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Sul, S. (2018) Contributos de Enfermagem para a Promoção da Saúde Sexual da Pessoa Idosa, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 65 - 80 REVISÃO BIBLOGRÁFICA NARRATIVA: Sul, S. (2018) Contributos de Enfermagem para a Promoção da Saúde

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 Revisão Bibliográfica Narrativa

Contributos de Enfermagem para a Promoção da Saúde Sexual da Pessoa Idosa Nursing Contributions for the Promotion of the Sexual Health of the Elderly Person

Contribución de Enfermería para la Promoción de la Salud Sexual de las Personas de Edad

Susana Sul RN, MsC Student (Gestão em Enfermagem), Centro Hospitalar de Lisboa Central Corresponding Author: susana.sul@gmail.com Resumo O envelhecimento é um processo natural, ainda que complexo, que decorre durante todo o ciclo de vida. Este mesmo processo apresenta vários aspetos que se relacionam e levam, numa fase avançada da vida, a alterações significativas na pessoa idosa, entre elas a nível da expressão da sua sexualidade.A saúde sexual na pessoa idosa é um tema pouco abordado que tem vindo a gerar alguma controvérsia e estereótipos que põem em causa uma prática sexual segura e prazerosa, nas suas mais variadas vertentes, nesta faixa etária. Assim, o presente trabalho tem como objetivos evidenciar a realidade, especialmente a portuguesa, no que toca à promoção da saúde sexual no idoso, bem como os planos e programas existentes e ainda, os contributos que a enfermagem pode oferecer nesta temática específica. Desta análise surgiram dados relevantes no que toca à pessoa idosa, tais como, as alterações sofridas durante o processo de envelhecimento aos níveis biológico, psicológico, sociocultural e espiritual; as dificuldades sentidas quanto à liberdade de expressão da sua sexualidade; uma tendência atual na contração do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) por parte deste grupo social e ainda, as estratégias de intervenção e promoção da saúde sexual nesta faixa etária por parte do enfermeiro. Palavras-Chave: Pessoa Idosa, Envelhecimento, Saúde Sexual, Enfermagem, Promoção da Saúde.

Abstract Aging is a natural yet complex process, that occurs throughout the entire life cycle. This exact process presents several aspects that correlate and lead, at an advanced stage of life, to significant changes in the elderly, including the way their sexuality is expressed. The sexual health of an elderly person is an unexplored matter that has brought some controversy and stereotypes that endanger a safe and pleasurable sexual practice, in its entire dimension, at this age range. Therefore, our current work has as goals to research the reality, specially the Portuguese one, concerning the promotion of sexual health in the elderly, as well as the plans and programs in force and the contributions that nursing can offer regarding this theme specifically. Throughout this analysis, relevant data has been arisen concerning the elder individual such as: alterations suffered during the aging process at biological, psychological, socio-cultural and spiritual levels; struggles felt concerning the capacity to freely express their sexuality; an ongoing tendency of Human Immunodeficiency Virus (HIV) infections in this social group as well as an attempt by the nursing staff to create intervention strategies that can promote sexual health amongst the elderly. Key-Words: Elderly, Aging, Sexual Health, Nursing, Health Promotion.

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O Processo de Envelhecimento

