Esteves, I. (2018) Infeção da Ferida Cirúrgica, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 48 - 53 ESTUDO DE CASO: Esteves, I. (2018) Infeção da Ferida Cirúrgica, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 48 - 53
Estudo de Caso
Infeção da Ferida Cirúrgica Surgical Wound Infection Infección de la herida quirúrgica
Inês Esteves RN, Pós-Graduada em Gestão de Feridas Complexas Corresponding Author: inesesteves7_1_90@hotmail.com Resumo O controlo da infecção da ferida cirúrgica é um desafio cada vez mais presente na prática dos profissionais de saúde. Desta forma, é necessário a identificação de sinais clínicos de infecção para a implementação de medidas que permitam um controlo adequado da carga bacteriana da ferida, favorecendo a sua cicatrização A finalidade é permitir ao utente uma melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Infeção, ferida cirúrgica, antimicrobianos.
Abstract: The control of infection of the surgical wound is an increasingly present challenge in the practice of health professionals. Thus, it is necessary to identify clinical signs of infection for the implementation of measures that allow an adequate control of the bacterial load of the wound, favoring its healing. The purpose is to allow the user a better quality of life. KeyWords: Infection, surgical wound, antimicrobials.
Introdução De acordo com Internacional Council of Nurses (2011), a ferida cirúrgica define-se como “um corte de tecido produzido por um instrumento cirúrgico cortante, de modo a criar uma abertura num espaço do corpo ou num órgão”. A ferida cirúrgica resulta de um procedimento planeado, quer seja num contexto electivo ou de urgência, sendo expectável que a cicatrização dos tecidos siga uma evolução rápida, previsível e com o mínimo de perda de função. É importante assegurar que as pessoas com feridas cirúrgicas recebem uma avaliação apropriada, bem como cuidados adequados à sua situação clínica (Parreira e Marques; 2017).
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Avaliação e Planeamento de cuidados A avaliação pormenorizada do utente é um elemento fundamental para a implementação dos cuidados de enfermagem a praticar, de forma a permitir um aumento da qualidade de vida do indivíduo. Uma avaliação detalhada da ferida cirúrgica é essencial para estabelecer o plano de cuidados, a execução do tratamento e definir prioridades. Deste modo, o conhecimento das causas e factores que interferem nas feridas cirúrgicas deverá ser um aspecto primordial a ter em conta pelos profissionais de saúde que realizam o tratamento destas feridas (Parreira e Marques; 2017). No presente artigo será apresentado um caso real de infecção da ferida cirúrgica. Utente com 64 anos de idade, proveniente de estrutura residencial para idosos, internada numa unidade da rede de cuidados continuados de média duração e reabilitação desde 03/02/2016. Relativamente aos antecedentes pessoais, podemos enumerar: Pneumonia por aspiração (dezembro 2015), Epilepsia, hipotiroidismo, Doença bipolar, Encefalopatia pós anóxia pós traumatismo craneano com tetraparésia sequelar, atrofia encefálica difusa marcada, fratura intertrocantérica do colo do fémur direito em 2013 (colocação de material de osteossíntese), status pós remoção de material de osteossíntese (realizado a 29/12/2015 - devido ao isolamento de staphyloccocus Aureus, com deiscência cirúrgica). Alergias desconhecidas. A utente permaneceu durante o internamento calma, consciente e orientada em todas as vertentes. Apresentava um discurso parco, respondia apenas a questões simples. Pele e mucosas coradas e hidratadas. Pele não íntegra, apresenta deiscência da ferida cirúrgica no trocânter direito com material de sutura. Alimentada e hidratada via sonda nasogástrica (por apresentar disfagia), com boa tolerância. Desde o início do internamento foi instituída suplementação nutricional (arginina). Necessitava de ajuda total nas atividades de vida diária. Iniciou programa de levante diário para cadeirão personalizado, com aplicação de almofada de gel de protecção na região sagrada. Foram também implementadas outras medidas para prevenção de úlceras por pressão. Incontinente de esficnteres, utilizava fralda. Hemodinamicamente estável. Cumpriu programa de reabilitação. De acordo com as escalas de avaliação, pode-se constatar que apresentava score de 10 na escala de Barthel, score de 18 na escala de Braden e score de 35 na escala de Morse. Na primeira avaliação da ferida cirúrgica foi possível identificar: deiscência da ferida cirúrgica no trocânter direito; com forma irregular; dimensões – ferida do lado esquerdo
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1x0,8cm e ferida do lado direito 1,2x0,8cm; tecido de granulação, desvitalizado e hipergranulação; exsudado purulento com odor fétido em pequena quantidade; pele perilesional apresenta eritema, com material de sutura (cerca de 7 agrafes).
