Santos, V., et al (2012) The dependent Elderly and his family. Journal of Aging & Inovation, 1 (6): 89-97
RECENSÃO CRÍTICA / CRITICAL REVIEW
DEZEMBRO, 2012
O IDOSO DEPENDENTE E A SUA FAMÍLIA THE DEPENDENT ELDERLY AND HIS FAMILY El MAYOR DEPENDIENTE Y SU FAMILIA
Autores
Vítor Santos1, Ana Sofia Santos2 ,Tânia Silva3, Vera Pires4,Carla Robalinho5 1Enfermeiro,
Serviço Medicina Interna, CHO, Peniche, 2 Enfermeira, Consulta Externa,
CHO, Peniche, 3,4,5Enfermeira, Serviço Medicina Interna, CHO, Peniche Corresponding author: 10459chon@gmail.com
Resumo Com a evolução dos cuidados de saúde, doenças que anteriormente eram fatais, durante o seu episódio agudo, são agora controláveis, passando a apresentar características de cronicidade. A família, enquanto unidade social perfeitamente funcionante, é o principal apoio do doente com incapacidade/doença crónica, sendo fundamental o contributo da Enfermagem, como parceira de ambas as entidades: doente crónico e sua família. A Enfermagem, tem uma importante palavra a dizer, ao cuidar deste tipo de doente e família, com base numa parceria, que deve ter como principais frutos, uma maior autonomia destes, em lidar com a doença e restaurar o equilibrio do sistema familiar. De modo a desenvolver este tema, foi efectuada uma recensão crítica de um artigo que foca toda esta problemática. Palavras-chave: Idoso, Dependência, Família, Enfermagem
Abstract With the evolution of health care, previously fatal diseases during their acute episode, are now controllable, and gain characteristics of chronicity. The family as a social unit perfectly functional, is the main support of the patient with disability / chronic illness, and the fundamental contribution of nursing, as a partner of both entities: chronically ill and their families. Nursing has an important word to say, to take care of this type of patient and family, based on a partnership, it must have as its main fruit of greater autonomy in dealing with the disease and restore the balance of the family system. In order to develop this theme, was made one critical review of an article that focuses on all this.
Keywords: Elderly, Dependency, Family, Nursing
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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INTRODUÇÃO De acordo com a OMS, as doenças crónicas, são actualmente a principal causa de morte e incapacidade, no mundo (PORTAL DA SAÚDE, 2005), tendo aumentado exponencialmente nas últimas décadas, como reflexo do grande desenvolvimento tecnológico, social e económico. Doenças que anteriormente eram fatais, durante o seu episódio agudo, são agora controláveis, passando a apresentar características de cronicidade. Associada a esta evolução de doença, evolui também o conceito de “estar doente” (“illness”), de viver a doença, pelo que se deve apostar fortemente na qualidade de vida de quem sobrevive com a doença, para além do controlo rigoroso dos processos fisiopatológicos subjacentes. Quanto a este cenário, a Enfermagem, tem uma importante palavra a dizer, ao cuidar deste tipo de doente e família, com base numa parceria, que deve ter como principais frutos, uma maior autonomia destes, em lidar com a doença e restaurar o equilibrio do sistema familiar. Assim, de modo a desenvolver esta pertinente temática foi efectuada uma recensão critica de um artigo: “ A família do doente dependente”, que reflecte o impacto da doença crónica incapacitante no indivíduo e família. Trata-se de um artigo fruto de uma revisão bibliográfica e análise reflexiva pelos autores, acerca da temática apresentada, sendo o nosso objectivo a recensão crítica deste trabalho, analisando-o à luz da evidência cientifica mais credível e actual, sobre o tema em questão, de modo a complementar as ideias expostas, esperando obter como produto final, uma reflexão critica, mais alargada e profunda. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
RECENSÃO CRÍTICA O artigo, que é alvo desta recensão crítica, foi editado pela revista “SERVIR”, na revista nº3, do volume 53, no ano 2005, em Lisboa, com o título “A família do doente dependente”,
com 6
páginas, sendo da autoria de Carla Correia e Renato Teixeira, enfermeiros do Hospital de São Sebastião (Santa Maria da Feira) e Sónia Marques, enfermeira dos Hospitais da Universidade de Coimbra, requisitada na Escola Superior de enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca. É portanto uma obra que nos fala do papel da família, como cuidadora informal do doente crónico em situação de dependência, estruturada em 3 partes, as quais: “A Família”, “Repercussões da doença na vida familiar”, “O papel da Família”. Trata-se essencialmente do resultado de uma revisão da literatura e análise reflexiva acerca da temática, sendo interessante a perspectiva que nos dá, do ponto de vista da família, das suas funções naturais, do cuidado a um dos seus elementos, no contexto de doença crónica incapacitante e do impacto desta, na vida familiar. O resumo apresentado no artigo, é bastante elucidativo, destacando claramente as dificuldades sentidas pela família no cuidado ao doente em situação de dependência e o impacto desta na dinâmica familiar, sem deixar de referir os aspectos positivos que advêm deste novo contexto. A linguagem utilizada ao longo do texto é clara e objectiva, assim como a mensagem, apresentando ao longo do texto um encadeamento lógico, articulando os vários conceitos apresentados. Um dos primeiros assuntos abordados na obra em análise é a família. Os autores apresentam a família como “ unidade básica em que nos
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desenvolvemos e socializamos” e que serve de
flexibilidade da família face à doença, como “um
apoio para “ultrapassar os momentos de crise”.
