Oliveira, A. et al. (2017) Associação entre perda auditiva e autopercepção do handicap auditivo em pessoas idosas, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 82 - 95
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
Associação entre perda auditiva e autopercepção do handicap auditivo em pessoas idosas Association between hearing loss and self-perception of the hearing handicap in older persons Asociación entre pérdida auditiva y autopercepción del handicap auditivo en personas mayores
Autores Anamélia Oliveira 1, Carina Dantas 2, Ana Luísa Jegundo 3, Ana Filipa Carvalho 4 1
MsC, Saúde Pública, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, 2 Directora do Departamento de Inovação da Cáritas
Diocesana de Coimbra, 3 Gestora de Projectos da Cáritas Diocesana de Coimbra, 4 Audiologista da OuviSonus – Centro de Audiologia
Corresponding Author: anameliaalmeida@hotmail.com
Resumo A perda auditiva é uma condição comum associada à senescência e é considerada um problema crescente, dado o envelhecimento demográfico das populações. Objetivo: o presente trabalho tem como objetivo verificar a existência de associação entre a perda auditiva e a autoperceção de handicap auditivo em pessoas idosas. Métodos: Foi realizado um estudo transversal, descritivo e de natureza quantitativa com uma amostra de conveniência de 23 participantes, com idades igual ou superior a 60 anos. Resultados: O estudo demonstrou que o “handicap significativo” foi superior para o sexo feminino (35,3%) e a percentagem de “handicap significativo” foi superior na “hipoacusia de grau moderado – Grau I” (21,7%) e na “hipoacusia de grau moderado – Grau II” (17,4%), contudo não foram observadas associações estatisticamente significativas entre perda auditiva e handicap auditivo nos idosos. Conclusão: A implementação de estratégias de promoção da saúde auditiva, bem como o diagnóstico precoce e reabilitação destas condições, pode reduzir ou minimizar o impacto das perdas auditivas em pessoas idosas.
Palavras-chave: audição; autoavaliação; audiometria; envelhecimento; presbiacusia.
Abstract Hearing loss is a common condition associated with senescence and ut is considered a growing problem, given the demographic ageing of populations. Objective: this study aims to verify the association between hearing loss and selfperceived hearing handicap in older persons. Metodology: A cross-sectional, descriptive and quantitative study was carried out with a convenience sample of 23 participants aged 60 or over. Results: The study showed that the "significant handicap" was higher for females (35.3%) and the "significant handicap" percentage was higher in "moderate-grade hypoacusis Grade I" (21.7%) and in "moderate-grade hypoacusis - Grade II" (17.4%), however, no statistically significant associations were found between hearing loss and self-perceived hearing handicap in the older persons. Conclusion: The implementation of strategies to promote hearing health, as well as the early diagnosis and rehabilitation of these conditions
Autores may reduce or minimize the impact of hearing loss among older persons. Dados curriculares
Keywords: hearing; self-evaluation; ageing; presbycusis; health services for the aged
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Introdução
Em
A presbiacusia é um termo conhecido para
Portugal
existem
poucos
dados
referentes à prevalência deste problema, mas
designar a perda auditiva associada ao processo
segundo
investigações
realizadas
esta
de envelhecimento e é caracterizada por uma
prevalência não é muito diferente de achados
perda auditiva bilateral, simétrica e progressiva
internacionais, observando-se crescente perda
(Dalton, et al. 2003; Heine e Browning, 2002),
de audição a partir dos 65 anos, uma realidade
principalmente para sons de alta frequência, e
presente em grande parte dos idosos.
dificuldade na compreensão da fala (Araujo e
Almeida e Falcão (2009) verificaram, com base
Iório, 2014)
no 4º Inquérito Nacional de Saúde, a existência
A perda auditiva é uma condição comum
de um aumento da percentagem de indivíduos
associada à senescência e é considerada um
com incapacidade auditiva relacionada com o
problema relevante e crescente, podendo vir a
aumento da idade, encontrando-se 34,3% no
tornar-se um grande problema de saúde pública
grupo etário 75 e mais anos. Contudo, este
considerando o aumento da esperança média de
inquérito ainda não permite incorporar uma
vida e o consequente envelhecimento da
componente
população (Liu e Yan, 2007). O impacto da perda
audiometria poderia ser incluída, pelo que a
auditiva pode ser profundo, com consequências
grande dimensão da amostra estudada apenas
para o bem-estar social, funcional e psicológico
permitiu produzir estimativas da prevalência de
da pessoa idosa (Ciorba, et al. 2012).
incapacidade auditiva auto-declarada.
