Melo P., et al (2022) Community Care Units – situation diagnosis from the perspective of coordinators, Journal of Aging & Innovation, 11 (1): 43 - 53 ARTIGO ORIGINAL: Melo P., et al (2022) Community Care Units – situation diagnosis from the perspective of coordinators, Journal of Aging & Innovation, 11 (1): 43 - 53
ARTIGO ORIGINAL
Unidades de Cuidados na Comunidade – diagnóstico de situação na perspetiva dos coordenadores Community Care Units – situation diagnosis from the perspective of coordinators Unidades de Atención Comunitaria – diagnóstico de situación desde la perspectiva de los coordinadores Pedro Melo1,2, José Lima1,3; Isabel Nunes1,4; Fernanda Pombal1,5; Elsa Maia1,6, Susana Santos1,7; Maria Clara Lourenço1,8; Luís Seixo1,9; Fátima Claro1,9 e Alice Martins1,10 1
Associação de Unidades de Cuidados na Comunidade (AUCC); 2Universidade Católica Portuguesa (Instituto de Ciências da Saúde, Porto); 3 ARS Norte, ACeS de Gondomar; 4ARSLVT, ACeS Loures-Odivelas; 5CESPU; 6ARS Algarve, ACeS Algarve Sotavento; 7ARS Lisboa e Vale do TejoACeS Almada-Seixal; 8ARS Alentejo, ACeS Alentejo Central; 9ARS Centro, ACeS Baixo Mondego; 10Unidade Local de Saúde de Matosinhos.
Corresponding Author: isabel.nunes.fonseca@gmail.com
RESUMO Introdução| As Unidades de Cuidados de Saúde na Comunidade (UCC) integram-se nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), como unidades funcionais do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS). A sua missão consiste no desenvolvimento de cuidados de saúde especializados a pessoas, grupos e comunidades, assentes num processo rigoroso de planeamento em saúde, em articulação com as outras unidades funcionais e com os recursos e parceiros comunitários. A Associação de Unidades de Cuidados na Comunidade (AUCC) no desenvolvimento da sua finalidade de propugnar por uma política de saúde que valorize os contributos das UCC e dos seus profissionais desenvolveu conjuntamente com a Universidade Católica Portuguesa um estudo, com o objetivo de caracterizar as UCC no contexto dos recursos, da satisfação com a relação interinstitucional e organizacional e com os recursos disponíveis e as prioridades de problemas carentes de resolução nas mesmas. Metodologia| Foi desenvolvido um estudo exploratório descritivo, através de um questionário online, aplicado aos coordenadores das UCC. Resultados| Os resultados obtidos revelam dificuldades estruturantes a resolver, nomeadamente ao nível dos recursos humanos, existindo carência de enfermeiros especialistas e de outros profissionais, dificultando a acessibilidade dos utentes a cuidados integrados e especializados. Existe também insatisfação ao nível dos recursos materiais (como material de ajudas técnicas e de reabilitação, viaturas, mobiliário, material de informática com acesso à internet e ainda modelos anatómicos para educação para a sexualidade). Os coordenadores revelaram ainda baixos níveis de satisfação com as estruturas governativas que se traduzem em carreiras profissionais insatisfatórias e na falta de regulamentação que permita a atribuição de incentivos institucionais à semelhança de outras unidades funcionais. Discussão| De um modo geral em 2022 a nível nacional os coordenadores revelam dificuldades e preocupações já assinaladas em estudos anteriores e que põem em risco a missão das UCC e a motivação dos seus profissionais. Importa assim, com vista à resolução dos problemas assinalados e melhoria dos serviços prestados pelas UCC continuar a monitorizar o futuro destas unidades e investir no desenvolvimento das mesmas.
JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2022, 11 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1-3
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Palavras-chave: Cuidados de Saúde Primários; Unidade de Cuidados na Comunidade, Gestão de Recursos Humanos em Saúde, Satisfação profissional.
