5 indicadores lares

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Monteiro, A., et al. (2015) Indicators of Quality in Nursing Homes - The Quality Challenges, Journal of Aging & Inovation, 4 (2): 40 - 58

RECENSÃO CRITICA/ CRITICAL REVIEW

JUNHO 2015

INDICADORES PARA LARES DE IDOSOS – OS DESAFIOS DA QUALIDADE INDICATORS OF QUALITY IN NURSING HOMES – THE QUALITY CHALLENGES INDICADORES PARA HOGARES DE ANCIANOS - LOS RETOS DE CALIDAD Autores Ana Monteiro1, Ana Silvério2, Arsénio Domingues3 Liliana Camarneiro4, Paulo Madeiras5, Vânia Ribeiro6 1,4 Quinta 6Centro

Verde - Repouso e Lazer, 2 Centro Social da freguesia de Famalicão, 3 Centro de Dia da Bunhosa,

Social de Valado de Frades,

Corresponding Author: ana_mtro25@hotmail.com RESUMO O envelhecimento populacional verifica-se não apenas ao nível da realidade portuguesa mas também à escala mundial, o que se justifica entre outros aspetos, pela melhoria das condições de vida e consequente aumento da esperança média de vida. É perante esta nova realidade que existe uma necessidade, cada vez maior, de respostas institucionais que prestem o cuidado, a proteção e a assistência que o idoso necessita e merece, assumindo os lares de idosos um importante papel nesta matéria. O cuidado ao idoso prestado pelos lares deve ser repensado, parecendo-nos pertinente também a reflexão em torno da satisfação e da qualidade que dele pode advir, pois as ferramentas, os estudos e programas de monitorização que incidam sobre esta matéria, são muito escassos. Objetivos: Analisar indicadores de qualidade em lares para idosos, identificados a partir do quadro internacional e validados em Portugal. Renomear alguns desses indicadores, e propor a verificação da sua aplicabilidade em Portugal, em futuras investigações. Metodologia: Análise documental do estudo “Indicadores de Qualidade em Lares para Idosos” (Aleixo, et al., 2011). Pesquisa bibliográfica, com consulta através de bases de dados comuns.

Realização de reuniões de grupo. Resultados: Renomeámos 10

indicadores de qualidade para lares de idosos (Grau de satisfação com a vida do idoso; Níveis de qualificação dos trabalhadores; Taxa de ações de formação frequentadas pelos trabalhadores; Inquéritos de satisfação aos trabalhadores; Taxas de absentismo; Taxa de incidência de idosos totalmente independentes; Taxa de incidência de idosos totalmente dependentes; Taxa de avaliações iniciais dos idosos preenchidas; Taxa de monitorização do Plano de Desenvolvimento Individual; Taxa de monitorização e acompanhamento do residente), distribuídos por quatro dimensões: Satisfação com a vida do idoso; Recursos Humanos; Funcionalidade do Idoso e Individualização dos Cuidados ao Idoso. Conclusão: Foi analisada a pertinência dos indicadores que decidimos renomear, propondo a utilização destes dados em futuras investigações, e aferindo a sua aplicabilidade em Portugal. PALAVRAS-CHAVE: Lares para Idosos; Indicadores de Qualidade.

ABSTRACT Population aging is a phenomenon which occurs not only in the Portuguese reality but also worldwide, which is justified among other things, due to the improved living conditions and consequent increase in average life expectancy. Given this reality, there is an increasingly need of institutional responses, that can provide care, protection and assistance to the elderly needs, assuming the nursing homes an important role in this respect. Thus, the elderly care provided by nursing homes should be rethought, in our view it’s also pertinent a reflection on satisfaction and quality that may come from that; as the tools, studies and monitoring programs that focus on the subject are still very scarce. Objectives: To analyze a set of quality indicators in nursing homes identified from the international framework and validated in Portugal. Based on this analysis, we’ll rename some of these indicators, and propose the verification of its applicability in Portugal in future investigations. Methodology: Documentary analysis of the study "Indicadores de qualidade em lares para Idosos" (Aleixo et al. 2011); Bibliographic search through database queries (several articles, studies and publications); Realization of group meetings. Results: we renamed 10 quality indicators (degree of satisfaction of the elderly; workers' qualification levels; rate of training sessions attended by workers, surveys of satisfaction to employees, absenteeism rates; incidence rate of fully independent elderly; incidence rate of totally dependent users; Rate of the initial evaluation of the users that were filled; Individual Development Plan monitoring rate; monitoring and tracking of user rate), spread across four dimensions (Life satisfaction of the elderly; Human Resources; Functionality of the elderly and individualization of the elderly’s care) Conclusion: We examined the relevance of the indicators that we decided to rename, proposing the use of this data in future research, and assessing its applicability in Portugal. KEYWORDS: Nursing homes; Quality indicators

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INTRODUÇÃO

cuidados prestados em lares de idosos e aferir a sua qualidade.