Diversos
estudos
demonstram
que
de
observação,
em
que
a
a
presbiacusia pode ter um efeito negativo sobre a
Segundo Ciorba et al. (2012) o diagnóstico da
qualidade de vida e o bem-estar psicológico -
presbiacusia, atualmente, inclui o histórico
isolamento social, depressão, ansiedade e
familiar, a história de início e progressão da perda
mesmo declínio cognitivo foram relatados em
auditiva e os resultados de testes audiométricos,
pessoas afetadas (Dalton, et al. 2003; Heine e
que
Browning, 2002).
comprometimento.
Em
estudo,
grau
de
demonstrado que a presbiacusia afeta 40% da
fornecer informações sobre as capacidades
população com mais de 75 anos de idade. Outro
auditivas do indivíduo, contudo estes testes
estudo sobre distúrbios auditivos, realizado no
limitam-se apenas a identificar o grau e tipo da
Reino Unido em 1995, revelou que 20% dos
perda auditiva (Rosis, et al. 2009). Segundo
adultos apresentavam algum grau de deficiência
Veras (2007), é comum existir uma perda auditiva
auditiva,
75%
significativa com pouca queixa em relação ao uso
apresentava-se em indivíduos com mais 60 anos
funcional da audição, bem como é possível
de idade (Dalton, et al. 2003; Tremblay e Ross,
encontrar perda auditiva leve com elevado índice
2007).
de perceção de desvantagem auditiva.
deste
Unidos,
o
Os exames audiomé¬tricos são responsáveis por
que
Estados
determinar
foi
sendo
nos
permitem
total,
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Desta forma, torna-se necessário a avaliação
A recolha dos dados foi realizada no período
do modo em que a perda auditiva afeta os
compreendido entre junho de 2016 e outubro de
aspetos emocionais e sociais do indivíduos, este
2016. O projeto de investigação foi realizado no
tipo de observação pode ser realizada por meio
âmbito do projeto GrowMeUp (financiado pelo
da aplicação de questionários de auto-avaliação,
programa H2020, ao abrigo do Grant Agreement
como o Hearing Handicap Inventory for the
n.º 643647, liderado pela Universidade de
Elderly - HHIE (Rosis, et al. 2009; Ventry &
Coimbra), uma vez que a problemática auditiva
Weinstein, 1982).
demonstrou
A pesquisa da capacidade de audibilidade e da autoperceção da desvantagem auditiva
ser
um
dos
obstáculos
mais
prementes à utilização de tecnologias, com sistema de diálogo, por parte dos idosos.
permite uma avaliação mais completa do perfil
Os critérios de inclusão da população no
audiológico de cada indivíduo, possibilitando
estudo foram os seguintes: idade igual ou
assim um trabalho de reabilitação individualizada
superior a 60 anos, ambos os sexos, queixa
e, consequentemente, um maior ganho de
auditiva,
qualidade de vida.
Amplificação
não
utilização Sonora
de
Aparelho
Individual
e
(AASI),
As investigações epidemiológicas relativas à
assinatura do Termo de Consentimento Livre e
perda de audição em idosos são bastante
Esclarecido (TCLE) e aceitação para participar
escassas em Portugal, existindo uma clara
do estudo de forma voluntária. Foram excluídos
necessidade em melhorar a compreensão dos
do
profissionais da saúde acerca da etiologia e
limitações cognitivas que impossibilitassem o
prevalência
preenchimento dos questionários.
