Morais M.; Gomes R.; Cunha U; (2021) Intergeneration family relations: a systematic national review, Journal of Aging & Innovation, 10 (1): 34- 42 REVISÃO SISTEMÁTICA: Morais M.; Gomes R.; Cunha U; (2021) Intergeneration family relations: a systematic national review, Journal of Aging & Innovation, 10 (1): 34- 42
Revisão sistemática
Relações familiares intergeracionais: uma revisão sistemática da literatura nacional Relaciones familiars intergeracionales: un repaso sistematico de la literature nacional Intergeneration family relations: a systematic national review Maria Luísa Aguiar Morais 1, Ricardo Bezerra Félix Gomes 2, Ubiracelma Carneiro da Cunha 3 1
Graduandos de Bacharelado em Psicologia pela Centro Universitário da Vitória de Santo Antão – UNIVISA
Graduandos de Bacharelado em Psicologia pela Centro Universitário da Vitória de Santo Antão – UNIVISA 3 Docente do Departamento de Psicologia do Centro Universitário da Vitória de Santo Antão – UNIVISA 2
Corresponding Author: maria.luisa@univisa.edu.br Resumo Introdução: O aumento do envelhecimento populacional traz à tona as novas configurações familiares como, por exemplo, os lares multigeracionais, que são lares compostos por três ou mais gerações que convivem na mesma residência. Desta forma, aponta-se a importância de estudos nessa área, visto que essa configuração possui aspectos importantes a serem considerados no que se refere ao cuidado para com as pessoas idosas e seus familiares. Objetivo: O objetivo geral deste estudo foi analisar o panorama da literatura nacional acerca dos relacionamentos intergeracionais no âmbito familiar entre 2009 a 2019. Método: Trata-se de uma pesquisa exploratória, na qual foi realizada uma revisão sistemática da literatura. As bases de dados utilizadas foram: Google Scholar, Ibict Oasis BR, Lilacs e Scielo. Para a estratégia de busca foram utilizados descritores, previamente selecionados no DeCs. Resultados: Foi possível perceber que o motivo mais frequente para a formação dos lares multigeracionais, foram questões econômicas, divórcios e separações. No tocante aos membros familiares, a segunda geração em sua maioria era feminina e a terceira geração consistia desde netos bebês até netos jovens adultos. As dificuldades predominantes encontradas na corresidência foram as questões de diferenças de valores e crenças. E os benefícios mais apontados foram o apoio financeiro e emocional. Conclusões: Observa-se que a troca de experiências e de afetos pode ser uma consequência da corresidência, favorecendo um aprendizado mútuo. E, apesar dos conflitos existente nesses lares, é possível que haja o exercício do respeito pelas escolhas de cada um visando a busca por um convívio harmônico. Ressalta-se a necessidade de mais estudos nessa área, visto que se verificou a escassez de literatura sobre o tema no Brasil.
Palavras-chave: Família. Relação entre gerações. Revisão Sistemática.
Abstract Introduction: The increase of populational aging brings to light new family configurations, such as, for example, multi-generational homes which are homes composed of three or more generations living together in the same house. Thus, the importance of studies in this area is pointed out, once that this configuration has important aspects for being considered about caring for the elderly and their families. Objective: The general objective of this study was to analyze the national literature panorama on intergenerational relationships within the family between 2009 and 2019. Method: This treats about an exploratory research, in which a systematic literature review was carried out. The databases used were: Google Scholar, Ibict Oasis BR, Lilacs, and Scielo. Descriptors were used for the search strategy, previously selected in DeCs. Results: It was possible to realize that the most frequent reason for the formation of multigenerational homes was economic issues, divorces, and separations. Regarding the family members, the second generation was mostly female, and the third generation consisted from baby grandchildren to young adult grandchildren. The predominant difficulties found in co-residence were issues of differences in values and beliefs.