Assistimos atualmente a um fenómeno

O presente trabalho, desenvolvido no

de envelhecimento da população, que traz

âmbito da Pós-Graduação em Gestão de

consigo importantes repercussões

Equipamentos destinados a pessoas idosas, vai

demográficas, económicas e sociais, o que

de encontro a esse objetivo visando uma análise

implica mudanças profundas ao nível das

documental baseada no estudo “Indicadores de

respostas sociais implementadas para a

Qualidade em Lares para Idosos” (Aleixo et al.,

população idosa, que devem enquadrar: o

2011), renomeando alguns dos indicadores de

envelhecimento das populações; o aumento da

qualidade por ele identificados e validados, e

esperança média de vida e o progresso das

propondo a verificação da sua aplicabilidade em

sociedades; o direito das pessoas idosas à

Portugal, em futuras investigações.

participação na definição, na criação e na

Contribuímos assim para a discussão

implementação de respostas que lhes estejam

desta matéria no nosso país, que na nossa

destinadas. (Plano Avô, 2000).

opinião, enquanto profissionais da área, peca

Prevê-se que a população portuguesa

por tardia. Como se sabe, vive-se em Portugal

diminua de 10,5 milhões de pessoas em 2012,

um processo de implementação de sistemas de

para 8,6 milhões de pessoas em 2060, contudo

qualidade ao nível dos procedimentos (Instituto

o índice de envelhecimento aumentará de 131

da Segurança Social, 2009), no entanto, será

para 307 idosos por cada 100 jovens (INE,

importante discutir esta questão mais

2014).

profundamente no sentido de avaliar a Face a estes dados, a institucionalização

de pessoas com 65 ou mais anos em lares de

qualidade de vida dos idosos residentes em lares, ao nível desses indicadores.

idosos, representará uma realidade que terá maior probabilidade de obter um percurso positivo quando respeitados os direitos

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

humanos do indivíduo: direito à escolha, direito

Tem-se verificado em todos os países

à privacidade, direito à integração, à

desenvolvidos de um modo geral e em Portugal

participação ativa nos pormenores da sua vida,

em particular um progressivo envelhecimento da

entre outros, que por sua vez será garante de

população. Segundo o Departamento de

ganhos significativos na qualidade dos cuidados

Estatísticas da União Europeia, prevê-se que no

prestados ao idoso, numa perspetiva holística

ano de 2060 residam em Portugal

(Kane, 2004).

aproximadamente três idosos para cada jovem

Face a tais evidências, e atentos à

(Eurostat, 2008). A este aumento constante do

pertinência social, à constatação da

número de idosos tem correspondido um

irreversibilidade da posição que os lares

aumento também ele progressivo de

assumiram na nossa sociedade e à existência

investimento em equipamentos que dêem

de escassos estudos relevantes nesta área,

resposta a esta realidade. No ano de 2000,

considera-se necessário refletir acerca dos

existiam em Portugal 1469 Lares de Idosos, número que aumentou para 2315 no ano de

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2014. Ao nível dos Centros de Dia o

estratégias de fiscalização e supervisão da

número de equipamentos passou de 1624 para

qualidade dos serviços prestados em lares de

2048 e os Serviços de Apoio Domiciliário

idosos, com recurso a vistorias regulares por

aumentaram de 1667 para 2650 no mesmo

parte do Instituto da Segurança Social I.P.. No

intervalo de tempo. Estamos assim, numa

entanto, também aqui não se encontram

realidade em que aumenta o índice de

referências a indicadores de saúde ou de

envelhecimento da população portuguesa

cuidados específicos que possam traduzir a

aumentando também o número de

qualidade dos cuidados prestados. Outros

equipamentos para dar resposta ao número

documentos têm sido criados pelo Instituto de

crescente da população que procura estes

Segurança Social I.P. e pelo Instituto Português

apoios.

da Qualidade em colaboração com outras

As causas do envelhecimento da

entidades onde são expostos indicadores de

população portuguesa são multidimensionais,

desempenho referentes aos serviços prestados

passando por fatores como a emigração

nos lares de idosos, no entanto, tratam-se de

crescente, mas devem-se sobretudo ao

abordagens globais com a definição de

aumento da esperança média de vida. Neste

indicadores gerais que não são específicos.

