O IDOSO DEPENDENTE E A SUA FAMÍLIA

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Santos, V., et al (2012) The dependent Elderly and his family. Journal of Aging & Inovation, 1 (6): 89-97

RECENSÃO CRÍTICA / CRITICAL REVIEW

DEZEMBRO, 2012

O IDOSO DEPENDENTE E A SUA FAMÍLIA THE DEPENDENT ELDERLY AND HIS FAMILY El MAYOR DEPENDIENTE Y SU FAMILIA

Autores

Vítor Santos1, Ana Sofia Santos2 ,Tânia Silva3, Vera Pires4,Carla Robalinho5 1Enfermeiro,

Serviço Medicina Interna, CHO, Peniche, 2 Enfermeira, Consulta Externa,

CHO, Peniche, 3,4,5Enfermeira, Serviço Medicina Interna, CHO, Peniche Corresponding author: 10459chon@gmail.com

Resumo Com a evolução dos cuidados de saúde, doenças que anteriormente eram fatais, durante o seu episódio agudo, são agora controláveis, passando a apresentar características de cronicidade. A família, enquanto unidade social perfeitamente funcionante, é o principal apoio do doente com incapacidade/doença crónica, sendo fundamental o contributo da Enfermagem, como parceira de ambas as entidades: doente crónico e sua família. A Enfermagem, tem uma importante palavra a dizer, ao cuidar deste tipo de doente e família, com base numa parceria, que deve ter como principais frutos, uma maior autonomia destes, em lidar com a doença e restaurar o equilibrio do sistema familiar. De modo a desenvolver este tema, foi efectuada uma recensão crítica de um artigo que foca toda esta problemática. Palavras-chave: Idoso, Dependência, Família, Enfermagem

Abstract With the evolution of health care, previously fatal diseases during their acute episode, are now controllable, and gain characteristics of chronicity. The family as a social unit perfectly functional, is the main support of the patient with disability / chronic illness, and the fundamental contribution of nursing, as a partner of both entities: chronically ill and their families. Nursing has an important word to say, to take care of this type of patient and family, based on a partnership, it must have as its main fruit of greater autonomy in dealing with the disease and restore the balance of the family system. In order to develop this theme, was made one critical review of an article that focuses on all this.

Keywords: Elderly, Dependency, Family, Nursing

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INTRODUÇÃO De acordo com a OMS, as doenças crónicas, são actualmente a principal causa de morte e incapacidade, no mundo (PORTAL DA SAÚDE, 2005), tendo aumentado exponencialmente nas últimas décadas, como reflexo do grande desenvolvimento tecnológico, social e económico. Doenças que anteriormente eram fatais, durante o seu episódio agudo, são agora controláveis, passando a apresentar características de cronicidade. Associada a esta evolução de doença, evolui também o conceito de “estar doente” (“illness”), de viver a doença, pelo que se deve apostar fortemente na qualidade de vida de quem sobrevive com a doença, para além do controlo rigoroso dos processos fisiopatológicos subjacentes. Quanto a este cenário, a Enfermagem, tem uma importante palavra a dizer, ao cuidar deste tipo de doente e família, com base numa parceria, que deve ter como principais frutos, uma maior autonomia destes, em lidar com a doença e restaurar o equilibrio do sistema familiar. Assim, de modo a desenvolver esta pertinente temática foi efectuada uma recensão critica de um artigo: “ A família do doente dependente”, que reflecte o impacto da doença crónica incapacitante no indivíduo e família. Trata-se de um artigo fruto de uma revisão bibliográfica e análise reflexiva pelos autores, acerca da temática apresentada, sendo o nosso objectivo a recensão crítica deste trabalho, analisando-o à luz da evidência cientifica mais credível e actual, sobre o tema em questão, de modo a complementar as ideias expostas, esperando obter como produto final, uma reflexão critica, mais alargada e profunda. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

