Brito, D., Agra, G., Costa, M. (2017) Cuidados Paliativos a Pacientes com Ferida Neoplásica: Uma Perspectiva para a Assistência de Enfermagem, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 28 38
REVISÃO INTEGRATIVA/ INTEGRATIVE REVIEW
DEZEMBRO 2017
Cuidados Paliativos a Pacientes com Ferida Neoplásica: Uma Perspectiva para a Assistência de Enfermagem
Palliative Care of the Patients with Wound Neoplasic: a Perspective for Nursing Care
Cuidados paliativos de pacientes con herida Neoplásicas: una perspectiva de atención de enfermería
Autores Débora Brito 1, Glenda Agra 2, Marta Costa 3 1
Enfermeira, 2, Psicóloga, Enfermeira, 3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem
Corresponding Author: deborathaise_@hotmail.com
Resumo Objetivo: caracterizar o conhecimento descrito na literatura relacionado à assistência de enfermagem em cuidados paliativos com o paciente portador de ferida neoplásica. Método: trata-se de uma revisão de literatura sobre feridas neoplásicas. Para a realização deste estudo, optou-se pelas fases propostas da revisão integrativa sugeridas por Ganong (1987). Critérios de inclusão: artigos que retratem cuidados paliativos de enfermagem ao paciente portador de ferida neoplásica; que estejam indexados nas bases de dados LILACS e SciELO; publicados entre o período de 2002 e 2012 e em português, com resumos e textos completos disponíveis online. Critérios de exclusão: artigos em língua estrangeira e acesso mediante pagamento. Resultados: Foram encontradas três categorias: “Características das feridas neoplásicas”; “Ações básicas de enfermagem no cuidado com as feridas” e “Ações específicas de enfermagem em cuidados paliativos”. Conclusões: Este estudo mostrou que as feridas neoplásicas exacerbam sinais e sintomas que devem ser controlados, o que justifica a implementação de cuidados paliativos na assistência de enfermagem. Palavras Chave: Cuidados de enfermagem; Cuidados paliativos; Úlcera cutânea; Enfermagem oncológica.
Abstract Objective: to characterize the knowledge described in the literature related to nursing care in palliative care with the patient with neoplastic wound. Method: This is a review of the literature on neoplastic wounds. For this study, we chose the proposed phases of the integrative review suggested by Ganong (1987). Inclusion criteria: articles that portray nursing palliative care to the patient with neoplastic wound; That are indexed in the LILACS and SciELO databases; Published between 2002 and 2012 and in Portuguese, with abstracts and full texts available online. Exclusion criteria: articles in foreign languages and access for payment. Results: Three categories were found: "Characteristics of neoplastic wounds"; "Basic nursing actions in wound care" and "Specific nursing Autores
actions in palliative care". Conclusions: This study showed that neoplastic wounds
Dados curriculares exacerbate signs and symptoms that should be controlled, which justifies the implementation of palliative care
in nursing care. Keywords: Nursing care; Palliative care; Cutaneous ulcer; Oncological nursing.
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Introdução O
&Tomás, 2002; Firmino, 2005a; Matsubara, processo
responsável
de
pela
carcinogênese
2012).
celular
É imperativo ressaltar que os dados
descontrolada, em que ocorre, frequentemente, a
acima realçados soam como impacto para a
quebra de integridade cutânea e a infiltração de
equipe de Enfermagem em cuidados paliativos,
células
pele,
pois, no paciente oncológico, há probabilidade de
causando a formação de feridas neoplásicas.
se formarem fístulas e feridas, no final da vida,
Essas feridas são passíveis de tratamento,
em decorrência do avanço da doença ou como
desde que o câncer esteja na fase inicial e tenha
efeito tardio do tratamento radioterápico (Firmino,
possibilidades de cura. Porém, quando o
2005a;
processo patológico está em fase avançada e o
Kurashima,
tratamento antineoplásico não é mais indicado, a
desenvolver
conduta diante dessas lesões é unicamente
desagradável, odores intoleráveis, produção de
paliativa, a fim de controlar os sintomas físicos e
exsudato e sangramento, além de constituir uma
psicossociais (Brasil, 2011a).
deformidade corporal, provocando no paciente
malignas
proliferação
é
nas
estruturas
da
Matsubara,
2012;
2012).
