Brito A., Cavalcante J. (2021) Nutritional status of the elderly in the city of do Ceará Brazil, of Aging & Innovation, 10 (2): 56- 71 ARTIGO ORIGINAL: Brito A., Cavalcante J.Viçosa (2021) Nutritional statusJournal of the elderly in the city of Viçosa do Ceará Brazil, Journal of Aging & Innovation, 10 (2): 56- 71
Artigo Original
Estado Nutricional em idosos da cidade de Viçosa do Ceará Brasil Estado nutricional de los ancianos de la ciudad de Viçosa do Ceará Brasil Nutritional status of the elderly in the city of Viçosa do Ceará Brazil Alessandra Maria Silva de Brito1, Jorge Luis Pereira Cavalcante2. 1 Bacharela em Nutrição, Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará, Ceará, Brasil. alessandra-a-26@hotmail.com 2 Doutorado em Nutrição (em andamento), Docente do Curso de Nutrição, Centro Universitário UNINTA, Sobral, Ceará, Brasil. jorgeluispcavalcante@uninta.edu.br Corresponding Author: jorgeluispcavalcante@uninta.edu.br RESUMO O envelhecimento é um processo natural e varia conforme os aspectos intrínsecos e extrínsecos dos seres humanos. Os sistemas biológicos sofrem modificações temporais e causam transformações no corpo. A dimensão das mudanças pode ser investigada pelo estado nutricional contendo técnicas objetivas e subjetivas, pois qualquer investigação em gerontes é tem impacto nas suas vidas. O estudo avaliou o estado nutricional antropométrico de um grupo de cinquenta idosos por meio de uma pesquisa transversal, descritiva e quantitativa no período de junho a dezembro de 2016, no Centro de Referência e Assistência Social da cidade de Viçosa do Ceará, Brasil. Os dados coletados foram peso, altura, dobras cutâneas e circunferências corporais por meio dos quais se calculou o índice de massa corpórea e o percentual de gordura dos participantes. A pesquisa foi iniciada após expedição de parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa. Houve predominância do sexo feminino na amostra e no registro de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia, artrite e osteoporose. Dos idosos investigados, 28% tinha sobrepeso pelo índice de Quételet; em torno de 20% estava propenso à desnutrição pelas circunferências do braço e panturrilha; e 25% tinha tendência à adiposidade abdominal de média a muito alta. Os estudos que avaliam o estado nutricional dos idosos ainda são escassos, necessitando de avaliação completa dessa população e não somente utilizando um único parâmetro. A presença de doenças crônicas, sobrepeso, possível sarcopenia e adiposidade abdominal alta é um alerta aos profissionais para intensificar o rastreamento na saúde dos idosos. Descritores: Avaliação nutricional. Antropometria. Idoso. Gerontologia. ABSTRACT Aging is a natural process and varies according to the intrinsic and extrinsic aspects of humans. Biological systems undergo temporal changes and cause changes in the body. The magnitude of the changes can be investigated by the nutritional state containing objective and subjective techniques, since any research in gerontologists is having an impact on their lives. The study evaluated the anthropometric nutritional status of a group of fifty elderly people through a descriptive and quantitative crosssectional study from June to December 2016 at the Reference and Social Assistance Center of the city of Viçosa do Ceará, Brazil. The data collected were weight, height, skinfolds and body circumference, which calculated the body mass index and the fat percentage of the participants. The research was initiated after issuing an opinion by the Research Ethics Committee. There was a predominance of females in the sample as well as in the registry of the most prevalent chronic non-communicable diseases with diabetes, hypertension, hypercholesterolemia, arthritis and osteoporosis. Of the elderly investigated, 28% were overweight by the Quételet index; around 20% were prone to malnutrition by the circumference of the arm and calf; and 25% had a tendency to medium to very high abdominal adiposity. Studies that evaluate the nutritional status of elderly are still scarce, requiring a complete evaluation of this population and not only using a single parameter. The presence of chronic diseases, overweight, possible sarcopenia and high abdominal adiposity is a warning to professionals to intensify the screening in the health of the elderly. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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Keywords: Nutrition Assessment. Anthropometry. Aged. Gerontology.