ponto, diz-nos Zaida Azeredo que “a ciência

Atualmente, a preocupação não passa

resolveu o problema do prolongamento da vida,

apenas pela avaliação da qualidade da

mas agora é necessário resolver o da velhice

prestação dos cuidados aos utentes de lares de

com qualidade de vida”. (Azeredo, 2002)

idosos, mas também pela qualidade de vida dos

Fundamentalmente, é neste ponto que

utentes nestes equipamentos. (Kane, 2005)

reside a pertinência deste nosso trabalho. As

A inclusão de indicadores e escalas de

estruturas estão no terreno a funcionar e tem

avaliação que possam medir a qualidade dos

existido um esforço no sentido de que a

cuidados prestados aos idosos surge deste

qualidade das respostas sociais e dos cuidados

modo, como uma necessidade de forma a

prestados sejam uma realidade. O primeiro

possibilitar a existência de um meio que permita

esforço neste sentido remonta ao ano de 2000

o controlo e a perceção objetiva e qualitativa

com o “Plano Avô” desenvolvido pelo Ministério

dos cuidados prestados. Relevamos desta

do Trabalho e da Solidariedade e o Ministério da

forma a importância da existência de

Economia através do Instituto Português da

indicadores que sejam uma ferramenta precisa

Qualidade, e que visou o estabelecimento de

que objetivem o utente como o centro da

programas de melhoria da qualidade dos lares

instituição, tal como era postulado no Plano Avô

de idosos, facilitando o processo de certificação

do ano 2000 onde se diz que, “qualquer que

de serviços com recurso à Norma ISO 9001.

seja a natureza jurídica da instituição,

Apesar deste esforço, não são referenciados

nomeadamente se tem ou não fins lucrativos, o

neste plano indicadores de avaliação de

cliente é o centro, é para quem a instituição

qualidade. O Decreto-Lei nº 64/2007 de 14 de

trabalha e a quem serve. Esta orientação para o

Março veio criar um novo regime de

cliente deve fazer parte da estratégia e da

licenciamento e fiscalização, descrevendo

cultura da instituição, identificando-a com a

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missão social a cumprir”. METODOLOGIA A fase metodológica possibilita conhecer

As perspetivas e opiniões dos autores

a investigação de uma forma mais prática,

deste trabalho, quer pela sua formação

explicando os procedimentos utilizados para

académica quer pela sua experiência

obter respostas à nossa questão de

profissional em contexto de lares de idosos, ao

investigação, assegurando a credibilidade e

longo das várias reuniões realizadas, também

fidelidade do estudo e possibilitando, no nosso

tiveram um papel relevante e enriquecedor

ponto de vista, o melhor entendimento dos

nesta fase do trabalho. O conteúdo dessas

fatores contextuais em que decorreu o nosso

discussões e a importância que cada um

estudo.

atribuiu aos vários indicadores analisados, foi determinante no momento de renomear novos

Foi efetuada uma análise documental

indicadores.

baseada no estudo “Indicadores de Qualidade para Idosos” (Aleixo et al., 2011), recolhendo um conjunto relevante de fontes de conhecimento e extraindo dele toda a análise, organizada e

RESULTADOS

interpretada segundo os objetivos definidos. No sentido de complementar a nossa estratégia

Apresentamos de seguida o resumo dos

metodológica realizou-se uma pesquisa

artigos selecionados, analisado de forma

bibliográfica e consultados, a partir de bases de

analítica e de acordo com o objetivo do nosso

dados comuns, vários artigos, estudos e

estudo (tabela 1).

publicações, que nos permitiram analisar, organizar, interpretar e selecionar a informação

Após percorrermos todas as etapas

segundo os objetivos da investigação proposta e

supramencionadas, no que à metodologia diz

obter consenso sobre o conjunto de indicadores

respeito, surge então uma nova tabela de

a renomear, por representarem ganhos

indicadores renomeados (tabela 2), os quais

significativos em matéria de cuidados prestados

foram agrupados em dimensões distintas.

em lares de idosos, e que garantam, mais plenamente, os cuidados de que o idoso carece, proporcionando “uma atuação holística, através de uma abordagem biológica, psicológica, e socioculturalmente relevante” (Mcainey et al., 2008; Paulus, Van Raak e Keijzer, 2006; Zimmermant et al., 2002; Miles, 2008; Wiener, Freiman e Brown, 2007, cit. in Aleixo et al., 2011).

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Tabela 1 - Resumo dos artigos selecionados JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Dimensão

Indicador

Satisfação com a Vida do Idoso

• Grau de satisfação com a vida do idoso

Recursos Humanos

• Níveis de qualificação dos trabalhadores • Taxa de ações de formação frequentadas pelos trabalhadores • Inquéritos de satisfação aos trabalhadores • Taxas de absentismo

Funcionalidade do Idoso

• Taxa de incidência de idosos totalmente independentes • Taxa de incidência de idosos totalmente dependentes

Individualização dos Cuidados

• Taxa de avaliações iniciais dos idosos preenchidos

ao Idoso

• Taxa de monitorização do Plano Desenvolvimento Individual • Taxa de monitorização e acompanhamento do residente Tabela 2 - Listagem de indicadores renomeados.