Pessoa Idosa O envelhecimento é um processo biológico “contínuo sem transições que estabeleçam fronteiras nítidas entre um antes e um depois para mudanças que ocorrem, não raras vezes, impercetivelmente, ao longo do curso da vida” (Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo & Marques, 2013, p.25). Tal como afirma Pimentel, citado por Rocha (2007, p.37), definir pessoa idosa é um ato complexo, que implica agrupar um conjunto de pessoas extremamente heterogéneas, com percursos de vida distintos e personalidades únicas, apesar de poderem existir semelhanças. A World Health Organization (WHO) (2016) considera que a idade para se classificar uma pessoa como idosa é muito arbitrária. Em certos países ocidentais esta pode ser de 65 anos, aproximando-se à idade da reforma. Noutros, menos desenvolvidos, a idade assumida pode variar entre os 50 e os 65 anos consoante a região. Nestes últimos, a pessoa reconhecese como sendo idosa com o declínio dos contributos prestados para a sociedade e não devido à sua idade cronológica. A verdade é que ter 65 anos não é ditatório que a pessoa é automaticamente idosa, uma vez que os processos multidimensionais de envelhecimento e os percursos biográficos diferem de pessoa para pessoa (Rocha, 2007). Com o aumento da esperança média de vida, estes anos passaram a ter uma grande importância na vida das pessoas, pois é quando estas têm tempo para concretizar algumas das suas ambições e projetos. Assim, é importante pensar no envelhecimento como envelhecimento ativo. A WHO (2005, p.13) define envelhecimento ativo como o “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. Quando se refere ativo, é importante sublinhar que não significa apenas fisicamente ativo, também se relaciona na participação do indivíduo no domínio cultural, social, psicológico e espiritual. Isto significa que envelhecer deve ser uma experiência positiva, levada a cabo com a melhor qualidade de vida possível (Bäckström, 2015). Ainda assim, apesar do envelhecimento ativo poder ser atingido com sucesso pode também ser um processo doloroso pois, segundo George (2000) citada por Rocha (2007), o autoconceito da pessoa idosa é influenciado pelo próprio processo de envelhecimento e doença, a perda de papéis e estatutos comprometidos pelo envelhecimento e ainda os estereótipos negativos elaborados tanto pelos próprios idosos, como pelos mais jovens. Pajares & Schunk (2005), citado por Rocha (2007), referem que o envelhecimento da população não deve ser analisado como uma crise, uma vez que pessoas idosas sadias contribuem positivamente para o desenvolvimento das suas famílias, comunidades, e por

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corolário constituem uma vitória para a Saúde Pública, e um contributo para o desenvolvimento do país. É assim do maior interesse formular planos para uma sociedade envelhecida, de modo a promover a sua saúde e ultrapassar o declínio fisiológico.

Dados Demográficos sobre o Envelhecimento em Portugal Ao longo dos anos, tem-se verificado uma queda na taxa de natalidade e um aumento na esperança média de vida, transformando as sociedades atuais mais desenvolvidas em sociedades envelhecidas (Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo & Marques, 2013). Hoje em dia, é um facto adquirido pela sociedade de que iremos ter vidas mais longas do que há alguns anos atrás. O INE (2012), revelou que a pirâmide etária em Portugal está cada vez mais invertida. A base, os grupos etários mais jovens, diminuiu e o topo, devido ao crescimento da população idosa, aumentou. Em comparação com o ano de 2001, em 2011 a população com idade superior a 69 anos teve um crescimento na ordem dos 26%. Segundo a PORDATA (2016), no ano de 2016, a esperança de vida à nascença em indivíduos do sexo masculino é de 77,7 anos e do sexo feminino é de 83,4 anos. Para além disto, segundo a PORDATA (2016), a esperança média de vida em pessoas com idade igual ou superior a 65 anos aumentou para 19,5 anos, mais 2,5 anos, comparativamente a 2000. Projeções estimadas pelo INE (2014) sugerem que em cenário central, isto é, tendo em conta estimativas moderadamente otimistas em que se incluem indicadores de fecundidade, mortalidade e migrações, a população com 65 anos ou mais, residente em Portugal em 2060, aumentará até, sensivelmente, 3 milhões de idosos (aumento de 35%).

Alterações Biológicas e Psico-socioculturais na Pessoa Idosa Potter & Perry (2006) afirmam que existem variadas transformações no idoso, que acontecem naturalmente e são resultantes do avanço na idade, não sendo necessariamente decorrentes de alguma patologia. À medida que o indivíduo envelhece o organismo passa por certas transformações. Segundo Netto (2004) as transformações anatómicas são as mais visíveis. Assim, entre outras alterações, observa-se que a pele perde a hidratação e elasticidade, tornando-se mais pálida e descamativa. Os cabelos tornam-se mais finos e grisalhos. As alterações fisiológicas musculares e ósseas acarretam mudanças visíveis na alteração da postura do tronco e das pernas, acentuando ainda mais as curvaturas da coluna, especialmente nas zonas torácica e lombar. As articulações tornam-se mais endurecidas, reduzindo assim a extensão dos movimentos e produzindo alterações no equilíbrio e na marcha. Quanto ao sistema cardiovascular desenvolve-se uma dilatação aórtica, hipertrofia ou dilatação do ventrículo