ABSTRACT Introduction| The Community Health Care Units (UCC) form part of the Primary Health Care (CSP), as functional units of the Group of Health Centers (ACeS). Its mission is to develop specialized health care for people, groups and communities, based on a rigorous health planning process, in articulation with other functional units and with community resources and partners. The Association of Community Care Units (AUCC) in the development of its purpose of promoting a health policy that values the contributions of the UCC and its professionals, jointly developed a study with the Portuguese Catholic University, with the objective of characterizing the UCC in the context of resources, satisfaction with the inter-institutional and organizational relationship and with the available resources and the priorities of problems in need of resolution in them. Methodology| A descriptive exploratory study was developed, through an online questionnaire, applied to UCC coordinators. Results| The results obtained reveal structural difficulties to be resolved, namely in terms of human resources, with a lack of specialist nurses and other professionals, making it difficult for users to access integrated and specialized care. There is also dissatisfaction in terms of material resources (such as material for technical and rehabilitation aids, vehicles, furniture, computer material with internet access and even anatomical models for sexuality education). The coordinators also revealed low levels of satisfaction with government structures, which translate into unsatisfactory professional careers and the lack of regulation that allows for the attribution of institutional incentives, similar to other functional units. Discussion| In general, in 2022, at the national level, the coordinators reveal difficulties and concerns already highlighted in previous studies and that jeopardize the mission of the UCC and the motivation of their professionals. Therefore, with a view to solving the problems identified and improving the services provided by the UCC, it is important to continue to monitor the future of these units and invest in their development.
Keywords: Primary Health Care; Community Care Unit, Human Resource Management in Health, Job satisfaction.
INTRODUÇÃO As UCC têm vindo a assumir um papel de destaque enquanto unidades de saúde que prestam cuidados de saúde e apoio psicológico e social, de âmbito domiciliário e comunitário, às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis em situação de maior risco ou dependência física e funcional, atuando na educação para a saúde, na integração em redes de apoio à família e na implementação de unidades móveis de intervenção, garantindo a continuidade e qualidade dos cuidados prestados (DECRETO-LEI N.º 28/2008). O seu desenvolvimento a nível nacional, a articulação com as Unidades Funcionais (UF) dos ACeS, parceiros da comunidade, o processo de contratualização e o impacto do trabalho desenvolvido têm trazido para a discussão as UCC. A Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, em 2014, levou a cabo um estudo com o intuito de conhecer, com mais rigor o trabalho desenvolvido pelas UCC e que abrangeu os distritos da sua área de abrangência: Santarém, Lisboa, JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2022, 11 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1-3
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Évora, Portalegre, Setúbal, Beja e Faro. Este estudo reforçou a importância das UCC na resposta às necessidades em saúde das populações e evidenciava a carência de recursos humanos. Em 2017, o Despacho n.º 7539/2017, publicado em 28 de maio permitiu a criação do Grupo de Trabalho para o desenvolvimento das UCC. A publicação em abril de 2019 do Relatório de Atividades 2017 – 2019 resultante da intervenção deste grupo, deu a conhecer que, do trabalho de reflexão e diagnóstico, «fica evidenciada a necessidade de prosseguir o investimento e desenvolvimento nestas unidades, a bem da nossa saúde coletiva e do Serviço Nacional de Saúde, considerando a assimetria nacional existente, principalmente ao nível de: recursos humanos, materiais, equipamentos e instalações; articulação com as demais unidades funcionais dos cuidados de saúde primários; documentação/monitorização da sua intervenção por défice dos sistemas de informação; ausência