desta
alteração
e
identificar
estudo
os
idosos
que
apresentavam
intervenções para melhorar a saúde, relacionada
O estudo consistiu em duas fases de recolha
com a audição, bem como a qualidade de vida
de informação. Na primeira fase foram utilizados
dos idosos. Face ao exposto, o presente trabalho
dois instrumentos para recolha de dados: (1)
tem como objetivo verificar se existe associação
anamnese
entre a perda auditiva e a autopercepção de
Desvantagem Auditiva para Idosos (P-HHIE). Na
handicap nos idosos.
segunda fase foi realizada uma avaliação
realizado
e
(2)
Escala
de
auditiva dos idosos no Centro de Audiologia –
Métodos Foi
audiológica
um
estudo
transversal,
OUVISONUS, localizado em Coimbra.
descritivo e de natureza quantitativa com uma
O primeiro instrumento de recolha de dados, a
amostra de conveniência de 23 participantes,
anamnese audiológica, integrou um questionário
com idade igual ou superior a 60 anos. A amostra
estruturado, no qual os idosos responderam
foi constituída por idosos que se encontram a
perguntas referentes às queixas auditivas,
frequentar a resposta social de Centro de Dia na
ocorrência de acufenos, uso de medicamentos,
Cáritas Diocesana de Coimbra – Centro Rainha
condição de saúde gerais e questões referentes
Santa Isabel e Centro Social São Pedro.
ao equilíbrio.
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O segundo instrumento utilizado foi a Escala de
Foram obtidos limiares auditivos por via aérea
Desvantagem Auditiva para Idosos, Hearing
(VA), nas frequências de 250, 500, 1000, 2000,
Handicap Inventory for the Elderly – (HHIE),
3000, 4000, 6000 e 8000Hz, e por via óssea
(Ventry & Weinstein, 1982; Martins & Serrano,
(VO), nas frequências de 500, 1000, 2000, 3000
2010). Esta escala visa observar os efeitos da
e 4000Hz, sendo esta última avaliada apenas
perda auditiva em indivíduos idosos e é
quando os limiares auditivos das frequências em
composta por 25 questões, das quais, 12
via aérea foram iguais ou superiores a 10 dB NA.
correspondem às componentes Sociais e as
A audiometria vocal, realizada em ambos
outras 13 estão relacionadas as componentes
ouvidos, permitiu determinar o Limiar de Receção
Emocionais. Cada questão tem como opção a
da Fala (LRF) e o Índice Percentual de
resposta “sim” (equivalente a 4 pontos), “às
Reconhecimento
vezes” (equivalente a 2 pontos) ou “não”
impedancimetria foi realizada com o auxílio do
(equivalente a 0 pontos). A pontuação geral da
aparelho da marca Maico, modelo MI34 e
escala de respostas varia de 0 (ausência de
determinou a timpanograma e pesquisa dos
desvantagem auditiva) a 100 (máxima perceção
limiares dos reflexos acústicos contralaterais nas
de desvantagem auditiva) pontos, sendo os
frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz.
participantes
devidamente
Fala
(IPRF).
A
de
Na análise da audiometria tonal, os
acordo com a perceção de perda auditiva, isto é,
resultados foram classificados segundo o grau de
de 0-16 pontos, não apresenta desvantagem
perda auditiva, tendo em consideração os
auditiva; de 17-42 pontos, verifica-se uma
resultados obtidos no melhor ouvido, de acordo
perceção
desvantagem
com classificação proposta pelo BIAP (1997),
auditiva; e entre 43-100 pontos, há uma perceção
que classifica do grau da perda auditiva de
severa/significativa de desvantagem auditiva.
acordo com a média dos limiares auditivos, por
Na segunda fase da pesquisa realizou-se a
VA, nas frequências 500, 1000, 2000 e 4000Hz.
avaliação
os
Quanto ao tipo de perda auditiva, o estudo seguiu
participantes receberam informações sobre os
a classificação de Silman e Silverman (1997), de
exames a serem realizados e a ausência de
acordo com a configuração audiométrica e
qualquer risco associado.
levando em consideração a comparação dos
leve/moderada
auditiva,
estratificados
da
de
durante
a
qual
Inicialmente os idosos foram submetidos
limiares entre a via aérea e a via óssea de cada
à Otoscopia ao Canal Auditivo Externo (CAE)
ouvido.