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REVISÃO SISTEMÁTICA: Morais M.; Gomes R.; Cunha U; (2021) Intergeneration family relations: a systematic national review, Journal of Aging & Innovation, 10 (1): 34- 42 And the most pointed benefits were the financial and emotional support. Conclusions: It is observed that the exchange of experiences and affections could be a consequence of co-residence, favoring mutual learning. And, despite the conflicts that exist in these homes, it is possible that there is the exercise of respect for the choices of each one aiming at the search for a harmonious coexistence. The need for further studies in this area is emphasized since there was a scarcity of literature on the subject in Brazil.
Keywords: Family. Intergenerational Relations. Systematic Review
INTRODUÇÃO
O processo de envelhecimento e a fase da velhice trazem consigo modificações que ocorrem na dimensão física, ou seja, alterações fisiológicas, como cabelos brancos e rugas. Além disso, como todas as fases etárias, também ocorrem mudanças na forma de pensar, sentir e agir, compreendendo que o ser humano é um ser biopsicossocial. Por consequência, os contextos do envelhecimento e da velhice são heterogêneos e complexos em sua essência (Santos, 2010). A partir dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018) estima-se que em 2060, 25,5% da população brasileira será idosa. Durante a Primeira Assembleia Mundial das Nações Unidas (ONU, 1982) sobre o envelhecimento da população, foi definido, através da resolução 39/125, que para os países em desenvolvimento, são considerados idosos as pessoas com 60 anos ou mais, já nos países desenvolvidos considera-se a partir dos 65 anos de idade. Este envelhecimento populacional traz à tona um fator que já está presente e opera-se numa constante, que é a formação dos lares multigeracionais, que são lares compostos por três ou mais gerações convivendo na mesma residência (Camarano & El Ghaouri, 2003). Considera-se também que a situação econômica vigente no país é um dos principais motivadores para a formação desses arranjos familiares, visto que torna em evidência questões como o desemprego, por exemplo, onde os membros da família podem ir em buscar auxílio do idoso, que na maioria dos casos, apresenta-se como o principal contribuinte na renda da família (IBGE, 2018). Uma das primeiras pesquisas que abordou esse tema foi o estudo de Camarano e El Ghaouri (2003), que procurou compreender como as famílias com idosos estão se organizando no Brasil face ao envelhecimento populacional. Essas pesquisadoras discutem que a corresidência é uma estratégia familiar que vem sendo usada não apenas para beneficiar as gerações mais velhas, mas também os jovens, visto que estes, vem ficando dependentes financeiramente dos pais por mais tempo, dadas as instabilidades no mercado de trabalho, maior exigência de desenvolvimento profissional e relações afetivas instáveis (Camarano & El Ghaouri, 2003; Cunha, 2017; Cunha & Dias, 2019).
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Essa configuração familiar pode ser formada por dois motivos: “coabitação permanente” ou “recoabitação”. A primeira define-se pelas gerações sempre conviverem na mesma casa, já a segunda, é quando há um afastamento físico entre as gerações, mas depois, elas tornam a morar juntas (Attias-Donfut, 1995 apud Peixoto & Luz, 2007). Já no que diz respeito à chefia destes lares, Camarano e El Ghaouri (2003) apresentaram que há uma diferença entre a “família de idosos” e a “família com idosos”. A “de idosos”, refere-se ao fato de que os idosos chefiam o lar, e a “com idosos” ocorre quando o idoso reside com outros familiares que são os chefes da residência. Ainda, sabe-se que a família pode ser uma forte rede de apoio para os indivíduos, podendo favorecer a saúde. Com isso, pessoas que com frequência, tem um suporte familiar, e uma convivência intergeracional mais harmônica, possuem melhores condições de saúde (Aquino, Baptista & Souza, 2011). Neste contexto, no estudo de Leme, Falcão, Braz, Coimbra e Fernandes (2016) destacam a importância de investigar os avós, no cenário dos lares multigeracionais, visto que por diversas vezes eles são protagonistas nas dinâmicas de trocas e apoios que estão