Yamashita
Essas
úlceras
de
&
feridas
podem
aspecto
visual
O Instituto Nacional de Câncer (INCA)
distúrbio da autoimagem e desgaste psicológico,
estima cerca de 520 mil novos casos da doença
o que pode provocar sensação de desamparo,
para
humilhação e isolamento social. O cuidado com
2012
e
2013.
Em
2011,
estudos
apresentados por esse órgão apontaram sete
feridas
localizações de câncer que entraram no ranking
constante
dos
País,
incurável, do mal prognóstico e do insucesso
destacando-se a bexiga, o ovário, a tireoide (nas
terapêutico curativo, indicando aproximação da
mulheres), o sistema nervoso central, o corpo do
morte (Firmino, 2005b; Yamashita & Kurashima,
útero, a laringe (nos homens) e o linfoma não
2012).
tumores
mais
frequentes
do
Hodgkin. Tais estudos revelam, ainda, que os
neoplásicas
remete
lembrança
o
visível
paciente da
à
patologia
Nessa perspectiva, o cuidado paliativo
tipos de câncer mais incidentes nas regiões
configura-se
como
a
brasileiras são de pele não melanoma, próstata,
assistência ao paciente portador de ferida
mama e pulmão (Brasil, 2011b).
neoplásica, pois visa cuidar de pessoas com
proposta
patologias
que
pacientes oncológicos desenvolvem feridas, seja
tratamento
curativo
em decorrência do tumor primário ou de tumores
preconizar uma postura ativa frente ao controle
metastáticos.
que
dos sinais e dos sintomas inerentes à fase
acometem a pele constituem mais um agravo na
avançada da doença, que se tornou impossível
vida
pois,
de curar. O objetivo dos cuidados paliativos é
progressivamente, desfiguram o corpo e tornam-
diminuir, o máximo possível, o sofrimento físico e
se friáveis, dolorosas, secretivas e liberam odor
psicológico e promover uma qualidade de vida
fétido
possível para o paciente e sua família (Silva &
do
feridas
paciente
(Rocha,
neoplásicas
oncológico,
Menezes,
Almeida
Júnior
respondem e
se
mais
de
Estima-se que cerca de 5% a 10% dos
As
não
melhor
caracteriza
ao por
Hortale, 2006). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Considerando
o
enfermeiro
como
Método
um
membro ativo e integrante da equipe de cuidados paliativos
e,
geralmente,
pela
se pela revisão de literatura, utilizando-se as
realização de curativos, cabe aos profissionais
fases propostas da revisão integrativa, que
dessa
e
consiste em seis etapas: estabelecer a hipótese
habilidades que lhes permitam conhecer e
ou a pergunta da revisão; selecionar a amostra a
identificar características das feridas neoplásicas
ser revista; categorizar e avaliar os estudos;
e implementar cuidados específicos relacionados
interpretar os resultados e apresentar a revisão
a elas. Nesse sentido, realizar um curativo
ou a síntese do conhecimento (Mendes, Silveira
efetivo, confortável ao paciente e esteticamente
& Galvão, 2008).
área
desenvolver
responsável
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-
competências
aceitável é um desafio para o enfermeiro.
Para a busca dos artigos, foram empregadas
Nesse ínterim, surge a seguinte pergunta:
as bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde,
Qual a assistência de enfermagem em cuidados
Literatura Latino-americana e do Caribe em
paliativos dada ao paciente portador de ferida
Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic
neoplásica?
Libray Online (SciELO), por meio das seguintes
Tal questionamento configurou o
ponto de partida para o desenvolvimento desta
palavras-chave:
pesquisa, considerando-se a grande demanda
enfermagem, oncologia e ferida neoplásica.
de pacientes oncológicos com necessidades
Assim,
diversas e a dificuldade de encontrar estudos
respondessem a esta questão norteadora: Quais
e/ou
e
as ações de enfermagem nos cuidados paliativos
tratamento de feridas neoplásicas. Com este
ao paciente portador de ferida neoplásica? Os
estudo, pretende-se contribuir para a prática de
critérios de inclusão adotados para a escolha dos
profissionais que trabalham com pacientes em
artigos foram os seguintes: que retratassem
cuidados paliativos e estimular o interesse da
cuidados paliativos de enfermagem ao paciente
comunidade científica para a continuidade de
portador de ferida neoplásica; que estivessem
pesquisas nessa área.