Para
a
audiometria
vocal
e
com a finalidade de avaliar as condições
impedancimetria utilizaram-se os critérios de
adequadas para a realização dos exames
classificação de Jerger, Speacks e Trammell
auditivos. Em seguida foi avaliada a audição,
(1968) e Jerger (1970).
através da audiometria tonal limiar e vocal,
Após a recolha das informações e da
realizada em cabina acusticamente tratada e
avaliação auditiva dos idosos, iniciou-se a
utilizando o audiómetro Interacoustics modelo
construção de uma base de dados e o respetivo
AD229b, auscultadores TDH39 e vibrador B-71.
tratamento estatístico. Para a organização e
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análise dos dados, foi utilizado como recurso a
No estudo, a amostra caracterizou-se por
versão 21 do programa estatístico IBM SPSS
ser
predominantemente
(Statistical Package for the Social Sciences),
(65,4%).
aplicando-se, inicialmente, os procedimentos de
características audiológicas, verificou-se que
análise descritiva, com medidas de proporção,
60,6%
tendência central e dispersão e, posteriormente,
dificuldade em ouvir, contudo, 52,2% não soube
a análise inferencial, tendo sido utilizados os
especificar em qual ouvido tem mais dificuldade
testes de Qui-quadrado e Teste Exato de Fisher
em escutar e 34,8% respondeu que ouve mal em
com o objetivo de verificar associação entre o
ambos os ouvidos.
grau da perda auditiva e grau do handicap. Para
Quando inquiridos em relação à evolução da
o estudo, foi adotado um nível de significância de
perda auditiva, 69,6% dos idosos não soube
5% em todas as análises.
responder como se deu a evolução, porém 30,4%
Resultados
relatou que a perda ocorreu progressivamente.
A amostra foi constituída por 23 (100%) idosos
Do total dos idosos, 65,2% mencionou sofrer com
com idades entre 60 e 95 anos, com a maior
tonturas e/ou vertigens. Quanto à presença de
frequência situada entre 79 e 88 anos (11,5%). A
acufenos, 69,6% idosos mencionaram não ter
média de idade apresenta um valor de 84,04
qualquer tipo de acufeno no ouvido. No entanto,
anos. A amostra foi estratificada em quatro
30,4% dos idosos referiu a presença de acufeno,
grupos etários: 60 a 69 anos; 70 a 79 anos; 80 a
predominando o acufeno em ambos ouvidos.
Procedendo-se
dos
indivíduos
do
sexo
às
feminino
análises
relataram
das
alguma
89 anos e acima de 90 anos.
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Relativamente à dificuldade em compreender a
no entanto, apenas 4,3% faz uso, atualmente, de
fala, 69,6% dos idosos referiu que apresenta esta
medicamentos ototóxicos.
dificuldade.
já
Em relação a episódios de otalgia, 73,9% dos
exerceram alguma atividade profissional em local
idosos relatou que não sofre de dores no ouvido.
ruidoso, 30,4% mencionou que sim. Quanto ao
Inquiridos sobre problemas de saúde, a maioria
uso regular de medicamentos, verifica-se que
dos idosos (87%) indicou que sofre com uma ou
82,6% utilizam alguma medicação diariamente,
mais condições de saúde.
Na avaliação da perceção da desvantagem
Na análise da componente Social (S) observa-se
auditiva pelos idosos, a percentagem de idosos
que 50,7% dos idosos responderam “sim” e “às
“Sem Handicap” foi de 26,1%, enquanto a
vezes”
percentagem dos idosos com “Handicap leve a
componente Emocional (E) 46,5% dos idosos
moderado”
a
indicaram “sim” e “às vezes” às questões
“Handicap
colocadas, sendo a perceção da desvantagem
percentagem
Quando
foi
de de
questionados
30,4% idosos
e, com
por
se
fim,
significativo” foi 43,5%.
a
estas
questões,
enquanto
na
auditiva mais verificada na componente Social (Tabela 3).