reajustamento enorme, com implicações
De acordo com HANSON (2005, pág. 4), a
frequentes na dinâmica familiar” (CORREIA,
definição de família evoluíu ao longo dos
2005, pág. 127), face à doença incapacitante/
tempos, incluindo sempre critérios biológicos,
crónica.
sociológicos, psicológicos e legais. Uma das
A segunda parte do artigo, aborda
primeiras e mais completas definições de
específicamente as repercussões da doença na
família, surge na década de 50, “grupo de
vida familiar, começando
pessoas unidos por laços maritais, de sangue
apresentar a doença como “parte inevitável
ou adopção, constituindo uma única unidade
comum e normal da experiência
familiar, interagindo e comunicando entre sí e
humana” (CORREIA, 2005, pág. 127). Neste
partilhando uma cultura comum” (adaptado de
ponto é essencial distinguir entre a doença
BURGESS & LOCKE, 1953, citado por
fisiológica (“disease”) e a experiência humana
HANSON, 2005, pág.4). Dadas as
de estar doente (“illness”). A doença fisiológica
transformações sofridas ao longo das últimas
refere-se à “condição em que existe, de um
décadas, a definição que se pode considerar
ponto de vista fisiopatológico, uma alteração na
mais actual é “dois ou mais indivíduos, que
estrutura ou função do organismo” (adaptado de
dependem uns dos outros, para apoio
LARSEN, 2006, pág.4). Por outro lado, estar
emocional, físico e económico” (Adaptado de
doente, refere-se à “experiência humana de
HANSON, 2005, pág.6). De facto a família
sintomas e sofrimento, à forma como a doença
desempenha um papel importante no
é percepcionada, vivida e a resposta do
desenvolvimento do indíviduo, pelo que é
individuo e familia a esta”
também fundamental no apoio ao indivíduo com
LARSEN, 2006, pág.4). É portanto essencial
doença, de modo a tentar compensar esse
perceber a experiência humana de estar doente,
indivíduo, equilibrando assim a saúde da própria
principalmente na perpsectiva da doença
família como uma unidade, que se define como
crónica (LARSEN, 2006, pág.4). A doença
“estado dinâmico de mudança do bem-estar que
crónica contráriamente à aguda, que tem um
inclui factores biológicos, psicológicos,
“desenvolvimento rápido (...), num curto espaço
espirituais, sociológicos e culturais do sistema
de tempo, terminando na completa recuperação
familiar” (Adaptado de HANSON, 2005, pág.6).
do individuo ou morte” (adaptado de LARSEN,
Sem dúvida alguma, a função de apoio da
2006, pág.4), continua indefinidamente. Como é
família, depende em grande parte de
referido pelo autor “apesar dos avanços
adaptabilidade familiar, que consiste na
tecnológicos, a doença não deixa de atingir os
“capacidade da família de se reorganizar e
indíviduos e as famílias” (CORREIA, 2005, pág.