RECENSÃO CRÍTICA O artigo, que é alvo desta recensão crítica, foi editado pela revista “SERVIR”, na revista nº3, do volume 53, no ano 2005, em Lisboa, com o título “A família do doente dependente”,

com 6

páginas, sendo da autoria de Carla Correia e Renato Teixeira, enfermeiros do Hospital de São Sebastião (Santa Maria da Feira) e Sónia Marques, enfermeira dos Hospitais da Universidade de Coimbra, requisitada na Escola Superior de enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca. É portanto uma obra que nos fala do papel da família, como cuidadora informal do doente crónico em situação de dependência, estruturada em 3 partes, as quais: “A Família”, “Repercussões da doença na vida familiar”, “O papel da Família”. Trata-se essencialmente do resultado de uma revisão da literatura e análise reflexiva acerca da temática, sendo interessante a perspectiva que nos dá, do ponto de vista da família, das suas funções naturais, do cuidado a um dos seus elementos, no contexto de doença crónica incapacitante e do impacto desta, na vida familiar. O resumo apresentado no artigo, é bastante elucidativo, destacando claramente as dificuldades sentidas pela família no cuidado ao doente em situação de dependência e o impacto desta na dinâmica familiar, sem deixar de referir os aspectos positivos que advêm deste novo contexto. A linguagem utilizada ao longo do texto é clara e objectiva, assim como a mensagem, apresentando ao longo do texto um encadeamento lógico, articulando os vários conceitos apresentados. Um dos primeiros assuntos abordados na obra em análise é a família. Os autores apresentam a família como “ unidade básica em que nos

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desenvolvemos e socializamos” e que serve de

flexibilidade da família face à doença, como “um

apoio para “ultrapassar os momentos de crise”.

reajustamento enorme, com implicações

De acordo com HANSON (2005, pág. 4), a

frequentes na dinâmica familiar” (CORREIA,

definição de família evoluíu ao longo dos

2005, pág. 127), face à doença incapacitante/

tempos, incluindo sempre critérios biológicos,

crónica.

sociológicos, psicológicos e legais. Uma das

A segunda parte do artigo, aborda

primeiras e mais completas definições de

específicamente as repercussões da doença na

família, surge na década de 50, “grupo de

vida familiar, começando

pessoas unidos por laços maritais, de sangue

apresentar a doença como “parte inevitável

ou adopção, constituindo uma única unidade

comum e normal da experiência

familiar, interagindo e comunicando entre sí e

humana” (CORREIA, 2005, pág. 127). Neste

partilhando uma cultura comum” (adaptado de

ponto é essencial distinguir entre a doença

BURGESS & LOCKE, 1953, citado por

fisiológica (“disease”) e a experiência humana

HANSON, 2005, pág.4). Dadas as

de estar doente (“illness”). A doença fisiológica

transformações sofridas ao longo das últimas

refere-se à “condição em que existe, de um

décadas, a definição que se pode considerar

ponto de vista fisiopatológico, uma alteração na

mais actual é “dois ou mais indivíduos, que

estrutura ou função do organismo” (adaptado de

dependem uns dos outros, para apoio

LARSEN, 2006, pág.4). Por outro lado, estar

emocional, físico e económico” (Adaptado de

doente, refere-se à “experiência humana de

HANSON, 2005, pág.6). De facto a família

sintomas e sofrimento, à forma como a doença

desempenha um papel importante no

é percepcionada, vivida e a resposta do

desenvolvimento do indíviduo, pelo que é

individuo e familia a esta”

também fundamental no apoio ao indivíduo com

LARSEN, 2006, pág.4). É portanto essencial

doença, de modo a tentar compensar esse

perceber a experiência humana de estar doente,

indivíduo, equilibrando assim a saúde da própria

principalmente na perpsectiva da doença

família como uma unidade, que se define como

crónica (LARSEN, 2006, pág.4). A doença

“estado dinâmico de mudança do bem-estar que

crónica contráriamente à aguda, que tem um

inclui factores biológicos, psicológicos,

“desenvolvimento rápido (...), num curto espaço

espirituais, sociológicos e culturais do sistema

de tempo, terminando na completa recuperação

familiar” (Adaptado de HANSON, 2005, pág.6).

do individuo ou morte” (adaptado de LARSEN,

Sem dúvida alguma, a função de apoio da

2006, pág.4), continua indefinidamente. Como é

família, depende em grande parte de

referido pelo autor “apesar dos avanços

adaptabilidade familiar, que consiste na

tecnológicos, a doença não deixa de atingir os

“capacidade da família de se reorganizar e

indíviduos e as famílias” (CORREIA, 2005, pág.

alterar funções regras e padrões de interacção

127), o que de facto leva ao aumento do número

em resposta a stress, seja ele situacional ou de

de pessoas que sobrevivem com problemas

desenvolvimento” (PHIPPS, 2003, pág. 156).