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De acordo com a Escala de Desvantagem Auditiva
para
Idosos,
das
25
situações
questionadas aos idosos, em apenas 7 delas há uma maior desvantagem auditiva, sendo elas: quando encontra/conhece um novo indivíduo fora do seu círculo (39,1%); em grupos, onde procura se isolar (43,5%); irrita-se por não conseguir ouvir (43,5%); dificuldades em locais ruidosos como festas (52,2%); em conversas onde o interlocutor fala em baixa intensidade (73,9%); em visitas a amigos e parentes (39,1%) e aborrece-se por não
Relativamente
aos
resultados
do
exame
audiológico, considerando os resultados para o melhor
ouvido,
23
(100%)
dos
idosos
apresentam alguma perda auditiva, 9 (39%) revelaram uma hipoacusia de grau ligeiro, 8
(34,8%) uma hipoacusia de grau moderado (grau I) e 6 (26,1%) uma hipoacusia de grau moderado (grau II). A pesquisa dos limiares auditivos evidenciou ainda o predomínio de perdas neurossensoriais (97,3%) (Tabela 4).
ouvir bem (34,8%).
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Observou-se ainda uma perda auditiva bilateral
Qui-Quadrado
(100%) e queda dos limiares auditivos por via
significativa em termos estatísticos (=7,440
aérea, de 5 a 20 dB, nas frequências altas (4000,
p=0,282) e os testes de correlação de Spearman
6000 e 8000 Hz).
(rs=0,049 p=0,182) e de Pearson (r=0,119
Quanto à audiometria vocal, considerando os
p=0,191) aproximam-se de zero, demonstrando
resultados para o melhor ouvido, verificou-se que
uma relação não linear e não monótona.
os valores do IPFR apontam que 1 (4,3%) idoso
Na relação entre perda auditiva e género,
tem ligeira/discreta dificuldade para compreender
observa-se que 73,9% das perdas auditivas são
a fala, 8 (34,8%) apresentam uma moderada
superiores para o sexo feminino e apenas 26,1%
dificuldade para compreender a fala e 6 (26,1%)
ocorrem no sexo masculino. Contudo, as maiores
têm
para
perdas auditivas, de grau moderado I e II,
acompanhar uma conversa, seguindo de 8
ocorrem no sexo masculino, embora de forma
(34,8%)
não estatisticamente significativa - Qui-Quadrado
uma
acentuada
que
dificuldade
possuem
uma
provável
incapacidade de acompanhar uma conversa.
não
demonstram
relação
bicaudal (duas extremidades) = 2,831 p=0,243. Na análise entre o grupo etário e perda auditiva,
Na análise inferencial dos dados, a percentagem
observou-se que no grupo de 60-69 anos o total
de “handicap significativo” e “handicap leve a
de perdas foi de 4,3%. No grupo dos 70 aos 79
moderado” é superior para o sexo masculino,
anos o total foi de 17,4%, seguido de 65,2% no
sendo respetivamente 66,7% e 33,3%, e a
grupo de 80 a 89 anos e de 13% no grupo de
percentagem de “sem handicap” é superior para
mais de 90 anos, o que aponta para um aumento
o sexo feminino (35,3%). Contudo não existe
de perda consoante o aumento da idade. Uma
uma relação estatisticamente significativa entre o
vez
handicap auditivo e género, conforme valor do
extrapolados para a população em geral por falta
Teste de Associação Qui-Quadrado bicaudal
de
(duas extremidades) = 3,144 p=0,208
=8,236
Quando observada a relação entre o resultado do
correlação fraca, embora linear no teste de
handicap auditivo e os grupos etários, verifica-se
Spearman (rs=0,263 p=0,136) e de Pearson
que o grupo dos 60 aos 69 anos não apresenta
(r=0,290 p=0,126).
desvantagem auditiva. Já o dos 70 aos 79 anos
Relativamente à correlação entre grau da perda
apresenta 17,4% de “handicap leve/moderado” e
e handicap auditivo, a percentagem de “handicap
“handicap significativo”; dos 80 aos 89 anos
significativo” é superior na “hipoacusia de grau
mostra 43,4% de “handicap leve/moderado” e
moderado – Grau I” (21,7%) e na “hipoacusia de
“handicap significativo”; por fim, 13% apresenta
grau moderado – Grau II” (17,4%). Já a
um “handicap leve/moderado” e “handicap
percentagem do “sem handicap” e “handicap leve
significativo”,
a
a moderado” é superior na “hipoacusia de grau
desvantagem auditiva aumenta com idade.
ligeiro”, sendo respetivamente 21,7% e 13,0%.
