Ramos, A., Fonseca, C., Santos, V. (2012) Schizophrenic Patient Within Family. Journal of Aging & Inovation, 1 (3): 68-
REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW
ABRIL, 2012
DOENTE ESQUIZOFRÉNICO NO SEIO FAMILIAR SCHIZOPHRENIC PATIENT WITHIN FAMILY EL ENFERMO ESQUIZOFRÉNICO EN FAMILIA
Autores
Albano Ramos1, César Fonseca2, Vítor Santos3 1
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, Pós-Graduado em Gestão de Unidades
de Saúde,
2
Enfermeiro CHLN*, Investigador UI&DE*, Mestre em Ciências da Comunicação, Doutorando em Enfermagem
Universidade de Lisboa, 3 Enfermeiro Especialista, MsC, Centro Hopitalar Oeste Norte (CHON) Corresponding author: albano-ramos@clix.pt
RESUMO A doença mental e, em particular, a esquizofrenia afecta profundamente a família, e aceitar que um familiar sofre desta doença leva o seu tempo. Na nossa sociedade ainda existe um grande estigma em volta das pessoas que sofrem de doenças mentais, não havendo um grande conhecimento sobre elas, daí que quando esta surge na família, estes não sabem como agir com o seu familiar, a quem recorrerem, não compreendendo os comportamentos cada vez mais anormais, ficando por isso sujeitas a grandes pressões Palavras chave: Família, esquizofrenia, doente ABSTRACT Mental ilness and, particularly, schizophrenia, profoundly affects the family, and takes his time having to accept the fact that one of your own suffering from this disease. In our society, there´s still a huge stigma surrounding people who suffer from mental illness, without a great knowledge about it, so when it appears in your own family, they do not know how to act, who use aid, not inclunding the increasingly abnormal behaviour, leaving therefore subject to great pressure. Keywords: Family, schizophrenia, patient
INTRODUÇÃO
Se a doença que surge num dos membros da
A família é um sistema muito complexo, uma
família for do foro da saúde mental, é vivida
vez que não existem duas famílias iguais, é a
pelos familiares de forma mais dramática,
principal unidade básica de desenvolvimento
originando uma situação de crise que modifica a
pessoal a que pertence um indivíduo e,
estrutura habitual da família e o movimento
igualmente o local onde se vivência um conjunto
natural do ciclo de vida familiar.
de experiências fundamentais para a formação
O doente esquizofrénico não deve ser
da sua personalidade. Desde sempre tem
considerado como um indivíduo isolado,
havido a consciência de que a família é uma
afectado de perturbações intrapsíquicas de base
estrutura social importante, que tem um impacto
hereditária, constitucional, somática ou
crucial no desenvolvimento e na saúde do
bioquímica, mas inserido num contexto social no
indivíduo.
sentido mais lato, desde a classe social, meio
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cultural ao ambiente familiar, que influencia o
algum dos seus elementos se alterar. Todos
indivíduo de maneira fundamental,
mudam para manter o equilíbrio dinâmico,
condicionando o conjunto de valores educativos,
mesmo que, aparentemente, só um tenha
as atitudes, a posição social nas quais o doente
sofrido alterações. De certa forma, a patologia
esquizofrénico se forma e desenvolve.
individual converte-se em patologia familiar, porque todos sentem a influência negativa do
A ADAPTAÇÃO DA FAMÍLIA PERANTE O
sofrimento. A família como tal não é a mesma
SURGIR DE UM DOENTE ESQUIZOFRÉNICO
antes, durante e depois da doença.
NO SEU SEIO
A doença, como crise, supõe uma ruptura do equilíbrio anterior da família, que a desestabiliza
O conceito de família tem vindo a mudar ao
perturbando os respectivos membros. Esta
longo dos tempos, acompanhando as mudanças
situação constitui uma das dificuldades que o
económicas, culturais e religiosas no contexto
doente esquizofrénico sente.
onde se encontra inserida. Todas as famílias
Geralmente, a alteração do comportamento do
passam por várias crises durante o seu
doente esquizofrénico, é notada por um ou mais
desenvolvimento, provocando uma série de
membros da família.
mudanças nas suas funções, originando a
Para a família “tudo é muito complicado”,
aquisição de um maior ou menor grau de
quando há um doente mental em casa. Todas
capacidade de reestruturação do seu modo de
estas se sentem sós para fazerem face aos
vida, estabelecendo-se um padrão próprio para
problemas. Com efeito, a doença quando surge
lidar com a crise. Quando surge uma nova etapa
num dos elementos deste complexo relacional é
ou um novo elemento, se esta família não tiver
um dado novo. Geralmente é uma situação que
capacidade de se organizar surge então o
nunca é esperada, não havendo preparação
conflito.