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esquerdo do coração, associados a um aumento da pressão arterial. O sistema hormonal e reprodutor também são afetados por esta mudança, denotando-se várias alterações fisiológicas e anatómicas na mulher e no homem, no entanto, as transformações relativas à sexualidade não passam apenas pelos aspetos biológicos e fisiológicos. Netto (2004) afirma que acima de tudo, o próprio indivíduo sente a decadência da sua capacidade de satisfação sexual. No entanto, e embora a atividade sexual se torne mais desafiante devido as transformações biológicas, esta não desaparece, apenas torna-se menos intensa e frequente. De modo a compreender os fatores biológicos influenciadores da sexualidade nos idosos, é da maior importância compreender a relação entre os conceitos “libido” e “potência”. Segundo Correia (2003), a “libido” corresponde aos complexos processos afetivo-cognitivos que incita um indivíduo para a atividade sexual. Em paralelo, a “potência” consiste na capacidade de resposta aos estímulos sexuais, tanto endógenos (ex: hormonas) como exógenos (ex: estimulação visual). De acordo com Aboim (2013), existe uma clara relação entre o declínio sexual e o processo de envelhecimento. A disfunção erétil carateriza-se e distingue-se, segundo Santos (2014), como uma “incapacidade persistente ou recorrente em conseguir e/ou manter uma ereção suficiente para permitir uma atividade sexual satisfatória, desde há pelo menos 3 meses” (p. 67), tendo uma elevada prevalência no homem idoso. A senescência tem um papel marcante na disfunção erétil, sendo que algumas das caraterísticas que surgem ao longo do tempo são: aumento do tempo de latência entre estimulação sexual e ereção, diminuição da rigidez peniana, atrofia testicular, diminuição do volume ejaculado, aumento do tempo refratário (intervalo de tempo entre ereções), diminuição da sensibilidade e diminuição da testosterona por volta dos 50 anos de idade (Santos (2014); Correia (2003)). Ainda segundo Correia (2003), a resposta sexual no homem, com o avançar da idade, requer uma estimulação táctil muito maior comparativamente à estimulação visual e imagética. Os aspetos biológicos da evolução do comportamento sexual na mulher com idade avançada têm sido menos estudados do que no homem. Apesar desta dificuldade decorrente, identificou-se que a menopausa é um fenómeno universal nas mulheres que estará responsável pelo declínio da atividade sexual (Correia, 2003). Segundo Henriques, Lopes & Ribeirinho (2014), reconhece-se a menopausa como a “cessação permanente dos ciclos menstruais, determinada retrospetivamente após 12 meses de amenorreia sem outra causa óbvia fisiológica ou patológica” (p. 303). Esta ocorre por volta dos 50 anos de idade e recai numa depleção ovárica completa, diminuição da produção estrogénica e aumento da hormona folículo estimulante.