Porém, os resultados do Teste de Associação
Contudo,
o
que
evidencia
que
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mais
estes
valores
significância
estatística
p=0,221),
não
não
se
podem
ser
(Qui-Quadrado
indicando
observou
porém
uma
associação
estatisticamente significativa entre perda auditiva VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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estatisticamente significativa entre perda auditiva
amostrais
já
com
e handicap auditivo nos idosos, como evidencia
praticamente idênticos no teste de correlação de
o valor do Teste de Associação Qui-Quadrado
Spearman (rs=0,575 p=0,139) e de Pearson
bicaudal (duas extremidades) =8,823 p=0,066.
(r=0,570 p=0,129), apesar de a correlação para
Por outro lado, a sua correlação é moderada e
dados
linear, apresentando valores para dados
estatisticamente,
populacionais
alguma
não
relevância
ser
possivelmente
e
significativa devido
ao
reduzido tamanho da amostra (N<30).
Discussão
grau da perda auditiva que o indivíduo
Relativamente às perdas auditivas, no presente estudo foram encontradas, em todos os idosos, hipoacusias de grau ligeiro a moderado, o que está em concordância com outros estudos que apontam que há uma prevalência maior de perda auditiva neurossensorial descendente, de grau leve a moderado, na população idosa (Almeida e Guarinello,
2009;
Marques
et
al.
2004).
Observou-se ainda perdas auditivas bilaterais (100%) e queda dos limiares auditivos nas frequências altas. A perda auditiva bilateral e acentuada
nas
frequências
altas
é
uma
característica presente na presbiacusia (Kacker, 1997).
apresenta, sendo também imprescindível a avaliação da maneira como esta deficiência afeta a qualidade de vida emocional e social dos pacientes por meio de outros instrumentos.
Lotfi et al. (2009) ao investigarem os efeitos da perda auditiva na qualidade de vida, evidenciaram que a presbiacusia tem sido relatada como causa de relações comunicativas reduzidas, bem como de interações sociais e emocionais afetadas. Segundo estes autores, a hipoacusia é apontada como uma fonte de solidão, isolamento e declínio nas atividades sociais, bem como distúrbios de comunicação e
insatisfação com a vida.
Para Silveira e Russo (1998) a avaliação audiológica fornece dados referentes ao tipo e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Uma pessoa com hipoacusia pode ter dificuldade
perda auditiva, é consistente com os efeitos de
em discriminações de fala, participação em
idade observados em outros estudos com idosos.
atividades sociais e capacidade de localização
Segundo
de sons (Gates e Mills, 2005). A perda auditiva
autoavaliação da deficiência auditiva, bem como
também
de
da perda auditiva foi maior para grupos etários
distúrbios emocionais, depressão e isolamento
mais velhos. Ou seja, tanto a desvantagem
social e demência (Mulrow et al., 1990; Weinstein
auditiva, como a perda auditiva, aumentaram
e Ventry, 1982).
com o avanço da idade.