para enfrenta-la. Como tal, cria desadaptações
A d o e n ç a m e n t a l e , e m p a r t i c u l a r, a
mais ou menos graves nos familiares ditos
esquizofrenia afecta profundamente a família, e
“sãos”, atingindo a pessoa doente. É pois uma
aceitar que um familiar sofre desta doença leva
situação problemática e difícil, tanto mais
o seu tempo. Na nossa sociedade ainda existe
quando se trata de uma doença mental, uma
um grande estigma em volta das pessoas que
vez que sai do domínio da “normalidade”. A falta
sofrem de doenças mentais, não havendo um
de informação dos problemas relativos à doença
grande conhecimento sobre elas, daí que
mental deixa-as desarmadas quando surgem os
quando esta surge na família, estes não sabem
primeiros sintomas da doença, onde uma maior
como agir com o seu familiar, a quem
e melhor informação permitir-lhes-ia
recorrerem, não compreendendo os
compreender o que se passa e atenuaria a
comportamentos cada vez mais anormais,
angústia que emerge perante o desconhecido.
ficando por isso sujeitas a grandes pressões
As dificuldades materiais que surgem da doença
( WIKIPÉDIA 2005 ).
mental contribuem também para modificar a
A família é um sistema aberto, integrado por
estrutura da família e para criar novas relações
partes em interacção, que se modificam se
entre os seus membros. Alguns deles, o pai ou a
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mãe, vê-se obrigado a parar ou a retomar o seu
mental de um familiar próximo, é comum e muito
trabalho em função das necessidades do
angustiante. A culpabilidade é um dos principais
doente.
factores que, por vezes, impede as pessoas de
Esta situação pode provocar-lhes uma reacção
pedir e de receber ajuda (WIKIPÉDIA 2005).
de frustração, mesmo um certo ressentimento
O clima emocional da família com um doente
contra o doente, uma sensação de injustiça
esquizofrénico caracteriza-se também por muita
perante a sociedade, que não assume a parte
ansiedade quanto à maneira correcta de lidar
das suas responsabilidades. Com efeito, os
com o doente e pelos problemas aumentados
tratamentos ocasionam despesas que nem
da vida familiar. Entretanto, segundo (CORDO
sempre correspondem aos critérios de
1992), o sofrimento é tanto menos aceite pela
reembolso da Segurança Social.
família quanto mais jovem for o doente.
Devido à doença e às suas consequências, a
Normalmente, à juventude está associado um
família percebe-se e é percebida de modo
bom equilíbrio físico e mental.
diferente pelo ambiente social. Com frequência,
Para que a família possa caminhar ao lado do
a relação com os outros perturba-se, mesmo
doente, e não no sentido contrário, é
que eles se mostrem compreensivos.
imprescindível que os vários elementos da
Perante estas dificuldades, as atitudes das
família respeitem as necessidades de cada um,
famílias face à doença são diferentes. MORENO
devem decidir que um tipo de comportamento é
(1992) salienta que, as famílias reagem
inaceitável e devem ser capazes de impor esses
segundo o contexto que lhes é próprio,
limites. Quando é um dos elementos do casal, é
oscilando entre duas atitudes extremas. No
importante manter um equilíbrio de poder entre
primeiro caso, sentem-se responsáveis pela
eles, ajustar os papeis dos membros da família
doença: censuram-se por erros educativos;
para que o doente possa encontrar uma ares de
consideram-na um fenómeno hereditário ou
competência que contribua para o bem estar da
sentem-se vítimas do destino. No segundo caso:
família, assegurar que o outro membro do casal
responsabilizam o doente ou atribuem a
possa ter um tempo para si
acontecimentos exteriores traumatizantes, como
Na opinião de Elenor Smith (citado por SANTÉ
o serviço militar, desgosto sentimental,
ET BIEN-ÊTRE SOCIAL, 1991), é raro a família
intervenção cirúrgica, entre outros.
reconhecer o seu próprio stress. A pessoa
O desgaste, tensões e conflitos causados pelo
doente torna-se uma prioridade e com o tempo
convívio com uma pessoa mentalmente
a família acaba por se “esgotar”, o que pode
perturbada frequentemente constituem os
originar a depressão, a ansiedade, o
problemas mais graves para as famílias. Os
esgotamento e doenças psicossomáticas.