presentes nas relações familiares da atualidade. Sendo assim, é um cenário importante a ser considerado pelos profissionais, dado ao cuidado com as pessoas idosas e seus familiares. A compreensão desse panorama permite uma nova visão sobre a dimensionalidade dessas relações para uma atuação profissional mais congruente com a realidade (Silva et al., 2015a). Dessa forma, esse estudo teve como objetivo geral analisar o panorama da literatura nacional acerca dos relacionamentos intergeracionais no âmbito familiar entre 2009 a 2019. Especificamente objetivou-se: caracterizar o perfil dos integrantes dessas famílias multigeracionais; identificar, nas pesquisas selecionadas, os motivos que vêm ocasionando a formação dos lares multigeracionais no Brasil e verificar os fatores que geram conflitos e/ou que facilitam a convivência dos membros nesse tipo de configuração familiar.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, na qual foi realizada uma revisão sistemática da literatura, com objetivo de avaliar e sintetizar estudos acerca dos relacionamentos intergeracionais no âmbito familiar, contemplando pesquisas realizadas em território nacional e publicadas no idioma Português, entre os anos 2009 e 2019. As bases de dados utilizadas foram: Google Scholar, Ibict Oasis BR, Lilacs e Scielo. Para a estratégia de busca foram utilizados descritores, previamente selecionados no DeCs (Descritores em ciência da saúde) e termos livres: “relação entre gerações”; “relacionamento intergeracional”; “corresidência” e “coabitação”. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i1-4
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Os critérios de inclusão utilizados foram: pesquisas em que os participantes residiam em lares multigeracionais, artigos de pesquisas empíricas, no idioma português e realizadas no Brasil. Os critérios de exclusão foram: artigos de revisão de literatura, anais de congressos, dissertação, teses, artigos em outro idioma e pesquisas realizadas em outros países. Durante a pesquisa foram encontrados 524 artigos potencialmente relevantes nas bases de dados acima mencionadas, após seleção, 502 deles foram retirados devido aos critérios de exclusão, restando 22 artigos. Realizada a leitura integral, mais 16 artigos foram removidos, restando no banco de dados final 6 artigos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
- CARACTERÍSTICAS DOS MEMBROS No estudo de Falcão e Bucher- Maluschke (2009), sobre o impacto da Doença de Alzheimer nas relações intergeracionais, desenvolvido no Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso e Portadores de Doença de Alzheimer no Hospital Universitário de Brasília (HUB) participaram 24 filhas (com idade que variam de 35 a 64 anos) e 24 pais idosos (5 pais e 19 mães). Os lares eram formados por idosos com possível diagnóstico de Alzheimer, que tinham suas filhas como cuidadoras, e que coabitavam com seus netos e também, em alguns casos, bisnetos. Das 24 filhas, todas eram mães e tinham em média dois filhos, sendo que quatro delas já eram avós e duas eram bisavós. A maioria delas estavam na meia idade, era a primogênita, possuía grau de escolaridade de nível superior, era de religião católica, era aposentada ou exercia a profissão do lar e possuía nível socioeconômico médio. Importante notar que esses lares fazem parte da categoria de “família com idosos” pelo fato dos idosos residirem com as filhas que chefiavam a residência. Em contrapartida, no estudo de Paixão e Morais (2016), observa-se que o perfil dos lares era a “família de idosos”. Nessa pesquisa, os autores discorrem sobre as experiências de 6 adolescentes (15 a 18 anos) criados por avós, sendo 4 deles do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Todos eram solteiros e não exerciam atividade laboral remunerada, tendo como ocupação principal, o estudo. A formação desses lares multigeracionais era composta por avós idosos, segunda geração (pais e/ou tios) e os adolescentes. Ainda no seguimento da “família de idosos”, a pesquisa de Meira, Vilela, Casotti, Nascimento e Andrade (2015), investigou 154 idosos que viviam em estado de corresidência com outras gerações (filhos e netos) em um município no interior da Bahia, sendo 79,2% mulheres, 69,5% analfabetos e 41% de viúvas.
