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Agra G., Andrade F. (2020); Inclusive fashion for people with malignant cutaneous tumor wounds, Journal of Aging & Innovation, 9(3): 78- 88 ARTIGO ORIGINAL: Agra G., Andrade F. (2020); Inclusive fashion for people with malignant cutaneous tumor wounds, Journal of Aging & Innovation, 9(3): 78- 88

 ARTIGO ORIGINAL

Moda inclusiva para pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas Inclusive fashion for people with malignant cutaneous tumor wounds Moda inclusiva para personas con heridas tumorales cutáneas malignas Glenda Agra1; Fábia Letícia Martins de Andrade2 1

RN, CNS, MsC, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus Cuité; 2 RN, CNS Corresponding author: g.agra@yahoo.com.br Resumo Objetivo: Descrever o processo de criação de vestuários para pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas. Método: Tratase de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência sobre o processo de criação de vestuários para pessoas com diversos tipos de feridas tumorais, realizado em agosto e setembro de 2017. Resultados e Discussão: Foram criados vestuários femininos, masculinos e infantis baseados em moldes de simuladores de feridas tumorais malignas cutâneas, confeccionados com variados tipos de tecidos, proporcionando a facilidade de vestir e de despir, bem como protegendo a área total da ferida tumoral e, por fim, proporcionando conforto ao paciente. Conclusão: Os vestuários buscam contribuir com o direito de vestir-se com qualidade, atendendo às necessidades e facilitando as atividades da vida diária de pessoas com feridas tumorais e seus familiares. Palavras-chave: Vestuários; Úlcera Cutânea; Neoplasia.

Abstract Objective: To describe the process of creating clothing for people with malignant cutaneous tumor wounds. Method: This is a descriptive study, an experience report on the process of creating clothing for people with different types of tumor wounds, carried out in August and September 2017. Results and Discussion: Female, male and infantile models based on simulators of malignant cutaneous tumor wounds, made with various types of fabrics, providing ease of dressing and undressing, as well as protecting the total area of the tumor wound and, finally, providing comfort to the patient. Conclusion: The garments seek to contribute to the right to dress with quality, meeting the needs and facilitating the daily activities of people with tumor wounds and their families. Keywords: Clothing; Cutaneous Ulcer; Neoplasia.

1. INTRODUÇÃO

Durante o processo de oncogênese, caracterizado pela proliferação celular descontrolada, pode ocorrer a quebra de integridade cutânea e a infiltração de células malignas nas estruturas da pele, causando a formação de feridas tumorais (Alexander,

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2009a; Santos, Pimenta & Nobre, 2010; Woo & Sibbald, 2010; Beh & Leow, 2016; Maida et al., 2016; Tiley, Lipson & Ramos, 2016; Brito et al., 2017). As feridas tumorais malignas cutâneas constituem um agravo na vida da pessoa com doença oncológica, pois, progressivamente, desfiguram o corpo, tornamse friáveis, dolorosas, exsudativas, liberam odor fétido e, muitas vezes, concorrem para mutilações. Ao mesmo tempo, essas lesões podem levar ao desenvolvimento de complicações tais como infecções superficiais e/ou sistêmicas, fístulas e infestação de larvas; outrossim, essas feridas afligem também as dimensões psíquica, social e espiritual do paciente, as quais podem interferir nas relações interpessoais com a equipe médica, com os próprios familiares e até mesmo com o relacionamento social e afetando diretamente a autoestima (Alexander, 2009b; Alexander, 2009c; Alexander, 2009d; Blakely, Mcphillips & Miner, 2015; Gibson & Green, 2013; Probst, Arber & Faithfull, 2013a; Probst, Arber & Faithfull, 2013b; Lo et al., 2008). Sobre o manejo clínico da pessoa com ferida tumoral maligna cutânea, vale ressaltar que a progressão da doença, o aumento da lesão, a mutilação de áreas do corpo e a dificuldade no manejo e alívio dos sinais e sintomas prevalentes e a realização de curativos em feridas que apresentam crescimento exuberante, bem como disfarçar o odor fétido exalado podem trazer sentimentos de impotência e desânimo para o profissional (Alexander, 2009a; Brito et al., 2017; Moreira, 2013; Dolbeault et al., 2010; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005a; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005b; Piggin & Jones, 2009). Alterações nos hábitos de vestuário de pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas são descritas na literatura como resultado da adaptação com a ferida. Estudos ressaltam que o odor fétido, o vazamento do exsudato e sangramentos pelas roupas e o volume extenso dos curativos causam restrições funcionais em atividades da vida diária (como, por exemplo: mobilidade reduzida como resultado da localização da ferida; sono e repouso prejudicados; visão, salivação, audição, deglutição e fonação alterados; problemas com a fala e hidratação e nutrição prejudicados) e constrangimento na vida familiar, profissional e social em termos de frequência de trocas de curativos e roupas adicionais que limitam movimentos, afetando a capacidade de autocuidado e, consequentemente, reduzindo a autonomia e independência desses pacientes no que se refere às atividades da vida diária (Blakely, Mcpillips & Miner, 2015; Gibson & Green, 2013; Lo et al., 2008; Moreira, 2013; JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, DEZEMBRO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i3-3