indexados nas bases de dados supracitadas; que
materiais
didáticos
sobre
manejo
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é caracterizar
o
conhecimento
selecionados
paliativos,
artigos
que
fossem publicados em português, entre o período
na
de 2002 e 2012, e cujos resumos e textos
literatura brasileira, relacionado à assistência de
estivessem disponíveis online. Foram excluídos
enfermagem em cuidados paliativos com o
os artigos escritos em língua estrangeira e com
paciente
acesso mediante pagamento.
portador
de
ferida
descrito,
foram
cuidados
neoplásica,
considerando-se que são as ações cotidianas
Para selecionar os artigos integrantes da
decorrentes das necessidades de cuidado que
pesquisa, procedeu-se à leitura do título de cada
contribuem para o controle dos sintomas dos
um deles e do seu resumo, com o fim de verificar
pacientes.
a
pertinência
do
estudo
com
a questão
norteadora desta investigação. Ao final da busca, encontraram-se 11 referências, contudo somente sete se enquadravam nos critérios de inclusão JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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sete se enquadravam nos critérios de inclusão
científica em três categorias temáticas, a saber:
deste estudo.
Categoria
Dos quatro artigos analisados, cinco foram publicados por enfermeiras assistenciais, e dois, por
enfermeiras docentes e discentes de
instituições de ensino, nos periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Brasileira de
Cancerologia,
Revista
de
Enfermagem
da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Revista Científica do Hospital Central do Exército do Rio de Janeiro e Revista Prática Hospitalar. O tipo de publicação dos artigos analisados foi revisão bibliográfica, sendo que um deles foi uma síntese da Monografia do Curso de Residência em Enfermagem Oncológica, todos de produção científica brasileira.
I
-
Características
das
feridas
neoplásicas; Categoria II - Ações básicas de enfermagem no cuidado com as feridas e Categoria III - Ações específicas de enfermagem em cuidados paliativos. Características das feridas neoplásicas
Os
sete
(100%)
estudos
sob
apreciação
apresentaram uma análise da literatura sobre a fisiopatologia das feridas neoplásicas, realçando o interesse crescente em revisões bibliográficas sobre o câncer, referentes ao aparecimento dos sintomas, como pode ser verificado no texto que segue. A ferida neoplásica desenvolve-se a partir de três eventos: crescimento do tumor, que irá ocasionar quebra da integridade da pele,
Para a análise e posterior síntese dos artigos que
neovascularização e invasão da membrana basal
atenderam
foi
por células malignas de forma acelerada e
desenvolvido um formulário de coleta de dados,
infiltrativa, com crescimento expansivo da ferida
preenchido para cada artigo da amostra final do
sobre a superfície acometida; como resultado de
estudo. O formulário contempla informações
um câncer avançado de pele ou em casos de
sobre identificação do artigo e autores; objetivos
metástases, podem ulcerar, evoluindo para a
do
metodológicos;
formação de uma cratera ulcerativa, comumente
análise dos dados, resultados e discussão;
associada com carcinoma de células escamosas
conclusões
nos
ou melanoma. Dependendo de sua localização,
cuidados paliativos ao paciente portador de
pode invadir e destruir estruturas internas e
feridas neoplásicas.
formar fístulas (Poletti et al, 2002; Gomes &
aos
estudo;
critérios
de
procedimentos
e
ações
de
inclusão,
enfermagem
Resultados e Discussão A apresentação dos dados e a discussão foram realizadas de forma descritiva, a fim de possibilitar a aplicabilidade dessa revisão na prática de enfermagem ao paciente portador de ferida neoplásica.Seguindo a proposta pelo referencial teórico adotado, categorizaram-se os resultados encontrados na revisão da literatura JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012). As denominações mais comuns das feridas neoplásicas são: feridas ulcerativas malignas, caracterizadas pela formação de úlceras e crateras
rasas;
feridas
fungosas
malignas
ulceradas, devido à união do aspecto vegetativo e apresentação de partes ulceradas; feridas fungosas
malignas
ou
feridas
neoplásicas
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fungosas
malignas
neoplásicas
fibrinogênio e plasma pelo tumor; produção de
vegetantes, quando são semelhantes à couve-
fatores de permeabilidade vascular aumentada
flor (Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005a;
pelo tumor e aumento de bactérias anaeróbias
Matsubara, 2012).