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Na pesquisa “A recoabitação dos filhos e netos na perspectiva de idosas chefes de família”, Cunha e Dias (2019) entrevistaram 9 idosas que conviviam em lares multigeracionais, com idades entre 60 e 70 anos. O perfil dessas idosas eram: 4 casadas, 3 viúvas e 2 divorciadas/separadas. Em relação ao grau de escolaridade, apenas 1 possuía ensino superior completo, 3 possuíam o ensino médio completo, 3 ensino fundamental incompleto, 1 não era alfabetizada e 1 possuía o supletivo. No que se refere aos outros membros da casa, a segunda geração era, em sua maioria, as filhas mais novas das idosas. Já a terceira geração variava entre netos bebês e netos jovens adultos, sendo grande parte do sexo feminino. O estudo de Silva et al. (2015a) retrata a dinâmica das relações familiares intergeracionais na ótica de idosos residentes no Município de Jequié (Bahia). Ele foi realizado com 32 idosos, sendo eles 13 homens e 19 mulheres. A composição dos lares eram avós idosos, pais adultos e netos. Nessa pesquisa não foram descritos o estado civil e o grau de escolaridade dos participantes e membros da família. Convém evidenciar que, assim como no estudo de Silva, Vilela, Oliveira e Alvez (2015b), foi observado que nem todos os lares dos participantes eram multigeracionais, havendo residências com apenas duas gerações. Dessa forma, para essa revisão foram selecionados, dentro desses estudos, somente as informações referentes aos lares que tinham três ou mais gerações.
- MOTIVO DA FORMAÇÃO DOS LARES
No contexto da formação dos lares multigeracionais, aspectos familiares foram apontados como fatores motivadores para a corresidência, questões como divórcio dos pais biológicos (Cunha & Dias, 2019; Paixão & Morais, 2016), adiamento da saída dos filhos por questões econômicas, (Silva e et al., 2015b) gravidez precoce e a garantia de melhor escolarização dos filhos (Paixão & Morais, 2016) foram alguns pontos que favoreceram a corresidência. A necessidade de cuidados com as pessoas idosas também foi um fator apontado para constituição desses lares, como mencionado nas pesquisas de Silva et al. (2015b) e Falcão e Bucher-Maluschke (2009). Neste segundo estudo, o possível diagnóstico da Doença de Alzheimer foi o que modificou a estrutura familiar de alguns lares, contribuindo para que a corresidência acontecesse, para que assim os membros familiares pudessem prestar melhor assistência aos idosos. Também foi possível constatar que o sentimento de solidão também foi um motivador dessa formação, visto que, algumas idosas relataram que não gostariam de ficar só ou deixar sua filha morando sozinha, buscando a solução para isso na corresidência (Cunha & Dias, 2019). Por fim, o estudo de Silva et al. (2015a) e Meira et al. (2015) não apontaram em suas pesquisas o motivo da formação dos lares. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i1-4
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- FATORES QUE GERAM CONFLITOS
Nas pesquisas de Falcão e Bucher- Maluschke (2009), Paixão e Morais (2016), Silva et al. (2015a) e Silva et al. (2015b) corroboraram o choque de gerações como um fator gerador de conflito, principalmente entre avós e netos. O primeiro atestou, que a Doença de Alzheimer interferiu diretamente nas relações familiares, ocasionando conflitos dos avós com pelo menos um de seus filhos, bem como o impacto emocional da doença, gerando o envolvimento com drogas e afastamento do convívio familiar, por parte dos netos. O segundo destacou brigas em relação aos estudos, conflitos ocasionados pelo neto não atenderem os pedidos das avós e uso abusivo de álcool por parte de um avô. O terceiro, ressaltou a insatisfação que alguns idosos tinham em relação a condutas e comportamentos dos seus filhos e netos, bem como dificuldade da parte dos netos de aceitarem a divergência de valores entre as gerações, e por fim, o quarto aponta divergência de metas a serem atingidas e valores a serem respeitados. Já no estudo de Cunha e Dias (2019), o fator gerador de conflito foi a sobrecarga, decorrente da recoabitação, que gerou uma demanda excessiva de responsabilidades para as idosas, de cuidado com os netos e de mais responsabilidades no dia a dia. Por fim, no estudo Meira et al. (2015), os fatores conflituosos apontados pelos idosos foram os problemas de saúde e o não recebimento de visitas de vizinhos e parentes.