de um sistema de incentivos e regime remuneratório sensível ao seu desempenho; e visibilidade política destas unidades funcionais.» (Ministério da Saúde, 2019). Atentando um espaço de 4 anos entre este trabalho e a atualidade, a AUCC considerou importante promover um estudo que permitisse analisar o estado atual destas unidades e potenciar o cumprimento do artigo 5º do estatuto da AUCC, que indica como desiderato da associação, citamos “(...) perseguir a sustentabilidade e otimização do Sistema Nacional de Saúde, melhorando o acesso, a adequação, a efetividade, a eficiência e a qualidade dos cuidados de saúde das UCC.” (AUCC, 2015), promovendo recomendações para o seu desenvolvimento no futuro. Assim, este estudo tem como objetivos: caracterizar as UCC no contexto dos recursos, da satisfação com a relação interinstitucional e organizacional e com os recursos disponíveis e as prioridades de problemas carentes de resolução nas mesmas
Metodologia: Desenvolveu-se um estudo exploratório e descritivo, através da aplicação de um questionário construído com três partes: uma primeira de caracterização das UCC: a indicação da Administração Regional de Saúde (ARS) a que pertence, a inclusão numa Unidade Local de Saúde (ULS), o início de funções, a dispersão geográfica, o número de habitantes abrangidos, a especialidade do coordenador e a categoria profissional, a caracterização dos recursos humanos, dos projetos que integra, a JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2022, 11 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1-3
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existência de Equipa de Cuidados Continuados Integrados (ECCI), o acolhimento de estudantes em estágios/ensinos clínicos/ internatos. Numa segunda parte foi analisada a satisfação das equipas em relação a diferentes domínios, desde a perceção de valorização da UCC no processo de reconfiguração dos CSP e condições para o exercício profissional, até ao sentido de valorização de estruturas como o Ministério da Saúde, o Ministério das Finanças, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), a Direção Geral da Saúde (DGS) e em proximidade os departamentos de contratualização, a Equipa Regional de Apoio (ERA), as equipas de Gestão do ACES e as autarquias e associações como a própria AUCC. Foram ainda questionados os níveis de satisfação com os processos de contratualização, do desenvolvimento das carreiras dos profissionais e, por exemplo, com os incentivos. Na última parte foram questionados os níveis de prioridade atribuídos à resolução de diferentes problemas desde a contratualização, relação intra e interinstitucional, recursos humanos, físicos, materiais, entre outros. O questionário foi enviado a 266 UCC, após pré-testagem e restruturação, pela AUCC, via email para o email institucional dos Coordenadores, entre janeiro e fevereiro de 2022.
Resultados: Como principais resultados destacamos uma taxa de resposta de 46%, representando uma margem de erro de 5,47% e um nível de confiança de 90%. A maior parte das UCC respondentes pertencem à ARS Norte (45,1%), seguidas da ARS Centro (25,4%), ARS Lisboa e Vale do Tejo (15,6%), ARS Alentejo (9,8%) e ARS Algarve (4,1%). Constatou-se que 81,1% das UCC não estão integradas numa ULS. A maior parte (70,5%) tem uma dispersão geográfica superior a 40 Km2 e menos de metade das UCC (41,8%) abrange menos de 40 000 habitantes. No que respeita à especialidade do coordenador da UCC, menos de metade dos coordenadores são (43,4%), Enfermeiros Especialistas em Enfermagem Comunitária/Enfermagem de Saúde Pública/ Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública, seguindo-se pelos Enfermeiros em Enfermagem de Reabilitação (19,7%), Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica (15,6%) e Saúde infantil e JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2022, 11 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1-3
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Pediátrica (11,5%). Das restantes especialidades a percentagem é residual, menos que 6%. Constatou-se também que, 91% das UCC não tem ou está em processo de acreditação e 65,6% das UCC tem manual de boas práticas. Analisando os recursos humanos das UCC, verificamos que, no que respeita aos Enfermeiros e a tempo integral os profissionais que existem em maior número de UCC são os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Reabilitação (82%). Seguem-se
