfico 1) teve o valor mais alto no ano de 2019 na tipologia de média duração e reabilitação e no ano de 2018 tipologia de longa duração e manutenção, com 2,20 e 2,01‰ respetivamente. A curva de incidência é ascendente nos últimos 2 anos.
Incidência de Quebras Cutâneas Incidência Permilagem
2,5 2 1,5
Média Duração e Reabilitação
1
Longa Duração e Manutenção
0,5 0 2015
2016
2017
2018
2019
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DISCUSSÃO A inexistência de estudos de incidência de quebras cutâneas em Portugal e na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados dificulta a comparabilidade de resultados. A incidência de quebras cutâneas obtida no presente estudo apresentou o seu valor máximo de 2,20‰ e mínimo de 0,73‰ na tipologia de média duração e reabilitação enquanto na tipologia e longa duração o máximo e mínimo de 2,01‰ e 0,67‰ respetivamente. A incidência obtida é francamente inferior ao aos estudos internacionais, nomeadamente comparado com o estudo de Van Tiggelen et al (2019), numa unidade de internamento de longa duração na Bélgica, onde obteve uma prevalência de 3,0% de quebras cutâneas. A
desvalorização
pelos
profissionais
de
saúde
pelas
quebras
cutâneas
comparativamente às úlceras por pressão, a ausência de formação curricular e a ausência de divulgação científica de fácil acesso, podem contribuir para um subregisto das quebras cutâneas, influenciando assim os resultados obtidos. O elevado turnover dos enfermeiros também pode ser um factor que contribui para o sub-registo e monitorização das quebras cutâneas (Silva et al, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS É urgente a publicação de mais estudos de incidência e prevalência de quebras cutâneas em Portugal e na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, para permitir o benchmarking entre as UCCI, e construir um caminho sustentado para a prevenção de quebras cutâneas. Nos próximos estudos é necessário relacionar variáveis que possam estar associadas ao desenvolvimento de quebras cutâneas, nomeadamente a idade, o género, o grau de dependência, os diagnósticos principais e secundários, a presença de dispositivos médicos. Será importante também estudar qual a incidência e prevalência por região anatómica e qual a categoria. O presente estudo pretende ser o ponto de partida para incentivar uma monitorização contínua e devidamente declarada de todas as quebras cutâneas existentes nas UCCI.
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