alterar funções regras e padrões de interacção
127), o que de facto leva ao aumento do número
em resposta a stress, seja ele situacional ou de
de pessoas que sobrevivem com problemas
desenvolvimento” (PHIPPS, 2003, pág. 156).
incapacitantes/crónicos. De facto todos estes
Trata-se de uma dimensão também valorizada
avanços tecnológicos na área da saúde,
pelos autores do artigo, que se referem a esta
conseguiram colocar um travão à mortalidade
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o autor por nos
(adaptado de
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associada a doença aguda, tendo
prevenção de nova incapacidade” (adaptado de
consequentemente fomentado um aumento das
CURTIN & LUBKIN (1995), citado por LARSEN,
doenças crónicas, associado ao aumento da
2006, pág.5), o que nos remete para o papel
esperança de vida. De acordo com LARSEN
importante da família no cuidado ao doente
(2006, pág.3), “viver mais, leva no entanto, a
crónico, com incapacidade. O que se verifica, na
uma maior vulnerabilidade a eventos que se
óptica do autor, é que apesar de de estarmos a
tornam crónicos por natureza”. E os exemplos
transferir o doente para um meio mais natural, a
dados por esta autora suportam a afirmação
família,
anterior: O individuo que anos atrás poderia ter
quebrada perante a doença, o que se deve em
morrido com um enfarte do miocárdio, continua
parte ao “esgotamento dos membros mais
precisar de cuidados para a sua insuficiência
implicados nos cuidados ao doente” (CORREIA,
cardíaca e o doente oncológico, pode sobreviver
2005, pág. 127).
com sequelas iatrogénicas do processo de
inquestionável que a doença de um membro
tratamento. Assim, apesar de ser uma
afecta toda a família, que passa a lutar pela
alternativa “bem-vinda”, em relação à morte,
restauração do equilibrio desta. Este conceito de
pode trazer grandes alterações para o individuo
doença como factor desiquilibrante do meio
e familia, modificando por vezes a sua
familiar, é amplamente desenvolvido pelo autor,
identidade, qualidade de vida e estilo de vida.
reforçando-o com contributos de diversos
Torna-se ainda importante definir claramente o
autores, até que identifica um pré-requisito
conceito de cronicidade, que é indissociável do
importante para as familias melhor lidarem com
conceito de “danos permanentes”, como
a crise, ou seja “quanto melhor for a
verificamos nesta adaptação da definição de
organização e integração prévia à situação de
doença crónica, da Comissão Americana de
doença, melhor é a eficácia em lidar e adaptar
doenças Crónicas (1957), citada por LARSEN
aos problemas consequentes”
(2006, pág.5): “todos os danos ou desvios da
(1994), citado por CORREIA, 2005, pág. 127).
normalidade, que tenham uma ou mais das
O autor acrescenta que a “nova família”, surgirá
seguintes características: ser permanente,
tanto em função da estrutura anterior, com em
incapacidade resídual, causada por patologia
função do processo evolutivo da história familiar
não-reversível, requer treino específico do
e variáveis relacionadas com a doença crónica
indivíduo, com vista à sua reabilitação, podendo
do individuo afectado. Assim, facilmente se
requerer um longo período de supervisão ou
percebe que a patologia individual se converte
cuidados”. Este conceito evoluiu, passando a
em patologia familiar e de facto, “a família como
valorizar não só o indivíduo e o contexto
tal, não é a mesma antes, durante e depois da
profissional-utente, para passar a incluir todo o
doença” (CORREIA, 2005, pág. 127). Como
ambiente do utente: “doença crónica é a
refere o próprio autor “os papéis e as
presença irreversível, acumulação ou latência
responsabilidades préviamente assumidas pelo
de estados patológicos ou danos, que envolvem
doente delegam-se a outros membros, ou (...)