os
Enfermeiros
Especialistas
em
Enfermagem
de
Saúde
Comunitária/Saúde Pública ou Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública (78%) em mesma percentagem de UCC com enfermeiros de Cuidados Gerais a tempo integral. Os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica a tempo integral encontram-se em 65% das UCC, sendo as outras áreas de especialidade existentes em menos de metade das UCC. Ainda no que respeita a Enfermeiros a tempo parcial, encontramos em maioria os Enfermeiros de Cuidados Gerais, em 17% das UCC. Todos os restantes são vestigiais. Analisando os outros recursos humanos, a tempo integral, são os Assistentes Técnicos que ocupam o espaço da maioria das UCC (1 em 31% ou 2 em 6%), seguidos dos Assistentes Operacionais (1 em 19%, 2 em 9% e 3 ou mais em 4%) e dos Fisioterapeutas (1 em 13% das UCC). Os Médicos e Assistentes Sociais são identificados em número único em 6% e 5% das UCC respetivamente. Já os Nutricionistas, apenas foram referidos em 2% das UCC e 1 Psicólogos em 1%, assim como os Terapeutas Ocupacionais. A tempo parcial, são os Assistentes Sociais que ocupam a maior posição (1 em 70% das UCC, 2 em 14% e 3 ou mais em 2%). Seguem-se os Nutricionistas (1 em 53% e 2 em 3% das UCC), os Assistentes Técnicos (1 em 48%, 2 em 4% e 3 ou mais em 1% das UCC) e os Médicos (1 em 44%, 2 em 7% e 3 ou mais em 5% das UCC). Os Fisioterapeutas a tempo parcial ocupam 35% das UCC com profissional único, seguidos dos Assistentes Operacionais (1 em 24%, 2 em 3% e 3 ou mais em 3% das UCC) e dos Psicólogos (1 em 24% das UCC). Com percentagens inferiores a 5% das UCC encontram-se os terapeutas da fala (1 em 4% e 2 em 1%), os Terapeutas Ocupacionais (1 em 4% das UCC), os Técnicos de Saúde Ambiental (1 em 3% das UCC) e Técnicos de Exames Complementares de Diagnóstico e Motoristas (existindo um profissional de cada em 1% das UCC a tempo parcial). JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2022, 11 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1-3
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No que respeita a projetos, a maioria das UCC (99,2%) apresenta projetos na área da Saúde Escolar (SE), seguindo-se os projetos na área da Parentalidade (82%), do Núcleo de Apoio de Crianças e Jovens em Risco (NACJR) (77,9%), da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) (77%), da Intervenção Precoce (73,8%), da Rede Social (73,8%) e da Equipa de Prevenção da Violência nos Adultos (EPVA) (66,4%). Os projetos relacionados com as outras áreas existem em menos de 70% das UCC, sendo os projetos menos frequentes os relacionados com a Saúde Ocupacional (referidos por 2,5% das UCC). Realça-se ainda, nos resultados que 14,9% das UCC refere não se articular com a Unidade de Saúde Pública (USP), 10,7% das UCC não conhecem o Diagnóstico Local de Saúde da sua população e 12, 3% não conhecem o Plano Local de Saúde. Em 99,2% das UCC existe o projeto ECCI, sendo que em 74,4% das mesmas não existe equipa exclusiva para este projeto (sendo os recursos partilhados com os outros projetos da UCC). Quase a totalidade das UCC (97,5%) acolhem estudantes, maioritariamente dos cursos de Especialidade em Enfermagem (92,4%) e da Licenciatura em Enfermagem (89,1%). Seguem os estudantes de Medicina no seu Internato de especialidade (26,9%) e do ano comum de Medicina em 20,2% das UCC e 14,3% das UCC recebem estudantes de Fisioterapia. Os estudantes de Nutrição, Psicologia, Serviço Social desenvolvem estágios em menos de 6% das UCC. No que respeita à investigação, 75,4% das UCC tem parcerias com Centros de Investigação em Enfermagem e 3,3% tem parcerias com outros Centros de Investigação, nomeadamente da área médica. Analisando a satisfação das equipas das UCC, na perceção dos seus coordenadores, destacamos os níveis de satisfação: A valorização das UCC pelo Ministério das Finanças (com níveis insatisfação extrema em 57,4% das UCC). A Valorização das UCC pela DGS (com níveis insatisfação extrema em 37,7% das UCC e satisfação mediana em 43,5%) A valorização das UCC pelo Ministério da Saúde (com níveis insatisfação extrema em 34,5% das UCC e satisfação mediana em 39,8%)