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De acordo com Caple & March (2016), estudos em 2009 apontam que a incidência de disfunção sexual associada à menopausa é inconsistente, variando entre 31 e 88%. Estes valores são ainda superiores em mulheres que desenvolveram a menopausa precocemente, resultante de cirurgia ou quimioterapia. A prevalência das mulheres com disfunção sexual resultante da menopausa é difícil calcular. Ainda assim, estas consideram a atividade sexual muito significativa para atingir um sentido de bem-estar geral (Caple & March, 2016). Outro dado importante de equacionar, consiste na conclusão de um estudo americano realizado em 2014, que aponta que a disfunção sexual na mulher é mais prevalente (43%), que no homem (31%) (Henriques, Lopes & Ribeirinho, 2014). Ainda segundo Caple & March (2016), com a menopausa, surgem complicações resultantes de alterações a nível hormonal, como secura vaginal, redução da lubrificação associada à excitação sexual (menor lubrificação traduz-se no aparecimento de fissuras e pruridos vaginais), diminuição do espessamento do epitélio da mucosa vaginal, atrofia da musculatura vaginal, incontinência urinária e infeções, diminuição do desejo sexual, dispareunia e mesmo dificuldade em atingir o orgasmo. A nível psicossocial a idade avançada é acompanhada também por várias alterações às quais o idoso se vê obrigado a adaptar. Entre muitas outras, pode-se destacar a perda do papel de cônjuge e a reforma (Potter & Perry, 2006). A perda do papel do cônjuge poderá acontecer em qualquer altura do ciclo vital, no entanto é mais frequente numa etapa mais avançada da vida de um indivíduo. “A vida do idoso pode tornar-se bastante difícil, especialmente quando se vê confrontado com os principais medos deste grupo etário: medo do desconhecido, da solidão, de perder a família e os amigos, de perder o controlo e a autonomia ou de perder a identidade (auto-imagem)” (Vilhena, 2008, p. 75). Passar por este processo e lidar com o mesmo, faz com que a necessidade de arranjar estratégias se torne inevitável. A morte do cônjuge em si é algo extremamente doloroso, mas as pessoas idosas temem mais os acontecimentos que acompanham ou seguem a morte, como por exemplo, a rejeição, o isolamento, a solidão, a doença prolongada, a perda do papel social e a perda da autonomia (Vilhena, 2008). Ainda que seja possível prolongar a vida, é impossível evitar a morte, “parece, no entanto, que quanto mais os idosos conferem um sentido à sua vida, menos medo têm de morrer” (Vilhena, 2008, p. 76). Assim, a tarefa mais importante consiste em tornar a vida de um idoso mais rica e com sentido, sentimento de pertença e acompanhamento. Em relação ao segundo aspeto, a reforma, esta “é considerada pela sociedade como o ponto de partida “oficial” que conduz à velhice e inclusive muitas vezes assemelha-se e, ou confunde-se com a mesma” (Ferreira, 2008, p. 31). A reforma, como já foi referido

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anteriormente, é uma importante transição na vida de qualquer idoso. Esta transição vai ter diversas implicações para o mesmo, podendo estas ser positivas ou negativas, dependendo da própria pessoa. Alguns idosos recebem esta mudança na sua rotina diária que estava estabelecida há vários anos como um prémio ou um descanso merecido, outros sentem-se física e mentalmente capazes de continuar a exercer a sua atividade. Porém, esta transição nem sempre é tão fácil e encarada de forma positiva. Fonseca (2012) afirma que uma das consequências mais sérias da reforma está interligada com a perda de uma função útil na vida e consequentemente este processo de transição para a reforma pode ser vivido de forma stressante, podendo até originar perda de autoestima e de sentimento de controlo da própria vida do individuo. Este autor explicita existirem inúmeras vantagens associadas à vida profissional de um indivíduo, como “estruturação do uso do tempo, conquista de identidade pessoal e estatuto social, contexto para interação social, local de expressão de capacidades pessoais, sentimento de realização pessoal”(p. 77), e por isso, quando um indivíduo se vê abruptamente privado desta parte integrante da sua vida, o processo de transição pode ser turbulento, demorado e difícil. Todavia, em ambas estas situações, é importante que os idosos desenvolvam a capacidade de permanecer ativos, pois esta é umas das condições fundamentais para viver com êxito o envelhecimento e a entrada na reforma (Ferreira, 2008). Sendo que este é o princípio chave para o envelhecimento ativo.