todo o ambiente humano, no cuidado e
deixam de ser cumpridos”
autocuidado, manutenção da função e
pág. 127). De facto, este é um aspecto bastante
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a homeostasia desta é facilmente
Assim é de facto
(OLIVEIRA
(CORREIA, 2005,
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relevante, uma vez que a “doença crónica pode
forte influência psicológica, social e cultural,
ter um impacto negativo na independência e
visto que na “doença crónica, o indivíduo deve
auto-controlo, associados ao nível de
modificar ou adaptar os pápeis prévios, de modo
desenvolvimento do indivíduo” (adaptado de
a conciliar tanto as expectativas sociais, como o
LARSEN, 2006, pág. 6), sendo portanto
seu estado de saúde” (adaptado de LUBKIN et
importante ter em conta o estadio de
al., 2006, pág. 23), reforçando que, a
desenvolvimento do individuo, quer ele esteja
representação da doença e comportamento face
em idade escolar, seja adolescente, jovem
a esta, está relacionada com a “forma como os
adulto, adulto ou idoso, pois a doença crónica
indivíduos respondem a indicações do corpo
em qualquer um destes estadios está muitas
(...), definem e interpretam sintomas” (adaptado
vezes associada a “dependência aumentada
de LUBKIN et al., 2006, pág. 23 e 24). Também
nos outros” (adaptado de LARSEN, 2006, pág.
o factor económico e demográfico exerce a sua
6). Assim a alteração nos papéis que
influência, agindo sobre as variáveis social e
desempenham, é evidente, influênciando o
psicológica, como no exemplo da pobreza, em
desenvolvimento da criança, comprometendo a
que se tende a desvalorizar a saúde, uma vez
necessidade de independência do adolescente,
que “quem tem de trabalhar para sobreviver,
afectando a capacidade do jovem adulto de se
muitas vezes nega a doença a não ser que
expandir, numa “fase de grande actividade e
traga incapacidade funcional” (adaptado de
produtividade” (adaptado de LARSEN, 2006,
LUBKIN et al., 2006, pág. 24). Na família
pág. 8) ou até mesmo dificultar o
também surgem múltiplos problemas e
desenvolvimento do idoso, que de acordo com
preocupações. Face à incapacidade do
“os estadios de desenvolvimento de Erikson (...)
individuo dependente em assumir o seu papel,
o idoso também têm tarefas a cumprir (...), no
ela própria própria assume toda
estadio
versus
responsabilidade pelas decisões a tomar. O
desespero»” (adaptado de LARSEN, 2006, pág.
assumir deste papel, que pertence ao individuo,
9).
é um desvio da normalidade, que afecta o
Tanto o doente como a familia podem encarar
sistema familiar, gerando stress e logo
de forma diferente a doença crónica. O indivíduo
desiquilibrio, sendo ainda outros factores que
pode encarar a doença como “um castigo, por
influênciam o cuidado da família: “intensidade
comportamentos menos saudáveis (...)
do cuidado prestado, tipo de tarefas, género e
associada à vergonha pelo estigma da
caracteristicas pessoais do cuidador e doente;
doença” (ROLLAND (1998) citado por
apoio de outros membros da família e
CORREIA, 2005, pág. 127), sendo que em
obrigações
relação à família o mesmo autor refere que esta
cuidador” (adaptado de MORRIS e EDWARDS,
pode também sentir culpa pela situação de
2006, pág. 261).
doença. Este sentimento de culpa, referido pelo
inquestionável, “a perda é um sentimento
autor, está relacionado com um aspecto pouco
comum tanto no doente como na
aprofundado no artigo, relativo ao
família” (CORREIA, 2005, pág. 128), na
comportamento face à doença, que tem uma
situação de doença crónica, sendo este
«integridade
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concomitantes
do
O autor refere um facto
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sentimento agravado, na presença de
determinadas funções em resposta às
incapacidade que interfira no papel social do
necessidades da família como um todo, de cada
doente e família, assim como a nível físico e
membro individualmente e às expectativas da
psiquico, tendo um impacto significativo na
sociedade são fundamentais de modo a manter
qualidade de vida. De facto, tendo em conta que
a integridade da família. A ausência destas
a qualidade de vida é um conceito altamente
funções não só traria dano ao indivíduo, como
subjectivo, “ancorado em factores
retirava o significado de familia, à unidade
sócioeconómicos, demográficos, e de estilos de
familiar, o que está plenamente de acordo com
vida; características da personalidade, aspectos
as definições de família apresentadas, por
do ambiente social e comunidade; e em bem-
HANSON (2005). Neste artigo, o autor à
estar físico e mental (adaptado de SCHIRM,
semelhança de HANSON (2005), reconhece
2006, pág. 202), e que relacionado com a
que a evolução da sociedade implica também
saúde, dá mais enfâse à função física e social,
transformações na família, chegando a
assim como ao bem estar emocional, a
acrescentar mesmo que “na sociedade