confinadas na superfície da lesão que, quando
Geralmente, apresentam
os
ou
feridas
pacientes
deficiência
com
nutricional,
câncer o
que
infectadas, liberam larga quantidade de exsudato fibroso (Gomes & Camargo, 2004; Firmino,
concorre para uma deficiência de aminoácidos,
2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012).
suprimento de energia diminuído e oxigênio
É sobremaneira importante enfatizar a relevância
comprometido, prejudicando a produção de
do conhecimento do enfermeiro sobre as
fibroblastos para a contração tecidual, o que
propriedades, as características e a classificação
contribui para que as feridas neoplásicas não
das feridas neoplásicas, o que subsidiará, de
cicatrizem. Além disso, as feridas neoplásicas
forma concreta, o tratamento e o planejamento
apresentam outras características importantes,
das ações de enfermagem, considerando-se os
como sangramento, exsudação intensa, prurido e
recursos humanos e materiais disponíveis e
presença de um odor característico. Alguns
necessários, bem como o desenvolvimento de
eventos estão ligados ao crescimento das células
ações educativas direcionadas ao paciente e ao
tumorais, como o sangramento, causado pela
cuidador. Esses aspectos promoverão uma
ruptura de capilares e vasos, além de diminuição
melhoria significativa em sua condição física,
na função plaquetária no tumor a tratamentos
psicológica e social.
como a radioterapia e por traumas durante a remoção do curativo (Poletti et al, 2002; Gomes
Ações básicas de enfermagem no cuidado
& Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007;
com as feridas
Matsubara, 2012).
A Enfermagem é responsável pelos cuidados
A oclusão dos vasos sanguíneos, devido à
relacionados com o preparo físico e psicossocial
pressão causada pelo crescimento tumoral,
do paciente, ensino e cuidados técnicos, com
reduz a difusão do oxigênio, provocando hipóxia,
fornecimento de suporte profissional para que o
o que leva à proliferação de bactérias aeróbias e
portador de feridas alcance o bem- estar físico,
anaeróbias que, por sua vez, liberam ácidos
psíquico e social. Dos sete (100%) artigos em
graxos voláteis, como o ácido acético e o
análise, quatro (57,1%) versaram sobre as ações
caproico, e gases putrecina e cadaverina, que
básicas de enfermagem em cuidados paliativos,
produzem um odor fétido (Poletti et al, 2002;
descritas logo abaixo.
Firmino, 2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012).
A primeira ação específica de enfermagem
O crescimento agressivo do tumor leva a um
direcionada ao paciente com ferida neoplásica é
processo inflamatório, por meio do qual ocorre a
a avaliação da lesão, que exige do enfermeiro
liberação de histaminas, responsáveis pelo
habilidade cognitiva para julgamento clínico com
prurido ao redor da ferida, cuja exsudação pode
base em experiência prática e testes objetivos,
ser
na história fornecida pelo paciente ou por seu
atribuída
à
hiperpermeabilidade
ao
cuidador e na observação do profissional. DeveJOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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cuidador e na observação do profissional. Deve-
(Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005b; Leite,
se avaliar a ferida quanto a sua apresentação,
2007; Matsubara, 2012)
localização, tamanho, coloração, quantidade de
As orientações sobre os cuidados com a ferida
secreção,
devem ser oferecidas ao paciente e ao cuidador,
grau
de
odor,
presença
de
sangramento, fístulas, tuneilizações, prurido e
incluindo
produtos
dor. Nesse contexto, é importante classificá-la de
peridiocidade de troca de curativos e possíveis
acordo com o estadiamento de lesões tumorais
complicações. O enfermeiro deve realizar o
(Firmino, 2005b; Leite, 2007; Yamashita &
curativo na presença do cuidador, para que ele
Kurashima, 2012; Matsubara, 2012).