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Dolbeault et al., 2010; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005a; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005b; Piggin & Jones, 2009). Além disso, a pessoa apresenta alterações psicoemocionais e sociais, como sentimentos de menos-valia, constrangimento, repugnância de si, impotência, ódio pelo corpo, agressividade, aumento da angústica estética, baixa autoestima, distúrbio da autoimagem, alterações na libido, sexualidade, feminilidade e intimidade, estigma social, isolamento social, sentimentos de perda de papéis sociais, familiares e afetivos e a mudança nas relações materna, afetiva e fraternal, depressão e, algumas vezes, ideia fixa de morte e suicídio (Blakely, Mcpillips & Miner, 2015; Gibson & Green, 2013; Lo et al., 2008; Moreira, 2013; Dolbeault et al., 2010; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005a; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005b; Piggin & Jones, 2009). Diante dessas circunstâncias, as pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas, na tentativa de amenizar os sinais e sintomas provenientes das lesões, tomam decisões e realizam medidas prejudiciais à saúde e à própria lesão, tais como: diminuição da ingesta hídrica e nutricional, a fim de reduzir as eliminações vesicais e intestinais e, com isso, diminuir a frequência de trocas de curativos; utilização de perfumes, óleos perfumados nas coberturas secundárias e/ou na própria lesão e ervas como coberturas primárias, com o objetivo de atenuar o odor fétido; e realização da limpeza da lesão com escovas de dentes infantis, na tentativa de retirar tecidos desvitalizados (Blakely, Mcpillips & Miner, 2015; Gibson & Green, 2013; Lo et al., 2008; Moreira, 2013; Dolbeault et al., 2010; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005a; LundNielsen, Muller & Adamsen, 2005b; Piggin & Jones, 2009). Nessa perspectiva, estudos revelam que pacientes e cuidadores, em busca de soluções que pudessem minimizar esses constrangimentos, além de proporcionar maior conforto e segurança, lançaram mão de alguns tipos de vestimentas e acessórios, tais como: para fixação dos curativos: roupas de praia e/ou esportiva (por exemplo, maiô, top, body) e para disfarçar o tamanho dos curativos e os possíveis vazamentos de exsudato e sangramento: camisas de tecido de malha de cor escura ou estampada, de mangas longas e gola alta, pantalonas, saias e vestidos longos e alguns acessórios, como cachecóis, echarpes, lenços, chapéus, gorros, turbantes, tapa-olhos e óculos escuros para esconder a lesão e/ou disfarçar o curativo (Alexander, 2009a; Brito et al., 2017; Moreira, 2013; Dolbeault et al., 2010; Lund-