DISCUSSÃO O envelhecimento demográfico e o

introduzida a obrigatoriedade da utilização do

aumento significativo da longevidade tem

Resident Assessment Instrument (RAI) e do

obrigado a rápidas mudanças, numa sociedade

Minimum Data Set (MDS), como condição para

com um ritmo de vida cada vez mais acelerado.

os lares poderem participar em programas

As redes de serviço de apoio a idosos

governamentais financiados de melhoria

constituem pois uma importante resposta face

contínua da qualidade (Glass, 1991 cit. in Aleixo

às necessidades desta população, contudo,

et al., 2011). Como resultado da aplicação do

ficam ainda muito aquém do que seria

RAI, verificaram-se ganhos em saúde

desejável, pois apresentam grandes dificuldades

relativamente aos indicadores descritos, bem

em superar os novos desafios que lhes são

como a diminuição dos casos de desidratação,

colocados e porque o contexto legal

aumento dos níveis de funcionalidade e

estabelecido neste âmbito é ainda muitas vezes

diminuição dos recursos às urgências

descontextualizado e desadaptado. Os

hospitalares (Schroll, 1997 cit. in Aleixo et al.,

programas de monitorização da qualidade dos

2011). Em Portugal, como noutros países, a

cuidados prestados têm vindo a aumentar

informação sobre esta temática de estudo é

nestas instituições, limitando-se muitas vezes, a

ainda muito escassa, e a que existe é, na sua

cumprir os pré-requisitos mínimos legalmente

maioria, referente a realidades estrangeiras e

exigidos. Nos Estados Unidos da América, foi

sem aplicabilidade em Portugal.

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O estudo que nos serviu de base a este

entendido como um julgamento cognitivo de

trabalho “Indicadores de qualidade em lares

alguns domínios específicos da vida, tais como,

para idosos” (Aleixo et al., 2011), procura

a saúde, o trabalho, as relações sociais, a

superar esta lacuna, ao conseguir identificar um

autonomia, entre outros, ou seja, um processo

conjunto de treze indicadores para lares de

de juízo e avaliação geral da própria vida de

idosos, passíveis de aplicar no nosso país.

acordo com um determinado critério. A

Contudo, verificámos que os indicadores

qualidade de vida e a satisfação com a vida na

validados estão intimamente ligados ao contexto

velhice têm sido muitas vezes associadas a

de enfermagem e à qualidade dos cuidados de

questões de dependência-autonomia (Donalisio,

saúde prestados num lar. Foi pois, nosso

Joial e Ruiz, 2002). Diener (2000) refere que a

propósito, que o conjunto final de indicadores

satisfação com a vida é um dos indicadores de

renomeados fosse passível de ser utilizado, não

bem-estar, definido geralmente como tendo uma

só nas diversas vertentes de saúde, mas

vida boa e feliz.

passiveis de serem utilizados aos mais diversos

Nos últimos anos, tem-se verificado na

níveis de gestão de lares de idosos,

nossa sociedade, um aumento progressivo da

nomeadamente nas diversas vertentes da área

institucionalização do idoso. A sua entrada num

social, de modo a assegurar uma reflexão mais

lar, significa muitas vezes, a entrada num

abrangente da temática em análise e uma

mundo à parte, a rotura do idoso com a sua

recolha de dados multidimensionais, que fossem

individualidade e com os seus quadros de

de encontro a uma visão holística do indivíduo

referência, o contacto com uma realidade nova,

idoso em lares.

assustadora, com a qual nem sempre se

A utilização de indicadores de qualidade

consegue estabelecer uma relação equilibrada e

dos cuidados de saúde não pode ser

tranquila, e consequentemente entrar num

considerada em si mesma como um fim, mas

processo de isolamento que poderá contribuir

sim como meio, numa procura constante de

para um processo nefasto de insatisfação com a

melhoria dos cuidados prestados (Sublett, 2008

vida (Pimentel, 2001).

cit. in Aleixo et al., 2011). Assim, para além de

Porém, a institucionalização não deve

avaliações físicas criteriosas, devem ser

ser encarada apenas pela negativa, pois

considerados outros aspetos da pessoa, tais

existem idosos que podem sentir-se mais

como o afeto social, a cognição, a dor, o

acompanhados e mesmo mais felizes perante a

desconforto e a satisfação global (Casarett,

sua situação de entrada num lar do que quando

2002 cit. in Aleixo et al., 2011).

se encontravam sós em sua casa. É neste

O aparecimento do indicador referente à

aspeto que o modo de organização de uma

dimensão Satisfação com a Vida do Idoso (Grau

instituição, o grupo de técnicos que possui, as

de satisfação com a vida do idoso) reuniu

atividades que oferece, a qualidade das inter-

consenso entre os autores deste trabalho. A

relações que preconiza e o envolvimento da

satisfação com a vida define-se como um

família na vida da instituição, são de extrema

conceito complexo e de difícil mensuração, por

importância no sentimento de satisfação do

se tratar de um estado subjetivo. Pode ser

idoso perante esta nova realidade.