INTRODUÇÃO A nutrição dos idosos é condicionada por alterações fisiológicas, psicológicas, morfológicas e patológicas desenvolvidas ao longo da vida. Estas transformações são ocasionadas por processos naturais do envelhecimento e diminuição da capacidade adaptativa do organismo ao ambiente no qual está inserido. A senilidade, descrita como o processo de envelhecimento, interfere no estado nutricional dos idosos, pois submete o organismo a todas essas mudanças. Portanto, as evoluções no perfil nutricional dos idosos brasileiros mostram-se cada vez mais constantes, ocorrendo redução de massa muscular e aumento gradativo de tecido adiposo (Terra et al., 2011; Barbosa, 2012; Mauricio, Febrone, & Gagliardo, 2014; França & Cavalcante, 2019). A avaliação nutricional do idoso, diante da presença de alterações anatômicas e funcionais, requer de métodos e procedimento diferenciados. O processo de avaliação do estado nutricional desses indivíduos é realizado por meio de mais de uma técnica, seja ela subjetiva ou objetiva. Logo, dos diversos métodos presentes na literatura,
os
antropométricos,
bioquímicos,
dietéticos,
exames
físicos,
socioeconômicos e culturais são os mais aplicáveis em adultos jovens, nos de meia idade e em idosos (Frangella, Marucci, & Tchakmakian, 2008; Vasconcelos, 2008; Pereira, Spryrides, & Andrade, 2016). A divisão dos métodos para avaliação do estado nutricional em indivíduos com idade acima de 60 anos segue a mesma divisão aplicada para os das demais faixas etárias, ou seja, em indicadores diretos e indiretos. As técnicas diretas são direcionadas às situações em que já existem patologias instaladas no indivíduo e buscam meios de tratamento; elas são representadas pela antropometria, exames bioquímicos e clínicos. (Vasconcelos, 2008; Miranda et al., 2012; Mussoi, 2014). Os métodos de avaliação do estado nutricional aplicado em idosos possuem limitações devendo o pesquisador escolher aquele que melhor se encaixar com o perfil do grupo em estudo. Dessa forma, nos idosos são aplicados inquérito alimentar, antropometria, exame físico e questionário socioeconômico e cultural. Em cada método deverá ser escolhido a melhor forma de abordagem para a população em análise (Vasconcelos, 2008; Pereira, Spryrides, & Andrade, 2016; Sousa et al., 2018). Portanto, de acordo com as peculiaridades dos indivíduos geriátricos, as medidas JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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antropométricas mais usadas são peso, altura, circunferência da panturrilha, circunferência do braço, circunferência do quadril, dobras cutâneas tricipital e subescapular, índice de massa corpórea - IMC e circunferência muscular do braço (Moreira, Melo, & Oliveira, 2012; Cortez, Brandão, Silva, Dantas, & Martins, 2019). A quantidade de dados apresentando um aumento contínuo do número de idosos no Brasil é um fato presente há alguns anos. Isto mostra a atenção a ser dada a esse grupo etário, uma vez que estudos mostram que a população brasileira possui aspectos negativos de envelhecimento, como qualidade de vida inferior, surgimento de doenças crônicas não transmissíveis - DCNT e falta de rendimentos suficientes. Por conseguinte, esses fatores refletem no estado nutricional dessa população, pois este condicionante é considerado um aspecto que repercute no envelhecimento, visto que tem relação direta com o controle de muitas enfermidades bem com redução e prevenção de suas complicações (Nascimento et al., 2011; Barbosa, 2012; Silva et al., 2017). O grande crescimento da população geriátrica no mundo faz com que seja necessário conhecer este grupo em todos os seus aspectos e peculiaridades. Kuznier (2007) indica que todo indivíduo envelhece de uma maneira diferente, pois as regiões brasileiras possuem características culturais diferentes que influenciam no estilo de vida e no estado nutricional dos idosos. Assim, dentro deste contexto e entendendo a existência de uma complexa situação social, política, cultural e regional da população brasileira, surgiram as seguintes questões norteadoras: Como estará o estado nutricional físico e antropométrico dos idosos viventes no município de Viçosa do Ceará, cidade localizada no Nordeste do Brasil? Haveria alguma particularidade nos achados nutricionais desses idosos por viverem em uma cidade do interior do Brasil? A pesquisa teve como objetivo avaliar o estado nutricional físico e antropométrico de idosos residentes na cidade de Viçosa do Ceará, estado do Ceará, Brasil. MÉTODOS Tratou-se de um estudo do tipo transversal, descritivo e