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Nielsen, Muller & Adamsen, 2005a; Lund-Nielsen, Muller & Adamsen, 2005b; Piggin & Jones, 2009). Diante dessa conjuntura, se fez necessário refletir sobre uma moda inclusiva, que buscasse alternativas para a problemática da ferida tumoral maligna cutânea, mas que respeitasse os preceitos de um curativo funcional e estético, bem como o vestuário adequado às necessidades do paciente. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é apresentar o processo de criação de vestuários para pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas. 2. Método

Trata-se de um relato de experiência acerca da criação de vestuários para pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas, realizado durante os meses de agosto a outubro de 2017. 3. Relato de Experiência

Durante o desenvolvimento da tese de doutorado intitulada “O saber e o fazer de enfermeiros nos cuidados paliativos destinados à pessoa com ferida tumoral maligna cutânea” (Agra, 2018), houve uma investigação sobre a possibilidade de desenvolvimento de peças de roupas mais adequadas às necessidades de pacientes com feridas tumorais malignas cutâneas, uma vez que o crescimento acentuado da ferida gera vazamento de exsudato e sangramento pelas roupas e curativos volumosos provocando no paciente vergonha, enojamento de si, mobilidade reduzida e constrangimento na vida social, devido à frequência de trocas de curativos e roupas adicionais, afetando a capacidade de autocuidado e, consequentemente, reduzindo sua autonomia. O projeto de tese de doutorado foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, sob o parecer nº 031/17 e CAA nº64122116.1.0000.5188. Nesse sentido, a pesquisadora consultou uma profissional modelista, que desenvolveu os moldes a partir de simuladores de feridas tumorais malignas cutâneas, os quais foram apresentados a diversos profissionais pareceristas (enfermeiros assistenciais na prática paliativa destinada às pessoas com feridas tumorais e pesquisadores nessa área de conhecimento), tendo, assim, origem as peças piloto, as quais novamente foram avaliadas pelos profissionais até receberem parecer final de aprovação. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, DEZEMBRO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i3-3

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Primeiramente, foi realizado o mapeamento corporal de uma paciente com ferida tumoral mamária (a paciente foi convidada a participar do projeto e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), a fim de considerar as áreas as serem contempladas, compreendendo assim as necessidades que a peça de roupa deveria oferecer, considerando os

seguintes aspectos (1) termofisiológico, em que se

observou a preocupação de que a região íntima não pode ser abafada; (2) sensorial, onde se analisou a sensação da ferida vazar sangue e/ou exsudato, que é causada pelo processo fisiopatológico da oncogênese; (3) ergonômico, onde não se deve restringir as laterais do corpo para garantir liberdade de movimentação e (4) psicológico, em que se deve cobrir toda a ferida de forma a evitar o constrangimento do paciente. Logo após, foi realizado o molde e confeccionadas as primeiras peças piloto. Somente a partir dos resultados das peças piloto é que foi possível a confecção da peça final. Inicialmente, os moldes frente/costas das peças foram concebidos a partir da técnica de modelagem em manequim do tamanho desejado e, em seguida, foram planificados e corrigidos em papel pardo. Vale ressaltar que os vestuários foram confeccionados na tentativa de disfarçar o tamanho da ferida e, consequentemente, o volume dos curativos. Para isso, foram utilizadas fraldas geriátricas, tecidos de malha de cores escuras e/ou estampados. As fraldas geriátricas foram costuradas com um molde de uma peça íntima feminina para cobrir as feridas mamárias e que pudessem ser utilizadas como cobertura secundária. E os vestidos, as camisas e as calças apresentam um fundo falso interno de tecido extra, de forma que consiga cobrir toda a extensão e volume dos curativos, que é fechado com traspasses de fitas de tecido em forma de X, de maneira

que

possa

ser

ajustado

conforme

o

crescimento

da

ferida

e,

consequentemente, o volume dos curativos. Para melhor mobilidade e facilidade no momento de vestir e despir a roupa, os vestuários têm uma abertura na frente justaposta com zíper, de forma que o manuseio seja realizado pela própria pessoa, dando-lhe autonomia. Essa ideia é inédita e é uma contribuição social da Tese de Doutoramento intitulada “O saber e o fazer de enfermeiros nos cuidados paliativos destinados à pessoa com ferida tumoral maligna cutânea” (Agra, 2018). A moda inclusiva para pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas pode proporcionar conforto, JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, DEZEMBRO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i3-3