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Apesar de considerarmos esta reflexão

Por consequência, as instituições

importante, ao propormos o grau de satisfação

competentes destes serviços ao idoso e os seus

com a vida como possível indicador em lares de

técnicos especializados ganharão no

idosos, passível de ser validado em futuras

investimento prioritário em valências de

investigações, temos noção que não será tarefa

prevenção em detrimento da mera ação

fácil, uma vez que não existe uma forma única

assistencial, desempenhando um papel cada

de caracterizar a satisfação com a vida nos

vez mais relevante no adiamento da fase da

idosos (nomeadamente em lares) e por serem

vida idosa e da pessoa dependente. Esta tarefa

várias as variáveis que influenciam esses níveis

é tanto mais urgente e necessária quando se

de satisfação. Contudo, torna-se pertinente

assiste a uma conquista de maior longevidade,

investigar a satisfação com a vida dos idosos

a uma melhoria considerável nas condições de

residentes em cenários institucionais, para

saúde da população sénior e à evidencia

perceber até que ponto essa vivência interfere

empírica sobre a viabilidade de minorar ou

com a mesma, “na medida em que só a partir da

m e s m o r e v e r t e r, p a t o l o g i a s d o f o r a

análise transacional da unidade ecológica/

neuropsiquiátrico que afetam um número

ambiente podemos compreender o bem-estar

significativo de idosos.

subjetivo de idosos que vivem em diferentes

Contudo, a realidade, é ainda muito

cenários, sendo que cada cenário ambiental dita

diferente do que seria desejável. Miguel (2007)

de forma única a experiência do

refere que os trabalhadores nas instituições de

envelhecimento” (Sequeira e Silva, 2002 cit. in

idosos apresentam muitas vezes, pouca ou

Matias, 2010).

nenhuma formação profissional na área ou

Os indicadores referentes à dimensão

mesmo incapacitação para o cuidado, o que

Recursos Humanos (Níveis de qualificação dos

compromete a relação terapêutica com o idoso,

trabalhadores; Taxa de ações de formação

condição fulcral para um bom cuidado.

frequentadas pelos trabalhadores; Inquéritos de

Por outro lado, as características da

satisfação aos trabalhadores; Taxas de

maioria das instituições de idosos, as suas

absentismo) foram também considerados

estruturas de organização, as várias fontes de

pertinentes e são referidos em vários estudos

poder, os valores quantitativos centrados na

consultados, como determinantes para a

produtividade tornam-se inadequados e

avaliação da qualidade de vida em lares.

incompatíveis com a qualidade dos cuidados

A principal via para garantir um

que seriam desejáveis. Os recursos financeiros

envelhecimento ativo e de qualidade em lares –

insuficientes, a escassez de recursos humanos,

combatendo a crescente e inelutável

o pessoal desmotivado e insatisfeito, o

dependência psíquica e física, e maximizar o

esgotamento do pessoal que cuida, torna muitas

bem-estar do idoso - consiste na adequada

vezes o cuidado desumanizado, centrado na

preparação e especialização dos recursos

técnica e na doença, em vez de centrados na

humanos, ou mais especificamente dos

pessoa, no cliente, no cuidado, nas famílias.

cuidadores formais, pois estes são a base do serviço prestado.

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É urgente procurar níveis cada vez mais elevados de qualidade do desempenho

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profissional e dos cuidados prestados,

condição clínica preditora do risco de

abandonando os modelos tradicionais de

incapacidade, institucionalização, hospitalização

organização de cuidados e dando lugar a novas

e morte”

abordagens orientadas para a pessoa. Uma boa

A decisão de viver num lar de idosos não

prestação de cuidados exige uma componente

é fácil, constituindo-se como uma decisão que

de humanização: à competência técnica deve

não deve ser tomada de ânimo leve. Somente

associar-se o cuidado humano e o cuidado

um pequeno número de idosos é que dispõe de

social (Jorge e Simões, 1995); pelo contrário, “a

iniciativa própria para ir viver num lar. Para

falta de conhecimento de alguns profissionais

Cardão (2009) a institucionalização do idoso em

que prestam assistência ao idoso sobre aspetos

lar surge como uma opção residencial para

fisiológicos, psicológicos, emocionais, e sociais

pessoas que, pelos mais variados motivos, não

específicos aumentam o atendimento

encontram na comunidade uma resposta efetiva

inadequado e a incompreensão com o

e satisfatória às suas necessidades.

idoso” (Reis e Ceolim, 2007).