Sexualidade na Pessoa Idosa Quando se aborda a temática da sexualidade, muitas vezes aparece relacionado o conceito de reprodução, uma vez que estes se encontram profundamente ligados. Neste trabalho, a abordagem feita à sexualidade é muito mais abrangente, falando-se de saúde sexual. Segundo Bernardo & Cortina (2012), este conceito de saúde sexual implica uma abordagem mais vasta e positiva da sexualidade humana, promovendo uma vivência saudável e satisfatória da mesma, indo muito além das questões meramente referentes à reprodução ou às infeções sexualmente transmissíveis. Segundo o mesmo autor, esta forma abrangente de ver a sexualidade, ultrapassa o ato sexual e engloba todas as outras formas de expressão de sentir, de fazer parte de uma relação afetiva e de expressar o amor humano, sendo exemplos dessas: a intimidade, a afetividade, o carinho e a ternura. (Bernardo & Cortina, 2012). A WHO (2006), por sua vez, definiu também o conceito de sexualidade de uma forma bastante ampla e positiva definindo-a como:

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um aspeto central de ser-se humano durante toda o ciclo de vida e que engloba sexo, género, identidade e papéis, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução (...) experienciada e expressa através de pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas e relações. (p.5) A sexualidade, ao contrário do que por vezes se pensa, não é, segundo Marques (2009), uma caraterística humana que se perde com o tempo e o avançar dos anos. Na realidade, esta mantém-se durante toda a vida mas vai variando e adquirindo diferentes contornos consoante as vivências de cada um, sendo por isso também altamente subjetiva. Esta pode assim variar consoante os géneros, idade, valores pessoais, aspetos culturais, sociais e até religiosos. Ao analisar-se vários estudos, temos vindo a compreender que os diferentes grupos etários definem a sexualidade de forma diferente e, consoante a faixa etária, surgem diferentes níveis de importância a diferentes dimensões da sexualidade. Quando, no estudo de Bourscheid (2004), foi colocado a um grupo de jovens entre os treze e os dezasseis anos questões sobre a temática da sexualidade, estes definiram a mesma com palavras-chave como: “transformação do corpo”, “iniciação sexual”, “doenças sexualmente transmissíveis” e “métodos contracetivos”. Por sua vez, no estudo de Queiroz, Lourenço, Coelho, Miranda, Barbosa & Bezerra (2015), quando foi pedido a um grupo de idosos que definissem sexualidade, os resultados foram bastante diferentes, sendo que estes fizeram uma maior menção a palavras-chave como “amor”, “carinho” e “respeito”. A mesma análise pode ser feita em relação aos géneros, segundo Petersen & Hyde (2011), o sexo masculino apresenta uma maior tendência para ter uma atitude permissiva em relação ao ato sexual, mesmo sendo este fora do compromisso de uma relação, enquanto que o sexo feminino geralmente reporta sentimentos negativos relativamente à experiência sexual fora de uma relação afetiva, dando maior valor à expressão dos afetos. Com o avançar da idade, as diferenças mantêm-se, sendo que na falta de parceiro por viuvez, os homens idosos tendem a procurar outra companheira, enquanto as mulheres idosas tendem a cair na abstinência sexual (Vieira, Leal, Marques & Alencar, 2014). Ainda assim, independentemente da forma como cada indivíduo define a sua sexualidade, todos têm em comum um aspeto: o direito à mesma. Segundo a WAS (2014), por forma a defender o direito à sexualidade, surgiu, originalmente em 1997, a declaração dos direitos sexuais onde, baseada nos direitos humanos fundamentais, se reafirma que a sexualidade é um aspeto fulcral no bem-estar do ser humano em toda a sua vida. Após várias revisões, a declaração atual apresenta 16 direitos fundamentais, sendo dois deles:

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a) “O direito ao mais alto padrão de saúde atingível, inclusive de saúde sexual; com a possibilidade de experiências sexuais prazerosas, satisfatórias e seguras” (p.2) b) “O direito à liberdade de pensamento, opinião e expressão” (p.3) Estes dois direitos ganham especial interesse quando relacionados com a pessoa idosa e a sua sexualidade, quando se considera que o indivíduo idoso, como qualquer outra pessoa, tem o direito a uma educação sexual esclarecedora, por forma a manter a qualidade de vida, bem como, segundo a WAS (2014), a uma acessibilidade e aceitação por parte dos serviços de saúde que usufrui, tendo o direito de expressar plenamente a sua sexualidade. Quando se fala da sexualidade na pessoa idosa, onde a componente reprodutiva perde a sua importância, outras componentes da saúde sexual poderiam ganhar visibilidade, no entanto tal assunção não se verifica na prática. Na realidade, a sexualidade na pessoa idosa é um assunto pouco explorado, verificando-se que é escassa a análise feita relativamente a esta temática, muitas vezes devido a ideias preconcebidas sobre este grupo etário (Vieira, Leal, Marques & Alencar, 2014).