Na análise da Escala de Desvantagem Auditiva,
Na análise das perdas auditivas e género, do
do total da população estudada, 73,9% relatou ter
total, foram identificadas hipoacusias em 17
deficiência auditiva, indicando um handicap leve
indivíduos do sexo feminino (73,9%) e 6 do sexo
e moderado ou significativo. Das situações
masculino (26,1%). Contudo, quando analisado o
questionadas através da Escala, 52,2% relatou
grau da perda auditiva, observou-se maiores
ter dificuldades em locais ruidosos e 73,9%
prejuízos em idosos do sexo masculino. Estes
referiu maior prejuízo em conversas onde o
apresentam perdas moderadas grau I e II mais
interlocutor fala em baixa intensidade. A literatura
elevadas (83,3%) do que o sexo feminino.
afirma
de
De uma forma geral, há consenso sobre a
de
relação do maior prejuízo auditivo nos homens do
comunicação é sentida em situações em que
que nas mulheres (Pearson et al. 1995; Helfer,
várias pessoas estão conversando ao mesmo
2001). De acordo com Jerger et al. (1993), a
tempo (Almeida e Guarinello, 2009; Aiello et al.
perda auditiva nas frequências altas nos homens
2011).
é maior do que nas mulheres, que por sua vez,
está
associada
que,
na
presbiacusia,
a
No
estudo
população
maior
aumento
portadora
dificuldade
desvantagem
a
prevalência
da
têm pior audição nas frequências baixas. Para
componente social foi onde mais se verificou
Cruickshanks (1998) a prevalência também foi
prejuízos. Reforçando estes achados, os autores
maior para homens do que para mulheres.
Santiago e Novaes (2009) observaram que,
Segundo Helfer (2001), existe a necessidade de
quando comparadas as implicações sociais e as
serem avaliadas as diferenças de gênero,
emocionais da desvantagem auditiva, o idoso
principalmente, porque este fato pode ser
tende a sentir-se mais prejudicado em situações
explicado pela maior exposição dos homens ao
que envolviam terceiros, procurando isolar-se, o
ambiente ruidoso. Gates et al. (1990) também
que poderia ser explicado pelo sentimento de
confirma em seu estudo a diferença de gênero,
frustração
atribuindo a pior audição dos homens à
incapacidade
de
auditiva
(2000)
a
e
da
ao
Wiley
desenvolver
plenamente suas funções sociais.
exposição a ruído em ambiente de trabalho e de
Com relação ao handicap auditivo e a idade, no
lazer.
presente estudo a diminuição na audição e na
Quanto à análise do handicap e género, a
desvantagem
percentagem
auditiva
autorelatada
com
o
aumento da idade, depois de contabilizar grau de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
de
“handicap
significativo”
e
“handicap leve a moderado” é superior para o sexo masculino, sendo respetivamente 66,7% e VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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sexo masculino, sendo respetivamente 66,7% e
sobre a qualidade de vida das pessoas idosas,
33,3%, e a percentagem de “sem handicap” é
contudo estes efeitos podem ser reversíveis com
superior para o sexo feminino (35,3%).
a utilização de próteses auditivas. Um estudo
Relativamente à correlação entre perda auditiva
randomizado do uso de aparelho auditivo
e
estudo
demonstrou que o uso de próteses auditivas
demonstra que a percentagem da desvantagem
poderia reverter os efeitos adversos sobre a
auditiva é superior nas hipoacusias de grau
qualidade de vida em adultos idosos com perda
moderado I e II. Já a ausência de handicap
auditiva (Mulrow et al., 1990).
auditivo é superior nas hipoacusias de grau
O uso do aparelho auditivo diminui os efeitos da
ligeiro, contudo não houve uma correlação
perda auditiva sobre a comunicação e as
estatisticamente significativa.
relações sociais dessas pessoas (Guarinello et
handicap
auditivo,
Diversos
autores
relataram
uma
significativa,
o
com
presente
objetivos
associação
onde
a
perda
similares
al. 2013). A perda auditiva nos idosos é
estatisticamente
acompanhada de mudanças psicológicas que
auditiva
está
impedem
uma
comunicação
eficiente,
diretamente relacionada com a autoperceção do
prejudicando a habilidade de manter relações
handicap auditivo (Rosis et al. 2009; Samelli et al.
sociais (Gonçalves e Mota, 2002). Face a isto são
2011; Pinzan-Faria e Iório, 2004). Samelli et al.
necessários programas aprimorados de rastreio
(2011)
da
e intervenção para identificar as pessoas idosas
sensibilidade auditiva foi acompanhada pelo
que se beneficiem da amplificação para melhorar
aumento
a qualidade de vida relacionada com a audição.