Essa transição implica, muitas vezes, a

Os indicadores referentes à

passagem para um modo de vida dependente

Funcionalidade do Idoso (Taxa de incidência de

(institucionalizado), onde por vezes tem de

idosos totalmente independentes; Taxa de

abdicar de gostos e objetivos pessoais e

incidência de idosos totalmente dependentes)

adaptar-se a novas situações, nomeadamente à

também mereceram destaque, daí a sua

ideia de que agora passou a ser um idoso

inclusão neste trabalho.

institucionalizado (Jacob, 2007). Para além

A funcionalidade é descrita por vários

disso, a institucionalização obriga ao

autores como o ponto de partida para a

afastamento do sítio que o idoso controla, que

avaliação de saúde do idoso, devendo por isso

constitui o seu meio familiar e ao qual se

ser realizada de forma minuciosa. A presença de

encontra ligado emocionalmente.

declínio funcional não pode ser atribuída ao

Apesar das circunstâncias referidas,

envelhecimento normal e sim às incapacidades

consideramos que a institucionalização não

mais frequentes no idoso. Moraes, 2012, cit. in

deve constituir um fator limitativo, mas sim uma

Simões, 2013, refere que “o comprometimento

possibilidade do idoso manter uma vida ativa,

dos principais sistemas funcionais gera as

evitando sentimentos de solidão, vivenciando

incapacidades e, por conseguinte as grandes

uma velhice mais positiva e com mais

síndromes geriátricas. Além disso, o

qualidade. Contudo, em Portugal, a realidade é

desconhecimento das particularidades do

ainda bem diferente. Estudos recentes,

processo de envelhecimento pode gerar

realizados pela DECO em 2009, em 28 lares,

intervenções capazes de piorar a saúde do

revelaram que apenas 7 destes

idoso, conhecidas por iatrogenia. Na perspetiva

estabelecimentos obtinham nota positiva em

da funcionalidade e maior vulnerabilidade,

termos de segurança e da qualidade de vida

podemos definir a presença de declínio

proporcionada aos seus idosos. Dois dos fatores

funcional como o principal determinante da

que contribuíam para esta diminuída qualidade

presença de fragilidade, entendida como uma

diziam respeito ao período de visitas dos

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familiares, muito reduzido, e a atividades de

“a sua retirada do conjunto final de indicadores

ocupação de lazer interiores e exteriores muito

constituiu motivos de discussão e controvérsia”.

limitadas, o que, segundo Marques (2011)

Contudo, consideramos importante realçar a

“contribuía para diminuir a autonomia e a

opinião de alguns dos peritos participantes na

independência dos utentes, que se tornavam

Técnica do Grupo Nominal acerca desta

mais apáticos e passivos”. A autora refere ainda

matéria, pois vão de encontro à importância que

outros problemas que comprometem a

consideramos que estes indicadores merecem.

funcionalidade do idoso: a tendência dos

Um dos peritos refere que, sempre que “um

profissionais em tratar os idosos de forma

utente (…) entra numa instituição com um grau

infantil, adotando comportamentos errados que

de dependência”, deve-se investir em “diminuir

geram um maior grau de dependência e

ou manter esse mesmo grau. Evitar-se uma

baseados numa interação que tende a seguir

situação inversa deve, (…) merecer igualmente

um esquema “dependência-apoio/

a maior atenção: quanto mais independente é

independência-ignorar” “que faz com que os

uma pessoa, em se tratando de indivíduos

idosos com comportamentos de dependência

idosos, se o deixarmos cair na dependência,

recebam mais atenção por parte dos

este erro não é se não uma falha nos cuidados

profissionais.” Marques (2011) refere ainda que

de enfermagem”; um outro refere que a questão

“expectativas mais positivas acerca das

da “independência do utente terá de ser um

capacidades e da saúde dos utentes

trabalho de equipa, o ser tem de ser pensado na

relacionam-se com padrões mais favoráveis de

sua globalidade” (Aleixo et al., 2011)

interação e com melhores níveis de saúde”.

Finalmente, os indicadores da dimensão

Perante estes dados consideramos

Individualização dos Cuidados ao Idoso (Taxa

importante sugerir indicadores referentes à

de avaliações iniciais dos idosos preenchidas;

funcionalidade do idoso, tanto cientifica como

Ta x a d e m o n i t o r i z a ç ã o d o P l a n o d e

socialmente, pois esta análise permitirá facultar

D e s e n v o l v i m e n t o I n d i v i d u a l ; Ta x a d e

a produção de alternativas de intervenção mais

monitorização e acompanhamento do residente)

adequadas ao bem-estar dos idosos,

foram considerados importantes em contexto de

enfatizando “uma imagem mais positiva e ativa

lares de idosos e por isso introduzidos neste

da experiência do envelhecimento, a

trabalho. A análise do artigo “Indicadores de

erradicação do preconceito contra grupos

qualidade para lares de idosos” (Aleixo et al.,

etários mais velhos, a facilitação do

2011) revela que o indicador “Taxa de

envolvimento de pessoas mais velhas numa

avaliações iniciais das utentes preenchidas” não

ampla gama de atividades sociais e favorece o

fazia parte da listagem inicial de indicadores

autocuidado” (ONU, 2002)

contudo, após implementada a técnica de

A análise documental do estudo

Brainwriting, surge a introdução deste indicador

“Indicadores de qualidade para lares de

que “vem alargar a abrangência da análise

idosos” (Aleixo et al., 2011) permitiu verificar que

efetuada

os indicadores referentes à funcionalidade

indicadores” (Donabedian, 2003 cit. in Aleixo et

aparecem em último lugar nos rankings, e que

al., 2011).