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segurança, melhora da autoestima, retorno à vida social e, portanto, qualidade de vida. A seguir, estão as figuras dos vestuários construídos pela pesquisadora e pela modelista como uma moda inclusiva para pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas. A Figura 1 mostra a prova da peça íntima feminina (sutiã), cujo material se constitui de fralda geriátrica. O processo de confecção das peças íntimas com fralda geriátrica foi realizado da seguinte forma: primeiro recortaram-se as abas, para que a fralda tivesse um aspecto de top ou sutiã do tipo “tomara que caia”, podendo ser usada dessa forma; quando se deseja usar o sutiã com alças, as abas são costuradas na parte anterior e interna da fralda e são presas na parte posterior da fralda, com auxílio de esparadrapo ou fita adesiva.

Figura 1 - Prova de peça íntima (sutiã) feito de fralda geriátrica Fonte: Arquivos da pesquisadora, 2018

As Figuras 2 e 3 mostram as provas da camisa feminina (frente e verso).

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Figura 2 - Moda Inclusiva – Prova da camisa com gola baixa (frente) Figura 3 – Moda Inclusiva – Prova da camisa com gola baixa (verso) Fonte: Arquivos da pesquisadora, 2018

As Figuras 2 e 3 mostram a forma de vestir da camisa feminina (frente) com gola alta, para disfarçar feridas que se desenvolvem na região do pescoço com espaços nas laterais para prender e cruzar os cadarços em forma de X, a fim de fechar a camisa, conforme o tamanho da lesão e volume dos curativos. Vale ressaltar que os vestidos e camisas masculinas seguem o mesmo padrão das camisas femininas, ou seja, confeccionados com tecidos de malha fria, estampados ou de cores escuras. Outro aspecto importante de enfatizar é que o zíper da camisa/vestido pode vir na parte da frente ou no verso, com o objetivo de facilitar o movimento de vestir-se. A seguir, as Figuras 4 e 5 mostram a forma de vestir da calça feminina (frente e verso) com zíper na coxa, cujo objetivo é facilitar a retirada da calça (deixando em forma de bermuda curta ou longa) para realização de curativos. Vale ressaltar que as calças masculinas apresentam o mesmo formato, contudo são confeccionadas com tecidos escuros (preto, marrom, azul marinho).

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Figura 4 - Moda Inclusiva – Calça feminina estampada com zíper embutido Figura 5 - Moda Inclusiva – Calça feminina estampada com zíper aberto (bermuda) Fonte: Arquivos da pesquisadora, 2018 4.Conclusão O projeto resultou no desenvolvimento de vestuários femininos, masculinos e infantis, com modelagem que facilita o vestir e o despir de pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas. Para isso, utilizou-se recursos de modelagem, botões de pressão, traspasses, zíper invisível e elásticos, que se acomodassem melhor à região afetada, bem como não gerasse incômodo ou machucassem a lesão. Os modelos desenvolvidos apresentam aberturas frontais, laterais, posteriores, que possibilitam aos cuidadores e aos próprios pacientes maior facilidade de manejo no vestir e despir. As peças se adaptam ao corpo e, sobretudo à região acometida, uma vez que modelagem foi pensada no conforto do paciente. Além disso, as peças apresentam pontos específicos de abertura para visualização específica em que se encontra a lesão. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, DEZEMBRO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i3-3

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O projeto proporcionou um olhar diferenciado sobre a moda inclusiva e buscou contribuir com o direito de vestir-se com qualidade, atendendo às necessidades e facilitando as atividades de vida diária das pessoas com feridas tumorais malignas cutâneas e seus familiares. Vale ressaltar que o projeto está em processo de patenteamento pela Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba.

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