verificaram
da
que
perceção
a
de
redução
handicap,
fato
demonstrado também por Pinzan-Faria e Iório
Importa
(2004) e Rosis et al. (2009), que avaliaram a
encontrados
audição e o grau de handicap em pacientes, com
generalizações em função do tamanho reduzido
ou sem queixa auditiva.
da amostra. Contudo, podemos constatar que
No entanto, outras investigações realizadas
aplicação de questionários de autoavaliação e
divergem do resultado observado, revelando não
exames audiológicos são extramentes úteis no
haver uma associação entre handicap e perda
rastreio e diagnóstico de idosos com queixas
auditiva (Sestrem, 2000; Tavares, 2001).
auditivas.
Importa destacar que poucos idosos com perda
Uma elevada percentagem das pessoas mais
auditiva estão atualmente a utilizar aparelhos
velhas apoiadas pela Cáritas aparenta ter
auditivos. Em estudo com 1629 adultos, com
problemas auditivos mas tem dificuldades em ser
idade entre 48 e 92 anos, que sofrem perda
diagnosticado e tratado para esta patologia, a
auditiva, a prevalência do uso de prótese auditiva
maioria das vezes por dificuldades de aceitação
entre aqueles com perda auditiva foi apenas de
da limitação. As equipas técnicas de apoio direto
14,6% (Popelka et al. 1998).
aos utentes relatam várias situações de idosos
Segundo Mulrow et al. (1990), a perda auditiva
que se recusam a participar nas atividades de
está associada a efeitos adversos importantes
grupo por se sentirem diminuídos com as suas
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
ainda
referir
neste
que
estudo
os
resultados
não
permitem
dificuldades de audição e outros a quem é difícil VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 93
dificuldades de audição e outros a quem é difícil
das perdas auditivas, através da implementação
aplicar um diagnóstico diferencial por não ser
de
claro que limitações resultam da perda auditiva e
auditiva no idoso.
quais se devem atribuir a outras patologias,
Posto isto, torna-se essencial a realização de
nomeadamente a demências ou alterações
outros estudos epidemiológicos, transversais e
cognitivas.
longitudinais, necessários para entender os
A implementação do projeto “Ouvir Bem”, do qual
determinantes
fez parte o presente estudo, tem permitido iniciar
género, na perda auditiva relacionada com o
um processo de compreensão relativo às perdas
envelhecimento.
auditivas, aproximando as pessoas mais velhas
No que concerne ao presente estudo, pretende
dos mecanismos de rastreio e diagnóstico e
dar-se seguimento ao projeto desenvolvido na
trazendo esta temática para as discussões entre
Instituição, “Ouvir Bem”, e na realização de novos
pares.
estudos idênticos com outros grupos e amostras
Também
a
utilização
de
programas
direcionados
genéticos,
à
reabilitação
ambientais
e
de
equipamentos
mais significativas, quer na implementação de
tecnológicos de alta performance, como robôs ou
um programa de prevenção, reabilitação e
avatares com sistema de diálogo, tem ajudado a
formação a cuidadores na área da saúde
tornar mais evidentes as sintomatologias mais
auditiva.
graves, sinalizando-as para eventual diagnóstico e acompanhamento.
Agradecimentos
No presente estudo, apesar de se utilizar amostra
Agradecemos a colaboração do Dr. Luís Dias
reduzida,
da
pela supervisão das análises estatísticas; a Sara
autoavaliação do handicap auditivo pelos idosos
Alexandra Luís do Centro Auditivo Ouvisonus
e o exame audiométrico completo. Para um
pela colaboração na realização de exames
futuro
mais
auditivos; a Arménia Boleto, Ana Rita Coelho,
representativas e diversificadas para extrapolar
Sofia Marques e Lurdes Marques da Cáritas
os resultados para outras populações.
Diocesana de Coimbra pelo apoio geral ao
foi
estudo
realizado
sugere-se
a
pesquisa
amostras
estudo realizado. Conclusão A presbiacusia é um processo complexo e suas consequências afetam diretamente a qualidade
Referências
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