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pelo

conjunto

de

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A tónica atribuída à prestação de

presta cuidados, atenção à pessoa como uma

cuidados individualizados, conjuntamente com a

totalidade única, inserida numa família e numa

necessidade dos serviços de saúde se

comunidade; b) contribuir para criar um

adaptarem às exigências e expectativas dos

ambiente propício ao desenvolvimento das

utilizadores, tem sido alvo de uma crescente

potencialidades da pessoa” (Nunes, Amaral e

preocupação em providenciar um atendimento

Gonçalves, 2005 cit. in Ramos, 2011), “todavia

com uma qualidade assistencial cada vez

reconhece-se a dificuldade em evidenciar

superior. Estas preocupações integram

quantitativa ou qualitativamente o impacto da

igualmente as prioridades traçadas no Plano

individualização dos cuidados” (Sunhonen,

Nacional de Saúde 2004-2010, enfatizando “que

Valimaki e Leino-Kilpih, 2008 cit. in Ramos,

os investimentos previstos para o sistema de

2011).

saúde deverão assegurar, ao cidadão, um

A literatura sublinha que, a

atendimento de qualidade, com efetividade e

individualização dos cuidados prestados tem

humanidade sustentável ao longo do tempo

sido associada, genericamente, a uma evolução

(Direção Geral de Saúde, 2004 cit. in Ramos,

clínica mais favorável, com aumento da

2011).

qualidade de vida, da autonomia, do autoO ser humano, como sabemos, encerra

cuidado, da confiança nos cuidados, (Gilleard e

em si uma enorme complexidade. Neste

Reed, 1998; Stewart et al., 2000; Tate, Wing e

contexto, uma imensa panóplia de

Winett, 2001; Dana e Wambach, 2003; Frich,

conhecimento tem vindo a surgir, defendendo a

2003; Ruggeri et al., 2003 cit. in Ramos, 2011);

visão holística do indivíduo, como ser bio-psico-

“tem sido encontrada como a maior fonte de

social que é. Contudo, o que se constata é que,

satisfação das pessoas com as intervenções de

à luz das próprias ciências humanas que

enfermagem, representando um importante

continuam divididas, o ser humano é ainda

indicador de avaliação e de desenvolvimento

encarado como um puzzle, como “a soma das

dos serviços de saúde” (Sunhonen, Valimaki e

partes”, perdendo-se a possibilidade de alcançar

Leino-Kilpih, 2008 cit. in Ramos, 2011) e “o

uma unidade complexa do indivíduo. Torna-se

processo de tomada de decisão baseado na

pois crucial “edificar uma educação de futuro

evidência científica, no contexto de cuidar, que

que seja capaz de emparcelar todo o conjunto

privilegia as preferências e valores individuais

de saberes, com a finalidade de revelar uma

da pessoa, está relacionado com resultados em

verdadeira preocupação pela pessoa, enquanto

saúde mais favoráveis” (Thompson et al., 2004

ser indissociavelmente singular e social” (Morin,

cit. in Ramos, 2011).

2002 cit. in Ramos, 2011).

Em Portugal, através dos manuais da

Por outro lado, a prestação de cuidados

qualidade do Instituto da Segurança Social,

individualizados, como obrigação moral e

nomeadamente do manual de processos chave

deontológica é já consagrada em vários códigos

para estrutura residencial para idosos, foi

normativos profissionais. A título de exemplo, o

introduzido a individualização e personalização

artigo 89º, do Código Deontológico do

como princípios fundamentais da elaboração,

Enfermeiro, inerente à individualização dos

implementação e avaliação do plano de

cuidados, assume o dever de “a) dar, quando

desenvolvimento individual do idoso. O plano de

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desenvolvimento individual como

alguns, pela sua pertinência e por estarem

instrumento formal que pretende organizar,

referidos em vários estudos da pesquisa

operacionalizar e integrar todas as respostas às

bibliográfica efetuada, e assim proceder à sua

necessidades, expectativas do idoso assenta na

renomeação, cujo resultado se traduziu num

matriz de análise do Modelo de Qualidade de

novo quadro proposto por nós - “Listagem de

Vida (manual WHOQOL-OLD) possibilitando,

indicadores renomeados”.

assim a abrangência do diagnóstico, numa perspetiva holística do indivíduo.