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A valorização das UCC pela ACSS (com níveis insatisfação extrema em 33,6% das UCC). A Valorização das UCC pelos SPMS (com níveis insatisfação extrema em 26,2% das UCC e satisfação mediana em 46%). A Valorização das UCC pelo departamento de contratualização (com níveis insatisfação extrema em 32% das UCC e satisfação mediana em 44,4%) A valorização da UCC pela ARS (com níveis insatisfação extrema em 29,5% das UCC e satisfação mediana em 39,3%). A maior parte das UCC (54,1%) encontra-se medianamente satisfeita com a valorização da UCC pela equipa de gestão do ACES que integram. Já a AUCC ocupa um nível de satisfação elevado com a sua valorização das UCC em 43,14% das UCC. No que concerne às autarquias, mais de 25% das UCC estão satisfeitas com as Juntas de Freguesia e mais de 30% com as Câmaras Municipais. No que respeita a recursos materiais, 79,4% das UCC estão insatisfeitas com os recursos que têm. A maior parte das UCC indica falta de material de ajudas técnicas e de reabilitação, viaturas (preferencialmente com motoristas), mobiliário, material de informática com acesso à internet e Considerando os níveis de prioridade de resolução de problemas das UCC, apresenta-se na figura seguinte o TOP 13 dos problemas a resolver nas UCC, na perspetiva dos seus coordenadores:
Figura 1 – Níveis de prioridade de problemas a resolver nas UCC, na perspetiva dos coordenadores.
Destacamos ainda que, cerca de 40% das UCC sugerem a atualização ou a criação de novos indicadores de contratualização, nomeadamente a potenciação de
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indicadores de resultado relacionados com a Saúde Escolar, Saúde Mental, Saúde Infantil e Saúde Materna e Obstétrica. Discussão: As UCC, estando nas prioridades do Governo para a próxima legislatura (Governo de Portugal, 2022:25), no que respeita à saúde precisam de ver resolvidos vários problemas estruturantes para o cumprimento da sua missão de cuidar de pessoas e grupos mais vulneráveis e no que respeita ao acesso de cuidados especializados, principalmente de Enfermagem, mas também nos cuidados às comunidades. Desde logo, relativamente aos cuidados de Enfermagem, é preciso reforçar os recursos humanos em Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública, considerando que, a natureza do trabalho das UCC, exige a gestão de programas e projetos e a capacitação de grupos e comunidades, devendo por isso 100% das UCC ser dotadas por estes enfermeiros especialistas, que no momento ocupam a segunda posição, existindo a tempo integral em menos de 80% das UCC. Os especialistas em Enfermagem de Saúde Mental, que atualmente existem a tempo integral em menos de metade das UCC, precisam também de ver um reforço, considerando que a saúde mental é uma área prioritária e uma componente fundamental do bem-estar dos indivíduos e as perturbações mentais são, de entre as doenças crónicas, a primeira causa de incapacidade em Portugal (DR, Decreto-Lei n.º 113/2021). É ainda grave a inexistência de enfermeiros especialistas na área da Pessoa em Situação Paliativa, existentes apenas em 6% das UCC. Claro que as outras áreas de especialidade em Enfermagem precisam também de reforço. Ainda que a Enfermagem de Reabilitação esteja presente a tempo integral, em 82% das UCC, é preciso analisar as dotações associadas a um Portugal altamente envelhecido, com doença crónica ou com problemas de saúde prolongados afetando cerca de 43,9% da população residente em Portugal em 2021 (Peralta, Carvalho e Esteves, 2021). Nas outras áreas profissionais identifica-se escassez em psicólogos (existentes a tempo parcial em apenas 24% das UCC), considerando a prioridade da intervenção da saúde mental. Estudos também evidenciam a necessidades de se investir em mais nutricionistas que segundo a Ordem de Nutricionista em 2022, “nos CSP há um nutricionista para cerca de 100 mil utentes, sendo o rácio defendido de 12 mil utentes por cada profissional”, fisioterapeutas e assistentes sociais. Menos de metade das JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2022, 11 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v11i1-3