- FATORES QUE FACILITAM A CONVIVÊNCIA
Falcão e Bucher- Maluschke (2009) apontam que a proximidade afetiva que os netos tinham com os avós com Doença de Alzheimer, foi um fator que contribuiu para que eles exercessem ações de solidariedade e auxiliassem no cuidado com os avós. Foram descritos como fatores facilitadores da convivência, de acordo com Paixão e Morais (2016), o apoio emocional que os avós fornecem, através do diálogo, bem como conselhos e dicas sobre a vida que eles compartilham. Outros fatores encontrados foram: flexibilidade, respeito, diálogo e profunda ligação afetiva entre os membros (Silva et al., 2015a). Ajuda nas necessidades financeiras, de cuidados físicos, companhia e o suporte emocional foram pontuados pelos pais idosos e filhos adultos como benefícios desse tipo de configuração familiar. Registrou-se ainda que 80,5% dos idosos da pesquisa relataram estar satisfeitos com a vida (Meira et al., 2015). Com a convivência intergeracional harmoniosa, percebeu-se, de acordo com Silva et al. (2015b) que as pessoas idosas se mostravam mais positivas em relação a elas mesmas e ao JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i1-4
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mundo, suportando melhor as doenças, os estresses e outras dificuldades. Foi pontuado também que a compreensão entre as gerações é um forte fator que facilita a convivência e, destacam que, a família se apresenta como um ambiente de cuidado, bem como uma fonte de apoio para os idosos, podendo vir a ser um espaço para garantir o bem-estar, a sobrevivência e a proteção integral dos membros. Com a presença da família, o sentimento de solidão apresentado na pesquisa de Cunha e Dias (2019) é sobreposto pelo sentimento de acolhimento que acaba sendo mútuo, pela recepção dos familiares nos lares dessas idosas e pela companhia e suporte por parte desses familiares. A ajuda financeira também é relatada como algo contribuinte para o bom funcionamento desses lares, visto que a atitude é benquista pelas idosas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto nas pesquisas selecionadas, percebe-se que houve duas fortes influências para a formação dos lares multigeracionais: divórcio/separação e fatores econômicos, onde a situação econômica vigente no país pode forçar os indivíduos a buscarem habitação em um único lar a fim de diminuir os prejuízos. Foi possível observar também que essa convivência pode acarretar em conflitos que se apresentam por questões como valores, crenças e estilos de vida distintos. O fato de estarem em um lar composto por diferentes gerações, permite com que ocorra uma troca de experiências, favorecendo um aprendizado mútuo e o exercício do respeito pelas escolhas de cada um, buscando um convívio harmônico. Além disso, também favorece a troca de afetos, que se faz necessário para desenvolver um ambiente saudável e de acolhimento para todos os membros presentes nos lares multigeracionais. Verificou-se a escassez de literatura sobre o tema no Brasil, visto que apenas seis artigos foram encontrados diante dos critérios dos autores. Observou-se também uma maior concentração das pesquisas na região nordeste (83,3%), especificamente no estado da Bahia. Com relação a área de estudos dos autores principais, os artigos ficaram divididos igualmente, foram conduzidos por profissionais da área de Enfermagem (50%), e profissionais de Psicologia (50%). Por fim, ressalta-se a necessidade de estudos que abordem a dinâmica dessa crescente configuração familiar, pois trata-se de aspectos importantes a serem considerados na atuação de profissionais da área da saúde, no que se refere ao cuidado para com as pessoas idosas e seus familiares.
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