próprios sentimentos dos parentes em relação
O papel activo da família é essencial para o
ao doente e à sua doença contribuem para o
tratamento, reabilitação e reinserção social do
desgaste experimentado pelas famílias e tais
seu familiar que sofre de esquizofrenia. Muitas
sentimentos incluem entre outros, a culpa, a
famílias procuram o apoio junto dos técnicos de
ansiedade e a raiva. O sentimento de culpa, isto
saúde, permitindo assim que esta superem e
é, a ideia de que se é responsável pela doença
sobrevivam às dificuldades que encontram, no
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entanto, há aquelas que não o fazem levando
RELATO DE UMA FAMÍLIA TIPO
ao seu adoecimento, ou seja, não conseguem lidar com as crises, conduzindo à sua
Para ilustrar melhor o sofrimento de uma família
desestruturação ou destruição.
tipo, vou transcrever pequenos estratos de uma
A família deve estar preparada para o facto de o
carta de 11 páginas dirigida ao serviço de
doente puder ter recaídas ao longo do tempo, o
admissão de doentes da Casa de Saúde do
que pode conduzir a um possível internamento
Te l h a l , p e l a m ã e d e u m j o v e m c o m
hospitalar. É bastante importante o apoio da
esquizofrenia, que ilustra bem todo este
família ao doente durante o tempo da sua
problema:
permanência no hospital, através de reforço
“História de amor…Uma caminhada tão
positivo, comunicação, visitas, mostrar interesse
preenchida de muito amor, mas, também de
em saber como vai a evolução da sua doença.
muito sofrimento, por vezes dias tão dolorosos,
É natural que muitas dúvidas surjam na família
que, só o companheirismo e o amor nos tem
em relação ao comportamento que vão ter de
deixado sobreviver….Depois de uma espera e
adoptar perante esta nova etapa da vida do seu
busca para ter filhos, fomos confrontados que
familiar. Primeiro que tudo é importante que o
não podíamos ser pais biológicos,….
familiar comece por se colocar no lugar da outra
Em 82, estávamos de férias numa vila do
pessoa.
interior…adoptámos um bebé…saí-mos com o
Os problemas que geralmente ocorrem na
nosso T. ao 4º dia de vida do hospital, com um
família do esquizofrénico são os seguintes
simples papel que foi lavrado em acta por
(WIKIPÉDIA 2005):
alguns responsáveis do hospital e da
Medo… “Ele poderá fazer mal a si ou às outras
misericórdia local….
pessoas?”
O T. foi crescendo ao longo dos anos, surgindo
Negação da gravidade… “Isto daqui a pouco
alguns problemas, mas era uma criança feliz.
passa”
Ao morrer a avó do T. que viveu connosco os
Incapacidade de falar ou pensar noutra coisa
últimos anos, ele faz um luto muito complicado,
que não seja a doença… “Toda a nossa vida
não aceita a perca da avó fica muito agressivo,
gira em torno do nosso filho doente”
e começa a fazer um acompanhamento na
Isolamento social… “As pessoas até nos
Clínica da Juventude, a nossa vida começa a
procuram, mas não temos como fazer os
fechar-se, os amigos afastam-se, não por falta
programas que nos propõem”
de amizade, mas, porque o convívio vai ficando
Constante busca de explicações… “Ele está
impossível, deixámos de poder ter férias,….
assim por algo que fizemos?”
…trabalho nove horas por dia para que não me
Depressão… “Não consigo falar da doença do
chamem a atenção do tempo que perco com o
meu filho sem chorar”
T, mas mesmo assim é muito difícil, ninguém (ou muito poucas pessoas) está preparado para entender uma doença crónica, em especial do foro psiquiátrico.
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Depois de nova mudança de escola a saúde
ser só estarmos juntos em situação de remediar
mental do T. agrava-se e entra num período
todas estas situações sem solução.
muito complicado, fica muito agressivo, com
Se nada puder fazer por nós, pelo menos leu o
oitenta quilos, uma força desmedida e
nosso testemunho, se me expressei mal ou fui
descoordenada, revolta-se, assim o vemos ficar
muito descritiva é porque me é difícil falar da
sem afectos, agredindo-nos todos os dias,
nossa vida de amor, mas tão dolorosa e difícil.
temos cada vez mais dificuldade em o levar
O T. é a razão da nossa vida, mas queríamos
para a carrinha, em o segurar na rua, sem
muito uma restinha de tempo para ver o T. bem,
capacidade para fazer compras, aí a nossa vida
e nós a caminhar juntos bem e orgulhosos pela
volta a fechar-se mais ainda, sem ajudas, até a
nossa vida e História de Amor, e de tanta
família só passa a falar ao telefone e às vezes
partilha….”