As perspetivas diferenciadas dos vários elementos do grupo, quer pela sua formação

Pelo descrito anteriormente, torna-se

académica quer pela sua experiência

evidente o aumento significativo de referências

profissional em contexto de lares de idosos,

em torno da prestação de cuidados

também teve um papel relevante e permitiu a

individualizados, porém essa investigação

obtenção de consenso em torno da escolha dos

continua centrada essencialmente nas

indicadores a renomear. Foram considerados os

perceções das pessoas, utilizadoras dos

que seriam aplicáveis na prática em Portugal e

serviços de saúde, sobre esses mesmos

com uma maior abrangência holística do idoso

cuidados e nas vantagens que daí advêm

em lares, o que se refletiu nos resultados

(Radwin, 1995 cit. in Ramos, 2011). Parece-nos

obtidos.

pois pertinente sugerir a importância de investigar os mecanismos pelos quais os cuidados individualizados se traduzem em ganhos para a saúde e investigar a importância desses mesmos cuidados individualizados noutros contextos, nomeadamente em contexto de lares de idosos, bem como as competências essenciais ao seu exercício. Estamos convictos que os indicadores relativos à individualização dos cuidados ao idoso, por nós renomeados, poderão ter um importante papel nesta matéria e traduzir uma eficaz promoção de saúde e bem-estar do idoso. Apesar das dificuldades iniciais, pela escassez de estudos, que nos orientassem para uma escolha o mais fundamentada possível dos indicadores a renomear, consideramos que conseguimos atingir com sucesso os objetivos definidos à partida para este trabalho. Foi analisado um conjunto de indicadores utilizado em lares para idosos ao nível internacional e outros já validados e adequados à realidade portuguesa, de entre o qual foram selecionados JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PRÁTICAS O envelhecimento demográfico é uma conquista da humanidade, mensurável no aumento significativo da longevidade. Este aumento da longevidade tem, no entanto, consequências adversas que interferem nas relações sociais e nos equilíbrios individuais, que conduzem à emergência de novos problemas sociais e desafios, para os quais as sociedades modernas procuram encontrar as respostas mais adequadas. O rápido processo de envelhecimento associado muitas vezes à incapacidade das redes informais em responder aos problemas dos mais velhos, vem contribuir para uma mudança ao nível da responsabilidade pelos cuidados da pessoa idosa e por conseguinte, a um consequente aumento da procura de lares, que lhes possa assegurar os cuidados mais especializados, de modo que essa longevidade alcançada seja acompanhada por uma melhoria na qualidade de vida.

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Assim, começa a evidenciar-se uma maior

referir ainda que uma instituição que conheça o

preocupação das entidades responsáveis no que

que o seu cliente valoriza ficará à partida em

se refere à qualidade dos serviços prestados

vantagem competitiva face a outras instituições. A

nestas instituições, contudo, o que se verifica, é

preocupação com o conceito de qualidade de vida

que estas permanecem muito aquém das

dos idosos em lar pode contribuir também para

necessidades da população e o contexto legal

uma melhoria da qualidade interna dos lares;

estabelecido neste âmbito afigura-se ainda

esses dados serem usados no processo de

descontextualizado e desadaptado, concluindo-se

regulamentação do equipamento e até, os

pela experiência da sua aplicação, que contém

resultados serem disponibilizados para consulta de

lacunas, procedimentos complexos,

potenciais clientes. (Kane, 2004).À luz de tudo o

burocratizados e “parece não ser suficientemente

que foi dito e pelos conhecimentos apreendidos ao

abrangente, ao ponto de compreender os serviços

longo desta experiência de trabalho, resta-nos

e competências que estas instituições têm hoje de

recomendar um maior investimento nesta área por

disponibilizar aos seus utentes” (Aleixo et al.,

parte de todos os organismos competentes, não

2011). Neste contexto o presente trabalho analisa

só ao nível da investigação (de referir que os

um conjunto de indicadores de qualidade sensíveis

estudos nesta área são muito escassos, os

aos cuidados de enfermagem em lares de idosos,

trabalhos que existem referem-se a realidades

com aplicabilidade em Portugal, e renomeia alguns

estrangeiras e por isso sem aplicabilidade em

desses indicadores numa perspetiva social:

Portugal, e o único estudo que faz a validação de

- passíveis de fundamentar futuras investigações

indicadores para a realidade portuguesa, está

nesta área, nomeadamente no que diz respeito à

intimamente ligado ao contexto de enfermagem e

sua validação e verificação da sua aplicabilidade

à qualidade dos cuidados de saúde prestados em

em Portugal;

lares); da implementação de programas de

- que constituam objeto para estudos vindouros,

qualidade em lares de idosos e também ao nível

aumentando assim o conhecimento sobre esta

da sua monitorização (no que diz respeito aos

área;

indicadores descritos).

- passíveis de integrar os referenciais normativos que servem de base à Implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade dos serviços prestados por estas respostas sociais, nomeadamente no que diz respeito a dimensões como, Satisfação com a Vida do Idoso, Recursos Humanos, Funcionalidade do Idoso e Individualização dos Cuidados ao Idoso; - que constituam um instrumento de diferenciação dos lares de idosos, incentivando a melhoria dos serviços prestados, no que diz respeito à satisfação das expectativas e necessidades dos clientes: os idosos, colaboradores e todos quanto

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