incapacitantes/crónicos. De facto todos estes

Trata-se de uma dimensão também valorizada

avanços tecnológicos na área da saúde,

pelos autores do artigo, que se referem a esta

conseguiram colocar um travão à mortalidade

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o autor por nos

(adaptado de

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associada a doença aguda, tendo

prevenção de nova incapacidade” (adaptado de

consequentemente fomentado um aumento das

CURTIN & LUBKIN (1995), citado por LARSEN,

doenças crónicas, associado ao aumento da

2006, pág.5), o que nos remete para o papel

esperança de vida. De acordo com LARSEN

importante da família no cuidado ao doente

(2006, pág.3), “viver mais, leva no entanto, a

crónico, com incapacidade. O que se verifica, na

uma maior vulnerabilidade a eventos que se

óptica do autor, é que apesar de de estarmos a

tornam crónicos por natureza”. E os exemplos

transferir o doente para um meio mais natural, a

dados por esta autora suportam a afirmação

família,

anterior: O individuo que anos atrás poderia ter

quebrada perante a doença, o que se deve em

morrido com um enfarte do miocárdio, continua

parte ao “esgotamento dos membros mais

precisar de cuidados para a sua insuficiência

implicados nos cuidados ao doente” (CORREIA,

cardíaca e o doente oncológico, pode sobreviver

2005, pág. 127).

com sequelas iatrogénicas do processo de

inquestionável que a doença de um membro

tratamento. Assim, apesar de ser uma

afecta toda a família, que passa a lutar pela

alternativa “bem-vinda”, em relação à morte,

restauração do equilibrio desta. Este conceito de

pode trazer grandes alterações para o individuo

doença como factor desiquilibrante do meio

e familia, modificando por vezes a sua

familiar, é amplamente desenvolvido pelo autor,

identidade, qualidade de vida e estilo de vida.

reforçando-o com contributos de diversos

Torna-se ainda importante definir claramente o

autores, até que identifica um pré-requisito

conceito de cronicidade, que é indissociável do

importante para as familias melhor lidarem com

conceito de “danos permanentes”, como

a crise, ou seja “quanto melhor for a

verificamos nesta adaptação da definição de

organização e integração prévia à situação de

doença crónica, da Comissão Americana de

doença, melhor é a eficácia em lidar e adaptar

doenças Crónicas (1957), citada por LARSEN

aos problemas consequentes”

(2006, pág.5): “todos os danos ou desvios da

(1994), citado por CORREIA, 2005, pág. 127).

normalidade, que tenham uma ou mais das

O autor acrescenta que a “nova família”, surgirá

seguintes características: ser permanente,

tanto em função da estrutura anterior, com em

incapacidade resídual, causada por patologia

função do processo evolutivo da história familiar

não-reversível, requer treino específico do

e variáveis relacionadas com a doença crónica

indivíduo, com vista à sua reabilitação, podendo

do individuo afectado. Assim, facilmente se

requerer um longo período de supervisão ou

percebe que a patologia individual se converte

cuidados”. Este conceito evoluiu, passando a

em patologia familiar e de facto, “a família como

valorizar não só o indivíduo e o contexto

tal, não é a mesma antes, durante e depois da

profissional-utente, para passar a incluir todo o

doença” (CORREIA, 2005, pág. 127). Como

ambiente do utente: “doença crónica é a

refere o próprio autor “os papéis e as

presença irreversível, acumulação ou latência

responsabilidades préviamente assumidas pelo

de estados patológicos ou danos, que envolvem

doente delegam-se a outros membros, ou (...)

todo o ambiente humano, no cuidado e

deixam de ser cumpridos”

autocuidado, manutenção da função e

pág. 127). De facto, este é um aspecto bastante

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a homeostasia desta é facilmente