Estereótipos sobre a Sexualidade na Pessoa Idosa As pessoas idosas, por algum decréscimo a nível funcional e aumento da dependência, acabam por ser um grupo social que não serve os propósitos da sociedade moderna, sociedade essa que, segundo Custódio (2008), se baseia em valores relacionados com o poder económico, produtividade e lucro. Assim, esta faixa etária, por não se enquadrar com uma sociedade onde a juventude é um dos valores centrais, acaba por ser marginalizada e alvo de estereótipos. Posteriormente, segundo Ribeiro (2010), influenciado por estas ideias depreciativas, o indivíduo idoso fica condicionado e impedido de reconhecer as suas potencialidades nesta fase da sua vida aos mais variados níveis, sendo um deles o seu comportamento a nível sexual. Para começar a explorar os estereótipos de que as pessoas idosas são alvo é necessário primeiro compreender este conceito. Estereótipo “é a associação, ou crença, que se tem sobre as características e atributos de um grupo, bem como dos seus membros, que molda a forma como as pessoas pensam e respondem a esse grupo” (Meira, 2011, p.4). Assim, a pessoa idosa acabou por cair num estereótipo sobretudo derrotista onde a sociedade tem uma postura maioritariamente negativa relativamente ao envelhecimento, sendo estes responsáveis, em parte, pela manutenção da imagem que as pessoas idosas mantêm na sociedade e em relação a si mesmos (Ribeiro, 2010).

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Segundo Vaz (2012), citando Lima (2003), o indivíduo idoso é alvo de vários estereótipos, começando pela ideia de que a pessoa idosa não tem interesse em sexo, muito devido à sua suposta incapacidade física para praticar o ato ou porque a prática sexual prejudica a manutenção da sua saúde. Os idosos que, ainda assim, admitem práticas a nível sexual, são vistos como perversos, exibicionistas e potencialmente ninfomaníacos quando jovens. Uma postura reveladora por parte de uma pessoa idosa de se importar com questões de índole sexual é muitas vezes vista ainda como uma tentativa frustrada de se manter e ser considerado jovem. A ideia que a sociedade fomenta sobre os padrões ideias de beleza e atração física recaem exclusivamente sobre indivíduos jovens e saudáveis, levando a que as pessoas idosas sejam ainda muitas vezes vistas como assexuadas. Os filhos de casais idosos tendem a favorecer esta ideia, vendo os seus pais como dois indivíduos que partilham exclusivamente uma ligação parental (Langer, 2009). A infantilização a que este grupo social é sujeito acaba também por contribuir para a negação da sexualidade dos idosos, levando à promoção do mito de que os idosos são assexuados. Existe também uma recriminação por parte da própria pessoa idosa em relação à sua sexualidade o que, segundo Santana, Santo, Daher & Coelho (2010), se deve em parte ao modelo de educação repressivo que estes receberam em jovens, onde a sexualidade era vista como uma sucessão de atos pecaminosos e que deviam ser orientados exclusivamente com o intuito da procriação; no caso da mulher, esta educação era ainda bastante orientada para valores de fidelidade, submissão e respeito pelo seu companheiro. Assim, percebe-se também a recriminação que o idoso, especialmente a mulher idosa, sente quando volta a ter o desejo de partilhar as suas vivências com um novo parceiro após a morte do cônjuge. Perante esta transição na sua vida, a mesma assume-se perante os demais como viúva, negando a sua sexualidade. E, ainda que a família incentive a familiar viúva a participar em atividades prazerosas e de convívio social, não existe uma declaração de apoio para a criação de novos relacionamentos amorosos (Souza, Marcon, Bueno, Carreira & Baldissera, 2015). Por sua vez a pessoa idosa do sexo masculino, em caso de viuvez, tende a encontrar novas possibilidades para explorar a sua sexualidade, ainda que sem abertura, pois a sociedade não reconhece essa necessidade ao indivíduo idoso, o que leva ao aumento da vulnerabilidade do mesmo para infeções sexualmente transmissíveis (Barbosa, Okuno, Fram, Batista & Belasco, 2012). Segundo Agnew (2006), os enfermeiros e profissionais de saúde, desprezam a possibilidade de o sexo ser um problema nas populações mais antigas, não sendo assim a educação para a saúde direcionada para esta temática.