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UCC têm assistentes técnicos e menos de 30% assistentes operacionais. Também os profissionais médicos, que se encontram a tempo parcial em apenas 44% das UCC, precisam de um investimento, para otimizar a operacionalização dos cuidados médicos de uma forma efetiva, não apenas nos cuidados continuados integrados, mas em resposta a outros projetos que potencialmente possam precisar de cuidados destes profissionais. Os baixos níveis de satisfação das UCC com as estruturas governativas (Ministérios da Saúde e das Finanças e DGS) exigem uma aproximação destas estruturas, considerando a valorização dos contributos únicos das UCC para a saúde das comunidades, promovendo carreiras satisfatórias e motivadoras dos seus profissionais, regimes de incentivos coadunados com o valor que acrescentam ao Sistema Nacional de Saúde (SNS) e ainda uma comunicação efetiva com estas Unidades. Mas também localmente é preciso melhorar a comunicação e valorização com as ARS, com as estruturas de contratualização, com as ERA e com os próprios órgãos de gestão dos ACeS. Considerando a natureza da missão das UCC é prioritário resolver problemas estruturantes relacionados com as carreiras, principalmente dos enfermeiros, grupo profissional maioritário nas UCC; a atribuição de incentivos financeiros e institucionais compatíveis com o valor único que acrescentam (à semelhança do que acontece com as Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo B); a atualização dos indicadores de contratualização; a disponibilização de viaturas, de motoristas, de material informático e de acesso à internet e ainda melhorar os sistemas de informação (nomeadamente para a parametrização dos cuidados às comunidades) e a sua relação com a monitorização dos indicadores contratualizados. Os resultados obtidos evidenciam problemas já bem conhecidos e alguns comuns a várias unidades funcionais ao nível dos CSP e corroboram com o descrito por Escoval et al. (2010) no estudo realizado no âmbito da perceção dos profissionais dos CSP, nomeadamente os relacionados com contratualização e os recursos humanos e materiais. No nosso estudo identifica a manutenção das preocupações com estas mesmas dimensões, nomeadamente o descontentamento com a qualidade dos sistemas de informação em saúde, falhas ao nível da dos recursos humanos e do sistema de incentivos (ainda ausentes nas UCC) que continua a não permitir uma
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correta inter-relação do desempenho e resultados, com a valoração financeira e de incentivos institucionais.
Conclusão: As UCC são unidades funcionais dos ACES que prestam cuidados de proximidade às pessoas, grupos e comunidades mais vulneráveis. Desde a sua criação, com o despacho publicado em 2009 (República Portuguesa, 2009), tem demonstrado a sua individualidade e imprescindibilidade no acesso das pessoas, grupos e comunidades a cuidados especializados (de enfermagem e de outras áreas profissionais), quer por referenciação das equipas de saúde familiar quer por acesso direto às UCC. No contexto da pandemia, por exemplo, foi demonstrada a importância fulcral destas unidades no empoderamento das comunidades para o controlo da pandemia (nomeadamente nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas), mas também nas diferentes áreas de intervenção na resposta à pandemia. A previsão do impacto da pandemia no contexto do bem-estar das comunidades, nomeadamente nos desafios no contexto da saúde mental (Lira, Pereira, Ramos e Pachú, 2021), vêm reforçar a necessidade de otimizar os recursos humanos e o investimento nas infraestruturas das UCC. O estudo realizado e aqui apresentado, revela muitas fragilidades na dinâmica das UCC, quer pelos insuficientes recursos humanos e materiais, quer pelos níveis de satisfação muito baixos condicionantes da motivação dos profissionais. Aspetos, estes, basilares para a garantia da qualidade dos cuidados prestados por estas unidades. A referência do XXIII Governo constitucional indicando que prevê “Reforçar as Unidades de Cuidados na Comunidade, pela sua relevância no trabalho de apoio às pessoas mais vulneráveis, no domicílio e na comunidade” (Governo de Portugal, 2022:25), assim como a sua referência à otimização das carreiras dos profissionais de saúde (Governo de Portugal, 2022:30) vem otimizar a perceção de melhoria face às preocupações identificadas neste estudo.
A integração e a continuidade de
cuidados, a promoção da saúde das comunidades, através do seu empoderamento e potenciação dos seus níveis de literacia em saúde estarão melhor garantidas com este caminho que se vislumbra.
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