Assim é de facto

(OLIVEIRA

(CORREIA, 2005,

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relevante, uma vez que a “doença crónica pode

forte influência psicológica, social e cultural,

ter um impacto negativo na independência e

visto que na “doença crónica, o indivíduo deve

auto-controlo, associados ao nível de

modificar ou adaptar os pápeis prévios, de modo

desenvolvimento do indivíduo” (adaptado de

a conciliar tanto as expectativas sociais, como o

LARSEN, 2006, pág. 6), sendo portanto

seu estado de saúde” (adaptado de LUBKIN et

importante ter em conta o estadio de

al., 2006, pág. 23), reforçando que, a

desenvolvimento do individuo, quer ele esteja

representação da doença e comportamento face

em idade escolar, seja adolescente, jovem

a esta, está relacionada com a “forma como os

adulto, adulto ou idoso, pois a doença crónica

indivíduos respondem a indicações do corpo

em qualquer um destes estadios está muitas

(...), definem e interpretam sintomas” (adaptado

vezes associada a “dependência aumentada

de LUBKIN et al., 2006, pág. 23 e 24). Também

nos outros” (adaptado de LARSEN, 2006, pág.

o factor económico e demográfico exerce a sua

6). Assim a alteração nos papéis que

influência, agindo sobre as variáveis social e

desempenham, é evidente, influênciando o

psicológica, como no exemplo da pobreza, em

desenvolvimento da criança, comprometendo a

que se tende a desvalorizar a saúde, uma vez

necessidade de independência do adolescente,

que “quem tem de trabalhar para sobreviver,

afectando a capacidade do jovem adulto de se

muitas vezes nega a doença a não ser que

expandir, numa “fase de grande actividade e

traga incapacidade funcional” (adaptado de

produtividade” (adaptado de LARSEN, 2006,

LUBKIN et al., 2006, pág. 24). Na família

pág. 8) ou até mesmo dificultar o

também surgem múltiplos problemas e

desenvolvimento do idoso, que de acordo com

preocupações. Face à incapacidade do

“os estadios de desenvolvimento de Erikson (...)

individuo dependente em assumir o seu papel,

o idoso também têm tarefas a cumprir (...), no

ela própria própria assume toda

estadio

versus

responsabilidade pelas decisões a tomar. O

desespero»” (adaptado de LARSEN, 2006, pág.

assumir deste papel, que pertence ao individuo,

9).

é um desvio da normalidade, que afecta o

Tanto o doente como a familia podem encarar

sistema familiar, gerando stress e logo

de forma diferente a doença crónica. O indivíduo

desiquilibrio, sendo ainda outros factores que

pode encarar a doença como “um castigo, por

influênciam o cuidado da família: “intensidade

comportamentos menos saudáveis (...)

do cuidado prestado, tipo de tarefas, género e

associada à vergonha pelo estigma da

caracteristicas pessoais do cuidador e doente;

doença” (ROLLAND (1998) citado por

apoio de outros membros da família e

CORREIA, 2005, pág. 127), sendo que em

obrigações

relação à família o mesmo autor refere que esta

cuidador” (adaptado de MORRIS e EDWARDS,

pode também sentir culpa pela situação de

2006, pág. 261).

doença. Este sentimento de culpa, referido pelo

inquestionável, “a perda é um sentimento

autor, está relacionado com um aspecto pouco

comum tanto no doente como na

aprofundado no artigo, relativo ao

família” (CORREIA, 2005, pág. 128), na

comportamento face à doença, que tem uma

situação de doença crónica, sendo este

«integridade

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concomitantes

do

O autor refere um facto

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sentimento agravado, na presença de