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Perante este quadro de auto e hetero repressão, é necessário que o enfermeiro se muna de competências que lhe permitam desenvolver intervenções específicas que visem combater esta problemática.

Infeções Sexualmente Transmissíveis e a Pessoa Idosa Na Europa Ocidental, segundo a WHO (2013), em 2013 foram reportados 6,3 novos diagnósticos de HIV, em cada 100 mil habitantes, obedecendo ao rácio de 3,3 homens infetados, para cada 1 mulher infetada. Sendo que em 2013, Portugal foi o 3º país da União Europeia com taxas mais elevadas de diagnóstico da infeção por HIV. A WHO (2014) compara a taxa de novos casos de infeção por VIH, concluindo um aumento de 80%, entre 2004 e 2013. No seu artigo, Lourenço (2014) defende que o número de casos de contaminação com o VIH em indivíduos com mais de 50 anos está a crescer percentualmente, especificando que nos Estados Unidos da América, a proporção passou de 20% para 25% entre 2003 e 2006; no Brasil duplicou entre 1996 e 2006, passando de 3,6% para 7,1% e na Europa aproximavase dos 8% em 2005. Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Martins & Shivaji, 2015), a percentagem de novos casos de HIV/SIDA em pessoas com mais de 60 anos, até 2004 inclusive, era de 4% do total de casos encontrados. Comparativamente a 2014, a percentagem de novos casos nesta faixa etária aumentou, tendo passado para os 10% do total de casos. E porque são, os idosos, um grupo tão vulnerável? Vários autores defendem diversas origens deste problema, no entanto existem alguns pontos transversais, sendo eles: ● Escassez de informação - O tabu social relacionado com sexo na terceira idade, onde o idoso é imaginado como assexuado estende-se aos profissionais de saúde, e consequentemente são utilizadas poucas medidas preventivas por parte dos mesmos (Sousa, 2008). ● Alterações biológicas - As mudanças naturais no processo de envelhecimento das mulheres, como estreitamento vaginal, diminuição da elasticidade e das secreções vaginais e o desgaste das paredes vaginais, facilita o aparecimento de pequenas úlceras ou feridas na mucosa que abrem o caminho para a penetração do VIH, durante as relações sexuais (Andrade, Silva, & Santos, 2010).

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● Rejeição à adesão do preservativo - Existem várias razões para a não adesão ao preservativo masculino por parte dos idosos. Santos & Assis (2011) identificam no seu estudo que “os homens temem perder a ereção e ainda acham que o cuidado só é necessário nas relações com as profissionais do sexo. Já as mulheres não sentem necessidade de exigir o preservativo, porque já perderam a capacidade de engravidar e consideram que não necessitam mais de prevenção” (p. 152). A alteração da sensibilidade, pouco acesso a métodos contracetivos e não acreditarem que podem contrair VIH com sexo desprotegido são outras das razões de não adesão.

Desta forma, o enfermeiro deve estar sensibilizado para estas questões e abordá-las não só nas consultas, mas na construção de histórias de enfermagem e planos de cuidados de modo a prestar cuidados de qualidade a um cliente idoso e prevenir as infeções por VIH.