quantitativo, realizada de junho a dezembro de 2016 no Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) do município de Viçosa do Ceará, estado do Ceará, Brasil, com cinquenta idosos JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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(idade acima de 60 anos), de ambos os sexos, participantes do grupo de terceira idade do CRAS. Foram excluídos àqueles que faleceram no decorrer da pesquisa, afastaram-se do grupo por motivos pessoais ou patológicos; os portadores de doenças crônicas neurodegenerativas em estado avançado; e àqueles que por algum motivo ficaram impossibilitados de locomoção durante a coleta de dados. Assim, a amostra foi por conveniência e não probabilística. A coordenadora do centro concedeu anuência à implementação do estudo, após terem sido explanados os objetivos, os benefícios e os procedimentos metodológicos ao idoso. Eles foram recrutados por meio de uma palestra inicial que ocorreu de modo informal sobre o projeto de pesquisa, onde foram explicadas as técnicas e a importância do estudo para a saúde deles. Depois, os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecimento (TCLE) concordando em participar da investigação e autorizando a divulgação dos resultados. No entanto, todos estiveram bem informados dos procedimentos de retirada dos seus dados a qualquer momento da coleta de dados ou após ela. Os instrumentos de coleta de dados usados foram questionários contendo informações sobre as medidas antropométricas e exame físico nutricional dos idosos. Na avaliação antropométrica foi mensurado peso (Balança Digital Magna 150 kg Glife ®), altura (e a estimada conforme a fórmula de Chumlea, Roche e Steinbaugh (1985)), IMC (classificado de acordo com os critérios de Lipschitz (1994)), circunferência do braço (usou-se fita métrica inelástica Sanny®), circunferências (do braço, cintura e panturrilha também com uma fita inelástica Sanny®; e a muscular do braço - CMB calculada conforme a fórmula de Gurney e Jelliffe (1973) e classificação do estado nutricional no percentil 50 - p50 usando Frinsancho (1981)). A aferição da circunferência da cintura (CC) foi feita com o idoso em posição ortostática passando a fita entre a última costela e a crista ilíaca cujo resultado foi classificado conforme o risco de complicações da OMS (2000). (Miranda et al., 2012; Mussoi, 2014). O exame físico nutricional foi executado palpando os seguimentos corporais mais propícios ao surgimento de sinais físicos de deficiências ou excessos nutricionais, tratando-se de um indicador subjetivo. Para isso, foram utilizadas luvas descartáveis em cada participante e, aplicando a semiologia nutricional, buscou-se sinais de desnutrição na pele, face, gengivas, língua, cabelos, unhas, olhos, boca, JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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pescoço, tórax, abdômen, coxas e pernas (Miranda et al., 2012). Os resultados de todos esses procedimentos foram tabulados em planilha do Microsoft Office Excel 2016 e expostos em estatísticas descritivas básicas como médias, desvio-padrão, mediana e porcentagens. Os dados qualitativos foram apresentados na forma de tabelas e gráficos (Mastroeni et al., 2010; Kümpel et al., 2011). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Vale do Acaraú (UVA) com o parecer nº 1.485.368/2016 e CAAE nº 54616816.5.0000.5053. RESULTADOS A pesquisa desenvolvida com cinquenta idosos (n = 50) mostrou elevada prevalência de indivíduos do sexo feminino (80%) contra os 20% de homens. A idade dos participantes variou de 61 a 80 anos (média de 69,76 anos). As
principais
patologias
encontradas
foram
diabetes,
hipertensão,
hipercolesterolemia, artrite e osteoporose. O quantitativo dessas afecções está exposto no gráfico 1 com destaque para a hipertensão.
Gráfico 1 - Patologias identificadas nos idosos do grupo de terceira idade. Viçosa do Ceará, 2016. 35 30 25 20 15 10 5 0
Homem
Mulher
Fonte: Autoria própria (2016)
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A tabela 1 mostra os valores médios e desvio padrão de peso, altura estimada, circunferências (da cintura, da panturrilha e do braço), onde foram divididos de acordo com o sexo. A média dos pesos foi de 63,81 kg. As estaturas mais elevadas estiveram presentes no sexo masculino. A circunferência da cintura maior foi no sexo feminino com média de 91,21 cm. Tabela 1 - Valores médios, desvio padrão (mínimo e máximo) e mediana de peso, altura, circunferência da cintura e circunferência da panturrilha. Viçosa do Ceará, 2016.