determinadas funções em resposta às

incapacidade que interfira no papel social do

necessidades da família como um todo, de cada

doente e família, assim como a nível físico e

membro individualmente e às expectativas da

psiquico, tendo um impacto significativo na

sociedade são fundamentais de modo a manter

qualidade de vida. De facto, tendo em conta que

a integridade da família. A ausência destas

a qualidade de vida é um conceito altamente

funções não só traria dano ao indivíduo, como

subjectivo, “ancorado em factores

retirava o significado de familia, à unidade

sócioeconómicos, demográficos, e de estilos de

familiar, o que está plenamente de acordo com

vida; características da personalidade, aspectos

as definições de família apresentadas, por

do ambiente social e comunidade; e em bem-

HANSON (2005). Neste artigo, o autor à

estar físico e mental (adaptado de SCHIRM,

semelhança de HANSON (2005), reconhece

2006, pág. 202), e que relacionado com a

que a evolução da sociedade implica também

saúde, dá mais enfâse à função física e social,

transformações na família, chegando a

assim como ao bem estar emocional, a

acrescentar mesmo que “na sociedade

presença de uma incapacidade crónica vai

contemporânea, um grande número de

implicar por parte do indivíduo e família uma

instituições privadas ou públicas substituem a

redifinição destes conceitos de modo a

família em funções anteriormente consideradas

restabelecer o equilibrio e manter alguma

como (...) familiares”. No contexto da doença

qualidade de vida, aceitável tendo em conta o

crónica, tal também se verifica, sendo que cada

padrão anterior. Assim, tal como refere o autor, é

vez mais, temos várias instituições, ou

importante “o doente em causa (...) aprender a

cuidadores informais, distintos da família, sendo

viver com a doença, e os restantes elementos

o cuidador informal definido por MORRIS e

da família devem devem aprender a responder

EDWARDS (2006, pág.254), como “alguém que

da melhor forma a essa doença” (CORREIA,

presta cuidados, sem pagamento e quem

2005, pág. 128), embora seja um facto, que a

normalmente tem ligações pessoais com o

autonomia do doente e familia seja posta em

doente”

causa. No final desta segunda parte o autor

No decorrer do artigo, o autor explora

reforça a importância dos cuidados centrados na

detalhadamente as funções familiares, que são

família, como meio de gerir o impacto da

perfeitamente actuais e condizentes com a

doença, terminando ao reforçar que a família é

literatura consultada, chegando mesmo a

“a instituição fundamental na vida das pessoas e

apresentar dois tipos de função familiar básicos,

da sociedade” (CORREIA, 2005, pág. 128).

a função interna e externa. A 1ª está relacionada

Na terceira parte do artigo o autor aborda o

com as funções básicas de apoio e segurança,

papel da família, no sentido da função que esta

pelo que faz sentido incluir nestas a função de

desempenha perante o doente crónico com

saúde, cabendo à 2ª função a transmissão de

dependência. Nesta parte o autor começa por

aspectos culturais. A base para o sucesso

nos oferecer uma perspectiva interessante da

destas funções, é identificada pelo autor, como

autoria de MOREIRA (2001), acerca das

sendo a componente afectiva, na medida em

funções familiares, em que o desempenho de

que é “esta que mantém as famílias unidas,

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dando aos seus membros o sentido de pertença

aspecto é muito importante pois a família de

que conduz ao sentido de identidade

modo a poder cuidar bem, necessita de

familiar” (KOZIER 1993, citada por CORREIA,

“ a s s e g u r a r o s e u p r ó p r i o b e m e s t a r,

2005, pág. 129). Esta mesma autora considera

necessitando de apoio , ajuda e compreensão

as funções de saúde, como função básica da

da restante família e amigos, e do sistema de

família, “que consistem em proteger a saúde

cuidados de saúde“ (MORRIS e EDWARDS,

dos seus membros e proporcionar cuidados

2006, pág.268). Como parceiros do cuidar, os

quando eles necessitam” (KOZIER 1993, citada

familiares têm “um papel activo na prestação de

por CORREIA, 2005, pág. 129). Na sequência

cuidados ao doente, assim como na tomada de

desta ideia, é referido que “é no seio da família

decisões”, sendo que, “requerem formação e

que os indivíduos desenvolvem o conceito de

acompanhamento (...), por forma a reunirem as

saúde, adquirem hábitos de saúde e estilos de

melhores condições, para lidarem com a

vida saudáveis” (KOZIER 1993, citada por

situação/problema” (MARTOCCHIO, citado por

CORREIA, 2005, pág. 129). Na verdade é

MARTINS (2000), citado por (CORREIA, 2005,

preciso também ter em conta que apesar do

pág. 130). Assim, fica bastante clara a

contributo familiar, este não é o único

necessidade de educação para saúde, tanto

determinante nos estilos de vida, que “reflecte

para o individuo, que deve potenciar as

as actividades, os interesses e as opiniões de

capacidades que tem, como para a família, que

um indivíduo” (ENGEL, BLACKWELL e

deve ser capacitada para cuidar

MINIARD, 1995, citados por AMARO et al.,

adequadamente do seu membro tendo em vista

2007, pág.116). No que respeita ao cuidado por

o equilibrio e melhor qualidade de vida para

parte da família, há que ter em conta a

ambos. É importante também ter em conta que

especificidade da doença crónica, associada a

a motivação, adesão e compreensão da

dependência, na medida em que vai implicar

necessidade de aprendizagem são

cuidados permanentes/longa duração,

condicionantes relevantes neste processo de

implicando um compromisso “para a vida”, no

aprendizagem.O autor termina esta parte,

sentido da palavra, pois um familiar será sempre

concluindo acerca da importância da família no

um familiar e essa função está inerente a esse

cuidado ao doente crónico com dependência,

papel. É pertinente clarificar que associada a

apesar das dificuldades económicas,

esta função familiar está uma carga emocional e

precariedade das condições habitacionais, ou

exigência de cuidado elevada, que leva muitas

mesmo falta de conhecimentos para tal.