Intervenção do Enfermeiro Quando se analisa o bem-estar das pessoas idosas, raramente se considera a sexualidade como um dos fatores que o podem influenciar, o enfermeiro tem assim um papel muito revelante na valorização deste aspeto da vida humana nesta faixa etária (Vilelas, Hassamo, Vieira & Branco, 2014). Mas como conseguir esta valorização? Como já foi explicado acima, as próprias pessoas idosas tendem a perpetuar os estereótipos de que são alvo, assim, segundo Bernardo & Cortina (2012), é necessário dialogar, encontrando estratégias que lhes permitam uma prática segura e satisfatória da sua sexualidade, para que gerações futuras não sofram as mesmas frustrações dos dias de hoje. É necessário num primeiro momento que o enfermeiro compreenda as particularidades da sexualidade nesta fase da vida dos utentes, para que assim possa garantir um ambiente favorável ao diálogo sobre este tema, um ambiente livre de juízos de valor e estereótipos onde o idoso se sinta respeitado e compreendido. (Bernardo & Cortina, 2012) Depois é importante que o enfermeiro adquira e/ou desenvolva competências no apoio emocional e espiritual ao utente em processo de luto e viuvez, uma vez que trabalhar estas questões ajudará a reduzir ou eliminar sentimentos de culpa na eventualidade de estabelecer uma relação íntima com outro parceiro no futuro (Vilelas, Hassamo, Vieira & Branco, 2014). Por fim, é ainda curioso analisar um estudo de Helmes & Chapman (2012) que mostrou que, de entre os profissionais de saúde, os que estatisticamente se encontravam mais sensibilizados para a sexualidade na pessoa idosa eram os que tinham mais idade, ou seja, com o avançar da idade, os profissionais parecem estar mais sensibilizados para esta

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temática. Estes são dados que apontam para a possibilidade da sensibilidade que existe para esta questão advir mais do empírico, do que aquilo que é cientificamente comprovado. Assim, ainda que o empirismo seja também parte integrante da ciência, é necessário que, viver ou experienciar uma situação semelhante à do utente, não seja o critério pelo qual se atribuiu ou não importância a este fenómeno de desvalorização da saúde sexual no idoso. É, portanto, necessário que o enfermeiro seja empático e profissional, desenvolvendo intervenções de enfermagem baseadas em pareceres científicos e utilizando um juízo crítico.

Considerações Finais Uma grande porção da população da sociedade portuguesa é idosa, com o reconhecimento deste facto começaram a surgir mais estudos sobre o envelhecimento e quais as suas causas, no sentido de promover a qualidade de vida, diminuindo o decréscimo a nível funcional e a dependência. Todavia, também começaram a haver políticas que incorporam uma vertente mais positiva do envelhecimento, como o envelhecimento ativo. Esta última promove a obtenção de um sentimento de autorrealização e de saúde nesta fase da vida. Considera-se que a temática da pessoa idosa e da sexualidade ainda é algo que necessita de ser mais explorado na prática de prestação de cuidados. Apesar de termos uma sociedade envelhecida, ainda continuamos a pensar na população idosa como um grupo social sem nada a oferecer. E isso reflete-se nas estratégias dos profissionais de saúde, que se focam na cura da doença, em vez de se focarem na promoção da saúde. De futuro, seria interessante prosseguir estudos sobre como a pessoa idosa portuguesa vivência a sua sexualidade, de forma a perceber quais são os sentimentos em destaque nesta sociedade e como é que o profissional de saúde os pode ajudar a vivenciar esta transição de maneira positiva. Outra área relevante a investigar seria tentar compreender quais os maiores grupos de risco e de vulnerabilidade dentro da população idosa, tentando perceber a relação existente entre o risco e as condições socioeconómicas, culturais, estado civil, entre outras que estão presentes nas pessoas idosas, por forma a conseguir uma intervenção mais especializada por parte do enfermeiro. Como nota final, achamos pertinente a elaboração de um programa ou plano de saúde específico para a promoção da saúde sexual no idoso ou a inclusão dos mesmos nos planos atualmente existentes, fazendo uma especial referência à importância de incluir as pessoas idosas como um dos grupos de risco para as IST e a adoção de medidas, adequadas à sua faixa etária, de forma a prevenir esta tendência atual.

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