Variáveis Peso (kg) Peso total Peso em homens Peso em mulheres; Altura (m) Altura total Altura em homens Altura em mulheres Circunferência da cintura (cm) CC total CC em homens CC em mulheres Circunferência da panturrilha (cm) CP total CP em homens CP em mulheres CC = circunferência da cintura; CP = circunferência da panturrilha; DP = desvio padrão. Fonte: Autoria própria (2016)
Média ± DP
Mediana
63,81 ± 9,8 68,17 ± 11,96 62,72 ± 8,84
60,75 70,27 60,20
1,59 ± 0,072 1,68 ± 0,062 1,57 ± 0,055
1,59 1,58 1,67
92,00 ± 7,36 95,09 ± 8,02 91,21 ± 6,98
90,75 90,05 95,95
30,99 ± 2,89 33,3 ± 3,74 30,41±2,29
31 32 30,95
A classificação do estado nutricional de acordo com o IMC está descrita no gráfico 2. Notou-se que 16% dos idosos apresentaram baixo peso, 24% risco de déficit, 32% eutrofia e 28% sobrepeso.
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Gráfico 2 - Estado Nutricional de homens e mulheres idosos segundo IMC (Lipschitz,1994). Viçosa do Ceará, 2016. 14 12 10 8 6 4 2 0 Baixo Peso
Risco de déficit Homens
Eutrofia
Sobrepeso
Mulheres
Fonte: Autoria própria (2016)
A diabetes mellitus foi identificada em 19 idosos e 14 deles apresentavam sobrepeso. A hipertensão esteve presente em 36 indivíduos e destes 24 estavam com sobrepeso e 12 eutróficos. Todos os 9 gerontes com hipercolesterolemia eram dotados de circunferência da cintura acima do recomendado e foram classificados como sobrepeso. A análise da CMB constatou que 11 idosos (4 do sexo masculino e 7 do sexo feminino) apresentaram percentuais abaixo da faixa de eutrofia, o que constitui um indicador de desnutrição. Já a circunferência da panturrilha em mulheres teve uma média de 30,41 cm e 33,3 cm em homens, com os valores expressos no gráfico 3.
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Gráfico 3 - Estado Nutricional de homens e mulheres idosos segundo circunferência da panturrilha. Viçosa do Ceará, 2016.
25
20
15
10
5
0 < 31 cm
> 31 cm Homem
Mulher
Fonte: Autoria própria (2016).
O exame físico nutricional detectou-se que 32,5% (n=13) das mulheres e 40% (n=4) dos homens apresentavam possível abdômen globoso por adiposidade após toque nesta região. Foi descarta a presença de edemas nesta região, nos membros inferiores e no corpo inteiro de todos os idosos investigados. Os demais aspectos físicos estavam dentro da normalidade. DISCUSSÃO A predominância do gênero feminino em estudos envolvendo idosos é bem prevalente. Garcia, Godoy e Pereira (2012), realizaram uma pesquisa com 50 idosos que participavam de um projeto social em Taguatinga-DF, onde houve predominância do gênero feminino (88%) sobre o masculino (12%). Também encontraram resultados semelhantes a este estudo, Oliveira, Duarte, & Reis (2016) em pesquisa realizada com 82 idosos em Vitória da Conquista-BA onde 92,7% dos participantes eram do sexo feminino; Lima (2016) que avaliou 233 idosos em Borba-AM sendo 58% constituídos de mulheres; Bandeira (2017) com 71,1% de idosas recifenses de um grupo de 129 participantes; Leite e Pereira (2018) ao investigarem 50 idosos do CRAS JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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de Elói Mendes-MG, pois 93,94% eram do gênero feminino. O peso mensurado dos idosos desta pesquisa foi similar ao encontrado por Lima (2016) tanto em homens como em mulheres. No entanto, a estatura diferiu em cinco e oito centímetros a mais para os idosos do gênero feminino e masculino, respectivamente, de Viçosa do Ceará ao equiparar com os de Borba-AM. É possível que essa diferença entre os pesos e estaturas dos participantes dos dois estudos se justifique pelos aspectos etnográficos, mas isso não foi avaliado por nenhum dos pesquisadores. O IMC nesta pesquisa, determinado pela altura estimada, apresenta uma pequena probabilidade de mostrar valores imprecisos. De acordo com Souza, Fraga, Gottschall, Busnello, & Rabito (2013), onde avaliaram as diferenças estatísticas entre a classificação do IMC por peso e altura estimados versus o peso real com altura estimada em idosos, os autores evidenciaram que a utilização dessa medida é viável, uma vez que os valores se encontravam próximos do real determinados por balanças e estadiômetros. Esses pesquisadores observaram em vários pontos de cortes a presença de moderada concordância, levando a crer que a utilização de