para se pouparem à realidade até isso vão deixando de fazer…nós pessoas de paz, vivemos momentos de terror…. Vamos para o
INTERVENÇÃO NAS FAMÍLIAS PERANTE O
trabalho nesses dias desfeitos, envolvidos em
SURGIR DE UM DOENTE ESQUIZOFRÉNICO
pancada todas as manhãs, correndo riscos
NO SEU SEIO
muito sérios de vida,…, vivemos fins-de-semana em que comíamos com as mãos, para não por
Os doentes e seus familiares procuram nos
talheres na mesa, pois isso eram armas fáceis
Profissionais de Saúde diferentes tipos de
para o T. …ele tinha um pensamento constante,
ajuda, permitindo assim que superem e
matar e matar o pai, a porta da cozinha estava
sobrevivam às dificuldades que encontram,
sempre fechada à chave, só assim se
onde o enfermeiro desempenha um papel de
pernoitava, manter de dia a trabalhar com estes
agente facilitador, estimulador e motivador da
inícios de manhã, e a incerteza no coração do
aprendizagem (Pearson, e outros, 1992).
regresso a casa, achei que íamos mesmo
Depois dos primeiros momentos de desarranjo
morrer aqui os três….
familiar é importante a ida a uma consulta
Temos uma vida sem convívio, fazemos tudo um
médica urgente, que permita um diagnóstico
de cada vez, quando um sai nem que seja para
claro e precoce da pessoa doente, evitando
beber um café o outro fica em casa com o T.….
internamentos e que assegura um melhor
Na nossa vida passamos por situações que não
prognóstico. Deixar passar o tempo só ajuda a
agradam ao T., fico triste por o ver tão longe de
aumentar o sofrimento do doente e família e o
se encontrar. Também está com uma diabetes
risco de cronicidade, desta forma os cuidados
insulina-dependente.
de enfermagem têm como primeiro objectivo a
Estamos muito cansados, e só queríamos ver o
promoção da saúde, tendo em conta a
T. feliz, protegendo-o sempre, e ter um tempinho
manutenção e o desenvolvimento da saúde das
que fosse para viver um pouco o casamento,
famílias e dos seus membros, através de
tomar um café juntos, ler um livro, visitar um
processos de aprendizagem.
museu, ou ir mesmo uma vez ao cinema, não
O enfermeiro deve ensinar à família o que pode tentar fazer inicialmente para convencer o
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doente da necessidade de comparecer a uma
cuidar, nunca esquecendo o contexto social no
consulta médica:
qual a aprendizagem se efectua (Pearson, e
Não tratar o doente de forma diferente daquela
outros, 1992). Assim o enfermeiro deve dar
que sempre se tenha feito;
esperança à família, reforçando em relação ao
Criar um ambiente próximo e de afecto para
prognóstico, que muitas pessoas que
falar do que se está a passar;
desenvolvem esquizofrenia podem melhorar e
Partilhar desde o princípio com o doente a
serem capazes de fazer uma vida relativamente
preocupação que cada um dos membros da
normal fora do hospital. Deve também orientar
família tem para que venha a encontrar-se bem;
os familiares a enfrentarem a recusa da toma da
Falar claramente de cada uma das alternativas
medicação, em momentos de equilíbrio e não na
que à família ocorrem, já que o doente é o
situação de desespero própria da crise. Deve
principal interessado;
ensinar à família a proporcionar uma atmosfera
Também pode ser útil que a aproximação seja
calma em vez de argumentativa, com atitudes
feita pelo familiar mais próximo dele, que lhe
previsíveis em vez de inconsistentes, com apoio
mereça maior confiança;
e tolerância para com o doente, em vez de
Não permitir ao doente “abusar” dos membros
rejeição.
da família, a pretexto da sua doença; os familiares devem ser “compreensivos” mas “não permissivos”;
CONCLUSÃO
Deve socorrer-se dos argumentos que seriam utilizados numa doença física.