possa observar e, num segundo momento,
O planejamento do cuidado deve ser centralizado
supervisionar
no paciente e partir da premissa de que é
esclarecendo eventuais dúvidas (Firmino, 2005a;
fundamental proporcionar-lhe conforto, ou seja,
Leite, 2007; Matsubara, 2012).
fazer paliação dos sintomas para melhorar sua
O registro é fator importante na avaliação das
qualidade de vida (Leite, 2007).
feridas
A implementação do tratamento proposto deve
detalhado para a obtenção de parâmetros de
respeitar as consequências físicas e psicológicas
comparação
causadas pela ferida, promovendo cuidados
avaliando-se a eficácia do tratamento e a
individualizados, que supram os desejos do
satisfação
paciente e que provoquem mínima alteração em
documentadas todas as intervenções, incluindo a
seu estilo de vida (Leite, 2007).
avaliação da ferida, a educação realizada com o
a
a
execução
neoplásicas.
em
do
serem
Deve
do
ser
situações
paciente.
utilizados,
curativo
preciso
e
posteriores,
Devem
ser
A limpeza da ferida é o primeiro passo da
paciente e/ou cuidador, especificando os pontos
terapêutica tópica. Para isso, vale ressaltar as
de dificuldades de entendimento, habilidades e
intervenções básicas de enfermagem, tais como:
resultados obtidos (Firmino, 2005a; Leite, 2007).
limpar a ferida para remover, superficialmente, bactérias e desbridamento; conter ou absorver
Ações
exsudato; eliminar espaço morto com produtos
cuidados paliativos
tópicos específicos; eliminar a adesão de gazes
Nos sete (100%) artigos analisados, os autores
às bordas ou superfície da ferida; manter o leito
enfatizam o tratamento de feridas neoplásicas,
da ferida úmido; promover curativos com boa
sob a égide dos cuidados paliativos, objetivando:
aparência; empregar técnica cautelosa visando
identificar e eliminar os locais de infecção
analgesia; retirar as gazes anteriores com
presente; controlar o prurido, o odor, o exsudato,
irrigação abundante; irrigar o leito da ferida com
a necrose, as fístulas cutâneas e o sangramento;
jato de seringa de 20 ml, com agulha de diâmetro
manter o conforto, prevenir o isolamento social e
de 40x12; utilizar luvas estéreis; proteger o
proporcionar qualidade de vida. Nos parágrafos
curativo com saco plástico, durante o banho de
seguintes, serão mencionadas ações específicas
aspersão, e abri-lo para troca somente no leito,
de enfermagem em cuidados paliativos.
para evitar a dispersão de bactérias no ambiente
Os aspectos psicológicos devem ser tratados
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específicas
de
enfermagem
em
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com atenção especial, pois o paciente portador
cirurgia, em conjunto com a equipe médica, e
de ferida neoplásica apresenta degradação da
comunicar à equipe médica os casos de
imagem, fica afastado do convívio familiar e
sofrimento álgico que fogem ao controle da
social, devido ao odor proveniente da lesão, e
conduta preconizada (Poletti et al, 2002; Gomes
cultiva uma lembrança constante da progressão
& Camargo, 2004; Leite, 2007; Firmino, 2005a;
da doença relacionada a essa problemática.
Silva &Pazos, 2005).
Esses fatores promovem melancolia, revolta e
O controle do exsudato é importante pelos
depressão, que contribuem para que piore o
seguintes fatores: diminui o odor, protege a pele
estado clínico geral (Leite, 2007; Ferreira, Souza,
sadia perilesional, aumenta o conforto do
Costa & Silva, 2009).
paciente e melhora sua autoestima. O exsudato
A dor do paciente oncológico portador de ferida
pode ser controlado com curativos absortivos,
neoplásica é um dado peculiar a ser investigado.
tais como: hidrogel amorfo, carvão ativado,
Devem ser avaliados tanto os fatores físicos
alginato de cálcio, zobec como cobertura
responsáveis pela gênese da dor quanto os
secundária e uso de antibioticoterapia. A pele
fatores psicológicos. É pertinente encorajar o
periferida, muitas vezes, torna-se macerada pelo
paciente a falar sobre seu quadro álgico,
contato constante com a secreção, por isso é
descrever a sensação dolorosa, sua localização,
recomendada a aplicação de vitamina A+D em
temporalidade e intensidade (Poletti et al, 2002;
forma de pomada, a fim de proteger a pele. É
Gomes & Camargo, 2004; Leite, 2007; Firmino,
preciso, também, atentar para a necessidade de
2005a).