presença de uma incapacidade crónica vai
contemporânea, um grande número de
implicar por parte do indivíduo e família uma
instituições privadas ou públicas substituem a
redifinição destes conceitos de modo a
família em funções anteriormente consideradas
restabelecer o equilibrio e manter alguma
como (...) familiares”. No contexto da doença
qualidade de vida, aceitável tendo em conta o
crónica, tal também se verifica, sendo que cada
padrão anterior. Assim, tal como refere o autor, é
vez mais, temos várias instituições, ou
importante “o doente em causa (...) aprender a
cuidadores informais, distintos da família, sendo
viver com a doença, e os restantes elementos
o cuidador informal definido por MORRIS e
da família devem devem aprender a responder
EDWARDS (2006, pág.254), como “alguém que
da melhor forma a essa doença” (CORREIA,
presta cuidados, sem pagamento e quem
2005, pág. 128), embora seja um facto, que a
normalmente tem ligações pessoais com o
autonomia do doente e familia seja posta em
doente”
causa. No final desta segunda parte o autor
No decorrer do artigo, o autor explora
reforça a importância dos cuidados centrados na
detalhadamente as funções familiares, que são
família, como meio de gerir o impacto da
perfeitamente actuais e condizentes com a
doença, terminando ao reforçar que a família é
literatura consultada, chegando mesmo a
“a instituição fundamental na vida das pessoas e
apresentar dois tipos de função familiar básicos,
da sociedade” (CORREIA, 2005, pág. 128).
a função interna e externa. A 1ª está relacionada
Na terceira parte do artigo o autor aborda o
com as funções básicas de apoio e segurança,
papel da família, no sentido da função que esta
pelo que faz sentido incluir nestas a função de
desempenha perante o doente crónico com
saúde, cabendo à 2ª função a transmissão de
dependência. Nesta parte o autor começa por
aspectos culturais. A base para o sucesso
nos oferecer uma perspectiva interessante da
destas funções, é identificada pelo autor, como
autoria de MOREIRA (2001), acerca das
sendo a componente afectiva, na medida em
funções familiares, em que o desempenho de
que é “esta que mantém as famílias unidas,
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dando aos seus membros o sentido de pertença
aspecto é muito importante pois a família de
que conduz ao sentido de identidade
modo a poder cuidar bem, necessita de
familiar” (KOZIER 1993, citada por CORREIA,
“ a s s e g u r a r o s e u p r ó p r i o b e m e s t a r,
2005, pág. 129). Esta mesma autora considera
necessitando de apoio , ajuda e compreensão
as funções de saúde, como função básica da
da restante família e amigos, e do sistema de
família, “que consistem em proteger a saúde
cuidados de saúde“ (MORRIS e EDWARDS,
dos seus membros e proporcionar cuidados
2006, pág.268). Como parceiros do cuidar, os
quando eles necessitam” (KOZIER 1993, citada
familiares têm “um papel activo na prestação de
por CORREIA, 2005, pág. 129). Na sequência
cuidados ao doente, assim como na tomada de
desta ideia, é referido que “é no seio da família
decisões”, sendo que, “requerem formação e
que os indivíduos desenvolvem o conceito de
acompanhamento (...), por forma a reunirem as
saúde, adquirem hábitos de saúde e estilos de
melhores condições, para lidarem com a
vida saudáveis” (KOZIER 1993, citada por
situação/problema” (MARTOCCHIO, citado por
CORREIA, 2005, pág. 129). Na verdade é
MARTINS (2000), citado por (CORREIA, 2005,
preciso também ter em conta que apesar do
pág. 130). Assim, fica bastante clara a
contributo familiar, este não é o único
necessidade de educação para saúde, tanto
determinante nos estilos de vida, que “reflecte
para o individuo, que deve potenciar as
as actividades, os interesses e as opiniões de
capacidades que tem, como para a família, que
um indivíduo” (ENGEL, BLACKWELL e
deve ser capacitada para cuidar
MINIARD, 1995, citados por AMARO et al.,
adequadamente do seu membro tendo em vista
2007, pág.116). No que respeita ao cuidado por
o equilibrio e melhor qualidade de vida para
parte da família, há que ter em conta a
ambos. É importante também ter em conta que
especificidade da doença crónica, associada a
a motivação, adesão e compreensão da
dependência, na medida em que vai implicar
necessidade de aprendizagem são
cuidados permanentes/longa duração,
condicionantes relevantes neste processo de
implicando um compromisso “para a vida”, no
aprendizagem.O autor termina esta parte,
sentido da palavra, pois um familiar será sempre
concluindo acerca da importância da família no
um familiar e essa função está inerente a esse
cuidado ao doente crónico com dependência,
papel. É pertinente clarificar que associada a
apesar das dificuldades económicas,
esta função familiar está uma carga emocional e
precariedade das condições habitacionais, ou
exigência de cuidado elevada, que leva muitas
mesmo falta de conhecimentos para tal.