medidas estimadas é necessária nessa faixa etária devido às transformações físicas que acontecem após os 60 anos de idade. Logo, entendendo que normalmente em idosos ocorre inclinação da coluna vertebral dificultando a aferição de altura, o uso da altura estimável é uma alternativa a se tornar praticável neste ciclo da vida. O grande número de mulheres idosas e com excesso de peso é facilmente verificável em estudos populacionais como o realizado em Porto Alegre com 304 idosos. Os pesquisadores verificaram a presença de 217 mulheres contra 87 homens, e determinaram mais excesso de peso no sexo feminino (73,8%) do que no masculino (67,8%) (Venturini, Engroff, Gomes, & De Carli, 2013). Um ano antes, Garcia, Godoy e Pereira (2012) constataram a presença de sobrepeso em 45% dos idosos com predominância nas mulheres, quando analisado o índice de massa corporal (IMC), o que foi similar aos achados de Oliveira, Duarte, & Reis (2016) com 54,9% do acima de 60 anos com excesso de peso; e Leite e Pereira (2018) com 57,50% das idosas em sobrepeso. Já Bandeira (2017) determinaram que 52,34% de todos os idosos tinham excesso de peso na avaliação do IMC, mas somente em 11,72% foi observado baixo peso. Todos esses dados são semelhantes aos encontrados na presente JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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pesquisa. O achado de alguma enfermidade foi referido por todos os idosos independentemente do gênero, pois os 50 participantes relataram possuir pelo menos uma afecção crônica. Como não houve qualquer relato de ausência de DCNT, a presença dessas doenças em idosos é um tanto comum. Essa está de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde 80% dos idosos apresentam pelo menos uma DCNT e 33% deles contêm duas ou mais enfermidades (Brasil, 2009). Corroborando com esses dados, Cavalcanti, Gonçalves, Asciutti, & Cavalcanti (2010) avaliaram a prevalência de doenças crônicas em um grupo de idosos em João Pessoa-PB, notando que 82,1% tinham ao menos uma doença crônica e 37,6% possuíam uma única DCNT, sendo prevalente a hipertensão. Bandeira (2017) também encontrou a presença de hipertensão em 72,7% dos 129 idosos de uma Unidade da Saúde da Família de Recife-PE. Já Marcelino (2012), e Leite e Pereira (2018) identificaram prevalência de hipertensão e diabetes em iguais proporções nos idosos estudados. Os achados da atual pesquisa mostraram um percentual de 72% de idosos com hipertensão arterial, 18% dislipidemias, 38% de diabetes mellitus, 16% artrite e 2% de osteoporose. Assim, há indicativo de haver predominância de hipertensão dentro de um mesmo conjunto de DCNT em idosos seja qual for o lugar estudado. A circunferência da cintura e da panturrilha dos idosos homens de Viçosa do Ceará foram semelhantes aqueles de Borba-AM conforme os estudos de Lima (2016) estando ambos eutróficos. Porém, essas variáveis antropométricas foram menores nas mulheres viçosenses quando feito um paralelo com os valores da idosas borbenses, sugerindo no primeiro grupo, risco de desnutrição proteica com possível sarcopenia. Já Bandeira (2017) observou excelente mediana de 34cm nas CP dos idosos estudados em Recife-PE, mas, mesmo assim, 13,39% foi indicados com desnutridos. Pereira et al. (2017), investigando 51 idosos em Barreira-BA, mostraram déficit da massa magra pela CP em 17,6% e indução positiva para ocorrência de sarcopenia, pois houve uma correlação positiva dessa medida com a força de preensão palmar, o IMC e a massa magra avaliada pela bioimpedância elétrica. No entanto, conforme determinado pelo European Working Group on Sarcopenia in Older People met again (EWGSOP2) que a provável sarcopenia é identificada pela presença JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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de baixa força muscular cujo diagnóstico é confirmado pela baixa quantidade ou qualidade muscular dos idosos, a circunferência da panturrilha não é uma técnica apropriada para determinar a presença de sarcopenia (Cruz-Jentoft et al., 2019). A presente investigação mostrou 11 idosos (22% deles), na maioria mulheres, com a CMB abaixo da faixa de eutrofia, indicando-os como possíveis desnutridos. Achados opostos foram descritos por Menezes e Marucci (2011) que revelaram elevada proporção de idosos