se colher secreção para a cultura, registrar o
As ações específicas no controle da dor são:
procedimento, aguardar o resultado e comunicar
monitorar e registrar o nível de dor pela Escala
à equipe médica para a avaliação (Poletti et al,
Visual Analógica (EVA); registrar a analgesia
2002; Gomes & Camargo, 2004; Leite, 2007;
empregada; considerar o uso de gelo e de
Firmino, 2005a; Santana, Matsubara & Vilella,
opioides; planejar o curativo e sua troca de
2012).
acordo com a necessidade de analgesia prévia
No que se diz respeito ao controle do prurido, o
ou o uso de sedativos; aplicar gazes embebidas
primeiro passo é investigar a causa. As ações
em hidróxido de alumínio; considerar o uso de
específicas para o controle do prurido são: aplicar
lidocaína 2%; empregar técnica cautelosa sem
dexametasona creme 0,1% no local referido; se
esfregaço do leito ulceral; retirar os adesivos
o prurido for persistente, avaliar, junto com a
cuidadosamente com o uso de éter; irrigar o leito
equipe médica, a necessidade de terapia
ulceral com água destilada ou soro fisiológico a
sistêmica; inspecionar o local, atentando para os
0,9% e aplicar óxido de zinco nas bordas e ao
sinais de candidíase cutânea ao redor da ferida.
redor da ferida; reavaliar a necessidade de se
Nesses
alterar o esquema analgésico prescrito antes e
sulfadiazina de prata 1% (Poletti et al, 2002;
depois do curativo; considerar a necessidade de
Firmino, 2005a; Santana et al, 2012).
antiinflamatórios,
radioterapia
antiálgica
casos,
deve-se
aplicar
pomada
ou
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A infecção da ferida por microorganismos
0,9%) ((Poletti et al, 2002; Gomes & Camargo,
anaeróbios e tecido desvitalizado causam o odor
2004; Firmino, 2005a; Santana et al, 2012).
fétido, descrito como o sintoma que mais causa
No odor grau III (fétido e nauseante), deve-se
sofrimento, em decorrência da sensação de
considerar emergência dermatológica; seguir os
enojamento e isolamento social que imputa o
passos no controle de odor graus I e II e
paciente. No entanto, o odor é minimizado
considerar, junto com a equipe médica, a
utilizando-se antibiótico sistêmico.(Silva & Pazos,
possibilidade
2005; Oliveira & Poles, 2006; Ferreira et al,
metronidazol sistêmico endovenoso ao uso
2009).
tópico. Posteriormente, pode-se seguir com o
O controle do odor é descrito de acordo com o
uso sistêmico via oral, porém mantendo o uso
grau de classificação. No odor grau I (sentido ao
tópico (Poletti et al, 2002; Gomes & Camargo,
se abrir o curativo), deve-se proceder à limpeza
2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007; Santana et al,
com soro fisiológico 0,9% e realizar antissepsia
2012).
com hipoclorito de sódio ou polivnil pirrolidona
Para controlar o sangramento, deve-se aplicar
iodo (PVPI); retirar o antisséptico e manter gazes
pressão diretamente sobre os vasos sangrantes;
embebidas de hidróxido de alumínio no leito da
considerar a aplicação de soro fisiológico 0,9%
ferida. Outras opções de tratamento são:
gelado;
aplicação de sulfadiazina de prata e/ou carvão
hemostático,
ativado envolto de gaze umedecida com soro
tranexâmico ou adrenalina, solução injetável
fisiológico 0,9% e oclusão da ferida com gaze
topicamente sobre a ferida em seus pontos
embebida em vaselina líquida (Poletti et al, 2002;
sangrantes; manter o curativo meio úmido, para
Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite,
evitar a aderência de gazes no sítio ou na
2007; Santana et al, 2012).