Como conclusão posso extrair as seguintes
Se o doente resiste em ir à consulta, os
ideias chaves:
familiares devem aproveitar igualmente o
O “mito” da esquizofrenia, o desapontamento
espaço terapêutico a que têm direito, utilizando-
perante a sua imprevisibilidade, o carácter
o para desabafar e aprendizagem familiar. É de
inesperado de que se reveste, o
primordial importância que o enfermeiro ajude o
desconhecimento do que deve ou não deve ser
doente e a sua família a identificar a ou as
feito, são factores que desestabilizam a
circunstâncias imediatamente anteriores ao
dinâmica familiar;
momento em que surgem as crises, para assim
O impacto que uma pessoa com esquizofrenia
as se poderem evitar. O ponto fulcral dos
tem na família e a forma como esta se adapta
cuidados de enfermagem está baseado na
face à situação depende da singularidade de
interacção da família, saúde, aprendizagem e
cada um dos seus membros, mas também da
colaboração.
forma como a doença surge (insidiosa ou
Na perspectiva de Moyra Allen o processo de
abrupta), o seu curso, as suas consequências,
enfermagem baseia-se na aprendizagem por
no sentido de haver risco de vida ameaçada ou
parte da família/indivíduo, de condutas para a
não (fase de crise à fase crónica), e ao grau de
promoção da sua saúde, necessitando para
incapacidade gerado. Todos estes factores têm
isso, do desenvolvimento de uma colaboração
de ser vistos numa perspectiva psicossocial e
essencial entre o enfermeiro/pessoa/família a
não isoladamente. O que precisamos de ter em
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atenção é que o próprio esforço de adaptação por parte da família pode ter como
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
consequência um estado de exaustão por parte desta.
BASTEIRO, Sílvia; GIL, Carmen Maria; MARÍN,
Ver com outros olhos a pessoa doente, confiar
Remédios (2003). Guia para familiares de
nas suas possibilidades, abrirá novas
doentes mentais. Lisboa, Federação Nacional
perspectivas à sua saúde e dos seus familiares.
das Associações de Famílias Pró-Saúde Mental.
Sendo necessário ser claros, não mentir nem emitir mensagens contraditórias, ajudando
CARTA dirigida ao serviço de admissão de
assim a que o doente vá encontrando o
doentes da Casa de Saúde do Telhal a solicitar
equilíbrio que necessita e a evitar que
internamento (2004).
experimente maior confusão; Cada pessoa afectada por uma enfermidade
CORDO, Margarida (Abril – Junho, 1992).
mental requer uma atenção individualizada em
Desfamiliarização/refamiliarização dos doentes
função da sua especificidade. Quanto mais cedo
psíquicos em situação de longo internamento.
se iniciar a reabilitação, maiores serão as
Hospitalidade, revista de saúde mental, relações
possibilidades de manter as capacidades de
humanas e problemas de marginalização nº
relação consigo própria e com o seu círculo
219, 49 – 56.
envolvente, será também menor a deterioração. A partir destas conclusões deste podemos
CORDO, Margarida e Outros (1995).
extrair as seguintes recomendações/sugestões:
Intervenção nas famílias com doentes
Seria benéfico para as famílias ter valências de
psiquiátricos – 1994 Ano Internacional da
saúde mental distribuídas pela comunidade, de
Família. Telhal, Editorial Hospitalidade.
forma a poderem satisfazer as necessidades da população;
JENNER, F. A.; CARDOSO, J. A. Zagalo;
São necessários cada vez mais técnicos
MONTEIRO, António C. D.; OLIVEIRA, J. A.
especializados na área de saúde mental, de
Cunha. (1992). “Esquizofrenia” – Uma doença
forma a poderem ajudar a população.
ou alguns modos de ser humano? Lisboa,
Todos os membros da família podem ser
Editorial Caminho, SA.
protagonistas de pequenas mudanças saudáveis na inter-relação, as quais também se
MARCOLINO, Alberto, M. Carvalhosa (1987,
repercutem no processo de recuperação do
Julho-Dezembro). Conferência Internacional
familiar doente;
para a promoção da saúde – Carta de Otawa,
Nenhuma verdadeira melhoria ocorre da noite
Revista Portuguesa de Saúde Pública (5), 3-4.
para o dia; é importante estar atento a cada pequena mudança que se produz nesse sentido
MORENO, Mariano Galve (Outubro –
e poder valorizá-la.
Dezembro, 1992). As famílias e os círculos malditos da doença mental. Hospitalidade,
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revista de saúde mental, relações humanas e problemas de marginalização nº 221, 8 – 25. PASCOAES, Teixeira de (1984). São Paulo, Lisboa – Assírio & Alvim. PEARSON, A. ; VAUGHAN, B. (1992). Modelos para o exercício de enfermagem. Lisboa, ACEPS, 178 p. SANTÉ, et Bien-Être Social (1991). La Schizophrénie – Guide l´intention des families. Publié en collaboration avec la Societé Canadienne de Schizophrénie, Canadá. WIKIPÉDIA, Web page internet. Esquizofrenia. http://www.hostgold.com.br/hospedagem-sites/ Esquizofrenia. 10-10-2005.
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