Figura 1 : Ferida cirúrgica. 04/02/2016
Após avaliação da ferida, pode-se constatar que apresenta sinais clínicos que evidenciam a presença de infecção. A infeção constitui uma das complicações mais comuns nas feridas cirúrgicas. A infecção do local cirúrgico provoca atrasos na cicatrização (Menoíta,2015). A infecção do local cirúrgico está relacionada com o procedimento cirúrgico, ocorre no local da incisão cirúrgica ou próximo dela (incisional ou órgão/espaço), nos primeiros trinta dias do pós-operatório, ou até um ano caso de colocação de prótese ou implante/transplante. O risco de infecção depende de muitos factores relacionados com o doente (infecção préexistente, idade avançada, obesidade, diabetes entre outros), assim como de factores cirúrgicos, tais como a duração do ato cirúrgico e a assepsia do procedimento cirúrgico. Os microorganismos que geralmente causam infecção do local cirúrgico pertencem à flora microbiana do doente. Estas bactérias podem estar presentes em pequeno número, mas encontram na ferida cirúrgica condições favoráveis à sua proliferação (Direção Geral de Saúde,2013). Segundo as Recomendações para a prevenção da infecção do local cirúrgico (2004), a infeção do local cirúrgico pode-se classificar em: Incisional superficial, Incisional profunda e de órgão/espaço. No caso acima descrito, a ferida cirúrgica define-se com infecção incisional superficial, uma vez que ocorreu nos primeiros trinta dias após a operação, envolve apenas a pele e o tecido celular subcutâneo da incisão e a apresentava drenagem purulenta. Após avaliação da ferida, e tendo como base o acrónimo TIME (Tissue:non- viable or deficiente; infection/inflammation; moisture imbalance; Edge, which is not advancing or undermining), foi fundamental a definição do plano de tratamento. Na ferida cirúrgica acima descrita foi implementado o seguinte plano:
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- Remoção do material de sutura (agrafes de forma alternada); - Limpeza adequada do leito da ferida e da pele perilesional com soro fisiológico; - Aplicação de Polihexametileno de biguanida (PHMB) + Betaína solução, durante 15 minutos; - Realizada irrigação com PHMB+betaína da ferida para remoção de detritos; - Aplicação de antimicrobiano tópico (compressa não aderente com prata); - Aplicação de penso secundário (espuma de poliuretano). A periodicidade de tratamento foi definida de 3 e 3 dias. Segundo Menoíta (2015), a solução de PHMB+betaína reúne as seguintes propriedades: - Limpa e hidrata a ferida; - Gestão da humidade e carga bacteriana; - Antissético de baixa toxicidade e amplo espectro de ação; - Reduz odores da ferida; - Biocompatível com tecidos vivos; - Controlo da infeção e colonização; - Não afeta a flora saprófita da pessoa; - Mantém a sua atividade em ambiente húmido durante 72 horas; - Elimina biofilmes. A compressa não aderente com prata apresenta as seguintes características: - Penso de interface maleável e poroso; - Composto por prata metálica, filamentos de poliamida revestidos e impregnados com triglicéridos; - Indicado em feridas infetadas/com colonização superficiais (Menoíta,2015). Ao longo da realização do tratamento à ferida foi ponderado pela equipa de profissionais a manutenção ou não de antimicrobianos até à cicatrização. Como se trata de uma ferida infetada, a equipa decidiu manter a associação dos dois antimicrobianos. Nas figuras abaixo é possível observar a evolução favorável da ferida cirúrgica, até à sua cicatrização.
Figura 2 : Ferida cirúrgica. 04/02/2016
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Figura 3 : Ferida cirúrgica. 21/02/2016
Figura 4 : Ferida cirúrgica. 13/03/2016
Figura 5: Ferida cirúrgica cicatrizada 31/03/2016.
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Conclusão É essencial os profissionais de saúde identificarem o mais precocemente o estado infeccioso das feridas, através dos sinais clínicos presentes no leito da ferida. Esta identificação precoce permite a aplicação adequada de um antimicrobiano, controlando a carga bacteriana, promovendo e permitindo desta forma a cicatrização da ferida. É fundamental ao longo do internamento, a equipa de profissionais de saúde proceder à reavaliação do plano de cuidados do utente, no qual se incluí o tratamento à ferida, que deverá de ser ajustado e devidamente ponderado consoante a fase de cicatrização em que se encontra.
Bibliografia Direção Geral da Saúde – Prevenção da infecção do Local Cirúrgico. Norma 024/2013. Lisboa, DGS 2013 Dealey, Carol; Tratamento de Feridas, Guia para Enfermeiros – 2006, Climepsi Editores Menoita, Elsa; Gestão de Feridas Complexas – 2015, Lusodidacta Parreira, Ana; Marques, Rita; Feridas – Manual de Boas Práticas – 2017, Lidel Recomendações Para prevenção do local cirúrgico – 2004, Ministério da Saúde, Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge
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