superfície e nas bordas da lesão; verificar, com a
No odor grau II (sentido sem se abrir o curativo),
equipe médica, a possibilidade de iniciar:
deve-se proceder à limpeza da ferida e realizar
coagulante
antissepsia
de
radioterapia anti-hemorrágica, sedação paliativa
metronidazol (1 comprimido de 250mg diluído
para casos de sangramento intenso, desespero
para 250ml de soro fisiológico 0,9%). Se o tecido
do paciente e avaliar
necrótico
houver
hemotransfusões (Poletti et al, 2002; Gomes &
necessidade, realizar escarotomia e aplicar
Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007;
comprimidos secos e macerados sobre a ferida,
Santana et al, 2012). No que concerne ao
ocluindo com gaze embebida em vaselina
controle das fístulas, deve-se proceder com a
líquida. A solução pode ser substituída pela
aplicação de óxido de zinco na pele ao redor da
pomada vaginal de metronidazol, gel 0,8% ou
ferida; aplicar hioscina tópica nas fístulas de
solução injetável diluída na proporção 1/1 (100 ml
baixo débito; considerar o uso de esteroides
da droga diluída em 100 ml de soro fisiológico
tópicos (se houver inflamação); ponderar o uso
e
irrigá-la
estiver
com
endurecido
solução
e
de
curativos
se
associar
à
alginato
sistêmico,
base
de
o
de
uso
colágeno
cálcio,
intervenção
de
ácido
cirúrgica,
a necessidade de
de bolsas nas fístulas de alta drenagem, com JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
placas de hidrocoloide ao redor da pele e realizar VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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placas de hidrocoloide ao redor da pele e realizar
a fim de minimizar desconfortos e problemas
curativo absortivo como carvão ativado e/ou
sociais, psíquicos e emocionais que são gerados
alginato de cálcio, com gaze do tipo ‘zobec’ como
pelas
cobertura secundária (Firmino, 2005a; Leite,
permeiam a filosofia dos cuidados paliativos,
2007; Santana et al, 2012). Em se tratando do
caracterizados
controle da necrose, avaliam-se as necessidades
promoção de conforto e de bem-estar, melhoria
de desbridamento e o status do paciente
dos aspectos físicos, psicológicos, sociais e
(Firmino, 2005a; Matsubara, 2012).
espirituais.
É notório, neste estudo, que, à medida que se
Na análise dos métodos utilizados nos trabalhos
aproxima o fim da vida, as feridas neoplásicas
sobre as ações de enfermagem em cuidados
passam a exacerbar sinais e sintomas, causando
paliativos com o paciente portador de ferida
estresse físico e psicológico ao paciente, aos
neoplásica, verificou-se que foram desenvolvidos
cuidadores, aos familiares e aos profissionais de
por especialistas, com base teórica e científica, e
saúde. Portanto, é preciso controlá-los, o que
que propõem protocolos clínicos de intervenções
justifica a implementação de cuidados paliativos,
de enfermagem para o cuidado com o paciente
cuja meta é a qualidade de vida.
portador de ferida neoplásica, sem constituir
O investimento na realização de trabalhos que
metodologicamente
buscam evidências científicas por meio de
identificar estudos com nível forte de evidência.
revisão de literatura, em temas específicos das
feridas
Nesse
neoplásicas.
por
alívio
estudos
ínterim,
as
Essas
dos
ações
sintomas,
clínicos,
nem
pesquisadoras
feridas neoplásicas, ainda é incipiente. À medida
concluem que a utilização da revisão de literatura
que forem realizadas investigações sobre os
contribuiu para o alcance dos objetivos propostos
diversos aspectos envolvidos no cuidado com o
neste trabalho. Porém, é preciso realizar outros
paciente portador de ferida neoplásica, as
estudos nessa área, para subsidiar, mais
intervenções
serão
profundamente, o planejamento e as ações de
cientificamente mais efetivas na prática clínica
enfermagem, no contexto dos cuidados paliativos
assistencial do enfermeiro.
direcionados a pacientes oncológicos com
e
as
estratégias
feridas. Conclusões O
desenvolvimento
deste
artigo
Referências
possibilitou dimensionar e analisar a produção do conhecimento sobre as ações de enfermagem
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em cuidados paliativos com o paciente portador
Nacional do Câncer. Tratamento e controle de
de ferida neoplásica.
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