vezes à exaustão familiar e desistência, ou seja

Na conclusão o autor alerta para a necessidade

o “burn out and giving up” (MORRIS e

de politicas de saúde mais adequadas à

EDWARDS, 2006, pág.254). A ideia de família

necessidade de apoio crescente por parte dos

como principal recurso do doente crónico, é

doentes crónicos com dependência, de modo a

reforçada, pelo autor ao longo desta parte do

dar apoio a famílias sobrecarregadas, que são

artigo, até que apresenta a ideia da família não

obrigadas a assumir o cuidado de doentes, com

só como cuidadora, ou parceira do cuidar, mas

pouco apoio de instituições de saúde que têm

também como receptora de cuidados. Este

cada vez mais dificuldades de resposta. O autor

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faz ainda uma chamada de atenção aos

Com a recensão crítica deste artigo, fica

enfermeiros, que devem evitar estar centrados

reforçada a ideia de que a família, enquanto

apenas na angústia e sofrimento do doente,

unidade social perfeitamente funcionante, é o

sem esquecer que a família também precisa de

principal apoio do doente com incapacidade/

apoio nesta fase. De facto o autor conclui o

doença crónica, sendo fundamental o contributo

artigo focando pontos chave desta temática e o

da Enfermagem, como parceira de ambas as

apoio da enfermagem na transição para a

entidades: doente crónico e sua família. A

família é de facto algo que não devemos

doença crónica tem um impacto tremendo em

descurar, pois apesar de esta ser sempre o

ambos, exigindo uma tremenda adaptação

destinatário final do utente, na maioria dos

destes e evolução para um estadio de equilibrio,

casos não está preparada numa fase inicial e

em que se consiga ter uma boa qualidade de

está também ela em crise, necessitando

vida, adaptando eficazmente os seus papéis

primeiro de ser cuidada, antes de ser incluída na

sociais. Neste processo o Enfermeiro não deve

parceria dos cuidados.

esquecer que a sua intervenção, apesar de ser maioritáriamente dirigida para a pessoa com

CONCLUSÃO

doença crónica, também deve incluir a família que deve primeiro ser cuidada, para depois

Esta recensão obrigou a uma análise séria dos

poder cuidar, sob pena de desiquilibrar o

argumentos explanados no artigo e não apenas

sistema familiar, afectando todos os seus

uma leitura, no sentido literal da palavra.

membros. Lembrando o conceito de “illness”,

Obrigou a um estudo, também ele bastante

como experiência humana de viver a doença,

aprofundado, da temática em análise, de modo

devemos ter sempre presente, que neste

a poder argumentar e complementar

contexto, não é só o doente que experiência a

credívelmente as ideias apresentadas no artigo.

doença, mas também aqueles que o rodeiam,

Foi nossa preocupação analisar os conteúdos

devendo portanto, como referido acima, a

da forma mais crítica possível, procurando

abordagem ser dirigida ao sistema familiar como

realçar os pontos fortes dos autores, reforçando-

um todo, trabalhando com a família como um

os, sempre que possível, com citações da

fim em sí e não como um meio para melhor

bibliografia consultada, assim como, procurando

cuidar um único indivíduo.

desenvolver aspectos, menos desenvolvidos no texto. Devemos dizer que se trata de uma metodologia algo trabalhosa, pois surge por vezes alguma

BIBLIOGRAFIA

dificuldade em encontrar as ideias certas junto da bibliografia consultada, de modo a

- AMARO, L.; et al. - O estilo de vida do idoso

desenvolver o texto, apesar de que no final, o

urbano: o caso de Porto Alegre – RS - [em

fruto desse esforço seja como disse mos

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inicialmente, bastante proveitoso, na aquisição

Passo Fundo. Acedido a 30 de Novembro de

de novos conhecimentos. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Volume 1. Edição 6


Página 97

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Volume 1. Edição 6


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