desnutridos em uma instituição de longa permanência: 91,7% dos homens e 77,2% as mulheres. Já Rosa et al. (2017) determinaram risco de desnutrição em 23,3% de 1229 idosos assistidos pela Estratégia de Saúde da Família (61,7% mulheres) em sete municípios do Rio Grande do Sul, o que foi similar aos dados deste estudo. É sugestivo que a grande diferença encontrada entre os estudos de 2011 e de 2017 sejam pelos locais investigados e as técnicas utilizadas. CONCLUSÃO Os idosos se configuram em situações de risco para a saúde. Determinados indivíduos neste ciclo da vida apresentaram-se equilibrados do porto de vista antropométrico como peso, estatura, IMC, CQ, e CP. No entanto, como não houve um aprofundamento do atual estado nutricional por meio de outras ferramentas convencionais (dobras cutâneas, percentuais de massa magra e de massa gorda, exames laboratoriais) e dos não convencionais (funcionalidade do músculo adultor do polegar, índice de conicidade, diâmetro abdominal sagital etc.), há a necessidade de se interpretar melhor os achados envolvendo idosos a fim de definir desnutrição ou risco nutricional. Neste último caso, é sugestivo aplicar a triagem nutricional como a Mini Nutritional Assessment (MNA) e a Short Nutritional Assessment Questionnaire for 65 years plus (SNAQ 65+), excelentes ferramentas de triagem nutricional em idosos que podem ser aplicadas tanto naqueles hospitalizados como em estudo em comunidades, saúde pública, saúde coletiva etc. O índice de Quételet mostrou-se não útil como parâmetro exclusivo para diagnóstico do estado nutricional. Sugere-se para a avaliação do estado nutricional a aplicação de dois ou mais variáveis em associação ao IMC para um diagnóstico mais preciso. Outro fator limitante foi a não mensuração das dobras cutâneas, uma vez justificada pela flacidez da pele, em alguns idosos, o que traz dificuldades para JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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diferenciação de gordura e tecido epitelial. Ainda são escassos estudos que avaliem o estado nutricional de idosos que contemplem várias técnicas e ferramentas, tais como as usadas neste estudo (medidas antropométricas e exame físico). Grande parte das investigações encontrados traçou o diagnóstico utilizando apenas um método de avaliação. Dessa forma, é fundamental uma verificação nutricional mais completa nos idosos evitando parâmetros errôneos baseados em métodos incompletos. Os métodos de avaliação se configuram como boa alternativa, desde que aplicados por profissionais capacitados a fim de ajudar na íntegra os idosos a desenvolverem maiores cuidados com a saúde. Para aplicação destas técnicas é necessário um profissional que esteja atualizado nos procedimentos de aferições para a obtenção de resultados confiáveis. Nesse quesito, o nutricionista se encaixa de uma forma melhor, uma vez que são práticas comumente realizadas na sua profissão. Além do mais, é necessário que o aplicador tenha identidade, afinidade com idosos, pois haverá maior colaboração dos investigados. O estudo também mostrou indícios de como as enfermidades crônicas podem prejudicar a realização de atividades diárias deixando o idoso mais suscetível a limitações. Logo, muitas consequências graves e permanentes poderiam serem geradas a ponto de levar os idosos à hospitalização e diminuição da qualidade de vida. Portanto, rastrear as possibilidades de DCNT nos indivíduos deste ciclo da vida será fundamental para manter a sua qualidade de vida. Um ponto importante a investigar seria correlacionar as características emocionais, psíquicas do idoso com o estado nutricional, pois somente foram aplicados métodos indiretos quantitativos. Dessa forma, seria básico documentar com eficiência a saúde integral equilibrada de um idoso, pois isso faria desta ferramenta, importante meio para promoção e manutenção da saúde, efetivação de hábitos alimentares balanceados pelo comportamento e eclosão de uma condição a contribuir para uma longevidade com qualidade. REFERÊNCIAS Bandeira, G. F. S. (2017). Influência de determinantes sociais no estado nutricional de JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2021, 10 (1) ISSN: 2182-696X http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v10i2-5
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