vezes à exaustão familiar e desistência, ou seja
Na conclusão o autor alerta para a necessidade
o “burn out and giving up” (MORRIS e
de politicas de saúde mais adequadas à
EDWARDS, 2006, pág.254). A ideia de família
necessidade de apoio crescente por parte dos
como principal recurso do doente crónico, é
doentes crónicos com dependência, de modo a
reforçada, pelo autor ao longo desta parte do
dar apoio a famílias sobrecarregadas, que são
artigo, até que apresenta a ideia da família não
obrigadas a assumir o cuidado de doentes, com
só como cuidadora, ou parceira do cuidar, mas
pouco apoio de instituições de saúde que têm
também como receptora de cuidados. Este
cada vez mais dificuldades de resposta. O autor
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faz ainda uma chamada de atenção aos
Com a recensão crítica deste artigo, fica
enfermeiros, que devem evitar estar centrados
reforçada a ideia de que a família, enquanto
apenas na angústia e sofrimento do doente,
unidade social perfeitamente funcionante, é o
sem esquecer que a família também precisa de
principal apoio do doente com incapacidade/
apoio nesta fase. De facto o autor conclui o
doença crónica, sendo fundamental o contributo
artigo focando pontos chave desta temática e o
da Enfermagem, como parceira de ambas as
apoio da enfermagem na transição para a
entidades: doente crónico e sua família. A
família é de facto algo que não devemos
doença crónica tem um impacto tremendo em
descurar, pois apesar de esta ser sempre o
ambos, exigindo uma tremenda adaptação
destinatário final do utente, na maioria dos
destes e evolução para um estadio de equilibrio,
casos não está preparada numa fase inicial e
em que se consiga ter uma boa qualidade de
está também ela em crise, necessitando
vida, adaptando eficazmente os seus papéis
primeiro de ser cuidada, antes de ser incluída na
sociais. Neste processo o Enfermeiro não deve
parceria dos cuidados.
esquecer que a sua intervenção, apesar de ser maioritáriamente dirigida para a pessoa com
CONCLUSÃO
doença crónica, também deve incluir a família que deve primeiro ser cuidada, para depois
Esta recensão obrigou a uma análise séria dos
poder cuidar, sob pena de desiquilibrar o
argumentos explanados no artigo e não apenas
sistema familiar, afectando todos os seus
uma leitura, no sentido literal da palavra.
membros. Lembrando o conceito de “illness”,
Obrigou a um estudo, também ele bastante
como experiência humana de viver a doença,
aprofundado, da temática em análise, de modo
devemos ter sempre presente, que neste
a poder argumentar e complementar
contexto, não é só o doente que experiência a
credívelmente as ideias apresentadas no artigo.
doença, mas também aqueles que o rodeiam,
Foi nossa preocupação analisar os conteúdos
devendo portanto, como referido acima, a
da forma mais crítica possível, procurando
abordagem ser dirigida ao sistema familiar como
realçar os pontos fortes dos autores, reforçando-
um todo, trabalhando com a família como um
os, sempre que possível, com citações da
fim em sí e não como um meio para melhor
bibliografia consultada, assim como, procurando
cuidar um único indivíduo.
desenvolver aspectos, menos desenvolvidos no texto. Devemos dizer que se trata de uma metodologia algo trabalhosa, pois surge por vezes alguma
BIBLIOGRAFIA
dificuldade em encontrar as ideias certas junto da bibliografia consultada, de modo a
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desenvolver o texto, apesar de que no final, o
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Volume 1. Edição 6